Revista Aurora 463 - Ano VI

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Aurora

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Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco ISNN 2525-4006 Ano VI [2021] Vol.1 Núm.6




GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Governador | Paulo Câmara Vice-Governador | Luciana Santos SECRETARIA DE CULTURA Secretário de Cultura | Gilberto Freyre Neto Secretária Executiva | Silvana Meireles Chefe de Gabinete | Anita Carneiro Gerente Geral de Articulação Social | Anibal Accioly Gerente de Territorialidade e Equipamentos Culturais | Priscilla Marques Gerente de Políticas Culturais | Lêda Dias Gerente de Planejamento | Eduarda Lippo Gerente de Administração e Finanças | Carolina Soarez Gestor de Comunicação | Rodrigo Coutinho FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO - FUNDARPE Diretor-Presidente | Marcelo Canuto Vice-Presidente | Severino Pessoa Chefe de Gabinete | Patrícia Bandeira Gerente Geral de Preservação do Patrimônio Cultural | Celia Campos Superintendente de Planejamento e Gestão | Ivany Francisco Júnior Superintendente de Gestão do Funcultura | Aline Oliveira Cordeiro Gerente de Ação Cultural | André Brasileiro Gerente de Produção | Julio Maia Gerente de Administração e Finanças | Jacilene Oliveira EQUIPE DA GERÊNCIA GERAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL Ana Cristina Oliveira, Amanda Paraíso, Augusto Paashaus, Celia Campos, Cristiane Feitosa, Débora Nadine, Eva Passavante, Fernando Montenegro, Íkaro Santhiago Câmara, Izabel Paashaus, José Sabino, Luciana Gama, Marcelo Renan, Maria José Agra, Neide Fernandes, Nilson Cordeiro, Raphaela Rezende, Renata Echeverria Martins, Roberto Carneiro, Rosa Bomfim, Suzana Santos, Vera Lúcia Batista

REVISTA DA SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO. Recife: FUNDARPE, v.1, n.6. 2021. 176 p.

Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco EDITORA Renata Echeverria Martins

TEXTOS DO GIRO Débora Nadine Eva Passavante Nilson Cordeiro

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Íkaro Santhiago Câmara

Todos os direitos reservados. Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe Rua da Aurora, 463 - Boa Vista Recife/PE - CEP: 50.050-000 [81] 3184.3000 - 3184.3061 www.cultura.pe.gov.br/patrimonio preservacao@fundarpe.pe.gov.br

Capa

Fábrica Tacaruna

Foto: Raphaela Rezende

Anual ISSN 2525-4006

Hospital Dom Pedro II Foto: Val Lima

1. PATRIMÔNIO CULTURAL. 2. 13ª SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL. CDD 363.69


Aurora 463

Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Ano VI [2021] Vol.1 Núm. 6

Recife Fundarpe 2021


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Gilberto de Mello Freyre Neto Marcelo Canuto Mendes --------------------------------------------------------------------------------

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EDITORIAL Renata Echeverria Martins ----------------------------------------------------------------------------- 10

UMA SEMANA DIGITAL O PATRIMÔNIO E A INTERFACE VIRTUAL: UMA EXPERIÊNCIA DE MÚLTIPLAS CONEXÕES Renata Echeverria Martins ----------------------------------------------------------------------------- 14

TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA DA 13ª SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO Antonio Arantes ------------------------------------------------------------------------------------------- 17

GIRO NO PATRIMÔNIO Brincar com o patrimônio----------------------------------------------------------------------- 28 Experimentar o patrimônio --------------------------------------------------------------------- 30 Interpretar o patrimônio-------------------------------------------------------------------------- 34 Pensar o patrimônio -------------------------------------------------------------------------------- 38

RELATOS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM REDE: PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO DIGITAL

Amanda Carla Gomes Paraíso ------------------------------------------------------------------------ 44

ENTRE O PASSADO E O PRESENTE, A ARTE DE PRESERVAR E AMAR Jadiel Barbosa de Lima --------------------------------------------------------------------------------- 50


PROGRAMA MÃE CORUJA: A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS LÚDICOS, PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL, DIVERSIDADE E INTERATIVIDADE ENTRE A COMUNIDADE Lília Simões -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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A EXPERIÊNCIA DA SECRETARIA DE CULTURA NO PROGRAMA MÃE CORUJA PERNAMBUCANA Lu Almeida e Márcia Branco ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

ÁGORA VIRTUAL FORTALECE INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO ENTRE OS PATRIMÔNIOS VIVOS DE PERNAMBUCO Mônica Siqueira ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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REFLEXÕES ACADÊMICAS SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL: PRODUÇÃO DOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO DE PE Pedro Valadares ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA EREM AUSTRO COSTA Roberta de Melo Barbosa --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 78

ARTIGOS ACADÊMICOS INVENTARIANDO O PATRIMÔNIO: NOVAS PRÁTICAS SOB A PERSPECTIVA COMUNITÁRIA Cássio Raniere Ribeiro da Silva, Elizama Pereira Messias, Júlia Morim de Melo e Vanessa Malheiro Morais ---------------------------------- 84

MEMÓRIA MODERNA: ORIENTAÇÕES PARAS AS AÇÕES DE CONSERVAÇÃO DO EDIFÍCIO DA ESCOLA ALBERTO TORRES Gabriela de Souza Cordeiro e Prof. Drª Paula Maciel Silva ------------------------------------------------------------------------------------------ 97

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: AÇÕES DE DIVULGAÇÃO E PRESERVAÇÃO Glena Salgado Vieira -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 112

PRÁTICA EDUCATIVA PARA OBSERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL: EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE BROTAS, SP Jessica Aline Tardivo -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 119

UM OUTRO PÁTIO POSSÍVEL: SÃO JOSÉ DO RIBAMAR NO RECIFE-PE Josebias Costa do Nascimento Neto e Pedro Henrique Cabral Valadares -----------------------------------------------------------------------

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PATRIMÔNIO, MUSEOLOGIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL Shari Carneiro de Almeida -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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MEMÓRIAS EM CONSTRUÇÃO Terezinha de Jesus Pereira da Silva -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 154

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Museu do Barro em Caruaru Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Foto: PH ReinauxCultural - Secultde PEPernambuco | Fundarpe Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021


APRESENTAÇÃO Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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APRESENTAÇÃO

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Um dos principais eventos do calendário estadual quando o assunto é o debate sobre a preservação dos nossos bens materiais e imateriais, a Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, na sua 13ª edição, realizada em 2020, esteve diante de um grande desafio por conta da impossibilidade de eventos presenciais em decorrência da pandemia do Covid-19. Neste momento em que a humanidade vivencia um dos períodos mais difíceis da sua história recente, um exercício tão comum se tornou um símbolo que ficará marcado na memória coletiva. O “estar na janela” será lembrado como registro do desafio e coragem tão necessários no enfrentamento ao surto da doença. Com o tema “Janelas do Patrimônio: Novos Olhares, Estratégias e Conexões”, a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco propôs uma reflexão sobre o patrimônio cultural do Estado neste momento que atravessa a humanidade, e teve todas as suas ações transmitidas virtualmente, nos canais @CulturaPE no Instagram e Youtube da Secult-PE/Fundarpe, além de atividades no Google Meet. A escolha deste tema se deu porque, além do patrimônio cultural, o turismo e a cultura necessitavam de ações que os ajudassem a minimizar os impactos causados pela pandemia, requisitando novos olhares e estratégias para enfrentar as dificuldades e desafios na busca em obter novos olhares, estratégias e conexões. A reflexão incentivada pela 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco também surgiu com a necessidade de se criar outros canais de diálogo que vão além do presencial, por meio de plataformas virtuais, possibilitando e potencializando novos olhares, estratégias e conexões para a preservação e manutenção do patrimônio cultural. Um dos grandes desafios desta edição foi somar esforços nessa rede de parceiros construída ao longo dos 13 anos de realização da Semana. Contamos com ações desenvolvidas em 11 municípios pernambucanos: Água Preta, Arcoverde, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Fernando de Noronha, Ilha de

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Gilberto de Mello Freyre Neto Marcelo Canuto Mendes

Itamaracá, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Recife, Santa Maria da Boa Vista e São Joaquim do Monte. O desafio de realizar a Semana de modo virtual foi aceito pela equipe e pelos parceiros. Neste sentido, a descentralização das ações e a capilaridade das redes sociais possibilitaram uma maior conexão e enriquecimento das reflexões e debates, com a participação maciça de pessoas de várias regiões de Pernambuco interessadas no assunto. Conseguimos, assim, propor uma saída num modelo que envolve muita gente, e que tiveram a oportunidade de participarem de debates muito ricos. Foi motivo de orgulho observar que a Semana ganhou cada vez mais musculatura com a capacidade de se reinventar diante deste momento atípico que estamos vivendo. O fato da Semana ter alcançado a marca da sua décima terceira edição mostra, por si só, uma sequência de feitos numa única direção, e trouxe um novo ânimo para quem defende o patrimônio cultural. Esta edição da Revista Aurora apresenta um panorama sobre os debates promovidos durante a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, indicando alguns caminhos para minimizar os impactos sofridos no turismo, cultura e patrimônio com a pandemia, e destacando os conteúdos de qualidade levados até a casa das pessoas sobre a preservação dos nossos bens culturais.

Gilberto de Mello Freyre Neto

Marcelo Canuto Mendes

Secretário de Cultura de Pernambuco

Diretor Presidente da Fundarpe

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EDITORIAL

EDITORIAL Nesta sexta edição da Revista Aurora 463, desejamos rememorar o desafio de realizar a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco em plataformas online. Uma experiência que fez desta publicação um registro e testemunho de um momento único, e por isso, bastante rico e precioso em novos modos de convivências, diálogos e reflexões. Logo na Apresentação da Revista fica evidente que a impossibilidade dos encontros presenciais, por conta da pandemia da Covid 19, deu a tônica ao relato do evento, produzido pelo Presidente da Fundarpe Marcelo Canuto e pelo Secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto. Nele, encontraremos um testemunho importante sobre o difícil momento que enfrentamos em 2020, tanto a equipe da casa como todos os nossos parceiros, colaboradores que toparam debater as temáticas do patrimônio e da preservação nos canais virtuais das redes sociais. O tema da conferência de abertura - Da Janela, proferida pelo professor antropólogo Antonio Arantes, foi tão impactante, por retratar a experiência de isolamento que todos nós estávamos vivendo naquele momento, que decidimos transcrevê-la integralmente nesta sexta edição. Relata Arantes: “Do alto de edifícios, acompanhamos mudanças no uso e ocupação dos espaços onde se constrói a experiência compartilhada na impessoalidade própria da vida urbana. Deslocam-se apenas os trabalhadores essenciais, aqueles que saem em busca de cuidados com a saúde, alimento ou trabalho. Alguns poucos insistem em se reunir e divertir-se pateticamente, alheios à morte ao redor”. O ineditismo de um evento, até então apenas realizado presencialmente, é descrito numa espécie de texto/reportagem pela editora desta publicação. Com o título: O patrimônio e a interface virtual: uma experiência de múltiplas conexões, Renata Echeverria Martins, Coordenadora da 13ª Semana do Patrimônio, descreve os momentos mais significativos e marcantes do evento: “Os números de participantes e os de visualizações, até o mês que este texto foi escrito, abril de 2021, somavam juntos, um público total de 13.558 pessoas. Se o nosso objetivo era driblar a impossibilidade de estarmos juntos, por conta da pandemia, provocada pelo novo coronavírus, o resultado final foi uma grata surpresa! As Janelas do Patrimônio foram abertas para uma infinidade de possibilidades e de públicos vindos até de outros países, a exemplo de Portugal”, destaca Echeverria. Os prints, fotografias das telas dos aplicativos, ilustram nesta edição a seção do Giro no Patrimônio. A impossibilidade de deslocamento não impediu de

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Renata Echeverria Martins

circularmos pelos caminhos virtuais da internet. Diversas ações foram registradas nos 11 municípios participantes da edição de 2020. As atividades, distribuídas nos quatro eixos norteadores da Semana do Patrimônio: Brincar, Experimentar, Interpretar e Pensar foram selecionadas e descritas pela equipe de colaboradores da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural – GGPPC da Fundarpe, formada pelas arquitetas, Debora Nadine e Eva Passavante, e pelo historiador Nilson Cordeiro. Nesta edição os Relatos foram uma produção dos parceiros e coordenadores da Semana do Patrimônio. As atividades descritas abordam temas variados, como a participação da Faculdade Damas no Encontro - Reflexões Acadêmicas sobre o Patrimônio Cultural: produção dos cursos de Arquitetura e Urbanismo de PE; a atividade Ágora Virtual, realizada pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, como um importante canal democrático de comunicação entre o poder público e os Patrimônios Vivos do Estado; o Programa Mãe Coruja, uma parceria entre governo estadual, prefeituras municipais e a sociedade e a quinta edição do Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco, organizado pela Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe em parceria com a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, em especial a Secretaria Executiva de Educação Integral e Profissional. Em Artigos Acadêmicos publicamos sete trabalhos de pesquisa: Inventariando o Patrimônio: novas práticas sob a perspectiva comunitária, produzido por: Cássio Raniere Ribeiro da Silva, Elizama Pereira Messias, Júlia Morim de Melo e Vanessa Malheiro Morais; Memória Moderna: orientações para as ações de conservação do edifício da escola Alberto Torres, da aluna da Unicap Gabriela de Souza Cordeiro e da Prof. Drª Paula Maciel Silva; Patrimônio Arqueológico: Ações de Divulgação e Preservação, de Glena Salgado Vieira; Prática Educativa para observação da paisagem cultural: Experiência na cidade de Brotas, SP, de Jessica Aline Tardivo; Um outro pátio possível: São José do Ribamar no Recife-PE, de Josebias Costa do Nascimento Neto e Pedro Henrique Cabral Valadares; Patrimônio, Museologia e Participação Social, de Shari Carneiro de Almeida e Memórias em construção, Terezinha de Jesus Pereira da Silva. Boa leitura!

Renata Echeverria Martins

Jornalista

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Oficina de postagem de videos na Internet Foto: Marcelo Lyra/Santo Lima


UMA SEMANA DIGITAL Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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O PATRIMÔNIO E A INTERFACE VIRTUAL: UMA EXPERIÊNCIA DE MÚLTIPLAS CONEXÕES

O PATRIMÔNIO E A INTERFACE VIRTUAL: UMA EXPERIÊNCIA DE MÚLTIPLAS CONEXÕES Renata Echeverria Martins

Vencemos o desafio: realizar a 13ª Edição da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco em plataformas virtuais. Os números de participantes e os de visualizações, até o mês que este texto foi escrito, abril de 2021, somavam juntos, um público total de 13.558 pessoas. Se o nosso objetivo era driblar a impossibilidade de estarmos juntos, por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus, o resultado final foi uma grata surpresa! Conseguimos reunir, mesmo que distantes, um público diversificado que teve a oportunidade de participar de atividades como: conferência de abertura, webnários, lives, seminários, apresentações de projetos do Funcultura e uma vasta playlist de vídeos sobre o patrimônio cultural de nosso estado. As Janelas do Patrimônio foram abertas para uma infinidade de possibilidades e de públicos vindos até de outros países, a exemplo de Portugal. As conexões foram feitas e novos diálogos estabelecidos. Podemos afirmar que ampliamos o nosso repertório de conhecimento sobre a diversidade do patrimônio cultural de Pernambuco.

Na abertura, 17 de agosto,

Dia Nacional do Patrimônio Histórico, reunimos mais de 800 pessoas, este foi o número de visualizações na plataforma do YouTube até 10 de março de 2021. Um público até então inimaginável nas edições anteriores do evento. A Conferência de Abertura, proferida pelo Dr. Professor de Antropologia da UNICAMP Antônio Arantes foi um prenúncio do que nos esperava, a consagração de termos apostado nos encontros virtuais. Ao falar de

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casa, o professor reforçava a importância desses momentos, agora só possíveis pelas inúmeras “janelas”, dizia o professor Arantes: “telas dos celulares, das televisões, das empenas de edifícios, da janela de casa, numa tentativa de diálogo e quebra da solidão”. Logo de início, o professor alertou que o desafio de nosso encontro seria refletir o que estávamos vivendo naquele momento do ponto de vista “Da Janela”, título da conferência que descrevemos aqui nesta publicação, pela importância do tema e da abordagem dada pelo conferencista. Para Antonio Arantes, a possibilidade de contemplação da paisagem urbana vista do alto das nossas janelas, reflexo de um isolamento forçado provocado pela pandemia, deixou muito evidente o que ele chama de um empilhamento desordenado de edifícios e espaços públicos em nossas cidades não permitindo mais avistarmos a memória que estava escrita no tempo. De 17 a 22 de agosto de 2020 experimentamos inúmeras sensações até então inusitadas. Em sua primeira versão, exclusivamente online, depois de 12 anos acontecendo de forma presencial, o sentimento foi de uma grande estreia. Conduzimos todas as atividades por meio das salas virtuais propiciadas pela web. Realizamos lives, que intitulamos “Conexão Patrimônio” sobre os mais variados temas: arquitetura, fotografia, dança, artesanato, educação patrimonial, gestão cultural, políticas culturais e turismo. Debatemos a temática do patrimônio com antropólogos, arquitetos, historiadores, artistas, gestores e produtores culturais. Ampliamos o repertório abordado historicamente dentro da linha do tempo da Semana do Patrimônio ao longo desses 13 anos. Foi uma semana riquíssima de discussões e aprendizados, de troca de conhecimento e de experiência transmitidas pelas redes sociais, como: Instagram, Facebook, salas de Google Meet e YouTube. Estivemos interligados e conectados pelas plataformas de compartilhamento online que nos aproximaram mesmo que distantes. A troca de saberes também aconteceu nos webnários sobre o patrimônio material e imaterial. Os temas abordados trataram de desenvolvimento local, museus comunitários, turismo e salvaguardas, além da educação patrimonial em rede, numa perspectiva para uma educação digital, que em dois dias reuniu professores da Rede Estadual e Municipal de Educação, universitários, educadores, profissionais de museus e pesquisadores. Temática tão pertinente que até a data de 10 de março de 2021 já tinha gerado 812 visualizações. A 13ª Edição da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco deixará como legado a necessidade de ampliarmos os nossos encontros, mesmo que não presenciais, mesmo que por meio da revolução tecnológica que fomos forçados a Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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O PATRIMÔNIO E A INTERFACE VIRTUAL: UMA EXPERIÊNCIA DE MÚLTIPLAS CONEXÕES

conviver por conta da pandemia. A partir de 2020 fomos apresentados às ilimitadas possibilidades das conexões remotas. Chegamos aonde presencialmente seria impossível chegar. Transcendemos fronteiras, alargamos os nossos horizontes, reformulamos estratégias, e agora, esperamos num futuro bem próximo realizar uma Semana do Patrimônio em formato híbrido, contemplando um mundo onde a experiência deverá ser sempre compartilhada. O momento nos exige um olhar mais empático em direção a um novo modelo inclusivo de participação com o outro. Ao reduzir fronteiras inauguramos uma nova era de grandes mudanças e transformações. Apostaremos sempre pelo retorno dos encontros presenciais, porém sem abandonarmos os canais virtuais de conexão.

Formação Mapa Cultural de Pernambuco Foto: Fernando Figueirôa

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Antonio Arantes

TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA DA 13ª SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO Antonio Arantes 1

Agradeço o honroso convite da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco e cumprimento os organizadores deste encontro pelo excelente trabalho que vêm realizando e pela continuidade deste programa, que comemora o Dia Nacional do Patrimônio, apesar das condições de distanciamento em que vivemos. Aliás, meu ponto de partida será nosso empenho coletivo em reinventar a vida cotidiana nessas condições, desde março de 2020. Impedidos de sair de casa, podemos apenas observar, de longe, o patrimônio no fragmento de paisagem vista da janela. Entretanto, condição insólita em que nos encontramos pode sugerir novos “olhares, estratégias e conexões” para esse tema, como propõe a programação do presente encontro. DA JANELA

Plano 1. Intersecções 17 de agosto de 2020. Da janela, observamos desde março de 2020 o esvaziamento necessário da rua e vivenciamos, em isolamento, a pandemia agravada pela inepta gestão da saúde no Brasil. Do alto de edifícios, acompanhamos mudanças no uso e ocupação dos espaços onde se constrói a experiência compartilhada na impessoalidade própria da vida urbana. Deslocam-se apenas os trabalhadores essenciais, aqueles que saem em busca cuidados com a saúde, alimento ou trabalho. Alguns poucos insistem em se reunir e divertir-se pateticamente, alheios à morte ao redor. Acomodam-se onde podem os moradores de rua. Esvazia-se, pouco a pouco, por tempo indeterminado, o lugar onde se constrói e se pratica a civilidade, onde se aprende a enfrentar riscos e solidarizar-se com desconhecidos. 1 Professor emérito do Departamento de Antropologia, UNICAMP http://lattes.cnpq.br/1354195248764045 https://orcid.org/0000-0002-2463-680X

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TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA

Figura 1. Vista, 2020. Foto do autor.

Nos primeiros meses da pandemia, nos saudávamos, batíamos panelas protestando, cantávamos e tocávamos instrumentos, da janela. Interagíamos com pessoas reais e procurávamos o calor humano, ainda que de longe ou através do celular. Depois de longas semanas e meses de isolamento em casa, percebemos que o tempo da vida doméstica, que é cíclico, pouco a pouco se sobrepõe ao do trabalho, confundindo-se com ele e invadindo, um e outro, as especificidades de cada um. Esmaece, também, o tempo preciso dos ritos coletivos ou privados, em geral anuais, que ordenam, cronológica e subjetivamente, as sociabilidades primárias ou associativas. Que temos a dizer sobre as mudanças que estão a ocorrer na percepção do tempo das pessoas desempregadas ou sem ocupação, dos que lutam o tempo todo para sobreviver, em condições de extrema carência? Contudo, de qualquer modo que se viva, em qualquer situação, a alternância entre noite e dia parece perder a usual nitidez, ao não mais se referir, tão efetivamente, aos marcos externos de tempo-espaço. Hoje seria ainda ontem, ou já é amanhã? A angústia cresce nos espaços vitais fechados sobre si mesmos, e a insônia se agrava em todos os leitos, ricos ou pobres, entre quem está abrigado ou sem-teto. Em isolamento, procuramos as janelas eletrônicas e somos expostos a noticiários ofensivos e repetitivos, sobre o agravamento de nossas condições insólitas de vida. Breaking News nacionais ou internacionais tornaram-se frequentes, sem acrescentar qualquer tempero a nossas vidas, a não ser quanto à magnitude de um ou outro fato corriqueiro. “As coisas melhoraram ou pioraram”, é o que mais nos perguntamos, já que praticamente nada nos surpreende. A contrabalançar a hegemonia das mídias, ganharam força as redes pessoais de comunicação, chamadas sociais ainda que sejam, na verdade, conexões entre

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Antonio Arantes

avatares, representações de nós mesmos, criadas para ambientes controlados de sociabilidade. Nos entrecruzamentos entre relações vividas efetivamente e as simuladas eletronicamente, é onde nos situamos em face, ou frente a fotos, de pessoas queridas, conhecidas ou desconhecidas, em suas presenças ausentes. É difícil imaginar, que sentimentos como crença e confiança, pactos morais, não sejam abalados em tais circunstâncias. Como passamos a depender das mídias eletrônicas, é preciso reconhecer que estamos cercados por vírus: os biológicos que destroem a saúde e modos de vida, e os eletrônicos, que, com malwares, podem atacar os meios de que depende o frágil mundo que estamos a criar. Não estamos, somente, a alguns passos uns dos outros, em distanciamento ‘social’, mas a dois clicks, senão um, eletrônico ou biológico que, se acionados, podem ser fatais. Tempos estranhos esses, em que realidades concretas e corpóreas se misturam com aquelas, também físicas e reais, digitais e concretas, dos hard ou softwares, que vão se fortalecendo nas pontas dos canais de conexão. Que dizer de quem não dispõe desses canais? É como se tivéssemos virado do avesso, de costas uns para os outros, com as entranhas para fora e o olhar interiorizado. Em momentos, procuramos conferir o que é visível atrás de outras janelas, nos edifícios e casas ao redor, mas nada sugere que algo diverso esteja ocorrendo lá fora.

Plano 2. Aqui, como alhures 1985. Em meio a tantas virtualidades e tão pouca virtude, revisito um velho livro para encontrar mais uma vez a conhecida passagem em que o designer Aloísio Magalhães, numa reunião técnica sobre patrimônio, em São Paulo, pergunta, surpreendendo todos os demais participantes: “E Triunfo?” O episódio nos leva de volta a 1985. A pergunta se referia, em síntese, à distância física e social entre quem observa e quem (o que) é observado, a diferenças de escala nos sucessivos planos sobrepostos da paisagem. Reproduzo a perplexidade do narrador: “Quando você viaja pelo sertão de Pernambuco, a partir de Serra Talhada, você avista o primeiro grande maciço dos chapadões do Araripe. E esse maciço (...) tem uma estrada que você sobe. Você começa a percorrer essa estrada (...) e vai mudando a paisagem, vai mudando a paisagem (...) E quando você chega a mil metros de altura, numa curva da estrada, você avista a cidade de Triunfo. Tem um açude parado, refletindo a cidade, uma pequena cidade no topo da Serra do Araripe, harmoniosa, uma cidade antiga, com Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA

as ruas, as praças, os prédios de dois andares. Uma escala humana perfeitamente mantida, uma densidade correta. E eu entrei na cidade, parei numa praça, saltei do carro e, como nós todos, tentei fotografar Triunfo, absorver Triunfo, chupar Triunfo pela tecnologia da máquina. E quando estava fotografando a cidade, eu ouvi, vi um sinal, que era uma voz que fazia “psiu, psiu”. Olhei, vinha de um sobrado que tinha na praça. Tinha uns galpões, uma varanda no sobrado e tinha uma moça sentada no chão, lendo um livro, e ela virou-se para mim e disse: A vista aqui em cima é mais bonita” (MAGALHÃES, 1985, p.42-43).

Eis o desafio que esse simpósio propõe: no confronto de escalas, embate entre planos que observamos no espaço urbano, acomodar resíduos de pedra e cal e novas realidades em mutação; coordenar os elementos significantes, significados e sentidos presentes nos ambientes em que vivem centenas de milhares ou milhões de seres humanos, gente que se desloca no terreno e entre mundos digitais, interseccionados. Eis o desafio a que tão singelamente convida a moça do sobrado, de que nos fala Aloisio. É o que, de modo mais reflexivo, me proponho refletir nas condições atuais.

Plano 3. Paisagens narradas Situados no presente, podemos mergulhar nos vários planos vistos da janela. Distantes da paisagem sertaneja, nos reaproximamos da paisagem vista da janela paulistana. Há muito o que dizer sobre o ela.

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Antonio Arantes

De minha janela, em primeiro plano, vejo a fachada lateral do centenário palacete de Dona Veridiana Prado, tombado pelo município e pelo Estado de São Paulo. Ao fundo, à direita, outro bem tombado: o edifício Lausanne, conhecido pela arquitetura inovadora de Franz Heep. Edificado em 1958, implantado em terreno desmembrado da Vila Penteado, na década em que ganha velocidade a verticalização e fragmentação dos grandes lotes originais do bairro de Higienópolis. A Vila Penteado, que antes ocupava a quadra inteira, é o terceiro bem tombado a compor os planos sobrepostos dessa paisagem. Consigo ver dela apenas um pequeno detalhe, pois já se lhe tolheram o destaque conferido pela implantação original e o esconderam atrás do edifício moderno. Valho-me de narrativas escritas sobre a história de cada uma dessas edificações e sobre as relações sociais que lhes deram origem e sentido. Para entender melhor esse conjunto, posiciono-me virtualmente no cruzamento da Avenida Higienópolis, via principal do loteamento aberto em 1895, para a construção das residências das abastadas elites paulistanas. O acesso à avenida é marcado por dois imponentes portais de esquina, em semicírculo, provavelmente construídos em anos mais recentes, simetricamente, à direita e à esquerda da grande via. À direita, encontra-se o palacete em estilo renascentista francês com 3.500 metros quadrados de área construída e 5.000 metros de jardins cuidadosamente desenhados. Foi concluído em 1894, portanto um ano antes da abertura do loteamento que deu origem ao bairro, na Chácara Vila Maria, comprada por dona Veridiana da Silva Prado em 1879 e cujo nome homenagearia, segundo a crônica, Maria das Dores, dama de companhia da poderosa senhora. Mulher empreendedora e de pensamento independente, dona Veridiana foi conhecida por haver chocado, mais de uma vez, a moral conservadora dos empresários paulistas. Alinhava-se, entretanto, a monarquistas e abolicionistas. Recebeu, aliás, Dom Pedro II e Princesa Isabel em 1884. Ambos, diz a crônica, teriam registrado a forte impressão que lhes causara o palacete que seria imortalizado em 1902 pelas lentes do conhecido fotógrafo suíço Guilherme Gaensly. À esquerda da avenida, na quadra em frente à Vila Maria, foi construído, no mesmo ano de 1902, um dos mais celebrados edifícios art-nouveau da cidade, projetado pelo sueco Carlos Ekman. O inovador edifício teria sido concebido para uso de duas famílias, a do próprio Conde Antonio Álvares Penteado e a de sua filha Eglantina, que se casara com Antonio Prado Júnior, neto de Dona Veridiana e filho do então intendente da cidade.

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TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA

Figura 3. Vila Maria, São Paulo. Foto Guilherme Gaensly, 1902. Wikiwand.com. WWiWikieand. comhttps://www.wikiwand.com/pt/Veridiana_da_Silva_Prado

A residência foi implantada, curiosamente, com a frente voltada para a rua Maranhão e os fundos, onde havia um amplo jardim, voltados para o palacete em estilo francês dos Silva Prado. É difícil deixar de especular que houvesse narrativas comparando e contrastando essas duas residências, que talvez materializassem, nos seus respectivos estilos - art nouveau e renascentista francês - mentalidades diversas, quiçá rivais, em diálogo/confronto nos primeiros anos do século XX, em que cafeicultores e industriais disputavam a liderança política da então pujante economia paulista.

Figura 4. Vila Penteado, São Paulo. Projeto Carlos Ekman. pt.slideshare.net

Voltando aos nossos dias, entre esses dois marcos históricos, que haviam sido edificados e que dialogavam, frente a frente, ou melhor, frente e fundos, ou ainda lado a lado, foi interposto o Edifício Lausanne, em estilo moderno, operando um corte importante na paisagem que vejo da janela. Assim, a possível

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Antonio Arantes

narrativa sobre as famílias dominantes em São Paulo na transição do Império para a República é interrompida pela grande barreira construída em 1958, em que 60 moradias, com cerca de 180m de área cada uma, são empilhadas e justapostas em duas torres de 15 andares. Temos aqui várias questões a considerar do ponto de vista da gestão patrimonial. Desde logo, sobre o recorte do que preservar nas cidades: edifícios isolados, conjuntos de edificações contíguas ou próximas, redes de fragmentos esparsos a testemunhar a evolução desordenada da cidade? Sobre a implantação do edifício Lausanne, seria interpretada como emblemática de novos tempos na história do bairro e da cidade, emblema de um processo sem retorno? Testemunho da falta de visão, de poder e de recursos do órgão gestor que, no final dos anos 1940, quando uma das famílias parcelava sua chácara e doava o edifício principal à Universidade, não teria se interessado em preservar, no terreno, alianças entre famílias dominantes em São Paulo nos primeiros anos da República?

Plano 4. Vidas se desfazem O prédio art nouveau que mal consigo divisar de minha janela, lá está, à sombra do Lausanne, sendo conservado e utilizado pela Universidade. A vistosa chácara da senhora paulistana transformou-se em cenário de um modo de vida em desfazimento, como relata uma de suas descentes num pequeno manuscrito datado de 1983 intitulado “Como fomos morar na casa de Dona Veridiana”, do qual passo a citar algumas passagens. “voltamos para São Paulo em fins de 1913. Não caberíamos todos na casa de minha avó, na Rua da Consolação 38, pois erámos meus pais, seis filhos, a governanta alemã, a Lulu, a babá francesa de Vera. (...) Um dia, meu pai conversando no Automóvel Clube com Antônio Prado Júnior, esse queixou-se não saber o que fazer com a casa de sua avó, Dona Veridiana, que lhe coubera por herança. Não pretendia lá morar, pois era casado com Dona Eglantina Penteado, e morava na casa da sogra, na Vila Penteado. Por curiosidade, meu pai foi com ele visitar a casa, que era um palacete em estilo francês, um enorme terreno. Meu pai aceitou o convite e fomos todos nos instalar na casa de Dona Veridiana. A casa era sui generis... Dona Veridiana a construíra para todo tipo de vida que levava. Costumava receber muito, dava jantares, seus bailes eram famosos. (...)

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TRANSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ABERTURA

Meus pais se instalaram no salão de baile, na sala ao lado Elias e Geraldinho. Havia apenas três quartos. Um ficava vovó com Vera, no outro as três meninas, Helena, Lúcia e Sofia e no outro a tia Edite. A sala de banho, bem grande, foi dividida em dois banheiros. Do torreão da frente da casa com portas e janelas de três lados ficava nossa saleta de estudos. No segundo andar, numa escada mais simples estava os dois quartos dos tios, exatamente igual ao quarto da professora. Na parte de trás, ainda dois quartos de empregados. Desse andar subia-se para a mansarda, cujas janelas davam diretamente para um telhado de ardósia, que se tornou uma espécie de depósito do jardim, quarto do jardineiro, quarto de engomar. O jardim era enorme, cheio de árvores. Tínhamos passado na casa de Dona Veridiana 13 anos e meio, que nos deixaram uma ótima recordação.”

A grande chácara pertence hoje ao Iate Clube de Santos, fundado por Jorge da Silva Prado, nascido do casamento entre as citadas famílias. O palacete, jardins e dependências de serviço são alugados para leilões, festas de casamento e outras celebrações. Casais pagam para viver por algumas horas com seus convidados e parentes o esplendor narrado acerca da antiga Vila Maria, hoje conhecido como Palacete de Dona Veridiana Prado. Na lateral de baixo, bem perto da casa, esse terreno está fechado por um muro alto, defendido por câmeras de vigilância e por uma matilha de cães rottweiler, que à noite rondam palmo a palmo os canteiros que resistem.

Plano 5. Empilhamento

Figura 5. Praça Roosevelt. Foto Paulo Gasparini. Acervo do autor.

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Antonio Arantes

O que vejo da minha janela não permite ir além do que aqui descrevo. Em isolamento, observo o silencio da rua vazia. Temo que os sucessivos planos que contemplo e hoje excitam minha imaginação desmoronem, uns sobre os outros; e que realidades de outros tempos se transformem em grosseiros remendos, torres com coberturas de latão, paredes carcomidas, janelas e mais janelas fechadas, imagens digitais, planos virtuais e conectividades eletrônicas: será esse o futuro à nossa espera, quando a pandemia passar?

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São João da Casa da Cultura - Mestra Ana Lúcia do Coco Foto: Jan Ribeiro - Secult PE | Fundarpe


GIRO NO PATRIMÔNIO Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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BRINCAR COM O PATRIMÔNIO

No dia 13 de agosto de 2020, ocorreu a live Conexão Patrimônio: Dança. A entrevistada foi Maria Paula Costa Rêgo, Assessora de dança da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco. No dia 18 de agosto de 2020, ocorreu a live Conexão Patrimônio: Arquitetura. A entrevistada foi a arquiteta e urbanista Amélia Reynaldo. Autora do Livro “As Catedrais Continuam Brancas”. As lives foram mediada pela Coord. da Semana do Patrimônio, Renata Echeverria Martins.

No dia 21 de agosto de 2020, ocorreu a live Conexão Patrimônio: Turismo. O entrevistado foi Rodrigo Novaes, Secretário de Turismo e Lazer do Governo de Pernambuco. A live foi mediada por Elinildo Marinho. Em 22 de agosto de 2020, ocorreu a live Conexão Patrimônio: IPHAN. O entrevistado foi Giorge Bessoni, Cientista Social do IPHAN/PE. A live foi mediada por Marcelo Renan.

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Live Conexão Patrimônio: Arquitetura Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE Live Conexão Patrimônio: Artesanato Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Conexão Patrimônio: Turismo Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Conexão Patrimônio: Artesanato Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Conexão Patrimônio: Dança Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

No dia 20 de agosto de 2020, ocorreu a live Conexão Patrimônio: Artesanato. A entrevistada foi Márcia Souto, Diretora de Promoção da Economia Criativa da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). A live foi mediada por Marcelo Renan.


Mediação em Vídeo - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE Mediação em Vídeo - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Mediação em Vídeo - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

No dia 20 de agosto, o nosso parceiro, Museu do Trem, apresentou por meio de vídeo o museu, falando um pouco de sua história, seu conteúdo, a exposição “Chega e Partida”, além de algumas curiosidades sobre a história da ferrovia em Pernambuco. As imagens, roteiro e edição foram realizados pela equipe da Estação Central Capiba/ Museu do Trem.

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EXPERIMENTAR O PATRIMÔNIO

Postagens bens tombados do Estado de PE - Cabo e Suape Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Postagens bens tombados do Estado de PE - Engenho Camaragibe Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Postagens bens tombados do Estado de PE - Gago Coutinho e Sacadura Cabral Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

De 14 a 29 de agosto, o @culturape, instagram oficial da Secult-PE/Fundarpe, foi invadido com várias postagens divulgando os bens já tombados pelo Estado de Pernambuco! Usando a #AquiTemPatrimônio, todos os dias pudemos conhecer um pouco mais dos bens tombados do Litoral ao Sertão.

Postagens bens tombados do Estado de PE - N. Sra. do Ó Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Postagens bens tombados do Estado de PE - Terreiro Obá Ogunté Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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O Conselho de Arquitetura de Pernambuco, também se fez presente. Além do lançamento do livro “Canteiro Didático - diário de aulas e visitas técnicas orientadas/curso de gestão de restauro”, dos professores Jorge Tinoco e Larissa Louzada, durante a live realizada no dia 10 de agosto, também trouxe um rico debate as Boas Práticas em Patrimônio, na live do dia 11. A discussão correu por conta dos debatedores Tomás Lapa (CAU/PE) e Lorena Veloso (DPPC/Prefeitura do Recife), com a mediação de Juliana Barreto.

Declamação de poesias - Janela Poética: eu e João Cabral de Melo Neto Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Declamação de poesias - Janela Poética: eu e João Cabral de Melo Neto Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Declamação de poesias - Janela Poética: eu e João Cabral de Melo Neto Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Entre os dias 24 e 29 de agosto de 2020, a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco - BPE, trouxe uma série de declamações de poesias do pernambucano João Cabral de Melo Neto. A iniciativa fez parte das comemorações do centenário do poeta que é um dos maiores expoentes da literatura do estado e brasileira.

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Apresentação Projetos Funcultura Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Apresentação Projetos Funcultura Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Uma das ações que a Fundarpe tem buscado promover durante a Semana do Patrimônio e que tem trazido excelentes resultados é a apresentação de projetos do Funcultura Geral. Nos dias 17, 18 e 21 de agosto de 2020, os proponentes de alguns projetos contemplados com a linha de fomento, tiveram a oportunidade de apresentar algumas das etapas que já estão sendo desenvolvidas. Foram apresentados: projeto de restauro do Hotel Central, Diagnóstico: bairro São José e Santo Antônio e Projeto QR Code.

Apresentação Projetos Funcultura Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Vídeos - Boas práticas - Basílica da Penha Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Vídeos - Boas práticas - Estação de Moreno Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Vídeos - Boas práticas - Teatro do Parque Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Vídeos - Boas práticas - SBAOO Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Vídeos - Boas práticas - IEP 23 Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Entre 18 e 21 de agosto foram divulgados na página do youtube da Secult-PE, vídeos sobre obras de conservação e restauro. A proposta foi aproximar o público, principalmente estudantes e profissionais da área, sobre as boas práticas de preservação que estavam acontecendo no Estado. Para esta ação foram selecionados 5 bens: o Imóvel Especial de Preservação - IEP 23, a Estação Ferroviária de Moreno, a fachada azulejar da Sede da SBAOO, o Teatro do Parque e a Basílica da Penha.

Vídeos - Boas práticas - Teatro do Parque Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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INTERPRETAR

Vídeos #EU E O TREM Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Vídeos #EU E O TREM Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O Museu do Trem, parceiro constante nas ações da Semana do Patrimônio, nos dias 18 e 21 de agosto de 2020, trouxe ao público, por meio das plataformas Facebook e Instagram, o lançamento dos vídeos #Eu e o Trem e #Eu no Trem. A iniciativa buscou apresentar relatos de pessoas que possuem relação com a ferrovia e o Patrimônio Ferroviário, além de aproximar os visitantes do Museu com a história e trajetória desse bem que atualmente encontra-se em processo de tombamento pelo estado.

Vídeos #EU NO TREM Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe

Vídeos #EU NO TREM Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Vídeos #EU NO TREM Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O PATRIMÔNIO

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Live Memória e Patrimônio Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Memória e Patrimônio Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Memória e Patrimônio Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O encontro no dia 25 de agosto contou com a participação de Lília Simões, Vera Garbi, Iramaraí Freitas e Vanessa Araújo a respeito das ações desenvolvidas pelo programa Mãe Coruja em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado - SecultPE na Ilha de Fernando de Noronha.

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Live Olhares e Afetos Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE Live Olhares e Afetos Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O encontro contou com a participação de Ana Maria Oliveira, Iramaraí Freitas, Lu Almeida e Márcia Branco a respeito das ações desenvolvidas pelo programa Mãe Coruja em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado - SecultPE, nos projetos Cultura nos Cantos e Brincando na minha cidade. A live foi realizada com mediação de Amanda Paraíso (GGPPC), numa transmissão pelo YouTube, no dia 26 de agosto das 15h às 17h. Live Olhares e Afetos Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Live Olhares e Afetos Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Patrimonio Arquitectónico en el Caribe Colombiano. Barranquilla Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Patrimonio Arquitectónico en el Caribe Colombiano. Barranquilla Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Em Caruaru uma parceria com a UNIFAVIP, duas ações se concretizaram. Uma discussão sobre o tema ocupação de moradia em centros históricos, suas implicações e importantes resultados na preservação do patrimônio, contando com a participação dos arquitetos Me. Pedro Rossi, Dr. Pier Paolo Pizzolato e Me. Larissa Menezes. A outra ação teve como assunto a realidade e os desafios em torno da defesa do patrimônio histórico da cidade de Barranquilla, na Colômbia, contou com a participação dos arquitetos Me. Giovanni Polo Durán e a Me Patrícia Ataíde. Ambas aconteceram através de um encontro virtual nos dias 20 e 27 de agosto.

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PENSAR

Conferêncista - Prof. Antonio Augusto Arantes Neto Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Conferência de Abertura da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de PE Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O PATRIMÔNIO

A Semana do Patrimônio foi aberta pelo antropólogo, professor, doutor da UNICAMP, Antonio Augusto Arantes Neto, no dia 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Histórico. Também participaram da conferência de abertura Renata Borba - Superintendente Regional do Iphan / PE; Marcelo Canuto - Presidente da Fundarpe; e Gilberto Freyre Neto - Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco. A mediação ficou por conta de Renata Echeverria Martins Coordenadora do evento.

Conferência de Abertura da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de PE Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Webnário Patrimônio Imaterial Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

No dia 18 de agosto o Webnário Janelas do Patrimônio teve como tema “Patrimônio Imaterial, cultura popular e desenvolvimento local”. A programação contou com discussões sobre a relação da preservação dos saberes tradicionais e da cultura popular para o desenvolvimento de comunidades e grupos locais.

Webnário Patrimônio Imaterial Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Webnário Patrimônio Material Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

No dia 19, o webinário “As interfaces da preservação do patrimônio cultural com o uso turístico - novos olhares, estratégias e conexões” teve por finalidade discutir os novos desafios da atualidade e do cenário póspandemia para o Patrimônio Cultural. Contou com a participação de Jorge Tinoco, Prof. Dr. Marcelo Sotratti e Profª Drª Márcia Sant’Anna, e mediação de Cristiane Feitosa. Ainda no mesmo dia, foi a vez de se falar sobre “Museus comunitários, Turismo e salvaguarda do Patrimônio Imaterial”, abordando a relação entre as diferentes estratégias de promoção do turismo de base comunitária, considerando a relação dos museus com temas voltados ao patrimônio cultural imaterial no estado de PE

Webnário Patrimônio Imaterial Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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O V Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco Educação Patrimonial em Rede: perspectivas para uma educação digital - foi realizado nos dias 20 e 21 de agosto com transmissão pelo YouTube da Secult-PE. No primeiro dia, tivemos a participação dos palestrantes e professores Marcelo Sabbatini e Jessica Tardivo. O segundo os palestrantes abordaram o tema - As Experiências da Rede de Educadores Patrimoniais de PE. V Seminário de Educação Patrimonial Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

V Seminário de Educação Patrimonial Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

“Parteiras Tradicionais e Patrimônios” Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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“Parteiras Tradicionais e Patrimônios” Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O Webinar “Parteiras Tradicionais e Patrimônios” foi realizado nos dias 18 e 19 de agosto, pelo Museu da Parteira e pelo Observamus Observatório de Museus e Patrimônios Culturais, sendo organizado em quatro sessões que abordavam as políticas públicas e experiências governamentais de programas para parteiras tradicionais.

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O Encontro Acadêmico, voltado para discussão, debate e apresentações de trabalhos da disciplina de Preservação de estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco, aconteceu no dia 29 de agosto. A palestra de abertura foi realizada pela arquiteta Marina Russell Brandão Cavalcanti.

Duas Rodas de Diálogo foram propostas pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural. A primeira tinha como título “Inventariando o Patrimônio: novas práticas sob a perspectiva comunitária”, e a segunda - “Arqueologia e Paleontologia: conceitos, participação e preservação do patrimônio”. As mesas aconteceram nos dias 21 e 24 de agosto.

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José Costa Leite, Xilogravurista e Patrimônio Vivo do Estado Aurora 463 Jan Ribeiro - SecultdePE | Fundarpe Revista da Semana Foto: do Patrimônio Cultural Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021


RELATOS Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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RELATOS

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM REDE: PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO DIGITAL Durante a XIII Semana do Patrimônio Cultural, foi realizada a quinta edição do Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco, organizado pela Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe em parceria com a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, em especial a Secretaria Executiva de Educação Integral e Profissional. Em virtude da pandemia do Covid-19, pela primeira vez, toda a programação da semana foi realizada através de plataformas digitais. O referido seminário, já consagrado na programação, configura-se como um espaço consolidado para reflexão e trocas de experiências sobre a Educação Patrimonial em suas muitas dimensões, com foco nas vivências no contexto escolar. A maior parte do público participante dessas edições tem sido composta por professores da rede estadual de ensino, especificamente das Escolas de Referência em Ensino Médio (EREMs) e das Escolas Técnicas (ETE’s) estaduais. Neste ano, além desses docentes, participaram também estudantes e pesquisadores interessados na temática. Realizado nos dias 20 e 21 de agosto, pela primeira vez numa modalidade virtual1, o Seminário contou com o tema “Educação Patrimonial em Rede: perspectivas para uma educação digital”. Sabe-se que a mudança de paradigmas da sociedade é inegável. Se em tempos remotos, a propagação da informação estava limitada a apenas alguns veículos de comunicação e a poucos recursos tecnológicos, hoje, ela não tem limites. A cada segundo, qualquer informação pode ser captada em tempo real e de qualquer lugar do mundo, da palma da mão, bastando um clique. Nesse cenário, educar pessoas que já são nativas digitais passa a ser um grande desafio. E nisso, dá-se a relevância de se tratar de Educação Digital, não só dentro de casa, mas, também, nas escolas. A cultura digital está no nosso cotidiano e não podemos negar a importância de ser incorporada à Educação. No contexto pandêmico, os desafios tornaram-se ainda maiores quando as escolas precisaram adotar aulas remotas, sem que houvesse tempo para planejamento ou mesmo formação para educadores. O primeiro dia do encontro foi iniciado pelo Professor Dr. Marcelo Sabattini (UFPE)2 que ministrou a conferência com o tema do Seminário. Em sua explanação, ao fazer uso de algumas imagens, instigou provocações no sentido de pensarmos 1 Transmissão realizada no canal da SecultPE no YouTube. 2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q916imUzVyg&t=2953s.

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sobre as gerações que estão sendo educadas no meio digital num convívio com outras gerações que estão excluídas desse meio. O professor comentou sobre os impactos das tecnologias na sociedade, com base em diversos autores, em que os seres humanos teriam evoluído passando por três grandes momentos da civilização: agricultura, indústria e sociedade da informação.

Figura 1: Abertura do seminário com palestra do Professor Marcelo Sabattini Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Segundo Sabattini, o panorama do digital não é tão novo quanto parece. Entende que no atual contexto da pandemia, estamos vivendo de forma mais intensa. Desse modo, compreende a importância de perceber as mudanças que as tecnologias digitais causam em relação à escola. Antes tínhamos o conceito de “escola-lugar”, onde pais, professores e estudantes convergem; hoje, temos a “escola-nodo”, distribuída em todos os lugares, inclusive em casa, de modo que a centralidade se perde - afirma o professor. Isso provoca mudanças, desafios e oportunidades, como: extrapolar a aula tradicional; inserir os movimentos sociais como elementos pedagógicos, as novas práticas como a educação patrimonial, entre outros. Nesse sentido, ressalta que é comum nos depararmos com questões como: “o que separa o virtual do real?”, “o que isso tem a ver com cultura, educação e patrimônio?”. Finalizando a apresentação, o professor tratou do Patrimônio Digital a partir de exemplos de preservação do patrimônio físico através da digitalização de obras. Explicitou ainda sobre os ciclos de adoção das tecnologias e os desafios dos professores de se apropriarem das mesmas para além de simplesmente adotá-las. Na sequência, a Professora Drª Jessica Tardivo apresentou os resultados da tese de doutorado Educação, Memória e Cidade, defendida no ano de 2019, no Programa de Pós-Graduação em História da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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RELATOS

Paulo. Sua tese, desenvolvida e aplicada de forma experimental em Brotas, município do Estado de São Paulo, permitiu a observação e o registro subjetivo da cidade, através da compilação de práticas criativas, orientadas pela Teoria da Conversação e pela metodologia da Educação Patrimonial. Foram elaboradas diversas cartografias visuais, que, segundo a professora, refletem a experiência sensível de um indivíduo pelo espaço da cidade. Também foi elaborado um quadro de aplicação, por meio do qual é possível compreender a cidade como um cenário educador tramado por diferentes referências culturais. As atividades realizadas de educação patrimonial, segundo a professora, permitiram: explorar a cidade e experimentar diferentes possibilidades de troca de informações por meio da fotografia, da memória oral e do diálogo com pesquisadores; contribuir para que os indivíduos se expressassem de forma sensível e crítica e ao mesmo tempo reconhecessem elementos da cidade no registro do outro; a ampliação da percepção sobre a cidade e seu patrimônio cultural, instigando a busca por novas informações para o cuidado e a preservação da cidade, abrindo diálogos sobre as políticas públicas. Tardivo apresentou fotografias que fizeram parte do percurso da pesquisa, destacando a questão da apropriação cultural, de como os estudantes passaram a observar a cidade com um novo olhar, sem vergonha nem medo, bem como terem se dado conta das potencialidades da tecnologia - como uso do celular - no processo de difusão e preservação do patrimônio cultural, mesmo eles já possuindo familiaridade com esse tipo de dispositivo.

Figura 2: Palestra da Professora Jessica Tardivo Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

O encontro foi mediado por Amanda Paraíso (GGPPC-Fundarpe) e contou também a presença dos técnicos da Fundarpe Nilson Rocha e Elinildo Marinho,

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que contribuíram com debate, junto ao público, direcionando questionamentos aos professores. No segundo dia do evento, os palestrantes e professores Mariângela Berardinelli, Márcia Hazin, Jadiel Barbosa e Roberta Barbosa compartilharam “Experiências da Rede de Educadores Patrimoniais de Pernambuco”3. Criada no ano passado, a Rede contou com a participação de professores e técnicos pedagógicos de diferentes regiões de desenvolvimento, que realizaram projetos de educação patrimonial com seus estudantes ao longo do ano, com ênfase nos Inventários Participativos. A motivação para criação da Rede se deu a partir das formações realizadas pelo Setor de Educação da Patrimonial da Fundarpe nas Gerências Regionais de Educação do estado com foco na metodologia do Jogo do Patrimônio 2.0. A iniciativa se deu numa parceria entre Fundarpe, Iphan e Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco. Participaram cerca de 28 profissionais da educação (entre professores e técnico-pedagógicos) e aproximadamente 350 estudantes, além da equipe de técnicos da Fundarpe, Iphan e Secretaria de Educação. Os municípios envolvidos foram: Recife, Camaragibe, Nazaré da Mata, Bezerros, Palmares, Limoeiro, Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Petrolina, Salgueiro e Araripina. Ao iniciar os debates do encontro, a Professora Mariângela Berardinelli contextualizou o surgimento da Rede a partir das formações do Jogo do Patrimônio 2.0, que foram realizadas nas diferentes regionais pelo setor de Educação Patrimonial da Fundarpe. Isso porque esses encontros revelaram a necessidade de conectar professores que já realizavam trabalhos na área, bem como estimular a conhecer outras práticas pedagógicas. Nesse sentido, explicou como se deu a criação da Rede, destacando o desejo de ampliação futura para alcançar outras regiões e docentes. Na sequência, a Professora Márcia Hazin explicou resumidamente a metodologia dos inventários participativos que norteou as ações da Rede. Tal metodologia, desenvolvida pelo Iphan, parte do pressuposto de que a competência para definir referências culturais é dos detentores. Hazin comentou sobre as aprendizagens em torno dessa metodologia desde a formação realizada com os professores na cidade de Garanhuns, a qual possibilitou o início dos trabalhos. O Professor Jadiel Barbosa, um dos membros da Rede, apresentou resultado das ações que foram realizadas com estudantes da Escola de Ensino Médio dos 3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PNz1D8nPw1Q&t=392s.

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RELATOS

Palmares Dom Acácio Rodrigues Alves, localizada no município de Palmares. As atividades incluíram rodas de conversa, desenhos, confecção de jogos educativos como o Jogo do Patrimônio, cartografia afetiva e concurso de fotografia. A partir do projeto, os estudantes puderam conhecer melhor os bens culturais da sua cidade e descobrir seus talentos nas mais diversas linguagens, percebendo-se enquanto protagonistas na preservação afetiva do patrimônio cultural.

Figura 3: Experiência da cartografia afetiva realizada durante formação com professores. Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Como desdobramento das ações, o professor Jadiel também teve oportunidade de socializar experiências da Rede de Educadores Patrimoniais em formações com outros docentes da sua região, motivando-os a realizarem práticas de educação patrimonial em suas escolas.

Figura 4: Apresentação do Professor Jadiel Barbosa Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

A Professora Roberta Barbosa, representante da Rede da regional do Vale do Capibaribe, expôs resumo das ações realizadas na Escola de Referência em Ensino Médio Austro Costa situada em Limoeiro. O projeto com os estudantes recebeu o

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título de Galpão das Artes: Patrimônio Cultural de Limoeiro pelo fato do local ter sido escolhido como um dos objetos de estudo da pesquisa. As aulas contemplaram produção de textos, vídeos, cartografia afetiva, rodas de diálogo e visita ao espaço cultural para conhecer o espaço e conversar com os artistas. Na culminância do projeto, que contou com apresentações dos estudantes, toda a escola foi convidada a participar e conhecer sobre patrimônio cultural da localidade através da linguagem do cordel, entre outras produções. Segundo a professora, foram muitos os aprendizados construídos, sobretudo em torno da diversidade cultural das tradições e das histórias de cada comunidade.

Figura 5: Explanação da Professora Roberta Barbosa Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

A partir das experiências compartilhadas, o público foi instigado a refletir sobre novas perspectivas de trabalho no campo da Educação Patrimonial, inseridas no panorama do digital, que ultrapassam os muros da escola. Nesses novos espaços e tempos dos processos de ensino e aprendizagem, são diversos as oportunidades e os desafios que tem se apresentado às nossas escolas. Nessa perspectiva, a educação para e pelo patrimônio encontra-se na base desse processo, ao cooperar para a criação de inúmeras possibilidades para que nós e nossos estudantes nos percebamos enquanto corresponsáveis pela proteção e salvaguarda dos nossos bens culturais. Práticas educativas, como as que foram apresentadas, contribuem para apropriação cultural e compartilhamento de tesouros repletos das memórias de gerações, enquanto chaves que abrem portas para vivenciarmos a experiência de estarmos e de sermos parte de um grupo e de um lugar. Amanda Carla Gomes Paraíso

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4 Assessora de Educação Patrimonial (GGPPC-Fundarpe) e coordenadora do Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco.

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RELATOS

ENTRE O PASSADO E O PRESENTE, A ARTE DE PRESERVAR E AMAR

Somos a soma das nossas experiências, somos a conjugação de todos os verbos que vivemos, frutos do passado, nossas raízes, nossas origens. O que precisamos é conhecer, valorizar e produzir um efeito cascata de pertencimento dos nossos patrimônios culturais, históricos e artísticos. Esse relato tem a finalidade de apresentar um breve resumo das ações que foram realizadas num trabalho de conscientização dos nossos estudantes da Escola de Ensino Médio dos Palmares Dom Acácio Rodrigues Alves em Palmares, como consequência da formação da Rede de Educadores de Pernambuco. A referida Rede foi criada durante a formação de professores e educadores entre os dias 29 e 30 de maio de 2019 na cidade de Garanhuns - PE, por iniciativa da Fundarpe em parceria com Iphan e Secretaria de Educação do Estado. De imediato, fizemos ações como as rodas de conversa com os estudantes da disciplina eletiva de Educação Patrimonial e também com professores da nossa escola. Em seguida, tivemos duas formações com os professores da nossa Gerência Regional (GRE) da Mata Sul, em julho, e da Gerência Regional (GRE) Litoral Sul. Tivemos objetivo de compartilhar o propósito da Rede e importância do trabalho de educação patrimonial no contexto escolar.

Figuras 01 a 02: Roda de conversa com estudantes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Jadiel Barbosa de Lima

Figuras 03 a 04: Roda de conversa com estudantes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Figuras 05 e 06: Formação com professores Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Logo após, realizamos o trabalho efetivo com nossos estudantes da eletiva, promovemos um concurso fotográfico com o seguinte título: “Os (en) cantos, do meu canto”, onde os mesmos deveriam escolher uma frase ou trecho de um poema em que eles precisariam destacar e retratar os principais pontos históricos, culturais das cidades que moram. Eram cinco: Palmares, Água Preta, Xexéu, Joaquim Nabuco - PE e Colônia Leopoldina - AL. Tivemos a culminância com apresentações dos álbuns fotográficos produzidos. Buscando identificar a importância do principal ponto histórico da centenária cidade dos Palmares, escolhemos o Cine Teatro Apollo, fundado em 6 de dezembro de 1914, patrimônio cultural de Pernambuco. Com isso, propomos uma cartografia afetiva a partir da nossa escola, mapeando, conhecendo e trabalhando outros pontos históricos até o teatro. Encontramos ruas históricas, escola em homenagem ao grande

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poeta Ascenso Ferreira, a ponte histórica construída pelos ingleses em 1885, a estação ferroviária (sede da Fundação Hermilo Borba Filho), a Catedral Nossa Senhora da Conceição, sede da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição dos Montes, de 1868.

Figuras 07 a 11: Concurso de fotografia artística “Os (en)cantos do meu Canto” Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Tendo os estudantes (total de 40) pesquisando os pontos destacados, entrevistando pessoas, coletando informações primordiais, fizeram em sala de aula, a apresentação dos seus pontos históricos escolhidos. A partir daí, começamos a fazer um jogo do patrimônio dos Palmares e incentivamos os estudantes das outras cidades a fazerem também seus jogos dos patrimônios, tudo de forma leve e prazerosa, como deve ser essa busca afetiva. Conhecer para se sentir participante, tendo o sentimento de que aquilo nos pertence em todo processo.

Figura 12: Jogo do Patrimônio produzido pelos estudantes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Jadiel Barbosa de Lima

Figuras 13 e 14: Diálogos durante as aulas Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Em suma, nossa experiência com a educação patrimonial foi bastante exitosa, embora saibamos que ainda nos resta um caminho para efetivação das nossas metas de fazer projetos juntos à administração pública de uma política de valorização dos monumentos históricos, da arte e da cultura do nosso município. A trilha está só começando... seguiremos nossa busca. Como diz Adélia Prado, “O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível”.

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1 Professor da EREM Dom Acácio Rodrigues - Palmares.

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PROGRAMA MÃE CORUJA: A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS LÚDICOS, PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL, DIVERSIDADE E INTERATIVIDADE ENTRE A COMUNIDADE

Ciranda no museu do tubarão. Crianças e moradores voluntários Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

O relato dessa experiência começa com um desafio que surge de uma inquietação sobre a pouca identificação que os noronhenses tem com sua história, com a cultura e a frágil conexão com suas tradições. Essa trajetória teve início através de uma pesquisa territorial na ilha após o convite da administração da autarquia territorial do distrito de Fernando de Noronha para implantação do Programa Mãe Coruja Pernambucana. Atualmente considerado um dos programas sociais brasileiros de referência na área da primeira infância e materno infantil, diante dos avanços alcançados pela política intersetorial no Estado de Pernambuco. Este é um aspecto importante, pois o entendimento de qualidade de vida passa pela concepção do trabalho entre as redes de saúde, educação, social, trabalho e cultura. Essa estratégia tem focado também na primeira infância através de ações multiestratégicas que comentaremos mais detalhadamente a diante. Ciente e imbuído do compromisso com a infância e com o futuro dos/as pequenos/as pernambucanos/as na consolidação de uma sociedade mais justa,

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equânime e solidária, o Programa cria o seu Plano de Desenvolvimento Infantil (PDI), que se fundamenta nos fatores biológicos, no ambiente e na forma como a criança recebe estímulos e estabelece seus laços afetivos, centrado na importância do brincar, pautando, ao lado da sociedade, das organizações sociais, das políticas públicas e ações nos eixos de Saúde, Educação e Cultura, Desenvolvimento Social, Esporte e Lazer que visam essencialmente promover o direito das crianças de crescerem e se desenvolverem, fazendo o que toda criança mais gosta de fazer: brincar.

Gincana na Praia do Porto em Fernando de Noronha Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Entendendo a importância dessas atividades o Programa Mãe Coruja ja havia concebido, em 2017, através do plano de desenvolvimento infantil, as ações: Cultura no Canto e o Brincando na Minha Cidade. O objetivo é criar espaços de ludicidade, onde mulheres grávidas, mães, crianças e suas famílias em suas comunidades, usufruam de momentos de convívio prazeroso, de troca de saberes, de encontros com música, cinema, teatro, de reencontro com brincadeiras/ brinquedos que fizeram parte da memória de suas infâncias, onde se é permitido o prazer de brincar pelo brincar. “Cultura no Canto” é uma ação pensada para o fomento cultural sempre articulada junto com a Secretaria de Cultura e Educação, com o objetivo de realizar ações que estimulem uma infância saudável e feliz. Propiciar o desenvolvimento infantil e o resgate da identidade cultural, além de fortalecer vínculos afetivos entre crianças, famílias e sociedade, utilizar o brincar como ferramenta para o desenvolvimento social, ambiental e cultural, estimular os pais a participarem

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do desenvolvimento infantil, efetivando o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente. O Brincando na Minha Cidade expande as atividades para as ruas, praças e pontos históricos e culturais do município. Em parceria com os gestores locais, com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e das Secretarias de Cultura, Turismo e Lazer do Governo de Pernambuco. No primeiro momentoé feito um mapeamento dos municípios, a convocação dos agentes sociais para sensibilização sobre a importância do brincar, a utilização do espaço urbano e participação comunitária. Essa ação busca promover, com atividades lúdicas e culturais, a interação coletiva e afirmação das identidades locais entre as crianças, mulheres cadastradas no programa e suas famílias, estimulando os vínculos afetivos ecomunitários.

Cultura no Canto - Contação de histórias - Jupi Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Desde o Desenho do espaço da amarelinha, das cordas para cabo de guerra, espaços para queimado, pescarias onde o brinde são livros, a troca de brinquedos onde a criança exercita o desapego, a apresentação de grupos de dança regional, o teatro, a contação de história, o museu da cidade sendo visitado e a arquitetura sendo relembrada. Como efeitos percebidos decorrentes da experiência, visualizamos a socialização, integração com os espaços comunitários, o estímulo do brincar, conscientização de sua importância para o desenvolvimento infantil, tudo isso envolvendo no resgate cultural. Finalmente consideramos que a promoção do desenvolvimento na primeira infância tem sido importante para a qualidade de vida individual e da sociedade.

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Brincando na minha cidade Cumaru Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Brincando na minha cidade - Betânia Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

FÉRIA NA ILHA: UM DESAFIO DE APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS, DA CULTURA E TRADIÇÃO COM A JUVENTUDE ILHÉU Por esses e outros resultados, o Mãe Coruja foi convidado em 2017 para ilha de Fernando de Noronha, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento infantil e o empoderamento familiar. Com o desafio aceito, precisamos seguir algumas etapas antes de sua implementação. Primeiro foi realizado um trabalho de identificação das principais dificuldades enfrentadas pelas famílias que residem no território. Dentre elas, verificamos uma carência de atividades culturais, lúdicas e de utilização da área urbana pela infância e juventude ilhéu. Os espaços públicos como as praças e os parques infantis, além do papel de socialização, mostram-se importantes para o desenvolvimento infantil por oportunizar habilidades físicas, cognitivas, sociais e psicológicas, através da atividade do brincar. Ficou registrando durante a pesquisa de campo que as praças e até mesmo as praias era locais subestimados pelos moradores com potenciais espaços de uso para recreação. Por segurança, praticidade de locomoção ou pela falta de equipamentos nos parques como convite ao brincar e por entender que esses espaços estão ‘reservados” aos turistas, a juventude ilhéu elege como seu espaço para atividades lúdicas a quadra esportiva da escola. Além desses fatores que pontuamos acima foi preciso entender as peculiaridades do território e assim como as demandas da comunidade. Observamos que o momento que as crianças, uma vez que usufruem bastante do ambiente escolar para brincar, quando entravam no período de férias a brincadeira coletiva se perdia.

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Esse mesmo período coincide com a alta estação de turismo na ilha, muitos pais e familiares costumam se ausentar muito mais em função do trabalho. Percebendo esta demanda o Programa juntou a concepção da Cultura no Canto com o Brincando na Minha Cidade e construiu uma nova ação que atendesse a essa demanda do público noronhense, foi assim que começou a se desenhar o Férias na Ilha, uma colônia de férias que incluiria atividades culturais, histórico, esportivas e ambientais, juntando o lúdico com aprendizado, percorrendo pontos diferentes da ilha com potencial estratégico para fortalecer a identidade daquelas crianças com o local onde vivem.

Atividade na praia durante o Férias na Ilha Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Em parceria com a secretaria de cultura do Estado, da FUNDARPE e de profissionais da cultura local o programa fez um levantamento dos espaços urbanos que poderiam ser utilizados para as brincadeiras, foi feito um levantamentos dos espaços culturas, patrimônios locais que poderiam ser incluídos na programação. Feito isso adaptamos uma programação diversa que incluíam visitas ao Museu da Memória Noronhense onde brincaram com o jogo do patrimônio, oficinas de mascaras carnavalescas inspiradas nas contações de histórias da lendas da ilha, brincadeiras resgatadas das histórias de seus pais e avós nas praias e atividades de conscientização ambiental. As atividades terminavam com uma trilha até o forte Nossa Senhora dos Remédios onde além de terem contato com um dos monumentos mais antigos era feita uma roda de conversa sobre as experiências trocadas, acabando com um piquenique de despedida.

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Trilha até o Forte dos Remédios Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Todo esse trabalho repercutiu em uma rica discussão em uma live do evento que fez parte da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco: "Memória e Patrimônio na formação da identidade cultural de Fernando de Noronha". Dentre outras coisas que os desafios continuam a fim de fortalecer a união dos setores culturais com o Programa para dar continuidades a ações e programações que envolvam crianças e famílias da ilha com suas memórias e se identifiquem com seus patrimônios. Sabemos que é um processo longo e, principalmente, que deve ser tornar contínuo para que a tradições locais estejam nas mentalidades da comunidade e, naturalmente, sejam repassadas ao longo dos anos. O patrimônio cultural, seja ele material ou imaterial possui uma expressão que constitui a ilha de Fernando de Noronha, porém ainda é o patrimônio natural que marca fortemente o local.

Oficina de máscaras retratando as lendas urbanas locais - menino do dentão Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

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Como o Morro do Pico, o ponto mais alto do Arquipélago com mais de trezentos metros de altura, é o cume de um grande sistema de montanha submarina de origem vulcânica que se ergue das profundidades do chão do oceano. A ponta da montanha é, na grande maioria das vezes, o primeiro aceno a quem se aproxima da ilha, seja pelo céu ou pelo mar. É sobre as belezas naturais, a biodiversidade marítima e o turismo que se mapeia o estereótipo do arquipélago de Fernando de Noronha.

Morro do Pico Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

Mas, assim como a formação rochosa submersa no Pico está oculta no fundo do mar, existem outros aspectos da ilha camuflados por esses atributos mais caricatos do lugar. Aspectos identificados por nós durante os trabalhos de campo realizados para construir o estudo sócio cultural de Noronha. Pesquisa que serviu de base para implementação do Programa Mãe Coruja Pernambucana no distrito em meados de outubro do ano de 2019. Diferente das características naturais e paradisíacas os atributos sócio, históricos e culturais são pouco aparentes. Tanto para o turista que enche os olhos com as praias quanto para os próprios moradores, tirando aqueles mais antigos, os guardiões de algumas tradições, da história oral, das lendas ilhéus e outras memórias, uma identidade cultural de Fernando de Noronha parece um lusco fusco na mentalidade dos jovens moradores permanentes ou naturais da ilha. É algo que desaparece aos olhos e ouvidos daqueles que vem de fora. Noronha muitas vezes se resume as praias e ao fundo do mar. Dentre as propostas do Programa Mãe Coruja, está o desenvolvimento de ações contínuas de educação, cultura, história e patrimônio que se justificam pela importância em contribuir para a valorização da identidade e das referencias culturais da ilha. Unindo tudo isso as características do Mãe Coruja que é incentivar sempre

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a prática física e mental do desenvolvimento infantil, despertando sentimentos de coletividade, solidariedade, respeito e companheirismo. Promovendo convivências nos espaços públicos e fortalecimento de vínculos entre famílias e comunidade.

Lília Simões 1

Final das atividades no Forte dos Remédios Foto: Acervo Mãe Coruja Fernando de Noronha

1 Coordenadora do Mãe Coruja Fernando de Noronha.

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A EXPERIÊNCIA DA SECRETARIA DE CULTURA NO PROGRAMA MÃE CORUJA PERNAMBUCANA “Sorrisos, risadas, brinquedos espalhados, brincadeiras, descobrimento, pertencimento, novas formas de olhar, novas palavras a aprender. A rua. O novo! A imaginação. O lúdico. O velho que fica novo de novo. O encantar-se. O olhar que deixa tudo encantado. O reencontar-se! A criança e a cidade!”. Vasconcellos. Gabriela. In Crianças no espaço público é sinal de um mundo mais humano. MORAES, André. Funcultura. 2014

“toc, toc, toc (na porta do meu quarto). Quem é? respondeu, É o lobo mau!”, diz Chico (1 ano e 10 meses)

O COMEÇO Tudo começou em 2017. Os Projetos Cultura nos Cantos e Brincando na Minha Cidade saíram do papel para apoiar o Programa Mãe Coruja Pernambucana com ações voltadas ao desenvolvimento infantil na 1ª infância. O projeto Cultura nos Cantos tem como objetivo provocar dinâmica nos Cantos Mãe Coruja, possibilitando o desenvolvimento infantil, por meio de ações culturais. O Brincando busca abrir o olhar para as possibilidades da cidade e para o encontro com a cultura do lugar.

https://maecoruja.pe.gov.br

O programa Mãe Coruja ao longo de mais de 10 anos de atuação firmou sua importância no cenário de Pernambuco atuando de forma ininterrupta no acompanhamento das mulheres gestantes e de seus filhos até os cinco anos. Experimenta o cuidar evitando perdas; O cuidar possibilitando desenvolvimento saudável para mulheres grávidas e filhos; O cuidar informando, debatendo, discutindo,

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formando, estimulando. Construiu nesse meio tempo uma rede tecida pelos Cantos Mãe Coruja, conectando todas as regiões do estado, apoiada pelos municípios e por outras instituições. Esta é a condição favorável do Programa que vem dando assertivas ao longo do tempo. OS CANTOS MÃE CORUJA Nos Cantos Mãe Coruja encontramos o nosso lugar de atuação. Ali passam diariamente mulheres gestantes e seus filhos menores para acolhimento e acompanhamento da gestação. Garantir um espaço que não seja só vinculado à saúde física da mulher gestante e da criança, mas um espaço culturalmente vivo e, recheado de trocas afetivas. Buscamos contribuir com novas possibilidades para os Cantos e os grupos a eles integrados.

Foto: Cantos Mãe Coruja. https://maecoruja.pe.gov.br

O COMEÇO... Estamos lidando com crianças e mulheres grávidas. Temos como caminhos a trilhar, o afeto, os brinquedos e as brincadeiras, fundamentais à construção de um desenvolvimento saudável do ponto de vista emocional e comportamental e a identidade cultural que os torna único e especial. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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Um começo que passa pelos primeiros contatos, reconhecimento do grupo, dos trabalhos desenvolvidos nos Cantos, dos técnicos que estão à frente. Pensar nas propostas. Iniciamos construindo vivências que favorecessem o olhar, o toque, o sorriso, os abraços, a memória. Não estamos lidando com formação, mas sim levando momentos que ajudem a pensar e repensar a história de cada um nesse lugar. Entendemos a arte como um elemento importante na comunicação. Enveredamos pelos caminhos da contação de histórias da dança, do teatro, do cinema, da música. Construímos uma agenda favorecendo o contato direto, a entrega, o despertar do carinho. Chamamos as famílias, mulheres gestantes e seus filhos para experimentar essas vivências. A participação e interesse das famílias, sempre proporcionada pela boa articulação dos Cantos foi surpreendente. As crianças mais receptivas, rapidamente relaxam e se envolvem nas brincadeiras. Os adultos, um universo feminino pela própria característica do Programa, circulam na periferia dos espaços, se arriscam menos, olham e, por vezes não se aventuram a entrar nesse território distante e “misterioso” do brincar. Vencido esse primeiro momento, começam a participar. Propomos uma vivência no mundo saudável das brincadeiras... e falamos não, de brincadeiras “ que se apropriam do lúdico como forma de controle e normalização do ser humano, mas sim, como experimentação, como forma de auto conhecimento e resistência a agentes controladores externos, possibilitando novas formas de pensar e agir...”.1 Sentar no chão, olhar nos olhos, resgatar músicas, danças, correr, rodar, inventar, criar....a deliciosa entrega. Sem perda dessas possibilidades, foram constituídos em grupo, as parcerias, as atribuições, pesquisa, prioridades, municípios, etc. É muita gente envolvida nesse momento de construção afetiva-cultural. O PROJETO CULTURA NOS CANTOS

2017 As ações do Cultura nos Cantos tiveram início no ano de 2017 em Santa Maria

da Boa Vista, no Quilombo Inhauns, Comunidade quilombola no sertão pernambucano, e também reduto do Patrimônio Vivo do estado , Reisado de Inhanhum. Esta localidade orgulhosa de seu patrimônio e permeada

1 Andrade, Luana. In Crianças no espaço público é sinal de um mundo mais humano. MORAES, André. Funcultura. 2014.

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por danças, música, histórias e memória recebeu a experimentação da contação de histórias. Sabendo-se do quanto de memória esse lugar carrega em si, juntamos em um só lugar, crianças, mulheres gravidas, técnicos dos Cantos e parceiros. Quisemos demonstrar como histórias do lugar poderiam ser contadas, com música, dança, alegria e queríamos ouvir todas as histórias guardadas, esquecidas, recontadas com a marca daquele lugar.

2018 Permanecemos absorvendo os ares do sertão. Fomos aos municípios de Moreilândia, Exu, Parnamirim e Terra Nova carregando Família: Coração cheio de memórias e poesia, na tentativa de “construirmos um espaçotempo artístico onde tentamos enxergar com leveza a vida em família, a convivência, a força e beleza das ações do coletivo. A promoção de ações que facilitem e privilegiem o cuidado com as pessoas independente de suas histórias de vida e idades, exaltando a delicadeza do ser humano através da singeleza das músicas, poesias, cirandas, dos vínculos familiares e suas memórias afetivas, lembranças passadas e presentes que edificam nossas convivências e trocas.”2

Fotos: Acervo Secult/PMC

Levamos também É brincando que se aprende, sobre o sensível universo da palhaçaria, “com vista à compreensão do lúdico como canal potencializador da autoestima, superação e expressão artística, realizado

2 Família: Coração cheio de memórias e poesia. Proposta apresentada por OLIVEIRA, Adélia para o Projeto Cultura nos Cantos.

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por meio de jogos de interação, improviso em grupo, compartilhamento de histórias/experiências pessoais, dublagem e criação de coreografias em grupo, entrada e saída do picadeiro, memórias sobre o palhaço dos brinquedos populares, o brincante. Experimentando o “palhaço”3 em cada um de nós, fazendo rir ou chorar e se libertando para viver essa possibilidades junto aos filhos. MUDANÇAS NO FORMATO A dinâmica do mundo exige mudanças... Sempre! Ao longo de 2018, identificamos que não poderíamos dar conta de 103 municípios e 1 Distrito. Teríamos que ter uma estrutura maior na Secretaria para construir movimentos que se reverberassem. Não tínhamos fôlego para isso! Modificamos a conformação agora com um trabalho voltado aos próprios técnicos e parceiros do Programa. Entendemos que eles estão no dia-a-dia, que compartilham dessa convivência. São eles que conhecem os grupos. São eles que acolhem e que estabelecem, num ir e vir quase diário, uma relação de confiança com esse público. E são eles que poderiam propiciar a dinâmica e a multiplicação tão desejada. Retomamos os trabalhos com esse novo formato e estamos atuando dessa forma até hoje. Sentimos a distância das crianças... do barulho, dos sorrisos, das falas...

Foto: Acervo Secult/PMC

2019 Chegamos com uma pequena bagagem, mas com novas propostas. Os técnicos dos Cantos e seus parceiros estariam a frente de um trabalho direto

3 É brincando que se aprende. Proposta apresentada por NOGUEIRA, Ana para o Projeto Cultura nos Cantos.

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com os grupos de famílias. Traduzindo o conhecimento e transportando para construir, inventar e inspirar novas brincadeiras com o olhar sobre o lugar. As vivências se seguiram com foco nos elementos rio, poesia, e pertencimento. Propostas feitas por profissionais em face dos objetivos pretendidos. E assim foi feito. Levamos a Itapetim e Carnaíba a proposta EU RIO, de “Pensar no corpo como um rio, que leva memórias a desaguar no mar de histórias” 4; evamos a Pedra e Buíque, a proposta “No meio do caminho tinha uma poesia” 5, evidenciando o olhar poético sobre a cidade e os poetas do lugar e levamos a Betânia e Triunfo, o despertar do sentimento de pertencimento à região6.

Fotos: Acervo Secult/PMC

O BRINCANDO NA MINHA CIDADE O projeto Brincando na minha Cidade partiu de um ideário de criança solta, conhecendo, descobrindo, caminhando, tropeçando, ralando joelhos....algo contrastante com o que vive e como vive a criança hoje. Uma formalização cada vez maior do brincar,

4 Eu rio. Proposta apresentada por FERREIRA, Gisélia para o Projeto Cultura nos Cantos. 5 No meio do caminho tinha uma poesia, Proposta apresentada por FERREIRA, Gisélia para o Projeto Cultura nos Cantos. 6 O despertar do sentimento de pertencimento à região. Proposta apresentada por ATAÍDE, Everton para o Projeto Cultura nos Cantos.

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entre quatro paredes, e com brinquedos que não ajudam a despertar a imaginação. Sem falar no tempo vivido em frente de uma televisão, ou conectado a celulares sem perceber que o mundo real é mais atrativo, instigante, misterioso.... deslumbrante. Propomos um retorno às ruas, perdidas por muros altos, trânsito intenso, violência. Redescobrir a cidade com seus cantos e encantos... Encontrar portas de abrir, não de fechar, como diria João Cabral de Melo Neto em seu poema Fábula de um arquiteto. As crianças vivem hoje em dois ambientes - casa/escola, mas a essência da vida acontece nas ruas, onde se realiza encontros, improvisos, surpresas. Propomos “espaços” de ludicidade nas cidades, onde as mulheres grávidas, suas famílias e a comunidade se encontrem numa troca de saberes, de encontros com música, cinema, teatro, brinquedos e brincadeiras. A ideia é transformar as “ruas” em extensão da casa, extensão da sala de aula. Um momento de valorização do espaço urbano. O Brincando na Minha Cidade acontece em um único dia. Em dia de semana. Dia em que as crianças estariam na escola. Transportar a sala de aula para as ruas, esse o nosso grande desafio. Precisávamos fazer compreender que a rua é também lugar de se aprender. Que na rua estão os cinemas, os museus, os coretos, as bibliotecas, os parques, as praças. Tornar vivos esses espaços com atividades foi por onde começamos. Compartilhamos então cinema nas escolas; contação de histórias, teatro de bonecos e dança nas praças; músicas nos coretos ; “descobrimos” artistas, poetas, músicos, bailarinos locais; nos misturamos em atividades lúdico-esportivas: jogos em grupo (cabo de guerra)e individual (amarelinha, pula-corda); realizamos feirinha do troca-troca com brinquedos doados, mas também, aconteceram brincadeiras espontâneas (crianças que levaram suas bolinhas de gude). Ali acontecia também o brincar pelo prazer de brincar. Tudo a um só momento em espaços conectados a uma praça, como escola, igreja, biblioteca, museu, teatro.... O Brincando é sempre pensado conjuntamente com o Programa Mãe Coruja, com os Cantos Mãe Coruja, com as secretarias de estado e municipais, com parceiros do Programa. Reforçamos e valorizamos sempre o trabalho realizado pelos Cantos Mãe Coruja e a parceria com os municípios que, pretende-se, assumirão a responsabilidade de multiplicação da ação em suas localidades. No período de 2017 a 2018, realizamos 4 (quatro) ações do Brincando, com uma excelente receptividade e participação ativa de todos os entes parceiros.

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Os municípios, foram priorizadas as regiões do Agreste Central (Lagoa dos Gatos), Agreste setentrional (Cumaru), Sertão do Moxotó (Betânia) e Região Metropolitana (Araçoiaba), reunindo um total de cerca de 1300 pessoas. Algumas atividades VIVENCIADAS partiram de iniciativas do estado e outras dos próprios municípios.

2017 LAGOA DOS GATOS

Poesia em flor - construção coletiva de poesia - Adélia Flor/ Quem conta um conto, aumenta um ponto-Mamulengo Cia do Chapiléu/ cinema de animação (Salu e o Cavalo Marinho/Dia estrelado/Era uma vez tudo verdim)/ atividades lúdico-esportivas/Banda Sinfônica São Caetano Escola Técnica de Criatividade Musical.

2018 CUMARU

Contação de histórias - Sec.Educação do Município/Bumba-meu-boi do Capitão Boca mole - Teatro de Marionetes Bonecartes/Zumba na praça/palestra - Lei Maria da Penha vai às praças/palestra - Importância das vacinas/cinema de animação (Salu e o Cavalo Marinho/Dia estrelado e Era tudo verdim)/atividades lúdico-esportivas/ ciranda/ orquestra de violões (jovens adolescentes)/palestra - Como evitar acidentes domésticos com crianças/palestra - Doenças sexualmente transmissíveis/Banda 20 de dezembro.

2019 BETÂNIA

Banda Eduardo Campos-Erem OSF/Contação de histórias - museu da cidade e praça Anfilófio Feitosa/aula aberta- samba de coco/cinema de animação (mostra de curta metragem de animação)/atividades lúdicoesportivas/ciranda afro/aula espetáculo do grupo de dança okan-egbé.

2019 ARAÇOIABA

Banda Marcial Vinicius de Morais (Esc. Sem. Paulo Guerra)/Feira do trocatroca de brinquedos/Feirinha de alimentos naturais para degustação /esquetes da Sec. Saúde/Aula aberta Samba de Coco/Contação de histórias/cinema de animação - Mostra de Curta metragens de Animação/

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pastoril-ciranda-caboclinho/capoeira/atividades lúdico-esportivas/Teatro de bonecos - “Brilha no céu a estrela de Belém”/ Maracatu Pantera Nova.

Fotos: Acervo Secult/PMC

2020: NOVO MOMENTO - AÇÕES DIGITAIS As atividades dos projetos Cultura nos Cantos e Brincando na Minha Cidade foram pensadas para serem realizadas de forma presencial. A concepção não prescindia do contato físico, do olhar, do toque, do chão, da rua. Mas, diante da pandemia iniciada em 2020, não foi possível dar continuidade conforme pensado.

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Lu Almeida e Márcia Branco

Tivemos que nos reinventar. Surgiu então o Projeto Cultura nos Cantos Digital, e com ele outras possibilidades foram criadas. Embora reconheçamos a importância do Projeto Brincando na minha Cidade, não conseguimos adaptar para o formato remoto, pela própria especificidade, de precisar da essência das ruas. No Projeto Cultura nos Cantos Digital pudemos dar continuidade à nossa programação. Realizamos 1 exposição Mostra Virtual de fotos-Registro “Uma Caminhada de Afetos"7 Trata-se de um registro fotográfico do trabalho realizado pela Secretaria de Cultura, para o Programa, no período de 2017-2019. Inicialmente pensada enquanto uma exposição itinerante foi traduzida para um formato digital, e não trouxe prejuízo ao trabalho em andamento. Consideramos que obtivemos ganhos pelo alcance de visualização, expandido para todo o território do estado de Pernambuco, atingindo ainda outros públicos que não teríamos acesso de outra forma. Aceitamos o convite da Gerência Geral do Patrimônio Cultural/Fundarpe, para participar da live Olhares e afetos: A experiência da Cultura no Mãe Coruja, integrando as ações da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco. Um momento importante, pois de garantia de maior visibilidade aos trabalhos dos que vêm sendo realizados na Cultura para o Programa Mãe Coruja Pernambucana8. Realizamos Momentos Culturais9, uma sequência de 6 (seis) vídeos, com temas relacionados ao patrimônio cultural do estado e à literatura infantil e bibliotecas, e disponibilização de uma pequena bibliografia. Esses vídeos foram compartilhados nas redes sociais da Secretaria de Cultura e do Programa Mãe Coruja Pernambucana e objetivaram apoiar as atividades desenvolvidas pelas técnicas/os do Programa juntos às famílias, e os professores dos Círculos de Educação e Cultura (PMC) que atuam diretamente junto às mulheres grávidas. Esses vídeos foram possíveis graças a colaboração de profissionais que atenderam ao nosso convite de maneira generosa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos em um processo onde o aprendizado é diário e se realiza por meio de trocas com as comunidades. Estamos na busca de projetos que se desenvolvam de forma remota para evitar que a sensibilização para o patrimônio e o afeto sejam interrompidos. 7 https://issuu.com/cultura.pe/docs/mostra_virtual_uma_caminhada_de_afetos. 8 https://www.youtube.com/watch?v=E9bbiDjvL1s. 9 youtube.com/secultpe youtube.com/maecoruja.

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RELATOS

Temos como resultados objetivos ações multiplicadoras em vários municípios do Estado; o estreitamento de relações com as prefeituras locais (que se recomeça continuamente com mudanças de gestão); a troca existente entre os parceiros do Programa; o estreitamento da relação Estado-comunidade; o conhecimento/ reconhecimento da riqueza cultural de cada município e um novo olhar para o patrimônio cultural local e sua consequente preservação. Continuemos, as respostas ainda estão vindo...

Lu Almeida e Márcia Branco 10

10 Assessoras da Gerência de Política Cultural - Secult/PE.

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Mônica Siqueira

ÁGORA VIRTUAL FORTALECE INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO ENTRE OS PATRIMÔNIOS VIVOS DE PERNAMBUCO Com inspiração do inconsciente da cultura greco-romana ainda com influências predominantes hoje em dia, por diversos segmentos multiculturais, nada mais que simbólico do que resgatar, na 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, um modus operandi de caráter democrático, cujos participantes atuam em condições de igualdade reflexivas ao qual nos remetemos para criar o Ágora Virtual com os Patrimônios Vivos de Pernambuco. Correspondendo a uma das metas do plano de ação do Grupo de Trabalho de Patrimônio Vivo, do Conselho Estadual de Preservação de Patrimônio Cultural (CEPPC), colegiado este que é copartícipe da Semana do Patrimônio Cultural, o Ágora Virtual teve como principal finalidade ser um canal de aglutinação espontâneo aos interesses culturais comuns, com possibilidade de estabelecer laços de amizade.

Ágora Virtual Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Com a súbita ruptura do estado de criatividade e inspirações que estavam habituados a produzir nos seus cotidianos de fazedores de culturas populares e tradicionais, o complexo fenômeno da pandemia abriu uma grande lacuna com imperativa necessidade de se formar um oásis de apoio psicológico e cultural para identificar, registrar, auxiliar e canalizar todo este estado de estresse emocional em um momento de extrema sensibilidade. Dentro das várias facetas da pandemia, uma delas foi ter criado um clima de incerteza, insegurança e ineditismo, que causou um quadro de tamanha expectativa sobre a transferência do mundo real para o virtual.

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RELATOS

Na realidade, o Ágora Virtual estendeu-se também às barreiras de ordem tecnológica em seu devido conhecimento e manuseio (baixa familiaridade digital). Surpresa maior para a equipe organizadora, composta pelo segmento de Patrimônio Imaterial do CEPPC, Fundarpe e Secult-PE, foi causar por meio da internet entre os participantes o impacto positivo destes, que mesmo diante das suas largas limitações tecnológicas se dispuseram com grande entusiasmo para a realização do evento. Inclusive cabendo à parte diretiva do Ágora realizar um breve treinamento entre os Patrimônios Vivos.

Ágora Virtual Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Diante da proveitosa mobilização, aceitação e empenho dos Patrimônios Vivos, a grande novidade do formato on-line do evento despertou, entre a plêiade, o espírito de irmandade, descontração, curiosidade, autoestima, fraternidade e lirismo somados à veia artística individual e grupal culminou com um emocionante espetáculo com cada destaque em sua área cultural. A falta de familiaridade entre poucos, porém, não ofuscou obviamente a participação destes, e, sim, complementou e fortaleceu o propósito geral de congraçamento do Ágora.

Mônica Siqueira coordenando a Ágora Virtual Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

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Mônica Siqueira

O vírus da internet despertou o vírus da consciência entre alguns dos participantes, surgindo assim alguns tipos de questionamento no tocante a ampliar a interação e integração com os gerenciadores da política cultural do Estado, como exemplo: levantamento das necessidades de trabalhos referentes aos mestres e entidades para com o Estado; busca de alternativas para avaliar e validar a bagagem cultural deixada pelos(as) mestres(as) falecidos(as), que se encontram entre familiares e no meio da comunidade; reuniões periódicas, por região ou gênero cultural; viabilização de apoio técnico-financeiro para preservação e manutenção dos aparelhos físicos das entidades e estabelecimento de convocatória para discussão de reajustes referentes a pagamentos, comprovações de notas de cachês artísticos. Outra meta como ferramenta inclusiva implantada, a partir do Ágora Virtual, foi a criação de um grupo de WhatsApp denominado de Upavipe - União dos Patrimônios Vivos de Pernambuco, com objetivo de corroborar com a aproximação entre os Patrimônios Vivos. Isto se fez necessário em decorrência de um quadro verificado de distanciamento e estranhamento, em que este segmento se encontrava. A partir dessa estratégia comunicacional ocorreu uma ampla satisfação, por ser um objetivo deveras almejado para fortalecer e enriquecer substancialmente a comunicação a qualquer instante cabível.

Mônica Siqueira1

1 Conselheira do Segmento de Expressões Culturais de Pernambuco Registradas como Patrimônio Cultural Imaterial - Jornalista - Especialização em Preservação de Patrimônio Cultural.

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RELATOS

REFLEXÕES ACADÊMICAS SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL: PRODUÇÃO DOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO DE PE No âmbito interno da Faculdade Damas, foram selecionados os trabalhos mais significativos relacionados ao Patrimônio Cultural de Pernambuco e, após uma avaliação entre os docentes, o TCC do aluno Josebias Nascimento foi o escolhido devido à consistência de seus argumentos e de sua proposta que visava solucionar a precariedade e o grande nível de descaracterizações existentes no Pátio de São José, no bairro homônimo, no Recife. Diante do cenário de pandemia da Covid-19, o Encontro Acadêmico dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, evento integrante da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, que ocorreu no dia 22 de agosto de 2020, foi integralmente realizado de maneira remota, síncrona, em plataforma digital (Google Meet). Na ocasião, todos os participantes, representantes de outras faculdades de arquitetura e urbanismo do estado, apresentaram seus trabalhos. O aluno Josebias Nascimento, da Faculdade Damas, apresentou seu TCC, apontando a situação atual do objeto de estudo, os pressupostos teóricos, estudo de casos de referência e, por fim, sua proposta arquitetônico-urbanística. Como as aulas na Faculdade Damas já vinham ocorrendo de modo remoto, síncrono, desde o início da pandemia, não houve dificuldades em participar do evento, o qual foi muito bem organizado pela equipe da FUNDARPE. Após o término do evento, eu, Pedro Valadares, enquanto orientador do trabalho, juntei-me ao aluno para que, juntos, escrevêssemos um artigo que sintetizasse o TCC apresentado, o qual será publicado na 6ª Edição da Revista Aurora 463, em agosto de 2021. Apesar da necessidade de isolamento social, o evento transcorreu com naturalidade na plataforma online, onde foi possível desenvolver todas as atividades sem percalços. Todos apresentaram e, ao final, houve um tempo para perguntas e respostas, garantindo a necessária interação e consequente troca de ideias e experiências. A iniciativa da FUNDARPE de promover a Semana do Patrimônio é de suma importância para o estado de Pernambuco, visto que o estado possui uma trajetória histórica muito rica e com um acervo de valor inestimável. O Encontro

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Pedro Valadares

Acadêmico dos cursos de Arquitetura e Urbanismo das faculdades pernambucanas é igualmente uma iniciativa que visa enriquecer o debate acerca da preservação da nossa história, do legado de nossos antepassados, da materialidade construída em épocas e características distintas, do vernacular ao erudito, do diminuto ao monumental, da arquitetura à cidade, e até mesmo em nível estadual. Trata-se, portanto, de uma iniciativa que deve ser perpetuada, não apenas como incentivo aos alunos e egressos à compreensão e atuação no âmbito da conservação e preservação do patrimônio, mas, principalmente, como um contributo de extremo valor para a nossa cultura.

Pedro Valadares 1

1 Arquiteto e Urbanista, Doutor em Desenvolvimento Urbano no âmbito do Ambiente Construído, pela Universidade Federal de Pernambuco.

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RELATOS

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA EREM AUSTRO COSTA O meu envolvimento com a Educação Patrimonial teve início quando participei da formação realizada pela Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da FUNDARPE, com Amanda Paraíso e as técnicas do IPHAN, Márcia Hazin e Juliana Cunha, juntamente com professores de diversas Gerências Regionais de Educação. Nesta ocasião, discutimos as ações a serem desenvolvidas nas escolas, as nossas experiências enquanto professores de Arte, conhecimentos teóricos sobre a Educação Patrimonial, além de debates e atividades práticas sobre o tema. Ainda nessa formação, fizemos o exercício de elaborar coletivamente um conceito de Educação Patrimonial para nortear nossas ações na escola. Além disso, começamos a fazer parte da Rede de Educadores Patrimoniais de Pernambuco, uma iniciativa da Fundarpe em parceria com Iphan e Secretaria de Educação do Estado. Por conseguinte, após fazer várias pesquisas e estudar sobre o assunto, comecei a dar início ao Projeto de Arte através de uma reunião com a gestora Helenita Lacerda e a coordenadora Maria do Carmo Soares sobre a realização de uma eletiva voltada para esse tema. Com uma resposta positiva, divulguei-a com o seguinte título: Galpão das Artes: Patrimônio Cultural de Limoeiro, tendo como objetivos: estimular os alunos a valorizar e a preservar o Patrimônio Cultural; identificar as referências culturais de Limoeiro; e realizar pesquisa sobre o Patrimônio em estudo. Assim, a eletiva Galpão das Artes: Patrimônio Cultural de Limoeiro, contou com a participação e o empenho de 40 alunos dos Primeiros Anos do Ensino Médio. É importante destacar que, toda a escola se mobilizou para que nosso projeto acontecesse: como a gestora Helenita Lacerda, a qual nunca mediu esforços para nos auxiliar, desde a permissão para formarmos a eletiva, até os subsídios necessários para que a mesma acontecesse, tais como: permissão do transporte escolar, junto à GRE Vale do Capibaribe, para as nossas viagens e ações práticas; organização de horários diversificados para nós apresentarmos os trabalhos realizados e, até mesmo, na organização da escola nos dias dos eventos; a vice-gestora Denise de Paula Ferreira, a qual fez a Arte de promoção e os materiais digitais da eletiva; a coordenadora Maria do Carmo, que sempre me orientou sobre a melhor forma de colocar em prática as ações do projeto, levando-se em conta o protagonismo dos alunos; a professora Jene Félix, que me auxiliou na ornamentação da escola nos dias das apresentações e eventos e os demais professores que sempre apoiaram os alunos nos momentos de insegurança.

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Roberta de Melo Barbosa

Após aulas teóricas e práticas sobre os Patrimônios Culturais de Limoeiro, os alunos produziram a Cartografia Afetiva, na qual foi promovido o reconhecimento e a valorização das formas de expressão cultural que compõem a nossa história, possibilitando-se com tal ação, remontar as nossas heranças e as nossas tradições culturais.

Figuras 01 a 04: Cartografia afetiva Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Por conseguinte, os alunos produziram um texto remontando as suas vivências na eletiva, enquanto associavam teoria à prática na pespectiva da Educação Patrimonial, evidenciando-se cada vez mais o entusiasmo e o empenho dos alunos. Em outro momento, realizamos na escola uma “Roda de Diálogo” com o Grupo de Criação Galpão das Artes, recebendo alguns dos seus componentes, os quais nos contaram sobre a história desse lugar, um espaço cultural iniciado há 21 anos. Os nossos convidados foram Fábio André Silva (gestor do espaço); Charlon Cabral (ator); Deyvson Alves (ator) e a professora Sandra Fragôso, a qual é parceira do Galpão e já tinha sido professora do Austro, que na ocasião realizou vários projetos teatrais, reforçando-se e justificando-se o compromisso da EREM AUSTRO COSTA com a Arte e a valorização das manifestações culturais. Nesse encontro, tivemos a possibilidade de conhecer que o Centro de Criação Galpão das Artes é um espaço cultural que promove e aperfeiçoa diversas formas de expressões artísticas. Porém, a mais significativa é o teatro, no qual o grupo é reconhecido tanto nacional, como internacionalmente, visto que, já se apresentaram em Portugal com uma de suas peças. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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Em outra ocasião, nós fizemos uma visita ao Galpão das Artes, o qual se pode afirmar que foi um dos momentos mais significativos para os alunos. Eles perceberam que é um espaço no qual se “cria e recria Arte”, sobretudo, a popular, e que o nosso intuito como defensores da Educação Patrimonial, portanto, era reconhecê-lo e valorizá-lo com Patrimônio Cultural de Limoeiro. Nesse sentido, nós fomos recebidos por Fábio André Silva, o gestor do local e agraciados com uma releitura da fábula “A cigarra e a formiga”, com o ator e componente do grupo Thiago de Freitas, um mural do artista Valdésio Melo, o qual começou a ser produzido no momento da nossa visita e uma entrevista com o ator e componente do grupo Charlon Cabral. Foi perceptível, o quanto que os alunos ficaram maravilhados e felizes por estarem nesse local, uma vez que vivenciaram o que tinham estudado na teoria.

Figuras 05 a 08: Visita ao Galpão das Artes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

Por fim, realizamos a culminância do projeto, como o próprio nome diz, foi o momento de apresentarmos os resultados, o produto final das pesquisas e das ações práticas. Nessa ocasião, também estavam conosco, além dos convidados do Centro de Criação Galpão das Artes, Amanda Paraíso (FUNDARPE); Márcia Hazin (IPHAN), Fátima Melo (Secretaria de Educação de PE) e Magaly Morgana Melo (GRE Vale do Capibaribe). Dividimos essa ocasião em dois momentos: no primeiro, os alunos apresentaram as produções textuais, a cartografia afetiva e os vídeos produzidos durante a eletiva. Além disso, declamaram um cordel entitulado “O Patrimônio Cultural”, o qual foi composto por eles. Ao passo que, no segundo

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Roberta de Melo Barbosa

momento, o grupo do Galpão das Artes nos trouxe o ator Thiago de Freitas com a releitura da fábula “A cigarra e a formiga” e o ator Deyvson Alves declamando alguns versos de Patativa do Assaré. Ao concluirmos os trabalhos, os alunos compreenderam que toda forma de expressão artística advém de uma diversidade, de uma coletividade, as quais são construídas através das tradições e das histórias de cada comunidade e, é nessa perspectiva que o Patrimônio Cultural é construído.

Figuras 09 a 12: Culminância da eletiva Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE

É importante salientar que tive a satisfação de participar do V Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco, a convite de Amanda Paraíso, que ocorreu o ano passado durante a 13ª Semana do Patrimônio. O referido evento teve como tema Experiências da rede de Educadores Patrimoniais, e nessa ocasião, pude compartilhar as experiência com as ações realizadas na escola. Enfim, sinto-me grata por todos que nos auxiliaram e fizeram parte desse projeto conosco. Porém, minha especial menção é para os meus alunos, uma vez que eles fizeram o melhor: venceram a vergonha, a baixa autoestima e a insegurança; tornaram-se sujeitos mais ativos e cada vez mais conscientes de suas capacidades, enquanto protagonistas das ações escolares e de seus projetos pessoais. Roberta de Melo Barbosa 1

1 Professora da EREM Austro Costa - Limoeiro.

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Reabertura do Mercado Eufrásio Aurora Barbosa 463 Revista da Semana Foto: do Patrimônio Jan RibeiroCultural - Secult de PEPernambuco | Fundarpe Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021


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ARTIGOS ACADÊMICOS

INVENTARIANDO O PATRIMÔNIO: NOVAS PRÁTICAS SOB A PERSPECTIVA COMUNITÁRIA Cássio Raniere Ribeiro da Silva1 Elizama Pereira Messias2 Júlia Morim de Melo3 Vanessa Malheiro Morais4

RESUMO Este artigo tem como objetivo refletir sobre conceitos e experiências de Educação Patrimonial a partir da fala de seus autores por ocasião da 13ª Semana do Patrimônio em agosto de 2020. As experiências socializadas naquela ocasião apresentam como ponto de diálogo a compreensão da educação patrimonial como processual, tendo as comunidades envolvidas como agentes ativos no processo de pesquisa, reconhecimento e salvaguarda dos bens culturais que lhes concerne a partir de um diálogo horizontal com os especialistas. As reflexões ora desenvolvidas apontam para a importância deste debate e suas contribuições para a produção de políticas de educação patrimonial de forma permanente, tendo no diálogo e protagonismo das comunidades como princípios norteadores das ações patrimoniais. Palavras-chave: Patrimônios. Inventários. Educação Patrimonial. Territórios.

INTRODUÇÃO Neste artigo apresentamos e refletimos sobre quatro experiências de educação patrimonial desenvolvidas sob a perspectiva comunitária socializadas no dia 21 do mês de agosto de 2020, de forma virtual, por meio da plataforma Google Meet, na ocasião da 278° Reunião Ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural/CEPPC - PE, no âmbito da 13ª Semana do Patrimônio de 1 Cientista Social/UFRPE, Mestre em Antropologia/UFPE, Especialista em Museus Comunitários/ FUNDAJ, Doutorando em Antropologia pelo PPGA/UFPE. 2 Pedagoga, Mestra em Educação e Doutoranda em Educação pela UFPE, especialista em Museus, Identidades e Comunidades/FUNDAJ. 3 Cientista Social/UFPE, Mestra em Antropologia/UFPE, Especialista em Museus, Identidades e Comunidades/FUNDAJ e Doutoranda em Antropologia/PPGA-UFPE. 4 Bacharel em Museologia/UFPA, Mestra em Desenvolvimento Sustentável/UFPA, Técnica em Mineração, Sensoriamento Remoto, Geodésia e Cartografia/CEFET-PA.

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Cássio Raniere Ribeiro da Silva; Elizama Pereira Messias, Júlia Morim de Melo e Vanessa Malheiro Morais

Pernambuco. Nesta reunião, os autores desse artigo compartilharam experiências da prática de Educação Patrimonial por meio de ações às quais estavam diretamente ligados. Este texto se desenvolve, portanto, a partir de um processo de reflexão sobre nossas falas, resgatando alguns pontos discutidos. Assim, analisamos o contexto da produção intelectual e técnica aplicada à prática dos agentes envolvidos e as comunidades às quais pertencem. Em síntese, socializamos em uma reunião pública nossas experiências enquanto pesquisadores envolvidos em diferentes processos comunitários de educação patrimonial, de modo que retornamos a estas experiências, tornando este texto permeado por múltiplas memórias que são evocadas com vistas ao desenvolvimento de nossas reflexões. Contudo, para não sermos surpreendidos pelos possíveis esquecimentos, já que estes também fazem parte da memória, lançamos mão da ata da 278º reunião do CEPPC-PE, evento já referenciado. Destacamos que o Conselho é uma entidade de substancial importância tanto pelo seu corpo técnico/intelectual, mas pelas deliberações e fiscalizações realizadas no âmbito das políticas patrimoniais no estado de Pernambuco e, por isso, também é por nós utilizado como fonte primária para a escrita desta comunicação. Duas das experiências relatadas ocorreram no bairro da Várzea, localizado na zona oeste da cidade do Recife: O projeto Várzea - meu bairro, meu patrimônio5, desenvolvido por Júlia Morim, e o projeto Movi Várzea, movimento e inventário6 participativo realizado por Elizama Messias em parceria com o Núcleo de Educação Integral e Ações Afirmativas (Neafi/UFPE) e com a Escola Municipal de Arte João Pernambuco. A terceira experiência, relatada por Cássio Raniere, refere-se ao Inventário Participativo dos Bens Culturais de Camaragibe/IPBC 7, realizado pela sociedade civil, sociedade civil organizada e Fundação de Cultura de Camaragibe, cidade da Região Metropolitana do Recife. A quarta experiência relatada por Vanessa Malheiros diz respeito ao projeto Cartografia Cultural de Terra Firme, desenvolvido em um dos bairros mais populosos de Belém do Pará. Apesar de serem realizados em diferentes contextos e localidades, as experiências dialogam entre si a partir da perspectiva de patrimônio que apresentam, com enfoque no diálogo e com ampla participação das comunidades 5 Acesse: www.projetovarzea.wordpress.com. 6 Acesse as redes sociais do projeto: @movivarzea, https://www.facebook.com/movi.varzea. 7 Acesse no link: https://www.camaragibe.pe.gov.br/wp-content/uploads/2020/01/INVENTARIOCAMARAGIBE-fase-1.pdf.

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ARTIGOS ACADÊMICOS

envolvidas, compreendendo seus agentes como detentores de saberes capazes de identificar e realizar ações de salvaguarda do patrimônio cultural comunitário, sem, no entanto, deixar de demandar o apoio e a participação do poder público a partir de um diálogo horizontal. É importante dizer que compreendemos a Educação Patrimonial (EP) como um processo que pode ocorrer em instituições formais e/ou não formais de ensino com ampla participação das comunidades em todas as fases de sua implementação. Assim, podemos pensar em ações participativas dos agentes comunitários no reconhecimento de seus territórios, das pessoas, seus saberes e fazeres, valorizando as memórias e as identidades que reforçam o pertencimento. Vale ressaltar que o conceito de EP tem sua historicidade permeada por conflitos e disputas sobre a noção de patrimônio e seus processos de reconhecimento com ampla participação da sociedade civil, como retratado na importante publicação “Educação Patrimonial, histórico, conceitos e processos” (FLORÊNCIO et al, 2014). Avançamos, assim, para a ideia de identificação e reconhecimento através de práticas colaborativas, por meio das quais o conhecimento técnico está a serviço do conhecimento local e das formas que as pessoas elaboram as diversas experiências de identificação, registro e salvaguarda de seus bens. Deste modo, não devemos pensar na EP como modelo instrutivista, no qual os profissionais e intelectuais formam as pessoas, mas, pelo contrário, são essas pessoas detentoras de conhecimento que irão reestruturar os modelos de pensamento e de prática do fazer técnico e acadêmico. Neste artigo refletimos sobre essas questões a partir da experiência prática pelos autores. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, CONTEXTOS E AÇÕES COMUNITÁRIA É importante rememorar que esta reunião do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural integrou a programação da 13ª Semana do Patrimônio, realizada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), sendo realizada num contexto marcado por incertezas e expectativas diante de um grave quadro de crise sanitária mundial gerado pela pandemia da Covid 19, o que colocou todos os participantes e público em geral como partícipes e aprendizes desta nova forma de realizar eventos sem o contato tête-à-tête, mas com imensa alegria e afeto visivelmente identificados nos olhos e expressões dos que estavam presentes na sala. Neste ambiente virtual de trocas e aprendizagens Elizama Messias, Mestra em Educação, iniciou os debates elencando as seguintes questões: (1) Qual a sua relação

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Cássio Raniere Ribeiro da Silva; Elizama Pereira Messias, Júlia Morim de Melo e Vanessa Malheiro Morais

com objetos materiais e imateriais que estão à sua volta, na sua casa, no seu bairro e no seu Estado? (2) O que estes objetos significam para você (3) Que tipo de valor é atribuído a ele? A palestrante segue: “A partir desses questionamentos gostaria de relatar um episódio a partir de uma roda de conversa que ocorreu na Escola Municipal de Artes João Pernambuco em uma das oficinas ministradas lá. Nessa roda de conversa solicitei que os participantes levassem algum objeto afetivo e cada um levou alguma coisa. Uma das participantes levou prato de inox de comida de criança. Foi feito relato da relevância daquele prato, pois foi nele que ela comeu quando era criança e depois o irmão, relatando que por este mesmo objeto tinha enorme carinho. Essa relação com utensílio era diferente dos demais membros da família. Em resumo, o valor atribuído aos objetos, de forma geral, começa no momento em que fazem parte da nossa vida e a partir do momento que passamos a estabelecer com ele uma relação de afeto e convívio. (MESSIAS, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020).

A roda de conversa a qual a palestrante se refere ocorreu em um dos encontros da oficina Movi Várzea, movimento e inventário participativo, realizada entre outubro e dezembro de 2019 na Escola Municipal de Arte João Pernambuco (EMAJPE). Por meio de uma parceria firmada com o Neafi/UFPE e com o curso de Design/UFPE, o projeto foi desenvolvido como evento de extensão e contou com a participação de moradores do bairro, estudantes do curso de Design e da EMAJPE, além de outros agentes sociais que mesmo não residindo no bairro da Várzea atuam no mesmo enquanto espaço de trocas culturais e acadêmicas. A expositora reflete sobre Educação Patrimonial, apresentando algumas contribuições teóricas a partir dos escritos de Átila Tolentino (2016), nos quais o autor debate sobre “o que não é educação patrimonial” com base em cinco proposições, das quais a expositora seleciona duas: 1. Educação Patrimonial não é alfabetização cultural, e 2. Educação patrimonial não se resume a conhecer os bens tutelados pelo Estado. Sobre a primeira proposição afirma que, ... as pessoas são detentoras de saberes, vivenciam suas práticas e têm suas noções e percepções daquilo que é importante para elas dentro do território. Logo, não será um educador externo aquela comunidade que vai necessariamente informar para elas e “alfabetizá-las” culturalmente ao dizer o que é ou não é de fato

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ARTIGOS ACADÊMICOS

relevante. Ao afirmar que é necessário alfabetizar culturalmente, não reconhece que o outro também é uma pessoa portadora de saberes, memória e historicidade. (MESSIAS, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020)

Em relação a segunda proposição, com base nas discussões do autor citado, é sustentada a tese de que o conhecimento do patrimônio não é suficiente para a sua preservação por parte da população, neste sentido “a educação patrimonial não é entendida apenas por fazer conhecer os bens tutelados pelo Estado” e complementa destacando o caráter processual da EP: O campo do patrimônio é um campo de conflitos e de construção social, para que a educação patrimonial seja efetivada é preciso ir além do conhecer para preservar. É necessário ter uma reflexão crítica que busca transformar a realidade, que passa por transformar a forma como aquele grupo vê, ressignifica e vivencia seu patrimônio logo é um processo que requer uma ação contínua. (MESSIAS, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020)

A expositora continua sua fala afirmando que ações como distribuição de folders, catálogos, CDs, dentre outros materiais são ações importantes que se caracterizam como ações de difusão do patrimônio cultural, para que sejam ações educativas é preciso está atrelada a um processo de reflexão e debate que deve ter como essência o diálogo. Corroboramos com este posicionamento e destacamos que dentro de qualquer processo educativo os itens planejamento, avaliação e a reflexão contínua sobre o fazer antes, durante e depois, são itens indispensáveis juntamente com o estabelecimento de objetivos claros e com a construção compartilhada do caminho a ser seguido. A expositora encerra sua fala afirmando que suas colocações sobre EP “não são uma palavra final, mas são perspectivas que vêm sendo debatidas ao longo do tempo”. Como exemplo, cita a experiência do Centro de Referências Culturais e o anteprojeto de criação do Iphan. Em seguida, a autora Júlia Morim, antropóloga atuante no campo do patrimônio, notadamente em ações junto a parteiras tradicionais, compartilhou a experiência com o projeto Várzea - meu bairro, meu patrimônio, que consistiu numa campanha de valorização do patrimônio cultural do bairro da Várzea, situado na zona oeste do Recife. Como moradora do bairro, a autora verificou que a mobilização do movimento “Salve Casarão da Várzea”, formado por um grupo de pessoas em prol

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desse palacete - o Casarão da Várzea, reconhecido como patrimônio municipal, de propriedade da Prefeitura do Recife, porém abandonado e se deteriorando -, foi um processo de apropriação e reelaboração de significados para tal imóvel. O movimento questionou os usos do espaço para além de uma memória arquitetônica e histórica, mas o que ele pode ser para a comunidade: um espaço cultural, especialmente pela sua localização privilegiada junto à Praça da Várzea - um lugar de trocas, onde ocorre o ensaio do Maracatu Real da Várzea e onde as famílias se reúnem. A proposta de reforma apresentada pela Prefeitura, a qual não foi debatida com a comunidade, não condizia com as discussões e as demandas que estavam sendo implementadas. Desta forma, a comunidade apresentou resistência à execução do projeto, que foi suspenso, também, inclusive, por outras questões da esfera administrativa. O movimento pauta a discussão no sentido de que a intervenção e o uso do espaço sejam realizados de forma democrática e participativa. No bojo desses acontecimentos, surge a ideia de uma campanha de valorização por meio de pequenos vídeos, visando a ampla difusão por meio da exibição e a disponibilização na internet. O projeto Várzea - meu bairro, meu patrimônio 8, incentivado pelo Fundo de Incentivo à Cultura de Pernambuco (FUNCULTURA), partiu de dados já existentes para, dentro de seus limites orçamentários e de prazo de execução, realizar a seleção das referências culturais a serem registradas em suporte audiovisual. Um levantamento realizado pelo Laboratório de Educação Patrimonial da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um inventário realizado por estudantes também da UFPE e um livro publicado por um morador sobre a história e a vida diária do bairro Várzea, somados à experiência cotidiana da equipe do projeto, foram materiais que deram subsídio para se chegar aos temas e aos personagens que retratam esse patrimônio cotidiano e vivo do bairro. Tivemos algumas ideias e pensamos quais iriam entrar nesse projeto. O “Salve o Casarão” tinha que entrar pela mobilização que teve. O Maracatu, a capoeira. Mas tivemos o cuidado de conversar com os moradores mais antigos antes das demais escolhas. Após o mapeamento, houve a verificação dos mais referenciados para seguir com a elaboração do projeto. Foi feito por tema: “Bandeira de São João”, “Acorda Povo da Várzea”, “Maracatu Real da Várzea”, “Capoeira da Várzea”, “Salve o Casarão” e personagens como 8 O projeto foi premiado na segunda colocação na categoria Promoção e Difusão no 5º Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco e contemplado no Prêmio Delmiro Gouveia de Economia Criativa, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ).

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“Dudu do Corte”, um barbeiro e artista que trabalha na Rua da Feira. Também alguns moradores como Luiz de França, que é professor da Escola João Pernambuco. Foi feito um filme chamado “Varzeanos” que fala do sentimento de residir no bairro da Várzea, apesar de ser um bairro grande, o que demonstrou existir várias Várzeas dentro da Várzea. (MORIM, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020)

O projeto não se encerrava na realização dos filmes e sua disponibilização na internet. O principal motivo era transformá-los em mediadores de reflexões: propomos exibi-los em diversos locais do bairro para incentivar o debate sobre patrimônio a partir deles. Os filmes foram exibidos em escolas públicas, na UFPE, em instituições culturais, na Rua da Feira, no Casarão da Várzea, articulando-se ao calendário de atividades culturais do bairro e, sempre que possível, com presença de algum personagem. Foi bastante interessante as pessoas reconhecerem os lugares e as práticas da sua comunidade, principalmente as crianças. As narrativas trazidas nos filmes desvelam a consciência de pertencimento e de cuidar do que é nosso, a exemplo de Luiz de França que é varzeano, nascido em casa, com a parteira Zefinha, para não se ter dúvida, ou Dona Mercedes que, mesmo que ofereçam um apartamento em outro bairro, não sai da Várzea por nada. Assim, produzir conteúdo, documentar, promover debates e possibilitar que os filmes circulem e sejam usados por tempo indeterminado como fomento para a memória, para a valorização e para a mudança é uma forma de se praticar o que definimos como educação patrimonial a partir da comunidade. Dando continuidade à discussão de experiências realizadas em nosso estado, Cássio Raniere fez algumas considerações sobre a necessidade de se compreender a educação patrimonial não como um processo de alfabetização, ou seja, não temos conhecimentos específicos para levar para aquela comunidade e sim há de se desenvolver ações participativas com a comunidade de modo que possamos estimular à criatividade dos moradores e moradoras através de ações colaborativas nas quais o protagonismo é sempre das pessoas da comunidade. Neste sentido, o especialista não impõe modelos a serem executados, mas apenas, faz uso de seu conhecimento técnico, para colaborar e auxiliar as pessoas. Recolher narrativas etnográficas contribui para a salvaguarda da memória, mas precisamos avançar na feitura de atividades sincrônicas que estimulem a ação comunitária na valorização de seus territórios e identidades locais, bem como, da economia criativa. O Inventário Participativo dos Bens Culturais de Camaragibe/IPBC é fruto do esforço coletivo realizado pela sociedade civil, sociedade civil organizada e Fundação

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de Cultura de Camaragibe em registrar aspectos únicos que compõem a história social do município. O inventário participativo proporciona, nos limites de sua feitura, que os sujeitos produzam conhecimento por meio de vivências investigativas expressas nos critérios da educação patrimonial do IPHAN, como modelo adotado de referência. Esta ferramenta permite que os agentes culturais envolvidos possam partilhar ativamente da reconstrução narrativa de suas realidades, criando conexões múltiplas que visam fortalecer o pertencimento cultural com a sua localidade. A 1ª fase do Inventário Camaragibe é resultado da produção de conhecimento e sensibilização da comunidade, provocada a se envolver e entrar em contato com a pesquisa de campo, levantamento de dados, sistematização, interpretação e difusão de informações sobre as referências culturais que formam o patrimônio cultural da cidade. O autor compartilha que enquanto participante, antropólogo e pesquisador no Inventário Camaragibe, vem investigando os limites da categoria “patrimônio” e o sentido prático que as pessoas envolvidas dão aos seus bens culturais, à medida que utilizam a ferramenta metodológica de educação patrimonial do IPHAN. A problemática incide sobre a aplicação da ferramenta instituída pelo Estado que, invariavelmente, toma outras formas na feitura do campo, sem com isso garantir legitimidade oficial aos bens culturais. Assim, embora as pessoas façam o mapeamento de suas referências culturais, ainda são os profissionais do patrimônio designados para testificar a realidade vivida pelos praticantes que, através de métodos e técnicas específicas alimentam a “maquinaria patrimonial” (RANIERE, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020)

Neste contexto, atento para a efetiva autonomia na produção de conhecimento e sensibilidade da comunidade, provocada a se envolver e entrar em contato com a pesquisa de campo, levantamento de dados, sistematização, interpretação e difusão de informações sobre suas experiências, através da metodologia de educação patrimonial proposta pelo IPHAN. Assim, devemos atentar para os modos de organização, subjetivação e as relações tecidas entre políticas públicas e participação social, à medida que vem problematizando o lugar do pesquisador na feitura deste campo de pesquisa. Essa experiência, partilhada no âmbito do Inventário, mostrou potencialmente criativa para pensar o patrimônio menos como um bem cultural em si, mas como um processo de produção, reconhecimento e legitimação que emerge da experiência de se “patrimonializar”, ganhando corpo em suas próprias dinâmicas, possibilitando uma Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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ampliação do debate sobre o lugar dos praticantes em processos de patrimonialização. Com isso, essas pessoas ocupam menos a condição subordinada de “pesquisado”, orientado a consentir, que uma condição de agente, planejando e gerindo o seu patrimônio através de suas próprias narrativas. Caminho então para pensar que o patrimônio não existe em si, nem, apenas com a chancela do Estado, mas coexiste nos processos de experimentação que envolvem sua feitura. Cabe então, neste sentido, entender através de uma perspectiva colaborativa e decolonial, de que modo é possível criar um espaço para relações mais autônomas e sustentáveis dos praticantes, tendo reflexo nas políticas públicas e na produção acadêmica, esferas permeadas por práticas coloniais que se entremeiam na “maquinaria do patrimônio” (JEUDY, 2005) revelam esquemas classificatórios e hierarquizantes de poder. Aqui chamo a atenção para o protagonismo comunitário e para o papel do especialista enquanto pesquisador e como possuidor do conhecimento técnico, sem deixar de lado o comprometimento ético necessário ao trabalho comunitário. Foi através de um dos integrantes, à época, articulador político da Fundação de Cultura, imaginei ser aquele um espaço profícuo para contribuir com a população, na inferência da produção cultural da cidade através do protagonismo de nossas próprias vivências comunitárias. (RANIERE, Semana do Patrimônio de Pernambuco, 2020)

Portanto, é preciso operar de forma crítica, observando os limites de nossos métodos e atentar para o “conhecimento local” (GEERTZ, 1997), pois o nosso trabalho não escapa de reducionismos, generalizações, dicotomias, essencialidades e universalidade, no mínimo “ela pode ao menos lutar conscientemente para evitar representar outros abstratos e a-históricos.” (CLIFFORD, 2002). Estes modelos de pensamento são propícios para manipulação do poder e à manutenção de uma elite intelectual que são passados de geração em geração. Na ordem do pensamento e da materialidade, pode ser entendido como “capital simbólico” no campo do patrimônio: “[...] os bens culturais enquanto bens simbólicos só podem ser apreendidos e possuídos como tais, por aqueles que detêm o código que permite decifrá-lo. Em outros termos, a apropriação destes bens supõe a posse prévia dos instrumentos de apropriação” (BOURDIEU, 2013)

Vanessa Malheiros apresentou algumas experiências em suas vivências com o projeto “Cartografia Cultural de Terra Firme”. A autora apresentou o mapa que consta o bairro da Terra Firme, Belém do Pará/PA, que é um bairro periférico com

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estimativa de 90 mil habitantes, com índice alto de violência e tem como característica a proximidade com as universidades e instituições federais. Feito o levantamento institucional do Ponto de Memória, o Conselho Gestor do Ponto de Memória da Terra Firme estava envolvido em conflitos de interesses e era composto principalmente por pessoas idosas. Foi feito um trabalho tanto de planejamento estratégico como engajamento comunitário e a primeira ação do projeto foi fazer uma mobilização nesse território para criar um seminário inaugural. Foi elaborado um mapa, tanto uma cartografia técnica como uma cartografia social e as pessoas puderam inferir nesse mapa. A base cartográfica foi migrada do Ministério do Meio Ambiente. O trabalho envolveu mais de 144 pessoas, entre jovens e adultos, daí criou-se um círculo de formação patrimonial em arte cultura, com 40 horas teóricas e 80 horas de prática. Foi feito roteiro de entrevistas com as escolas através dos alunos que conseguiram formar um banco de dados com mais de 90 manifestações culturais. O trabalho de campo identificou que há grupos culturais que não estavam dentro do território da Terra Firme, mas se consideravam do Território. Isto nos leva a refletir sobre a dimensão de territorialidade que ultrapassa os limites geográficos estabelecidos levando em consideração o sentimento de pertença e as relações afetivas que se estabelecem a partir das trocas culturais. Foram feitas mobilizações pelo bairro e com criações de vários grupos de trabalhos com as temáticas escolas, mapas e comunicação. Foi feito diagnóstico sociocultural dos grupos e havia pessoas que trabalhavam como a mesma manifestação cultural, mas não se conheciam dentro do próprio bairro porque apesar de ser um bairro periférico há áreas mais violentas que outras. Para melhor localizar foi feita a divisão do bairro em quatro territórios: Curtume, Bom Jesus, Centro e Parque Amazônia. Após essa divisão foram montadas equipes que foram priorizadas para os alunos do ensino médio e por grupos de trabalho, depois foi feito um terceiro mapa que dividiu agora as manifestações e expressões artísticas e culturais. O projeto durou entre 2013 a 2017, ainda funciona, mas de uma forma mais pragmática. Permitiu muitas outras pesquisas pela universidade principalmente nas faculdades de museologia e multimídia assim como interlocução com as esferas governamentais. O resultado do projeto foi uma cartografia das manifestações e grupos culturais cadastrados e agrupados em função da atividade. Segue mapa visual da cartografia do patrimônio cultural vivo do bairro da Terra Firme. Nos deparamos muito com a questão do que é “cultura” porque sempre a cultura é do “outro”, em geral por imposição e dominação. O consenso do que era cultura foi construído pela população e ajudou muito no reconhecimento dessa Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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comunidade. Eles aderiram ao projeto porque viram a cartografia como ferramenta estratégica de política pública e servirá como subsídio para tratar com gestores públicos. Tudo foi decidido em comum em relação ao projeto e o processo foi sendo construído como diagnóstico institucional do Ponto de Memória da Terra Firme e do bairro, assim foi proposto a reformulação do estatuto social, abertura de uma entidade jurídica formal, reformulação do Conselho Gestor para participação dos jovens como conselheiros. Também foi feito diagnóstico sociocultural dos grupos culturais do bairro que possuía falta de informação sobre o acesso aos recursos e financiamento, falta de reconhecimento por parte da própria comunidade e do poder público, falta de placas de identificação dos grupos e dificuldades de localização e visibilidade local. A autora conclui sua fala dizendo: “Ressalto que é importante construir com a comunidade o que é conceito de cultura para aquele território para daí então tratar de patrimônio. Finalizou dizendo que muitas vezes o inventário não acompanha a dinâmica social e o mapa foi mais útil e rápido.”

Figura 1 - Mapa das Manifestações Culturais em 2014 Fonte: Acervo da Autora

Figura 2 - Subdivisões do Bairro e seu Entorno Fonte: Acervo da Autora

A partir das intervenções dos participantes, suas indagações e experiências vividas, através da roda de diálogo, foi possível gerar debates e trocas importantes para se pensar o trabalho comunitário em rede. Perceber outras realidades, suas complexidades e dinâmicas próprias, nos permite compreender que, embora

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possamos nos guiar por métodos mais gerais, é preciso atentar para as distinções entre lugares, suas próprias identidades, relações e modelos de pensamento. Pensar o outro através de uma linha horizontal, nos ajuda a perceber que a ciência está à serviço da sociedade, ainda sim, será à feitura do trabalho que podemos organizar relações mais simétricas, sem com isso esquecer dos imperativos das relações de poder. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo buscamos retratar parte dos debates e reflexões que ocorreram em uma reunião ordinária do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural/PE. Na ocasião ocorreu a roda de diálogo que teve por tema o título deste texto: “Inventariando o Patrimônio: novas práticas sob a perspectiva comunitária”. Enquanto palestrantes e autoras/es deste texto revisitamos nossas lembranças e lançamos mão do relatório da reunião, um documento público, como fonte para este processo de escrita. Os quatro relatos apresentados têm como ponto em comum o fato de apresentarem experiências patrimoniais realizadas a partir das comunidades, outro aspecto em comum é o fato de que enquanto pesquisadoras/es, moradoras/es, trabalhadoras/es possuímos um forte vínculo afetivo com os territórios onde ocorreram as experiências. Em nossa prática partimos da perspectiva de que patrimônio não é algo dado, mas construído simbólica e discursivamente, e o processo de patrimonialização como um processo político, social e simbólico de produção e atribuição de valor, operacionalizado em meio a disputas em diversas esferas. Propomos, então, tensionar e expandir o conceito de patrimônio e, como consequência, de educação patrimonial, a partir de um olhar de dentro, cotidiano, afetivo e, assim, considerar o patrimônio enquanto processo e como mediador de relações de modo a impulsionar efetivamente transformações sociais. Em acordo com esta perspectiva

de patrimônio tomamos a educação

patrimonial como processo contínuo que deve primar pelo diálogo e pela participação democráticas dos agentes comunitários em todas as fases de sua implementação, colocando em debate as convergências e divergências em torno das referências culturais comunitárias como forma de ressignificá-las, identificando os pontos de tensão discutindo e refletindo sobre novos usos e novas formas de apropriação. Neste sentido, as experiências apresentadas e os debates realizados apontam para a importância desta discussão como contribuição para pensar uma política de educação patrimonial com o protagonismo dos agentes comunitários, redimensionando o papel dos especialistas e a prática da EP enquanto construção coletiva e horizontal. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. 5ª edição, São Paulo, Perspectiva, 1998. CAMARAGIBE, CULTURA. Inventário Participativo dos Bens Culturais de Camaragibe. Produção Coletiva, 1ª fase, 14 fascículos, 2018. CLIFFORD, James. Sobre a Autoridade Etnográfica. In A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX; José Reginaldo Santos Gonçalves (org ). 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002. FLORÊNCIO, Sônia Rampim et al. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília: Iphan, 2014. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2013. . O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis, Vozes, 1997. GONÇALVES, José Reginaldo Santos. As transformações do patrimônio: da retórica da perda à reconstrução permanente. In: LIMA FILHO, Manuel Ferreira; TAMASO, Izabela (orgs). Antropologia e Patrimônio Cultural : trajetórias e conceitos. Brasília : Associação Brasileira de Antropologia, 2012. P 59-73. JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das Cidades. São Paulo: Casa da Palavra, 2005. SEMANA DO PATRIMÔNIO DE PERNAMBUCO, 13., 2020, Recife, PE. Atas, 279° Reunião: Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural/CEPPC, 2020. TOLENTINO, Átila Bezerra. O que não é educação patrimonial: cinco falácias sobre seu conceito e sua prática. In: Educação patrimonial: políticas, relações de poder e ações afirmativas. João Pessoa: IPHAN-PB, 2016.

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Gabriela de Souza Cordeiro e Prof. Drª Paula Maciel Silva

MEMÓRIA MODERNA: ORIENTAÇÕES PARAS AS AÇÕES DE CONSERVAÇÃO DO EDIFÍCIO DA ESCOLA ALBERTO TORRES Gabriela de Souza Cordeiro1 Prof. Drª Paula Maciel Silva2

RESUMO O presente artigo sintetiza a pesquisa realizada pela autora, como trabalho de final de graduação, orientado pela Prof. Drª Paula Maciel, defendido na Universidade Católica de Pernambuco em 2019 e apresentado na 13º Semana do Patrimônio de Pernambuco. O trabalho consiste em um estudo sobre a conservação do edifício da Escola Alberto Torres, uma das obras icônicas do arquiteto Luiz Nunes e seus colaboradores, projetada em 1935/1936, no bairro de Tejipió, Recife-PE. Busca-se, através do conceito de Significância Cultural, elencar os atributos e valores pertencentes ao artefato arquitetônico em questão, a fim de traçar as orientações para as ações de conservação do edifício. O estudo procura evidenciar a importância da obra de Luiz Nunes e seus colaboradores para o movimento da arquitetura moderna no brasil, fortalecendo o argumento em prol de sua preservação. Palavras-chave: Conservação de Edifícios. Arquitetura Moderna. Integridade. Autenticidade. Significância. Luiz Nunes.

INTRODUÇÃO “Nós vimos o modernismo nascer ... e foi no Recife, como bem deu-lhe à luz Luiz Nunes” (NASLAVSKY; SÔNIA, 2011). Luiz Carlos Nunes de Souza (1909 - 1937), mineiro, formado arquiteto e urbanista pela Escola Nacional de Belas Artes - ENBA em 1926, atuou à frente da Diretoria de Arquitetura e Construção – DAC (posterior

1 Arquiteta Urbanista, graduada com láurea pela Universidade Católica de Pernambuco, em 2019. Atuou como pesquisadora na área do Patrimônio Cultural e em estudos sobre a expansão urbana da Região Metropolitana do Recife. Atualmente é mestranda pelo programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) da URPE, na linha de Conservação Integrada. 2 Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo, membro da equipe de coordenação do Plano Centro Cidadão, atua como pesquisadora do Laboratório Humanicidades e Professora Assistente 4 da Universidade Católica de Pernambuco. Tem experiência nas seguintes áreas: projeto arquitetônico, sustentabilidade, conservação, arquitetura moderna e autenticidade.

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Diretoria de Arquitetura e Urbanismo - DAU) do estado de Pernambuco, durante os anos de 1934 a 1937, até seu falecimento. Como apontam diversos pesquisadores e historiadores da arquitetura3, Nunes foi um dos grandes propulsores da arquitetura

moderna nacional, sendo responsável por importantes edificações em Pernambuco, ainda no início do século XX, como é o caso da antiga Usina Higienizadora de Leite, do antigo Pavilhão de Verificação de Óbitos e da Caixa d’Água de Olinda. A DAC/DAU contava com um grupo multidisciplinar, com importantes nomes como o engenheiro Joaquim Cardozo, o paisagista Roberto Burle Marx, o estagiário de engenharia Antônio Bezerra Baltar, o projetista Hélio Feijó, o técnico Gauss Estelita e o químico José Norberto. Juntos eles desenvolviam obras que atendiam às necessidades do Estado, aplicando a elas princípios importantes da arquitetura moderna, observados através das soluções formais, que demonstravam os conceitos de racionalização e funcionalização, refletidos nos programas e na volumetria das edificações; dos materiais adotados e das novas tecnologias construtivas utilizadas; das técnicas e tradições, da linguagem compositiva e do potencial interpretativo dessas obras. Diante do exposto, observa-se o pioneirismo das obras coordenadas por Luiz Nunes à frente da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo. O conjunto de imóveis elencado para tombamento apresenta uma série de atributos fundamentais à compreensão da arquitetura moderna no Brasil. Além disso, os valores estéticos, históricos, sociais, políticos, científicos atribuídos às obras de Luiz Nunes e seus Colaboradores, também o qualificam de forma inequívoca para tombamento, conforme disposto no Art. 1º do Decreto-Lei nº 25/1937 (Parecer Técnico nº 01/JP/IPHAN-PE, 2017).

Como aponta a arquiteta Júlia Pereira no referido parecer técnico do IPHAN, tais obras vão apresentar, até os dias atuais, atributos que possibilitam a compreensão de uma época, de um vocabulário formal, de uma maneira de conceber arquitetura e de valores tangíveis e intangíveis, sendo, portanto, documentos fundamentais à pesquisa e ao ensino da arquitetura moderna brasileira. Apesar disto, as obras de Nunes, no contexto atual, pairam entre o reconhecimento e o esquecimento. Algumas estão protegidas por instrumentos legais (imóveis especiais de preservação, zonas de proteção do patrimônio histórico e tombamento federal), contudo, de uma forma geral, o conjunto da obra de Luiz Nunes se encontra ameaçado por ações de 3 Como nos estudos desenvolvidos por Vaz (1988), Naslavsky (1998), Segawa (1999), Naslavsky e Sposito (2009).

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descaracterização ou demolição, como ocorreu com a Escola de Anormais (Edificação também projetada por Luiz Nunes e sua equipe, que veio a ser demolida anos atrás). Diante dessas ameaças urge a necessidade de acautelamento e salvaguarda desse patrimônio tão representativo das iniciativas de modernidade do Estado de Pernambuco empreendidas pelo então inventor Carlos Lima Cavalcanti, esse patrimônio representa as tentativas de modernizar a máquina estatal e de empreender ações de melhoria de infraestrutura nos setores públicos, como educação, saúde abastecimento, entre outros, representativo da modernidade que vivia o Estado nos anos 30 (NASLAVSKY; SPOSITO, 2009, p.02).

Edificações como a Usina Higienizadora, amplamente estudada e apontada como a primeira e uma das mais importantes obras modernistas no estado de Pernambuco encontra-se, basicamente, em estado de arruinamento. Destaca-se ainda que o Antigo Reformatório de Menores (atual sede da reitoria da UFRPE), apesar de todo o orgulho e compreensão da importância da edificação para a história e arquitetura por parte da Reitoria da Universidade Rural, sofreu modificações importantes, como alterações dos revestimentos originais, das esquadrias e algumas mudanças na configuração espacial interna. Chama a atenção, também, o estado de conservação de outras edificações de autoria de Nunes, como o antigo Leprosário da Mirueira e o Hospital da Brigada Militar, devido as muitas intervenções realizadas nessas obras. Tais ações ameaçam diretamente o caráter de integridade e autenticidade dessas edificações, características importantes para a atribuição de valor à essas obras. A pesquisa realizada origina-se do interesse pela obra de Luiz Nunes, advindo da experiência como estagiária do IPHAN PE durante os estudos do processo de tombamento do conjunto da obra do arquiteto4 e surge em função da problematização acerca da perda gradual desse repertório, devido a uma série de ações de descaracterizações que colocam em risco a integridade e autenticidade de tais edificações, tendo em vista que o legado deixado por Luiz Nunes e sua equipe para a arquitetura moderna brasileira, expresso fisicamente através de icônicos exemplares da arquitetura espalhados pela região metropolitana da cidade do Recife. Compreendendo que tais obras fazem parte da construção da nossa identidade cultural e tendo em vista as recorrentes ameaças voltadas sobre esses exemplares, é que busca-se um estudo que traga ferramentas que auxiliem as análises sobre a 4 Processo de Tombamento nº 1.711-T-14 (protocolo nº 01498.001275/2014-92).

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conservação dos objetos que retratem esse legado deixado por Nunes. Para tal, o objetivo geral do trabalho foi de estabelecer orientações para as ações de conservação para o edifício da Escola Alberto Torres, a antiga escola rural, uma das obras mais importantes projetada pela DAC/DAU, tendo como fundamento os conceitos de significância cultural e dos atributos específicos da arquitetura moderna, afim de identificar os valores pertencentes à edificação e traçar um estudo que sirva como referência para a análise de outras edificações, que caráter similar. OS REFERENCIAIS TEÓRICOS DA PESQUISA O trabalho aborda, inicialmente, uma breve trajetória sobre o surgimento do movimento moderno e suas fundamentações, afim de contextualizar o momento histórico da concepção e do desenvolvimento dos trabalhos realizador por Luiz Nunes. Conceitua-se também a definição de bem cultural, através do que é trazido pelas Cartas Patrimoniais e a trajetória da pratrimonialização de edifícios do movimento moderno, com suas ampliações e discussões através dos anos, realizada tanto num âmbito internacional, quanto nacional. Esta foi uma importante etapa para compreender quais as motivações e justificativas que levaram a tal reconhecimento e quais os desafios específicos apresentados no exercício da conservação desses exemplares. Nesse momento foram analisados referencias teóricos como Benévolo (1976), Xavier (1987), Segawa (1999) e Frampton (2000), sobre o desenvolvimento da arquitetura moderna nacional e internacional; as próprias cartas patrimoniais, como já foi citado anteriormente e os estudos desenvolvidos por Macdonald (2007) e Moreira (2011) sobre os desafios da conservação do patrimônio moderno. Ainda dentro do insumo teórico, a pesquisa trouxe do âmbito da UNESCO os conceitos de Significância, Autenticidade e Integridade, pois eles possuem um papel fundamental na conservação do patrimônio cultural, não somente por serem critérios e exigências realizadas pela UNESCO, mas também, por estarem relacionadas com experiências locais específicas. A Carta de Burra (1999), relaciona o significado e o valor de um bem, indicando onde ele pode ser encontrado. O documento ainda afirma que o objetivo da conservação é preservar a significação de um bem, o que implica em medidas de manutenção desses valores, os quais podem ser atribuídos por diferentes indivíduos ou grupos. Jokilehto e Feilden (1998), afirmam que as áreas históricas não devem ser consideradas apenas em relação aos seus conjuntos arquitetônicos, mas também

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em relação aos valores humanos registrados no seu contexto social e econômico. Mais tarde, Zancheti e Hidaka (2014), abordam o tema da conservação como uma prática condicionada por um objetivo que somente é atingido quando vários tipos de valores são considerados simultaneamente e destaca que o monumento só passa a ser considerado um bem cultural, a partir do momento em que vários valores forem atrelados a ele. Os valores passam a se referir não apenas à edificação ou a aparência de um bem cultural, mas sim a todos os elementos que contribuem para informar porque ele é significativo, como o contexto em que ele se encontra, a sua história, os usos e os valores sociais e espirituais. Percebe-se que a significância pode estar relacionada a elementos de natureza material ou imaterial. A significância ainda se configura como a expressão de um conjunto de valores que se mantiveram ao longo do tempo, definida como uma propriedade cultural ou qualidade inerente ao bem patrimonial. Portanto, o valor não é algo que está ligado ao próprio do bem, mas sim, que é atribuído a ele através de um sujeito ou de um grupo que enxerga a existência de algo nesse objeto que deve ser transmitido para próximas gerações (AVRAMI et al., apud SILVA 2012). Hidaka (2011) afirma que o objetivo da conservação urbana é preservar o conjunto de valores pelos quais um objeto foi categorizado como bem patrimonial. “A essência da conservação está em conservar o valor. Se o valor se perde, perde o motivo da preservação do bem” (SILVA, 2012 p.48). Zancheti e Hidaka (2014) definem valor como um princípio, um padrão ou uma qualidade considerada importante ou desejável nos artefatos patrimoniais. Dessa maneira, compreende-se que os conceitos de significância cultural, valor, autenticidade e integridade possuem um importante papel na conservação do patrimônio cultural, principalmente por estarem relacionados com experiências locais específicas. Destaca-se também a importância da participação social e das questões relativas à subjetividade e intersubjetividade no processo da conservação e gestão dos bens culturais. A articulação desses conceitos teóricos foi fundamental para a identificação dos aspectos a serem avaliados no objeto de análise desta pesquisa. Compreende-se que a partir destes conceitos é possível tecer um julgamento sobre o valor para a conservação de um determinado bem patrimonial. Por fim, tendo em vista que o objeto de análise é um bem de autoria atribuída a Luiz Nunes, fez-se necessário realizar um estudo sobre a trajetória profissional do arquiteto, desde a sua formação na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, até o falecimento, em 1937. Para tal, essa pesquisa utilizou os estudos desenvolvidos por Vaz (1988), Naslavsky (1998), Segawa (1999), Naslavsky e Sposito (2009), os

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artigos escritos por Joaquim Cardoso, Antônio Bezerra Baltar e pelo próprio Luiz Nunes à Revista da Diretoria de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1935/1936, além dos materiais iconográficos e documentos originais acerca das referidas obras, contidas no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, em bibliotecas de instituições como o IPHAN e a FUNDARPE e nos acervos privados das edificações do conjunto. DO CONJUNTO DA OBRA DE LUIZ NUNES PARA O CASO ESPECÍFICO DA ESCOLA ALBERTO TORRES A presente pesquisa trabalhou com um recorte temático, formando um conjunto com seis obras de destaque dentro da produção de Nunes na DAC/DAU (Fig. 1). O estudo aprofundado de cada uma das seis edificações foi de extrema importância para entender os princípios norteadores, a concepção projetual, as etapas que guiavam os trabalhos desenvolvidos pela DAC/DAU as características gerais das obras de Nunes e as especificidades das obras analisadas, afim de compreender qual de fato era o legado deixado por Nunes e seus colaboradores.

Figura 1 - Conjunto de 6 obras analisadas na pesquisa, inicialmente. Em destaque está o objeto de estudo selecionado, o caso específico da Escola Alberto Torres. Fonte: Cordeiro, 2019. Memória Moderna. Trabalho de Conclusão de Curso, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco.

A partir de tais informações foi possível apreender quais os valores contidos nesse repertorio da arquitetura moderna e o grau de significância desse conjunto. De

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uma forma geral, as obras relacionadas à Luiz Nunes carregam consigo não apenas os valores, como o Valor Histórico, Científico, Econômico e Social, mais muitos outros. O forte caráter colaborativo dos projetos desenvolvidos pela DAC/DAU, envolvendo e absorvendo o conhecimento de diversos profissionais, desde o engenheiro ao pintor; a qualidade construtiva e paisagística das obras; o cuidado na adaptação bioclimática do estilo arquitetônico à região de implantação das edificações; e a forte relação da edificação com os usuário agregam valores tangíveis e intangíveis as obras, que passam a possibilitar a compreensão de uma época, de um modo de construir e de um vocábulo formal, sendo importantes documentos para a pesquisa e ensino da arquitetura moderna brasileira. Frente ao conjunto analisado, foi necessário a seleção de apenas uma obra, para que fosse dada continuidade aos estudos de aprofundamento, para que fosse possível alcançar a etapa de elaboração de orientações de conservação do monumento. O edifício da antiga escola Rural Alberto Torres foi selecionado por diversos fatores, como: sua representatividade dentro do conjunto geral das obras de autoria associada à Luiz Nunes; pela escala da edificação; e pela obra atender a todos os 5 critérios sobre a significância cultural, estabelecidos por Russel e Winkworth (2001), (I) Origem e Autoria; (II) Representatividade; (III) Raridade; (IV) Condições de completude e; (V) Potencial interpretativo, que além da significância, são critérios que também avaliam a autenticidade e integridade de um bem. A ESCOLA ALBERTO TORRES

Figura 2 - Escola Alberto Torres, 1935. Foto do acervo de Benício Dias. Fonte: Arquivo Iphan PE.

Figura 3 - Representação social da Escola. Fonte: Gabriela Cordeiro, 2018.

O edifício que abriga a antiga Escola Rural Alberto Torres encontra-se localizado na Av. Dr. José Rufino, 2993, no bairro de Tejipio, Recife - PE. O projeto data do final do ano de 1935 e início do ano de 1936, sob autoria de Luiz Nunes, com Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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a colaboração de Gerson Loreto, José Norberto da Silva, Fernando Sartutino de Brito e G. Duprat. O projeto estrutural foi assinado pelo engenheiro Álvaro Celso Uchoa, com coparticipação de Hamilton Fernandes, contudo a autoria é atribuída à Joaquim Cardoso, que foi impos-sibilitado de assinar como autor do cálculo estrutural devido às perseguições da Intentona Comunista de 1935. O edifício (Fig. 2) é composto por um bloco prismático em forma de “L”, contendo dois pavimentos, aonde são distribuídas as salas de aula e os banheiros (sendo quatro salas e dois banheiros em cada pavimento); e por um volume que compõe a caixa d’água, formado por um cone invertido apoiado em um esbelto pilar de secção circular, uma forma inédita que assume no conjunto uma importante função plástica vertical, contrapondo-se a toda horizontalidade do edifício (BRUAND, 1981). Contudo um dos elementos mais representativos e que agregam um caráter de raridade à edificação é o conjunto de três arcos parabólicos que sustentam as rampas de acesso ao segundo pavimento e que se tornam o elemento de destaque do bem, sendo utilizada, inclusive, como representação social da Escola (Fig. 3), agregando um valor imaterial ao bem e se apresentam como principal avanço tecnológico dessa edificação. Outro exemplo do caráter inovador desse bem está na sua rígida modulação estrutural, padronizada por vãos de aproximadamente 8 metros cada, possibilitados pelos pilares de seção retangular que na base e que vão sofrendo um aumento de seção na face interna à medida que se aproximam da cobertura e as vigas em arco abatido (VAZ, 1989). A preocupação com o conforto ambiental, existente no projeto, é expressa através de algumas soluções estéticas na edificação. A fachada que recebe os ventos predominantes possui grandes janelas em fita e as paredes opostas a elas, com rasgos inferiores ou superiores, que possibilitavam a existência de ventilação cruzada em todas as salas de aula. Na fachada oposta, poente, foi localizada estrategicamente a área de circulação de acesso às salas de aula. A pesquisa se dedicou a traçar a trajetória do edifício, identificando todas as alterações que o mesmo sofreria ao longo dos anos, desde o desenho do projeto, até as reformas mais recentes. Percebe-se alterações que foram realizadas durante a execução, como o fato da implantação da edificação ser realizada de forma espelhada em relação aos desenhos técnicos e a mudança no tipo de tirante de sustentação da rampa de acesso ao primeiro pavimento. Outras mudanças ocorreram pouco tempo após inaugurado o projeto, como a necessidade de alterar a coberta, que inicialmente foi concebida em laja plana, mas devido a problemas técnicos foi necessária à sua

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substituição por uma coberta com 4 águas, em telha canal. Internamente existem algumas alterações no layout dos banheiros, para torna-los acessíveis, houve o fechamento com gradil de alguns vão e a construção de um bloco anexo, para atender as novas demandas de espaço da escola. Percebeu-se também a perda de algumas peças como o guarda corpo detalhado no projeto, as louças sanitárias e luminárias originais. Outra alteração importante, mas que não diz respeito ao prédio propriamente dito, é o desmembramento do lote onde a edificação se encontra e a demolição das edificações anexas originais, durante a década de 1960. Os registros mostram que a área que correspondia à antiga escola rural era muito mais extensa e arborizada, sendo limitada pelo rio Capibaribe ao fundo. Além da trajetória do edifício, também foi feita uma análise sobre os danos da envoltória. De modo geral a Escola encontra-se em bom estado de conservação, não necessitando de intervenções mais profundas para recuperar o modelo original. Tal condição de conservação se deve, em grande parte, ao fato do uso educacional ter se mantido até os dias atuais, bem como pelo reconhecimento do seu valor, instituído através do tombamento feito pelo Estado de Pernambuco como patrimônio cultural. Sendo assim, não se percebe, uma perda irreparável do desempenho do sistema funcional e tectônico do bem, uma vez que os principais elementos construtivos e arquitetônicos foram mantidos. A edificação em questão tem seu valor reconhecido em duas instâncias de proteção diferentes. O bem encontra-se tombado estadualmente, pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), através do decreto nº 17.289/94 e é contemplado através da lei municipal nº 16.176/06, como Zona Especial do Patrimônio Histórico-Cultural, pela prefeitura da cidade do Recife. As legislações incidentes sobre o bem não estimulam diretamente ações significativas de conservação, mas indicam a preocupação em proteger tal patrimônio, não sendo permitido ações que alterem a ambiência da edificação ou descaracterizem o bem, como demolições e substituições. São permitidas alterações internas, corretivas e a criação de estruturas anexas ao bem patrimonial. Os parâmetros construtivos são descritos pela ZEPH 16 e qualquer tipo de projeto deve ser submetido às avaliações especificas do órgão estadual, que não apresenta normativas claras quanto às intervenções permitidas. ANÁLISE METODOLÓGICA DO OBJETO DE ESTUDO Tendo em vista os objetivos que a pesquisa se propunha a comprimir, buscouse um procedimento metodológico que atingisse algumas finalidades: a identificação Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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e avaliação da significância da edificação analisada, a Escola Alberto Torres; a avaliação dos critérios de autenticidade e integridade do bem; e a elaboração de orientações para as ações de conservação do edifício. Tendo como principais referências os estudos sobre Significância Cultural estabelecidos por Zancheti & Hidaka (2009) e a análise desenvolvida por Silva (2012), sobre a avaliação dos atributos específicos da arquitetura moderna para a elaboração de ações de conservação, são adotados os procedimentos metodológicos necessários para que se alcance tais finalidades: (I) identificar e avaliar a significância cultural do bem, (II) identificar e caracterizar os valores e atributos pertencentes à obra analisada, (III) avaliar cada atributo identificado e (IV) tecer orientações para as ações de conservação à serem implementadas na edificação. Os estudos de referência supracitados fornecem meios e ferramentas para a construção de diagnóstico completo da obra, que considera os critérios de autenticidade e integridade. Esse acervo metodológico propõe um procedimento que se baseia na intervenção de reabilitação, que leva em consideração o ciclo de vida de um bem, respeitando todas as realidades temporais: o passado, o presente e o futuro. A metodologia proposta por Silva (2012) utiliza alguns instrumentos como o Documento de Referência, que é construído a partir das informações acerca do “passado” do edifício, as Declarações Condutoras, pelas quais é possível avaliar o edifício no tempo “presente”, afim de compreender como ele se encontra na atualidade. Dessa forma, é possível tecer uma avaliação no tempo “futuro”, pensando em como o edifício se encontrará após um projeto de intervenção. Para a construção do diagnóstico detalhado da Escola Alberto Torres, realizouse visitas in loco, entrevista com alunos e professores, levantamento arquitetônico e fotográfico, levantamento do acervo do projeto original, incluindo desenhos técnicos e fotografias da época de construção. A partir desses levantamentos foi realizado um estudo sobre o estado de conservação atual da edificação, analisando todos os danos da envoltória existentes e todas as alterações ocorridas no bem ao longo dos anos. Além disto, foi possível reconstituir o Documento de Referência, a partir das imagens do edifício no seu período de construção e de entrevista com diversos atores sociais. A partir disto, foi possível identificar os atributos existentes no bem e avalia-los através das Declarações Condutoras, analisadas por especialistas de conservação. O resultado da avaliação dos atributos foi a base para a elaboração das ações de conservação do bem. Tal avaliação ocorreu conforme a metodologia desenvolvida por Silva (2012), descrita a seguir: Três especialistas participaram da etapa de avaliação. Ao longo

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desta etapa, preserva-se a identificação dos profissionais envolvidos na avalição das declarações, para que não haja influência sobre as respostas. Foi designado à cada avaliador um arquivo com as Declarações Condutoras, juntamente com informações relativas à situação atual do edifício e o Documento de Referência, as Fichas de Identificação de Danos do edifício e o relatório fotográfico da situação atual da edificação. O arquivo com as Declarações condutoras retorna, para que possam ser analisadas as respostas dadas por cada avaliador. Após o primeiro ciclo de avaliação, os especialistas foram informados dos quesitos nos quais não houve consenso. A falta do consenso foi referente à intensidade da discordância ou concordância em alguns tópicos analisados. Foi realizado uma mediação pela autora, a respeito dessas questões, de modo a obter uma opinião única para a avaliação de cada Declaração Condutora. Para o sistema proposto, busca-se um consenso, o qual se torna a base de referência para as análises Os atributos melhor avaliados foram os atributos Tradição, Interconexão e Interpenetração e Função, os quais se mantiveram totalmente íntegros e autênticos. Contudo, apesar dos atributos afetados negativamente, o edifício mantém um nível de integridade e autenticidade elevado. Quanto às questões de integridade e autenticidade da edificação, é importante relembrarmos que, de maneira simplificada, compreende-se como integridade como a medida entre a quantidade de elementos necessários para transmitir a totalidade de valores de um bem e as boas condições do estado físico da edificação; já a autenticidade, comunica-se com o que é genuíno no bem, ligado à aspectos tangíveis e intangíveis. RESULTADOS OBTIDOS Tendo em vista a avaliação e julgamento de todos os atributos pertencentes ao edifício da escola Alberto Torres, compreendendo quais atributos agregam maiores níveis de significância ao bem e quais atributos se mantem mais íntegros e autênticos, simula-se ações de intervenção à edificação. Tais ações são sugeridas a partir desse diagnóstico da situação atual do edifício, buscando elevar o nível de avaliação dos atributos, especialmente os mais relacionados com a significância do bem. O resultado da avaliação da edificação em analise, oferece subsídios para o julgamento das decisões de conservação, descritas a segui: (I) Controle das patologias nas fachadas do edifício. Manutenção das características estéticas dos revestimentos. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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(II) Retirar os eletroductos das fachadas da edificação. (III) Recuperação da solução de coberta original, em Laje plana. (IV) Recuperação da configuração original da sala de aula no térreo da edificação, atual sala de coordenação e diretoria. (V) Recuperação da funcionabilidade das esquadrias em basculante, reposição dos vidros faltantes, a retirada dos gradis nas esquadrias e vãos e recuperação dos cobogós do banheiro. (VI) Recuperação do caráter rural, relacionada ao projeto original. busca-se restaurar essa herança através da ampliação da área de solo permeável intralote, da revisão do projeto paisagístico; da criação de massa arbórea densa, dentro da área da escola Alberto Torres e junto às escolas vizinhas; e da diminuição das barreiras visuais, aumentando a permeabilidade física da interface arquitetônica, substituindo a delimitação feita em muro de alvenaria de 3 metros de altura, por meio muro complementado por gradil simples. (VII) Substituição de luminárias, refletores e demais objetos fixados na alvenaria, externos à edificação, por postes baixos ao longo dos pátios, funcionando também como suporte para câmeras do circuito de segurança interna. (VIII) Retirada as tubulações hidrossanitárias instaladas nas fachadas da edificação e recuperar as instalações do reservatório superior original. (IX) Proposta de um bloco anexo, que comporte área para a realização das atividades complementares do programa educacional. No caso da Escola Alberto Torres, vários fatores colaboraram com a manutenção do nível de integridade e autenticidade do prédio ao longo das décadas, como a permanência do uso educacional da edificação. Contudo, que apesar disto, a edificação apresenta uma série de danos, quase todos de caráter reversível. Tais fatores levaram a edificação a ser bem avaliada, de uma forma geral, mediante as declarações condutoras. Os resultados das avaliações levaram às orientações para as ações de conservação, cujo objetivo é manter a qualidade dos atributos bem avaliados e aumentar o valor dos atributos mais afetados negativamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho, destacou-se a importância que a reflexão teórica possui na regência das ações de conservação de uma edificação, para que elas não ocorram de forma arbitrária. Apesar de considerar que cada intervenção é um caso particular, busca-se soluções válidas, aceitáveis e adequadas. Segundo KUHL (2005) “Não existe uma única solução, aceita de modo universal e atemporal, mas várias soluções de pertinência relativa” (KUHL, 2005, p.1).

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Os procedimentos metodológicos aplicados visam priorizar a integridade dos atributos e a autenticidade da concepção projetual, com o objetivo de evidenciar os atributos mais relacionados com a imagem histórica do objeto como sendo o fator que influencia mais diretamente na significância dele. Ou seja, depende do quanto é possível se compreender e visualizar o edifício pela forma e não tanto suas recordações físicas. Dessa maneira, é tirado o peso que se existe, historicamente, dado somente sobre a necessidade de manutenção das características estéticas do edifício e passa a considerar com maior peso todos os valores, tangíveis e intangíveis, que agreguem significância à um objeto patrimonial. Nesse processo é importante ressaltar que se faz necessário compreender que o edifício da arquitetura moderna como um bem cultural que passa por uma ação de conservação, está sujeito às suas questões éticas, como qualquer outro edifício. E como é destacado na Carta de Burra (1980), é necessário que a sociedade seja consciente do papel, atribuído aos monumentos, de suporte do conhecimento e da memória coletiva. Deste modo, existe uma grande importância em envolver diversos atores nas discussões da conservação, especialistas e população. Silva (2012) aponta que deve existir somente um cuidador para que não haja uma excessiva especialização, uma fragmentação do conhecimento, que leve a se tomar decisões puramente tecnicistas, desconsiderando as razões pelas quais se preserva. Observa-se que o presente trabalho abre diversas outras vertentes de estudo, seja no próprio aprofundamento e aprimoramento das análises relacionadas à conservação do edifício sede da Escola Alberto Torres e das demais edificações que compõe o conjunto de obras do arquiteto Luiz Nunes, ou seja nas propostas de gestão patrimonial e afins. Conclui-se então que a presente pesquisa pretende contribuir com a temática, servindo como um estudo piloto para análises de caráter similar.

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PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: AÇÕES DE DIVULGAÇÃO E PRESERVAÇÃO Glena Salgado Vieira1

RESUMO O presente trabalho busca apresentar as ações relativas ao Patrimônio Arqueológico, desenvolvidas pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, na 13ª Semana do Patrimônio Cultural realizada pela Fundarpe. Foram propostas duas palestras com a intenção de discutir o Patrimônio Arqueológico, uma vinculada ao Patrimônio Paleontológico e a outra objetivando trazer resultados da pesquisa arqueológica realizada em Olinda. A proposta teve como perspectiva ampliar as discussões sobre o tema tendo como base a Arqueologia Pública, que é definida como uma área da Arqueologia voltada para o interesse comum, na qual atuam diversas vertentes teóricas e metodológicas, momento no qual o arqueólogo trabalha com os interesses sociais, apoiado pela legislação, objetivando proteger o Patrimônio Arqueológico. Palavras-chave: Conselho de Preservação. Arqueologia. Paleontologia. Patrimônio Cultural.

INTRODUÇÃO Enquanto conselheira, pelo seguimento Arqueologia, História e Museologia do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, eleita como representante da sociedade civil para o biênio 2020/2021, durante uma reunião que tratou sobre sítios paleontológicos, surgiu a ideia de propor uma maior discussão sobre as miscelâneas entre o Patrimônio Arqueológico e o Patrimônio Paleontológico, a ser apresentada na 13ª Semana do Patrimônio de Pernambuco. A Paleontologia é uma ciência muito confundida com a arqueologia. É comum encontrar pessoas que acham que a Arqueologia se dedica aos estudos dos dinossauros, porém, a Arqueologia objetiva estudar restos humanos; já a paleontologia estuda as outras espécies (animais, vegetais, etc), ficando de fato sob a responsabilidade da Paleontologia o estudo dos

1 Graduada em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2006) e Mestra em Arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2010). Atualmente executa atividades como arqueóloga em projetos de licenciamento ambiental nos diversos estados do Nordeste e compõe o Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco pelo segmento História, Arqueologia e Museologia.

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dinossauros. Na verdade, a Paleontologia abrange muito mais do que apenas os dinossauros e a proposta da mesa Arqueologia e Paleontologia: conceitos, participação e preservação do patrimônio, pretendeu esclarecer melhor sobre as duas disciplinas. Pensando ainda na ampliação da valorização do patrimônio arqueológico, propôs-se além da discussão acima citada, uma palestra que tratasse sobre os resultados dos trabalhos de arqueologia executados no Sítio Histórico de Olinda. Assim surgiu a proposta da mesa Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico no Sistema de Abastecimento de Água do Sítio Histórico de Olinda - Resultados, além de ter sido pesquisadora participante do projeto, a divulgação dessa atividade precisava de maior visibilidade pela população, já que Olinda é Patrimônio Cultural da Humanidade, título dado pela UNESCO em 1982. Pretendeu-se com as duas propostas socializar o conhecimento de forma mais ampla, principalmente objetivando não deixar as informações como repositórios acadêmicos e/ou institucionais, tornando-se inatingíveis ao grande público, e por isso dados como irrelevantes pela população em geral. Assim, a duas propostas seguiram com a missão de divulgar maiores informações sobre a temática da arqueologia e da paleontologia. A seguir realizaremos uma breve apresentação das duas propostas e o desenvolvimento da ação. ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: CONCEITOS, PARTICIPAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO O objetivo ao apresentar a mesa “Arqueologia e Paleontologia: conceitos, participação e preservação do Patrimônio” foram a de explicitar os conceitos e relações entre a Arqueologia e Paleontologia. Para melhor tratar sobre o tema foi convidado o pesquisador Pétrius Bélo, Doutor em Geociências pela UFPE e Doutorando em Arqueologia UFPE; a professora e pesquisadora Alcina Barreto, coordenadora do PALEOLAB do Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da UFPE e o professor e pesquisador Edson Vicente do Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da UFPE. A mesa foi realizada no dia 24 de agosto de 2020, com uma duração média de uma hora, onde foram discutidos além dos conceitos das duas disciplinas, os sítios identificados no Estado de Pernambuco e as formas de preservação desses sítios. O pesquisador Pétrius Bélo iniciou a apresentação falando sobre as duas disciplinas temas da mesa, discorreu ainda sobre as diferentes evidências colhidas em Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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cada área especifica e a legislação vigente referente a arqueologia e a paleontologia. O referido pesquisador realizou um quadro comparativo com o propósito de estabelecer as principais diferenças e convergências entre as duas matérias.

Figura 1 - Apresentação realizada pelo pesquisador Pétrius Bélo. Fonte: Google Meet.

Finalizou a apresentação destacando que a arqueologia e a paleontologia, embora tenham objetos de estudo diferentes, possuem muitas similaridades e convergem no campo da Educação Patrimonial como instrumentos na preservação do patrimônio cultural. Por isso, faz-se necessário fomentar iniciativas e políticas públicas que incluam a arqueologia, e principalmente a paleontologia como meio de preservação patrimonial. Após a explanação realizada pelo pesquisador Pétrius Bélo, seguiu-se a apresentação da professora Alcina Barreto que informou os estudos realizados pelo PALEOLAB, (Laboratório de Paleontologia), do Departamento de Geologia, Centro de Tecnologia e Geocências, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desempenhando pesquisas paleontológicas no Nordeste do Brasil, com ênfase nas bacias do Araripe, Jatobá, Pernambuco-Paraíba, e em depósitos quaternários continentais e costeiros. A professora Alcina destacou ainda que o laboratório atua principalmente no campo da Paleontologia de Vertebrados. Ressaltou que a pesquisa também inclui aspectos relacionados a sedimentologia, taxonomia, evolutivos, paleoecologia, paleoclimas e paleoambientes, em especial do Quaternário. Esses estudos têm favorecido o conhecimento dos paleoambientes e paleoclimas do Nordeste brasileiro. As falas foram finalizadas com o Professor Edson Vicente que tratou sobre os trabalhos que tem desenvolvido junto a professora Alcina Barreto no Laboratório de Paleontologia da UFPE e os estudantes que orienta na produção de trabalhos

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acadêmicos. Enfatizou ainda as pesquisas que vem realizando desde 2009 em projetos que tratam sobre o Mesozoico e Cenozoico do Estado de Pernambuco. Destacando também os trabalhos na área de arqueologia pré-histórica que desenvolvem estudos tafonômicos em sítios com possíveis registros de megafauna e restos culturais do Nordeste do Brasil. Os três professores destacaram ainda a necessidade de políticas de preservação dos sítios arqueológicos e paleontológicos, além de maiores investimentos em pesquisa nessas duas áreas. Após todas as falas foi aberto ao público para perguntas. A grande maioria dos comentários focou em parabenizar a atuação dos pesquisadores no Estado de Pernambuco e agradecer a oportunidade em participar do evento.

Figura 2 - Público participante da mesa Arqueologia e Paleontologia: conceitos, participação e preservação do patrimônio. Fonte: Google Meet.

AVALIAÇÃO DE IMPACTO AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO SÍTIO HISTÓRICO DE OLINDA - RESULTADOS No dia 28 de agosto de 2020 foi realizada a segunda mesa sugerida pelo Conselho de Preservação do Estado com a temática do Patrimônio Arqueológico. A palestra teve como objeto os resultados dos trabalhos de acompanhamento arqueológico realizado no Sítio Histórico de Olinda. Para tratar do assunto foi convidada a coordenadora do projeto, Gleyce Lopes dos Santos, mestre em arqueologia pela UFPE. A pesquisadora iniciou a apresentação expondo as informações sobre o projeto de Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico, processo Iphan

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nº01498.900583/2017-45, realizado nas áreas de influência do empreendimento Olinda + Água Compesa, Sistema de abastecimento de água no sítio histórico de Olinda. Foram realizadas ações de pesquisa, resgate, análise e catalogação do material, durante o acompanhamento e monitoramento arqueológico nas áreas de influência do empreendimento. Os estudos permitiram a compilação das informações sobre as evidências arqueológicas identificadas, bem como a realização de um levantamento das informações provenientes de dados secundários de cunho bibliográfico sobre o contexto arqueológico e histórico. O projeto atendeu a cerca de 70% do sítio histórico, incluindo as áreas indiretas relacionadas ao perímetro de tombamento, onde foi possível evidenciar uma diversidade de artefatos arqueológicos por toda cidade histórica, permitindo ampliar o conhecimento sobre a população passada e presente, apresentando um indicativo preliminar das áreas de maior incidência de vestígios arqueológicos. A pesquisadora apresentou ainda o quantitativo de materiais resgatados. Os vestígios arqueológicos evidenciados eram compostos por louça, grés, cerâmica, malacológico, vidro, ferro, material ósseo, cachimbo, material construtivo, moeda e botão. As áreas que apresentaram um maior quantitativo desses artefatos estavam situadas na área direta do sítio histórico, destacando-se: Estrada do Bonsucesso, Rua Bispo Coutinho, Rua do Bonfim, Rua Saldanha Marinho, Rua Henrique Dias, Av. Bernardo Vieira de Melo, Largo do Amparo, Rua 13 de Maio, Rua Doutor Moreira Alves, Rua Coronel Joaquim Cavalcante, Rua João Martiniano da Silva e Rua Bica dos Quatro Cantos. Das áreas mencionadas destacaram-se três ruas com grande potencial arqueológico, apresentando um maior quantitativo de fragmentos resgatados, sendo a Estrada do Bonsucesso, a Rua Saldanha Marinho e a Rua 13 de Maio. Todo material resgatado foi devidamente catalogado e acondicionado no período de atividade de um ano e dois meses. O alto número de peças exigiu uma seleção rigorosa dos fragmentos. Os critérios avaliativos apoiaram-se em características que trouxessem algum tipo de informação, seja ela do período em que o objeto no qual o fragmento um dia fez parte foi utilizado ou fabricado, ou seja, fragmentos que poderiam trazer algum indicativo seja ele através do padrão decorativo, da forma, do tamanho, da especificidade do processo de manufatura, do tipo de matéria-prima. O projeto realizou escavação em mais de 40 ruas, trazendo um quantitativo superior a 8000 peças. A pesquisadora destacou que acredita que as informações que esse material poderá trazer são imensas e que o quantitativo de louça nas diversas

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Glena Salgado Vieira

ruas pode mostrar um pouco da vida privada da comunidade olindense. Afirmou ainda que diversas inferências poderão ser feitas em relação ao material coletado, porém um estudo muito mais aprofundado deverá ser feito para assegurar resultados mais qualitativos. Após a fala da coordenadora do projeto foi aberto ao público para perguntas. As perguntas se concentram em saber sobre o material coletado e as dificuldades encontradas durante a execução do projeto. Glyece Lopes então esclareceu que o material hoje está sob a responsabilidade do Museu de Arqueologia da Universidade Católica, mas que uma parte está com o Laboratório de Arqueologia da Prefeitura de Olinda. A grande dificuldade girou em torno dos esclarecimentos para a população em geral sobre as obras e a conscientização da importância dos achados para o conhecimento da história local. Concluindo todas as perguntas e respostas, foi então finalizada a mesa com agradecimentos e saudações para a pesquisadora e equipe pela execução do trabalho.

Figura 3 - Público participante da mesa Arqueologia e Paleontologia: conceitos, participação e preservação do patrimônio. Fonte: Google Meet.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Cada vez mais se tem consciência que o patrimônio arqueológico faz parte de um grupo de valores coletivos, conhecido como Patrimônio Cultural, este compreendendo o Material e Imaterial. A valorização do patrimônio arqueológico implica, sobretudo, em escolher entre os muitos discursos e agenciamentos relacionados ao local da pesquisa, tudo contribui para a apropriação de um sítio patrimonial, práticas de pertencimento, presença e sentido (CURA; et al, 2019). Boas práticas geram uma expansão da rede social. Rede essa fundamental para divulgar o conhecimento sobre o tema e sensibilizar a população torna-se fundamental para apoiar ações de preservação. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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As propostas apresentadas pelo Conselho de Preservação visaram ampliar o conhecimento e a discussão sobre o tema do Patrimônio Arqueológico e obtiveram sucesso na medida em que um público significativo foi atingindo com as ações. Acredita-se que se as palestras tivessem um suporte tecnológico maior, poderia tem ampliado ainda mais o quantitativo de pessoas. Mais ainda assim o objetivo foi atingido. A Semana do Patrimônio dentro de um calendário fixo nas ações da Fundarpe é fundamental para as divulgações de atividades que vem sendo realizadas na área do patrimônio cultural e acredita-se que apesar de um ano totalmente atípico, os resultados foram significativamente positivos. Espera-se que ações futuras ocorram e amplifiquem ainda mais o patrimônio arqueológico e cultural do Estado de Pernambuco. REFERÊNCIAS ANDRADE, Cilcair. Educação Patrimonial em Arqueologia: a dinâmica das práticas evidenciando redes de conhecimento. Revista de Arqueologia, Rio de Janeiro, v. 32, n. 2, p. 240-255, 30 dez. 2019. Disponível em: https://www.revista.sabnet.org/index. php/sab/article/view/699/70. Acesso em: 25 abr. 2021. CURA, Sara et al. Estratégias de preservação para o patrimônio cultural. Revista Arqueologia Pública, Campinas, v. 13, n. 2, p. 63-78, 19 dez. 2019. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rap/article/view/8657237/22200. Acesso em: 25 abr. 2021. OOSTERBEEK, Luiz. Da investigação à cenografia. Construções de meta realidades. 2003. Disponível em: https://goo.gl/xkfydB.

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Jessica Aline Tardivo

PRÁTICA EDUCATIVA PARA OBSERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL: EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE BROTAS, SP Jessica Aline Tardivo1

RESUMO O presente artigo apresenta de forma sucinta os resultados da tese de doutorado Educação, Memória e Cidade, defendida no ano de 2019, no Programa de Pós Graduação em História da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. A tese construiu uma abordagem - desenvolvida e aplicada de forma experimental em Brotas, município do interior do Estado de São Paulo - que possibilitou a observação e o registro subjetivo da cidade, por meio da compilação de práticas criativas, orientadas pela Teoria da Conversação e pela metodologia da Educação Patrimonial. Como processo elaborou-se diversas cartografias visuais, as quais refletem a experiência sensível de um indivíduo pelo espaço da cidade. Como resultado, foi elaborado um quadro de aplicação, pelo qual é possível compreender a cidade como um cenário educador tramado por diferentes referências culturais. Este trabalho foi apresentado durante o V Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco, evento que compôs a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco. Palavras-chave: Método. Práticas criativas. Observação da cidade. Educação Patrimonial.

DE ONDE PARTIMOS Derivada da palavra ‘methodos’, de origem Grega, que literalmente significa ‘seguir um caminho’, aqui compreendemos2 o método como um processo sistêmico que facilita a construção e obtenção de conhecimento. Porém consideramos que um 1 Doutora em História da Arquitetura e Urbanismo e Mestre em Educação com formação superior em Artes Visuais, Arquitetura e Urbanismo e Pedagogia. Estuda a aplicação da metodologia de Educação Patrimonial associada às novas tecnologias com o propósito de facilitar a identificação da herança cultural de uma cidade. Atualmente realizada estagio pós doutoral na Universidade Estadual Paulista (UNESP) e atua como professora de Artes Visuais no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2 Escrevo em primeiro pessoal do plural pois considero aqui a equipe envolvida no desenvolvimento da pesquisa, em especial a Profa. Dra. Anja Pratschke, orientadora da tese. A abordagem foi construída para o desenvolvimento da tese de doutorado Educação, Memória e Cidade, no instituto de arquitetura e urbanismo. O texto completo está disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/102/102132/tde-30012020-114938/pt-br.phppubli >Acesso em 19 mar. 2021.

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método não tende a ser uma tese definitiva, mas sim um direcionamento passível de mudanças e complementações. Essas mudanças serão geradas pelas distintas indagações do observador ou aprendiz, pelo comportamento social, em cada loco ou geração na qual esse processo será aplicado, e, sobretudo, pelas inovações tecnológicas e científicas. Esse entendimento sobre o termo está sendo evidenciado no cenário atual mundial, no qual, em meio a uma das maiores crises3 de saúde pública vivenciadas no século XXI, os métodos estão sendo discutidos e renovados. Em algumas partes do mundo, recriados e, em outras, retrocedendo. Nesse aspecto, é possível perceber que a aplicação de quaisquer métodos não deriva apenas de seus resultados anteriores, mas se trata de uma estrutura complexa porque envolve estudos técnicos sobre todas suas implicações e restrições, as quais devem ser gerenciadas com discernimento, independentemente de sua escala. Isto é, tanto em uma pesquisa individual, quanto em uma solução de ordem política. Enquanto pesquisa, na busca de uma abordagem para a valorização e o reconhecimento em torno da paisagem cultural subjetiva de uma cidade, optamos neste trabalho por analisar diferentes métodos e teorias, tramando-os a referências contemporâneas, pelas quais foi possível inserir o papel tão essencial da informação e dos meios digitais. As inquietações e desafios estiveram sempre em torno do papel da afetividade no cuidado de um bem e de um lugar. Isto porque, entendemos que as cidades em suas diferentes dimensões carregam como plano de fundo as narrativas daqueles que por elas habitam. Como traduz o olhar do cineasta alemão Wim Wenders (1994, p.1987): As cidades podem trazer em si sua história, e mostrá-la, podem tornála visível ou ocultá-la, como os filmes, elas podem abrir seus olhos ou fechá-los, elas podem esvaziar ou aumentar sua imaginação.

A percepção dada por Wenders (1994) demonstra que as vivências e apropriações de cada indivíduo com o lugar é o que dá vida ao cenário urbano. Desse modo, os medos, os desejos, as utopias próprias da imaginação e as lembranças - que são elementos invisíveis aos olhos- exploram todos os sentidos cognitivos do ser humano e configura a cidade real, a qual será diferente pelo olhar de cada 3 Este texto é escrito no mês de março do ano de 2021, durante o isolamento social mundial devido a pandemia de contágio pelo vírus COVID-19. COVID-19 (do inglês Coronavírus Disease 2019) é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2).

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habitante. Com essa convicção, a pesquisa se propôs a descobrir a cidade percebida no olhar do outro levando alguns moradores de Brotas, cidade do interior do estado de São Paulo, a redescobrirem detalhes da paisagem, dos objetos, da arquitetura e da história do lugar. NOSSO CAMINHO Logo que nos propomos a conhecer a cidade a partir da percepção de diferentes indivíduos, tivemos certeza de que os moradores que compõem aquele lugar deveriam ser agentes em todos os processos da investigação. Nesse sentido, usamos como referência os procedimentos metodológicos da ‘pesquisa intervenção’, detalhados no trabalho da psicóloga brasileira Cecília Maria Bouças Coimbra (1995, p. 80), e entendemos que esse tipo de pesquisa se constitui de práticas aplicadas em campo em conjunto com a população, “[...] visando a mudanças na percepção dos participantes, que são agentes ativos no processo da investigação” (TARDIVO, 2019). Embasando-se em tal entendimento, elaboramos um fluxograma do trabalho em campo, ilustrado pela Fig.1, o qual norteou todas as etapas de desenvolvimento e aplicação das atividades de intervenção na cidade.

Figura 1 - Fluxograma de pesquisa em campo. Fonte: Arquivo da pesquisa, 2019.

Já no início da pesquisa contamos com o auxílio da administração municipal para a realização do trabalho experimental, assim entusiasmados com a possibilidade de estabelecer parcerias entre a Universidade, os setores responsáveis por políticas públicas locais e os moradores, elaboramos uma roda de conversa na cidade de Brotas. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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Para essa conversa, saímos em caminhada pela cidade e convidamos, para um encontro posterior no Centro de Cultura local, diferentes agentes que representassem o público descrito. Esperávamos um grupo de 20 a 30 pessoas, porém conseguimos um encontro menor, com 17 pessoas presentes. Entre elas estavam 4 representantes do setor público, 5 moradores, ativamente presentes em ações artísticas culturais e sociais da cidade, e 8 pesquisadores da Universidade de São Paulo, conforme ilustra a Fig. 2.

Figura 2 - Roda de conversa na cidade de Brotas.

Embora com um corpo reduzido, esta conversa facilitou o entendimento sobre quais as necessidades do lugar, em referência a valorização e reconhecimento da paisagem urbana. Este encontro também permitiu a construção de uma primeira narrativa de memória oral sobre a história do lugar que iríamos descobrir. Nesse processo, em conjunto com os presentes, decidimos como público alvo para leitura do lugar, realizar atividades de apreensão com adolescentes com faixa etárias de 12 a 16 anos. Indivíduos que estão em pleno processo de formação crítica (TARDIVO, 2019). Essa etapa da pesquisa, ainda que soe como um processo rápido de definição, foi de extrema relevância para o estudo que propomos, uma vez que os diferentes públicos presentes na roda de conversa, apresentaram como resposta coletiva que a formação dos jovens era de suma importância para preservação da história e da memória da cidade e do seu patrimônio cultural. Colocamos, essa ressalva, uma vez que no início da pesquisa não pensávamos em direcionar este trabalho para a faixa etária descrita, conquanto, ao trabalhar com a comunidade verificamos que precisávamos nos adequar à necessidade daquele lugar.

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A formação da pesquisa em conjunto com a comunidade permitiu construir um contexto histórico afetivo, estabelecendo vínculos entre os pesquisadores, a cidade e seus habitantes. Nesse processo em busca de leituras e (re)conhecimento cultural, os pesquisadores tiveram dois papéis concomitantes: (1) como observador das narrativas e (2) como agente na ressignificação do olhar do outro (TARDIVO, 2019). Tendo essas dinâmicas, buscamos construir um processo de observação do lugar que pudesse ser replicado para diferentes faixas etárias, no qual o resultado seria a essência da percepção de cada indivíduo tramada aos valores de preservação do lugar. Para essa dinâmica, buscamos a partir de práticas criativas compilar e ampliar duas teorias: a Teoria da Conversação e a Abordagem de Educação Patrimonial. TEORIA DA CONVERSAÇÃO De forma resumida a Teoria da Conversação, proposta pelo psicólogo e ciberneticista inglês Gordon Pask no ano de 1976, validada no ensino das Artes, foi uma pesquisa que trouxe à tona estudos nos quais passamos a compreender a formação da percepção de um ser humano em meio as transformações tecnológicas. Uma que para Pask, a percepção era resultante de um processo de comunicação entre o eu, o outro e o ambiente. Isso porque: [...] um observador real é capaz de reconhecer um pouco, mas não completamente, possíveis formas de comportamento. Estas formas reconhecíveis são suas percepções e há um conjunto finito delas (PASK, 1961, p. 21).

Ou seja, uma única pessoa na posição de observador possui um determinado conjunto de entendimentos, conquanto quando compartilhados, estes entendimentos serão ampliados, [...] ampliando assim sua percepção e enriquecendo o conhecimento individual (PASK, 1961, p. 21). O pesquisador também sugeria que para troca de conhecimento os observadores deveriam fazer uso de uma linguagem em comum, a exemplo, uma poesia, uma música, um desenho, uma troca de correspondência ou a própria conversa. Ainda propunha que esses produtos estivessem disponíveis em uma plataforma de compartilhamento aberta. De fato, os meios e tecnologias de comunicação, que fazem uso da informática para troca de dados, ainda estavam sendo desenvolvidos no início na década de 1960, mas Pask já pensava nas possibilidades de conversação e mudanças futuras na forma de pensar e redesenhar o mundo. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Referente à educação, em específico a leitura da cidade como bem cultural, diferentes abordagens começaram a se difundir pelo mundo nesse mesmo período. Conforme aponta os estudos da arte educadora inglesa Eilean Greenhill Hooper (2001), isto ocorreu porque, no período entre guerras, os museus se tornaram abrigos escolares em grande parte da Europa, este fato levou professores e pesquisadores a fazerem uso dos bens em exposição como recursos pedagógicos, criando vínculos de aprendizagem entre os alunos e a história por meio da observação dos lugares e objetos. (HOPPER, 2001). Após o período de conflitos, o público de visitantes e frequentadores desses espaços aumentaram, tanto pela curiosidade em conhecer os objetos em exposição, quanto por esse período ter despertado, na grande maioria das pessoas, o sentimento de pertencer à história (HOPPER, 2001). Dentro dessa conjuntura, os museus e espaços culturais tiveram de dispor de novos serviços educativos, conhecidos como trabalhos de mediação aos visitantes. No ano de 1946, para estabelecer diretrizes de funcionamento das instituições e direcionar as ações educativas, a UNESCO criou o Conselho Internacional dos Museus (ICOM). O ICOM tornou-se então responsável pelas diretrizes que asseguram, ainda hoje, que toda instituição cultural deve disseminar os valores da cultura e do patrimônio de diferentes povos (HOPPER, 2001). No Brasil, as atividades educativas tornam-se evidentes na década de 1970, sobretudo com a abordagem da Educação Patrimonial. Esta abordagem foi um reflexo de trabalhos de mediação que aconteciam pelo mundo -e também no próprio brasil com o projeto interação4 - envolvendo etapas de apreciação, teorização e construção prática para o desenvolvimento do reconhecimento a diversas manifestações culturais. No ano de 1996, a museóloga Maria de Lourdes Horta sistematizou a Educação Patrimonial5 em quatro etapas educativas, a saber: a Observação, o Registro, a Exploração e a Apropriação, visando a uma amplitude na observação e entendimento dos bens culturais (TARDIVO, 2019).

4 Ver mais sobre o projeto no portal do IPHAN: Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ publicacao/EduPat_EducacaoPatrimonial_m.pdf> Acesso em 19 mar. 2021. 5 As etapas propostas por Horta (1996), foram publicadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), no ano de 1999, e tem servido como base para ações educadoras em prol do patrimônio e dos estudos culturais.

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ABORDAGEM DE OBSERVAÇÃO DA CIDADE Reconhecido que a Teoria da Conversação e a Educação Patrimonial, possibilitaram ampliar a percepção e dispor de momentos educativos e coletivos para leitura de objetos culturais, fundimos as duas ações para construir uma prática criativa. O que de fato buscamos foi facilitar o processo de conversação, fazendo uso de linguagens artísticas, aplicadas a todas as etapas previstas por Horta (1996). Com essa expectativa, estruturamos a estratégia de observação da cidade em três partes fundamentais: (1) a cidade, (2) os observadores e (3) as reflexões coletivas. Conforme ilustra o Diagrama da Fig. 3 a seguir.

Figura 3 - Estratégia de observação da cidade. Fonte: Sistema inspirado na Teoria da Conversação (PASK, 1976), Arquivo da pesquisa, 2019.

Esta estrutura faz referência ao desenho de Pask (1976) para a construção da percepção. Neste processo - que se retroalimenta - a cidade é o objeto central de estudo e, vinculada a ela, estão os conteúdos a serem observados, bem como o percurso de observação. Os observadores, em lados opostos e deslocados do eixo central desse esquema estão incumbidos de registrar e compartilhar suas percepções. É, durante esse processo de compartilhamento de informações que acontece a formação cultural, pois nesse momento, além das narrativas orais, os observadores podem trazer documentos e referências históricas para a conversa, e assim as percepções vão sendo reconfiguradas (TARDIVO, 2019).

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Construída essa estrategeia para aplicação do exercício em campo optamos como linguagem comum para a comunicação- conforme prevista por Pask (1976), fazer uso do registro e da manipulação fotográfica, com a utilização de dispositivos móveis. Compreendendo que este recurso poderia ser ampliado com outras situações de registro, a exemplo: desenhos, filmes, poesias, etc. Escolhida nossa prática de criação dividimos o exercício nas quatro etapas de Educação Patrimonial, Observação, Registro, Exploração e Apropriação, conforme explicam os registros das Fig.4, Fig.5, Fig.6 e Fig.7. Etapa 1. OBSERVAÇÃO

Figura 4 - Percurso de observação com auxílio da câmera de dispositivos móveis para captura de imagens fotográficas. Identificação do objeto e percepção visual, Brotas, 2018.

Etapa 2. REGISTRO

Figura 5 - Construção de um mapa mental coletivo com auxílio de uma planta impressa do desenho urbano da cidade e marcadores de papel. Aprofundamento da observação e análise crítica. Brotas, 2018.

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Etapa 3. EXPLORAÇÃO

Figura 6 - Análise dos objetivos observados e anotações textuais individuais sobre a observação. Desenvolvimento das capacidades de análise crítica e interpretação das evidências e significados. Brotas, 2018.

Etapa 4. APROPRIAÇÃO

Figura 7 - Releitura da cidade por meio de uma montagem fotográfica digital, com auxílio de softwares de edição de imagem. Compartilhamento do material gráfico produzido, e Reflexão coletiva. Participação criativa para o envolvimento afetivo e valorização do bem. Brotas, 2018.

As etapas educativas se concretizaram a partir de um percurso fotográfico, pelo qual os alunos partilharam suas impressões iniciais construindo um mapa mental coletivo sob a planta impressa da cidade. De forma textual anexaram ao mapa os objetos encontrados e atribuíram significados simbólicos a eles. Esse primeiro mapa serviu como referência visual para facilitar a composição de uma colagem digital, conforme ilustra a Fig. 8. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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Figura 8 - Exemplo de Fotocolagem. Fonte: Arquivo da pesquisa. Brotas, 2018.

Aqui nomeada como Fotocolagem digital, o exemplo da Fig 8. ilustra a sobreposição de fotografias que retratam ornamentos e objetos encontrados pela cidade. Podemos afirmar que as imagens comentadas nos discursos coletivos provocaram uma nova sensibilidade no olhar de cada participante possibilitando a produção desta montagem, que pode ser definida como uma cartografia visual individual, isto porque, reflete de forma mnemônica os lugares afetivos que o indivíduo registrou pelo trajeto acrescidos da compreensão do outro.

Figura 9 - Exposição na praça central de Brotas. Brotas, 2018.

Dado esse primeiro exercício e visando dar suporte para futuras ações, que busquem aproximar os moradores e os visitantes aos elementos culturais mapeados no processo de observação, desenvolvemos um momento expositivo

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com a instalação das imagens produzidas pelos alunos de forma impressa na praça central da cidade. Essa exposição possibilitou a apreciação e conversas dos participantes com a comunidade, como apresenta a Fig. 9. Com a disposição em etapas das atividades propostas, foi possível: - Na etapa 1, identificar e Mapear os elementos que compõem a paisagem cultural de um lugar; - Na etapa 2, promover a troca de saberes entre os observadores; - Na etapa 3, ampliar o conhecimento sobre a história do lugar; - Na etapa 4, representar graficamente pensamentos críticos/sociais, referentes aos cuidados e preservação do patrimônio e do espaço urbano. Ou seja, a prática criativa tornou-se o fio condutor pelo qual foi possível ligar o processo de conversação a etapas educadores de reconhecimento do bem

estudado, no nosso caso a cidade. AONDE CHEGAMOS Neste exercício, conseguimos coletar dos indivíduos respostas relevantes para compreender que o caminho proposto para a leitura da cidade possibilitou que cada um redescobrisse a imagem e a paisagem do lugar. Ressalta-se que nosso método visa por meio de diferentes camadas de participação humanizar o processo de historicizar a imagem urbana, onde cada lugar e cenário da cidade possa se transformar em um espaço educador que possa ser replicado e ampliado estruturamos as etapas e os resultados desse processo e um diagrama, apresentado pela Fig. 11. Nota-se, pelo quadro, que o método de observação que propomos é um exercício inicial aberto para o aprofundamento de vários conteúdos. Isso ocorre porque os participantes orientados pela temática proposta podem recortar e remontar a paisagem e dessa forma contar a história do lugar de um modo diversificado. Esse fato torna o processo de construção de saberes interativo e atrativo. Ao tramar a Teoria da Conversação e a Educação Patrimonial, conseguimos construir: “[...] uma estratégia para a leitura da paisagem cultural, cuja aplicação, além de promover a identificação dos bens culturais de um lugar, construiu uma ponte de conversas entre os moradores (TARDIVO, p. 224).

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Figura 11 - Elementos conceituais estruturantes do modelo experimental. Fonte: Arquivo da pesquisa, 2019.

Referente às práticas criativas, optamos pelo registro e manipulação fotográfica, e percebemos como resultado que esse recurso tornou o processo de leitura imersivo e interativo. Este processo aconteceu em todas as etapas do exercício, uma vez que: 1. Os participantes puderam observar detalhes e elementos da paisagem urbana por meio da lente fotográfica, o que permitiu focar e encontrar estruturas antes não observadas; 2. As imagens registradas foram estruturadas em um acervo coletivo e seu compartilhamento junto com o diálogo e conversa coletiva auxiliou na assimilação de diversas histórias da (e) sobre a cidade; 3. O processo de edição de imagens, possibilitou construir um olhar criativo, criativo e afetivo sobre o lugar. Despertando memórias pessoais e referências da experiência de estar na cidade com o coletivo; 4. O resultado final das imagens, foi divulgado e exposto na cidade possibilitando novas reflexões e o despertar de outras percepções sobre o lugar.

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SOBRE O FUTURO Antes de citar as nossas projeções futuras, cabe ressalvar que compreendemos que olhar para a cidade em seus diferentes contextos é sempre um exercício de mapeamento (mnemônico, gráfico, geográfico, visual, musical, entre outros), afinal conforme cita os pesquisadores franceses, filósofo Gilles Deleuze e psicanalista Félix Guattari (1995, p. 22) um mapa pode ser “desenhado em uma parede, concebido como obra de arte, construído como uma ação política ou como uma meditação”. Nessa compreensão a nossa experiência de elaborar e aplicar uma estratégia de leitura da cidade, se deu a partir da sobreposição de diferentes métodos anteriormente desenhados, que permitiram criar um outro mapeamento da cidade afetivo e ao mesmo tempo carregado de aprendizagens culturais e conceituais sobre o local observado. Os desdobramentos deste trabalho abrirão futuros caminhos de aprendizagem, que poderão ser aplicados para formação cultural: (1) Pesquisas acadêmicas, (2) Ações Educativas e (3) Políticas sociais. Durante o V Seminário de Educação Patrimonial de Pernambuco, surgiram alguns questionamentos, entre eles sobre como propiciar o envolvimento e encantamento de professores e alunos para elaboração e participação em propostas como essa? Como resposta, acredita-se que os arquivos e os resultado desse processo, que é aberto para ser anexado a outras metodologias, facilitará ações educativas para preservação instigando: o desejo de cuidar da cidade e dos lugares que estão abandonados, a observação das transformações no modo de vida, as leituras sob dinâmicas e representações artísticas e culturais de diferentes grupos e faixa etária, o mapeamento das insatisfações, frustrações e contentamentos dos participantes. Site do projeto: http://www.nomads.usp.br/pesquisas/preservacaocomosistema/ Equipe do projeto: Dra. Jessica Aline Tardivo - http://lattes.cnpq.br/2658993454212592 Orientadora. Dra. Anja Pratschke - http://lattes.cnpq.br/9669955733350604v Mestrando Lucas Edson de Chico - http://lattes.cnpq.br/4486015301906993 Mestrando Maurício José da Silva Filho - http://lattes.cnpq.br/7246231958331765 Estudante de Arquitetura. Maria Clara Cardoso - http://lattes.cnpq.br/3877191799453612

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REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, v 1, 1995. HOOPER-GREENHILL, Eilean. Museum and gallery education. Leicester: Leicester Museum Studies, 2001. HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN: Museu Imperial, 1999. IPHAN. Educação patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Superintendência em Brasília, 2014. PASK, Gordon. An approach to cybernetics. Londres: Hutchinson, 1961. PASK, Gordon. Conversation theory: applications in education and epistemology. Amsterdam: Elsevier, 1976. PESAVENTO, Sandra. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. São Paulo: Revista Brasileira de História. vol. 27, n. 53, p. 11-23, 2007. TARDIVO, Jessica Aline. Educação, memória e cidade: observação e registro cognitivo da paisagem cultural. (Tese de Doutorado). São Carlos: Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2019. UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural Paris: Sede da UNESCO, 1986. WENDERS, Wim. The logic of images: essays and conversations. Londres: Faber and Faber, 1991.

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Josebias Costa do Nascimento Neto e Pedro Henrique Cabral Valadares

UM OUTRO PÁTIO POSSÍVEL: SÃO JOSÉ DO RIBAMAR NO RECIFE-PE Josebias Costa do Nascimento Neto1 Pedro Henrique Cabral Valadares2

RESUMO Os espaços produzidos pela arquitetura são resultados da ideia concebida pelo homem em função da necessidade do mesmo. As transformações dos espaços urbanos no decorrer dos tempos, são motivadas pelas readequações das demandas por novas dinâmicas sociais. Nessa perspectiva, o pátio de São José do Ribamar é firmado enquanto um genuíno espaço público localizado no seio do núcleo histórico da cidade do Recife. O pátio apresenta-se atualmente como um espaço subutilizado, desvalorizado e descaracterizado, com sua utilidade reduzida a um mero espaço de estacionamento. Com reflexões acerca de intervenções em sítios históricos permeados pelos conceitos trabalhados por alguns teóricos, no que diz respeito ao patrimônio histórico-artísticocultural da paisagem urbana, foram realizadas pesquisas bibliográficas, documentais e iconográficas do objeto de estudo, visando fazer um apanhado histórico e de valores envoltos no pátio; seguido de uma análise sobre o estado de preservação das fachadas dos imóveis do pátio, foi elaborado um conjunto de diretrizes com a finalidade de resgatá-la às demandas sociais da contemporaneidade, reafirmando assim sua relevância, seus valores e a importância de sua preservação para a posteridade. Palavras-chave: Patrimônio. São José do Ribamar. Preservação. Recife. Pátio.

INTRODUÇÃO Os espaços produzidos pela arquitetura, frutos de seus valores e demandas sociais, visa acomodar os condicionantes à essência concebida pela ideia do homem. É válido ressaltar que de todas as artes, a arquitetura é a única completamente a mercê de prejuízos, danos esses decorrentes da necessidade de se atender as novas dinâmicas sociais. 1 Arquiteto e Urbanista; Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba. Atuante em diversas áreas da prática profissional e com pesquisa na área de patrimônio histórico e cultural. 2 Arquiteto e Urbanista; Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Damas da Instrução Cristã (Recife-PE); Atuante na prática profissional em diversas áreas, mas com predominância em projetos de conservação, restauro e intervenção do patrimônio edificado.

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Essas novas dinâmicas, por sua vez, proporcionam mudanças significativas não só no tecido urbano e sua lógica de funcionamento, mas também nos valores sob eles empregados. Os valores, quando referenciados ao núcleo histórico de uma cidade, são instituídos como protagonista desse cenário socioespacial. Este cenário é definido nesse trabalho como o patrimônio cultural, que segundo Lemos (1982), consiste na condensação da paisagem natural com o produto de tudo o que foi produzido em significância pelo homem. A valoração atribuída aos centros históricos, suas transformações através dos tempos, suas perdas e novos significados são apresentados nessa pesquisa com a intenção de atribuir ao patrimônio edificado usos que condizem com a atualidade. A partir disso é lançado um olhar crítico sob uma porção histórica da cidade do Recife, localizada no bairro de São José, o pátio de São José do Ribamar. O pátio nasce como um núcleo básico urbano onde se constituiu uma área ampla em frente à uma igreja, o que confere a esta edificação religiosa um caráter de monumentalidade e imponência, rodeada por estruturas arquitetônicas enfileiradas, geminadas, ordenadas ao seu redor (PESSOTTI e RIBEIRO, 2011). Mediante as transformações sociais ocorridas no decorrer dos tempos, aliadas à escassa fiscalização dos órgãos competentes no que tange ao patrimônio histórico, o pátio de São José do Ribamar, assim como outros pátios em sua circunvizinhança, sofre com intervenções e usos incompatíveis com a função à qual foi concebida no final do século XVIII. Isso nos remete ao problema da presente pesquisa sobre quais seriam as intervenções arquitetônicas e urbanísticas necessárias à reinserção do pátio de São José do Ribamar na dinâmica urbana atual do seu entorno. 1. O SURGIMENTO DO PÁTIO DE SÃO JOSÉ DO RIBAMAR No Brasil, até meados do século XX, os interiores dos espaços sagrados eram amplamente frequentados, os quais tinham a finalidade de catequizar, cuidar, educar e proteger; enquanto o terreiro (ou pátio), espaço externo aos templos, considerado público, era utilizado para celebrar, viver, trabalhar, circular e efetuar trocas, celebrando a relação das pessoas com o monumento (a igreja) e as novas conexões entre os homens e a cidade (PESSOTTI e RIBEIRO, 2011). Nessa conjuntura, nasceu a proposta do pátio como um núcleo básico urbano onde se constituiu uma área ampla que conferia às igrejas um caráter de monumentalidade e imponência, rodeadas por estruturas arquitetônicas enfileiradas e, comumente, geminadas (PESSOTTI e RIBEIRO, 2011).

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Diante disto, diversas cidades brasileiras tinham os pátios como núcleos mais importantes, concentradores de fluxos, acontecimentos, onde a vida coletiva cotidiana se desenvolvia, a exemplo dos pátios de Salvador, capital do Brasil durante o período colonial, mas também em outros núcleos urbanos como o Recife, em Pernambuco. Além de locais de intensa movimentação, os pátios também eram locais de aproximação das pessoas à igreja, pois nem todos os habitantes iam aos templos apenas por motivação religiosa. O Recifense não está ligado às suas igrejas só por devoção aos santos, mas de um modo lyrico, sentimental: Porque se acostumou à voz dos sinos chamando para a missa, anunciando incêndio, porque em momento de dôr ou aperreio elle ou pessôa sua se pegou com nossa senhora, fez promessa, alcançou a graça, porque nas igrejas se casou, se baptisaram seus filhos e estão enterrados avós queridos (FREIRE, 2005).

No Recife - assim como nos demais centros urbanos coloniais -, a relação dos habitantes com as igrejas era fortalecida pela presença dos pátios, e estes se formaram, predominantemente, a partir da segunda metade do século XVII e foram consolidados na dinâmica urbana local ao longo do século XVIII, concentrando-se na ilha de Antônio Vaz, principalmente a partir da construção da Igreja Matriz de Santo Antônio e da Igreja de São José do Ribamar, cujas localidades se tornaram dois bairros que levam os nomes desses santos. A Igreja de São José do Ribamar foi inaugurada em 1754, ainda inacabada, pela Irmandade dos Marceneiros, Carpinteiros e Pedreiros, entidade fundada em 1735 e que costumava se reunir no Hospital Nossa Senhora do Paraíso (atualmente demolido), nas proximidades (PACHECO, 2017). O registro gráfico mais antigo da Igreja de São José do Ribamar, de que se tem conhecimento, encontra-se em mapa datado de 1771, existente no Arquivo Histórico do Exército. Todavia, somente no mapa de 1808, de autoria de José Portugal, o pátio da igreja aparece já completo, na configuração geométrica que se apresenta na atualidade, com sua respectiva igreja como elemento dominante. O padrão de ocupação do solo na área seguiu a tradicional configuração de lotes estreitos e compridos, com edificações geminadas de uso misto, tendo no térreo atividades comerciais, ao passo em que que, nos pátios, havia a presença dos ambulantes. Mesmo com a obra inacabada, há diversos relatos de reuniões, procissões e festejos dirigidos à igreja de São José do Ribamar, tornando seu pátio em um ponto Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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central de acontecimentos culturais. Comunicados acerca dessas atividades eram veiculados nos jornais do século XIX e logo as cerimônias religiosas passaram a receber outras irmandades, a exemplo da Irmandade da Nossa Senhora do Bom Parto e a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Aflitos (PACHECO, 2017). A Irmandade do Glorioso Patriarca S. José de Riba-mar pretende no dia 15 de agosto, do corrente anno, celebrar a festa do mesmo santo, e no mesmo dia pela 3 horas da tarde faser a solemne Procissão, aqual deverá corre as ruas do costume, tanto no Bairro do S. Antonio como no do Recife (Diário de Pernambuco, 18 de maio de 1837, p. 1).

Observa-se que, durante o século XIX, a igreja de São José do Ribamar passou por reformas, sendo reinaugurada em 1896, todavia, ainda sem ornamentos e torre sineira, elementos que somente viriam a ser acrescidos no início do século XX. Naquele momento, a data de 1653 foi cravada na fachada, com a intenção de vincular a edificação ao período da ocupação holandesa, visto que foi uma época importante para os memorialistas da cidade (PACHECO, 2017). Atualmente, o pátio é delimitado por vinte e dois imóveis e a igreja de São José do Ribamar, conforme mostrado na Fig. 1 e Fig. 2, inserido no centro de comércio e serviço mais adensado da região metropolitana do Recife, o pátio de São José do Ribamar é sufocado pelo seu entorno conturbado e caótico, nas proximidades de mais de uma dezena de outras igrejas e outros monumentos relevantes a história do bairro.

Figura 1 - Localização do bairro de São José no Recife. Fonte: Esig (2008).

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Figura 2 - Demarcação do Pátio. Fonte: Esig (2008), editado pelo autor, 2019.

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2. A PAISAGEM URBANO-CULTURAL E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO PÁTIO DE SÃO JOSÉ DO RIBAMAR Entre o final do século XIX e início do século XX, a conceituação de cultura a delimitava a um ambiente físico que condicionava a diversidade de expressões na sociedade e tinha o clima como um determinante do seu progresso. Atualmente, considera-se que há limites dessa influência sob os fatores da cultura, revelando inclusive que é possível coexistir uma vasta variedade cultural em uma mesma área. A partir dessa ideia, denota-se que as forças que influem diretamente no desenvolver da cultura estejam nela mesma e na sua história, o que possibilita o romper dos limites e significâncias que tomam novas roupagens no decorrer dos tempos (LARAIA, 2004). A complexidade etnográfica, que se estende principalmente nas crenças, nos códigos morais e éticos, nas artes e nos costumes locais, fortalece o caráter cultural e garante a pluralidade socioespacial de uma comunidade, conforme mostrado na manifestação popular dos diferentes lugares. Posto que a herança cultural é nutrida com o passar das gerações, logo o tempo é constituído como agente de extrema importância para que haja a dinâmica no sistema cultural, sabendo que a mesma se renova calma e constantemente (LARAIA, 2004). Esse cenário cultural manifesta a natureza do patrimônio cultural que, por sua vez: [...]Estende-se a todas as formas de manifestações coletivas ou individuais remetentes às construções sociais materiais e imateriais que são referências para os grupos detentores, transmitidas entre gerações, e que estão relacionadas diretamente à memória social e à identidade de artefatos, indivíduos e lugares, incluindo-se as tradições” (REIS, 2010, p.27).

Visto que o patrimônio cultural é o resultado da soma da paisagem natural com o produto que o homem faz através do uso desses recursos (LEMOS, 1982), a paisagem cultural, segundo Fernandes (2014), é formada pelo produto dessas transformações em determinado ambiente. Desse modo, a diversidade conceitual empregada sob a paisagem cultural dáse justamente pelas discussões entre o ambiente natural e o homem, que, conforme Prado (2004), pode resultar em distintas paisagens morfológicas, sendo elas a paisagem rural, paisagem urbana e a paisagem industrial. É oportuno frisar que existe um embate filosófico entre a paisagem natural (tida como o conjunto de elementos hidrográficos, de geologia, flora e fauna) e a Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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paisagem cultural (sendo o conjunto de elementos humanizados, ou seja, manejados pelo homem em meio urbano e rural); e sob a ótica da relação ambiente-homem, nos é revelado que é impossível existir uma paisagem puramente natural ou cultural, uma vez que é sobre o espaço natural que o homem projeta suas ambições e expectativas de desenvolvimento, essa última herança da era moderna. Diante dessas considerações, Lynch (1997) reafirma o papel da arquitetura e do urbanismo no que se diz respeito a se apropriar, modificar e renovar a paisagem urbana conforme as novas necessidades humanas e o dever de debruçar-se sob ela, com a finalidade de analisar e intervir nesse processo. Dessa forma pode-se constatar que a paisagem urbana pode ser vista como o que foi a cidade e no que ela se tornou, com todas as suas cicatrizes e marcos deixados pela coletividade e suas respectivas sensações espaciais que delas emanam; e é sob essa perspectiva que a presente pesquisa se desenvolve. Segundo Choay (2006), a expressão “patrimônio histórico” assegura um bem e o destina a determinada comunidade que o usufrui. As edificações são exemplares desse patrimônio que se relaciona intimamente com a vida da população. Os monumentos históricos compõem parte dessa herança histórico-cultural de determinada área. “A natureza afetiva do seu propósito é essencial: não se trata de apresentar, de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva” (CHOAY, 2006, p. 18). Pois, a relação entre o tempo vivido com a memória, configura sua função antropológica, ou seja, sua essência. Assim sendo, as obras arquitetônicas e urbanas ocupam de fato o centro da cena na história, no que diz respeito a “eternizar a lembrança de coisas memoráveis”. A memória, no entanto, é parte integrante do imaginário coletivo social, segundo Pollak (1992), e deve ser compreendida primeiramente em sua individualidade, sendo subdividido entre acontecimentos pessoais e vividos pela coletividade, a exemplo dos pátios urbanos, presentes nos sítios históricos da cidade. Nora (1993, p. 09) diz que “a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais.” Entretanto, é através da memória que é transmitida à comunidade o sentimento de pertencimento e seus valores conforme o passar dos tempos. Como consequência é formada a identidade cultural do local, tendo o tempo como ponto essencial na manutenção desses valores, conforme exemplificado por Coutinho (1998, p. 78): “o tempo induz a tratamento artístico desde que se o considere por seus efeitos nas coisas da objetividade [...].” Sendo assim, o espaço urbano-arquitetônico é construído a partir da disciplina

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de valores3 e suas respectivas acomodações, onde a coexistência empática deles resulta na atual dinâmica do local. Entretanto, esse espaço vive “sob o risco de dissolver-se por força de alguma alteração no maciço continente, alteração que se executa em face de motivos alheios à estética” (COUTINHO, 1998 p. 74). Dessa forma, observa-se que a ausência de valores de uma comunidade para com seus imóveis históricos acarreta não só no seu esvaziamento literal, mas também de seus significados e consequentemente seu fim, como elucida Coutinho (1998, p.75): [...] O desaparecimento, agora impossível de remediar-se, de toda uma série de conjunturas, em linguagem humana, que se verificou a expensas do estojo espacial; de modo a se poder dizer, de qualquer demolição, que ela representa uma segunda morte no tocante aos fatos que anteriormente aconteceram [...] (COUTINHO, 1998, p.75).

Nessa perspectiva, são evidenciadas as dimensões do monumento enquanto parte fundamental no resguardo dos valores culturais e históricos de uma determinada população em determinado espaço-tempo. O que nos permite reafirmar os conceitos e teorias de preservação e restauro de obras e conjuntos arquitetônico-paisagísticos desenvolvidos ao longo da história, desenvolvido através de nomes como ViolletLeDuc (1814-1879), Camilo Boito (1836-1914), Alois Riegl (1858-1905), Cesare Brandi (1906-1988), Gustavo Giovannoni (1873-1943), entre outros. Conforme foi colocado, o valor cultural materializado no patrimônio cultural, considerado nas representativas evidências do passado, formam a paisagem cultural de determinada sociedade, essa última, por sua vez, tem o papel de autenticar e testemunhar as transformações do conjunto construído, a exemplo do pátio de São José do Ribamar, que apresenta uma imagem atual desfigurada comparada ao seu surgimento, seja pelo abandono e descaso para com o patrimônio edificado ou pelas atividades culturais abolidas em detrimento das que hoje ali são exercidas. 3. ANÁLISE PAISAGÍSTICA DO PÁTIO SÃO JOSÉ DO RIBAMAR Dos tempos áureos do Recife, cercado de tradições, lembranças e identidades, a imagem construída da cidade é multifacetada e dinâmica. O bairro de São José, 3 “Os valores estéticos, artísticos, históricos e paisagísticos estão ligados, necessariamente, à lógica da fruição; não existem por si, mas em relação com sujeitos, na reciclagem identidade-objeto. Do mesmo modo, a cultura imaterial está intrinsecamente ligada à dimensão humana. Não há expressão possível do patrimônio cultural dissociado das pessoas que o ergueram e daqueles que lhe constituíram o destino.” (PIRES, 2010, p. 79)

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suas festividades, seus casarios e monumentos históricos, testemunhos vivos desse passado, transpassam as barreiras do tempo e perpetuam na alma da cidade, com suas ruas estreitas, pátios e becos. Por outro lado, a busca pela modernização reforma o pensamento científico sobre a cidade e interfere diretamente na produção social do espaço urbano. Na contemporaneidade, essa composição representada pela paisagem urbana corresponde aos princípios do desenvolvimento da sociedade atual fincada nos fatores econômicos e nas políticas de revitalização para determinadas áreas da cidade, conforme já apresentados no presente trabalho. O resultado desses fatores que incidem no tecido urbano é exposto por Reynaldo (2017), que categorizou a antiga ilha de Antônio Vaz em área decadente e ociosa, resultando em um incontido empobrecimento cultural. A igreja de São José do Ribamar, um bem material de valor histórico e artístico, é tombada isoladamente em nível federal desde os anos 1980 e seu pátio, bem como todo o entorno, é protegido por lei municipal. Entretanto, tais proteções legais não contaram com fiscalização suficiente para evitar, reverter ou mitigar os danos causados pelos proprietários dos imóveis que delimitam o pátio, assim como ocorre em muitos outros trechos da cidade. Atualmente, observa-se que as edificações apresentam um elevado grau de descaracterização, decorrente de adaptações sucessivas em função de necessidades de cada proprietário, mas sem anuência dos órgãos de preservação. Essas interferências consistem no alargamento e fechamento de aberturas, acréscimo de pavimentos, alterações estilísticas, instalação de placas, letreiros de publicidade, toldos, marquises etc. Os imóveis do pátio não possuem mais os usos originais e funcionam predominantemente como depósito de mercadorias, enquanto o pátio em si funciona como estacionamento de veículos, desvirtuando a dinâmica primitiva e tradicional do pátio, bem como contribuindo para a eliminação das práticas culturais que surgiram com o próprio lugar. Observa-se que são raros os vestígios de elementos de períodos remotos, enquanto, em alguns imóveis, percebe-se a presença de componentes do estilo eclético, em voga no Recife no início do século XX, sendo, portanto, uma intervenção reestilizadora, visto que tais imóveis datam de períodos entre os séculos XVIII e XIX, quando não possuíam estilo arquitetônico definido. Estas mudanças notáveis na paisagem histórica, comuns na cidade, equivocadamente interpretadas como a noção de modernidade, são evidentes.

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De forma geral, os registros destas transformações podem ser percebidos através da comparação de fotografias, obtidas pelo acervo iconográficos do IBGE, com a situação do pátio de São José do Ribamar e seu entorno nos dias atuais, conforme exposto na Figura 3, obtidos por intermédio da geolocalização do Google Maps e Google Earth4 e também através do levantamento realizado pela antiga Companhia de Saneamento do Recife, que, por meio de plantas e cortes, registraram o plano de saneamento idealizado pelo engenheiro sanitarista Francisco Saturnino de Brito para o Recife entre 1910 e 1917. É ainda importante ressaltar a dificuldade, sobretudo em tempos de pandemia, de encontrar um maior número de registros iconográficos antigos, além do atual nível de descaracterização das fachadas impedir uma análise mais aprofundada.

Figura 3 - Situação atual do pátio de São José do Ribamar. Fonte: Google Earth (2020).

Sendo assim, observa-se a presença de elementos espúrios em todas as fachadas dos imóveis do pátio e percebe-se que o tipo mais recorrente são os usos de instalações elétricas em geral presentes em 90,8% das edificações, seguido por instalações de toldos e cobertas provisórias, presentes em 40,86% dos imóveis do pátio; enquanto o alargamento/fechamento/abertura de vãos presentes em 95,34% dos imóveis, seguido pela mudança do material da coberta e simplificação/eliminação dos elementos decorativos da fachada, ambos marcados em 77,18% dos imóveis analisados. O ato de ignorar esses elementos arquitetônicos presentes nos imóveis do pátio nos oportuna refletir acerca dos valores artísticos e históricos, impregnados na área de entorno do monumento tombado, visto que, provavelmente, essas alterações 4 O uso do Google Maps foi o principal instrumento utilizado para captar o cenário atual do objeto de estudo, tendo em vista as medidas de isolamento social diante a situação de pandemia do covid-19 no momento em que a pesquisa foi realizada.

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não foram produzidas por técnicos competentes (no caso arquitetos e urbanistas especializados na preservação do patrimônio edificado), sendo assim executadas sem os devidos critérios teóricos e legais previstos para o respeito ao patrimônio, com vistas à preservação daquela paisagem histórica e cultural da cidade do Recife. É importante atentar que apesar das alterações presentes no pátio de São José do Ribamar não representarem o comprometimento total e permanente da configuração morfológica e paisagística, apresentada no contexto histórico do bairro de São José, sendo a maioria dos danos apresentados reversíveis ou minimizáveis; essa mudança de uso dos imóveis do pátio, outrora predominantemente de uso misto e nos dias de hoje é utilizado como depósito de mercadorias, além da grande mudança do uso do pátio em si, antes usado como um espaço de comércio, troca, circulação e festejos religiosos e passa a ser apenas um estacionamento, resulta por eliminar as práticas culturais que surgiram com o pátio. 4. PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DO PÁTIO SÃO JOSÉ DO RIBAMAR Dada a relevância do resgate dos valores do pátio demostrados até aqui, foram elaboradas diretrizes gerais, pensadas a partir de ações integradas, com a finalidade de reestruturar, requalificar, preservar e ativar o local como um todo; medidas aqui consideradas como ponto inicial/fundamental para a revitalização e reinserção do espaço público histórico na dinâmica socioeconômica atual. De modo a considerar as necessidades do local, além de propor medidas de melhorias para a área e resgatar a memória e valores envolvidos no pátio; as diretrizes gerais, foram fragmentadas em quatro eixos principais: eixo de Infraestrutura Urbana, eixo de Uso e Ocupação do Solo, eixo de Acessibilidade e eixo de Memória Urbana. Cada eixo carrega itens que atingem diretamente o espaço estudado e traz como objetivo geral a promoção da melhoria dos problemas apresentados, assim como utilizar as potencialidades da área, tendo como objeto de intervenção o pátio de São José do Ribamar e a igreja de São José do Ribamar. É oportuno ressaltar a importância da implantação de um memorial do pátio a ser inserido, possivelmente, nas dependências da Igreja de São José do Ribamar, com a intenção de elucidar e preservar a trajetória histórica do referido pátio; e gerar o conhecimento e a educação patrimonial através de exposições permanentes e algumas itinerantes. Em seguida foi elaborado um estudo preliminar de requalificação para essa porção histórica do Recife, de modo que as intervenções a serem aplicadas revitalizem

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a área e seja devolvida a população recifense para usufruto em sua totalidade histórica, arquitetônica e cultural. Conforme mostrado nas Figuras 4, 5 e 6; a proposta condensa o que foi abordado nas diretrizes anteriormente sugeridas, tendo como grande enfoque a pedestrialização e acessibilidade do local, bem como na regularização das aberturas e pavimentos, com releituras da arquitetura original do pátio. A inserção de mobiliário urbano, sinalização, arborização e cobertas provisórias também foram inseridas nesse contexto como ponto fundamental da proposta.

Figura 4 - Proposta de revitalização do pátio de São José do Ribamar. Fonte: O autor (2020).

Figura 5 - Proposta de revitalização do pátio de São José do Ribamar Fonte: O autor (2020).

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Figura 6 - Proposta de revitalização do pátio de São José do Ribamar. Fonte: O autor (2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme exposto nesse texto, as mudanças de uso, junto as descaracterizações impostas a esses imóveis terminaram por eliminar a paisagem cultural dessa área que deu origem, inclusive, ao bairro de são José. E com a paisagem urbana desfigurada, em consequência o empobrecimento da paisagem cultural, ocasiona-se o esquecimento e de um passado vívido, a memória social é abalada e a identidade do lugar sofre as consequências das mudanças dessa dinâmica urbana. Por tudo isso, evidencia-se a necessidade do resgate dessa paisagem cultural e histórica do pátio de São José do Ribamar como fator de preservação e utilidade, a considerar as dinâmicas socioespaciais atuais que envolvem o núcleo histórico do Recife, de modo que seja devolvido a sociedade recifense, em toda sua integridade, a sua memória coletiva e tenha respeitada a sua identidade cultural. É oportuno frisar que a preservação, proposta pelo conhecimento científico, somente será eficaz se houver uma comunicação direta com a tradição e cultura local, uma vez que se faz necessário esse contato íntimo por intermédio do desenvolvimento da consciência histórica e cultural da parcela da sociedade envolvida com o objeto, devolvendo dessa maneira a significância a esse espaço. Por fim, ressalta-se que o presente estudo não esgota e nem se opõe aos estudos de preservação para essa porção histórica da cidade do Recife, uma vez que a problemática decorrente do tema investigado é bastante recorrente e plural, cabendo assim inúmeros outros debates acerca das posturas a serem tomadas perante futuras

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intervenções e que os desdobramentos dessas discussões fomentem contribuições futuras; tendo em pauta não somente os fatores visíveis e palpáveis do monumento ou conjunto, mas também por tudo aquilo que se descobre vivo neles e com um enfoque especial na manutenção dos valores envolvidos e a preservação de nossa história, nossa identidade e nossa memória enquanto seres urbanos.

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Shari Carneiro de Almeida

PATRIMÔNIO, MUSEOLOGIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL Shari Carneiro de Almeida1

RESUMO O presente artigo traz algumas reflexões sobre a relação e definição dos termos patrimônio, museologia e participação social. Contextualiza o surgimento dos museus e seu desenvolvimento teórico, e a atuação do profissional de museus, sob a perspectiva da Sociomuseologia, dos estudos decoloniais e dos movimentos sociais ocorridos durante a segunda metade do século XX, criando um paralelo com as políticas públicas de cultura implementadas no Brasil. Palavras-chave: Patrimônio. Museologia. Participação social. Museologia decolonial.

INTRODUÇÃO Este artigo busca sintetizar o conteúdo da palestra proferida pela autora em Agosto 2020, no Webnário Janelas do Patrimônio: Patrimônio Imaterial, Cultura Popular e Desenvolvimento Local, parte da 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, promovida pela Secretaria de Cultura de Pernambuco e pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe, e veiculada pelo canal da SecultPE no Youtube.

O QUE CHAMAMOS DE PATRIMÔNIO? Podemos entender o patrimônio como algo com que nos identificamos, saberes que compartilhamos, é um campo de negociações e disputas por representação. Mas pensar em patrimônio é, sobretudo, pensar nas pessoas, é desenvolver um olhar mais holístico, ter um entendimento integral, do todo. Através dessa perspectiva, conseguimos vislumbrar espaços de convivência e de maior colaboração coletiva.

1 Museóloga graduada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Mestre em Conservação e Restauro pela Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa, Portugal. É servidora efetiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na Superintendência de Pernambuco (IPHAN PE), onde atua, sobretudo, na fiscalização de obras de conservação e restauro de bens móveis e integrados, na avaliação de projetos de Museologia e no apoio em projetos de Educação Patrimonial.

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No entanto, nem sempre a forma de participação social pensada pelos gestores públicos como sendo a ideal ou a mais profícua consegue se consolidar, pois não se enquadra no formato de organização social em que aquela determinada comunidade está estruturada. A partir disso, é necessário respeitar e reavaliar junto com a comunidade como poderá ser realizada uma reestruturação daquele planejamento inicial. É importante lembrar que cada comunidade tem suas próprias formas de preservação e salvaguarda do local ou do bem protegido, através de práticas culturais desenvolvidas por aqueles detentores de maneira periódica, seja diária, semanal, mensal ou anualmente; colocando assim, por terra, a pretensão de que os órgãos fiscalizadores e/ou de proteção seriam os únicos detentores de um passo a passo de metodologias prontas de salvaguarda. Conforme afirma Adriana Careaga, “o conceito de patrimônio é dinâmico, assim como a sociedade é dinâmica”, ou seja, não é possível colocarmos o conceito de patrimônio numa caixa, pois ele é vivo, orgânico, e se encontra em constante modificação. PARA QUE SERVEM OS MUSEUS E A MUSEOLOGIA? Atualmente o museu é entendido como uma instituição de guarda, preservação, pesquisa e difusão. E a Museologia é uma disciplina aplicada que se interessa em compreender como as sociedades se relacionam com a sua herança patrimonial musealizada. Defende-se que os processos museológicos sejam vistos não como fim, mas como meio para se alcançar essa compreensão da sociedade, e se propõe que o campo tenha o papel de orientar as experimentações que os museus da atualidade produzem, ainda que o museu venha a ser “somente uma modalidade da Museologia”, conforme afirma Suely Cerávolo. Marília Xavier Cury complementa trazendo a reflexão de que “libertar a Museologia dos museus não é uma perda, e sim uma possibilidade de ganho teórico e conceitual”. Isso significa possibilitar a musealização de registros, manifestações e pontos de referência fora dos muros de um museu-edifício. A trajetória dos museus se inicia com os colecionismos e os Gabinetes de Curiosidades; em seguida à Revolução Francesa, em 1789, e com a consolidação dos Estados Nacionais, passa a ser visto como um instrumento de afirmação desses novos Estados e se propõe a ser uma “instituição aberta ao público”, público este que englobava somente as classes mais abastadas da sociedade. Temos, então, a criação de museus com temas específicos, servindo como exemplo os museus históricos,

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etnológicos, científicos, ou de arte. Em seguida, observamos a consolidação do campo teórico do estudo dos Museus, com a criação de cursos, de novas instituições, e com isso o desenvolvimento acadêmico com publicações de livros, artigos e o aparecimento de diversos seminários e fóruns no intuito de compartilhar conhecimentos e experiências entre os pares. Passamos então a um período de inquietações dentro do campo em que se passa a ser questionado o que seria a Museologia, e assim uma oposição entre mentalidades do que seria uma Museologia chamada Tradicional e uma Nova Museologia. A partir da Nova Museologia, passam a ser pensados novos tipos de museus em oposição ao modelo clássico, assim como a se pensar o papel social e político dos mesmos. Hugues de Varine defende que o patrimônio deve ser pensado em benefício do desenvolvimento local, ideia complementada por Cristina Bruno que afirma que o museu é algo transgressor, que nos faz questionar a realidade e sair de uma possível zona de conforto. MOVIMENTOS SOCIAIS DA 2ª METADE DO SÉCULO XX: INFLUÊNCIAS E RESULTADOS Os movimentos sociais e acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo durante a segunda metade do século XX influenciaram bastante nos campos da Museologia e do Patrimônio Cultural, tais como o final da Ditadura Militar no Brasil e o consequente processo de redemocratização que teve como fruto a Constituição de 1988, cuja redação aborda o direito da população a acessar o patrimônio de forma mais democrática. Surge igualmente o conceito da Sociomuseologia ou Museologia Social, tendo como base conceitual a Carta de Santiago de 1972, em que se defende que os museus sejam mais inclusivos. A Sociomuseologia entende que sua ação deve assumir um movimento de propulsão, que nos leve a um novo patamar de discussões, a avançar, a sair do mesmo. Discute a necessidade de que o museu seja integral, ou seja, que esteja integrado às questões sociais, sem limitar seus debates e, sim, atender às demandas daquela sociedade em que esteja inserido. Bem como defende o equilíbrio entre registros de memória (através de processos clássicos de trabalho) e a inserção social (com impacto no público). Observamos a inserção destes movimentos sociais nas políticas públicas, dentre elas as políticas de museus, muito dinamizadas pelo Professor Mário Chagas, enquanto diretor do Departamento de Museus (DEMU) do Iphan RJ, departamento Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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este, que em seguida deu origem ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e sob a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (2003 a 2008). Foi sob sua coordenação que segmentos periféricos da sociedade começaram a dar voz às suas lutas políticas e a seu “desejo de memória”, através da concepção de novos projetos museais. De acordo com Cristina Bruno, é nesse momento que se constitui um novo cenário no âmbito da Museologia brasileira, e identifica dois movimentos distintos, porém complementares: o de Reparação, em que os excluídos passam a lutar pelo direito de preservação da sua memória; e o Revisionista, em que os museus tradicionais passam a revisar sua atuação e impacto na comunidade, ainda que utilizando os processos de trabalho da museologia normativa (conservação preventiva, gestão da informação). Esses museus tradicionais passam a se interessar em alargar a memória e dialogar com as experiências da Museologia Social, e buscam estratégias para ampliar seus conceitos e práticas, numa vontade conjunta entre universidade e esferas de governo. Observa-se também o desenvolvimento do “Programa Pontos de Cultura”, uma experiência brasileira que teve como base todo o referencial teórico desenvolvido pelo Departamento de Museologia da Universidade Lusófona, em Lisboa, juntamente com o MINON (Movimento Internacional para a Nova Museologia) que desenvolveram o arcabouço conceitual do que seria a Sociomuseologia. OS PRESSUPOSTOS DA SOCIOMUSEOLOGIA A Sociomuseologia tem como pressupostos: • Processos de participação e protagonismo comunitário: o protagonismo

deve ser dado à comunidade e, portanto, não devemos implementar políticas púbicas de cima para baixo, mas abrir o diálogo e uma escuta ativa às demandas da comunidade. • Usar a memória como ferramenta de transformação. • Ter um compromisso com as lutas sociais. • Refletir sobre novas experiências de aprendizado: potencializando a relação

com outros campos do conhecimento, como as Ciências Sociais, a Pedagogia, e os estudos sobre cognição, se debruçando em como se dão as diferentes formas de apropriação das memórias. Com isso identificamos a concepção de outras possibilidades de museus, entendendo esses novos modelos como espaços de encontro e de convivência alimentados pelas mãos da comunidade. É um museu social, um espaço dinâmico

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cujo eixo fundamental são as pessoas, é um local em que se estabelece uma rede de relações entre as gerações ancestrais e as vindouras, em que se cultiva o afeto e a cura. O TRABALHADOR SOCIAL Tendo como referência a pedagogia libertadora de Paulo Freire, a professora Waldisa Russio referendou o termo “trabalhador social dos museus”, compreendendo o museólogo como alguém que trabalha conscientemente a favor da mudança, que participa do seu mundo social e, portanto, tem o poder de agir sobre ele. O trabalhador social possui pensamento crítico, participa ativamente dos movimentos sociais e alimenta uma esperança crítica por transformação. Foi com essa mesma visão de trabalhador social que Russio defendeu os projetos que visavam regulamentar a profissão de museólogo, que culminaram no Decreto 91.775, de 15 de outubro de 1985. Expandindo essa atuação para o papel do servidor da área da Cultura, a historiadora e servidora do Iphan Juliana Cunha defende que este deve assumir a tarefa de um militante cultural, que se preocupa em garantir espaços de escuta, através de um diálogo respeitoso e com disposição a aprender, deve também verificar a eficácia das políticas públicas existentes, e estimular a constante atuação da comunidade. PRÁTICAS MUSEAIS DECOLONIZADORAS A partir das pesquisas de Aníbal Quijano durante a década de 1990 sobre a colonialidade, diversos profissionais das mais variadas disciplinas passaram a se dedicar à revisão da constituição histórica da modernidade na América Latina, entendendo a categoria “colonialidade” como o reverso da “modernidade”. Foram sendo criados e aprofundados termos correlatos, como os estudos subalternos, os estudos pós-coloniais e os estudos decoloniais. Os estudos subalternos, inaugurados na Índia por Ranajit Guha, trouxeram uma importante contribuição na crítica ao eurocentrismo e às dinâmicas do colonialismo; no entanto, reduziu-se a uma crítica sobre os subalternos e não com os subalternos. Os estudos pós-coloniais se originaram em importantes centros de produção acadêmica dos países de “primeiro mundo” e tinham como influência o pós-modernismo e o pós-estruturalismo, e tiveram grande alcance na produção intelectual periférica. Já os estudos decoloniais se debruçam sobre as diversas contribuições teóricas sobre

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a colonialidade. Não existe consenso quanto ao uso do termo “decolonial” ou ‘’descolonial”, podendo utilizar-se ambas as formas, que se referem à dissolução das estruturas de dominação e exploração inerentes à colonialidade, entendendo que as relações de colonialidade não se findaram com o término do colonialismo. A emancipação latino-americana no século XIX representou um processo de descolonização parcial, mas cujos efeitos da colonização continuaram a ordenar tais sociedades na conformação de suas novas repúblicas, modelando suas instituições e dando seguimento a um modelo de estratificação sociorracial. Essa colonialidade do poder impossibilitou uma verdadeira democratização nessas nações caracterizadas pela precariedade. Ao identificar o enraizamento dessas estruturas colonizadoras, a luta de grupos negligenciados pela garantia do direito à memória passa a ser prioridade para os movimentos sociais durante a segunda metade do século XX, bem como a valorização das memórias que retratam as dificuldades, as lutas, as resistências e as conquistas. Como instrumento didático e de veiculação midiática, os museus se tornam aliados poderosos na perpetuação das memórias e do poder destes grupos; em oposição à concepção de museu até então difundida, que se dedicava à contemplação das coleções, à contagem de público, e à afirmação de um poder soberano articulado a práticas colonialistas e unilaterais. “O museu transgressor, indignado propõe rompimentos com a estrutura da Museologia. A dicotomia museu tradicional e museu comunitário/ecomuseu não é mais suficiente para incluir uma instituição, um processo, uma prática, uma ação museal decolonial.” (PEREIRA, 2018)

Para tanto, podem ser elencadas práticas museais que se propõem decolonizadoras, que seriam: evidenciar o protagonismo do sujeito e da comunidade, através de processos participativos; uma gestão mais equilibrada e compartilhada, discutindo as diferenças entre tutela e autonomia; potencializar a articulação entre comunidade e instituições como museus, universidades e ONGs; ter uma postura política clara, definindo o que é o museu para aquele grupo, entendendo que ao definirmos o que somos, automaticamente definimos o que não queremos ser; possibilitar a criação de redes como espaço de fortalecimento; ter respeito aos diferentes tempos, e assim, não querer correr com os processos; e por fim ter como eixo central as pessoas, identificando no museu um espaço de valorização, com que se identifiquem e se envolvam.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a possibilidade de investir na ‘patrimonialização das diferenças’, os museus têm a expectativa de serem encarados como espaços de luta, trincheiras a defender batalhas travadas a partir de toda forma de opressão que não preveja a ampla discussão, o debate e a promoção do respeito às várias maneiras de pensar e agir em sociedade. Os museus rompem com uma tradição que valoriza discursos unilaterais que visam promover uma regulação social e que insistem em projetar uma razão indolente única e castradora, para encarar fazer valer a concepção de museu que valoriza a “emancipação” do sujeito produtor da própria história por meio da participação e do exercício da indignação. (PEREIRA, 2018)

Compreendemos o papel político e social que deve ser assumido pela Museologia e por seus trabalhadores sociais, enquanto articuladores dos instrumentos de patrimonialização da memória, no intuito de subsidiar e inspirar práticas transgressoras e decoloniais. “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos” (Eduardo Galeano). REFERÊNCIAS PEREIRA, Marcele Regina Nogueira. Museologia decolonial: os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal. Tese (Doutoramento em Museologia). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2018. REA-Sociomuseologia-10. Política Pública: Caminhos e descaminhos do direito à memória. Professora Marcele Pereira, UNIR- Universidade Federal de Rondônia Registo de palestra realizada no âmbito do Programa, #Musatemas13, da Cátedra UNESCO. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=555gFTd4gH8> Acesso em Maio de 2021. REA-Sociomuseologia-06. Sociomuseologia: Escola de Pensamento. Maria Cristina Bruno, MAE-USP Museu de Arqueologia e Etnologia. Registo de palestra realizada no âmbito do Programa, #Musatemas08, da Cátedra UNESCO. Disponível em <https:// www.youtube.com/watch?v=hBXimOhEE60> Acesso em Maio de 2021. MESA Redonda 6: Patrimônio e direitos humanos. 4º Simpósio Científico ICOMOS Brasil. Ieds Instituto. 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=UEzP SkmNvfE&list=TLPQMDYwNTIwMjFa5OkjPvLMug&index=2 >Acesso em Maio de 2021. QUINTERO, PABLO et al. Uma breve história dos estudos decoloniais. SP: MASP Afterall, 2019. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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MEMÓRIAS EM CONSTRUÇÃO Terezinha de Jesus Pereira da Silva1 RESUMO As abordagens sobre as questões do patrimônio material e imaterial, na formação de graduação dos profissionais se apresentam com conteúdos obrigatórios contemplando a conservação e a valorização do patrimônio, porém com cargas horárias mínimas. Por sua vez, as estruturas de gestão do patrimônio cultural, nos níveis federal, estadual e municipal, nem sempre conseguem montar e manter quadros técnicos para atender os problemas de preservação, conservação, restauração de edificações, conjuntos e cidades. Como forma de complementar a formação profissional o IPHAN criou, em 2004, o Programa de Especialização em Patrimônio - PEP. Conhecedora dos resultados positivos do mencionado programa, a Fundação do Patrimônio Histórico de Pernambuco - Fundarpe, nas gestões de 2007 a 2012, montou uma estrutura de qualificação profissional, sem enfoque acadêmico, com profissionais egressos dos cursos de: arquitetura e urbanismo, história, engenharia civil, ciência da informação, turismo, ciências sociais e informática. A partir de seleções públicas o Estado procurou contribuir com um PEP profissional e qualificar recém-graduados para a área de patrimônio. Durante a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, em 2020, realizada de modo virtual por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus, apresentamos uma escuta sobre a permanência na área de patrimônio dos bolsistas do PEP/Fundarpe. O artigo tem como objetivos: relatar as atuais atividades dos profissionais que participaram do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/ Fundarpe 2009/2012; divulgar os contatos dos ex-participantes, para promover interação entre eles e destacar a importância da capacitação na área do patrimônio. Como resultado se constatou o êxito do Programa, pois, mais de 99% dos participantes continuam atuando na área de preservação cultural. Palavras-chave: Capacitação em patrimônio. Educação patrimonial. Fundarpe. Patrimônio Material e Imaterial. Semana do Patrimônio. INTRODUÇÃO O cuidado com o patrimônio histórico e cultural tem cada vez mais agregado profissionais de diversas áreas, gerando a necessidade de interdisciplinaridade nas ações. A preservação do patrimônio material e imaterial consta como conteúdos 1 É arquiteta e urbanista, pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE- 1976. Concluiu o Mestrado em Desenvolvimento Urbano, na UFPE - 1992. Cursou doutorado na Universidade do Porto - Portugal, em 2002. Leciona como professora Associada 2, no Departamento de Arquitetura e Urbanismo, da UFPE, na área de projeto arquitetônico.

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na formação de diversos profissionais, porém, com problemas de reduzidas cargas horárias para abordagens adequadas ao tema. Por sua vez, as demandas nas ações de preservação na gestão pública, nos seus diversos níveis de atuação, federal, estadual e municipal, têm enfrentado dificuldades na incorporação de novos profissionais. Uma saída tem sido a criação de treinamentos, especializações, mestrados e doutorados para compensar as demandas por cuidados com o patrimônio. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, percebendo tais dificuldades criou o Programa de Especialização em Patrimônio - PEP /IPHAN, em 2004 (IPHAN,2016, p.1). A partir da experiência do IPHAN a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco/Fundarpe criou o Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/ Fundarpe -2009/2012, com ênfase em atividades profissionais e não acadêmicas, como forma de preparação de capital humano, para a área de patrimônio. Considerando tal experiência foi apresentado (de modo virtual) o tema “Memórias em construção” para a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, em 2020. A proposta teve como objetivos: relatar as atuais atividades dos profissionais que participaram do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/Fundarpe -2009/2012; divulgar os contatos dos ex-participantes, para promover a interação entre eles e destacar a importância da capacitação na área do patrimônio. Como metodologia de abordagem para o alcance dos objetivos o artigo foi estruturado através de um breve histórico do PEP/Fundarpe, a apresentação dos conteúdos do formulário de escuta para construção de informações, os resultados das respostas obtidas, por meio de e-mail, a importância da capacitação na área de patrimônio e as considerações finais.

1 HISTÓRICO DO PEP/FUNDARPE Desde sua criação em 1937, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN tem trabalhado na formação profissionalizante dos seus funcionários e compartilhado, por meios diversos, os resultados de pesquisas, trabalhos técnicos, estudos e outros conhecimentos. A partir do aprofundamento das atividades de qualificação criou, em 2004, o Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/IPHAN (IPHAN,2016, p.1). O Programa de Especialização em Patrimônio - PEP da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe se espelhou na proposta do PEP/ IPHAN, porém com enfoque profissionalizante e não acadêmico. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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A Fundarpe durante o período de 2009/2012 desenvolveu uma política cultural através do Programa Pernambuco Nação Cultural que demandou das diversas diretorias e em especial da diretoria de Preservação Cultural - Dpcult, atuações nas 12 Regiões de Desenvolvimento do Estado. Tal programa ocorreu durante as gestões da diretora presidente, arquiteta Luciana Vieira de Azevedo e da arquiteta Célia Maria Medicis Maranhão de Queiroz Campos na Dpcult, juntamente com suas equipes (SILVA, 2016, p.15). A atividade piloto do PEP/Fundarpe seguiu os tramites oficiais de seleção pública. Conforme edital e seu regulamento o programa foi estruturado para dar apoio à política cultural Pernambuco Nação Cultural, contribuir para realizar os Registros dos Bens Imateriais, desenvolver atividade de Educação Patrimonial, além de publicações. Considerando as especificidades das atividades foram inicialmente identificadas as seguintes áreas: Arquitetura e Urbanismo; Ciência da Informação-Biblioteconomia; Ciência da Computação/Engenharia da Computação; Ciências Sociais; Design Gráfico; Engenharia Civil; História e Turismo (Fundarpe, 2009,p.2). O edital especificava que o universo de recém-formados abrangia até 5 anos de formado e também contemplava vagas para pessoas com deficiências. Das 25 vagas definidas e preenchidas 2 eram para candidatos com deficiência. A quantidade inicial de selecionados por área teve a distribuição contida na tabela 1. Tabela 1 - Número de supervisores e bolsistas por áreas

ÁREAS SUPERVISORES Unidade de Planejamento e Obras - Carlos Cunha - Gustavo Bandeira - Fátima Tigre - Nazaré Reis

Unidade de Preservação - Neide Fernandes - Roberto Carneiro - Rosa Bomfim - Ulisses Pernamb.

Arquitetura Ciência da Ciências Ciência da Informação Sociais Computação

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História Turismo Nº Bolsistas

1

4

3

3

6

2

- Diógenes Azevedo - Tarcísio Paiva

Bens Imateriais

Eng. Civil

3

Engenharia

- Maria Acserald

Design Gráfico

1

2 1

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

ÁREAS SUPERVISORES

Arquitetura Ciência da Ciências Ciência da Informação Sociais Computação

Biblioteca - Izabel Paashaus

TOTAL

Eng. Civil

História Turismo Nº Bolsistas

1

1

Assessoria - Ericka Rocha Coordenação - Terezinha Silva

Design Gráfico

1

1 1 7

1 1

4

1

1

2

1

2

5

7

2

25

Fonte: Fundarpe - Projeto - Programa de Especialização em Patrimônio – PEP / 2010 /2011, p. 4

Outro aspecto importante foi que o programa oferecia uma bolsa equivalente a aproximadamente 2,5 salários mínimos , ou seja, R$ 1.200,00 (Um mil e duzentos reais) para o desenvolvimento das atividades correspondentes a 30 horas semanais. A contratação inicial para cada bolsista foi para 1 ano, podendo ser renovada por mais 1. Cada contratado tinha um supervisor da Fundarpe, tabela 1, que auxiliava o participante no seu plano de trabalho. Os participantes juntamente com os funcionários efetivos conseguiram produzir uma série de trabalhos (projetos, publicações, seminários, exposições, etc.). Em 2012 o Programa teve suas atividades encerradas. 2 FORMULÁRIO DA ESCUTA Para alcançar os objetivos (atividades dos profissionais que participaram do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/Fundarpe - 2009/2012; divulgar os contatos dos ex-participantes, para interagirem entre si) foi montado um formulário (Anexo 1) que foi enviado para os ex-participantes por e-mail, além da realização de contatos por telefone e mensagens via whatsapp. A articulação permitiu a localização da maioria dos ex-participantes, porém pelo curto espaço de tempo no desenvolvimento da atividade, para a preparação da Semana do Patrimônio/2020, não foi possível obter informações de todos. O formulário (Anexo 1) procurou fazer um breve levantamento sobre cada participante considerando: 1. Área de seleção; 2. Identificação do participante; 3. Formação inicial; 4. Formação atual; 5. Atividades atuais; 6. E-mail ; 7. País / Estado / Cidade; 8. Vídeo opcional; 9. Outras Informações / Depoimento - opcional. Destaque especial cabe a continuidade do PEP no período 2010/2011 através da coordenação da arquiteta Fátima Tigre, que na 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, em 2020, fez o seguinte depoimento: Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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A Parábola dos Talentos está descrita em Mateus 25:14-18: 14 “E também será como um homem que, ao sair de viagem, chamou seus servos e confiou-lhes os seus bens. 15 A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem. 16 O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente, aplicou-os, e ganhou mais cinco. 17 Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. 18 Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Vejo em muito de vocês esses bons servos, enquanto estiveram no Programa de Especialização em Patrimônio, que duplicaram e triplicaram os talentos que receberam por meio do conhecimento, da experiência e do profissionalismo dos técnicos da nossa tão querida Fundarpe, como Rosa Bomfim, Ulisses Pernambucano, Roberto Carneiro, Neide Fernandes, Augusto Paashaus e outros, ícones daquela fundação. Vocês não enterraram seus talentos, e se o fizeram, adubaram e regaram e hoje se vê desabrochada a competência e determinação nesta área tão carente de atenção e dedicação. Foram aqueles iniciais e pequenos passos, mas com muitas mãos que se construiu o que hoje é a essência de cada um de vocês. Só tenho que agradecer enquanto estive com vocês, vivendo, convivendo e partilhando a alegria, os sonhos e a determinação de cada um, agradeço a dedicação, o amor pela cultura pernambucana, a inteligência e a toda energia dedicada ao nosso trabalho. Vocês fizeram e fazem parte da vida de todos nós. Obrigada, Fátima Tigre - Arquiteta / Coordenadora 2ª fase

O Programa realizou seleções para 8 áreas, com 41 profissionais (história (10), arquitetura e urbanismo (15), engenharia civil (1), turismo (4), ciência da informação(5), informática(1), ciências sociais (4) e design(1). 3 RESULTADOS DA ESCUTA Como síntese das informações 1, 2 e 6 do Anexo 1, apresentamos os dados gerais por áreas de seleção. Dos 41 participantes, conseguimos, coletar 51% dos formulários aplicados. O quadro 1 apresenta as informações dos selecionados da área de história. O quadro 2 sintetiza as referências dos participantes da área de arquitetura e urbanismo. Já o quadro 3 registra os dados dos profissionais da área de engenharia civil, turismo, ciência da informação, informática, ciências sociais e design. Quanto à análise das atividades atuais, item 5 do formulário, constatamos apenas um participante fora da área de patrimônio, ou seja, 95% estão atuando nas

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

atividades de patrimônio material e imaterial. Os nomes dos participantes foram substituídos por letras para facilitar a elaboração dos gráficos, quadro 4. Quadro 1 - selecionados da área de história

1 Área HISTÓRIA (10) Nº

2 Participante

6 Email

1

Cícera Patrícia Alcântara

patricia.alcantara@iphan.gov.br

2

Conceição Eymard de Araújo Fragoso

glenavieira@gmail.com

3

Glena Salgado Vieira

glena.salgado@hotmail.com

4

Isabela de Oliveira Moraes

jose.brito@ufape.edu.br

5

José Bezerra de Brito Neto

livmoraes85@gmail.com/

6

Lívia Moraes e Silva

livia.silva@iphan.gov.br

7

Maria Concepta Padovan

concepta.padovan@gmail.com

8

Maria de Lourdes Bezerra Cordeiro

lourdescully@hotmail.com

9

Maria Lana Monteiro

lana.monteiro@upe.br

10

Moysés Marcionilo de Siqueira Neto

moysés_neto@yahoo.com.br

Legenda: Em verde escuro - contatos dos formulários Quadro 2 - selecionados da área de arquitetura e urbanismo

1 Área ARQUITETURA E URBANISMO(15)

2 Participante

6 Email

11

Ana Florinda de Azevedo Ferreira

anaflorinda.af@gmail.com

12

Cecília Barthel Carneiro Campello

cecilia.arkeo@gmail.com

13

Cristiane Feitosa Cordeiro de Souza

cristiane.feitosa@msn.com

14

Daniella Felipe Espósito de Carvalho

daniesposito@hotmail.com

15

Fabio Fernando Pestana Tédulo

pestana.fabio.arq@gmail.com

16

Karina Monteiro de Lira (não frequentou)

arq.kamonteiro@gmail.com

17

Larissa Santos Cisne Pessoa

larissacisne@gmail.com

18

Lídio Ricardo

19

Maria Cecília Vargas de Alcântara

20

Maria Reynaldo

21

Mariana Aragão

mariana.aragao@gmail.com

22

Marina Russel Brandão Cavalcanti

marina.arquiteta@gmail.com

23

Michelle Luiza Torres Macedo

24

Pedro Henrique Cabral Valadares

25

Raphaela Rezende de Lima

cecilia.alcantara@gmail.com

arq.pedrovaladares@gmail.com

Legenda: Em verde escuro - contatos dos formulários

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Nos resultados da análise da formação inicial e atual, itens 3 e 4 do formulário anexo, constatamos que 95% dos participantes ampliaram suas qualificações, gráficos 1 e 2. Quanto à análise da permanência dos participantes em Pernambuco o percentual é de 77%. Os demais 23% estão espalhados em outros estados do Brasil e no exterior, conforme Gráfico 3 e Imagem 1.

Quadro 3 - selecionados das áreas de engenharia, turismo, ciência da informação, informática, ciências sociais e design

1 Área ENGENHARIA (1) Nº

26

2 Participante

6 Email

Thelma Alves de Souza

thelmaas@gmail.com

1 Área TURISMO (4)

27

Clarisse V. Fraga de Melo Lima

clarissefraga@gmail.com

28

Diomedes de Oliveira Neto

diomedesneto85@gmail.com

29

Fabiana Sales

fabisales.trm@gmail.com

30

Lilian de Almeida Silva

1 Área CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (5)

31

Adriana Cintia do Nascimento

32

Anielma dos Santos (Faleceu)

33

Carla Rodrigues

34

Mônica Pereira

35

Rosana Lemos

monicasolua@gmail.com

1 Área INFORMÁTICA (1)

36

Emanuel Furtado Bezerra

1 Área CIÊNCIAS SOCIAIS (4)

37

João Paulo de França Ferrão Alves

38

Manoel Sotero Caio Netto

39

Paula Manuela Silva de Santana

40

Mercês de Fátima dos Santos Silva

1 Área DESIGN (1)

41

Flávio Barbosa da Silva

flavio.pontual@hotmail.com

Legenda: Em verde escuro - contatos dos formulários

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Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021


Terezinha de Jesus Pereira da Silva

Quadro 4 - Profissionais por área de atuação

A

Historiadora IPHAN

B

Pesquisas históricas e arqueológicas

C

Professor / Pesquisador UFAPE

D

Técnica em história do IPHAN-PE

E

Coordenadora de Serviços / Avery Weigh-Tronix

F

Restauradora / Conservadora do Museu da Cidade do Recife - Forte das Cinco Pontas

G

Professora UPE

H

Historiador Museu UFRN

I

Escritório

J

Consultora arqueologia

K

Arquiteta Fundarpe

L

Não informado

M

Escritório

N

Prefeitura do Recife / DPPC

O

Gerente de Licenciamento Urbano da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.

P

Servidora do IPHAN, escritório e elabora maquetes digitais

Q

Professor / Escritório patrimônio

R

Fiscal de obras do TJPE

S

Doutorando

T

Produtora cultural

U

Educadora do Museu da Abolição

V

Assessor de Design e Moda na SecultPE

Gráfico 1 - Evolução da formação dos participantes

LEGENDA 1 graduação 2 especialização 3 mestrando 4 mestrado 5 doutorando 6 doutorado

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ARTIGOS ACADÊMICOS

Gráfico 2 - Evolução da formação dos participantes

LEGENDA 1 graduação 2 especialização 3 mestrando 4 mestrado 5 doutorando 6 doutorado

Gráfico 3 - Atuação em Pernambuco, no Brasil ou exterior

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

Imagem 1 - Localização dos participantes no Brasil e exterior

Quanto aos depoimentos da área de História: O PEP Fundarpe - 2009/2012 - foi a porta de entrada para o campo da preservação do patrimônio cultural. A partir desse programa empreendi toda minha formação e atuação nessa área. É uma honra permanecer até hoje em contato com os técnicos da Fundarpe através das parcerias entre essa instituição e o IPHAN-PE. Lívia Moraes e Silva Meu trabalho no Consulado Britânico de Recife, iniciado em 2011 pode ser considerado um resultado direto de minhas experiências adquiridas durante o PEP/Fundarpe. Como minha função no Consulado foi a de restabelecer a memória da herança britânica na cidade, a partir das ações do Consulado, as experiências desenvolvidas durante o programa funcionaram como precursor pro trabalho que eu iria executar. Entre as principais influências do programa, cito: conhecimento sobre como executar pesquisas baseadas na memória histórica da cidade e seu patrimônio material e imaterial; localização de fontes de pesquisa; importância da multidisciplinaridade; conhecimentos sobre organizar e conduzir exposições e projetos; como lidar com seu público. E, apesar de meu atual emprego ser longe de minha área original, habilidades adquiridas e desenvolvidas durante o programa são utilizadas diariamente. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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ARTIGOS ACADÊMICOS

Em termos de conexões entre os ex-participantes: levando em consideração as circunstâncias atuais no mundo; e o fato de que os ex-participantes não se encontram, mas todos na cidade, eu sugiro talvez algum tipo de reunião virtual. Talvez algum tipo de discussão sobre algum dos projetos em que trabalhamos e qual sua situação atual, etc. Maria Concepta Padovan A minha passagem pelo PEP foi muito relevante na minha carreira, uma vez que me trouxe à luz a possibilidade de me debruçar sobre o Patrimônio Cultural e seus desdobramentos. Na Fundarpe atuei como Historiadora voltada para elaboração dos pareceres de tombamento, o que me proporcionou participar de pesquisas históricas de grande valor cultural para a o estado de Pernambuco. Tive acompanhamento de profissionais dentro da Fundação que me auxiliaram nessa caminhada e aos quais sou muito grata, especialmente a Roberto Carneiro. Atualmente, trabalho como Restauradora / Conservadora do Museu da Cidade do Recife, onde desenvolvo atividades de conservação preventiva, restauração, pesquisa histórica, suporte na elaboração de exposições e nas atividades do setor educativo. Maria de Lourdes Bezerra Cordeiro Além da gravação de vídeo sugiro depois uma roda de conversa on line para oportunizar o reencontro da equipe. Maria Lana Monteiro Quando sai do PEP (2009) fui fazer o mestrado no sul do sul, em Pelotas. Passei uns frios bons por lá, mas aprendi muito com um grupo de professores de excelência na área de patrimônio. Fiz um intercâmbio na Universidad de Buenos Aires e passei um temporada lá (2010). Depois do mestrado (2011), vim para Recife, onde passei três meses trabalhando em 2 museus (Memorial Luiz Gonzaga e de Ciências Nucleares da UFPE). Fui morar em Aracaju trabalhar na federal de Sergipe como professor substituto (2011). Depois João Pessoa como consultor da Unesco no IPHAN (2012). Voltei para Aracaju (2013) e agora em Natal (2016). Como eu disse a Daniela Espósito, sou imensamente grato ao PEP. Moysés Marcionilo de Siqueira Neto

Quanto aos depoimentos da área de Arquitetura: A participação no PEP foi fundamental para estabelecer contato com diversas atividades relacionadas ao patrimônio cultural de

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

Pernambuco, além de ter sido uma experiência enriquecedora na oportunidade de conviver com profissionais da casa com grande bagagem e disposição para compartilhar com os que estavam no início da jornada profissional. Entre as diversas atividades, destaco que a oportunidade de adentrar no interior do estado e conhecer os mais remotos lugares desempenhando ações de inventário e educação patrimonial como representantes honorários da Fundarpe foi extremamente estimulante e enriquecedora. A convivência com os colegas de áreas distintas ampliou o campo de visão tornando o ambiente da DPC um campo fértil para a criação de ações educativas e de planejamento e execução de programas com vistas sempre ao fomento da cultura e da preservação. Posso afirmar que esse período foi um divisor de águas, principalmente por afirmar a minha escolha na área da preservação do patrimônio. No mais, guardo com muito carinho as memórias dos dois anos que passei no PEP - Fundarpe e aproveito para manifestar minha gratidão a todos que contribuíram para que esse período fosse tão rico no campo profissional e sobretudo humano. Cecília Barthel Carneiro Campello Sugestão: criação de um grupo e discussões em temas ligados ao patrimônio cultural e/ou suas respectivas áreas de atuação, em aplicativos como whatsapp e telegram. Marina Russell Brandão Cavalcanti O Programa PEP fez parte da minha formação na área da conservação do patrimônio cultural, primeiro possibilitando a experiência e especialização profissional quando recém-formada. Esta é uma condição muito difícil para quem quer atuar na área, pois as ofertas de trabalho pressupõem a especialidade inerente ao tema que não adquirimos na Universidade. O programa proporcionou, ainda, o contato diário com as diversas práticas que envolvem a proteção de bens culturais e gestão pública, sob orientação de técnicos e profissionais experientes que atuavam na Fundação. Neste sentido, foi muito importante a multidisciplinaridade dos profissionais envolvidos, ampliando significativamente o aprendizado e discussões. O aprendizado também se deu pela convivência com os demais bolsistas com os quais ainda mantenho contato pessoal ou profissional, em maioria. Por fim, posso dizer que o programa foi muito importante para minha formação, de forma que me trouxe muito aprendizado e me proporcionou continuar atuando na área até os dias atuais. Cristiane Feitosa Cordeiro de Souza

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ARTIGOS ACADÊMICOS

Acho uma atividade interessante e diria necessária. Penso ser importante essa relação | contato com e por quem passou pelo PEP, que contou com gente boa e comprometida com o que faz. Sinto não haver um depois. Sinto também a ausência da publicação final de nossos artigos e do certificado, que fazia parte do Programa. Isso, pois foi muito proveitoso o programa, o aprendizado proporcionado. Muitas relações que se iniciaram naquela oportunidade, se mantêm. Daniella Felipe Esposito de Carvalho Além da gravação de vídeo sugiro depois uma roda de conversa on line para oportunizar o reencontro da equipe. O Programa me fez mudar de área. Identifiquei-me com a área da conservação e realizei diversos cursos e um mestrado na área. Estou na Diretoria, trabalhando na área de Licenciamento Urbano de Áreas Históricas do Recife já faz 10 anos. Maria Cecília Vargas de Alcantara

Depoimento da participante de Engenharia Civil: Ter estado no PEP influenciou muito no modo em que fiscalizo as obras, na hora de realizar inspeções, verificar o estado em que a edificação se encontra as possíveis causas dos danos. Thelma Alves de Souza

Depoimento da participante da área de Turismo: A participação no PEP foi crucial para que eu pudesse aplicar de forma prática o conhecimento teórico sobre Educação Patrimonial construído durante a dissertação de mestrado, bem como no processo seletivo (Concurso Público) para a função de educadora no Museu da Abolição. Os conhecimentos requeridos no certame faziam parte da minha rotina de trabalho durante o período do PEP. Só tenho a agradecer. Fabiana de Lima Sales

4 VÍDEOS O item 8 do Anexo 1 foi colocado como opcional para ser apresentado na forma de vídeo para declarar de modo espontâneo o nível de influência do Programa na atividade atual do ex-participante ou sugestão de proposta. Apresentaram vídeos:

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os historiadores Cícera Patrícia Alcântara, Maria Lana Monteiro e José Bezerra de Brito Neto, os turismólogos Clarisse V. Fraga de Melo Lima e Diomedes de Oliveira Neto e o designer Flávio Barbosa da Silva nos endereços: http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/redes-sociais-2/ https://www.youtube.com/user/SecultPE https://www.youtube.com/watch?v=s84lr57t4r4 5 A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO NA ÁREA DE PATRIMÔNIO Pelos depoimentos espontâneos dos “ex-pepistas/Fundarpe” as atividades desenvolvidas conseguiram aprofundar interesse, gosto e paixão pelo patrimônio, ou seja, boas lembranças. A dinâmica de implantação da política pública de patrimônio do Programa Pernambuco Nação Cultural, via qualificação remunerada gerou frutos os mais diversos que foram apontados como indispensáveis para auxiliar nas questões de preservação dos patrimônios material e imaterial. A formação profissional do PEP/Fundarpe com uma multiplicidade de profissionais foi um processo dinâmico, registrado tanto nas produções materiais (publicações impressas e eletrônicas, artigos, participações em seminários/congressos, tombamentos, inventários, registros e salvaguardas, levantamentos, pesquisas, entre outros), quanto nas mudanças comportamentais e emocionais. O Programa foi relevante não somente nas memórias dos ex-participantes, mas também, dos membros efetivos e provisórios da instituição. O PEP passou a fazer parte da memória e currículo de todos. O Programa foi relevante e diferenciado não somente para qualificar mão de obra para o quadro interno e viabilizar a política pública Pernambuco Nação Cultural, mas também contribuir na formação dos participantes para atuação em suas atividades profissionais. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados apresentados, considero ter alcançado os objetivos traçados: relatar as atuais atividades dos profissionais que participaram do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/Fundarpe -2009/2012; divulgar os contatos dos ex-participantes, para promoverem interação entre eles e destacar a importância Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.6, 2021

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ARTIGOS ACADÊMICOS

da capacitação na área de patrimônio. Principalmente pelo resultado onde mais de 99% dos participantes continuam atuando na área de preservação cultural. A pequena duração da atividade piloto do PEP/Fundarpe foi edificante para seus participantes e sinalizou como se faz necessário que as instituições estaduais e municipais abram espaços para os recém-formados investirem na qualificação profissional. Outras áreas foram pensadas para serem incluídas como no Programa: geografia, direito e jornalismo, mas não deu tempo de seguir com a experiência. Por fim, cabe registrar que o projeto piloto, além de ter enriquecido os ex-participantes, foi também importante para o corpo técnico da Diretoria de Preservação Cultural e para as políticas de patrimônio do Estado. Deixou boas memórias e boas lembranças. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, Cícera Patrícia. Formulário. 2020. ALCÂNTARA, Maria Cecília Vargas de. Formulário. 2020. ARAGÃO, Mariana. Formulário. 2020. BRITO NETO, José Bezerra de. Formulário. 2020. _______________________ . Vídeo com depoimento, 2020. CAMPELLO, Cecília Barthel Carneiro. Formulário. 2020. CARVALHO, Daniella Felipe Espósito de. Formulário. 2020. CAVALCANTI, Marina Russel Brandão. CORDEIRO, Maria de Lourdes Bezerra. Formulário. 2020. FERREIRA, Ana Florinda de Azevedo. Formulário. 2020. FUNDARPE, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Edital e Programa de Seleção - 2010/2011. Recife, 23 de outubro de 2009. ________________________ . - Projeto - Programa de Especialização em Patrimônio - PEP / 2010 /2011. Recife, 23 de setembro de 2009. p. 4

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Histórico do Mestrado Profissional do Iphan. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pep/pagina/ detalhes/1850#:~:text=O%20Programa%20de%20Especializa%C3%A7%C3%A3o%20 em,do%20Minist%C3%A9rio%20das%20Rela%C3%A7%C3%B5es%20Exteriores. Acessado em: 18 abr. 2021. LIMA, Clarisse V.Fraga de Melo. Formulário. 2020. _____________________ . Vídeo com depoimento, 2020. LIRA, Karina Monteiro de. Formulário. 2020. MONTEIRO, Maria Lana. Formulário. 2020. _____________________ . Vídeo com depoimento, 2020. OLIVEIRA NETO, Diomedes de. Formulário. 2020. _____________________ . Vídeo com depoimento, 2020. PADOVAN, Maria Concepta. Formulário. 2020. SALES, Fabiana Sales. Formulário. 2020. SILVA, Flávio Barbosa da. Formulário. 2020. _____________________ . Vídeo com depoimento, 2020. SILVA, Lívia Moraes e. Formulário. 2020. SILVA, Terezinha de Jesus Pereira da. A Fundarpe como espaço de especialização profissional. Revista Aurora 463. Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco. Recife: Fundarpe, v.1,n1, 2016. p.14/15. SIQUEIRA NETO, Moysés Marcionilo. Formulário. 2020. SLIDES - Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco -2020 - Disponível em: http://www.cultura.pe.gov.br/canal/patrimonio/projeto-investiga-trajetoriade-profissionais-participantes-do-programa-de-especializacao-em-patrimonioda-fundarpe/ SOUZA, Cristiane Feitosa Cordeiro de. Formulário. 2020.

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ARTIGOS ACADÊMICOS

SOUZA, Thelma Alves de. Formulário. 2020. TÉDULO, Fabio Fernando Pestana. Formulário. 2020. TIGRE, Fátima. A Parábola dos Talentos. Mateus 25:14-18 VALADARES, Pedro Henrique Cabral. Formulário. 2020. VIEIRA, Glena Salgado. Formulário. 2020.

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Terezinha de Jesus Pereira da Silva

ANEXO 1

13ª SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO JANELAS DO PATRIMÔNIO: NOVOS OLHARES, ESTRATÉGIAS E CONEXÕES 10 a 29 de agosto de 2020 - Nome da ação: Memórias em construção - Tipo da ação: CONECTAR A MEMÓRIA DOS PARTICIPANTES DO PEP - Eixo da ação: Pensar o patrimônio - Descrição: A ação tem como objetivos: Levantar as atuais atividades dos profissionais que participaram do PEP / Fundarpe - 2009/2011, possibilitar o reencontro em uma ação coletiva e divulgar a importância de capacitação na área do patrimônio. - Proponente: Terezinha Silva Cumprimentando-o (a) solicitamos a você, ex participante do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP /Fundarpe, preencher as informações abaixo, bem como auxiliar nos contatos com outros integrantes do programa que integrem sua lista, informando e-mail ou telefone. Ao mesmo tempo solicitamos sua autorização para divulgação dos dados informados na 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco. Dados dos participantes: 1. Nome 2. Área de seleção 3. Nível de formação à época 4. Atual nível de formação 5. Atividades atuais 6. E-mail 7. País /cidade que mora 8. Gravação de vídeo - Influência do Programa em sua atividade atual ou sugestão de proposta de conexões entre os ex-participantes do PEP 9. Outras informações que julgar necessárias O envio das informações solicitadas pode ser considerado como autorização para a divulgação dos dados. Enviar até o dia 20/07 para o e-mail: terezinha_psilva@hotmail.com

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Nesta revista foram utilizadas as fontes da família tipográfica Lexia em títulos e a fonte Calibri para conteúdo.

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