Prémio, Edição de abril, 2013

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A B RIL d e 2 0 1 3 • A n o X

A B RIL d e 2 0 1 3 • A n o X • 0 , 0 1 E u r o s • t r i m e s t r a l • D i r e c t o r Á l v a r o d e M e n d o n ç a

PR É MIO

R e v i s t a

de

N e g ó c i o s, E c o n o m i a, M a r k e t i n g

e

L i f e S t y l e

automóvel 50 anos d o p ors che 911

d ossiê e s pecial fr anç a

feir a arte e antiguidades

luxo Roteiro de Lisboa

PORTUGAL BEST

tivoli são paulo arolas vintetres

da co rt i ç a a m óv e i s i r r e v e r e n t e s , De c a i aq u e s e fato s d e n ataç ão ao s p ro d u to s r e n ova . . . o s p o rt u g u e s e s e s tão a a r r a sa r a co n co r r ê n c i a .

mota- e n g i l em ent r e v i s ta


HÍBRIDO

DIESEL

ENTRE NOUTRA ÉPOCA

CITROËN DS5 HYBRID4 200 cv. 99 g de CO /km. 3,8 l/100 km. 4WD. 2

Rara elegância. Sem comparação, as linhas. Performances inéditas. Um objecto de excepção. As palavras são sempre poucas para exprimir completamente o Citroën DS5, ultrapassando tudo o que conhecemos. Com apenas 99 g de emissões de CO2 por km, graças à tecnologia Full Hybrid Diesel, totalmente híbrida, concentra a inovação levada ao extremo e oferece como nenhum outro sensações fortes e consumos controlados. Conduzir um Citroën DS5 é seguir por novos caminhos. Os que nos fazem mudar para uma nova era. Cons. de 3,8 a 10,3 (l/100 km). Emissões de CO2 de 99 a 169 (g/km).


sumário

D irector

Álvaro de Mendonça E ditora

Sofia Arnaud D irector de A rte

Pedro Góis D esigner

Catarina Monteiro R edacção

Catarina da Ponte, Carlos Renato Teixeira, João Bénard Garcia, Maria Araújo e Miguel Morgado P ublicidade

Margarida Maurício mmm@cunhavaz.com Tel.:+351 210 206 43 I mpressão

Jorge Fernandes, Lda P ropriedade

Cunha Vaz & Associados – Consultores em Comunicação, SA S ede

Av. Duque de Loulé, n.º 123, 7.º 1050-089 Lisboa C R C L isboa

13538-01 R egisto E R C

124 353 D epósito L egal

320943/10 T iragem

5000 Exemplares R ev i st a c o r p o r at iv a d a CV & A

4 - EDITORIAL 6 - A ABRIR 10 - ENTREVISTA Gonçalo Moura Martins, CEO da Mota-Engil 16 - DOSSIÊ Investimento francês em Portugal 32 - PORTUGUESE DO IT BETTER Produtos de excelência 38 – INVESTIMENTO O Planeta Rio Forte 42 – REPORTAGEM Colt Resources explora ouro no Alentejo 46 – SAÚDE Grupo AMIL chega à Europa 50 – LIDERANÇA Mulheres no poder 54 – PERFIL Susana Monteiro, nova administradora CV&A

62 – NEGÓCIO Banca angolana 66 – OPINIÃO Pedro Pintassilgo, F&C 68 – COMPRAS Roteiro do luxo em Portugal 76 – TENDÊNCIAS O culto do chá 80 – COMUNICAÇÃO Redes sociais 82 – ARTE II Edição Feira de Arte de Lisboa 86 – CULTURA Projecto Travessa da Ermida, Belém 90 – VIAGENS Guias com assinatura 94 - DESTINO Madeira 100 – TURISMO B.O.G Hotel, Colômbia

104 – GASTRONOMIA Restaurante Arola Vintetres, Tivoli, São Paulo 108 – AUTOMÓVEL 50 anos Porsche 911 112 – SHOPPING Tendências primaveris 114 – OPINIÃO João Taborda da Gama, Director da Pós-Graduação em Fiscalidade, UCP

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editorial

álvaro de mendonça

Esqueçam o fado, dancem o samba

A

No campo do ajustamento económico, os elogios contece muitas vezes. Com o fatalismo chegam de todo o lado. O esforço do governo reconquistou tradicional de um país que tem o fado a confiança dos mercados e das agências de rating, que como canção nacional, não conseguimos inverteram as suas opiniões negativas sobre Portugal. De ver como Portugal é de facto um país de Bruxelas, Frankfurt e Nova Iorque vêm os parabéns de um excelência. O melhor será escutarmos o país que é hoje apontado como um que diz quem está de fora. caso de sucesso na reestruturação da Nesta edição da Prémio, mostramos-lhe economia. o que de melhor se faz em Portugal. Não Perante um mercado doméstico nos sectores tradicionais, mas nas áreas do estagnado, as empresas souberam design, das novas tecnologias e dos novos Por cada partir para o exterior. Como explica materiais. Exemplos de empresas que estão 10 pessoas o embaixador de França em Lisboa, no top mundial, com ideias, trabalhadores numa das entrevistas que publicamos e gestores portugueses. que choram nesta edição, o processo de No dossiê sobre a presença do franceses durante a ajustamento da economia relançou em Portugal, ficamos a saber com eles nos crise, há uma a competitividade das empresas apreciam, pela qualidade da mão-de-obra que lucra a portuguesas. Como o prova o caso e das infra-estruturas, pela facilidade das vender-lhe da Mota-Engil, hoje uma empresa relações com fornecedores e clientes, pela multinacional com presença forte em posição geográfica que nos transforma lenços de vários países. numa plataforma ideal para a abordagem pa p e l . Angola, Moçambique e o Brasil, aos mercados africanos e, em especial, a países com quem Portugal tem Angola e Moçambique. relações históricas e estreitas, estão Lisboa é hoje uma cidade cosmopolita hoje entre os grupos de economias e que entrou no roteiro do luxo europeu, que mais crescem em todo o mundo. com lojas das melhores marcas espalhadas Mais uma oportunidade. ao longo da Avenida da Liberdade e do Chiado. O Projecto Por cada 10 pessoas que choram durante a crise, há Travessa da Ermida, na zona histórica de Belém, vem uma que lucra a vender-lhes lenços de papel. As crises são reforçar o glamour de uma das mais bonitas capitais da oportunidades. Esqueçam o fado. Dancem o samba. l União Europeia.

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a abrir

Umbigo Púdico “A blogosfera é hoje um dos principais palcos de formação de opinião, um dos pilares da comunicação política e empresarial dos tempos que correm.”

design vista alegre

No blog tem ganho espaço a análise aos mercados financeiros, a provocação inteligente ou a transmissão das conferências CV&A.

António Cunha Vaz, Chairman da CV&A, lançou no final do ano passado o seu blogue pessoal. O Umbigo Púdico é uma caixa-de-ressonância das suas impressões sobre o mundo, num blogue onde o comentário político coabita lado a lado com sugestões culturais, desabafos desportivos e a análise das notícias que marcam a actualidade. Curiosidades sobre o mundo da comunicação aparecem em paralelo com a sua atenção sobre a imprensa internacional, em particular sobre o mundo da economia e da geopolítica, num espaço que se constitui como uma extensão da utilização que já fazia das redes sociais, sobretudo na sua polémica página de facebook. Especialista em relações públicas e figura maior de uma empresa que se notabilizou na comunicação institucional, 6

António Cunha Vaz tomou consciência da importância da blogosfera e não resistiu ao apelo da rede. À revista Prémio, António Cunha Vaz resumiu o seu estado de espírito neste novo projecto: “o facebook, como a generalidade das redes sociais, são jogos de espelhos onde só confrontamos as nossas opiniões com quem nos está próximo. A blogosfera é um palco que tem outra polissemia, o que a transforma num ringue de ideias com interesse acrescido.” No seu blogue tem ganho espaço a análise aos mercados financeiros, a provocação inteligente ou a transmissão, em simultâneo, das conferências CV&A, onde se estreou ao acompanhar a recepção do Chanceler alemão Gerard Schröder e onde promete continuar a dar corpo às suas ubiquidades. l

União entre decoração e moda A Vista Alegre e a casa francesa Christian Lacroix firmaram uma parceria global para criar quatro colecções de mesa e de peças decorativas, que foram apresentadas em Paris, na mais importante feira internacional de decoração, design e tendências para o lar – a Maison&Objet. “Butterfly Parade”, “Picassiete”, “Sol y Sombra” e “Fórum” são o nome das colecções.Apesar de independentes, as peças podem ser combinadas entre si, espelhando a individualidade de quem as adquire. l

tableware

Casa Alegre regressa ao mercado A Vista Alegre Atlantis, detida pelo Grupo Visabeira, relançou a marca Casa Alegre com um novo posicionamento, apresentando 13 apelativas colecções, numa gama muito completa de produtos produzidos em Portugal, que vão desde a porcelana ao grés, passando pelo vidro, pela cutelaria e não descurando os têxteis para a casa. A oferta integrada de vários produtos que seguem as mais recentes tendências do mercado de tableware é dirigida a um público-alvo jovem, exigente e trendy. As colecções são inspiradas na cultura mediterrânica e dividem-se em três categorias – Pure & Simple, Country South e Urban Trendy –, todas passíveis de serem combinadas entre si, possibilitando uma decoração personalizada. l


ALTA - COST U RA

Fátima Lopes festeja 20 anos de carreira com perfume de luxo Vinte anos após ter criado a etiqueta que lhe deu fama e depois de se ter tornado embaixadora da alta-costura portuguesa além-fronteiras, a estilista Fátima Lopes vai dar um salto de gigante e apostar na internacionalização das suas colecções de moda e joalharia nos mercados emergentes fora da Europa. Em simultâneo, estreou-se no universo da alta perfumaria ao apresentar em Paris a sua primeira fragância para consumidores mais exigentes: “Be Mine”. “Acabei de dar talvez o passo mais importante da minha carreira, que era um sonho muito antigo: lançar um perfume”, avançou a estilista. “Be Mine”, uma expressão propositadamente inglesa, é o primeiro perfume da estilista portuguesa, mas que tem no seu ADN o cunho da alta perfumaria francesa. A fragância foi elaborada, sob supervisão de Fátima Lopes, por uma das mais importantes empresas de perfumaria do mundo. Num ano regido sob o signo chinês da Serpente – logo tão propício a instáveis rupturas quanto a avanços pessoais e da humanidade –, a criadora de moda Fátima Lopes decidiu apostar ainda mais forte no mundo crescido do luxo planetário. Para a estilista nascida na ilha da Madeira, 2013 vai ser definitivamente o ano da aposta em mercados alternativos, como por exemplo o Médio Oriente. A sua colecção Outono/Inverno para 2013, que se inspirou no novo perfume, brilhou em Lisboa, Paris e na Turquia e não se ficará por este país do Médio Oriente. “Estou a apostar nos mercados alternativos fora da Europa, porque a Europa no geral não está bem”, frisou. l

Responsabilidade Social

Portugal Acessível Mobile A Associação Salvador com o patrocínio da Fundação PT e da Microsoft desenvolveu uma nova aplicação para smartphones “Portugal Acessível Mobile”, um guia acessível com 3500 espaços a nível nacional para pessoas com deficiência motora. Esta nova aplicação vem facilitar o acesso a informação já disponível no site www. portugalacessivel.com, que visa facilitar as deslocações diárias de todas as pessoas com mobilidade reduzida, quer sejam portugueses ou estrangeiros, quando se encontram de férias em Portugal. A informação está disponível em português, inglês e alemão. A grande mais-valia em relação a outros guias é o facto de todos os espaços serem visitados pessoalmente por um elemento da Associação Salvador, garantindo assim a fiabilidade da informação disponibilizada. l

EM P RESAS

ARCO MADRID 2 0 1 3

Cisco a melhor empresa para se trabalhar

Portugal em alta com doze galerias E Trienal Alentejo

A Cisco Systems Portugal foi eleita pela terceira vez consecutiva a melhor empresa para se trabalhar em Portugal. A distinção foi atribuída pelo Great Place to Work Institute que também distinguiu a Cisco na categoria de “Melhor empresa para as mulheres trabalharem”. As políticas de mobilidade, flexibilidade de horários, oportunidades de desenvolvimento de carreira e avaliação por objectivos, são os principais factores de satisfação dos colaboradores. Actualmente, a Cisco tem cerca de 340 colaboradores em Portugal, de 23 nacionalidades diferentes, distribuídos por vários projectos internacionais de apoio a Parceiros, Vendas, Operações e Recursos Humanos. l

a cisco tem cerca de 340 colaboradores em portugal, de 23 nacionalidades diferentes.

P

ortugal esteve presente na maior mostra de arte contemporânea do mundo com 12 galerias, entre as quais a estreante 3+1 Contemporary Art e 11 veteranas, de que destacamos a Baginski, a Nuno Centeno e a Pedro Cera. Portugal aproveitou ainda o evento para promover vinhos e boa gastronomia. Com o apoio do Turismo do Alentejo, da AICEP, da EDIA, da Universidade de Évora, da Terrius, de Joaquim Arnaud, da ACPA e das autarquias de Sousel e Reguengos de Monsaraz, foi apresentado por D. André de Quiroga, a 400 convidados, o programa da Trienal no Alentejo. A iniciativa trará à região, entre Abril e Outubro de 2013, artistas plásticos internacionais, chefs de cozinha e conferencistas de renome, transformando o Alentejo num mega-palco de cultura.Ver mais na página do Facebook da Trienal no Alentejo. l 7


a abrir

A p o s ta ga n h a na Açoreana

spa

O Spa do Yeatman hotel foi o único spa português a integrar a lista dos vencedores.

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A companhia de Seguros Açoreana lançou em 2011, em Lisboa, a primeira unidade clínica exclusiva da seguradora, especializada na assistência a acidentes de trabalho. Com mais de um ano de existência e com outra clínica aberta no Porto, o balanço revela-se positivo. O conceito, que permite um acompanhamento de A a Z dos sinistrados deu origem ao GIGA (Grupo Integrado de Gestão de Acidentes), em Lisboa e ao CRIA (Centro de Reabilitação Integrada de Acidentes), no Porto. São centros de acompanhamento clínico próprios da seguradora que, evitando intermediários, perdas de tempo e custos, permitem ao sinistrado toda a assistência necessária decorrente de um acidente. O sucesso reflecte-se nos números: 6435 sinistrados atendidos no GIGA e 2568 no CRIA, as unidades já realizaram no total 42.790 consultas, 63.470 sessões de fisioterapia, 14.472 exames complementares de diagnóstico e 1522 cirurgias. l

T h e Y e at m a n soma mais um prémio internacional O Spa Vinothérapie Caudalie do The Yeatman Hotel, em Vila Nova de Gaia, foi distinguido pelo World Spa & Wellness Awards como o “Melhor Hotel Spa da Europa”, sendo o único Spa português a integrar a lista dos vencedores, fazendo parte do ranking dos melhores Spas do mundo. Esta distinção evidencia o serviço de excelência e a qualidade dos produtos e tratamentos de vinoterapia do Spa do The Yeatman, aliados às suas luxuosas instalações, com uma vista privilegiada sobre o rio Douro e a cidade do Porto. O prémio vem juntar-se a quatro outros recentes, designadamente os prémios de “Melhor Garrafeira” e de “Chave de Ouro” do Guia Boa Cama Boa Mesa 2013, o “Melhor Hotel Citadino” atribuído nos Prémios Anuais de Excelência da Condé Nast Johansens; o prémio de “Melhor Restaurante Vínico”, nos Best of Wine Tourism Awards 2013 - Great Wine Capitals of the World, e o prémio “Restaurante com Melhor Serviço de Vinhos” atribuído pela Revista Wine. É de notar que The Yeatman abriu as portas em Agosto de 2010 e, em menos de três anos, já arrecadou todos estes galardões. l

GASTRONOMIA

S e i s j o v e n s c h e f s t r o u x e r am “Sangue na Guelra” a Lisboa A 5ª edição do festival gastronómico Peixe em Lisboa já tem o seu evento satélite: chama-se “Sangue na Guelra”, decorreu entre os dias 6 e 8 de Abril no Páteo da Galé e no restaurante A Cantina da Estrela, no Hotel da Estrela, sob o lema “Young chefs with guts”, dando visibilidade a seis jovens chefs extraordinários que, apesar de gozarem da máxima confiança dos grandes chefs, muitos deles estrelados Michelin, raramente saem dos bastidores da cozinha. Alguns actuaram pela primeira vez em nome próprio, servindo dois jantares, com menus de 10 pratos, baseados em peixes e mariscos da costa portuguesa. João Rodrigues (Feitoria), David Jesus (Belcanto), Matteo Ferrantino (Vila Joya) e Yogi Tokuyoshi (Osteria Francescana) estiveram entre os profissionais do sector que marcaram presença no evento. l YOUNG CHEFS WITH GUTS


Participação na Logista Publicações

75%

o t e m át i c o “ T h e b e au t i q u e h o t e l f i gu e i r a” , n a ba i x a p o mbal i n a , é a ma i s recente novidade h o t e l e i r a d e l i sb o a

distribuição

G r up o U r b a n o s a d q u i r e L o g i s ta P ubl i ca ç õ e s O Grupo Urbanos adquiriu a Logista Pulicações, operador logístico de relevo no mercado nacional na área da distribuição editorial. O Grupo Urbanos fica, assim, detentor de 75% da Logista Publicações, sendo a restante participação distribuída pelos novos órgãos sociais Público, A Bola e o Económico. Este negócio é reflexo da estratégia de crescimento orgânico e por aquisição desenvolvida pelo Grupo Urbanos, permitindo à empresa aumentar o seu leque de serviços, tornando-se transversal a uma série de áreas de intervenção. A Logista Publicações passa a integrar o Grupo Urbanos, tordo-se assim parte do Grupo líder de logística em Portugal, com todas as condições para crescer de forma sustentável no mercado nacional. l

T U RISMO

“ The Beautique Hotel Figueir a”, um olhar intimista sobre Lisboa Bancos de janelas com formatos de ninho e vistas sobre o coração de Lisboa e o Castelo de São Jorge. Corredores torneados com paredes irregulares em forma de troncos de árvores. Revestimentos intimistas em tons de castanho, pontuados com fotografias de figos e de folhas verdes em movimento projectadas nos corredores e expressivas imagens de figueiras e figos estampadas nas paredes de todos os quartos, numa clara alusão à natureza, transformam o novo “The Beautique Hotel Figueira” numa unidade hoteleira inigualável. O conceito e toda a concepção cénica deste design hotel urbano

de quatro estrelas e 50 quartos, implantado na Praça da Figueira, em plena Baixa Pombalina, é obra da equipa do ateliê liderado pela conceituada designer de interiores Nini Andrade Silva. Num elegante edifício histórico e a um passo de tudo o que de melhor a capital tem para oferecer, acaba de nascer uma unidade hoteleira temática “exclusiva” que despertará a curiosidade de lisboetas, de turistas que visitam a capital e se tornará num novo “santuário” para a elite de seguidores de hotéis com design. O “The Beautique Hotel Figueira” foi pensado e desenvolvido ao detalhe por Nini Andrade Silva, tem um SPA na cobertura e um ginásio exclusivo para hóspedes. As refeições do restaurante “Honra” ficam a cargo do chef Olivier que servirá gastronomia portuguesa ao som de fado. l 9


NEGร CIOS

Gonรงalo Moura Martins, CEO da M o ta - E n g i l

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E NTR E V ISTA G o n ç a lo M o u r a M a rt i n s

NEGÓCIOS

“a s n o s s a s a m b i ç õ e s superam o mercado português” G o n ç a l o M o u r a M a r t i n s r ec o n h ece q u e o G r u p o é h o j e a q u i l o q u e é d ev i d o à b a s e d e c o n h ec i me n t o s q u e d e s e n v o l ve u em P o r t u g a l e q u e l h e p e r m i t i u t e r va n ta ge n s c o m p e t i t i va s e d i f e r e n c i a d o r a s n o s 1 9 pa í s e s em q u e o p e r a .

miguel morgado

Face à crise que se vive no sector, será esta a melhor altura para assumir a presidência executiva do Grupo? O Grupo Mota-Engil vai celebrar, em Junho , 67 anos de vida, sendo hoje maior, mais diversificado, mais internacionalizado e mais rentável do que no início desta sucessão de crises que, desde 2008, têm afectado o sector e a economia. O que demonstra capacidade de resistir a esta como a outras graves crises no passado. Considero que o Grupo tem demonstrado estar preparado para resistir a esta crise e procurar as oportunidades que ela também gera. Em 2012, ainda sob a liderança do seu antecessor, Jorge Coelho, foi apresentado um Novo Plano Estratégico para o Grupo. O plano manter-se-á inalterado? O novo Plano Estratégico do Grupo, mais que um compromisso individual do meu antecessor ou meu, é um programa que assume os objectivos empresariais do Grupo e continua a ser o nosso guião estratégico. A actualização do Plano Estratégico Ambição 2.0 contou com o meu total envolvimento, bem como de todos os órgãos executivos de topo do Grupo, para a elaboração das metas aí delineadas. Estas são muito ambiciosas, como é apanágio no Grupo, embora mantenham os seus principais pilares de desenvolvimento: a internacionalização e a diversificação. Estou convicto que as grandes linhas orientadoras se manterão ao longo da execução deste Plano, até 2015, embora ele próprio contenha espaço para adaptações que procurem aproveitar as oportunidades que surgirem no âmbito geográfico e dos negócios. A Mota-Engil vai apostar em novos mercados geográficos e em novas áreas de actividade? O objectivo de melhoria da estrutura financeira do Grupo conduzirá a uma política de crescimento orgânico, não estando previstos investimentos significativos. Desta forma, e quanto à abertura de novos mercados, estes resultarão sempre do estudo de oportunidades nas regiões consideradas de actuação prioritária e nas quais já marcamos presença, mas a decisão de entrada num novo país seguirá um

percurso de análise detalhada das condições, sustentabilidade dos negócios, riscos, rentabilidade e financiamento. Que oportunidades e ameaças podem surgir no futuro? A má conjuntura económica em Portugal e na Europa criou um novo enquadramento aos Grupos que têm como sector core a construção, que se transformou numa ameaça. No entanto, o Grupo Mota-Engil soube antecipar uma boa parte destes factores endógenos, através da sua estratégia de internacionalização, procurando oportunidades em diversos países em África e na América Latina onde já opera há vários anos. O peso actual do mercado internacional no volume de negócios do grupo é da ordem dos 60%. Tenderá a crescer? Um dos pilares de desenvolvimento da Mota-Engil é a internacionalização, pelo que manter-se-á como um objectivo prioritário do Grupo. Em Setembro, 72% da nossa carteira de encomendas provinha dos mercados internacionais. Um indicador muito positivo que permite antever que manteremos o crescimento internacional nos próximos anos. A Mota-Engil existiria hoje tal como é se não se tivesse internacionalizado? Não podíamos ficar reféns do constrangimento que representou a retracção do mercado da construção em Portugal, nesta última década. Só em 2012, segundo a federação portuguesa das empresas do sector, houve uma quebra de 44% na carteira de encomendas e o consumo do cimento caiu para mínimos de 39 anos. Nesta perspectiva, há muito que as ambições da Mota-Engil e dos seus accionistas superavam o mercado nacional, sendo a internacionalização parte do ADN do Grupo como demonstra a nossa história. O facto de termos sextuplicado a actividade internacional na última década demonstra que a organização é hoje completamente diferente e, mais importante que tudo, mais preparada para o actual contexto económico em Portugal, como felizmente 11


NEGÓCIOS

tem sido demonstrado através dos resultados. No entanto, a Mota-Engil não seria o que é hoje se não fosse a base de conhecimento que desenvolveu ao longo de décadas em Portugal e que lhe permite ter vantagens competitivas e diferenciadoras nos 19 países em que actua. Neste crescimento internacional em que áreas apostará a Mota? Vamos manter a aposta num modelo de crescimento orgânico, assente nas nossas áreas de competência em Engenharia e Construção, Ambiente e Serviços e Concessões de Infra-estruturas de transportes, procurando replicar em cada país onde estamos presentes o modelo de negócio existente em Portugal, gerando assim sinergias intra-grupo e um reforço da sustentabilidade em cada um desses mercados.

Ponte 4 de Julho, n a C at u m b e l a , em angola

OGrupo tem demonstrado e s ta r p r e pa r a d o pa r a r e s i s t i r a e s ta c r i s e e a p r ov e i ta r a s op ortunidades que ela gera.

Metropolis, Campo G r a n d e , em l i s b o a , portugal

Qual o mercado com maior perspectiva de crescimento? África ou América Latina? A Mota-Engil tem um peso muito significativo da sua actividade em África, que tem crescido nos últimos anos em função do desenvolvimento destas economias e do investimento do Grupo nestes mercados, pelo que consideramos que, num horizonte a 2015, África continuará a ser o principal contribuinte externo para o nosso crescimento. Na América Latina, contamos que o trabalho que temos desenvolvido de diversificação geográfica e de actividades promova um crescimento alinhado com o verificado nos últimos anos e que permita cumprir com os nossos objectivos. A região da América Latina é uma forte aposta do Grupo Mota-Engil. Que projectos têm em curso em Angola? Angola é o principal mercado externo do Grupo Mota-Engil, onde começámos a nossa actividade, e onde temos hoje uma empresa de referência – a Mota-Engil Angola –, constituída com sócios angolanos, como a Sonangol e o Grupo Atlântico. Angola tem por isso não só uma elevada representatividade no desempenho económico do Grupo, mas igualmente um forte peso emocional. Costumamos dizer que “em Angola somos angolanos” porque é efectivamente como nos sentimos. Continuamos a desenvolver projectos relevantes nas áreas de infra-estruturas onde demonstramos a nossa capacidade e know-how, facto reflectido, por exemplo, nas distinções recebidas no Salão Imobiliário de Lisboa, em que foi distinguido o projecto de requalificação da Baía de Luanda como melhor projecto internacional do ano, e a Ponte 4 de Julho, na Catumbela, que recebeu o Prémio Secil para o melhor projecto de Engenharia Civil. E em Moçambique, no Brasil e nos outros países de expressão portuguesa? Que projectos têm em curso? Estamos muito apostados em colaborar com o desenvolvimento de Moçambique, nas áreas das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias. A linha ferroviária do Sena é um bom exemplo de um projecto que temos em curso e que é estruturante para o país. Tal como o corredor de Nacala, que potenciará o desenvolvimento do sector do carvão através do escoamento deste

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NEGÓCIOS

minério de Moatize para o Porto de Nacala. Ou ainda da nova ponte de Tete. No Brasil, temos em curso a construção do Enotel, em Porto Galinhas, um investimento português que constitui um dos maiores empreendimentos hoteleiros da América Latina. Estamos neste momento empenhados em contribuir para o desenvolvimento da Empresa Construtora do Brasil (ECB), na qual adquirimos no final do ano passado uma participação. O crash da construção em Portugal era inevitável? O sector da construção em Portugal é muito atomizado e, estando pouco capitalizado, não estava preparado para esta queda abrupta. Para a economia portuguesa, o facto de ter um dos sectores económicos mais relevantes como um dos mais afectados, tem repercussões muito negativas, que se concretizam num grande número de insolvências e no crescimento do desemprego e que, se o actual cenário se mantiver, poderá ainda colocar em perigo o reconhecido know-how de Engenharia que existe nas empresas. Procurando contrariar inevitabilidades, diria que para bem da

economia portuguesa deveriam ser promovidas medidas de estímulo à internacionalização das empresas do sector, de libertação de garantias bancárias e de maior flexibilização de gestão da mão-de-obra, para assegurar incentivos para o sector. O fantasma do desemprego tem pairado no sector. No Grupo Mota-Engil não só não se deparam com esse problema internamente, como ainda conseguem colocar trabalhadores no estrangeiro. É uma estratégia para continuar? Temos promovido o recrutamento interno e a mobilidade como factores geradores de oportunidades para os colaboradores do Grupo, procedimento que manteremos em função do crescimento da nossa actividade internacional, procurando assim compensar a retracção no mercado nacional. O corredor de Nacala é um bom exemplo, porque exigiu das nossas áreas de engenharia a mobilização de cerca de 300 elementos para o Malawi, mas existem outros, como o Perú, onde o Grupo tem mobilizado quadros das áreas de engenharia e de gestão, de forma

C e n t r o d e I n ve s t i g a ç ã o d a F u n d a ç ã o C h a m pa l i m a u d , em Pe d r o u ç o s , L i s b o a , Portugal

No Top 30 da Europa A Mota-Engil é o 29º maior grupo europeu do sector da construção, segundo o ranking do European Powers of Construction. Este estudo anual, elaborado pela consultora Deloitte, analisa o sector com base nos indicadores de performance dos principais grupos europeus. Para o crescimento da Mota-Engil tem sido decisivo o forte dinamismo da expansão internacional e a diversificação dos diferentes segmentos de actividade, em cada um dos 19 países em que o Grupo marca presença. Na análise pelo EBIT (Resultados Operacionais), a Mota-Engil situa-se no 23.º lugar a nível europeu. l

QUEM É? Um líder que sabe de Leis e de contas Gonçalo Moura Martins era, até ao início deste ano, o administrador financeiro (CFO) da Mota-Engil. Saltou para a ribalta com a presidência da Ascendi, a empresa de gestão de auto-estradas e infra-estruturas onde o grupo tem como parceiro o Banco Espírito Santo. Além da área das concessões de transportes liderava os negócios de ambiente e serviços do Grupo. Quando foi convidado para substituir Jorge Coelho, exercia a presidência do Conselho de Administração de mais de 20 participadas da Mota-Engil e inscrevia o seu nome em diversos

cargos em cerca de outras tantas empresas do Grupo. O que lhe deu um conhecimento profundo de todas as áreas de negócios. É também vice-presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil SGPS, a holding que controla todo o Grupo. Licenciado em Direito, ingressou na Mota-Engil há 23 anos, onde se instalou no departamento legal antes de assumir funções de responsabilidade financeira. Adepto do Futebol Clube do Porto e fã de leitura elege “O livro de Areia”, de Jorge Luís Borges como o mais marcante da sua vida. “África Minha” ganha o Óscar de filme preferido. Um filme sobre um Continente em que o Grupo que lidera está bem presente. E para o qual deverá viajar mais vezes, seja por questões de trabalho, seja provavelmente como destino de uma das suas viagens ou não fosse este um dos seus hobbies. Tudo na companhia da música de Van Morrison. l 13


NEGÓCIOS

a apoiar o crescimento da nossa empresa naquele país. A Mota-Engil conta actualmente com cerca de 1200 expatriados sendo muito provavelmente o maior empregador de portugueses no estrangeiro. Que comentário faz ao adiamento do projecto de construção de uma linha de alta velocidade ferroviária em Portugal, em que o Grupo era um dos candidatos mais fortes? Considero que deixar Portugal de fora da rede europeia de transportes é, e será, um erro com que nos vamos confrontar a médio e longo prazo, ao nível da nossa inserção no espaço europeu. Mas é um assunto do foro político que respeitamos. Disse recentemente estar a estudar oportunidades de negó-

cio em Portugal que sejam adequadas ao perfil estratégico do Grupo. Entre elas destacou a operação da Empresa Geral de Fomentos (EGF). É uma aposta na área do ambiente? O Grupo detém competências e uma posição relevante, em Portugal, na área do Ambiente, e em concreto no segmento dos resíduos, pelo que estaremos sempre disponíveis para estudar as oportunidades que sejam adequadas ao nosso perfil estratégico, como é o caso da EGF. Dentro de cinco anos que Grupo espera liderar? Um Grupo maior e mais internacionalizado, e, acima de tudo, com o reforço da sua sustentabilidade e capacidade de gerar valor, mantendo, no entanto, os valores que permitiram este caminho com uma história de mais de 66 anos. l Portugal Os novos Desafios

Novo Plano Estratégico Um Grupo mais internacional e diversificado A Mota-Engil apresentou um novo Plano Estratégico, designado Ambição 2.0, que vigorará até 2015, com a internacionalização como principal suporte ao crescimento do Grupo. Os objectivos estabelecem um crescimento de 45% até 2015, suportado por uma forte expansão internacional e pela diversificação de diversas áreas de negócio, em cada região, prevendo-se que a Mota-Engil possa atingir nesse ano um volume de negócios acima dos 3150 milhões de euros e um EBITDA próximo 14

dos 450 milhões. A expansão internacional será centrada nas regiões de actuação prioritárias: Espaço SADC (Sul de África), América Latina e Europa Central. O grupo dará primazia ao crescimento orgânico, em detrimento de aquisições, promovendo acções de prospecção em mercados periféricos e dentro das regiões definidas como estratégicas, com maior preponderância em África e América. Em cada mercado internacional e à medida das oportunidades, o Grupo replicará o seu modelo de negócios em Portugal. l

> Manutenção do actual portefólio enquanto Grupo diversificado; > Líder nos sectores em que actua como base para criação de escala para o processo de internacionalização; > Colaboração com as restantes geografias no suporte técnico a novos mercados ou projectos. África > Alargar a actividade no âmbito regional ao espaço da SADC; > Enfoque em projectos de dimensão para grupos multinacionais privados associados à mineração; > Expandir a actividade em Angola, Moçambique e Malawi para áreas como Ambiente, Logística e Energia, enquanto suporte à construção e gestão de infra-estruturas. E u r o pa C e n t r a l > Manter uma posição de referência na Polónia enquanto mercado e plataforma regional; > Analisar oportunidades de diversificação em segmentos da fileira da construção e conexos; > Alargar a análise da actividade na região a mercados limítrofes, processo condicionado à rentabilidade e às garantias de financiamento. Am é r i c a l at i n a > Aumentar a actividade do Grupo em sintonia com o potencial económico da região; > Consolidar a presença na região e avaliar novas oportunidades a partir dos mercados actuais; > Infra-estruturas (rodoviárias e ferroviárias) e trabalhos de mineração como os principais enfoques na actividade.



tema de capa

d o s s i ê

O regresso dos franceses O g r u p o f r a n c ê s V i n c i pa g o u 3 , 1 m i l m i l h õ e s p e l a ANA , a e m p r e s a q u e g e r e o s a e r o p o r t o s p o r t u g u e s e s . Fo i o m a i o r investimento da Vinci for a de Fr ança e a maior aplicação d e c a p i ta i s e s t r a n g e i r o s e m Po r t u g a l d o s ú lt i m o s a n o s . M a s e s ta o p e r a ç ã o f o i a p e n a s m a i s u m pa s s o n o d i s c r e t o ava n ç a r d o s f r a n c e s e s e m Po r t u g a l .

A França, que é o terceiro parceiro comercial de Portugal e o segundo maior mercado para o turismo do país, é também um dos maiores investidores estrangeiros. De 2009 a 2011 esteve sempre no pódio, tendo mesmo chegado à primeira posição em 2010. Para o futuro, com o investimento da Vinci e uma série de outros projectos na calha, a liderança neste campo parece assegurada. Os 3,1 mil milhões da ANA equivalem, só por si, a quase metade de todo o investimento francês dos dois anos anteriores. Os franceses estão em Portugal para ficar, têm os seus negócios bem distribuídos geograficamente e repartidos por vários sectores de actividade. Os gestores franceses gostam da experiência de investir em Portugal, elogiam a qualidade da mão-de-obra e das infra-estruturas de transportes e de telecomunicações e garantem que a localização geográfica do país, e as suas ligações históricas, fazem de Portugal uma excelente plataforma para a entrada nos países africanos de língua oficial portuguesa. Um estudo feito pela Universidade Nova de Lisboa para a Embaixada de França em Portugal, sobre a presença dos franceses no país, refere que o tipo de investimento está a mudar, da indústria e do retalho para os serviços de valor acrescentado e as tecnologias. Todas os detalhes para ler, no dossiê das próximas páginas.

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tema de capa e n t r e v i s ta Pa s c a l T e i x e i r a da

S i lva

Os investidores franceses estão satisfeitos Pa s c a l T e i x e i r a d a S i l va é o e m b a i x a d o r d e F r a n ç a e m Po r t u g a l . No a n o pa s s a d o a e m b a i x a d a c o n d u z i u u m e s t u d o s o b r e a p r e s e n ç a d a s e m p r e s a s f r a n c e s a s e m Po r t u g a l q u e mostra o grande peso de França enquanto investidor estrangeiro.

haja a percepção de uma presença Qual a realidade do investimento francês em forte dos franceses em Portugal, Portugal? miguel morgado excepção feita ao sector automóvel. É sempre difícil medir a realidade. Em 2010 registámos um pequeno desinvestimento. Em Disse que as empresas francesas 2012 os números foram bons. Em 2013, os 3 mil “fazem parte da paisagem”. Quer milhões de Euros investidos pelo Grupo Vinci na dizer que estão bem enraízadas em Portugal? compra da ANA vão ter um enorme peso. Dou-lhe um exemplo. A Alcatel Lucent ofereceu equipamento As empresas francesas são das mais antigas em termos de informático ao ISEL (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa) presença em Portugal. A Air Liquide está em Portugal desde para a formação dos engenheiros informáticos. O CEO da Alcatel os anos 20 do século passado. É um exemplo. Olhando para o disse que tinham 200 empregos directos em Portugal. Do universo panorama das empresas francesas sabemos que 20% delas está de colaboradores, 60% são engenheiros e metade desses são há mais de 40 anos em Portugal. Só 11% das restantes empresas formados pelo ISL. É um bom exemplo de ajuda que uma empresa estrangeiras está há mais tempo em Portugal. Isto prova a dá a um centro de formação. É um investimento win-win. antiguidade de presença francesa. E quanto mais antiga é a nossa A Thales Portugal, que é entendida como empresa portuguesa, presença menos visível se torna. Faz parte da paisagem…. ganhou concursos e conquistou mercados na África do Sul e Índia Outra das características é que as empresas francesas estão e recebeu o apoio da AICEP. E isso dá trabalho a engenheiros em presentes em todos os sectores, sem no entanto liderarem. No Portugal. sector automóvel, que representa 22% do investimento francês em Portugal, não temos, por exemplo, o peso de uma AutoEuropa. Que sectores são hoje mais apetecíveis para investir? Temos as fábricas da Renault Cacia, PSA Peugeot Citroën e da Faurecia. A Faurecia tem tantos colaboradores como a Volkswagen, Se olhar para os novos investimentos houve vários no sector dos serviços, sobretudo no backoffice de serviços informáticos. É o caso mas estão espalhados por oito fábricas. Sabemos que as empresas do BNP Security Services, Altron, da Digitel, da Cap Gemini ou da de componentes automóveis têm um comportamento muito Teleperformance Portugal, que criou o quinto call center no Parque errático, ao sabor da conjuntura, e isso é perceptível na contracção das Nações. Neste sector dos serviços e back office as condições de produção da Faurecia de Palmela, em alinhamento com o que de trabalho em Portugal são vantajosas. Porquê? Porque o país se passa na AutoEuropa. Depois temos presença nos sectores tem recursos humanos qualificados e tem uma relação custoda distribuição, comércio a retalho e por grosso (menos do que qualificação muito vantajosa. Há fiabilidade do trabalhador. E há na realidade, pois o Intermarché e Leclerc não são consideradas ainda o facto de estar no mesmo fuso horário. Para responder à empresas francesas), na energia e no ambiente, na área alimentar, procura de operadores franceses, ter funcionários qualificados e nos equipamentos eléctricos e electrónicos, nos transportes, banca que falam francês sem sotaque… pode ser uma vantagem. e seguros, informática, turismo... Esta dispersão faz como que não 18


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Fotos fernando piรงarra


tema de capa

P ortugal p ode ser uma boa p l ata f o r m a pa r a entrar em África. A l é m d o d i á lo g o com empresas francesas, t e n ta m o s a j u d a r e pa s s a r m e n s ag e m às autoridades políticas p ortuguesas. E noutras áreas que outros investimentos se concretizaram no país? A Alstom aumentou a actividade de produção em Setúbal, onde a fábrica fica a metros do cais do porto. O grupo escolheu este local para aumentar a sua produção porque ali há recursos humanos e uma boa situação geográfica. A Hutchinson, sociedade francesa pertencente ao grupo petroléfero Total e que opera na área das borrachas para automóveis, fez também um investimento em novos equipamentos de produção.

A Justiça é o verdadeiro ponto negro de incerteza e l e n t i dão e as empresas tudo f a z e m pa r a n ã o recorrer a ela.

Em relação ao estudo sobre a presença das empresas francesas em Portugal, que a embaixada produziu em parceria com a Universidade Nova, que lições retira do mesmo? Um dos objectivos do estudo era mostrar que é necessário exportar mais. Se o mercado português está a contrair é melhor ir lá para fora. Apesar da situação difícil, há uma maioria de empresas que vê coisas de um prisma positivo. Cerca de dois terços das empresas francesas que estão presentes em Portugal investiram recentemente no país e 43% considera investir no futuro. Isto mostra que a esmagadora maioria não quer desinvestir, que uma maioria investiu recentemente e quase 50% quer fazê-lo no futuro. Como disse, a mensagem principal era exportarem mais. E para exportar mais ou se investe mais ou se produz mais. Observamos ainda que a maioria das exportações tem como destino o mercado europeu, ou seja, que as empresas francesas que operam em Portugal e exportam estão demasiadas viradas para o mercado europeu. Se a mensagem é exportar mais, podemos deduzir que o investi20

mento em Portugal poderá abrir outras portas, nomeadamente nos PALOP? Portugal pode ser uma boa e útil plataforma para entrarmos em África. Há empresas francesas de serviços em Portugal que utilizam as filiais para entrar nestes mercados que são complicados. Mas não tanto no Brasil. Para as exportações, o mercado brasileiro é muito fechado. O volume de negócios feito pelas empresas francesas no Brasil pesa quatro vezes mais do que as exportações francesas de França para o Brasil. Para o mercado brasileiro é mais fácil investir do que exportar e logo não é necessário recorrer à plataforma Portugal. Que avaliação fazem as empresas francesas sobre Portugal? Essa era uma das perguntas do estudo, tentando avaliar o nível de satisfação sobre as relações com clientes e fornecedores, os trabalhadores (qualificação e relação custo-qualificação, com formação ao nível do centro da Europa e custos menores), a fiabilidade, o clima social nas empresas e a flexibilidade. Quando visito as empresas, uma das questões que costumo colocar é o que se passa neste campo da flexibilização, ou seja o tempo para adaptar a variante produção à conjuntura e ao volume de negócios. Todos os empresários dizem que não há problema. E referem as boas infraestruturas de comunicação e de transporte, a localização geográfica. Cito o caso da fábrica de Setúbal da Alstom, em que estar à beiramar é claramente uma vantagem. E quais os aspectos negativos? O Estado. Tudo o que tem a ver com o Estado. A Justiça: é o verdadeiro ponto negro de incerteza e lentidão e as empresas tudo fazem para não recorrer a ela. Também há queixas no que respeita ao comportamento das administrações centrais e locais em termos de licenciamento. Há burocracia. É uma abordagem meramente burocrática sem interesse para a própria economia. Ao nível local, os presidentes de câmara têm consciência de que é necessário fazer-


Embaixador com raízes lusitanas Pascal Teixeira da Silva. O apelido denuncia sangue Lusitano. “O Silva vem do nome do pai”, decifra entre sorrisos referindo-se aquele que é provavelmente d os nomes mais portugueses. Na realidade “deveria ser da Silva Teixeira, Teixeira é nome do avô e Silva vem da minha avó”, explica enquanto recorda que o pai emigrou para França em 1933 e foi naturalizado com a família toda. “A origem é directa e já antiga”, tão antiga quanto a presença das empresas francesas em território nacional. Nomes à parte, Pascal Teixeira da Silva nasceu a 2 de Outubro de 1957, em Bordéus, França. É francês, pese embora a ligação sanguínea a Portugal. Antigo aluno da Escola Nacional

se algo. Mas há incoerência na aplicação e leitura das regras. E as empresas necessitam de clareza e continuidade. Calculo que o acesso ao crédito também esteja difícil... Não é tanto o acesso, mas o custo. O acesso ao financiamento tem a ver com a época que vivemos. Há filiais que o conseguem obter através da casa mãe. Outras sofrem, como qualquer empresa portuguesa. As que necessitam de energia queixam-se também do custo da electricidade. As empresas francesas não dizem coisas muito diferentes das portuguesas. A Embaixada Francesa em pratica diplomacia económica. Como se processa? Fazemos diplomacia económica há muito tempo. No entanto, devido à preocupação com o nosso comércio externo, que registou um défice em 2011, as duas prioridades foram: exportar mais e atrair investimento estrangeiro. O mesmo é válido para Portugal. Temos uma Conferência de Embaixadores em Portugal, que decorre no início do ano, para a embaixada em Portugal e os vários actores económicos da comunidade de negócios franceses. Há quem trate da promoção das Exportações e quem só trate do Comércio. Temos a Agência Francesa para o Investimento Internacional (AFII), a Ubifrance, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF) e uma instituição que são os Conselheiros do Comércio Externo da França (CCFE)... Quem são esses Conselheiros? São um grupo de empresários franceses que não devem trabalhar para uma única empresa. São escolhidos para dialogarem com os poderes públicos e são interlocutores muito úteis. A conferência de Novembro passado, em que foi analisado o peso do investimento francês em Portugal, foi uma iniciativa conjunta da Embaixada com os Conselheiros e nasceu de uma conversa com o presidente desta organização.

da Administração (1984), o seu percurso está ligado à Diplomacia. Esteve na Embaixada francesa em Bona, na então República Federal da Alemanha e assistiu ‘in loco’, em Moscovo, às importantes mudanças geopolíticas na passagem da URSS para a Rússia. Entre 1990 e 1993. Regressou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em França antes de viajar em 1997 para Nova Iorque, para ocupar o cargo de primeiro-conselheiro da Missão permanente de França junto das Nações Unidas. A ligação a esta organização internacional manteve-se no regresso a território gaulês, antes de se mudar de armas e bagagens para o Ministério da Defesa, onde dirigiu a Direcção Geral de Segurança Externa. l

É uma maneira de mantermos uma relação com o terreno. Este Fórum reúne-se de 2 em 2 meses. É importante para sentirmos e avaliarmos a situação no terreno. Fazemos análises macroeconómica, e, estando Portugal sobre um Programa de Ajustamento, é importante saber o que se passa. É importante complementar a nossa visão macro com uma visão que vem do terreno e reflecte a actividade sectorial. Num contexto difícil as coisas passam-se de maneira diferente. Nem todos os sectores sofrem de igual modo e há quem consiga limitar ou reduzir os efeitos negativos do contexto actual. O negócio da Vinci enquadra-se nesta acção de diplomacia económica? Além do diálogo com empresas francesas, tentamos ajudar e passar mensagem às autoridades políticas, das mais gerais às particulares. No caso da Vinci tentei mostrar todas as vantagens e qualidades da oferta. Mostrar que o que estava em jogo não era só uma oferta de uma empresa, mas que havia o apoio do Estado francês. A Vinci quer tornar-se um actor importante no sector e na ANA é um passo nessa afirmação. A intenção da Vinci é diferente da de outros concorrentes. Quer tornar os aeroportos nacionais num navio almirante. Portugal será a base principal de actividade do grupo nesta área de negócio. E poderá a Vinci entrar noutros negócios e investimentos? A Vinci está em Portugal na Ponte Vasco da Gama e é principal accionista da Lusoponte. Sobre o eventual novo Aeroporto, primeiro há que explorar todas as potencialidades das actuais instalações, na Portela. Algumas empresas no sector dos serviços estão localizadas e a fazer investimentos no Parque das Nações, porque é perto do aeroporto actual. E para os turistas também. Quando forem esgotadas todas as possibilidades do actual aeroporto e quando o clima económico permitir poderão avançar para o futuro aeroporto. l 21


tema de capa

E s t u d o

O retrato do investimento francês A s e m p r e s a s f r a n c e s a s p r e s e n t e s e m Po r t u g a l s ã o i m p o r ta n t e s pa r a a e c o n o m i a , e s tã o s at i s f e i ta s c o m o s s e u s i n v e s t i m e n t o s n o pa í s e c o n f i a n t e s n o f u t u r o , c o n c l u i u m e s t u d o r e a l i z a d o p e l a U n i v e r s i d a d e Nova d e L i s b o a pa r a a e m b a i x a d a d e F r a n ç a e m Po r t u g a l .

Álvaro de Mendonça

O

investimento francês em Portugal é de longa duração e está melhor distribuído geograficamente pelo país. Uma em cada cinco empresas francesas está em Portugal há mais de 40 anos e quase metade chegaram ao país há mais de 20. No seu conjunto, as empresas francesas respondem por 1,7% do emprego em Portugal, por 3,2% do volume de negócios e por mais de 4% das exportações. Mais importante ainda é o facto do capital francês dar um contributo de 2,4% para o PIB português. Estas são algumas conclusões do estudo “Presença Francesa em Portugal – – Implantação, Exportação e Estratégia”, que analisou um total de 214 empresas com capital francês e presença em Portugal. Do estudo foram excluídas as posições minoritárias no capital e as relações contratuais que não envolvam o controlo accionista, como acontece, por exemplo, com o franchising, o que levou à não consideração de alguns negócios importantes de origem francesa, como são o caso do grupo de distribuição Os Mosqueteiros, dono das insígnias Intermarché e que opera em Portugal em sistema de franchising, ou da participação de 37% que o grupo Vinci 22

detém na Lusoponte. O estudo também não considera ainda o recente investimento de 3,1 mil milhões de Euros que a Vinci fez com a aquisição da ANA Aeroportos de Portugal. O relatório refere que as empresas francesas pagam salários e rendibilidades acima de média do país e que, nestes campos, batem as multinacionais de outros países. Mais importante ainda é o facto de utilizarem mão-de-obra qualificada: metade dos trabalhadores têm formação superior. A experiência do investimento em Portugal tem sido muito positiva, levando mais de 40% das empresas a confirmar que tem intenções de realizar novos investimentos no país. Da indústria às tecnologias As empresas francesas têm uma presença forte nos sectores vitais da economia, embora não liderem nenhum. Na indústria automóvel o volume de negócios agregado dos grupos franceses representa 21% do total do sector devido às fábricas da Renault, da PSA e da Faurecia. Na distribuição automóvel os franceses valem 12%. A Renault é a marca que mais veículos vende em Portugal e a Peugeot e Citroën estão também no Top 5. Outras áreas onde os franceses têm peso são o comércio a retalho não automóvel. O grupos de distribuição Auchan, a Decathlon

e a Fnac são investimentos bandeira neste sector. Na energia e no ambiente temos os grupos Vinci, Suez e Veolia; no agro-alimentar a Toplait, a Danone e a Fromageries Bel, na área farmacêutica a Sanofi-Aventis e a Servier e noutras indústrias, a Saint-Gobain, a Schenider Electric ou a Alstom. Um tipo de investimento que justifica a maior distribuição geográfica, menos concentrada em Lisboa, face a investimento estrangeiro de outros países. A tipologia do investimento francês está no entanto a mudar. De uma base industrial para os serviços especializados. O estudo revela um ganho de peso dos projectos nas áreas da consultoria informática, da arquitectura e engenharia e dos serviços para as empresas, em detrimento de investimentos mais pesados, na indústria tradicional, por exemplo. “O investimento francês em Portugal teve uma primeira fase na indústria, uma segunda nos serviços e está agora numa terceira fase em que entram os serviços de valor acrescentados, como a engenharia”, explica Stéphane Lhermitte, Conselheiro Económico da Embaixada de França em Portugal. A Thales, por exemplo, tem um Portugal um pólo de excelência do seu dispositivo internacional. E este é apenas um exemplo entre muitos.


O peso dos franceses no Top 500

No seu conjunto, as 28 maiores empresas com c o n t r o lo d o c a p i ta l f r a n c ê s r e p r e s e n tava m um volume de negócios ag r e g a d o ac i m a dos 6300 milhões de euros.

No conjunto das 500 maiores empresas privadas de Portugal em 2011, 28 tinham capital maioritariamente francês. Desta, 20 registaram um volume de negócios anual superior a 100 milhões de Euros, com a maior, a Companhia Portuguesa de Hipermercados (Grupo Auchan) a valer só por si 1446 milhões. No seu conjunto, as 28 maiores empresas com controlo do capital francês representavam um volume de negócios agregado acima dos 6300 milhões de Euros. Ranking de Empresas

Sector

Vol/Neg M€

3

Companhia Portuguesa Hipermercados

Distribuição alimentar

1446

41

Renault Portugal

Retalho automóvel

520

ANA - Aeroportos de Portugal

Serviços aeroportuários

425

61

Peugeot Citroën Automóveis Portugal

Indústria automóvel

321

63

Turbogás (Grupo Suez)

Energia

346

80

Fnac Portugal

Retalho especializado

305

83

Peugeot Portugal Automóveis

Retalho automóvel

294

97

Automóveis Citroën

Retalho automóvel

265

107

CACIA Renault

Indústria automóvel

251

114

Faurecia - assentos de Automóvel

Indústria automóvel

237

117

SPAD (Decathlon)

Retalho especializado

224

122

Faurecia - Sistemas de Escape

Indústria automóvel

220

130

Sonasurf Internacional

Shipping

205

154

Bourbon Offshore Interoil

Shipping

172

191

Danone Portugal

Indústria alimentar

139

196

Ponticelli Angoil

Serviços

136

220

Alcatel-Lucent

Telecomunicações

124

236

Sanofi-Aventis

Indústria farmacêutica

118

249

Longa Vida

Indústria alimentar

112

258

Fromageries Bel

Indústria alimentar

109

275

Renault Retail Group Chelas

Retalho automóvel

194

302

Servier Portugal

Indústria farmacêutica

96

303

Alstom Portugal

Energia

96

321

Essilor

Indústria óptica

92

348

Saint Gobain Mondego

Indústria Vidreira

85

371

Schneider Electric

Material eléctrico

80

376

Ar Líquido

Gases industriais

79

395

GECFO

Transitários

75

416

Provimi Ibérica

Rações para animais

72

23


TEMA DE CAPA

Champions de France Seis grandes grupos de origem francesa Vinci Com a aquisição da ANA Aeroportos, no início do ano, por 3,1 mil milhões de Euros, o Grupo Vinci passa a integrar o lote das maiores empresas francesas em Portugal, juntando a gestão dos aeroportos à concessão das travessias do Tejo da Lusoponte (onde detém uma posição de 37% no capital) e a um portefólio de empresas nas áreas da energia e da construção. O grupo é um player de primeiro plano nas concessões aeroportuárias, com 23 aeroportos geridos em Portugal, França e Cambodja, que acolhem mais de 40 milhões de passageiros por ano. Em Portugal, a Vinci pretende fazer do hub de Lisboa a base das suas operações no sector aeroportuário, graças à sua posição estratégica para destinos de forte crescimento, como Brasil e África. No Porto, o aeroporto Francisco Sá Carneiro será uma plataforma crucial na expansão para todo o Norte Atlântico. “Queremos que a ANA seja a base de todos os desenvolvimentos futuros do grupo neste sector”, disse recentemente o presidente executivo da Vinci Concessions, Louis-Roch Burgard.l

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Companhia Portuguesa de Hipermercados GRUPO AUCHAN A Companhia Portuguesa de Hipermercados, do grupo Auchan, é a maior empresa de capitais franceses presente em Portugal, com um volume de negócios de 1446 milhões de Euros, em 2011, o que a coloca no 13º lugar do ranking das maiores empresas privadas dp país. A Auchan detém os super e hipermercados Jumbo e Pão de Açúcar, e a Immochan, que gere cinco centros comerciais em Alverca, Canidelo, Cascais, Famalicão, Maia, Santo Tirso e Setúbal e os centros Allegro, de Alfragide e Castelo Branco. O universo Auchan integra ainda a rede de lojas Box, de venda de electrodomésticos, electrónica de consumo e equipamentos para o lar, e a Oney, uma empresa do grupo Banque Accord, especialista em produtos e serviços financeiros, como cartões de pagamento, seguros, crédito e poupança, entre outros. O Banque Accord é subsidiário a 100% do Grupo Auchan , e está presente em 4 grandes áreas de negócio: Hipermercados, Supermercados, Imobiliária e Banca. A Oney iniciou a sua actividade em Portugal em 1994, através da Crediplus, constituída com o objectivo de gerir os cartões dos clientes Jumbo e Pão de Açúcar. l

Alstom Portugal O grupo francês, um dos líderes mundiais na área da energia, anunciou em Abril que vai investir 12,5 milhões de Euros na expansão e na actualização tecnológica da sua fábrica de Setúbal, 80 quilómetros a Sul de Lisboa, criando 130 novos postos de trabalho. A unidade portuguesa da Alstom é um dos dois centros mundiais do grupo de produção de recuperadores, geradores, condensadores e outros componentes para centrais de produção de energia. A fábrica está operacional desde 1976, emprega 350 pessoas e exporta grande parte da sua produção, apoiando os projectos do grupo na Europa, Médio Oriente, Norte de África e na Costa Oeste dos EUA. l

Peugeot CitroËn Automóveis O grupo PSA tem uma fábrica em Mangualde, no interior Norte de Portugal, onde são produzidos os furgões comerciais Peugeot Partner e Citroën Berlingo. Esta unidade, que funciona como pólo da fábrica que o grupo francês tem em Vigo, na Galiza espanhola, é o segundo maior produtor de veículos automóveis do país, a seguir à fábrica da VW Autoeuropa. Além da produção, o grupo PSA está directamente presente na distribuição das marcas Peugeot e Citroën, de que é importador e representante exclusivo para Portugal. O conjunto destes negócios representa uma facturação anual superior a 1000 milhões de Euros. l


Faurecia A Faurecia é um dos líderes mundiais no fornecimento de componentes e engenharia automóvel, especializada em quatro principais gamas de produtos: assentos completos, cockpits, módulos de carroçaria e sistemas de escape completos. Tem oito fábricas em Portugal, em Bragança, Nelas, Palmela, São João da Madeira e Vouzela, empregando cerca de 3000 trabalhadores. Participa ainda em duas joint-ventures, em Palmela: a VAMPRO (50/50 com a JCI) e a SAS (50/50 com a Continental). O volume de negócios agregado nas oito unidades Faurecia em Portugal é superior a 800 milhões de Euros. l

Renault O maior fabricante de automóveis francês produz caixas de velocidades na sua fábrica da Cacia, na zona de Aveiro, uma cidade industrial localizada a cerca de 60 quilómetros a Sul do Porto. Além desta unidades, o grupo francês tem actividades directas na importação e distribuição de automóveis das marcas Renault e Dacia, através da Renault Portugal e da Renault Retail Group e no financiamento automóvel, com o RCI Bank. O conjunto desta actividades representa um volume de negócios anual superior a 800 milhões de Euros.l

Um hub para os mercados africanos Um dado curioso é o facto das empresas francesas presentes em Portugal terem um pendor menos exportador que as empresas de outros países. A proporção das exportações no volume de negócios das empresas francesas é de 24%. Nas empresas alemãs é o dobro. O que tem a ver com o facto dos franceses não estarem, com excepção dos automóveis e componentes e de equipamento eléctricos, em sectores muito dinâmicos em termos de exportações. Em comparação, as empresas alemãs dominam os sectores onde estão presentes e estão muito viradas para os mercados externos. É o que acontece com a VW na AutoEuropa ou a Continental, mas este é um cenário em transformação.

P ortugal é uma boa p o r ta d e a c e s s o ao s m e r c a d o s d e e x pa n s ã o p ortuguesa e disp õe de excelentes infra-estruturas e de uma m ão - d e - o b r a co m u m a b oa r e l aç ão qualidade/custo. A alteração da tipologia do investimento francês está a levar as empresas para sectores mais focados na exportação. De acordo com os dados mais recentes, 17% já exportam tecnologia. Por outro lado, as empresas francesas começam a ver Portugal como um hub da sua entrada e das suas exportações para países africanos de língua portuguesa, como é o caso de Angola, Moçambique e, em menor escala, Cabo Verde. O acesso aos países de expressão portuguesa é um aspecto cada vez

mais atractivo para a maioria das empresas. Em termos operacionais, as empresas francesas em Portugal tem grande autonomia face as suas casas mães, sendo decisivas ou interferindo directamente nas decisões sobre o desenvolvimento de novos produtos, no controlo da qualidade e dos processos de fabrico, na contratação dos gestores de topo e na entrada em novos mercados. Para França ficam as decisões de financiamento de projectos de grande relevância. Há até uma quase independência em algumas áreas da gestão, como a contratação de fornecedores, o financiamento de projectos de menor relevância, o marketing, a actividade de exportação e a gestão de recursos humanos. A ovelha negra Portugal tem uma excelente posição geográfica, é uma boa porta de acesso aos mercados de expressão portuguesa e dispõe de excelentes infra-estrururas e de uma mão-de-obra com uma relação qualidade/custo atractiva e boa produtividade. “O nível da qualidade da mão-de-obra e dos neurónicos locais é um factor muito importante. Daqui decorre uma qualidade de produto extraordinária”, refere um dos gestores franceses inquiridos pelo estudo. De uma maneira geral, a apreciação é favorável. A maioria das empresas francesas considera fácil lidar com os trabalhadores, os fornecedores e os clientes locais. O reverso da medalha é a relação com o Estado. Os tribunais, as autarquias, a administração central e os reguladores de mercados são vistos como um entrave. “Para licenciar uma empresa com alguma complexidade, a tramitação necessária e a quantidade de entidades e serviços que é preciso contactar é absolutamente alucinante”, refere um gestor. A avaliação é particularmente negativa no que se refere aos tribunais, criticados por 80% das empresas. “Quando se entra num processo judicial sabemos quando ele começa, mas nunca sabemos quando acaba”, queixa-se um empresário. “Não me interessa ter razão daqui a quatro anos. Eu preciso de ter razão agora”, acrescenta outro. l 25


F o t o s F ERNANDO PIÇARRA

TEMA DE CAPA

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e n t r e v i s ta P i e r r e

D e b o u r d e au

Managing Partner da Eurogroup Consulting e Presidente dos “Conseillers du Commerce Extérieur de la France” em Portugal

Po r t u g a l vo l t o u à agenda do investimento francês O a j u s ta m e n t o m a c r o e c o n ó m i c o e s tá a r e l a n ç a r Po r t u g a l c o m o u m pa í s at r a c t i vo pa r a o i n v e s t i m e n t o e s t r a n g e i r o , g a r a n t e P i e r r e D e b o u r d e a u . r e a l ç a a q u a l i d a d e d a m ã o - d e - o b r a e d a s i n f r a - e s t r u t u r a s e g a r a n t e q u e Po r t u g a l já e n t r o u n a a g e n d a d e i n v e s t i m e n t o s d a s g r a n d e s m u lt i n a c i o n a i s f r a n c e s a s .

Álvaro de Mendonça

Os dados oficiais registam um aumento do investimento directo francês em Portugal. Porquê este interesse renascido? A França, na realidade, e isso é pouco divulgado, tem uma relação histórica com Portugal. As empresas multinacionais francesas são as mais antigas instaladas no país. O ajustamento que a economia portuguesa está neste momento a fazer está a tornar o país muito competitivo. O resultado é que hoje Portugal deixou de ser um país caído no esquecimento e voltou à agenda dos investidores franceses. Sei de dois casos de investimento francês em que Portugal apresentou a proposta de melhor valor. Portugal tem recursos humanos de qualidade reconhecida, com um custo mais baixo face a outros países e onde existem infra-estruturas excelentes. Além disso, Portugal é um país muito fácil para trabalhar e onde existem muito boas relações com fornecedores

e clientes. Falta melhorar apenas a parte das relações com o Estado. Nos últimos anos, em Portugal, tem-se falado muito do investimento espanhol, alemão, brasileiro e, mais recentemente, no angolano e chinês. A França, neste campo da comunicação, parece estar relegada para um plano mais discreto… É verdade. E foi por isso que nós decidimos dar a conhecer a presença dos franceses em Portugal, que é extraordinariamente forte. E decidimos, antes de mais, divulgar este facto junto do Governo português, que assim pode estar mais atento às empresas francesas e às oportunidades de captação de investimento. Mas decidimos também divulgá-lo junto das empresas francesas, que assim podem olhar para Portugal como destino dos seus investimentos. 27


TEMA DE CAPA

“A s e m p r e s a s m u lt i n a c i o n a i s têm de saber a d a p ta r - s e a o s mercados onde e s tã o p r e s e n t e s . E i s s o aco n t e c e com as empresas f r a n c e s a s .” As empresas com controlo de capital francês representam hoje, 1,7% do emprego em Portugal, mais de 4% das exportações e 2,4% do PIB. Este peso, em face do interesse recente dos investidores franceses, tenderá ainda a aumentar mais? Sim, é verdade. Antes de mais, pela questão macro económica, pois Portugal está a ganhar competitividade, e depois pela boa experiência que os investidores franceses têm tido no país. Cerca de 46% das empresas francesas já presentes em Portugal declararam que vão continuar a investir em Portugal. Um facto curioso que resulta do estudo sobre a presença das empresas francesas em Portugal é o facto do investimento de origem francesa durar, em média, mais tempo que o proveniente de outros países. Qual é a razão? Será pela França investir mais em 28

sectores industriais que exigem investimento em instalações? Tem de facto a ver com a tipologia do investimento, mas também com o facto de existir uma comunidade de valores entre Portugal e França. Os tais laços históricos entre os dois países. Mas apesar disso, o certo é que a França, que há 50 anos era a referência cultural e a língua estrangeira mais falada em Portugal, perdeu protagonismo para os anglo-saxónicos. E isso aconteceu um pouco por todo o mundo… A França perdeu um pouco da sua ambição. Mas estou convencido que com o investimento em Portugal, o francês pode reconquistar parte do protagonismo perdido, sobretudo nas escolas e nas universidades. E essa é uma das razões porque a comunidade de negócios francesa em Portugal está agora mais activa.


O investimento francês em Portugal, talvez por efeito do grande projecto que a Renault lançou há mais de 20 anos, está muito concentrado no sector automóvel. O sector vale um quinto de todo o investimento francês no país. Esta concentração num Externo, com base na sua competência e na O Comité Nationale des Conseillers du sector que na Europa está maduro sua experiência internacional. Acompanham Commerce Extérieur (CNCCE) é uma rede e com alguns problemas não é um mundial de 4300 homens de negócios e gestores os dossiês sensíveis do comércio externo risco? Ou seja, não poderá levar a franceses espalhada por 146 países, que funciona francês e fornecem análises, informações e uma perda de peso do investimento recomendações aos poderes públicos com com consultores informais da diplomacia francês em Portugal? responsabilidades na área. económica de França e do l’Office National Tendencionalmente não. É claro Em parceria com os principais agentes du Commerce Extérieur, o equivalente francês que há um excesso de capacidade de internacionais do comércio externo francês da portugesa AICEP e que tem como missão produção automóvel na Europa, mas (DGT, Ubifrance, Câmaras de Comércio, apoiar os interesses económicos das empresas temos de analisar com quem estão Medef International, Coface, Oséo, AFII, entre francesas no exterior. as fábricas portuguesas a concorrer. outros), os conselheiros organizam, em França Os conselheiros são nomeados por três anos, Estão a concorrer, em primeiro lugar, e nos países onde estão presentes, colóquios, directamente pelo primeiro-ministro francês com as outras fábricas da Europa. E seminários e encontros. l e por indicação do ministro do Comércio aqui Portugal tem hoje uma posição concorrencial muito forte. E depois é preciso não esquecermos que Portugal está a beneficiar das consequências da Primavera Árabe, das revoluções e da instabilidade que hoje existe Um dado curioso do estudo é que as empresas francesas instalaem todo o Norte de África. A França, até por razões históricas, era um das em Portugal têm uma grande autonomia de decisão em relagrande investidor nos países do Magrebe. Mas a instabilidade está a ção às suas casas-mãe e, em particular, nas áreas da produção e afastar alguns investidores da região. E isso beneficia Portugal, visto desenvolvimento de produtos. Porquê? como uma excelente localização alternativa, até por fazer parte da União A autonomia é um factor fundamental para o sucesso das Europeia. Até porque o esforço de ajustamento que a economia está a organizações. Ora as empresas multinacionais têm de saber fazer projectar para o exterior uma excelente imagem do país. adaptar-se aos mercados onde estão presentes. E isso acontece com as empresas francesas. A Auchan Portugal desenvolveu localmente Mas além do sector automóvel, o investimento francês em Portugal algumas inovações, como o serviço de entregas ao domicílio e a também está muito presente no retalho especializado, na grande linha de produtos para crianças Rik & Rok, que acabaram por ser distribuição e na indústria farmacêutica. Sectores que, de uma forma introduzidas nos outros países onde o grupo está presente. E estas ou de outra, estão a perder negócio em consequência da crise. Se iniciativas são, precisamente, fruto da autonomia e da capacidade de estes sectores poderão por isso vir a perder peso, que novas áreas de adaptação aos mercados. Portugal é um bom laboratório de inovação investimento poderão aparecer para contrabalançar? e um excelente mercado-piloto para testar novos produtos e serviços. Há um, muito grande, que já se concretizou, com a entrada do grupo francês Vinci na gestão dos aeroportos portugueses. O Isso também tem a ver com a qualidade da mão-de-obra porinvestimento da Vinci vai trazer uma série de outros investimentos, tuguesa, unanimemente reconhecida pelas empresas francesas criando um cluster neste tipo de negócio. Um pouco à semelhança presentes em Portugal? do que aconteceu no sector automóvel com o investimento da Tem a ver com a qualidade da mão-de-obra e com um ponto que é Renault, que acabou por atrair fábricas de componentes e outros muito importante e que é a flexibilidade. fornecedores. O próprio grupo Vinci, que é um gigante europeu no sector dos serviços, não esgota as suas actividades na gestão de Comparativamente com empresas com capitais de outros países, aeroportos e, se as coisas correrem bem, poderá interessar-se por as empresas francesas em Portugal tem um peso relativamente novos investimentos em Portugal, noutras áreas. A Vinci é um fraco nas exportações. Isso quer dizer que elas estão muito focagrupo muito diversificado, com posições muito fortes na área da das no mercado doméstico e olham pouco para Portugal como construção e das concessões, em que é líder mundial, e na gestão de uma plataforma de exportação? espaços comerciais, só para citar algumas das mais importantes. Isso vai mudar. Portugal é visto hoje como um hub natural de exportações para três países que são hoje muito importantes: Em que outras áreas se tem mostrado os investidores franceses Brasil, Angola e Moçambique. A verdade é que é muito mais interessados? fácil entrar nestes países passando por Portugal, por questões Na concessão dos transportes, no saneamento, nas águas e nas culturais, linguísticas e pelo conhecimento que os portugueses tecnologias, por exemplo. têm desses mercados. l

O que é um Conseiller du Commerce Extérieur?

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negócios

p ro d u tos

d e

e xc e l ê n c i a

P o rtuguese d o i t better * A s pa l av r a s c r i s e e d e s a l e n t o n ã o c a b e m n e s t e t e x t o . S ã o o i t o e x e m p l o s d e e m p r e s a s p o r t u g u e s a s d e e x c e l ê n c i a ( e u m a i d e i a d e s u c e s s o ) q u e i n o va m e s e i m p õ e m n o s m e r c a d o s m a i s e x i g e n t e s d o m u n d o , m o s t r a n d o c o m o * o s p o r t u g u e s e s fa z e m m e l h o r .

João Bénard Garcia

Esqueça a imagem tradicional de Portugal como produtor de vinho do Porto, têxteis e calçado de baixa qualidade e de outros produtos pouco sofisticados. Hoje, o país é um centro de produção e inovação mundial em muitas áreas: da tecnologia de ponta aos materiais compósitos mais sofisticados. A cortiça portuguesa é utilizada para isolar carruagens de metropolitanos de última geração. Os melhores caiaques e fatos de natação do mundo levam o selo Made in Portugal. Mas também são portuguesas a mais antiga conserveira do planeta e uma das mais exclusivas gamas de sabonetes de luxo do mundo.

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NEGÓCIOS

Corticeira Amorim, Alucork

Cortiça estrela no Metro

SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: 511 milhões de

Euros Percentagem de exportações: 95 % Produto estrela:

Alucork

Site: www.amorim.com

O metropolitano mais leve e sustentável do mundo fala português e circula na capital da Polónia. Chama-se Inspiro, tem design vanguardista e foi criado pelo conglomerado de engenharia alemão Siemens em estreita parceria com a portuguesa Corticeira Amorim. As primeiras 35 carruagens de última geração do metro fabricado pela Siemens são das mais ligeiras do planeta. E tudo graças ao inovador sistema de piso Alucork, uma invenção da Amorim Cork Composites. Com a tecnologia de acabamento para solos e painéis da corticeira, a Siemens conseguiu, além de uma diminuição em 30% no peso dos veículos (menos três toneladas por carruagem), obter menores custos de produção, reduzir os consumos energéticos, assegurar uma excelente resistência ao fogo, garantir maior durabilidade dos materiais e aumentar a capacidade de transporte de passageiros. A utilização de cortiça no pavimento e nos revestimentos garante ainda uma elevada performance acústica e térmica e a total reciclagem dos materiais, após 40 anos de vida útil. Numa aproximação ao sector dos transportes, a Corticeira já deu cartas em projectos ecologicamente eficientes em que a leveza é a principal mais-valia para os fabricantes: componentes de cortiça integram o autocarro iBus, da Salvador Caetano, e soluções em cortiça abundam no EcoTrain, o comboio rápido da Alstom. l

Burel, capas do tablet Surface

Tecido medieval está na moda Quem diria que o medievo pano grosso, áspero e impermeável de lã, a que chamamos burel – e que trajava os condenados nos Autos do escritor português Gil Vicente no século XVI – seria, 500 anos depois, reinventado de forma inovadora e se tornaria num dos últimos gritos da moda internacional em revestimentos e adereços pessoais. Mais: ganhando forma de capa, foi o tecido escolhido pela multinacional Microsoft para proteger o Surface Windows RT, o tablet que marca a estreia do gigante de software neste tipo de dispositivos. Encantada com as qualidades deste pano quente e impermeável – – que ao longo de séculos abrigou da chuva, neve e vento muito pastor – a Microsoft desafiou Rute Gomes, Rui Grazina e Sara Lamúrias, três designers portugueses, a desenharem capas para o novo ‘tablet’, num estilo personalizado. Isabel Dias da Costa e João Tomás são os responsáveis pelo renascimento do pano de burel. Juntos sopraram vida na 34

Império, a última das unidades portuguesas que, na vila de Manteigas, no coração da Serra da Estrela, tinha resistido ao tempo e continuava a produzir tecidos em burel. Dinamizá-la como fábrica de lanifícios não chegava. Criaram por isso, em 2010, um espaço de design, inovação e produção deste pano tradicional. Desafiaram uma dúzia de jovens criativos e o resultado foi estrondoso: nasceram inovadores tapetes de favos, fundos de cama, sofás, casacos, mochilas, malas, painéis decorativos em lã grossa com cores e padrões alucinantes. O passo seguinte foi abrir uma Loja da Burel, em Lisboa, onde comercializam os produtos das marcas Mantecas, Burel Penhas Douradas Factory e PDF Food. Um vídeo produzido pela equipa da revista Monocle desvendou ao mundo as virtudes do burel. A Microsoft Portugal ficou fã deste tecido ancestral e foi com ele que revestiu as paredes e tectos das salas de reuniões na sua nova sede em Lisboa. l

SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: cerca de 200

mil Euros Percentagem de exportações: 10% Produtos estrela: mantas e

revestimentos de paredes e tectos.

Site: www.burelfactory.com


Renova, Bl ack Edition

SAIBA MAIS:

A ideia do papel higiénico preto Quando todo o mundo achava que o papel higiénico absorvente tinha que ser branco ou com padrões foleiros, Paulo Pereira da Silva, o CEO da Renova, uma empresa familiar sedeada em Torres Novas, na região centro de Portugal, teve uma ideia revolucionária. Assistia em Las Vegas, nos EUA, ao espectáculo Zumanity, da companhia canadiana Cirque du Soleil, quando pensou: “E porque não papel higiénico preto?”. Num mercado com índices de crescimento limitados (e muito pouco inovador) esta ideia foi a pedrada que faltava para agitar as águas. A criação de um produto exclusivo reposicionou a empresa portuguesa no mercado da higiene íntima, distinguindo-a enquanto marca e permitindo a sua expansão internacional. O papel higiénico agora transformado num produto de design e de decoração para a casa. Com campanhas publicitárias arrojadas e polémicas, produzidas por fotógrafos de renome internacional, onde sempre abundaram a nudez e a sensualidade, a quase bicentenária marca portuguesa, conseguiu, num golpe de

Volume de vendas 2012: não disponibiliza Percentagem de exportações: não

mestre, antecipar as mudanças nos hábitos dos consumidores, facto que lhe abriu as portas dos mercados mundiais. A promoção de um papel brilhante, com uma caixa feita em ouro e 148 diamantes incrustados, no valor de 100 mil euros, é exemplo de uma das acções de marketing vanguardista que deram muito que falar. Pelo papel preto e por todas as cores imagináveis, pelos rolos de papel higiénico em caixas de ouro e diamantes, e pelas arrojadas campanhas publicitárias, a Renova acabou considerada pelo especialista britânico Peter Fisk como

disponibiliza Produto estrela: Black Label

Site: www.renovaonline.net sendo “uma das marcas da próxima geração”, reconhecida pela sua “constante aposta em inovação e irreverência, numa estratégia global e disruptiva”. l

Ach Brito, Claus Porto

Os sabonetes da Oprah Em 2007, a apresentadora Oprah Winfrey, a mais poderosa comunicadora norte-americana, revelou, durante o seu mediático talk-show televisivo, perante 40 milhões de telespectadores, que usa na sua higiene pessoal os sabonetes artesanais de luxo da marca Claus Porto, da Ach Brito, a centenária empresa portuguesa sedeada em Fajozes, Vila do Conde. Nos dias seguintes a Oprah ter desvendado um dos seus segredos de beleza, choveram encomendas de todo o mundo na sede da empresa e a produção quase artesanal esgotou-se num ápice. Resultado: graças a esta divulgação, a Ach Brito fechou as contas de 2007 com uma explosão de vendas superior a 30% em relação ao ano anterior. Desde então as gamas de luxo de sabonetes manualmente embalados da Ach Brito têm ganho cada vez mais popularidade. É graças a estrelas de Hollywood como o actor Nicolas Cage ou a modelo Kate Moss que a marca

vende actualmente os seus artesanais sabonetes de luxo com design de inspiração retro em mais de 50 países. Para uma empresa de pequena e média dimensão, com um portefólio riquíssimo de produtos genuínos, artesanais e aromáticos e que não faz publicidade, a Ach Brito, uma das mais antigas e acarinhadas empresas portuguesas, move-se num nicho do mercado de luxo onde compete directamente com os gigantes da cosmética mundial. l

Site: www.clausporto.com

SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: 5,2

milhões de Euros Percentagem de exportações:

cerca de 35% Produto estrela: Musgo Real

Classic Scent Soap on a Rope 35


NEGÓCIOS

Boca do Lobo, Grupo Menina Design

Móveis irreverentes Móveis de nicho caros, extravagantes nas cores e com formas irreverentes, modelaram a identidade da marca de mobiliário Boca do Lobo, criando uma legião de admiradores destes móveis especiais que se encontra espalhada pelo mundo. A aventura de criar um projecto de vanguarda e envergadura planetária começou em 2005, em Rio Tinto, Gondomar, sem quaisquer intenções de se tornar uma marca exclusiva. Foram os clientes, urbanos e trendy, que trocaram as voltas aos objectivos iniciais de Amândio Pereira e Ricardo Magalhães, os autores do projecto.

Hoje, a marca de móveis de luxo, que integra o Grupo Menina Design, cria tendências de moda a nível internacional, recriando o mobiliário tradicional – com os seus “móveis protagonistas” que precisam de paredes para brilhar – espalhados por 52 países, e até já possui loja aberta em Nova Iorque. O aparador Soho, com as suas gavetas coloridas, é a peça mais emblemática e custa quase 9 mil Euros. O cofre Millionaire é outra das criações ousadas da marca: esteve à venda por 27 mil Euros, mas tem uma versão em ouro que vale 2,3 milhões. l

SAIBA MAIS Volume de vendas 2012: 1,5 milhões de Euros Percentagem de exportações 2012: 85% Produtos estrela: Diamond, Pixel e Apollo

Site: www.bocadolobo.com

M.A.R. Kayaks, Caiaques Nelo

O campeão olímpico “O maior construtor mundial de caiaques chama-se Nelo”. Esta frase foi título de um artigo publicado numa newsmagazine de referência, mas podia bem ser afixada, sem quaisquer pretensiosismos, na parede da fábrica da M.A.R. Kayaks, em Canidelo, Vila do Conde. Além de líder mundial na construção de caiaques e de já ter vendido, ao longo dos anos, mais de 30 mil embarcações para 100 países, a empresa, criada em 1978 pelo ex-atleta Manuel Ramos, é a maior fornecedora oficial dos Jogos Olímpicos, competição onde participa há cinco edições consecutivas. Em Londres 2012, 75% dos atletas de canoagem competiram em caiaques e canoas Nelo. Crise é palavra que não se escuta na boca dos 90 trabalhadores da empresa, um terço dos quais são praticantes de canoagem. A firma vilacondense –

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– que constrói as embarcações de forma semiartesanal e à medida de cada atleta – tem crescido ao ritmo de dois dígitos ano após ano. Está agora a alargar, com sucesso, o negócio para novas áreas como o vestuário especializado. Próximo desafio em curso: inovar com produtos para provas de slalom, uma aventura em águas mais bravas e profundas. l SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: 4,5 milhões de Euros Percentagem de exportações 2012: 98% Produto estrela: Toda a gama Nelo Quattro

Site: www.mar-kayaks.pt


NEGÓCIOS

P e t r a t e x , LZR R a c e r

O fato de banho mais rápido

O campeão olímpico Michael Phelps, o maior nadador de todos os tempos, não se cansa desde 2008 de enaltecer as qualidades de um produto inovador, 100% criado e produzido no maior secretismo na vila de Carvalhosa, nos arredores de Paços de Ferreira. Além do medalhado atleta norte-americano, uma das grandes estrelas dos Jogos Olímpicos de Pequim foi o LZR Racer, a peça de vestuário desportivo (comercializada pela marca internacional Speedo) que já foi apelidada como o “fato de banho mais rápido do mundo”. A peça de roupa inventada em Paços de Ferreira foi de imediato considerada pela conceituada revista Time como sendo uma das mais revolucionárias invenções da indústria têxtil nas últimas décadas. O produto, que a partir de 2005 salvou da crise a empresa Petratex – Confecções, Lda., tem design futurista, imensa tecnologia incorporada e, mais importante do que tudo, ajuda efectivamente campeões, como a nadadora portuguesa Sara Oliveira, a baterem os seus recordes pessoais. A patente nacional e europeia chama-se nosew e garante a autoria de um fato de natação ‘cozido’, através de um processo de fusão técnica, que reduz a resistência à água, repelindo-a, em valores que variam entre 5% e 10%, permitindo uma superfície fina, flexível e confortável que se cola ao corpo e permite ao atleta, sem atrito (por ausência de costuras), manter-se na posição ideal… o sonho de qualquer nadador profissional. l SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: não disponíveis por razões de estratégia e confidencialidade Percentagem de exportações: não disponíveis por razões de estratégia e confidencialidade Produto estrela: LZR Racer

Site: www.petratex.com Conservas R amirez

A conserveira mais antiga

Dois séculos e meio de existência; centenas de milhões de latas de sardinhas, atum, cavala, polvo, lulas e mais de 35 variantes de produtos embalados no portefólio; cinco gerações ávidas de mudança à frente da mais antiga empresa produtora e exportadora de conservas do mundo; qualidade, diversificação e inovação constante são alguns dos factores que justificam o sucesso das Conservas Ramirez, empresa 100% portuguesa que exporta mais de dois terços do que produz. A mais antiga conserveira do mundo abriu portas em 1853, em Vila Real de Santo António, no Algarve, pela mão do fundador, o espanhol Sebastian Ramirez, quando a revolução industrial gritava a plenos pulmões pela Europa fora. Resistiu ao fim da monarquia em Portugal, sobreviveu à turbulenta 1ª República lusitana,

Site: www.ramirez.pt

atravessou duas guerras mundiais e trocas de regimes, superou crises e depressões económicas e seguiu incólume às mudanças nos mercados nacional e internacional. Se há empresa que merece o título de resiliente é a proprietária das mundialmente famosas Conservas Ramirez. Hoje, o grupo conserveiro concentrou a produção nas unidades de Leça da Palmeira e Peniche, vende 40 milhões de latas por ano, está presente com dez marcas em 37 mercados internacionais, nos cinco continentes e oferece uma gama de 55 enlatados. l

SAIBA MAIS: Volume de vendas 2012: 27 milhões de Euros Percentagem de exportações: 70% Produto estrela: Atum em posta

O sucesso fora da caixa

Noca Ramos, My Bikes As bicicletas exclusivas

Já lhe chamaram de tudo um pouco: “alfaiate de bicicletas”, “artesão de bikes por medida” e até “Batman”, este último epíteto é usado quando o avistam a pedalar nas dunas de São Jacinto ou na Costa Nova, arredores de Aveiro, com a sua bicicleta negra, um meio de locomoção ecológico certamente muito adequado ao enigmático super-herói de banda desenhada. Mas Dinis (Noca) Ramos não quer saber dos nomes que lhe chamam. Enquanto pedala está a sonhar… e a trabalhar. E é ao pedalar veloz sobre as duas rodas que também o pensamento do jovem designer de comunicação da Gafanha da Nazaré voa, para, terminado o passeio, aterrar cheio de ideias e soluções novas na ‘oficina’ que montou na garagem da casa dos pais. É na Gafanha da Nazaré, arredores de Aveiro, que, em clausura forçada, acaba a construir a próxima das suas bicicletas personalizadas e exclusivas, as mesmas cuja fama correu mundo graças à internet, gerando uma legião de admiradores que se estende de Barcelona a Nova Iorque. Dinis Ramos recusa-se a crescer. Afirma mesmo que não quer fazer desta ocupação negócio, embora se sinta pressionado pela chuva planetária de pedidos de réplicas das suas bicicletas originais. Diz ainda que só produz novos velocípedes se se apaixonar muito pelo projecto ou se se identificar com a ideia… e fabrica um de cada vez. Por isso passa os dias a desenhar novas máquinas de duas rodas, a calcular ângulos, a estudar a geometria do quadro. Depois pinta-as de forma personalizada e exclusiva e monta o puzzle: guiador, rodas, pedais, selim…. O resultado são as bicicletas mais exclusivas e originais do mundo. l

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NEGÓCIOS

O

P l a n e ta

Riof o rte

Pa r a g u a i , P o r t u g a l , B r a s i l e M o ç a mb i q u e s ã o g e o g r a f i a s o n d e a R i o f o r t e t e m i n v e s t i d o . Além d o turismo, da construção, das concessões rod oviárias e da saúde, os interesses d e s d o b r a m - s e p o r p r o j e c t o s a g r í c o l a s , a g r o - p e c u á r i o s e f l o r e s ta i s .

N

a Rioforte, a holding do Grupo Espírito Santo para os investimentos e activos não financeiros, o foco estratégico é essencialmente geográfico, explorando a crescente interactividade das economias do Atlântico Sul que, partindo de uma língua e cultura comuns, se relacionam de forma cada vez mais próxima, como o testemunham as crescentes ligações de investimento, trocas comerciais e presença empresarial entre Portugal, Brasil e os países africanos de expressão portuguesa. É entre o sudoeste da Europa, a América Latina e o Sul de África que se situam os vértices de uma espécie de triângulo dourado onde a Rioforte desenvolve os seus negócios. Os interesses da empresa são diversifica38

tem concentrado alguns dos seus investimentos mais emblemáticos.

maria Araújo

dos. Do turismo à construção e concessões rodoviárias, passando pela área da saúde e por grandes projectos agrícolas, agro-pecuários e florestais, que se alargam por quase 180 mil hectares no Paraguai, Brasil e Portugal. É aliás nestas áreas que o grupo

A oportunidade paraguaia A entrada do Grupo Espírito Santo no Paraguai remonta a 1977. Desde então, tem vindo a investir em diferentes projectos do sector agro-pecuário e florestal, através das empresas Sociedad Agrícola Golondrina e Ganadera Corina, ambas detidas pela Paraguay Agricultural Corporation (PAC). O Paraguai é um dos mercados onde o grupo tem registado maiores crescimentos e para onde tem vindo a canalizar investimentos. Exemplo disso é a parceria recente assinada com a DEG, uma associada do KfW, o banco alemão que financia projectos nos países em desenvolvimento. Esta parceria prevê a entrada da DEG/KfW na


O Triângulo do Atlântico Sul Foi em Setembro de 2009 que o Grupo Espírito Santo criou a Rioforte Investments, com sede no Luxemburgo, para agregar a maioria dos activos não financeiros até então controlados pela Espírito Santo Resources. Hoje, a Rioforte tem presença em empresas que se distribuem

geograficamente por Portugal, Espanha, Brasil, Paraguai, Angola e Moçambique, entre outros países. As suas actividades desdobram-se pelo imobiliário, hotelaria e turismo, construção civil e obras públicas, concessões e energia. Tem ainda interesses no sector da saúde, em conjunto com a área financeira do Grupo, na agro-pecuária e serviços. l

Sudoeste da Europa

O Grupo Espírito Santo tem em Portugal a maioria dos seus activos, com o imobiliário e a construção a dominarem em termos de negócio. Na última década Portugal transformou-se também numa importante plataforma nas relações económicas com o Brasil e Angola, com as exportações para estes

países a crescerem a taxas de dois dígitos e os investimentos mútuos a atingirem valores recorde. Presente ainda na hotelaria, distribuição de viagens, concessões rodoviárias e saúde, o sudoeste europeu é a base de cerca de 78% dos activos da Rioforte, apesar da tendência ser para a diminuição relativa de importância, em

favor das novas apostas na América do Sul e África. O sector imobiliário e turístico na Herdade da Comporta, a Sul de Lisboa, é um dos maiores investimentos da Rioforte. Espanha surgiu como a expansão natural da construtora do grupo apesar de os mercados apresentarem dimensões distintas. l

para o imobiliário, em particular no Estado de São Paulo, investiu na hotelaria, e está agora a investir na energia (hídrica, biomassa e no futuro eólica) e na construção. Os negócios passaram as fronteiras do Brasil. No Paraguai foram realizados

grandes investimentos através da empresa Golondrina (1976) e mais recente, em 1997, da Ganadera Corina. No Paraguai o objectivo é reforçar a componente agropecuária através da optimização das vastas fazendas de que é proprietário. l

Grupo Espírito Santo do continente africano, onde opera desde o início do século XX, mantendo-se esta geografia como um dos pilares da estratégia de investimento da Rioforte. O estabelecimento de parcerias na região e subsequente reforço da sua presença são as

bases da estratégia que terá por base uma equipa local, seguindo a abordagem adoptada para a América do Sul. A Rioforte mantém uma presença em Angola no sector da distribuição turística e prepara a entrada noutros países africanos. l

américa do sul

Foi no Brasil que o grupo deu os primeiros passos no sector da agricultura. Primeiro no café, depois em outras áreas do negócio agrícola, sempre em parceria com outros investidores nacionais e estrangeiros. Da agro-pecuária o Grupo passou

África

A actividade da Rioforte em África era conduzida essencialmente pela Escom, uma holding com interesses no imobiliário, em minas e noutros sectores não financeiros, que o grupo vendeu em 2010. Este desinvestimento não implicou, contudo, a saída do

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NEGÓCIOS

Paraguay Agricultural Corporation (PAC) – empresa até agora detida a 100% pela Rioforte – através de um investimento de 25 milhões de Euros, que lhe garantirá uma posição minoritária do capital social. O investimento permitirá melhorar a produtividade das áreas plantadas e irrigadas de soja, algodão, milho e trigo, e o arranque da produção de arroz, em terras até agora afectas à criação de gado. A par da produção agrícola, está ainda contemplado um reforço de tecnologias e processos de produção de gado, de forma a reforçar o volume actual de exportações de carne paraguaia. A PAC possui e administra uma área total correspondente a cerca de 135 mil hectares,

“A Rioforte detectou uma forte oportunidade no negócio agrícola no Paraguai. O nosso projecto de produção de arroz, por exemplo, quando executado na sua totalidade, poderá ser responsável por cerca de 10% da produção total deste cereal no Paraguai”, revela o CEO, João Pena. O preço ainda atractivo das terras e o seu potencial de produção, a competência dos quadros locais, a utilização de práticas de gestão agro-pecuária de alto nível e a transformação do uso da terra para actividades de maior valor, têm justificado o interesse da Rioforte. O plano de expansão desdobra-se em três eixos: reforço da actividade agrícola, com recurso à irrigação que possibilitará

Pantanal de Cima, no estado do Tocantins, a Cobrape explora uma área total de mais de 20 mil hectares, dos quais cerca de 3 mil dedicados à actividade agrícola. Para este ano, está previsto o arranque da produção de sementes de feijão e do desenvolvimento florestal da fazenda. A soja tornou-se uma importante fonte de receita para a Cobrape, que beneficiou da forte alta de preços desta commodity no mercado internacional, do aumento da área de cultivo e da associação a uma das maiores empresas de soja do mundo, a holandesa Nidera. Só em 2012, a área plantada aumentou 31%, para dois mil hectares face a 2011 e alcançou a maior produtividade registada na

a lg u n s d o s investimentos mais e m b l e m át i c o s da Riof orte p e lo m u n d o .

dos quais 24 mil estão afectas à actividade agrícola, para a produção de sementes e commodities como a soja, trigo, milho e algodão. A Rioforte entrou na produção de gado em 1997, após a aquisição da Ganadera Corina Campos y Haciendas. Desde 2008, a empresa tem aumentado as áreas produtivas, que hoje somam mais de 110 mil hectares, além de manter um programa de melhoria genética do rebanho, sendo uma referência nacional na criação da raça Braford. No total, responde por 52 mil cabeças de gado, número que não deverá sofrer qualquer alteração nos próximos anos. A produção de soja teve um aumento de 124%, entre 2005 e 2011, para 18,65 mil toneladas, correspondente a 2,8 toneladas de soja por hectare, equivalente à média de produtividade do Brasil, o maior produtor mundial. E o plano de expansão prevê um reforço da produtividade, em mais 1,1 toneladas por hectare. 40

duas colheitas anuais, aquisição de novas propriedades com elevado potencial de produtividade e conversão de cerca de 20 mil hectares de terras de gado para a produção de arroz e plantação de floresta certificada de eucalipto, associada à produção de gado, numa área total de 9000 hectares. Segundo contas feitas pela Rioforte, este plano permitirá que, em três anos, a PAC duplique o seu volume de negócios anual, para cerca de 42 milhões de Dólares e multiplique por duas vezes e meia a sua margem bruta. Raízes brasileiras É no Brasil que estão as raízes do Grupo Espírito Santo no que respeita à exploração agrícola. Primeiro no café, depois em outros áreas do agro-alimentar, mas sempre em parceria com investidores nacionais e estrangeiros. A Cobrape é um deles. Responsável pela produção de arroz, no Verão, e sementes de soja, no Inverno, na Fazenda

fazenda, com uma produção média de 2,7 toneladas por hectare, tornando-se a maior fonte de receita da Cobrape. Os objectivos passam agora por alcançar entre 3000 hectares a 3500 hectares de área de plantio de soja. A Cobrape possui ainda uma unidade industrial para recepção, secagem, armazenagem, descasque e empacotamento de arroz, e uma outra para beneficiação de sementes de soja. Ao nível da pecuária – actividade que ocupa 60% da área disponível na fazenda –, a Cobrape tem vindo a desenvolver a produção de bezerros para a venda de carne. Ainda no Brasil, a Rioforte opera também através da Companhia Agrícola Botucatu (CAB), a qual detém a Fazenda Morrinhos, no interior do Estado de São Paulo, e que pretende vir a ser a maior fazenda produtora de limão naquele mercado. Com este objectivo, e ainda o ano passado, a CAB reforçou a sua parceria com a Louis Dreyfus


Commodities para a gestão dos pomares de citrinos (limão e laranja) na fazenda. Além dos citrinos, a CAB tem uma actividade florestal, com 300 hectares de eucalipto, área que poderá aumentar nos próximos anos. A Agriways, empresa resultante da joint-venture com um sócio local e baseada no destaque de cerca de 8 mil hectares da Fazenda Morrinhos, dedica-se à produção de madeira de eucalipto, contando com 3700 hectares de área plantada, a que se somam mais 900 hectares de cana-de-açúcar. A oportunidade africana A actividade da Rioforte em África era

conduzida essencialmente pela Escom, a cabeça de um grupo com interesses no turismo, imobiliário, minas e recursos naturais, entre outros, e que foi vendida em 2010. Este desinvestimento não implicou, contudo, a saída do Grupo Espírito Santo do continente africano, onde opera desde o início do século XX. A prová-lo, está a criação da Mozambique Agricultural Corporation em associação com um grupo local, para a prática de uma agricultura comercial de soja e algodão e que irá beneficiar da experiência dos dois promotores. As previsões para os primeiros dois anos apontam para a plantação de 600 hectares que crescerão progressivamente até atingir cerca de 2000. O projecto completo chegará aos 20 mil hectares. A mesma parceria detém já uma concessão de 2000 hectares em Malema (Niassa), com 100 hectares de soja e onde se prevê chegar aos 420 hectares ainda este ano. l

Investimento de 15 milhões na Comporta É de 15 milhões de Euros o investimento da Rioforte, nos próximos três anos, em toda a área agrícola e florestal da Herdade da Comporta, a uma hora de distância de Lisboa. O investimento inclui um programa de reflorestação com o plantio de cerca de 4,5 milhões de novas árvores, o aumento da área de produção de arroz, de 500 para 700 hectares e a dinamização de mil hectares para produção de hortícolas, com uma elevada componente de exportação. A Comporta é a maior propriedade privada portuguesa e uma das maiores em termos de floresta e agricultura, que ocupam aproximadamente 9300 hectares de um total de 12500 hectares da herdade. Tem como principais áreas de actividade a gestão de arvoredo, o arroz, a vinha e a horticultura, sendo que a área florestal (pinheiro manso e bravo) ocupa cerca de 8000 hectares. Previstos estão também projectos específicos para produção de pinhão, a especialização no aproveitamento de subprodutos florestais e dos direitos de carbono, a produção de cogumelos silvestres e a gestão cinegética. No arrozal irão ser modernizadas as infra-estruturas (caminhos, canteiros, açude, furos, distribuição de água e drenagem), introduzidas medidas de controlo ambiental e incentivadas a produção integrada e biológica, para a

produção de arroz biológico. Após os investimentos, a produção deverá subir de 7 mil toneladas, em 1100 hectares, para 10 mil toneladas, em parte devido ao aumento da área de arrozal. No sector da vinha e vinho, onde a exploração chega aos 35 hectares, os principais investimentos vão traduzir-se na melhoria nas técnicas de produção, em medidas de controlo ambiental e na produção integrada (agricultura sustentável), com a exportação a representar 30% do volume produzido (120 mil garrafas por ano), 8% para a Europa e o remanescente para o resto do mundo e com Angola e Brasil a assumirem-se como mercados privilegiados. No que respeita à área hortícola, os actuais 150 hectares deverão crescer para mil, beneficiando da recuperação de terras improdutivas e abandonadas. Está prevista a criação de hortos industriais e a introdução de novas culturas de valor acrescentado para exportação, em regime de exploração directa e arrendamento de parcelas. Ainda neste campo, destaca-se a actividade da Atlantic Meals, empresa que se dedica à secagem, armazenamento, transformação e comercialização de arroz e milho, e que é líder destes mercados, com uma quota respetivamente de 25% e 50%. Com metade do capital desta unidade sediada em Coruche, a Atlantic Meals distingue-se por ser uma parceria de sucesso entre a Comporta e Luís Marques, gestor que está na génese do projecto. l 41


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r e p o rtag e m co lt r e s o u rc e s

P o rtugal r e g ressa ao m a pa d o ouro J á n ã o é s ó u m a c t o d e f é , é m e s m o v e r d a d e : h á o u r o n o A l e n t e j o e a C o lt R e s o u r c e s va i explorá-lo a céu aberto. Um investimento de dezenas de milhões de euros que recolocará P o r t u g a l n o m a pa d o s p r o d u t o r e s d e s t e p r e c i o s o m e ta l .

garam animais. A santa que dá nome à povoação (juram os mais devotos) sempre lhes retribuiu com saúde e riqueza. Esta terra de gente de muita fé vai ser a primeira localidade alentejana onde a multinacional canadiana Colt Resources vai explorar, a céu aberto, uma mina de ouro rentável. A empresa mineira descobriu ainda que a localidade de Casas Novas e a Herdade da Chaminé possuem ouro suficiente à superfície para extracção. Mas será sobretudo do subsolo de Boa-Fé que, já em 2014, sairá o precioso metal. Os olhos de Jorge Valente, 65 anos, brilham quando observa atentamente uma pequena amostra de pedra recolhida

do subsolo da Serra de Monfurado. Há 43 anos que este engenheiro de Minas nascido em Moura, no Alentejo, licenciado pelo Instituto Superior Técnico e especialista em Geomatemática e Planeamento de Minas, anda a furar o planeta em busca de minérios. O agora presidente da Euro Colt e country manager da Colt Resources em Portugal, que em criança se apaixonou pelas pedras, já abriu e explorou minas em 56 países e tornou-se, de pleno direito, um dos mais conceituados especialistas mundiais em exploração mineralífera. É também por isso que Valente merece que o escutem quando avalia as jazidas auríferas escondidas nos subsolos dos

As apostas da Colt em Portugal Para já, a multinacional mineira canadiana está a centrar todas as suas energias nas concessões de exploração experimental de ouro em Montemor/Boa-Fé e de tungsténio/volfrâmio em Tabuaço, no distrito de Viseu. Só para estas duas concessões está previsto um plano de investimentos da empresa que deverá ascender a um total aproximado de 150 milhões de euros. Mas os investidores 42

canadianos querem apostar ainda mais no mercado português e por isso candidataram-se à concessão de mais duas áreas com ouro (Borba e Cercal, ambas no Alentejo) e ainda a uma de tungsténio em Adorigo, também no concelho de Tabuaço. Em Penedono avança uma concessão de exploração experimental de ouro, em joint-venture com uma empresa brasileira. l

Fotos fernando piçarra

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a remota igreja da aldeia de Nossa Senhora da Boa-Fé, nos arredores de Évora, há uma escultura de uma santa padroeira típica da escola flamenga do dealbar do século XVI. A magnífica figura segura nos braços um menino Jesus que leva à boca uma romã, símbolo tradicional da fertilidade e da abundância. No largo da mesma igreja existe ainda um ancestral zambujeiro onde os fiéis depositavam oferendas em louvor à santa milagreira – “muito poderosa”, acreditam. Durante séculos por lá penduraram ouro, colocaram incenso, roupas e até entre-

João Bénard Garcia


J o r g e Va l e n t e é o guardião deste tesouro aurífero

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Uma mina que outros desprezaram A presença de ouro na serra alentejana de Monfurado foi identificada por trabalhos de prospecção do antigo Serviço de Fomento Mineiro. Na década de 70/80 foram confirmadas as suspeitas. O grande momento aconteceu durante os trabalhos de prospecção da multinacional Rio Tinto, gigante mundial de exploração de minérios, que descobriu a maioria das ocorrências e jazidas nesta zona do país. Só que nessa época a cotação da onça de ouro estava muito baixa e esta firma de mineração, por considerar ser a rentabilidade demasiado pequena para a sua dimensão, desinteressou-se da

concelhos de Évora e de Montemor-o-Novo: “Ao nível português, esta exploração é boa. Para Portugal é bom e importante. Não podemos ainda dizer que será uma exploração do tipo ‘world class’, mas é importante para nós. Para Portugal é relevante, pois basta dizer que deixámos de produzir ouro desde 1990”. “É muito significativo que o nosso país volte a constar no mapa como produtor de ouro”, reforça o responsável pela prospecção, que deixa avisos a quem julga haver fartura de ouro na planície alentejana: “Aqui não vai haver corrida ao ouro como no Oeste americano, porque o ouro é não visível. Vamos extrair minério e produzir concentrado de ouro, o que, em si, não vale nada. O ouro é não visível e só valerá algo quando fundido”. Furar a um ritmo alucinante No campo-base da Colt Resources, uma propriedade a sul de Santiago do Escoural, os geólogos revêem minuciosamente os 21 mil metros de amostras de rocha retiradas dos 177 furos de prospecção efectuados entre Novembro de 2011 e finais de 2012. “Fizemos num ano o que devíamos ter feito em cinco. Foi um ritmo grande de prospecção. Foi uma actividade alucinante”, reforça Jorge Valente. “Além das sondagens, fizemos trabalhos 44

exploração em Portugal e cedeu os seus direitos de concessão. Vinte anos mais tarde, se os licenciamentos para exploração avançarem e se se confirmarem as expectativas existentes quanto às possíveis reservas de minério aurífero, a Colt Resources vai beneficiar, pelo período de 20 anos, da concessão pelo Estado português em BoaFé. As restantes áreas serão concessionadas por um período de 50 anos em cerca de 750 Km2 de terrenos potencialmente ricos em ouro, nas regiões de Évora e Montemor-o-Novo. Um investimento de dezenas de milhões de euros com retorno garantido. l

“A q u i n ã o v a i h av e r c o r r i d a ao ouro como no oeste americano porque o ouro é n ã o v i s í v e l .” de pesquisa em trincheiras, em geofísica e geoquímica e colectámos amostras para testes metalúrgicos de processo que ainda não estão concluídos. Confirmámos todas as informações que já existiam e ampliámo-las no espaço: o minério existe e tudo indica que há tecnologia para o aproveitar. Falta-nos agora provar a viabilidade económica”, referindo o country manager da Colt, esclarecendo que o investimento em pesquisas, numa extensão de 30 quilómetros em linha recta, já vai em quase 5 milhões de euros. Nesta temporada de acalmia no quartel-general da Colt em terras alentejanas todos aguardam com ansiedade “os resultados dos testes de processo” e também

que haja luz verde da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para se avançar com os projectos de engenharia. Só depois se conseguirá “dimensionar custos de investimento” e avançar com a extracção do minério, com valores estimados de teores em ouro que deverão variar entre 1,57 e 2,36 gramas por tonelada de rocha. O Estudo de Impacte Ambiental está a ser analisado pela APA e só depois de cumpridas as rígidas normas internacionais é que se poderá determinar quando é que uma exploração é, ou não, viável. Jorge Valente esclarece: “Só depois de cumpridas todas as formalidades e estudos é que poderemos saber se a mina é viável. Pode haver minério. Pode haver tecnologia. Só ficarão a faltar as licenças”. A experiência deste engenheiro de Minas que correu mundo – e que reconhece ter nas costas “mais horas de voo do que muitos pássaros” – é a maior garantia que a multinacional canadiana tem de que o negócio no Alentejo tem pernas para andar. “Entre todos os minérios, aquele que tem menos problemas de mercado é o ouro, que existe sempre. É só uma questão de preço e custo na viabilização da produção industrial . Todo o ouro produzido consegue ser vendido. E é por isso mesmo que vamos fazer o investimento”, remata. l


“Todos os dias nos batem à porta a pedir trabalho” Antes da fase de acalmia que neste momento se vive na sede de campanha da Colt Resources em Santiago do Escoural, e da ausência de sondas perfuradoras nos campos de pastagem ao redor, a empresa canadiana chegou a contratar em permanência entre 40 e 50 pessoas. Na lista constavam auxiliares locais, sondadores, pessoal para abrir trincheiras, geólogos e outros profissionais de empresas de sondagens. “O presidente da Junta chegou a afirmar que tínhamos acabado com o desemprego no Escoural”, conta Jorge Valente, o responsável português da multinacional canadiana. Os trabalhos estão agora

quase parados, mas, mesmo assim, “todos os dias nos aparecem aqui pessoas a bater à porta a pedir trabalho. Aparece aqui todo o tipo de pessoas, desde licenciados a trabalhadores braçais, especialistas e indivíduos sem qualificações. Nós registamos os dados e guardamos sempre os contactos. Mais tarde poderá ser útil contactar estas pessoas”, conclui. Tudo porque a empresa mineira prevê criar, nos próximos anos, 120 empregos directos e 600 indirectos. Além disso, na parte de construção das infraestruturas da mina, durante dois anos e meio, deverá gerar cerca de 1500 postos temporários de trabalho. l

V i n t e m i l m e t r o s d e a m o s t r a s d e r o c h a e s tã o g u a r d a d o s e m t r ê s a r m a z é n s e s ã o e x a m i n a d o s à l u pa p o r g e ó l o g o s e x p e r i e n t e s

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saú d e

G ru p o Amil c h e g a à E uropa O n e g ó c i o d o s s e t e h o s p i ta i s d a HPP - S a ú d e f o i c o m p r a d o p e l a b r a s i l e i r a A m i l , a m a i o r p r e s ta d o r a d e s e r v i ç o s m é d i c o s d a A m é r i c a L at i n a , u m a e m p r e s a i n o va d o r a e o u s a d a q u e q u e r m e x e r c o m o s e c t o r d a s a ú d e e m Po r t u g a l .

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um cenário de fundo colorido ao estilo de banda desenhada, na linha dos da série televisiva Major Alvega, uma menina de carne e osso, atrevida e sorridente, trajada de enfermeira, canta, num ritmo doce, um ‘jingle’ que parece acabadinho de sair de uma prateleira dos anos 50 do século passado: “tem que mudar. Tem que ser Amil. O melhor plano do Brasil”. Num outro anúncio, um homem jovem, gingão e com olhar maroto, trauteia durante mais de um minuto um ‘rap’ bem ritmado, metendo conversa com o telespectador e dizendo-lhe descaradamente: “Alô Amil! Está todo o mundo querendo mudar para a melhor do Brasil”. Com esta campanha ousada e inteligente a marca Amil (Assistência Médica Internacional) conquistou e garantiu o reconhecimento do público e cresceu até se transformar na maior operadora de cuidados de saúde da América Latina. Os populares anúncios publicitários da Amil (ou de propaganda, como se usa desse lado do Atlântico), cativaram o coração dos brasileiros e ajudaram a rede de cuidados de saúde a tornar-se na maior empresa de medicina da América Latina e num dos dez maiores prestadores de serviços de saúde do mundo. Um gigante do sector da medicina que assiste em média 6 milhões de clientes, efectua 20 milhões de consultas médicas e realiza mais de 44 milhões

João Bénard Garcia

de exames de diagnóstico por ano. Só em 2011 o grupo de planos e seguros de saúde complementar facturou 3,6 mil milhões de euros. O grupo, que gere 22 hospitais e 55 clínicas na América Latina, deixou em Outubro de ter a maioria do seu capital no Brasil, depois de ter sido comprado pela norte-americana United Health, formando assim o maior grupo de saúde das Américas. Em Novembro de 2012 a Amil chegou para ficar em Portugal, com a compra da HPP-Hospitais Privados de Portugal, à Caixa Seguros e Saúde, do Grupo Caixa Geral de Depósitos, por um preço inicial de 85,6 milhões de euros. O valor final de aquisição poderá ainda crescer para os 92 milhões de euros, caso sejam atingidos determinados objectivos. A HPP-Saúde é uma referência de qualidade no sector da saúde em Portugal. Gere actualmente sete unidades hospitalares de norte a sul do país, incluindo os hospitais dos Lusíadas, em Lisboa, de Cascais e o da Boavista, no Porto. Emprega mais de quatro mil profissionais de saúde. O maior grupo da América Latina Estas primeiras unidades de saúde do grupo Amil na Europa são o culminar da construção de um império de cuidados de saúde que começou no Brasil, em 1972, com a compra da Casa de Saúde de São José, uma pequena clínica de maternidade na pequena cidade fluminense de Duque

de Caxias. Em seis anos mais duas clínicas foram adquiridas e, em 1978, as unidades de saúde do grupo foram arrumadas debaixo da holding Amil, com sede na cidade do Rio de Janeiro. Os planos dos serviços de saúde prestados pelas clínicas da rede Amil tiveram uma adesão de tal forma grande que obrigou os seus responsáveis a inovarem permanentemente os produtos oferecidos. Foi então que se criou o conceito de consultas e exames sem limite, as agências de atendimento próximas dos clientes e os serviços de teleatendimento 24 horas, com a presença de um clínico em permanência. O ano de 1986 marcou definitivamente o início da expansão da Amil para a maior cidade do Brasil: São Paulo. Em 1988 uma inovadora estratégia de marketing comparativo, mostrando as vantagens da marca em relação aos concorrentes, fê-los obter os maiores índices de crescimento de todo o mercado de saúde suplementar. Em 1989 já estavam a pousar as bagagens no estado do Paraná e tinham conquistado a capital Brasília. Em 1993 é lançado o inovador programa Amil Resgate Saúde, que se transformou numa das maiores estruturas de transporte médico por via terrestre e aérea para situações de emergência, da América do Sul. A partir de meados dos anos 90, o grupo não parou de crescer: em 1995 cria o Programa Amil de Medicamentos, que ofere47


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ce medicamentos com desconto a clientes, e ainda o badalado programa “Carência Zero”, um plano de saúde sem prazos de carência. É também nesse ano que a empresa parte à conquista do exigente mercado norte-americano, começando por Miami, a mais latina de todas as cidades norte-americanas e a mais amada pelos turistas brasileiros. Em 2004, a Amil passa, com recurso a novas tecnologias, a mapear os riscos de saúde dos seus clientes e a dedicar-se à prevenção, atacando no controlo das doenças, reduzindo assim os seus custos. Desde então, o grupo cresce através de fusões e aquisições de pequenas clínicas, hospitais e redes de cuidados médicos e em 2007 é constituída a holding Amil

Participações, que reúne todas as empresas do grupo e o prepara para a dispersão do capital e a admissão à cotação, em Outubro de 2007, na Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo. Em 2009, com a compra da Medial Saúde, a Amil tornouse definitivamente na maior empresa de saúde do Brasil. Talvez por isso não seja de estranhar que nos anúncios mais recentes a empresa assuma ser, sem pruridos, “a maior operadora de planos de saúde da América Latina”, ou ainda uma firma que é “um pólo de tecnologia que ajuda a preservar a vida de milhões de pessoas” de forma “sólida, competente, criativa e responsável”, assumindose como “a empresa número 1 na mente e no coração dos consumidores”.

Edson Bueno, fundador da Amil e, até 2017, seu presidente do conselho de administração, é um dos maiores incentivadores da ambição deste grupo de serviços de medicina. “A cada telefonema, a cada clique, a cada contacto, a cada sorriso, os nossos clientes sentem que contam com um grupo humano, que ama a medicina e as pessoas (…) A cada inovação, como as inúmeras que implementámos e que revolucionaram a área de saúde no Brasil, os nossos clientes sentem que contam com um grupo com um espírito pioneiro, que nunca se acomoda. E a cada dor que é vencida, a cada criança que nasce, a cada vida que é salva, sentimos que todo o nosso esforço valeu a pena”, escreve o fundador numa carta aos clientes disponível no site do grupo. l

HPP Do Norte a Sul de Portugal A HPP Saúde foi fundada em 1998 e é hoje um grupo de referência no sector da saúde em Portugal. Proporciona uma oferta de serviços global baseada numa rede que cobre todo o território do país e conta com mais de 4000 profissionais de saúde. Em Portugal, a HPP Saúde detém seis hospitais – Hospital da Boavista, Hospital da Misericórdia de Sangalhos, Hospital dos Lusíadas, Hospital de Santa Maria de Faro, Hospital São Gonçalo de Lagos e Hospital de Albufeira –¸ e gere ainda o Hospital de Cascais, em regime de parceria público-privada.

Em projecto está a construção, em parceria com o Grupo Visabeira de uma nova unidade hospitalar, o HPP Hospital de Viseu, a mais importante cidade da região norte interior de Portugal. Esta nova unidade hospitalar está vocacionada para ser um centro assistencial de referência na região de Viseu disponibilizando uma oferta integrada em cuidados de saúde, bem como os principais meios complementares de diagnóstico, respondendo desta forma às necessidades de uma população de cerca de meio milhão de pessoas, em Viseu e zonas envolventes. l Edson De godoy bueno, presidente do conselho de administração e director presidente da a m i l pa r

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1839 – a Vacheron Constantin cria inúmeras máquinas das quais o famoso pantógrafo, um utensílio mecânico que permite reproduzir pela primeira vez, de maneira perfeitamente fiel, os principais componentes de um relógio, aumentando ainda mais o nível de qualidade dos seus guardiões do tempo. Esta invenção propulsa a marca no futuro, revolucionando a relojoaria suíça.

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L i de r a n ça

no

feminino

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João Bénard Garcia

A

s mulheres, o sexo mais justo – e muitas vezes injustamente apelidado como sendo “o sexo fraco” –, estão a um passo de produzir a maior mudança organizacional no mundo dos negócios e da política. Até agora apenas 6% das mulheres ocupam cadeiras de poder em Portugal. Na Europa, são delas 14% dos lugares de chefia nas empresas. Só que essa realidade está prestes a mudar. A Comissão Europeia vai produzir legislação para acelerar um processo natural que acabaria por ocorrer dentro de 20 anos: o do acesso das mulheres, em paridade, aos cargos de topo na gestão empresarial. O número de mulheres em posições de chefia à frente das empresas e das organizações mundiais não pára de aumentar, conclui um relatório realizado pela consultora Boyden, especialista em liderança, e pela ESSE Business School, coordenado pela professora Viviane de Beaufort. Baseando-se em entrevistas a um painel de cinquenta executivas com lugares de destaque em organizações mundiais, o estudo

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comprova as diferenças de estilo de liderança entre os dois sexos, descreve-os pormenorizadamente, apontando até uma receita para fabricar o executivo ideal: aquele que seria o resultado de um mix das capacidades do homem com as das mulheres. Este super gestor teria como ingredientes o carisma, liderança, imparcialidade e a capacidade de tomar decisões do homem misturados com a habilidade natural para estabelecer relações interpessoais, criar empatia, ter abertura à opinião de terceiros, saber escutar, associado à boa organização e aos vastos conhecimentos da mulher. O estudo não se ficou, contudo, pelas diferenças notórias de estilo entre os sexos, abordando outras questões como a maior preparação e melhor educação das mulheres que ascendem aos lugares de topo, as diferenças de ambição entre géneros e o papel de autoridade que as mulheres buscam e estão a assumir dentro das organizações. O estudo reforça a ideia de que a ambição das mulheres ainda carrega conotações negativas, quando comparada com a mesma atitude por parte dos homens. As mulheres, adianta o estudo,


consideram que a batalha pelo poder é uma coisa tipicamente masculina – o que as incomoda sobremaneira – e a maioria delas não constrói a sua carreira em função da uma aspiração ao poder, antes busca uma posição que lhe permita influenciar decisões e desenvolver trabalho com pessoas. De uma forma genérica, no universo laboral, as mulheres ainda não são reconhecidas como líderes em potência pelos seus colegas CEO’s masculinos. Os critérios de escolha são miméticos e ainda funcionam muito enraizados em valores masculinos, privilegiando quem a eles se adequa. Este princípio é uma das justificações para a minoria de mulheres que ascendem a cargos de poder e que tentam imitar a postura da maioria masculina, olvidando a mais-valia que as suas idiossincrasias de género devem proporcionar às instituições. Por serem psicológica e fisiologicamente diferentes dos homens, as mulheres reúnem um conjunto de valores exclusivos que podem colocar ao serviço das empresas e das organizações, nas quais passarão agora, por imposição através de quotas, a ter maiores oportunidades de aceder a cargos de liderança. Entre 51


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as múltiplas qualidades femininas que o relatório da professora Beaufort destaca, estão a maior capacidade de escutar e de analisar os temas em debate, mas também a ousadia, a virtude de conseguirem manter o ego fora das equações, uma maior franqueza e realismo, fortes preocupações éticas e vontade de fazer as coisas avançarem. 40% dos lugares de topo reservados para as mulheres Na União Europeia, as empresas não poderão continuar por muito mais tempo a ignorar o problema da paridade entre homens e mulheres, no que toca ao acesso ao topo da hierarquia. A Comissão Europeia vai impor quotas de género através da criação de regulamentos e regras, criando um tecto mínimo de 40% para o sexo feminino no acesso às cadeiras do poder. A Comissão tem expectativa de, com esta norma exogenamente imposta, criar um efeito cascata que forçará as empresas a encorajarem as mulheres a assumirem um papel de autoridade,

ENTREVISTA

“As mulheres não são motivadas pelo poder, mas por fazer coisas”

Fernando Neves de Almeida, Boyden Portugal

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mas teme em simultâneo que a legislação funcione como fonte de ressentimentos e conflitos institucionais. Esta formulação legal forçará certamente os actuais líderes masculinos a raciocinarem “fora da caixa” aquando da escolha de profissionais para cargos de nível superior. Como serão doravante obrigados a procurar mulheres para preencher a quota, deverão mudar os critérios de liderança, desconsiderando, como factores decisivos, por exemplo, a quantidade de tempo gasto no escritório, a capacidade de não mostrar fraquezas ou emoções, os comportamentos mais ou menos agressivos, muitas vezes confundidos com boa capacidade de liderança, tais como a prova de que se é sempre um vencedor. A feminização dos lugares de topo pode ser uma forma de dotar as empresas e as organizações de estruturas mais diversas em género e, à partida, mais eficientes. Promover as mulheres a posições de poder será desejável se estas trouxerem mais valor acrescentado e consolidarem mudanças de mentalidade. l

NÃO S E INT E R E SS A M P E LOS C A RGOS D E C H E FI A E E NTUSI A SM A M - S E C OM A HIPÓT E S E D E FA Z E R A DIF E R E NÇ A N A S E MPR E S A S . OS HOM E NS DIZ E M QU E A PA RID A D E É UM A C OIS A B ONITA M A S T E M E M A C OMP E TIÇÃO . E O PIOR INIMIGO D A S E X E C UTIVA S NÃO É O C OL E G A DO L A DO , É O M A RIDO . A imposição de quotas por parte da Comissão Europeia não corre o risco de criar um foco de conflitos dentro das empresas? Acha que esta regulação facilita a ascensão das mulheres aos lugares de poder, ou ainda atrapalha mais? Acho que ajuda e é muito benéfica. Por princípio sou liberal, no sentido de deixar os mercados funcionarem. No entanto, acho que quando existe algum motivo impeditivo dos mercados funcionarem livremente, ou seja, de se revelarem, deve haver uma intervenção. As quotas servem exactamente para essa finalidade.

Qual é o maior entrave à paridade entre os dois sexos nos lugares de topo? Desde logo a motivação interna de subida. O homem e a mulher não lutam de forma igual pelos lugares de topo. O estudo nesse aspecto tem uma coisa interessante que é mostrar a diferença entre os homens e as mulheres. Em média, a mulher não está nem aí pela luta pelo poder. A maioria das mulheres não se preocupa se um dia vai ser administradora. Não são motivadas pelo poder, mas por fazer coisas. Ou seja, são pragmáticas e dão pouca importância ao estatuto social do cargo. Exactamente. O homem é mais virado para os sinais de poder, mais motivado pelo ‘status quo’. A mulher é motivada por fazer a diferença na empresa, na sociedade, na sua própria casa, na sua vida, no mundo que a rodeia. E isso consegue-se fazer sem chegar a CEO de qualquer coisa. É nesse sentido que haver quotas permite às mulheres chegarem a lugares de destaque sem essa luta pelo poder. Tudo isto num contexto em que o número de mulheres com formação


As mais poderosas o ideal é que o poder seja um misto das qualidades do homem com as da mulher, tornando as organizações sítios menos agressivos e m a i s s a u d áv e i s pa r a t r a b a l h a r .

A pessoa mais poderosa da Europa é uma mulher e chama-se Angela Merkel. Mas não está sozinha no velho continente: no mundo dos negócios reina a nonagenária patroa da L’Óreal. Segundo a Forbes 1 Liliane Bettencourt, Grupo L’Oréal, cosmética

2 Christy Walton, Rede de supermercados Wal-Mart, distribuição alimentar

3 Alice Walton, Rede de supermercados Wal-Mart, distribuição alimentar

4 Georgina Rinehart, Hancock Prospecting, mineração

5 Jacqueline Mars, M&M, líder no seu subsector alimentar

6 Susanne Klatten, Altana Pharma e BMW, indústria farmacêutica e automóvel

7 Abigail Jonhson, FMR Corporation, seguradoras

8 Miuccia Prada, Prada, moda

9 Anne Cox Chambers, Cox Communications, empresa de media

10 Dirce Navarro de Camargo, Grupo Camargo Corrêa, cimentos e energia

académica cresce a olhos vistos. Hoje em dia nas escolas até há mais mulheres do que homens com formação superior. A nossa sociedade está cada vez mais preparada para os lugares serem distribuídos entre homens e mulheres. Não podemos querer ter uma sociedade sem discriminação de sexo e depois nas organizações são os homens quem manda. As quotas vão acelerar essa mudança natural. Se a sociedade acha bem nivelar com o acelerador das quotas fará um ajustamento mais rápido, desde que haja pessoas qualificadas e que a imposição não se torne disfuncional. O estudo refere várias qualidades femininas. Quais são afinal as qualidades intrínsecas das mulheres? Em média são mais sensíveis no sentido de ouvirem mais, de se preocuparem mais com os aspectos humanos da relação. São mais empáticas. São também menos combativas no sentido de entenderem melhor a particularidade das situações. A mulher liga mais à envolvente no processo de decisão. É mais dada à escuta activa, a perceber melhor o interlocutor quando está a tomar a decisão.

Os homens têm outro tipo de abordagem. O homem tem o seu papel e a mulher tem o seu e isso é que é saudável nas organizações. O ideal, sem dúvida, é que o poder seja um misto das qualidades do homem com as da mulher. Isso tornaria as organizações sítios menos agressivos e mais saudáveis para se viver e trabalhar. A gestão tenderá para o equilíbrio e para aproveitar o que cada um tem de melhor. O que está a dizer obrigará a mudar todas as regras de funcionamento da economia neoliberal que hoje vigoram. Não há o risco das empresas, ao adoptarem formas mais suaves de gestão, se tornarem menos agressivas e competitivas e mais vulneráveis nos mercados em que actuam? Eu preferia ser accionista de uma empresa que, sustentadamente, fosse rentável do que de uma empresa histriónica. Não é melhor ter uma empresa que nunca teve picos de histrionismo, que procura o lucro de forma sustentada, não comete loucuras e sempre satisfez os accionistas e os ‘stakeholders’? A médio e longo prazo creio que sim.

Segundo O Finantial Times 1 Angela Merkel, Chanceler da Alemanha

2 Hillary Clinton, Ex-Secretária de Estado norte-americana

3 Dilma Roussef, Presidente do Brasil

4 Melinda Gates, co-Presidente da Fundação Bill e Melinda Gates

5 Jill Abramson, Editora-chefe do New York Times

6 Sonia Gandhi, viúva de Rajiv Gandhi e presidente do congresso indiano

7 Michelle Obama, Primeira-dama norte-americana

8 Christine Lagarde, Directora do FMI

9 Janet Napolitano, Secretária de Segurança Interna de Barack Obama

10 Sheryl Kara Sandberg, Chief Operating Officer (COO) do Facebook

Quais são basicamente os estigmas que perseguem as mulheres em cargos de poder? Não acho que haja estigmas. O que acho é que sempre que uma mulher acede a lugares de chefia há sempre um homem que vai ficar sem um cargo de poder. Os homens, neste contexto, vão-se agarrando ao que podem. É politicamente bonito dizer que deve haver paridade, mas o que é um facto indesmentível é que de cada vez que tal acontece há menos um lugar para um homem. E daí surgirem julgamentos sobre a percepção da raiva, por exemplo, que no caso da uma mulher é considerada histerismo e no caso de um homem assertividade, certo? Sim, é mesmo assim. E como é que os maridos lidam com o sucesso das mulheres? Lidam mal. O pior inimigo da carreira de uma mulher é o marido, não são os colegas da empresa. Há muitas a não lutarem pela carreira para manterem a família. As mulheres podem pensar que terão de pagar um preço muito alto pelo sucesso e desistirem por não quererem pagar esse preço. l 53


Fotos bluepeach

perfil

54


SU SAN A

MO N TE I RO

A perita em comunicação que chegou ao Top A n o va a d m i n i s t r a d o r a d a CV & A t e m u m a v i s ã o d i f e r e n t e d o m e r c a d o , u m a e s t r at é g i a d e g e s tã o d e m a r c a s e a m b i ç ã o pa r a a u m e n ta r o s u c e s s o d a c o n s u lt o r a .

João Bénard Garcia

E

m Novembro de 2012, Susana Monteiro, 40 anos, accionista e administradora da agência de comunicação Parceiros Comunicação, decidiu virar uma página na sua vida e escrever um novo capítulo: deixou o projecto que ajudou a lançar em 2002 e mudou-se para a consultora CV&A. Com os pés bem assentes na terra, Susana Monteiro não hesita em responder quando lhe perguntam o que representa este novo desafio: “Tenho a ambição de aumentar o portefólio da CV&A e trabalhar as marcas numa perspectiva de 360 graus”. “É uma visão diferente em termos de gestão das marcas. A Cunha Vaz tem um histórico brutal em termos de comunicação corporativa e institucional e aproveitando esse riquíssimo património, pretendo alargar o espectro de acção à gestão de marcas, à capacidade de as gerir integrando todas as disciplinas da comunicação”, adianta. Na diversificação do portefólio, o objectivo passa por entrar em

sectores de actividade que ainda não foram explorados, como o turismo, o consumo, o automóvel e o farmacêutico. A chegada de Susana Monteiro representa uma nova fase em que a consultora em comunicação vai poder trabalhar de forma integrada várias disciplinas: “Conjugar marketing, assessoria mediática, activação de marcas próprias e comunicação digital”, explica a nova administradora. Susana Monteiro é a prova de que o espírito empreendedor começa logo nos bancos da faculdade. Estava no segundo ano do curso de publicidade e marketing do IADE quando, depois de conquistar o prémio Revelação, ganhou um estágio como assistente de marketing na multinacional Dun & Bradstreet. Termina o curso em 1996 e, fruto de uma remodelação na empresa, assume a direcção de comunicação da D&B para a Península Ibérica. Depois do vaivém constante entre Lisboa e Madrid, faz uma paragem, 55


PERFIL

“A C V & a t e m u m h i s t ó r i c o b r u ta l em termos de c o m u n i ca ç ã o c o r p o r at i va .” em 1999, ano em que nasceu Lourenço, o seu primeiro filho. Fixa-se em Lisboa e cria a BluePeach, a sua própria agência de comunicação. Em 2001 integra os quadros da Unimagem e um ano depois, em 2002, é desafiada para trabalhar no Grupo Strat. Em Maio desse mesmo ano é convidada, dentro da Strat, para relançar a BAN com uma nova marca. Nasce assim a Parceiros Comunicação. Em 2003 assume a direcção-geral da empresa e um ano depois, em plena euforia do Europeu de Futebol de 2004, ganha a conta do Banco Espírito Santo (BES). A dimensão desta conta abre-lhe as portas a outras contas não menos importantes, como a da Repsol, Procter & Gamble, Top Atlântico, Microsoft, Sony e Continente. Ao serviço do BES, um dos patrocinadores principais da Selecção Nacional de Futebol, liderou a equipa que organizou “A Mais Bela Bandeira Humana do Mundo”, a 20 de Maio, dias antes do arranque do Campeonato Mundial de 2006. O evento juntou no Estádio Nacional, no Jamor, 47 mil pessoas, das quais quase 19 mil mulheres, recriando a bandeira de Portugal numa homenagem viva à Selecção Nacional de Futebol. l 56

Susana Monteiro num minuto Liberal ou conservadora? Liberal Como reage às traições? Com indiferença O que a tira do sério? A irresponsabilidade Quando abusam da sua ingenuidade… … Podemos passar à frente? Teimosa, curiosa, firme ou solidária? Teimosa e curiosa

Ingrediente para se ser feliz? Viver a vida O que é ser top? (Uma expressão que adora usar) É exceder as expectativas. As pessoas com quem trabalho sabem quando é que eu posso dizer que uma coisa é top. Normalmente mapeio as minhas expectativas na definição de projectos e uma coisa é perceber que está bom, outra é considerar estar top. Para mim, ser ou estar top é surpreender-me, exceder-me, ultrapassar as expectativas. Tenho muitos projectos top: os meus filhos são top. A minha vida é top. l

Experiências de vida que deixaram marcas A nova administradora da CV&A jogou andebol federado nos tempos do liceu em São João do Estoril, em Cascais, mas hoje dedica-se a desportos mais individuais, como o esqui náutico e de neve. Considera as viagens como um bom investimento e inclui sempre os dois filhos, Lourenço e Vicente, em todos os programas de férias. Nova Iorque, como destino urbano, marcou-a para sempre. Uma viagem pelos ruídos e odores do rio Chao Phraya, numa passagem por Banguecoque, na Tailândia, foi a experiência mais inesquecível da sua vida. Em adolescente coleccionou relógios da marca Swatch, que ainda conserva, mas já não ocupa horas preciosas a fazer conjuntos temáticos. Tem poucos, mas bons amigos: “Tenho um grupo que me segue desde sempre e que eu sigo desde que me lembro de ser gente. Essa é a minha

definição de amigos”, esclarece. Actualmente evita festas e anseia por um fim-de-semana sereno com o marido, Victor, os filhos e um grupo de amigos, junto à barragem de Montargil, no Alentejo. Considera que o seu melhor projecto de vida começou a 7 de Novembro de 1997 às 17 horas (o dia em que se casou), data que marca início de um percurso que considera ser fundamental para a estabilidade e alegria com que procura viver cada dia. Assume-se como uma pessoa “estável e pouco dada a grandes mudanças, mas muito intuitiva e ponderada” nas suas decisões. Gere a sua vida “estabelecendo objectivos com prazos, sempre na perspectiva de aprender e trazer valor”. E é isso que promete agora, nas suas novas funções na CV&A. l


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negócios

To p

A

At l â n t i c o

a p o sta

afric ana

D e p o i s d a p r e s e n ç a e m A n g o l a , a T o p At l â n t i c o ava n ç o u pa r a M o ç a m b i q u e , e m pa r c e r i a c o m a C a r l s o n Wa g o n L i t, u m d o s m a i o r e s g r u p o s m u n d i a i s d o s e c t o r . A i n t e r n a c i o n a l i z a ç ã o é u m a d a s g r a n d e s a p o s ta s da r e d e d e a g ê n c i a s d o u n i v e r s o E s p í r i t o S a n t o V i a g e n s .

maria Araújo

P

ara além de relações privilegiadas e de longa data com os melhores parceiros nacionais e internacionais, a expansão além fronteiras é uma das grandes apostas da divisão Corporate da Top Atlântico. O objectivo é estar presente onde os 58

seus clientes necessitam através de marca própria ou de parcerias com representantes locais, uma forma de apoiar também as empresas clientes nos seus mercados e destinos internacionais. O crescimento e expansão dos mercados africanos, nomeadamente de Angola e

Moçambique, levaram à presença da Top Atlântico nestes dois destinos, através de marca própria e em parceria com a Carlson Wagonlit Travel. As sinergias daqui geradas permitem, independentemente da localização geográfica do cliente, manter um vínculo directo de proximidade em Portugal e


em África. A parceria com a Carlson Wagonlit é classificada por Hélder Marques Alves, vice-presidente da Comissão Executiva da ES Viagens e responsável pela área Corporate da Top Atlântico, como win-win, na medida em que permite à Carlson Wagonlit prestar um serviço e apoio local de grande qualidade aos seus clientes multinacionais, enquanto para a Top Atlântico ajuda a reforçar o peso da sua presença, a credibilizar ainda mais a mesma se for caso disso e aumentar o poder negocial junto de fornecedores e prestadores de serviço.

Quanto vale o mercado moçambicano?

Voos regionais e domésticos

480 mil passageiros 140 milhões de Dólares (cerca de 107,7 milhões de Euros)

Voos intercontinentais H é l d e r M a r q u e s A lv e s , v i c e - p r e s i d e n t e d a c o m i s s ã o e x e c u t i va d a ES V i a g e n s e r e s p o n s áv e l p e l a á r e a C o r p o r at e d a t o p at l â n t i c o

18 500 passageiros 15,2 milhões de Dólares (cerca de 11,7 milhões de Euros)

Principais players locais

Cotur (30% de quota de mercado), Mextur e Lamtur

Principais transportadoras aéreas

LAM Linhas Aéreas de Moçambique (55% de quota), outras companhias e agências de viagens (45%)

Começar pela área E n q u a n t o A n g o l a at r av e s s a u m a f a s e d e Corporate c o n s o l i d a ç ã o , q u e p e r m i t e à e m p r e s a e x p e r i m e n ta r Numa primeira fase, a e a p o s ta r e m n o v o s s e g m e n t o s , M o ç a m b i q u e é u m entrada da empresa nos m e r c a d o n u m e s tá g i o a i n d a i n i c i a l . mercados africanos de Angola e Moçambique será apenas para as operações estágios de evolução totalmente diferentes, locais, quer através da presença com marca Corporate. Esta é a grande aposta da e que requerem abordagens também elas própria”, esclarece Hélder Marques Alves. empresa que acredita que, à medida que distintas, adaptadas e customizadas às A conjuntura negativa do mercado portuos mercados se forem tornando mais características e necessidades dos clientes. guês e o crescimento dos países africanos, maduros, surgirão possibilidades de Enquanto Angola atravessa uma fase de nestes últimos anos, justificam a aposta e negócio noutros segmentos ou nichos. “Já consolidação, que permite à empresa presença em Angola e Moçambique. desenvolvemos ofertas na área de lazer e experimentar e apostar em novos segNo conjunto da actividade da empresa, de congressos, viagens de incentivos e de mentos, já Moçambique é um mercado empresas e estamos agora a dar os primei- as operações africanas representam, para num estágio ainda inicial. Daí que a já, “um potencial de crescimento real ros passos em nichos como o Turismo de aposta da empresa passe por apresentar Saúde, aproveitando as sinergias do Grupo muito atractivo, que contribui para os um modelo de serviço com “um padrão bons resultados globais”, confirma Hélder Espirito Santo”, explica Hélder Marques internacional, prestado por colaboradoAlves. Sendo Moçambique um destino em Marques Alves. Angola e Moçambique res com conhecimento local, e apoiado e são mercados que estão longe da matugrande crescimento e apresentando um suportado em todo o networking da Top ridade e com uma forte capacidade de dinamismo assinalável, a Top Atlântico Atlântico”. Uma combinação de factores e decidiu estar presente nesse mercado atra- crescimento e uma volatilidade mais ou menos controlada. No futuro, poderão “vir características que levam Hélder Marques vés de uma estrutura própria, integrando Alves a garantir que não há “concorrentes a representar dentro da área corporativa profissionais com larga experiência no locais directos ou tão abrangentes”como a destino e proporcionando aos seus clientes da Top Atlântico um peso na casa dos 25 a empresa que lidera. 30% do volume de negócios”. um apoio fundamental na implementação Após a consolidação nestes dois ou no desenvolvimento de negócios na mercados, é intenção da Top Atlântico ir região, através da apresentação de todos os Dois novos mercados em estudo avançando com um plano de expansão Pedra de toque nesta sua entrada em serviços ligados a viagens e turismo. Angola e Moçambique, tem sido o facto da sustentada. Em cima da mesa, estarão já “A internacionalização sempre foi uma dois novos mercados, cujos nomes permaTop Atlântico olhar para África como um realidade, quer através de acordos prefenecem ainda em segredo. l conjunto de mercados com realidades e renciais com os melhores representantes 59


DIPLOMACIA

C a b o

V e r d e

A rq uipél ago d e e sper anç a C a b o V e r d e f o i d i s t i n g u i d o c o m o p r é m i o C o u n t r y o f t h e Y e a r p e l o C o n g r e s s o M u n d i a l da S e m a n a G l o b a l d o E m p r e e n d e d o r i s m o . Q ua l o s e g r e d o d e u m a da s m a i s r e s p e i ta da s p e q u e n a s e c o n o m i a s d o m u n d o ? O e s t u d o “ C a b o V e r d e S o c i e da d e e P o d e r” dá a l g u m a s r e s p o s ta s .

S

Carlos Renato Teixeira

ão boas as marés que têm chegado a Cabo Verde, arquipélago que tem sabido contornar as dificuldades impostas pelo abrandamento da economia mundial. A agilidade e a frescura das suas estratégias valeram o prémio Country of the Year, atribuído pelo Congresso Mundial da Semana Global do Empreendedorismo, que decorreu no Rio de Janeiro, no Brasil. Os resultados que valeram esta distinção estão bem patentes no estudo realizado pelo Instituto Superior de Gestão (ISG), de Lisboa, onde se procurou compreender que estratégias e figuras contribuíram para que Cabo Verde saísse do anonimato para o estrelato internacional, como uma das pequenas economias emergentes mais interessantes do ponto de vista do empreendedorismo e do investimento. Para a realização deste estudo foram inquiridos indivíduos recenseados nos 22 concelhos de Cabo Verde com o objectivo de conhecer a sua opinião sobre questões sociais e políticas.

60

O desemprego é uma das maiores preocupações dos cabo-verdianos, com cerca de 75% a assumi-lo como um dos três principais problemas na sua vida, numa lista que inclui também o sistema financeiro e a segurança. Falta de apoio à saúde e à educação e falhas de electricidade são os problemas que se seguem na lista, apesar da maioria dos inquiridos reconhecer que está a ser feita alguma coisa para melhorar cada uma dessas realidades. No que respeita ao grau de confiança nas instituições ou figuras políticas do país, é no Presidente da República que os cabo-verdianos mais confiam. Por outro lado, é nos deputados do partido no poder que depositam menos confiança. Professores, padres e médicos são as classes profissionais mais respeitadas entre a população. As obras públicas continuam a ser um ponto positivo na governação de José Maria das Neves, a par com os investimentos na saúde. Os pontos fracos são sobretudo referentes às políticas de habitação, mas as críticas versam a incapacidade de resolver o problema do desemprego, nomeadamente nas gerações mais jovens. Promessas não cumpridas, desemprego e a suspensão do pagamento do 13.º mês, são outras críticas dirigidas ao governo. Relativamente à actuação do líder da oposição o estudo conclui que cerca de 70% dos inquiridos a consideram boa ou muito boa. Carlos Veiga, líder do MPD, continua a ser reconhecido


principais indicadores grau de isenção (%) Tem prejudicado o PAICV com a sua actuação?

grau de isenção (%) Tem favorecido o MDP com a sua actuação?

relação PR com PM (%) O Presidente da Reública tem sido correcto no comportamento que tem assumido junto do Governo? Não 8,8

Sim 13,6 Ns/Nr 14,2 Não 72,2

Ns/Nr 15,4

Ns/Nr 21,8

Ns/Nr 17,2

Sim 25,8 Não 58,5

pelas acções tomadas enquanto esteve no Governo, sendo a reforma política o principal ponto positivo que lhe é apontado. A Presidência da República é a menina dos olhos dos cabo-verdianos. No seguimento da avaliação anterior, quase metade dos inquiridos considera que, em comparação com seu antecessor Pedro Pires, o Presidente Jorge Carlos Fonseca tem governado melhor ou muito melhor. Na avaliação do Presidente da República, 91,2% considera a sua acção boa ou muito boa. Para os inquiridos, o melhor da acção presidencial é a comunicação política, nomeadamente a assinatura de vários protocolos com outros países. Entre os méritos que lhe são reconhecidos, destaque também para a sua preocupação com a qualidade de vida da população, o

relação Pm com PR (%) O Primeiro Ministro tem sido correcto no comportamento que tem assumido para com o Presidente da República

Sim 74,0

Não 22,3

Sim 55,9

desenvolvimento do país e a sua importância ao nível da fiscalização do trabalho do Governo. Mais de 70% considera que o Presidente luta para que exista mais justiça e que tem sabido actuar com sabedoria. Cerca de 46% considera que o Presidente não tem complicado a vida do Governo e que a sua principal qualidade é a inteligência e a sua cultura política. Três em quatro cabo-verdianos confiam no seu Presidente da República, mais do que qualquer outra figura do Estado. Os cabo-verdianos consideram que não tem havido quaisquer favorecimentos ou atitudes prejudiciais para com o Governo ou oposição, considerando que o Presidente da República se tem comportado com a devida independência e isenção necessárias ao cargo ocupado. l 61


NEGÓCIOS

BA N C A

EM

ANGOLA

D e p o i s d a e x pa n s ã o g e o g r á f i c a d a s s u a s r e d e s d e b a l c õ e s , o s b a n c o s a n g o l a n o s a p o s ta m a g o r a n o s c a n a i s e l e c t r ó n i c o s e n a o f e r ta d e p r o d u t o s e s e r v i ç o s m a i s s o f i s t i c a d o s . C o m a ta x a d e b a n c a r i z a ç ã o a p r o g r e d i r e u m e n q u a d r a m e n t o l e g a l m a i s a j u s ta d o à s b o a s p r át i c a s i n t e r n a c i o n a i s , o s e c t o r m a n t é m u m e n o r m e p o t e n c i a l d e c r e s c i m e n t o .

Álvaro de Mendonça

O

crescimento da economia e do investimento estrangeiro nas economias mais robustas do continente africano está a gerar novas oportunidades de negócio para os investidores privados e um aumento de receitas nos serviços, com especial destaque para a consultoria e a banca. Em Angola, o boom económico impulsionou um forte crescimento da banca, confirmado pela presença das seis maiores instituições locais no ranking dos 100 maiores bancos de África elaborado pela African Business Magazine, com base nos indicadores de capital, activo, resultados e rentabilidade. O sector bancário angolano manteve em 2011 um crescimento a dois dígitos, com aumentos de 18,3% no número de balcões, de 20,6% nos activos e de 9,2% em número de colaboradores, refere um estudo de análise do sector da KPMG Angola. Os resultados líquidos agregados acusaram um ligeiro decréscimo, na ordem dos 2%, devido sobretudo a um menor crescimento da margem financeira. Estes números reflectem a contínua expansão geográfica da banca, com a abertura de balcões em novas províncias e o aumento geral da taxa de bancarização no país, com a captação e exploração de novos negócios e recursos, refere o estudo da KPMG.

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No final de 2011 existiam 23 bancos em Angola, mantendo-se o mesmo número do ano anterior. O crescimento do sector nestes últimos anos é comprovado pelo aumento do número de instituições a operar no mercado, que em apenas seis anos, de 2005 para 2011, passou de 13 para 23. Dos dez novos bancos, metade tem capital privado angolano e três tem capital estrangeiro. Apesar da tendência de dispersão de quotas de mercado, sector está ainda bastante concentrado, com apenas cinco bancos (BAI, BESA, BCP, BFA e BIC), a somarem 79% dos activos. Esta concentração é também notória em termos geográfico. Apesar do aumento do número de balcões nas províncias, Luanda continua a ter quase metade das agências bancárias do país. Em paralelo com a expansão das redes de balcões, “assiste-se à difusão de novos canais electrónicos para a distribuição de produtos e serviços”, refere o estudo da KPMG. O parque instalado de caixas ATM Multicaixa cresceu 26% num ano, para 1629 máquinas, e o número de terminais de pagamento automático instalados nas lojas subiu 50%, para 18199. O mobile e o internet banking surgem de forma cada vez mais massificada. Em 2011, o volume médio mensal de transacções nas caixas ATM cresceu 35%, de 5,1 milhões para 6,8 milhões, e as transacções realizadas com cartões de

débito através de terminais de pagamento automático subiram 87%, para cerca de 9 milhões. “À medida que existe uma maior utilização dos terminais de pagamento automático por parte dos estabelecimentos comerciais aderentes, o nível de confiança dos cidadãos na sua utilização vai aumentando, alterando o perfil das transacções e dos próprios clientes”, explica a KPMG. Regista-se um aumento das transacções electrónicas e uma redução na utilização de numerário. Muitos pagamentos e operações começam a agora a ser suportadas em transferências bancárias, em vez de numerário ou cheques. Tudo isto tem feito aumentar a taxa de bancarização que, duplicou desde 2010, cobrindo 22% da população total, no final de 2012. Os principais indicadores de actividade dos bancos mantiveram um ritmo de crescimento muito forte, em linha com a expansão do sector. O crédito concedido aumentou 22,8%, e a captação de depósitos subiu 34,3%. “O crescimento dos depósitos e dos créditos foi superior ao aumento do número de balcões, com um impacto positivo nos níveis de actividade por agência”, destaca a KPMG. Do lado dos depósitos, e embora as contas à ordem continuam a representar 57% do total, verifica-se um aumento dos depósitos a prazo, “reflectindo uma maior orientação para a poupança”. l


Vitor Ribeirinho Head of Audit & Financial Services da KPMG em Angola

63


NEGÓCIOS

Desafios da banca

Reforma do sector bancário

Os progressos na bancarização da população e o desenvolvimento de novos segmentos de negócios, produtos e serviço vão continuar a manter a banca como um dos sectores mais dinâmicos da economia angolana. De acordo com o estudo da KPMG Angola sobre o sector, “as instituições devem aproveitar as oportunidades, não deixando de incorporar na sua actividade e nos seus processos as melhores práticas internacionais”. Neste processo, a banca angolana enfrenta 10 importantes desafios, em áreas vitais para o seu crescimento:

Ao longo de 2011, o Banco Nacional de Angola prosseguiu a reforma do sector bancário, com a implementação de nova legislação. Foram criadas a Luibor, a Luanda Interbank Offered Rate e a taxa base BNA, que passaram a funcionar como referência para o cálculo das taxas de juro. Em paralelo, entraram

Inovação e orientação para o cliente. Desenvolvimento de produtos individualizados para segmentos específicos para satisfazer as necessidades dos clientes em todo o seu ciclo de vida. Reposicionamento da função de cada canal de distribuição;

Reforma Tributária, com a entrada em vigor do novo Código do Imposto de Selo, a revisão do Código do Imposto sobre a Aplicação de Capitais, as alterações ao Regulamento de Imposto de Consumo e a reforma do Código do Imposto Industrial;

Corporate Fovernance e Gestão do Risco Operacional. Criação de uma estrutura de governação e de um sistema de controlo interno;

Plano Contabilístico das Instituições Financeiras (Confit), cuja implementação aproximará as instituições angolanas das melhores práticas internacionais;

Eficiência do negócio bancário. Racionalização dos produtos, optimização dos canais de distribuição, reforço da eficiência no back office e do procurement e subcontratação dos processos de negócios;

Gestão do Risco de Crédito; Lei cambial decorrente da entrada em vigor, em Maio do ano passado, do novo regime cambial do sector petrolífero;

Novo enquadramento para o combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo;

Arranque do Mercado de Capitais, com o lançamento dos mercados de dívida pública e de dívida corporate, agendado para este ano e a entrada em pleno funcionamento do mercado bolsista, até 2016, e da Bolsa de futuros e derivados, no ano seguinte;

Gestão da continuidade do negócio perante ameaças climáticas, geológicas e geotécnicas, tecnol. l 64

em vigor as novas regras de protecção ao consumidor de serviços e produtos financeiros. A diminuição das reservas obrigatórias em Kwanzas e o pacote regulamentar sobre a prevenção do branqueamento de capitais e de financiamento ao terrorismo, aproximaram o sistema bancário angolano dos padrões internacionais. l

Desdolarização da economia Para repor a confiança no Kwanza e garantir a estabilidade cambial, o Banco Nacional de Angola (BNA) recebeu um mandato para desdolarizar a economia angolana, reduzindo a sua dependência face ao Dólar dos EUA. A limitação do uso de moeda estrangeira, com a imposição de um limite máximo para a venda de divisas nas casas de câmbio, a fiscalização do cumprimento da Lei Cambial e o incentivo aos pagamentos no mercado doméstico com Kwanzas com penalizações para quem recusar a moeda local como meio de pagamento, são algumas das medidas que têm vindo a ser implementadas. O esforçou de desdolarização da economia está a reflectir-se no equilíbrio entre os depósitos em Kwanzas e em moeda estrangeira, com os primeiros a representarem já 51% do aforro depositado nos bancos. A desdolarização está ser acompanhada por um esforço de diversificação das receitas públicas e da economia em geral, ainda muito dependentes do sector petrolífero. Investimentos em infra-estruturas e na construção civil, em minas e na agricultura, na indústria e nos serviços, com destaque para o sector financeiro, deverão contribuir a prazo para este objectivo. l


C o n s u l t o r e s

10 anos | 10 conferências

a cv&a agradece a todos quantos ajudaram a concretizar este ciclo de conferências www.cunhavaz.com Lisboa Av. Duque de Loulé, 123 - 7.º 1050-089, Lisboa | Telf.: +351 21 012 06 00 - Fax: +351 21 012 06 63

Porto Palácio da Bolsa, Rua Ferreira Borges 4050-253, Porto | Telf.: +351 22 013 12 16 - Fax: +351 22 013 12 19

angola | br asil | colômbia | espanha | moçambique | portugal | uk


análise

Pedro Pintassilgo Director Gestão de carteiras da F&C Portugal

O regresso à periferia

N

a origem da actual crise esteve o avolumar de situações de sobre endividamento soberano, que após a crise financeira de 2008 e a recessão global que se lhe seguiu, conduziram os Estados a um intervencionismo gastador para salvar a banca em apuros e atenuar a perda de rendimento generalizado. Os estímulos à economia provocaram o escalar das dívidas públicas, mais evidente nos países da periferia europeia, onde o limiar da insustentabilidade das contas chegou de forma implacável e onde só tardou o seu reconhecimento porque a abundante liquidez e a fraca percepção do risco de incumprimento foram escondendo os sinais dos doentes aos olhos dos seus credores. O dinheiro barato e abundante alimentou investimentos sem viabilidade económico-financeira e consumos privados injustificáveis. Foi assim, também, no caso português. O diagnóstico era evidente e o receituário, por austero e implacável, foi sendo adiado pelos decisores políticos até ao limite. Como sempre, o credor é quem dita as leis. Primeiro, os financiadores privados afastaram-se e deixaram-nos sem financiamento e, como último recurso, foram chamados os organismos públicos internacionais. Para garantir o reembolso dos seus empréstimos, os financiadores exigiram uma cura de emagrecimento, radical em extensão e rápida no tempo. Na ausência do instrumento cambial, o ajustamento faz-se à custa do emprego e dos bolsos dos contribuintes. O país foi chamado a poupar para honrar facturas atrasadas e garantir o pagamento das vincendas. Isto significa que vai haver transferência de rendimento privado para o Estado. Os contribuintes vão ficar mais pobres para o Estado ficar menos endividado. Do sucesso do emagrecimento depende a reconquista da confiança dos credores privados e, esperemos, também o aumento da competitividade da economia portuguesa. No entretanto, fica o dano de um ajustamento doloroso, em perda de emprego, de rendimento e de potencial de crescimento. Em Julho de 2012, à falta de acertos políticos das lideranças 66

europeias (é difícil o debate entre a austeridade exigida por alguns e a solidariedade reclamada por outros) impôs-se o Banqueiro europeu, que suportado na credibilidade das palavras e na força do seu balanço central aliviou tensões e suportou a moeda única e o projecto europeu. Os capitais que afluíram ao chamado centro da Europa começaram, gradualmente, a regressar à periferia, reduzindo os custos dos financiamentos e do ajustamento e, pelo caminho, valorizando os activos de risco por excelências: as acções. Afastado o risco de desmembramento da Zona Euro é nesse caminho que nos encontramos, o da correcção de assimetrias de custo de financiamento entre o centro e a periferia. Um regresso à normalidade. O ano de 2013 deverá ser de aprofundamento do projecto europeu na vertente política e orçamental. Com a união bancária minimizar-se-á a probabilidade de eventos disruptivos no sistema financeiro e isolar-se-á a sua cura do (até agora) inevitável impacto colateral nas soberanias. Contudo, o caminho não está isento de problemas, vide a situação cipriota. A disciplina orçamental e a consolidação das contas públicas e privadas é inevitável, porque a sustentabilidade das contas públicas tem que ser garantida. Os credores estão agora muito mais atentos. O debate sobre as funções do Estado é um debate sobre o que a Nação quer que o Estado garanta, mas associado a este está o seu custo. É um debate sobre que despesas estão os contribuintes dispostos a assumir anualmente. Uma coisa sabemos: Não podemos gastar o que não temos, ou seja, não podemos pedir o que não conseguimos pagar. É preciso responsabilidade e compromisso. As empresas e, em consequência, as acções, vão beneficiar de um Estado mais rigoroso. Aliás já estão a beneficiar, uma vez que o Estado absorverá menos recursos financeiros, libertando mais fundos para financiar o investimento e o crescimento privado e logo mais emprego e mais lucros. Estamos neste ponto em termos de mercados financeiros. O dinheiro está de novo a afluir à periferia. Acções e obrigações vão ver o seu preço subir. Aproveitemo-lo bem, porque será mais escasso e caro do que nos tempos idos do pré-crise. l



tendĂŞncias

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sofia arnaud

O c o m é r c i o d o l u x o e m P o r t u g a l e s tá i m pa r áv e l . N o s ú lt i m o s a no s , i n s í g n i a s c o m o a P r a da , M a r c J a c o b s , Lo w e , G u c c i , M i u M i u o u To u s a b r i r a m a s s u a s l oj a s e m L i s b o a . A e s ta l i s ta j u n ta r - s e - ã o e m b r e v e a C a r t i e r , G u e s s , R a l p h L a u r e n e M a x M a r a . Av e n i da da L i b e r da d e , R u a C a s t i l h o e C h i a d o c o l o c a r a m L i s b o a no m a pa i n t e r n a c i on a l da s c o m p r a s d e l u x o .

O

mercado de retalho de luxo em Portugal está bem e recomenda-se. Avenida da Liberdade, Rua Castilho e Chiado são as localizações que as marcas de luxo privilegiam para abrir as suas lojas. Porquê? No caso da Avenida da Liberdade, pela elegância de outros tempos, por ser uma zona de elite, onde fontes, estátuas, árvores centenárias e edifícios pombalinos que coabitam em perfeita harmonia com agradáveis esplanadas, edifícios de traça moderna, restaurantes de luxo, hotéis de cinco estrelas e lojas de luxo de moda internacional. Afinal, não podemos esquecer que estamos a falar de uma avenida que muitos classificam como os Champs Elysées de Lisboa e que liga o Parque Eduardo VII, rodeado por hotéis de 5 estrelas, à Baixa Pombalina, na zona histórica da cidade. A par com a Avenida, o glamour da Rua Castilho, onde surgiram as primeiras lojas de luxo, é marcado também pela proximidade dos melhores hotéis da cidade. Quanto ao Chiado, a escolha justifica-se pelo carácter da zona: antiga e cosmopolita é um ponto de encontro de turistas de todo o mundo.

De acordo com o Business Briefing da consultora imobiliária Cushman & Wakefield, que analisa o comércio de rua a nível mundial e elabora um ranking com as 62 localizações mais caras do mundo, o comércio de luxo em Portugal registou um crescimento significativo ao longo do ano passado. “O segmento de luxo privilegia a sua localização no comércio de rua e, pelas sinergias que cria, em zonas onde beneficie do fluxo de clientes das melhores unidades hoteleiras e edifícios de escritório”, refere o estudo. De acordo com o documento, este facto pode estar associado às marcas serem atraídas pelo baixo preço relativo das rendas comerciais em Lisboa. Os 960 euros por ano por metro quadrado (80€/m2/mês) fazem do Chiado a zona comercial mais cara de Lisboa e de Portugal, mas uma das mais baratas do mundo. Apesar de existirem muitos clientes portugueses, uma parte da procura do comércio de luxo em Lisboa vem de Angola, Brasil e Rússia. E segundo estudo da C&W, esta é uma tendência que se acentuará nos próximos anos. 69


TENDÊNCIAS A sua localização geográfica, o clima, o facto de ser considerada uma das cidades mais belas do mundo – – recentemente ocupou o 4.º lugar no ranking do U City Guides – a sua promoção no exterior, atraindo cada vez mais congressos e encontros internacionais de empresas, a língua e as ligações emocionais com alguns daqueles países são alguns dos factores que trazem a Portugal as elites angolanas, brasileira e russa. Segundo o estudo, um outro factor que pode atrair a Portugal estes “turistas de compras” é a escassez de oferta deste tipo de produtos ou os seus elevados preços nos seus países de origem. Também a operadora de Tax Free Global Blue, no seu índice anual, coloca Lisboa como a sétima melhor cidade

para compras em viagens internacionais. As marcas não só escolhem Lisboa para instalar as suas lojas, mas também para filmar os seus anúncios, como foi o caso, entre outras, da Absolut Vodka, Aston Martin, Grendha e até da japonesa Shou Shu Riki. Segundo o estudo da Global Blue, os clientes angolanos são os que mais adquirem em Portugal, contando com 44% das vendas Tax Free, seguidos por turistas provenientes do Brasil, Rússia e China. Os chineses são um consumidor muito recente em Portugal, mas que está a “entrar em grande força”. Segundo o relatório de Primavera da Bin & Company, a China compra 20% dos produtos de segmento alto disponíveis no mundo. Em Portugal, os chineses lideram tanto ao nível do crescimento

Pa r a a l é m d o s p o r t u g u e s e s , ta m b é m o s a n g o l a n o s , b r a s i l e i r o s russos e chineses procur am comércio de luxo em lisboa.

Dav i d R o s a s A joalheira David Rosas, fundada em 1984, acaba de anunciar um projecto de remodelação e ampliação da sua loja na Avenida da Liberdade, num investimento de cerca de 10 milhões de Euros. O novo espaço com cerca de 700 metros quadrados, distribui-se por três pisos e várias zonas, uma destinada à alta relojoaria masculina, uma dedicada ao público feminino com prestigiadas marcas de jóias e relógios, uma sala privada para atendimentos personalizados, e um lounge para apresentações privadas à imprensa. Maio é a data prevista para a abertura. A David Rosas iniciou o processo de procura de um espaço na Avenida da Liberdade em meados da década de 90. “No entanto, só em 1999 é que encontrámos o espaço adequado e a inauguração aconteceu em Maio de 2002. Fomos das primeiras marcas de luxo a apostar na Avenida com a convicção que esta se viria a tornar a artéria do comércio de luxo em Portugal. E, por sinal, acertámos. Hoje o que é 70

óbvio para todos não o era há 15 anos…”, afirma Pedro Rosas, responsável pela loja. O mercado tem vindo a sofrer alterações significativas. “Em termos agregados o nosso volume de negócios até cresceu em 2012 face ao ano anterior. No entanto, é claro e evidente o efeito da crise no consumo de bens de luxo por parte dos clientes nacionais. Esta quebra tem sido mais do que compensada pelo crescimento das vendas a turistas”. Assim, neste momento a David Rosas tem como principais clientes os turistas, sobretudo oriundos de países de língua portuguesa (Brasil e África) e Ásia, com um peso dos estrangeiros no volume de vendas superior ao dos clientes portugueses. l


r o t e i r o da av e n i da Marquês de Pombal

Av. da liberdade

1

R. Alexandre Herculano

2 3

4

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av e n i d a d a l i b e r d a d e : O “ Pa s s e i o P ú b l i c o ” d a c i d a d e d e l i s b o a .

6 R. Barata Salgueiro

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Fashion Clinic 39

1. Tru Trussardi 2. Max Mara (brevemente) 3. Torres Joalheiros (brevemente) 4. Cartier (brevemente) 5. Fly London 6. Vilebrequin 7. Emporio Armani 8. Prada 9. Rosa e Teixeira 10. Burberry

no consumo” e chama a atenção para “a importância do atendimento e da exclusividade oferecida ao cliente”. Relativamente à escolha da Avenida da Liberdade para instalação de duas das lojas da marca, a explicação é clara: “A Avenida da Liberdade é sem dúvida a localização de topo em Lisboa para receber as marcas que disponibilizamos e os clientes que pretendemos. A instalação de novas griffes na Avenida da Liberdade nos últimos anos vem reforçar esta nossa convicção”. l

15 18

As rendas de 8 0 E u r o s / m 2/ mês fazem d o Chiado a zona comercial mais c ar a de Lisboa e de P ortugal, seguida pela Av e n i d a d a liberdade, com rendas mensais de 72,5 Euros/ m 2/ m ê s .

22

40 41 42 43 44 45

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Praça da Alegria

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praça dos restauradores

A Fashion Clinic nasceu em 1990, primeiro em Lisboa (Amoreiras) e um ano mais tarde no Porto. Passou a ser gerida por Paula Amorim em 2005, e actualmente conta com três lojas em Lisboa, duas delas na Avenida da Liberdade, e a terceira no Porto. De acordo com Filipa Pinto Coelho, directora de marketing e comunicação da marca, “os portugueses são os principais clientes, mas obviamente, pelas marcas que disponibilizamos, a presença de clientes estrangeiros é significativa”. Acrescenta ainda que, “é visível uma retracção

12

11. Furla 12. Guess (brevemente) 13. TOD’s 14. Boutique dos Relógios Plus 15. Boutique dos Relógios Plus (brevemente) 16. Fashion Clinic 17. Longchamp 18. Louis Vuitton 19. Escada 20. Adolfo Dominguez

21. Fashion Clinic 22. Gucci 23. I Pinco Pallino 24. Globe 25. Carolina Herrera 26. Purificación García 27. André Ópticas 28. Mango 29. Massimo Dutti 30. Maria João Bahia 31. Miu Miu

32. Zadig & Voltaire 33. Porshe Design 34. Stivaldi 35. Holmes Place 36. Gant 37. Marionnaud 38. Loewe 39. Lanidor Flagship store 40. Ermenegildo Zegna 41. Hugo Boss 42. Boutique dos Relógios Plus

43. Dara Jewels 44. Foreva 45. Montblanc 46. Gilles Fine Jewellery 47. Pronoivas 48. Officine Panerai 49. David Rosas 50. Rosa Clará

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TE n d ê n c i a s como do valor, ao desembolsarem, em média, 560 Euros por cada compra. A preferência recai não só em relógios e jóias, mas também em moda e acessórios. As idades dos compradores asiáticos são cada vez mais reduzidas, o que é justificado pela forte natalidade e economia em aceleração. Em contrapartida, os clientes de luxo europeus são cada vez mais idosos e o mesmo acontece com os norte-americanos e japoneses. Para reforçar este interesse por parte dos turistas, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) lançou um projecto que tem como objectivo central revitalizar, dinamizar e promover o comércio de rua em Lisboa, divulgando a cidade como um International Shopping Destination. É

uma ferramenta digital que coloca ao dispor do visitante a oferta da cidade, incidindo em oito zonas essenciais do comércio lisboeta. Para cada zona ou bairro foi criada uma identidade distintiva, uma marca própria baseada nas suas características de forma a atrair mais turistas e clientes internacionais. Nesta primeira fase, o enfoque do projecto centrou-se nas zonas de comércio já consolidadas, algumas com notoriedade internacional, reconhecidas pelos turistas como destino de compras. Para além desta, a CML tem estado envolvida em muitas outras iniciativas com o objectivo de promover a cidade de Lisboa e algumas das suas principais artérias. Foi criada a Associação Passeio Público, composta por empresários e

A CML l a n ç o u u m p r o j e c t o q u e v i s a p r o m o v e r L i s b o a c o m o u m I n t e r n at i o n a l S h o pp i n g D e s t i n at i o n .

V i s ta A l e g r e

a F l a g s h i p S t o r e d o C h i a d o r e a b r i u no f i n a l d o a no pa s s a d o n u m e s pa ç o on d e a h i s t ó r i a , t r a d i ç ã o e pat r i m ón i o andam de mãos dadas

No final do ano passado, a Vista Alegre Atlantis (VAA) reabriu a sua centenária loja no Largo do Chiado, após uma surpreendente intervenção que transformou a flagship store da marca de porcelanas portuguesa em Lisboa num espaço acolhedor e único, em que a história, tradição e património andam de mãos dadas com o design e a inovação. Este espaço emblemático da VAA está classificado como “Bem Imóvel de Interesse Municipal” e possui uma série de elementos com interesse no quadro do conjunto da Lisboa Pombalina, em vias de Classificação. “A loja do Chiado é um espaço especial. Tem elementos de arquitectura históricos, classificados e intocáveis, desde o chão em mosaicos romanos aos tectos forrados com madeiras antigas. Nesta reabertura da flagship store do Chiado quisemos criar também mais um pólo de atracção adicional que justifica a visita

a esta loja: foi instalado um mural, atrás da zona da caixa, todo em biscuit, feito com esculturas e figuras históricas da marca, compondo em si mesmo uma obra de arte”, explica Nuno Barra, director de marketing da Vista Alegre. De acordo com o responsável, os portugueses são os maiores clientes Vista Alegre Atlantis. “É uma marca 100% portuguesa, com 189 anos de história, e uma rede nacional de 32 lojas próprias, e esses são factos incontornáveis. França, Espanha, Alemanha e Brasil são os maiores clientes externos da marca”. Na vizinha Espanha, a VAA tem 44 pontos de venda próprios e uma flagship store com cerca de 600 metros quadrados em Madrid, numa das zonas mais emblemáticas da cidade: a Calle Ortega y Gasset. A Vista Alegre é, neste momento, um case study nacional pela forma como tem conseguido contornar a crise económica e financeira que assolou o país.l


empreendedores detentores de interesses comerciais localizados na Avenida da Liberdade (o antigo Passeio Público da Lisboa oitocentista) e que tem por objectivo devolver o espírito do Passeio Público à cidade. Trata-se de uma associação de carácter cultural que pretende dinamizar a Avenida da Liberdade com um programa anual de actividades, como feiras de antiguidades, alfarrabistas e artesanato, cinema ao ar livre, exposições de arte e concertos de vários géneros musicais, para além de grandes eventos de moda como o Vogue Fashion Night Out, que decorre na Avenida da liberdade, Rua Castilho, Chiado e Príncipe Real, o Festival de Música Vodafone Mexefest, ou o Castilho Fashion Street, uma promoção das lojas desta artéria, por altura do Natal. Segundo o estudo da Cushman & Wakefield, a Avenida da Liberdade conta hoje com um total de operadores múltiplos e internacionais

cuja área de venda ascende a mais de 17 mil metros quadrados, dos quais cerca de 80% são marcas internacionais e onde a moda tem uma clara predominância, absorvendo 64% do espaço total. Cosmopolita e elegante, a Avenida é uma das principais artérias da cidade e um dos mais concorridos pontos turísticos de Lisboa, um verdadeiro “cartão-de-visita” da capital portuguesa. É considerada a 35ª avenida mais cara e a 10ª mais luxuosa do mundo. É aqui que se localizam algumas das mais importantes insígnias internacionais como a Trussardi, Emporio Armani, Burberry, Montblanc, Louis Vuitton, Prada, Lowe, Gucci, Stivali, TOD’s, Officine Panerai, Gucci e a recentemente inaugurada loja da Miu Miu. Para breve aguardam-se lojas de outras marcas de relevo como a Cartier, Ralph Lauren, Guess ou Max Mara. Todas elas com abertura prevista ainda para o primeiro semestre

c o m a lt o s e d i f í c i o s a r q u i t e c t ó n i c o s , a r u a c a s t i l h o f o i a z o n a o n d e a s m a r c a s i n t e r n a c i o n a i s i n i c i a r a m a s u a a p o s ta .

Loja das Meias

A rua castilho, mais precisamente o centro c o m e r c i a l C a s t i l , fo i a e s c o l h a d a Loj a d a s M e i a s pa r a i n s ta l a ç ã o d a s u a s e g u n d a l oj a e m l i s b o a

A Loja das Meias surgiu há mais de 100 anos, na esquina do Rossio com a Rua Augusta, e durante muito tempo vendia apenas meias e espartilhos. Com a expansão da cidade surgem novas zonas comerciais. Em 1971, abre na Rua Castilho o centro comercial Castil, um centro comercial moderno servido por estacionamento próprio. Foi aqui que a Loja das Meias abriu a sua segunda loja. Mais tarde surgiram mais dois espaços, uma no centro comercial das Amoreira e outra em Cascais. Hoje, a Loja das Meias vende um conjunto de marcas internacionais, como Dior, Lanvin, Celine, Salvadore Ferragamo, Fendi, Ralph Lauren, muitas delas comercializadas em exclusivo. Manuela Saldanha, responsável pela Loja das Meias, confirma que o Luxo já tem um peso bastante significativo nas vendas. “Não sei as percentagens, mas conheço a minha realidade e o que me é dado a conhecer

a nível de tendências de mercado. O luxo não tem que ser inacessível. Hoje existem muitos produtos de luxo acessíveis e muito apetecidos por serem exclusivos. São as grandes marcas que ditam a moda”, explica Manuela Saldanha. De acordo com a responsável, “os maiores clientes da loja são portugueses, mas existe uma grande parcela de público estrangeiro, com tendência a aumentar, principalmente brasileiros, russos, angolanos e cada vez mais chineses. Para além destes existem também os europeus, que vêm muito a Lisboa em lazer ou negócios, muitas vezes através de conferências internacionais”. A localização das lojas é de importância estratégica neste tipo de negócio. “A Rua Castilho, pela oferta variada que dispõe, pela dinamização que tem conseguido manter ao longo dos anos continua a ser um eixo de referência na cidade de Lisboa e um local atractivo para compras”, explica.l 73


TENDÊNCIAS do ano. E há outras marcas de prestígio com os olhos postos na Avenida, como a Dior ou a ourivesaria Torres. Mas nem só de investimento estrangeiro vive a Avenida da Liberdade. Depois da inauguração, no final do ano passado, da sua primeira loja de rua, junto ao Hotel Sofitel Lisboa, a Boutique dos Relógios Plus prepara-se para abrir em breve um novo espaço do outro lado da Avenida, onde funcionou o Instituto Português da Juventude. Também a ourivesaria e joalharia David Rosas está a apostar nesta artéria lisboeta, com data de abertura agendada para Maio. Das mais prestigiadas marcas internacionais às lojas de comércio tradicional, de vestuário a calçado, passando

pelos acessórios, na Avenida da Liberdade é possível encontrar tudo. Com tanta procura, a oferta de imóveis com as características procuradas pelas grandes marcas, em edifícios com nobreza e áreas apropriadas, está a começar a rarear, o que os valoriza e os torna ainda mais exclusivos. Castilho e Chiado A Castilho é um dos locais mais elegantes da cidade, a dois quarteirões apenas da paralela Avenida da Liberdade. Com altos edifícios arquitectónicos, galardoados com o Prémio Valmor, hotéis de luxo, serviços e luxuosas lojas de moda, foi nesta rua que as marcas internacionais

o c h i a d o é c o n s i d e r a d o o b a i r r o m a i s t r e n d y, procurado por um conjunto alargado de público.

O número 50 da Rua Garrett no Chiado reabriu as suas portas, desta vez como loja Tous. Durante anos esta foi a morada da célebre Ourivesaria Aliança. A Tous escolheu recuperar este local, comprometendo-se a manter o património histórico e a dar-lhe uma nova vida, aproveitando não só o requinte do espaço interior mas também a excelente localização, no eixo central de um dos lugares mais emblemáticos e movimentados de Lisboa: o Chiado. “Pensamos que dá sempre notoriedade a uma marca estar nas principais ruas da cidade. Para a Tous, ter uma loja na Rua Garrett era um objectivo. Quando surgiu a possibilidade de abrir na antiga Ourivesaria Aliança

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não houve qualquer dúvida, por se tratar de uma loja emblemática, que se enquadra em pleno na nossa imagem”, explica Lubélia Marques, directora das lojas Tous em Portugal. No que respeita aos clientes da marca, a responsável refere que, “maioritariamente são portugueses, com uma percentagem crescente de estrangeiros, principalmente angolanos, franceses, espanhóis e brasileiros”. A Tous entrou no mercado português em 2001 e passou a ter uma maior implantação a partir de 2008. Depois da abertura da loja do Chiado, a marca espanhola de joalharia está a estudar vários locais importantes para novas lojas. l


iniciaram a sua aposta na capital portuguesa. BCBG/Max Azaria, Karen Millen, La Perla, Weill, Wickett Jones, Coccinelle, Hoss Intropia e Loja das Meias são alguns nomes presentes na Rua Castilho. O renascido Chiado, recuperado como zona fashion depois do pavoroso incêndio que arrasou o bairro, há 25 anos, tem também atraído marcas que tentam aproveitar o importante fluxo de turistas que, ao longo de todo o ano, se sente seduzido pela zona. É o bairro mais trendy de Lisboa, procurado por um conjunto alargado de público, onde se incluem turistas e pessoas ligadas ao mundo da moda, das cultura e das artes. O Chiado concentra na mesma área estabelecimentos comerciais tradicionais e modernos, especialmente ao longo das Ruas Garrett e do

Carmo. Esta foi a zona de eleição para marcas como a Hermès, Swarovski, Marc by Marc Jacobs, Vista Alegre e, mais recentemente, a Tous. “No total, entre operadores múltiplos e internacionais, estão ocupados mais de 20 mil metros quadrados de área de venda, entre os quais as marcas internacionais representam 65%”, e onde novamente o sector da moda é o mais relevante, com 68% do total”, adianta o estudo da Cushman & Wakefield. Depois da abertura na Avenida da Liberdade, a Guess continua a analisar oportunidades de negócio em Portugal e a zona do Chiado está no topo das prioridades da marca. Será mais um marco no roteiro do luxo da capital portuguesa. l

O C h i a d o f o i a z o n a d e e l e i ç ã o pa r a m a r c a s c o m o a H e r m è s , S wa r o v s k i , M a r c b y M a r c J a c o b s , V i s ta A l e g r e e T o u s .

hermÈs A Hermès foi uma das primeiras marcas de luxo a estabelecer-se em Portugal, em 1999. A marca escolheu o Chiado para localizar a sua única loja de rua em território nacional. Esta localização privilegiada aliada ao sucesso da loja ao longo dos seus 14 anos atrai muitos e bons clientes, fiéis à marca. Como referiu Patrick Thomas, o

presidente da Hermès, aquando da comemoração dos 10 anos da loja em Portugal: “A Hermès está a crescer muito bem em Portugal e é um bom negócio para a marca”. Acrescenta ainda que: “O consumidor português é um grande conhecedor da qualidade”. O perfil do cliente Hermès é muito abrangente, vai desde os 20 aos 75 anos de idade ou mais. l

louis vuiton Localizada no número 190A da Avenida da Liberdade, a Louis Vuitton é senhora da sua própria esquina em frente ao Teatro Tivoli. É uma das marcas mais namoradas pelos amantes de malas, mas também vende outros acessórios e roupa. A marca possui cerca de 415 lojas espalhadas pelo mundo que apresentam a mesma configuração na vitrine principal. Mensalmente, exactamente no mesmo dia, a montra é alterada conforme o manual global de montagem de vitrines da marca. Todos os pormenores são tidos em conta, desde a maçaneta das portas à textura das paredes, ao chão de mármore italiano e às embalagens. A Louis Vitton é, sem dúvida, uma das marcas mais glamorosas e desejadas do roteiro de luxo lisboeta.l 75


tendências

t e n d ê n c i a s

Chá da s Cin co A tr ad

76

ição

do “C h á da s Cinco ”,

i m p l e m e n ta

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Catarina da Ponte e Sofia Arnaud

s. A Prémio foi conhecer os depoi os lo cais 500 an

D

e início mais associado ao Inverno, de preferência acompanhado de um guilty pleasure como uns scones quentes com doce de frutos silvestres ou um tentador bolo de chocolate, o tradicional chá revelou afinal características refrescantes e hidratantes para os dias mais quentes, podendo ser consumido a qualquer hora do dia e do ano, até para acompanhar refeições. Pode ser adquirido em saquetas de sabores quase inesgotáveis nas prateleiras dos supermercados ou em lojas especializadas que vendem chás em folhas para consumir em casa ou nas aconchegantes casas de chá polvilhadas pelo país.

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Reconhecido como uma tradição tipicamente britânica, o hábito do “Chá das Cinco” foi introduzido na corte inglesa, no século XVI, pela filha do Rei de Portugal D. João IV, a infanta Catarina de Bragança, que casou com Carlos III de Inglaterra. No entanto, só por volta do ano de 1830 é que esta tradição foi completamente implementada pelos ingleses, com a ajuda da Duquesa de Bedford, que considerava o “Chá das Cinco” uma boa ocasião para exibir as suas maravilhosas baixelas de porcelana e prata. No seguimento deste ritual, foram criadas regras de etiqueta para o serviço de chá e receitas que passaram a fazer parte do cardápio (e que ainda hoje fazem): torradas com manteiga, geleia ou mel, scones,

muffins, bolos e uma grande variedade de biscoitos e pãezinhos. Os ingleses até criaram uma nova profissão por causa desta bebida – o sommelier do chá, uma espécie de especialista de chá que distingue sabores e aromas e serve o chá no ponto certo, à semelhança do que acontece com o vinho. De regresso ao século XXI, a prática social do “Chá das Cinco” mantém-se. Em Portugal as casas de chá estão em voga e são locais aprazíveis, onde apetece sempre ir com amigos para colocar a conversa em dia. A Prémio fez uma selecção das melhores casas de Lisboa e do Porto, onde pode saborear o seu chá de eleição, seja ele Branco, Verde, Preto, Oolong, Aromatizado, Prensado ou de Mistura. l 77


casas de CHÁ C a f é Sau da d e Ó Chá (R. Luís Augusto Palmeirim, 18, Lisboa. Tel.: 916 745 863)

O Ó-Chá é em simultâneo uma casa de chá e uma loja de decoração, oferendo uma carta com mais de 70 chás que poderão ser consumidos no local ou em casa. As especialidades da casa são scones, pão de especiarias, bolo de chocolate, sanduíches e tostas, sumos naturais feitos na hora e café. l

A plantação do Chá

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P o i s s o n d ’A m o u r

(Av. Doutor Miguel Bombarda, 6, Sintra. Tel.: 212428804)

Em Sintra, mesmo junto à estação de comboios, as ruínas de uma das mais antigas fábricas de queijadas da A Poison d’ Amour tem uma sala vila foram totalmente recuperadas e de cafetaria intimista, um pátio transformadas num espaço singular rodeado de um Jardim Botânico que que funciona também como galeria, nos transporta para a cidade dos loja de artesanato e local de tertúlias. impressionistas com verdadeiros “venenos do amor” como petit fours, Serve chás de qualidade em canecas, scones do tamanho de pães e macarons e croissants. Os chás são torradas em pão de lenha. l servidos em requintados bules. l (Rua da Escola Politécnica, 32, Lisboa. Tel.: 213 476 032)

A planta do chá é um arbusto com as folhas permanentemente verdes da família da Camélia, a Camelia Cinesis de origem chinesa e a Camélia Assamica de origem indiana. Actualmente, cerca de 50 países em todo o mundo são reconhecidos como grandes produtores de chá. Estas plantas dão-se em temperaturas que variam entre os 10o e os 30o C num clima com ar quente e húmido, em altitudes que oscilam entre os 300 e os 2000m. No caso das estufas, as plantas podem crescer entre os 15 e os 20cm e devem depois ser colocadas a céu aberto. Após 4 a 5 anos

a planta cresce até 35cm e está pronta para a recolha. A variedade de chás mais apreciada é aquela em que a recolha é feita manualmente das duas primeiras folhas a nascerem. No final de 1840, o governo britânico oferece a Robert Fortune dinheiro para ir à China desvendar o segredo do chá. Fortune conseguiu durante três anos entrar nas regiões mais agrestes da China e descobrir cerca de 100 tipos de plantas de chá diferentes. Robert Fortune foi considerado um dos maiores espiões de todos os tempos devido ao facto de desvendar a plantação do chá. l


sabia que:

C a sa d e C h á S e r r a lv e s (Rua Dom João Castro 210, Porto. Tel.: 226170355)

E s pa ç o E d l a R o ta d o C h á

(R. Dr. Alfredo da Costa, 52, Sintra. Telm.: 925970130/31)

O Espaço Edla / Salão de Chá apresenta-se com uma decoração singular e um ambiente acolhedor que alia a tradição à contemporaneidade. Nele encontramos uma grande diversidade de chás, de pastelaria fina, salgados, zona de geladaria e uma vasta e deliciosa gama de produtos gourmet. l

(Rua Miguel Bombarda 457, Porto. Tel.: 220 136 726)

Situado no edifício Artes em Partes, esta Casa de Chá oferece um ambiente zen, com influências orientais. Pode-se escolher, entre o jardim ou um confortável sofá, um dos muitos chás que a carta apresenta, acompanhado por um doce caseiro e um atendimento simpático. l

Qual o seu estado de espírito de hoje? Quantas conversas já teve com amigos em redor de uma chávena de chá? Para partilhar alegrias, tristezas e preocupações ou até para festejar, beber um chá é sempre um bom pretexto. A pensar nisto a Tetley lançou recentemente no mercado a gama Mood Infusions, uma nova gama de infusões

de ervas e frutas que tem o poder de acalmar, reconfortar, aconchegar ou dar uma dose de energia extra para iniciar o dia. Oferece quatro variedades: Tetley Warmth, Serenity, Calm e Pick me Up. Agora já é possível escolher o chá certo para as várias ocasiões e estados de espírito da sua vida. l

Rodeada pelo verde exuberante dos jardins e situada no antigo campo de ténis, a Casa de Chá de Serralves oferece uma atmosfera única de bem-estar. É o lugar ideal para relaxar antes ou depois de ver uma das exposições no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Aqui existem chás e infusões e tem a particularidade de ter um chá único no mundo, o Porto Wine Touch, um chá preto com passas de vinho do Porto que pode sempre acompanhar com scones caseiros, bolos tradicionais, entre muitas outras sugestões. l

Na África do Norte e Ocidental, o chá é servido a partir de uma altura considerável em relação à chávena. Isto para oxidar o chá e refinar o seu sabor ou para arrefecer o chá de modo a poder ser bebido de imediato. No Reino Unido, 98% das pessoas tomam o seu chá com leite, mas apenas 30% adicionam açúcar. A arte de ler folhas de chá tem o seu próprio nome: “teimancia”. O chá faz bem aos dentes. É uma fonte natural de fluoreto que pode ajudar a proteger contra cáries dentárias e doenças gengivais. O carácter do chá, tal como o do vinho, é influenciado pela elevação do local de cultivo, pelo solo, pelas condições de vento, temperatura e, claro, pela qualidade da colheita. Há quem use o chá para dar um toque antigo aos móveis. Para perfumar o roupeiro, experimente colocar uns saquinhos com folhas de chá. Há mais de 200 sinais possíveis que o chá pode deixar na sua chávena. 79


TENDências

R EDE S

SO C I A I S

A Gr a nde R e d e voluç ão O p o t e n c i a l d a s r e d e s s o c i a i s n ã o p o d e s e r s u b va l o r i z a d o , m a s ta m b é m n ã o d e v e s e r e x ag e r a d o . Ma s é i n e g áv e l q u e a r e d e e s tá a p r o v o c a r u m a r e v o l u ç ã o n a f o r m a d e c o m u n i c a r d o s p o l í t i c o s , da s e m p r e s a s e da s o r ga n i z a ç õ e s .

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carlos Renato Teixeira

A

enciclopédia está a dar lugar à wikipédia, a televisão ao youtube, o livro ao ibook, o telegrama ao twitter. Os fazedores de opinião, que outrora apareciam depois de carreiras de grande fôlego, podem agora ser blogueiros sem rosto, imberbes ou veteranos desconhecidos com ou sem credencial ou tradição no mercado e na vida pública. Com o facebook a catalisar revoluções, como as que têm tido lugar no Norte de África e no Médio Oriente, com as investigações na rede a conduzirem à demissão de figuras de Estado ou à emergência de novas lideranças, a comunicação 2.0 passou a ser definitivamente levada a sério. Em Portugal, e seguindo o exemplo de líderes políticos de outros países, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e até o Presidente da República Cavaco Silva usam o facebook para as suas mensagens. Comunicações que antes não prescindiam de todo um protocolo, da transmissão em horário nobre da televisão e de um cenário digno de um chefe de Estado ou de Governo. As comunicações passaram a ser feitas por post e as cronologias da rede ou nas páginas institucionais passaram a ser fontes importantes da comunicação política. A formalidade da terceira pessoa está a dar lugar à informalidade da primeira. Do mercado global ao mercado em rede Ainda que não tenha acabado o tempo da comunicação às multidões – basta para isso ver um concerto de Psy, o famoso intérprete do tema musical Gandman Style, ou um comício de Barack Obama –, o quotidiano das organizações, das empresas e das figuras de Estado ou do show business já não prescinde de uma abordagem específica na hora de definir o caminho que quer percorrer na comunicação em rede. Manuel Castells, um sociólogo espanhol que se especializou na evolução das redes e na sua relação com a comunicação política e empresarial, defende o conceito de capitalismo informacional, argumentando que o impacto da rede é de tal ordem que até alterou a natureza do sistema económico. A “Sociedade em Rede”, como lhe chama, mapeia um cenário mediado pelas novas tecnologias de informação e comunicação e é marcada pela forma como elas interferem nas estruturas sociais. Berardi, outro cientista social, vai ainda mais longe, advogando que o papel que outrora desempenhou o proletariado industrial, entre o século XIX e XX, será agora ocupado por um cognitariado, que emerge das redes e dos novos movimentos sociais, e que tem como principal ferramenta o seu domínio sobre a informação e a capacidade de a difundir para a multidão. As mudanças trazidas pela consolidação das redes sociais são incontornáveis. Criar um site, um blog corporativo ou perfis no facebook e no twitter passou a ser prática corrente, facilitando o feedback de eleitores, clientes e consumidores e aumentando o fluxo contínuo de trocas de informações entre os políticos, as empresas e as organizações e os seus respectivos públicos-alvo.

A monitorização das redes sociais passou a ser crucial para que uma empresa ou um político sigam críticas e as tendências, saibam o que foi elogiado e avaliem o impacto que o seu spin teve nas comunidades e nos fóruns de discussão. A página de facebook de uma empresa pode transformar-se na sua sucursal mais produtiva. Empresas como a Petrobrás, o Ikea e a IBM criaram blogs corporativos. A Dell, a Starbucks e a Ford aderiram ao twitter para manter os clientes informados sobre as suas novidades. Pequenas ou grandes, as empresas encontraram na rede o espaço ideal para a disseminação das suas mensagens e o mesmo se passa na esfera política ou no mundo dos mercados financeiros e da economia. Gestão de crise Quando uma empresa desenha uma estratégia para intervir na rede, a megalomania pode ser o maior dos obstáculos, uma vez que corre o risco de definir metas demasiado ambiciosas. O exemplo mais evidente são os vídeos virais. Um filme viral para promover uma marca ou um produto específico resulta muitas vezes num efeito contrário. A descontextualização pode tornar esta ferramenta uma arma contra os objectivos propostos, levando a marca ou o produto a ser alvo de cyberbullying e de campanhas, durante semanas e meses, contra quem o financiou. Outro exemplo é a colecção de Likes nas páginas institucionais de empresas ou personalidades. Cada clique vale dinheiro mas nem todos os cliques se compram. Se uma empresa rival tiver uma página com um milhão de Likes, não acredite se lhe prometerem o mesmo, de um dia para o outro. Pode até acontecer que lhe consigam o milhão de fãs, mas dificilmente esses Likes terão uma correspondência efectiva com o seu público-alvo e o mais certo é eles serem fictícios. No final do mês ninguém vive de ilusões e se as vendas não corresponderem à audiência e aceitabilidade na rede é caso para desconfiar. Neste campo, apesar de tudo, muito pouca coisa mudou. O prestígio de uma marca pode ser potenciado pela rede, mas não pode ser inventado. E, tal como no mundo real, na rede o bom nome leva anos a forjar. Se o registo das boas notícias ou do impacto positivo de uma dada estratégia é importante para a motivação de uma equipa, a identificação dos erros é igualmente fundamental, sobretudo para que a gestão de uma crise seja feita da forma mais célere possível. O problema é tanto maior quanto maior for o tempo que se leva a identificá-lo. O número de soluções diminui a cada minuto que cresce a avalanche de críticas. Na política, como na generalidade dos mercados, uma má notícia para alguém é regra geral uma boa notícia para outrém. Uma disputa eleitoral pode ganhar-se pela qualidade das ideias de um candidato, mas também pelos erros que os adversários dele cometam. Um produto pode impor-se pela sua qualidade, mas a sua afirmação também depende, pelo menos em parte, do infortúnio dos produtos que lhe fazem sombra. l 81


arte&Design

Feir a

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a n t i g u i da d e s

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L i s b oa

ada p ta-se aos t e m p o s modernos p e l a p r i m e i r a v e z e m m a i s d e d u a s d é c a d a s d e h i s t ó r i a , o c e r ta m e c o n ta r á c o m c o n c e r t o s d e j a z z , p r o va s d e v i n h o , v i s i ta s g u i a d a s , u m a e x p o s i ç ã o d e c a r r o s l u x u o s o s e at é c o m a p r e s e n ç a d e u m r e s ta u r a n t e d e c o z i n h a d e a u t o r . O o b j e c t i v o ? D i v e r s i f i c a r o p ú b l i c o e a d a p ta r - s e a o s t e m p o s m o d e r n o s .

A

microarte galeria J ú l i o P o m a r ; S / T í t u l o ; Téc. Lápis de cera s/ pa p e l ; DIM . : 3 1 , 5 x 4 1 , 5 c m

isso, a associação, que conta actualmente com ideia de juntar no mesmo espaço um 52 associados, deu um importante passo que Aston Martin, um Amadeo de Souzateve início o ano passado, ao permitir que -Cardoso, uma Terracota chinesa da digaleristas de arte moderna e contemporânea, nastia Tang e uma peça de mobiliário devidamente credenciados, entrassem para de época, não é nova, nem desprovida a APA. Nas palavras do actual presidente da de sentido, se pensarmos que estes luxuosos bens se associação de antiquários, Manuel Castilho, a conjugam na perfeição, para quem tenha um gosto Catarina da Ponte arte moderna e contemporânea e as antiguirequintado e algum dinheiro para investir. dades conjugam-se perfeitamente, “aliás, o Na Holanda, a TEFAF Maastricht, talvez a maior público sobrepõe-se”, explica. referência nas feiras de arte mundiais, o conceito Além da Arte Contemporânea, a II edição existe há mais de 25 anos, e é uma verdadeira experiênda Feira de Arte e Antiguidades, que contará com a presença de cia para os amantes de arte. Em Londres, a Masterpiece London Fair, que se realiza anualmente desde 2010, reúne sob o mesmo tecto obras de arte, cerca de 31 associados, vai actualizar o seu conteúdo, convidando expositores que não fazem parte da associação como, por exemantiguidades, jóias, carros e até perfumes de marcas de luxo. plo, a Giefarte, galeria de arte que irá apresentar três ceramistas A partir deste ano, Lisboa não ficará atrás das suas congéneres. contemporâneas. Manuel Castilho refere que: “Este ano a APA A feira da Associação Portuguesa de Antiquários (APA), que vai tomou a decisão de convidar pessoas conducentes a melhorar o decorrer entre os dias 14 e 21 de Abril, na Cordoaria Nacional, ambiente da feira, para criar uma atmosfera mais contemporânea será também um evento de “pompa e circunstância” e uma vere estimulante, mesmo que não sejam associados”. dadeira experiência para os mais exigentes apreciadores de arte, Outro aspecto inovador relativamente às edições anteriores é a antiguidades, design, automóveis e gastronomia. própria fisionomia da feira. Para quebrar alguma monotonia, o certame Em 2012, a Feira contou com a presença de 14 mil visitantes, e a passará a ter ‘stands’ dos dois lados, em maior número mas mais curtos. meta deste ano é superar este número, diversificando a oferta. Para 82


Pedro Aguiar Br anco Sa l va d e p r ata d o u r a d a ; P o r t u g a l ; s É c . XVI ; d ata d a d e 1 5 4 8 ; P r o v e n i ê n c i a R e i D . F e r n a n d o II d e P o r t u g a l ( 1 8 1 6 - 1 8 8 5 )

Manuel Castilho Ca b e ç a d e B o d h i s at t va e m t e r r a c o ta ; Ga n d h a r a ; K u s h a n ; Pa q u i s tã o o u A f e g a n i s tã o ; s é c . IV / V

Galeria S. Mamede M á r i o B o ta s ; S / T í t u l o ; 1 9 8 1 ; T é c . m i s ta s b pa p e l ; DIM . : 2 6 x 1 8 c m

a n t i g u i da d e s S ão Ro q u e Pa r d e Ta ç a s pa r a V i n h o e m T u r b o Ma r m o r at u s G u z a r at e ; Í n d i a ; 2 ª m e ta d e d o s é c . XVI ; Ma d r e p é r o l a ; D i m . : 7, 0 c m x 1 7, 0 c m x . 8 , 0 c m

g a l e r i a da a rc a da figura de presépio; barro; p o l i c r o m a d o at r i b u í d o a antónio ferreira; portugal; séc. xviii

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ARTE & D ESIGN

por exemplo, na compra de acções, onde Outra novidade desta edição é o horário, há muitas oscilações. “Penso que este é um este ano mais diurno, as portas estão abertas mercado alternativo, que além de lucrativo diariamente entre as 17h30 e as 23h00, excepto é uma espécie de caça ao tesouro”, explica o ao domingo, dia em que abrem às 11h00 e encerpresidente da APA. ram às 20h00. Com este novo horário, pretendeE o que está na moda neste mercado? Com se que os interessados possam aproveitar o dia alguma resistência, porque os gostos são do para visitar a feira em família. Ao domingo, o foro subjectivo, o especialista arrisca dizer que restaurante servirá, inclusive, um brunch. as peças do período da Expansão portuguesa, “A arte é o melhor barómetro do que está sobretudo as peças indo-portuguesas, são a a acontecer no nosso mundo. É melhor coqueluche do mercado, facto que atribui ao que o mercado de acções ou os debates no impulso dado pela Comissão Nacional para as Congresso dos EUA”, garantia o historiaComemorações dos Descobrimentos Portudor Hendrik Willem Van Loon. Manuel gueses (CNCDP). Castilho concorda: “É um investimento extremamente seguro e atractivo. Para um c a s a d ’a r t e Pa r d e c a d e i r a s d e b r a ç o s D . J o s é ; Qualidade e excelência da Feira coleccionador convencional, será um inPa u Sa n t o ; P o r t u g a l , S e c . XVIII ; D i m : 8 7 x 7 1 x 5 7 c m atestada por peritos vestimento a médio prazo e a longo prazo A Feira de Arte e Antiguidades da Cordoaria é um investimento excelente”. Quer isto Nacional de Lisboa é a única feira em Portugal que tem peritagem, dizer que é preciso ter em conta que uma peça de arte tem um ou seja, que possui uma comissão de especialistas em várias áreas, período de valorização longo para que se torne rentável. designadamente loiça de exportação ou outro grupo de faianças, Se fizermos uma retrospectiva, observamos que de facto a pintura pratas, entre outras formas de arte e antiguidades. A comissão de e as antiguidades têm batido recordes nos leilões internacionais de peritagem é constituída por pessoas do munLondres, Nova Iorque e Paris, mesmo num do académico, de museus e restauradores Galeria João esteves de oliveir a José Pedro Croft que, antes de a feira abrir ao público, têm Expositores T é c n i c a m i s ta s / pa p e l dois dias completos para visitar os stands, presentes na ii Feira de Arte Assinado, 2009 DIM . : 7 1 x 1 0 0 c m e Antiguidades de Lisboa observando e analisando criteriosamente a justeza da descrição dos objectos: veracidade, Antigo q.b. qualidade, época e a proveniência de todas Antiguidades Ivo Cruz as peças. Se os peritos considerarem que a Antiguidades São Roque Art Form descrição de época ou proveniência não está Câmara dos Pares certa, têm legitimidade para pedir a alteração Casa d’Arte da descrição da peça bem como requerer que D. Carlos sejam retiradas peças duvidosas ou menores. d’Orey & Cardoso A peritagem garante rigor e qualidade Espadim Francoise Baudry quer para os compradores, quer para os GAD - Galeria Antiks Design próprios expositores que se preocupam com Galeria da Arcada a excelência e qualidade das peças que apreGaleria João Esteves de Oliveira sentam ao público. Aliás, “um dos grandes Galeria Presença momento de crise como este. De acordo Galeria S. Mamede fascínios da feira da APA é que as pessoas com Manuel Castilho, o investimento em Giefarte guardam peças excepcionais, por vezes duantiguidades e obras de arte tem uma Ilídio Cruz rante um ano, para levarem especificamente grande vantagem que o distingue, por Isabel Lopes da Silva a esta feira”, garante Castilho. José Sanina - Antiquário exemplo, do investimento em acções ou Luis Alegria A qualidade e o prestígio da feira da APA, obrigações que são susceptíveis à volatiM. Murteira Antiguidades que já faz parte dos roteiros internacionais lidade do mercado. Para Castilho, estes Manuel Castilho deste tipo de certames, tem uma considúltimos “não têm piada nenhuma. A pessoa Manuela Gil erável percentagem de público estrangeiro, Manuela Lírio investe o dinheiro e fica à espera que o inMicroarte Galeria sobretudo brasileiros, chineses, americavestimento cresça. Uma pessoa que compra Miguel Arruda Antiguidades nos, ingleses, suíços e franceses. “Alguns uma pintura bonita pode usufruir dela”. Old Garage Cascais - Duarte Pinto Coelho são turistas en-dinheirados que acham Por outro lado, o negócio deste sector Ourivesaria Antiga de José Baptista interessante comprar uma peça enquanto PAB - Pedro Aguiar Branco tem uma característica própria que é a Pedro Castro e Silva estão de viagem (sobretudo os americanos), do enriquecimento pessoal. Os compraPorcelana da China outros são comerciantes, principalmente dores e coleccionadores, à medida que vão Ricardo Hogan Antiguidades chineses e brasileiros”, remata o presidente adquirindo peças, tornam-se cada vez mais da Associação. l conhecedores. O mesmo não acontece, 84



arte & Design

e C Arte ult ur a A 3 6 00

D o fa b r i c o d e j ó i a s à a r t e c o n t e m p o r â n e a , pa s s a n d o p e l a g a s t r o n o m i a e v i n h o s n u m a e n o t e ca , o P r o j e c t o T r av e s s a da E r m i da i n t e g r a q u a s e t o da s a s á r e a s da s a r t e s e da c u lt u r a .

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Foto

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carlos Renato Teixeira

I

magine um espaço onde pode desfrutar sensações tão diferentes como aquelas que lhe provocam um encontro com o património histórico, a degustação de um bom vinho, ou o desenho de jóias e os traços de alguns dos artistas contemporâneos mais arrojados. Imagine que num instante pode passar da contemplação de uma instalação de arte para a degustação de um reserva do seu tinto preferido ou de uma iguaria de cozinha de autor. Tudo o que lhe propomos que imagine pode transformar-se em realidade, por iniciativa do Projecto Travessa da Ermida. Lançado em 2008, o projecto tem contribuído para a promoção da arte urbana e contemporânea, do design, da joalharia de autor e do enoturismo, entre outras formas de arte e cultura. A vontade de um médico de recuperar uma Ermida setecentista esquecida numa ruela secundária na zona lisboeta de Belém, entre os Pasteis de Belém e o Museu da Presidência da Republica, fez nascer este conceito inovador em Portugal, que já faz parte dos roteiros culturais. O Projecto Travessa da Ermida contempla a Ermida Nossa Sr.ª da Conceição, que acolhe exposições de arte contemporânea e design, a Enoteca de Belém, onde decorrem as experiências vínicas e gastronómicas, e a Oficina de Joalharia Alexandra Corte-Real, onde são expostas jóias da autora. Pela Ermida Nossa Sr.ª da Conceição já passaram nomes importantes da arte contemporânea portugesa, como Eduardo Nery, Susanne Themlitz, Pedro Calapez, Vasco Araújo, Daniel Blaufuks, Ângela Ferreira, João Paulo Feliciano, entre outros, e curadores como Paulo Reis e Mário Caeiro. No campo da intervenção artística de rua, nomeadamente na fachada da Ermida, já ali intervieram designers como o R2 Design, Pedrita, Vivóeusébio e o Pedro Soares Neves. Ao contrário do que se possa pensar, a Ermida Nossa Sr.ª da Conceição não comercializa as obras que expõe e, ao longo destes anos, tem vindo a constituir um importante acervo de arte contemporânea portuguesa. “Vivemos num tempo em que é preciso criar cultura”, explica Eduardo Fernandes, o grande ideólogo deste espaço, 87


Um dos projectos que está na forja ainda para 2013, é a realização de uma calçada da autoria do artista madeirense Rigo, actualmente a residir nos Estados Unidos. O projecto resulta da articulação com as instituições envolventes. “Os calceteiros que irão concretizar o desenho da calçada são fornecidos pela Câmara Municipal de Lisboa”, explica Eduardo Fernandes. A mesma articulação acontece no campo do Turismo: “O projecto beneficia da divulgação do Turismo de Lisboa e, em troca, dá vida a um espaço que estava votado ao esquecimento”.

Uma pérola escondida A Enoteca de Belém, fundada em Novembro de 2009, é o local dedicado à experimentação, ao encontro de pessoas e sabores, numa atmosfera intimista e artística inerente ao conceito do Projecto Travessa da Ermida e aos seus espaços. Na Enoteca, o cliente tem à sua disposição uma carta de vinhos com cerca de 80 referências. A Vini Portugal e a revista “Wine Essência do Vinho” distinguiram, este espaço pela qualidade do serviço de vinho a copo e no campo gastronómico, que não é descurado, o chef Ricardo Gonçalves prepara iguarias que o vão surpreender, tendo como testemunha quatro litografias de uma série intitulada “O Vinho”, da artista plástica Paula Rego. A Enoteca tem o seu próprio vinho – o Travessa da Ermida reserva 2010 – nesta colheita desenvolvido pelo enólogo Mota Capitão, da Herdade de Porto Carro. Talvez por tudo o que acima foi dito, o portal de viagens tripadviser tenha considerado a Enoteca de Belém como um dos “10 Hidden Gems for Wining and Dining”. Uma das dez pérolas escondidas do mundo dos vinhos e da gastronomia. A Oficina de Joalharia Alexandra Corte-Real, que completa o Projecto, é um espaço de criação de joalharia contemporânea dividido em três áreas distintas, ateliê e espaço expositivo e de venda. A joalheira residente, que empresta o nome à Oficina, é natural do Porto, tendo desenvolvido a sua arte na escola de joalheiros Contacto Directo. l

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LAZER

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G u i a s

v i ag e m

de

autor

João Bénard Garcia

N u m a é p o c a e m q u e o d i g i ta l g a n h a t e r r e n o h á u m a n o va t r i b o d e v i a j a n t e s u r b a n o s , c u lt o s e a b a s ta d o s q u e c o m p r a g u i a s t u r í s t i c o s i m p r e s s o s d e l u x o e o s e x i b e n a s av e n i da s d e c h a r m e da s c i da d e s q u e v i s i ta . U m a m o da q u e s e e s tá a t o r n a r n u m c u lt o à e s c a l a m u n d i a l .

H

á uma linha apreciável que separa o simples acto de viajar do verdadeiro culto de se deixar conduzir, com guias turísticos de luxo na mão, pelas avenidas, monumentos, antiquários, lojas, hotéis e restaurantes de charme das mais deslumbrantes capitais mundiais. A informação neles contida ganha especial relevo quando se baseia em notáveis conhecimentos compilados por jornalistas, criadores e escritores, muitos deles consagrados. Grandes marcas de luxo conhecem a importância destes artefactos. Editoras de dimensão mundial exploram-nos. Viajantes urbanos com elevado poder de compra seguem as suas recomendações fielmente.

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Com veneração – e até sinais de vaidade – –, milhares de turistas especiais caminham, à margem dos roteiros de massas, por ruas elegantes, frequentam hotéis de charme, comem em restaurantes gourmet, visitam edifícios lendários normalmente fechados ao público, descobrem galerias de arte, conhecem ateliês de estilistas, usufruem de experiências únicas e compram em lojas exclusivas das cidades referenciadas nestes guias, ostentando os objectos de culto, agora elevados ao estatuto de “passaporte” e símbolos “facilitadores” do acesso aos espaços das maiores marcas do luxo do mundo. A Louis Vuitton foi uma das primeiras griffes a compreender a importância dos livros e publicações de bolso nos instantes

de viagem dos seus clientes. Há décadas que os autores dos “Louis Vuitton City Guide”– impressos em papel de bíblia e luxuosamente encadernados – desvendam destinos clássicos de luxo, anunciam novidades, revelam paragens distintas, mapeiam roteiros exclusivos e passam a pente-fino dezenas de milhares de moradas dos locais mais elegantes e vibrantes, nas 100 principais cidades do mundo. A conceituada marca francesa, que se tornou uma referência pelas suas sofisticadas e elegantes malas e baús de viagem, convidou para 2013 uma panóplia de personalidades ligadas às artes e cultura e desafiou-as a desvendarem os pontos fortes das suas cidades natais. A tarefa de revelar os segredos de Lisboa ficou a cargo da


artista Joana Vasconcelos, a portuguesa que fez furor ao expor as suas instalações em Versailles, no Verão de 2012. Londres ficou por conta da irreverente Camilla Johnson Hill, a renomada produtora britânica de moda e lifestyle e colaboradora habitual da revista Vogue. Moscovo coube ao controverso actor e cineasta russo Nikita Mikhalkov, um dos maiores apoiantes do Presidente Vladimir Putin. Além dos rigorosos relatos sobre cidades, a edição 2013 dos “LV City Guides” oferece aos aventureiros urbanos, pela primeira vez na sua história, um roteiro individual detalhado, com 600 moradas, da cidade americana de São Francisco, e dá ainda palco à estreia de novos destinos europeus, tendo para o efeito seleccionado as cidades de Ecaterimburgo (Rússia), Kitzbuhel (Áustria), Lugano e Verona (ambas em Itália).

entre o mais exigente jet-set internacional, um estatuto de culto e é uma presença obrigatória, no formato concertina ou no de livro de bolso, nas malas e carteiras de quem quer viajar com estilo. Idealizados por Grant Thatcher, após uma longa e frustrada viagem pelo Oriente em 1996, os guias “LUXE” conseguiram revolucionar, de forma discreta e após mais de 1,4 milhões de cópias vendidas, o modo clássico de elaborar roteiros inteligentes e elegantes de viagens. Partindo do zero, os responsáveis começaram a trabalhar num conceito de guias de luxo e lazer elaborados por jornalistas, artistas e escritores que vivem nas cidades que relatam. Não se limitando ao que se pode visitar em cada destino, estes roteiros do bom gosto apostam numa elevada qualidade de design e num conteúdo pormenorizado, ensinando-nos tudo o que precisamos saber antes de viajarmos e explicando o que se pode fazer à chegada e o que não se deve fazer. Com recurso mínimo a gráficos e fotografias, os seus editores acreditam ter conseguido coligir informações sobre cada cidade que excedem o essencial e oferecem ao leitor mais ROTEIROS COM exigente dados exclusivos, I N F ORMA Ç Õ ES E rápidos e assertivos, e itineDESI G N EXCLUSIVO SU G EREM SE N SA Ç Õ ES rários de excelência. Mais, Ú N ICAS sabendo de antemão que a moda, os restaurantes e o entretenimento As pessoas que buscam experiências de são actividades volúveis, os responsáveis pelos luxo em viagem ou os coleccionadores casei“LUXE City Guides” disponibilizam actualizaros deste tipo de publicações exclusivas podem adquirir qualquer uma destas 40 “peças ções mensais online gratuitas aos compradores dos guias em papel. Basicamente, o desejo dos de viagem” da colecção LV City Guides para editores é que o viajante relaxe por completo 2013 em qualquer loja da marca francesa, e se foque no que realmente lhe interessa: ter através do sítio www.louisvuitton.com, em acesso ao que é de luxo. algumas lojas de aeroportos e em livrarias Apresentados em boxes regionais e francesas especializadas. Cada guia de cidade temáticas, com preços que variam entre os custa 25 Euros. A caixa Europa, com nove 40 e os 95 Euros – facultando ainda aos utiguias de bolso sobre 31 cidades, está à venda por 120 Euros. A caixa “City Guide Postcard”, lizadores a liberdade de poderem escolher e compor os seus próprios pacotes de guias – que inclui 100 postais, três conjuntos de –, os “LUXE City Guides” são vendidos em autocolantes e a biografia de Ruben Toledo, www.luxecityguides.com. Há oito destinos o ilustrador de serviço dos roteiros da LV, fica do tour asiático, igual número de cidades por 85 Euros. europeias e um tour por doze cidades do planeta à escolha do viajante. Os clientes Roteiros elegantes e inteligentes destes roteiros exclusivos podem contar Em apenas onze anos, outra publicação – com luxuosos acabamentos: as capas são – os guias “LUXE City Guides” – alcançou, 91


LAZER produzidas em papel de alta qualidade ou forradas a veludo táctil ou linho fino e incluem ilustrações a tinta-da-china ou ainda suaves aplicações metálicas. O frontispício destes guias pode ainda ser personalizado com o monograma ou até o brasão do viajante ou também, por vezes, ostentar o logótipo de uma empresa. Guias que nos tratam como reis No extenso universo dos guias e roteiros premium sobre viagens nem tudo se resume aos “LV” ou aos “LUXE City Guides”. Os mais antigos, respeitados e famosos roteiros gastronómicos e turísticos são os guias vermelhos da Michelin. Projectados por André Michelin e editados em França desde 1900, são também um clássico na atribuição dos maiores galardões – as

MILHARES DE TURISTAS PASSEIAM PELOS LOCAIS DE LUXO COM G UIAS DE ALTA QUALIDADE

famosas estrelas Michelin – aos melhores restaurantes e hotéis do mundo. Os guias vermelhos Michelin são publicados em 23 países, depois de preparados e impressos num ambiente de grande secretismo. São os seus críticos quem escolhe e premeia os restaurantes e hotéis merecedores da atribuição das suas invejosas estrelas – três no máximo – e quem determina quais os chefes estrelados que merecem constar nesta bíblia da gastronomia. O grande rival dos livros Michelin é o Guia Relais & Châteaux, uma publicação criada em 1961 que, transformada em roteiro de superluxo, se converteu numa obra de referência para viajantes com elevado poder de compra. Em mais de 680 páginas des92

Lisboa é a quarta cidade mais bonita do mundo A capital portuguesa é a quarta cidade mais bela do planeta e foi classificada como “a primeira capital da aldeia global”. A distinção foi feita pelo sítio de viagens “Urban City Guides”, num ranking dos dez melhores destinos para visitar. Lisboa foi ainda considerada uma das mais belas cidades cénicas, onde se escuta o “melancólico fado” entre ruas coloridas e pitorescas, com “vistas inesperadas” e ambientes “cool” que “surpreendem a cada esquina”. “A cidade tem uma aparência sedutora; uma beleza natural com detalhes cativantes, como os azulejos, em fachadas de edifícios que lhe conferem uma atmosfera cromática e singular”, refere o guia online de viagens. Portugal, enquanto país, aparece também num honroso sexto lugar entre as mais belas nações do mundo que merecem ser visitadas. l

filam imagens e são contadas histórias de 150 chefes e dos gerentes de cada um dos mais de 520 hotéis e restaurantes gourmet da reputada cadeia hoteleira internacional Relais & Châteaux. Todos os anos mais de 800 mil pessoas adquirem este guia de charme que divulga cenários excepcionais, restaurantes de excelência, roteiros gastronómicos sedutores e oferece experiências inesquecíveis a quem procura as luxuosas unidades desta cadeia hoteleira. Livros práticos cheios de informação Igualmente dignos de destaque no campo editorial (e sempre associados a publicações de renome mundial) estão os guias “Wallpaper City Guides”, os roteiros da Monocle

ou ainda os práticos cadernos de cidade da marca Moleskine. A colecção dos City Notebooks da Moleskine, com o formato tradicional dos pequenos livros de apontamentos, escalpeliza ao detalhe 44 cidades americanas, asiáticas e europeias. Lisboa e Porto também aparecem na selecção desta famosa marca italiana de cadernos de notas. Os City Notebooks têm 228 páginas, incluindo bolsas de arquivo para guardar bilhetes e outras recordações, mapas das cidades, descrição dos principais bairros, indicação das linhas de metropolitano, listas das ruas, os principais locais de interesse e 76 páginas em branco para anotações e comentários de viagem. Podem ser encomendados em http://www.moleskine. com/en/collections/model/city-notebooks ou adquiridos na FNAC e no El Corte Inglés. Os City e Country Guides da revista Monocle são distribuídos como suplementos da publicação internacional e seguem o seu estilo editorial. O enfoque é dado às últimas novidades e tendências de cada destino, mais do que em despejar sobre o leitor informações turísticas clássicas comuns nos guias convencionais. As sugestões da equipa de Tyler Brûlé vão desde os restaurantes e bares da moda aos ateliês de artistas e designers do momento e a uma selecção das lojas mais trendy. Cobrindo 60 das cidades mais “intoxicantes”, os City Guides da Wallpaper seguem o estilo das recomendações da Monocle, ou não fosse o mesmo Tyler Brûlé o fundador e antigo director da revista. Só que, ao contrário dos da Monocle, os guias da Wallpaper são roteiros compactos convencionais com 128 páginas de informações e ilustrações, sendo vendidos separadamente da revista. Estas publicações de viagens apostam sobretudo nas recomendações de design, arquitectura e de hotéis, restaurantes e lojas mais sofisticados, em linha com o espírito da publicação. A edição em papel custa 8 Euros e a aplicação para iPhone e iPad está disponível por 3,5 Euros. Há quatro colecções de guias com cinco cidades (Cidades de Itália, Cidades de Espanha, Cidades da Ásia e Cidades dos Estado Unidos), vendidos por 51,5 Euros cada que podem ser comprados em http://uk.phaidon.com/store/travel/. Agora que já conhece os melhores companheiros de viagem, basta fazer as malas e partir para o seu destino favorito. Sem esquecer, claro está, o seu cartão platina. l



lazer

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Ma d e i r a

A Pérola do Atl ântico Fotos gentilmente cedidas pelo turismo da madeira

Com um clima subtropical, uma h i s tó r i a fa s c i n a n t e , pa i s ag e n s ú n i c a s e u m a f lo r a m u i to p r ó p r i a , a i m ag e m da M a d e i r a e s tá a m u da r e a at r a i r c a da v e z m a i s t u r i s ta s d e to d o o m u n d o.

Sofia Arnaud

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LAZER

A

imagem da Madeira tem mudado nos últimos anos. Novas ofertas têm atraído mais turistas para a região. Destino reconhecido pela sua beleza paisagística, amenidade climática, valor arquitectónico, cultura tradicional única, gastronomia muito própria e também pela amabilidade da sua gente, a Madeira conta agora com novos argumentos, como os renomados hotéis de cinco estrelas, alguns dos quais premiados internacionalmente, jardins e parques com abundante variedade de flores, plantas e árvores e teleféricos que proporcionam vistas fantásticas sobre o Funchal. O Funchal nasceu a partir da baía e foi crescendo até à montanha. À noite, as luzes acendem-se num verdadeiro presépio. O famoso vinho, os bordados e as flores coloridas são algumas das principais marcas da Madeira, exibidas orgulhosamente pelas suas gentes. Uma descida nos carros de cesto, uma viagem de teleférico cruzando os céus da cidade ou uma passagem pelo mercado dos Lavradores, concebido inicialmente para a venda de flores e onde actualmente é possível encontrar todos os produtos da região e até algumas especialidades da gastronomia regional, são actividades obrigatórias para quem visita o arquipélago. Além do mercado dos Lavradores, existem por toda a ilha vários mercados típicos madeirenses. Os mais conceituados situam-se na Santa (Porto Moniz), Ponta Delgada e no Santo da Serra. A Madeira é um Jardim Também conhecida como o “Jardim Flutuante do Atlântico”, a ilha da Madeira conta com uma grande variedade de jardins e parques, cuidadosamente mantidos, e exibindo uma vasta gama de flores, plantas e árvores. De tal forma que em 2000 o Funchal recebeu o galardão de ouro “Cidade Florida Europeia de 2000”. Destacam-se o Jardim Orquídea, onde se procede à investigação e criação de novas espécies de plantas, o Jardim Tropical Monte Palace, localizado no Monte e que alberga uma das mais importantes colecções de azulejos de Portugal, ou o Jardim Botânico, situado a três quilómetros do centro do Funchal, na Quinta do Bom Sucesso, que pertenceu à família Reid’s e que é actualmente propriedade do Governo. Este último, além de ser um belo espaço de lazer, é também um Centro de Ciência e Cultura. Para os visitantes mais arrojados, existe um teleférico que liga as Babosas (Monte) ao Jardim Botânico, garantindo vistas deslumbrantes. Os doces regionais da Fábrica de Santo António têm a “patine” especial de serem produzidos numa das mais antigas fábricas artesanais portuguesas e que se manteve desde sempre na mesma família. Fundada em 1894, por Francisco Roque Gomes da Silva, é onde se faz, entre outras especialidades, o famoso bolo de mel. As bolachas, as compotas, a marmelada feita num tacho de metal antigo, os rebuçados de funcho e as amêndoas, são outras delícias que se podem encontrar na loja, que ocupa a parte da frente da fábrica e que conserva o aspecto de uma mercearia antiga. Para os verdadeiros apreciadores de vinho, sugerimos-lhe uma visita à Madeira Wine Company, pertencente e gerida pelas famílias Blandy, da Madeira, e Symington, do Porto, ambas de origem inglesa mas há muito radicadas em Portugal. Aqui pode encontrar as marcas de vinho Blandy’s Madeira, Cossart Gordon Madeira, Leacock’s Madeora e Miles Madeira. The Old Blandy Wine Lodge, no Funchal, é a adega mais antiga da ilha. Incorpora parte do antigo mosteiro franciscano, que data do sécu96

lo XVII. Em 2002, o edifício foi oficialmente declarado monumento histórico. No entanto, é uma adega que está em plena actividade e muitos dos melhores vinhos da Madeira Wine Company têm sido envelhecidos aqui desde 1840. Na costa sul da ilha da Madeira, e um pouco além do cabo Girão, encontramos a Fajã dos Padres, que pertenceu em outras épocas aos padres da Companhia de Jesus, onde existem ainda vestígios de uma capela que se pensa ter sido mandada edificar pelos eclesiásticos. Foi propriedade do coronel Manuel J. de França Dória que, depois de ter cultivado a cana de açúcar nas suas terras, voltou a estabelecer aí a sua vinha. Dada a sua situação privilegiada, a Fajã é dotada de um micro clima com características particularmente indicadas para culturas subtropicais, como a papaia, manga, pêra abacate, banana e outros frutos exóticos. Existem infra-estruturas de apoio, restaurante, bar e balneário, que permitem ao visitante desfrutar de actividades náuticas, de pesca ou de recreio. Seja de elevador panorâmico, de barco ou de helicóptero, o acesso à propriedade é, só por si, uma experiência inesquecível. A praia de calhau rolado em toda a extensão da propriedade, a transparência e a temperatura amena das águas e a variedade de espécies junto à costa, convidam à prática de mergulho. A noite é em Câmara de Lobos, uma vila piscatória a dois passos do Funchal, repleta de bares. Para os mais aventureiros, o funchal há a possibilidade de recebeu o velejar na réplica da gal ardão de nau “Santa Maria” de ouro “Cidade Cristóvão Colombo. F lo r i da E u r o p e i a A 40 quilómetros do Funchal e d e 2 0 0 0 ”. acessível por barco ou avião, fica a Ilha do Porto Santo, descrito pelos viajantes como o “Paraíso na Terra”. Um passeio pelo extenso areal dourado, um mergulho nas águas cálidas, o golfe, o hipismo, o ténis, o jeep-safari ou os passeios de charrete permitem usufruir da tranquilidade de uma ilha quase virgem. É aqui que fica a casa onde o navegador Cristóvão Colombo viveu e onde actualmente está instalado a Casa ColomboMuseu do Porto Santo, aberta ao público desde 1989. O arquipélago inclui ainda duas pequenas ilhas desabitadas, à distância de uma viagem de barco: as ilhas Desertas e as Ilhas Selvagens. A Natureza no seu Estado mais Puro É exactamente também essa a sensação que tem quem calçar uns sapatos confortáveis e se aventurar pelas famosas “Levadas” da Madeira, entre flores e caminhos estreitos que podem levar o viajante até aos 1.862m de altitude! Existem vários trajectos, mas os mais conhecidos são os que ligam o Rabaçal às 25 Fontes, as Queimadas ao Caldeirão Verde, o Pico do Areeiro ao Pico Ruivo e o Ribeiro Frio à Portela. O clima ameno que caracteriza a Madeira permite a prática de actividades desportivas e de lazer ao ar livre em qualquer época do ano. As escolhas vão desde os desportos náuticos, até aos mais radicais. E para há ainda a volta nos campos de golfe da Madeira, o trekking e os passeios a pé. l


Hotelaria: charme e tradição No arquipélago da Madeira encontram-se alguns hotéis premiados internacionalmente, como é o caso do Reid’s Palace, considerado o 13.º melhor da Europa e o 25.º melhor do mundo, ou o Pestana Porto Santo, em 18.º no top europeu dos resorts, de acordo com o Travelers Choice de 2012 da TripAdvisor. Para os mais românticos, o arquipélago dispõe das “Quintas da Madeira”. São pequenos palácios rurais de arquitectura clássica madeirense, rodeados de árvores centenárias e de pequenos riachos que serpenteiam os jardins. Nestas casas senhoriais, o luxo, o requinte e a tradição aliam-se às novas comodidades, como os Spas, as piscinas, ou os restaurantes panorâmicos com vista para o mar e para a serra. Para um ambiente mais descontraído e próximo da Natureza, o Turismo Rural é a melhor alternativa. l

O s b o r d a d o s t í p i c o s , o s m e r c a d o s c o l o r i d o s , a va r i e d a d e de desportos, a gastronomia e os hóteis de charme são algumas das marcas da madeir a

Gastronomia A ilha da Madeira possui uma cozinha regional muito rica. As espetadas em pau de louro são um dos pratos típicos mais apreciados. Muitos restaurantes dispõem de mesas com uma espécie de cabide em ferro ao centro, onde se penduram os espetos. Os pratos de marisco e de peixe fresco também fazem parte do cardápio local. Lapas, polvo, camarão, bife de atum e filetes de espada são exemplos das iguarias regionais. O característico bolo-do-caco é um pão caseiro amassado com batata doce sempre presente à mesa. E há ainda a rica doçaria madeirense e o Bolo de Mel, confeccionado à base de especiarias e mel de canade-açúcar, as saborosas queijadas e os afamados rebuçados de funcho. Tudo isto acompanhado com a poncha, uma traiçoeira mistura de sumo de limão, mel de abelha e aguardente de cana. Dizem os locais que uma poncha aquece, duas embriagam e três adormecem. Apreciado em todo o mundo e com uma tradição de mais de cinco séculos, o vinho da Madeira é um dos mais famosos ex-líbris do arquipélago. l

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LAZER

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razões para

visitar a Madeira

Existem muito mais do que 10 boas razões para visitar a Madeira, mas as restantes mil e uma reservamo-nos ao direito de não as revelar. Para que seja você mesmo a descobri-las. F e s ta d e Ca r n ava l A efeméride do Entrudo na Madeira é intensamente vivida. São famosos os seus dois cortejos: o Grande Cortejo Alegórico que ocorre no Sábado de Carnaval nas principais ruas do Funchal e o Cortejo Trapalhão que se realiza na terça-feira de Carnaval, um desfile tipicamente madeirense, onde qualquer um pode participar, inclusivamente turistas. Os mais pequenos não são esquecidos, participando da Festa de Carnaval das Crianças que se realiza nas escolas do Funchal. É uma época 98

em que a baixa da cidade se enche de animações carnavalescas para todos os gostos e idades.

visitar a ilha da Madeira e Porto Santo e treinar nos três campos de Golfe que estas regiões oferecem.

F e s ta d a F l o r Com a chegada do equinócio da Primavera, o Funchal transforma-se num autêntico palco de coloridas flores da época que deixa no ar o aroma da flora típica da ilha. Na Praça do Município é construído o “Muro da Esperança” pelos mais novos que culmina com uma largada de pombos e um espectáculo infantil. No dia subsequente tem lugar o Grande Cortejo da Flor, um desfile com centenas de figurantes e carros alegóricos alusivos à flor. A zona central da Avenida Arriaga acolhe o Mercado das Flores e a Exposição da Flor. Para quem gosta do cheiro primaveril das flores e de um espectáculo visual, não pode deixar de visitar o Funchal nesta época do ano.

F e s t i va l d o At l â n t i c o Há mais de dez anos que o Festival do Atlântico inaugura a época balnear na Madeira com uma intensa programação no mês de Junho, designadamente com o Concurso Internacional de fogo-de-artifício na Madeira, o Festival de Música da Madeira e o Classic Motor Show. O Concurso Internacional de Fogo de Artifício decorre durante os quatro sábados consecutivos de Junho, pelas 22h30 no molhe exterior da Pontinha, onde três países convidados apresentam um espectáculo de 20 minutos cada. Na baixa da cidade também não falta entretenimento durante este período, há toda uma programação de espectáculos musicais no palco de entrada do Cais da Cidade, antes e depois dos espectáculos piromusicais.

Madeira Island Open Golf Este evento que reúne anualmente, durante uma semana, mais de cem renomados jogadores de Golfe, faz parte do calendário europeu de provas da modalidade. Durante este período os praticantes de Golfe aproveitam a estadia para

V o lta à M a d e i r a C l a s s i c Ra l ly Este evento é talvez um dos mais populares e de maior interesse turístico da região. Trata-se de uma mostra de carros clássicos e originais que fazem parte do património histórico

da Região Autónoma da Madeira. Ra l i V i n h o Madeira Esta prova é uma das mais importantes do Campeonato Europeu de Automobilismo e constitui a maior manifestação do sector na Madeira, contando com consagrados nomes do automobilismo mundial. No Rali Vinho Madeira os participantes percorrem vários pontos da ilha durante dois dias, observados e seguidos por milhares de pessoas que se posicionam nas serras da região à procura do melhor lugar. F e s ta d o V i n h o da M a d e i r a Evento anual que faz uma ode aos velhos hábitos da população madeirense em torno da produção deste néctar, realizando-se na primeira semana de Setembro. Nas Placas Centrais da Avenida estão patentes exposições e quadros vivos alusivos ao Vinho da Madeira bem como Grupos Folclóricos provenientes de vários pontos da Europa. Na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos começa a festa com a vindima ao vivo. A apanha da uva, os cortejos dos vindimadores, a pisa da uva e todo o restante ritual


do arraial típico madeirense são momentos vividos com entusiasmo por todos os que assistem às festividades. F e s t i va l Colombo Inspirado na personagem histórica de Cristóvão Colombo, intrinsecamente ligado à história da Região Autónoma da Madeira, o Festival Colombo realiza-se na ilha do Porto Santo, Cidade de Vila Baleira, desde o ano 2000. Fazendo uma recriação histórica do século XVI com uma feira na qual são representados alguns momentos deste período como o desembarque do navegador, uma guarnição militar, um espaço infantil com jogos renascentistas, artes circenses, cenas teatrais, actuações de bandeirantes e animação variada com danças europeias e orientais. M a d e i r a Nat u r e F e s t i va l O Madeira Nature Festival realiza-se este ano pela terceira vez consecutiva e é a oportunidade perfeita para experimentar várias actividades ao ar livre em diferentes ambientes e terrenos: no ar, nas montanhas e no mar. Durante uma semana, os visitantes têm a possibilidade de experimentar diversas

actividades dirigidas a todas as faixas etárias. F e s ta s d e Nata l e Fim de Ano A época de final de ano e início de ano novo é inaugurada no Funchal com iluminações na baixa da cidade. A acompanhar este cenário há toda uma programação com concertos, actuações de bandas filarmónicas e grupos folclóricos, bem como exposições natalícias que transformam o Funchal num verdadeiro presépio vivo. Esta é a época de excelência dos madeirenses que se referem a ela como “A Festa”. Outra coqueluche da quadra é a celebração das 9 missas do Parto que têm lugar de madrugada para anunciar o Nascimento do Menino Jesus. No dia 23 de Dezembro realiza-se a tradicional festa da Noite do Mercado, onde se podem fazer as últimas compras de Natal. Passado esta quadra a animação prossegue numa atmosfera de antecipação e acolhimento do novo ano com o já conhecido fogode-artifício, reconhecido oficialmente pelo livro de recordes do Guiness, em 2006, como o maior fogo-de-artifício do mundo.

As saborosas queijadas e o tr adicional v i n h o da m a d e i r a fa z e m a s d e l í c i a s d o s v i s i ta n t e s d a i l h a

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lazer

B.O.G.

H ot e l

Mão portuguesa em ouro colombiano O B . O . G . H o t e l p e r t e n c e à e x c l u s i va c a d e i a de Design Hotels. O interior é o reflexo vivo d o s e u e x t e r i o r , s e r v i n d o pa r a c o n ta r a h i s t ó r i a v i va da c i d a d e . Um a h i s t ó r i a s a í da da s m ã o s d e N i n i A n d r a d e S i lva q u e r e c o r r e às duas gr andes riquezas colombianas: ouro e es m er aldas.

miguel morgado

B

ogotá, capital colombiana, simultaneamente calma e enérgica, com seculares praças e igrejas aninhadas ao lado de gigantescos arranha-céus de vidro, transformou-se, nos anos mais recentes, num escaldante destino que atrai, para além de turistas ávidos de cultura, gestores e empresários em busca de novas oportunidades. Com a Colômbia a emergir como um centro de negócios e a ganhar espaço no mapa mundi do turismo, o novo hotel B.O.G. apresenta-se como uma das mais recentes opções para quem quer viver uma nova experiência de alojamento. Localizado numa das principais ruas do exclusivo distrito Norte, o novo edifício emerge com imponência, num cruzamento da rua 86 com a avenida 11, na zona mais trendy para empresários estrangeiros que querem ficar hospedados perto da zona financeira e de entretenimento e moda da capital da Colômbia. Com efeito, num curto raio de acção colado à zona financeira e empresarial da cidade, está a 5 minutos a pé da exclusiva zona de restaurantes e bares da T-Zone, assim como das catedrais do consumo, Andino e El Retiro. Se acrescentar ao relógio mais 15, e se trocar as solas dos sapatos pelo acelerador, encontra-se o Museu Del oro, Museu Botero e de Arte Moderna. Para

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LAZER apimentar com cultura a passagem por esta efervescente metrópole. Inspirado no vizinho Museu del Oro, o B.O.G. Hotel é diferente de todos os outros que caracterizam a capital colombiana. Tão diferente que conseguiu aquilo que poucos hotéis conseguem, e, que, no caso concreto da Colômbia, nenhum tinha conseguido: entrar na selecta lista dos “Design Hotel”. É precisamente esse algo, essa exclusividade de pertença a um grupo de 200 hotéis de design em todo o mundo, concentrado em somente 40 países, que se sente no ar, em cada canto e recanto, mal se pisa o lobby, e que de imediato transporta o hóspede a um lugar de sonho antes de se submeter ao seu esplendor e desenho. Mas antes de entrarmos convém apresentar os responsáveis desta exclusividade. Com um investimento superior a 30 milhões de dólares, o B.O.G. nasce do resultado conjunto de 4 mãos especialistas: o desenho de arquitectura a cargo do colombiano Guillermo Árias e de interiores pela mão da criativa portuguesa Nini Andrade Silva, reconhecida como uma das mais talentosas desenhadoras de interiores da Europa e que conquistou, em 2012, o prémio melhor arquitectura de interiores do Internacional Hotel Awards - Américas, como o projecto realizado nesta unidade hoteleira em Bogotá. O casamento do design utilitário do gabinete de arquitectura Octubre e o simples, e, no entanto, opulento interior da portuguesa Nini obtém um efeito minimalista. Ou antes, um efeito de “ninimalismo” como uma jornalista em tempos apelidou a sua obra. Cores e materiais que contam a história da cidade Juntando o antigo com o moderno e seguindo uma máxima que é aquilo que sentimos e não que vemos que torna o sítio especial, nesta pitada de fantasia, o utilitário exterior do hotel segue este tema, combinando vidro e alumínio com pedras naturais e granito. Se o exterior do hotel é uma massa compacta e rectangular, o seu interior é o testemunho vivo da história da cidade, buscando inspiração nas riquezas colombianas. O fausto do interior do hotel complementa o utilitário exterior do edifício, encontrando-se nesta passagem um paralelo das características da cidade: calma e exuberância. Assim quando Nini Andrade Silva foi contratada para deixar o seu testemunho em Bogotá, encontrou inspiração nas tradicionais matérias-primas e recursos naturais colombianos: o ouro e a esmeralda. Mas em vez de adornar o interior com as pedras preciosas, a designer portuguesa usou materiais artificiais que prestam homenagem aos antigos mineiros. O resultado, imponente e dramático, é um design polido que casa bem com uma cidade industrial. Uma vez dentro do hotel são os seus detalhes que nos fazem apaixonar. Desde logo, mal pomos um pé dentro, um dos pontos de atracção é o tecto de pórtico do átrio de entrada cuja abóbada é sustentada por colunas e detalhes arquitectónicos que se estendem do exterior industrial até ao opulento lobby, restaurante e bar lounge. Espécie de colmeia, que consiste numa estrutura encruzilhada de madeira usando técnicas tradicionais de artesanato, que procuram representar a face de pedras preciosas laminadas e que serve ao mesmo tempo como barreira acústica que ajuda a reduzir o barulho nas movimentadas zonas sociais. Os led’s, para além de provocarem um brilho dourado sobre o espaços públicos, criam calor luminoso. O mobiliário foi feito à medida por Nini Silva e outros artesãos locais e internacionais. O interior está desenhado para oferecer funcionalidade e economia enquanto estimula o sonho e desejos 102

dos hóspedes. Parte desse equilíbrio é atingido ao misturar pedras naturais e bronze com materiais modernos como espelhos, mosaicos e lentes coloridas. Cor, tons e textura são usadas por todo o hotel com uma agradável subtileza. A palete de verdes, cinzentos e beges, por exemplo, acrescenta um ar aconchegante ao espaço, enquanto destaca os seus detalhes naturais inspiradores. Um caleidoscópio de cores que se estende nos 55 quartos que contam igualmente com a mão da premiada designer Nini Andrade Silva. Com o interior do quarto a assumir-se no décor como intencionalmente simples, todo o conforto é assegurado, das camas de lençóis de linho de extrema qualidade desenhados em exclusivo para o hotel, à amplitude dos quartos, passando pelas janelas à prova de ruído, as amplas banheiras de luxo pleno e produtos de casa de banho e cheiros exclusivamente desenhados para o hotel. Nas paredes dos corredores e nos elevadores encontram-se texturas e cores que recriam a fauna colombiana. A entrada do restaurante “La Leo” (ver caixa) tem um hall que destila tons dou-


R e s tau r a n t e “ LA LEO ”

rados, um bar com panamás, frutas exóticas e obras de arte de Hugo Zapata e Olga Amaral pendurados nas paredes e a adornar as mesas. Chegada ao spa, Nini afastou-se do ouro dando lugar à inspiração esmeralda. A experiência do hotel que começa no lobby lounge, continua pelos quartos, atinge o seu auge no nono piso. Um terraço com uma piscina aquecida, um bar e uma vista fantástica do horizonte. Uma varanda que oferece uma pausa com vista da cidade e que se transforma no sítio ideal para receber os primeiros raios de sol a partir do nada, ou simplesmente tomar um copo após um longo dia de trabalho e reuniões. Graças a cada detalhe na sua construção cuidadosamente seleccionado, seis meses depois de estar em funcionamento foi nomeado na lista dos The Society of British Design Awards e para o International Design & Arquitectures Awards. Como nota de rodapé, a suite presidencial foi inaugurada por Haider Ackermann, reconhecido desenhador de moda franco-colombiano. O que atesta que este é mesmo o hotel da moda em Bogotá, capital da Colômbia. l

Os hotéis de design diferenciam-se dos que ostentam a palavras “Luxo” porque a sua arquitectura, decoração e distribuição de espaço estão desenhadas com base num conceito que os faz muito mais originais. Uma das características é a aposta gastronómica. No caso do B.O.G. Hotel, Leonor Espinosa, um dos mais respeitados chefs colombianos, põe uma nota muita alta com o restaurante “La Leo”, espaço catalogado pela revista Conde Nast Traveler como um dos 80 melhores restaurantes do mundo e pela National Geographic Traveler como uma das 105 melhores experiências gastronómicas do planeta. Espinosa procura proteger a herança gastronómica da Colômbia, usando ingredientes tradicionais e antigas receitas locais a partir de comunidades índias, negras e rurais, como o ajiaco, sopa de galinha e milho servida com arroz e salada, ao mesmo tempo que leva a cabo uma nova forma de cruzamento cultural de cozinhar combinando com pratos encontrados um pouco por todo o mundo, das Caraíbas à longínqua Índia. Um cruzamento que nasce das demoradas visitas de Leonor aos mercados e outros locais resgatando as receitas familiares, de toda a vida, a que dá um toque do mundo. l

B.O.G. Hotel Bogotá - Colômbia Carrera 11 nº 86 – 74 www.boghotel.com Reservas: + 57 1 639 99 90 103


lazer

R e s taur a n t e

Ar o l a

V i n t e tr e s

Ta pa s gourme t em to ns de Samba

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miguel morgado

O

restaurante Arola Vintetres fica no 23.º andar do hotel Tivoli São Paulo-Mofarrej, oferecendo uma das mais deslumbrantes vistas sobre o coração de São Paulo. À chegada a este restaurante de luxo e de estilo, na elegante zona dos Jardins, os olhos são de imediato alimentados com a esplendorosa vista sobre as torres da vizinha Avenida Paulista, do Parque Trianon e dos quarteirões dos circundantes bairros dos Jardins. No interior, o ambiente elegante e sofisticado tem a assinatura de Patrícia Anastassiadis, a arquitecta que lidera um dos maiores ateliês do Brasil. Regalada a vista, é tempo de confortar o estômago e provocar um turbilhão sensorial, com a degustação de uma carta que mistura as tradicionais receitas de Tapas de Sergi Arola, com sabores e ingredientes brasileiros. Na adega com capacidade para mais de duas mil garrafas, estão guardados cerca de 750 vinhos de todo o mundo, desde o Líbano até aos mais que habituais vinhos chilenos, espanhóis, franceses e, claro está, brasileiros e portugueses. Arola Vintetres é o primeiro restaurante nas Américas do primeiro chef espanhol com um restaurante duplamente estrelado no Guia Michelin. A assinatura é catalã, mas no dia-a-dia, a cozinha é comandada pelo paulista Fábio Andrade, que trabalhou anteriormente com Arola, em Madrid, durante seis anos. No último piso do Hotel Tivoli São Paulo-Mofarrej, o conceito Tapas Gourmet dita as regras. Estas porções sofisticadas, que Espanha apresentou ao mundo, podem ser degustadas ao balcão do bar e no lounge,

ou já sentado à mesa, no restaurante, como entradas. Além das tapas, o Arola Vintetres oferece pratos e sobremesas com receitas já consagradas nos restaurantes espanhóis de Sergi Arola, em Madrid e Barcelona, e em Portugal, em Sintra. Sergi Arola desenvolve uma cozinha de autor, um conceito que tem o seu embrião na nouvelle cuisine, na qual um chef omnipresente pega em ingredientes locais e inova, transformando-os e fazendo sobressair, além daquilo que provamos e comemos propriamente dito, o design e a imagem de cada prato. Olhando para o cardápio, tudo gira à volta de um menu com inspiração mediterrânica, com toques da culinária catalã e brasileira. Inventiva, inovadora, personalizada e de vanguarda, a cozinha do chef Arola segue uma busca incessante por elementos variados e produtos frescos, que dão o toque de originalidade a uma lista em constante reinvenção. Entre entradas, pratos, sobremesas, carta de vinhos e outras bebidas, menus de degustação e à carta, a escolha não é fácil. Pode começar por um chupito de gazpacho, continuar pelas batatas bravas Arola, cilindros de batatas crocantes, com batatas cremosas no interior e cobertas por aioli, uma maionese de alho, azeite, ovos e regado com gotas de limão. Para encerrar o capítulo das entradas, poderá experimentar ceviche de pescada amarela com cebola roxa, cubinhos de abacate e ar (espuma) de tomate. Porque o restaurante junta Tapas com comida brasileira, há que introduzir ingredientes autóctones. O carré de cordeiro com mil 105


lazer

Uma constelação Michelin Para quem aprecia e faz questão de seguir chefs premiados, autor e obra andam de mãos dadas. O catalão Sergi Arola é uma celebridade no meio dos grandes cozinheiros do mundo. Deu os primeiros passos para o estrelato na equipa de Ferrán Adrià, o mítico chef de El Buli, considerado durante anos consecutivos o melhor restaurante do mundo. Arola, participou em programas televisivos de gastronomia, lançou livros de receitas, além de ter a sua assinatura em diversos projectos gastronómicos de renome. É também consultor da classe executiva da companhia de aviação Iberia e gere uma cantina de luxo para os executivos da Caja Madrid. Entre outras distinções, recebeu o Prix de l’art de la cuisine aux chefs de l’avenir da Academia Internacional Gastronómica, o prémio de chefe do ano (2003) em Espanha e a Medalha de Ouro e Mérito Agrícola da República Francesa.

Os prémios são algo que também não falta nos espaços onde exerce a arte. Em Dezembro de 1998, o então restaurante La Broche, propriedade de Sergi Arola, recebeu a primeira estrela Michelin. Dois anos depois repetiu o feito, somando mais uma distinção do famoso guia vermelho. Passados oito anos foi o Sergi Arola-Gastro, em Madrid, a ser distinguido, logo em ano de estreia, com duas desejadas estrelas. Uma verdadeira constelação Michelin. O Sergio Arola-Gastro de Madrid e o Arola Penha Longa, em Sintra, foram ainda considerados como uma das 50 Hot Tables do mundo pela revista Conde Nast Traveler. O Restaurante Arola Vintetres também não fica atrás do seu criador, tendo sido eleito por inúmeras publicações o melhor restaurante espanhol do Brasil em 2012. A carta de Vinhos foi considerada uma das melhores do mundo e recebeu o rótulo de Award of Excelence da Wine Spectator, em Agosto de 2012. l

Amma chocolate 85% da Mata Atlântica, com folhas de mandioquinha e ervilha torta é uma azeite e sorvete de paçoca. das opções. O lombo de vitela com crocante de Para acompanhar esta demorada experiêncastanha do Pará vem acompanhado por um cia gastronómica a que chamamos refeição, puré de abóbora e manga. perca-se na escolha dos mais de 750 rótulos de O remate final pode ser dado pelos sabores Ar o l a V i n t e t r e s vinhos ou siga a par e passo as dicas do ‘sombrasileiros, como a banana caramelada com T i v o l i S ã o Pa u l o melier’. Dê especial atenção a três escolhas: guaraná, granola e sorbet de açaí ao Fondant de M o f a rr e j o chileno Clos Apalta 2005, eleito em 2008 xocolata. Preços médios: 135 Euros como melhor vinho do mundo pela revista Se as sugestões acima não forem do seu (menu degustação) Wine Spectator e celebrado também na Wine agrado, não se preocupe. Há mais. Muito mais 165 euros (menu festival) Reservas: 00 34 972 222 157 Enthusiast e na Wine&Spirits; o espanhol por onde optar numa lista com mais de 30 tipos restaurant@cellercanroca.com Contador 2007, da vinícola Benjamin Romero; de tapas e pratos. Para elevar os seus sentidos Encerra: domingos e segundas-feiras e o também espanhol Pujanza Norte 2006, o até aos céus experimente, por exemplo, o Jamón vinho top da região de Rioja, com estágio de 18 Ibérico Reserva D.O. Josep Llorens ou o Salpicão meses em barricas de carvalho e cotado com 94 pontos por Robert de caranguejo, o polvo na brasa com batata confitada e emulsão de Parker. pimentón de la Vera ou os ovos estrelados com batata e Jamón. Da Com a conversa à mesa a ameaçar prolongar-se, esteja o leitor Selecção do Chef vem a vieira grelhada com puré de berinjela e crisps descansado que não é empurrado para os elevadores. É que além da de Jamón e o brandade de bacalhau com ovas de Mujol e emulsão de sua excelente gastronomia e de vinhos premiados, o Arola Vintetres, alho. Dos pratos principais do restaurante Gastro, em Madrid, Sergi com capacidade para 90 lugares, apresenta um espaço para animar a Arola trouxe o suquet de camarões preparado da maneira clássica noite Paulista. E aí prove o Cocktail Arola, criado especialmente para o da Costa Brava, o pirarucu com coco e curry vindaloo e a tradicional Arola-Vintetres: uma combinação de cachaça, tónica, abacaxi, pimenta Coca de Mallorca com foie gras. Das listas de arroz e pastas, constam rosa e pimenta de cheiro. Uma excelente forma de terminar esta a fideua clássica de Valência com lulas e o arroz caldoso de legumes viagem gastronómica. l orgânicos com misto de cogumelos. Para terminar, há o gateau de 106


Pasta Windsor “Viajar é fatal para as mentes fechadas.” Mark Twain, escritor Tela em padrão de logótipo com acabamento em couro e ferragens de paládio escovado dunhill.com


lazer

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P o r s che 911 m i to aos 50 A nos

H á c i n c o d é c a d a s q u e o m o d e l o 9 1 1 é o c o r a ç ã o da m a r c a P o r s c h e . P o u c o s a u t o m ó v e i s po d e m r e c l a m a r u m a t r a d i ç ã o tã o l o n g a e po u c o s c o n s e g u i r a m r e u n i r u m a tã o e n t u s i a s ta l e g i ã o d e fã s . O 9 1 1 f o i ta m b é m o po n t o c e n t r a l d e i n s p i r a ç ã o pa r a o s o u t r o s m o d e l o s da m a r c a . Do C ay e n n e a o Pa n a m e r a , t o d o s e l e s c a r r e g a m u m po u c o da f i l o s o f i a 9 1 1 .

Álvaro de Mendonça

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S

ucessor do mítico Porsche 356, o 911 conquistou os corações dos adeptos do desporto automóvel logo desde o seu lançamento. O protótipo do modelo foi revelado pela primeira vez no Salão do Automóvel de Frankfurt de 1963, como Porsche 901, sendo depois rebaptizado como 911 para o seu lançamento no mercado, logo no ano seguinte. Em meio século de vida foram fabricados mais de 820 mil unidades do 911, fazendo deste o melhor sucedido carro de sport do mundo. A cada uma das sete gerações, os engenheiros da Porsche reinventaram o modelo, provando o seu enorme poder inovador. Como nenhum outro veículo, o 911 concilia contradições aparentes: o carácter desportivo face à funcionalidade prática no dia-a-dia, a tradição versus inovação, a exclusividade frente à sua aceitação pelo mercado. Não é portanto de admirar que cada geração tenha escrito a sua própria história de sucesso. Ferry Porsche,

o filho do fundador da marca, foi quem descreveu melhor as qualidades únicas do 911: “O único carro que tanto podemos dirigir num safari africano ou no circuito de Le Mans, como a caminho do teatro nas ruas de Nova Iorque.” Além das suas linhas clássicas e exclusivas, o Porsche 911 sempre se distinguiu pelo seu avanço tecnológico. Muitas novas ideias e tecnologias foram concebidas nas pistas de corrida. Desde o início que o 911 apostou na alta performance e as corridas de automóveis foram laboratórios dos testes mais importantes. Foi aliás nos circuitos de todo o mundo que o 911 conquistou a sua reputação de vencedor. Dos raids no deserto, como o Paris-Dakar, passando pelas provas de resistência, como Le Mans, ou ainda pelos Grandes Prémio de Fórmula 1 e pelos circuitos de GT. E a verdade é que das mais de 30 mil vitórias desportivas alcançadas pela Porsche, cerca de dois terços foram assinadas pelo 911. l

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LAZER

1973 1950 As gerações

1964 Bodas de Ouro Para a Porsche, o 50 º aniversário do 911 será o tema central de 2013. Haverá uma grande variedade de eventos de aniversário, começando com o show Retro Clássicos, em Stuttgart, a cidade berço da marca. O Museu Porsche acolherá quatro novos modelos especiais: um dos primeiros 911 Turbo Coupé, um estudo de 911 Cabriolet de 1981, uma versão de estrada do 911 GT1 de 1997 e o chassis pré-série 754 T7, projectado por Ferdinand Porsche, e que foi um marco importante para o projecto 911. A empresa também disponibilizou um 911 de 1967 para uma tournée mundial pelos cinco continentes, onde será mostrado em lugares como Pebble Beach na Califórnia, Xangai, Reino Unido, Paris ou Austrália. l

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1972 1972 1963-1973

1973-1989

Nesta primeira encarnação do 911, o motor boxer de seis cilindros refrigerado a ar disponibilizava 130 Cv de potência, garantindo ao novo Porsche uma velocidade de ponta de 210 Km/h. A partir de 1965, passou também a estar disponível o 912, uma versão mais acessível no preço, equipada com o motor de quatro cilindros em linha do 356. Em 1966, a Porsche apresentou o 911 S, com 160 Cv e que estreava jantes em liga leve e, no final desse ano, acrescentou à família o 911 Targa, um conceito de falso cabrio que rapidamente ganhou adeptos em todo o mundo. A caixa semi-automática de quatro velocidades Sportomatic juntou-se à gama em 1967. Ainda nesse ano, com o 911 T, e as versões posteriores E e S, a Porsche tornou-se o primeiro fabricante alemão a cumprir as rigorosas normas de controlo de emissões de gases de escape dos Estados Unidos. Com o andar dos anos, o 911 foi-se tornando cada vez mais potente, com a cilindrada dos motores aumentada inicialmente para 2.2 litros (1969,) e mais tarde para 2.4 litros (1971). O culminar deste processo seria atingido com o 911 Carrera RS 2.7, de 1972, com a sua enorme asa aerodinâmica traseira e 210 Cv e para menos de 1000 kg . l

Dez anos depois de sua estreia, os engenheiros da Porsche decidiram reinterpretar o 911. O modelo G foi produzido de 1973 a 1989. Tinha grandes pára-choques proeminentes para passar nos exigentes testes de colisão nos Estados Unidos, um mercado cada vez mais importante para a marca. Um dos marcos mais importantes da saga 911 foi o lançamento, em 1974, do primeiro modelo Turbo, com um motor de três litros de 260 Cv e um enorme spoiler traseiro. O salto seguinte veio em 1977, com a montagem de um intercooler no 911 3.3 Turbo, que permitiu chegar aos 300 Cv de potência. A partir de 1982, os entusiastas de ar livre passaram a poder encomendar o 911 como um Cabriolet. Um ano mais tarde, o 911 Carrera com um motor de 3,2 litros de 231 Cv substituiu o 911 SC. O último desta estirpe foi o 911 Carrera Speedster, lançado em 1989, para evocar o lendário 356 dos anos cinquenta. l

O Nascimento de uma Lenda

O primeiro Turbo

1988-1993

Tracção às quatro rodas Em 1988, a Porsche apresentou uma nova geração do 911, conhecida internamente como 964 e que chegaria ao mercado um ano depois. O motor boxer, de 3.6 litros, era refrigerado a ar e disponibilizava 250 Cv. Externamente o 964 diferia dos seus predecessores apenas ligeiramente, nos pára-choques e spoiler traseiro, mas na realidade era um modelo quase completamente diferente. A plataforma 911 foi radicalmente renovada, com 85% de componentes novos. Estava equipado com ABS, Tiptronic, direcção assistida e airbags e uma suspensão de molas helicoidais, em vez da anterior suspensão de barra de torção. Tudo em prol de um maior conforto e segurança. O modelo mais revolucionário desta geração 964 era o Carrera 4 com tracção às quatro rodas. Além das versões Coupé, Carrera, Cabriolet e Targa, a partir de 1990 os clientes também passaram a poder encomendar o Turbo. Inicialmente equipado com o comprovado motor boxer 3.3 litros, o Turbo foi actualizado, em 1992, com um bloco de 3.6 litros que atirava a potência para 360 Cv. Hoje, o 964 Carrera RS é, juntamente com o 911 Turbo S e o 911 Carrera 2 Speedster, um dos modelos mais procurados pelos coleccionadores. l


1994 1994

1986

2005

1989 1993-1998

O último refrigerado a ar O 911 com o número interno 993, continua a ser o único e verdadeiro amor de muitos condutores de Porsche, devido sobretudo ao seu design, com os pára-choques integrados, a secção dianteira mais baixa do que de cintura nos modelos anteriores e o regresso dos faróis elipsoidais. O 993 foi também o primeiro 911 com um chassi de alumínio e a versão Turbo foi a primeira a ter um motor biturbo, em 1995. O GT2 tinha como público-alvo o purista dos carros de sport que não resistia à emoção da alta velocidade. Um tecto de vidro eléctrico que deslizava sob a janela traseira foi uma das inovações do 911 Targa desta geração. Mas a verdadeira razão porque muitos puristas da Porsche não esquecerão o 993, é que foi o último 911 com um motor refrigerado a ar. l

1950 2011 O 996 (1997)

2004-2011

O 996, que saiu das linhas de montagem entre 1997 e 2005, representou um ponto de viragem na história do 911. Foi a primeira geração a contar com um motor boxer refrigerado a água. Graças às suas quatro válvulas por cilindro, alcançava os 300 Cv. O design exterior reinterpretava a linha clássica do 911. As linhas do 996 também foram um resultado da partilha de componentes com o Boxster, o modelo mais acessível da marca. A característica mais marcante do exterior eram os faróis com piscas integrados, uma opção controversa no início, mas depois copiada por muitos outros fabricantes. No interior, os motoristas experimentaram um cockpit totalmente novo. Com o 996, a Porsche iniciou uma ofensiva de produto sem precedentes, com toda uma série de novas versões do 911. O GT3 tornou-se num dos modelos emblemáticos da gama, logo desde o seu lançamento em 1999, mantendo a tradição do Carrera RS bem viva. O GT2, o primeiro carro de série equipado com travões de cerâmica, foi comercializado como um veículo para competição, a partir do Outono de 2000. l

Em Julho de 2004 a Porsche revelou a sexta geração do 911 Carrera e os modelos 911 Carrera S, conhecido internamente pelo código 997. Os faróis ovais marcavam um regresso visual aos modelos mais antigos, mas o 997 oferecia muito mais do que uma mudança do design exterior. Era um veículo de alto desempenho, com um motor boxer de 3.6 litros que atingia aos 325 Cv de potência. O motor 3.8 litros do novo Carrera S chegava a uns incríveis 355 cv. O chassis também foi substancialmente reformulado. O Carrera S vinha equipado de série com o sistema activo de gestão da suspensão. Em 2006, foi apresentado o 911 Turbo, o primeiro automóvel de produção a gasolina com turbo-compressor de geometria variável. A actualização do modelo, no Outono de 2008, tornou os 997 ainda mais eficientes, graças à injecção directa de combustível e à transmissão de dupla embraiagem. Declinado em Carrera, Targa, Cabriolet, em variantes de tracção traseira ou às quatro rodas, mais os Turbo, GTS, os modelos especiais e as versões de estrada de carros de corrida de GT, a família 911 alargou-se a duas dúzias de elementos. l

O primeiro refrigerado a água

Clássico e Moderno

2011

Apurado pela Experiência A sétima geração, conhecida internamente na Porsche pela nome de código 991, representa o maior salto técnico na evolução do 911. Uma nova suspensão, uma maior distância entre eixos, vias mais largas, pneus maiores e um interior ergonomicamente optimizado, tornaram a experiência de condução do 911 ainda mais desportiva e confortável. Adaptando-se aos tempos, o 991 representa também uma aposta da Porsche na eficiência, conjugando melhores desempenhos com níveis mais baixos de consumo e emissões. Um milagre conseguido graças à incorporação de uma série de tecnologias de última geração. Segundo a Porsche, este é o melhor 911 de todos os tempos. Até à próxima geração... l

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lazer

shopping

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opinião

João Taborda da Gama Director da Pós-Graduação em Fiscalidade da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa

Planos e acções contra a fr aude e evasão fiscais

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Plano da Acção da Comissão Europeia prevê um NIF europeu, um Código Europeu do Contribuinte e o acesso, por todas as administrações, às bases de dados de todos os cidadão da Europa, para efeitos de tributação directa. A Comissão Europeia aprovou em Dezembro um Plano de Acção para reforçar a luta contra a fraude e a evasão fiscais que é, ao mesmo tempo, uma reacção à crise e uma admissão de crise. Com o dinheiro a rarear, os impostos a abundar, e os orçamentos sedentos de receita, surge o caldo ideal para a descida da aversão ao risco dos agentes económicos, condições para uma tempestade perfeita de fraude e evasão. Do outro lado, os contribuintes para quem a evasão não é, por qualquer razão, uma hipótese viável, aumentam na indignação contra cidadãos ricos e empresas abastadas que, aos seus olhos, podem usar a lei para não pagarem impostos. “Que se lixe a Troika”, que é sobretudo “que se lixe a Europa que nos lixou”, é o que se ouve na rua. O Plano de Acção retoma velhas acções e propõe novos planos. É positivo notar que impele os Estados a reanimarem o moribundo Código de Conduta, que sugere a criação de um Número de Identificação Fiscal europeu, com a previsível oposição delirante das comissões de protecção de dados nacionais e que aconselha a revisão da directiva “mães-filhas”, para que deixe de ser, nalguns casos, instrumento ao serviço da dupla não-tributação. Há também a defesa da adopção uniforme de cláusulas gerais anti-abuso, da efectivação de inspecções simultâneas e da uniformização dos procedimentos de troca de informação em 114

matéria fiscal. Duas medidas ambiciosas: prevê-se a possibilidade de, para efeitos de tributação directa, haver o acesso por todas as administrações às bases de dados das outras administrações, e a adopção de Código Europeu do Contribuinte. Percebendo que as formas tradicionais de controlo fiscal não são suficientes, nem as mais eficazes, a Comissão propõe a criação do Forum IVA, à semelhança do caso de sucesso do Joint Transfer Pricing Forum, onde se sentam administrações fiscais e representantes dos contribuintes para adoptarem recomendações. Significativo é ler neste Plano de Acção também a admissão da falta de uma união europeia fiscal. Para o Plano é fundamental que os Estados consigam chegar a um acordo com o Liechtenstein sobre combate a evasão fiscal, pendente desde pelo menos 2009. Mas todos os Estados quererão? Talvez este acordo, e o efectivo controlo das zonas francas de cada um dos Estados-membros, seja um passo importante. Até porque, sem isto, qual a legitimidade na resposta ao repto que a Comissão lança para que os Estados-membros adoptem medidas de combate a paraísos fiscais, e enviem peritos de evangelização fiscal a estados terceiros para aplicação das boas práticas tributárias? O optimismo dinâmico deste Plano de Acção esconde uma Europa em crise, que não consegue entender-se quanto a impostos europeus, uma Comissão impotente para impor uma agenda fiscal comum a um conjunto de Estados-membros que não querem, por razões variadas, preocupar-se verdadeiramente em combater a evasão fiscal transfronteiriça. São precisas mais acções e menos planos. l


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