Releituras da História do Rio Grande do Sul

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Os jesuítas tiveram a clareza necessária para perceber que a vida e a atitude cristãs não estão identificadas com o isolamento e o afastamento do mundo. Compreenderam que o combate por Cristo implicava uma atividade plena. Assim, a obra evangelizadora dos padres da Companhia de Jesus assumiu um sentido prático: vinha acompanhada de preocupações de se fazer presente na vida e no cotidiano das pessoas. A atitude contemplativa é substituída [ou acompanhada de] intervenções concretas no mundo secular. No caso das reduções americanas, não se tratava de, exclusivamente, converter os indígenas ao Cristianismo, ainda que fosse o fim a ser alcançado. Compreendiam os jesuítas que a conversão só seria possível na medida em que a ação evangelizadora viesse acompanhada de ações que representassem concretamente mudanças radicais, ou, ao menos, significativas, no modo de vida dos futuros catecúmenos. Ficava claro para os padres que a nova religião a ser trazida para os índios somente vingaria caso o modo de vida dos mesmos sofresse radical transformação. O Cristianismo é também um modo de vida. Isso significa a exigência de certos tipos de comportamento que não eram observados entre os indígenas. Isto é particularmente verdadeiro no que se refere a certas formas de comportamento presentes nas tradições indígenas que contrariavam frontalmente os princípios do Cristianismo. Áreas particularmente sensíveis são a poligamia e a antropofagia. O sucesso da doutrinação religiosa só poderia ocorrer se simultaneamente à evangelização fosse desarticulado o modo de vida tradicional dos indígenas. Neste sentido, segundo Kern (1994, p.17), “a atuação dos jesuítas junto aos guaranis é francamente modernizadora e tem como objetivo a mudança em todos os sentidos: transformar os guaranis em homens políticos que ultrapassem o estágio selvagem e se transformem em habitantes da Polis”. 52


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