Cartilha Jogo do Patrimônio 2.0

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GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

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GOVERNADOR DE PERNAMBUCO Paulo Câmara

Fundação do Patrimônio Histórico de Pernambuco - Fundarpe Rua da Aurora, 463 Boa Vista - Recife/PE CEP: 50.050-000 www.cultura.pe.gov.br

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SECRETARIA DE CULTURA Secretário de Cultura | Marcelino Granja Secretária Executiva | Silvana Meireles Chefe de Gabinete | Severino Pessoa Gerente de Políticas Culturais | Tarciana Portella Gerente de Projetos Especiais | Marcus Sanchez Gerente Geral de Articulação Social | Luciano Moura Gerente de Planejamento | Fernanda Laís de Matos Gerente de Administração e Finanças | Manoel Araújo Gestores de Comunicação | Michelle de Assunção e Tiago Montenegro

Pode ser parcialmente reproduzida, desde que citada a fonte. Textos Amanda Carla Gomes Paraíso Marcelo Renan Oliveira de Souza Nilson da Rocha Cordeiro Wellington Lima Pereira Revisão Pedagógica Dilian da Rocha Cordeiro

FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE Diretora-Presidente | Márcia Souto Vice-Presidente | Antonieta Trindade Chefe de Gabinete | Marcela Torres Gerente Geral de Preservação do Patrimônio Cultural | Márcia Chamixaes Gerente de Preservação Cultural | Célia Campos Gerente de Equipamentos Culturais | André Brasileiro Superintendente de Gestão do Funcultura | Gustavo Duarte de Araújo Superintendente de Planejamento e Gestão | André Cândido Gerente de Produção | Diego Santos Gerente de Administração e Finanças | Jacilene Oliveira

J62 Jogo do Patrimônio 2.0: Gerência de Preservação Cultural – Fundarpe. Recife: FUNDARPE, 2017. 36 p.: il. ISBN: 978-85-7240-094-7 1. Educação patrimonial 2. Jogo do patrimônio 2.0 I FUNDARPE. II. Título. CDD 370.115

Revisão Textual Amanda Carla Gomes Paraíso Projeto Gráfico e Diagramação Flávio Barbosa da Silva Equipe da Gerência de Preservaçãp Cultural - GPCult Amanda Paraíso | Augusto Paashaus | Cristiane Feitosa | Danielle Esposito | Eva Passavante | Flávio Barbosa | Gustavo Bandeira | Izabel Paashaus | Jacira França | Jeniffer Ferreira | José Sabino | Nazaré Reis | Neide Fernandes | Nilson Cordeiro | Raphaela Rezende | Renata Echeverria | Roberto Carneiro | Rosa Bomfim | Suzana Santos | Tarcísio Paiva | Vera Lucia Batista | Wellington Lima | Walter Zacarias Fotos Acervo Fundarpe | Costa Neto | Fernando Melo | Jan Ribeiro | Josivan Rodrigues | Marcelo Renan Rodrigo Ramos


JOGO DO PATRIMÔNIO 2.0 GERÊNCIA DE PRESERVAÇÃO CULTURAL - FUNDARPE

RECIFE FUNDARPE 2017


Fui convidada no ano de 2016, para participar de uma formação continuada no Seminário sobre o Patrimônio Cultural de Pernambuco [...] Os ministradores da oficina nos oportunizaram uma demonstração do Jogo de Patrimônio e posso destacar que o interessante na dinâmica do jogo é que ela flexibiliza de acordo com o município ou a localidade onde seja executado, e que os estudantes possam ser protagonistas de sua confecção, identificando o patrimônio do seu espaço de pertencimento.

Adriana Maria Maia dos Santos Professora de História, Escola de Referência Martins Júnior - Recife


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

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1. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

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O QUE É EDUCAÇÃO PATRIMONIAL?

6

SITUANDO A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

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REFERÊNCIAS CULTURAIS

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O QUE DIZ NOSSA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL?

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2. HISTÓRICO DO JOGO DO PATRIMÔNIO A CONSTRUÇÃO DO JOGO DO PATRIMÔNIO (1ª VERSÃO) 3. O JOGO DO PATRIMÔNIO 2.0 A CONSTRUÇÃO DO JOGO DO PATRIMÔNIO 2.0 (2ª VERSÃO) 4. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS

14 15 19 20 29

CASA DO PATRIMÔNIO DE IGARASSU

29

FORMAÇÃO PARA PROFESSORES QUILOMBOLAS E INDÍGENAS

31

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS

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APRESENTAÇÃO Percorrendo os diversos municípios do estado de Pernambuco é possível observar a riqueza do patrimônio cultural, representado nas suas edificações históricas, nos núcleos urbanos, nos sítios paisagísticos e arqueológicos, nas manifestações artísticas, nas celebrações, nos saberes. Para nós professores, surge a questão: como garantir a preservação de tamanha riqueza? Como apresentar aos nossos alunos a beleza dessa diversidade cultural? É nesse contexto que se apresenta a Educação Patrimonial. A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), através do setor de Educação Patrimonial da Gerência de Preservação Cultural, vem desenvolvendo ações educativas com foco na preservação dos bens culturais, sensibilizando gestores, professores, estudantes e demais membros de diversas comunidades a serem coparticipantes nesse processo. Nessas ações de educação, voltadas para o público docente, observouse a necessidade de proporcionar aos professores ferramentas metodológicas que facilitem a abordagem da Educação Patrimonial em sua prática. Para atender a essa demanda e enfatizando a valorização do patrimônio local, foi desenvolvida a Cartilha Jogo do Patrimônio 2.0. Também é objetivo desta Cartilha desmistificar a ideia de que a Educação Patrimonial, no contexto escolar, é de responsabilidade apenas dos

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professores de História ou de Artes. Afinal, as múltiplas representações do Patrimônio Cultural (material, imaterial, arqueológico, paisagístico e natural, entre outras) são traduções da diversidade cultural existente no país. Não é novidade na Educação a necessidade de uma abordagem que considere as conexões entre os diferentes saberes. Para além da interdisciplinaridade, falase da transdisciplinaridade – onde o conhecimento transcende as fronteiras disciplinares e é visto de forma holística. Por sua própria natureza, o Patrimônio Cultural é transdisciplinar. 1

O Artigo 216 da nossa Constituição Federal define como Patrimônio Cultural Brasileiro as formas de expressões; os modos de criar, fazer e viver; as criações artísticas, científicas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Vemos nessa classificação o caráter multifacetado dos nossos bens culturais. Essa publicação visa oferecer aos professores uma ferramenta lúdicodidática que desperte a criatividade, a colaboratividade, a autonomia e a criticidade dos alunos no processo de educar para o patrimônio. E para tanto, não pretende se esgotar em si mesma, uma vez que, inspirados pela metodologia do jogo, os docentes podem elaborar outras possibilidades de trabalho que melhor corresponda à realidade de cada comunidade.

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BRASIL, 1988.

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1. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

O QUE É EDUCAÇÃO PATRIMONIAL? Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Educação Patrimonial é constituída por todos os processos educativos formais e não-formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, com o objetivo de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Por isso, a Educação Patrimonial não se limita a ações pontuais. É preciso compreender que esses processos educativos são uma construção coletiva e democrática do conhecimento, que se dá no diálogo entre os diferentes agentes sociais e culturais e contam com a participação das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais. Nosso papel enquanto professores é fundamental nesse processo, uma vez que somos os mediadores na construção compartilhada do conhecimento sobre o Patrimônio Cultural. Por isso a importância de uma educação dialógica que valorize os saberes dos alunos, respeitando suas diferentes trajetórias e contextos sociais.

2 3

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FLORÊNCIO et al., 2014. Idem


SITUANDO A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

contribuíssem para a compreensão do Patrimônio Cultural. Esse manual trazia conceitos, critérios, objetivos, metodologias, sugestões de atividades e bibliografia e se tornou, naquela época, o principal material de apoio para as ações educativas realizadas pelo IPHAN5.

O debate sobre o desenvolvimento de ações educativas voltadas para o Patrimônio Cultural foi introduzido no Brasil a partir do I Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos, ocorrido em 1983 no Museu Imperial, em Petrópolis - Rio de Janeiro, que foi inspirado no trabalho pedagógico desenvolvido na Inglaterra conhecido como Heritage Education4.

Nos últimos anos, tem havido uma significativa ampliação no debate sobre a Educação Patrimonial pautado nas Referências Culturais de povos e comunidades locais. Também notamos a participação dos órgãos de preservação, além de universidades, dos museus, entre outros, ao trazer novas perspectivas para o desenvolvimento de metodologias e de práticas, ampliando as possibilidades disponíveis aos professores.

Na década de 1990, foi elaborado o Guia Básico de Educação Patrimonial por Maria de Lourdes Horta, Evelina Grumberg e Adriane Monteiro. Tinha como objetivo orientar a elaboração e o desenvolvimento de ações que

Figura 1: Guia Básico de Educação Patrimonial Fonte: Divulgação

Figura 2: Circulação Mamulengo Patrimônio do Brasil: Apresentação Mamulengo nas comunidades tradicionais Foto: Rodrigo Ramos/SecultPE

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HORTA et al., 1999. FLORÊNCIO et al., 2014, p. 13.

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REFERÊNCIAS CULTURAIS

nem as memórias construídas ou recebidas ao longo do tempo ou de geração a geração.

Podemos nos perguntar: o que são referências culturais? De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e 6 Cultura , as referências culturais representam a diversidade cultural. Referem-se às múltiplas formas de criação, de expressão, de produção e de divulgação de culturas dos grupos e sociedades, e ocorrem dentro e até mesmo entre eles7.

Portanto, quando falamos em referências culturais nos deparamos com uma nova ideia de Patrimônio Cultural, que agora considera o valor simbólico de bens produzidos pela própria comunidade, tendo por exemplo a Arquitetura Vernacular/Secular, e não mais aquela produzida por grandes arquitetos e engenheiros, como também os saberes tradicionais expressos nas formas de curar, de celebrações religiosas, de festividades, etc.

Durante um bom tempo, coube apenas ao Estado e aos intelectuais identificar as referências mais significativas para os grupos sociais e proteger os bens culturais. Nas últimas décadas, essa tarefa de identificação e preservação passou a ser entendida como um direito do cidadão comum. O parágrafo 1º da Constituição Federal de 1988 aponta que o poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro.

ra Vernácula. es para a Arquitetu içõ fin de s ria vá tetura Existem a que é uma "arqui irm af es pl sim ais m o uma Uma das ição a entende com fin de tra ou ", to ições, a sem arquite Em ambas as defin . vo po lo pe ita fe arquitetura por não se ligar a ula se caracteriza Arquitetura Vernác óricos, ou fundamentos te preceitos formais "estilo". alquer "escola" ou desvinculada de qu

Vamos imaginar um pesquisador chegando a uma comunidade, listando de forma imperativa as referências daquele grupo social. Seria, no mínimo, autoritário, por se tratar de uma pessoa que não participa daquela comunidade, não tem as vivências,

Figura 3: Exemplo de arquitetura vernacular Foto: Acervo Fundarpe

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BRASIL, 2007. É importante lembrar que o Brasil é signatário da Convenção Para a Diversidade de Expressões Culturais, ocorrida em Paris, em 2005, na sede da UNESCO, e da qual retiramos esta descrição. 7

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Educação8 e outros materiais como o Manual de 9 Aplicação de Inventários Participativos foi baseado nessa metodologia do INRC.

Assim, considerar as referências culturais de diferentes grupos sociais é o primeiro passo para trabalharmos os fundamentos da Educação Patrimonial. É através da identificação dessas referências que ações educativas podem ser realizadas mediante aplicação de diferentes instrumentos e técnicas.

tários e elaboração de Inven Para saber mais sobr ar manual do Iphan: Participativos, consult

Por isso, a Educação Patrimonial oferece contribuições ao envolver as comunidades nesse processo de identificação e reconhecimento das suas referências culturais, e pode ser realizado nas escolas, nos museus, nas bibliotecas, nas praças e em outros espaços. Tudo isso tendo a mediação do professor desde a fase de planejamento, passando pelo desenvolvimento das atividades e de análise dos resultados obtidos juntos aos alunos.

cao/ v.br/uploads/publica http://portal.iphan.go io_15x21web.pdf inventariodopatrimon

Como identificar as referências culturais em trabalhos de Educação Patrimonial? Podemos listar as seguintes fases:

Uma das ferramentas disponíveis aos professores é o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) – metodologia utilizada pelo IPHAN em pesquisas de identificação de bens culturais em todo o Brasil, como no caso do(a): Frevo, Maracatus, Capoeira, Teatro de Bonecos, Matrizes do Samba. O Programa de Educação Patrimonial do Mais

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BRASIL, s/a. IPHAN, 2016.

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1)

O envolvimento da comunidade no processo de identificação. Nada se define sem a participação e a confirmação dos próprios praticantes dos bens e práticas culturais pesquisadas;

2)

A identificação do território a ser pesquisado, e que muitas vezes extrapola demarcações oficiais como os territórios indígenas e quilombolas, que podem estar situados em mais de um estado;


3)

A identificação das categorias que se dividem em lugares, objetos, celebrações, formas de expressão e saberes;

4)

A identificação e produção de documentos sobre o bem, com base em registros bibliográficos, documentais, iconográficos ou registros orais e audiovisuais. Com essa sistematização, é possível conhecer a dimensão histórica e socioeconômica do bem e as condições atuais que apresenta.

Um dos desafios da Educação Patrimonial é recusar a postura que a identifica como mera transmissão de informações e conteúdos relativos a manifestações culturais ou bens tombados. A aproximação com o cotidiano dos alunos possibilita que o conhecimento seja construído por eles e não somente transmitido pelo professor. É fundamental considerarmos o entendimento dos alunos sobre suas experiências e os auxiliar a construir uma 10 compreensão crítica e científica da realidade . Na escola, na fase de planejamento das ações de Educação Patrimonial, é importante definir os objetivos educacionais e os resultados pretendidos sobre os conteúdos ligados ao patrimônio cultural.

A Educação Patrimonial precisa reconhecer e garantir o protagonismo das comunidades locais detentoras de bens culturais e responsáveis por sua preservação e salvaguarda. Por isso, defendemos a importância de que toda ação educativa assegure a participação da comunidade nas etapas de formulação, implementação e execução de todas as atividades propostas.

Surge então a pergunta: como podemos trabalhar nas situações em que são realizadas atividades de campo? É importante refletirmos com os alunos sobre o Patrimônio Cultural antes da saída da escola. Isso porque essa preparação prévia faz parte de uma Educação do Olhar sobre o 11 patrimônio .

idas que lvaguarda as med Entende-se por sa ral do patrimônio cultu de da ili ab vi a ir nt visam gara çã o, a o a i d e nt i f i ca m co s i ta , l a i r i m at e ervação, a vestigação, a pres in a o, çã ta en m docu transmissão ão, a valorização, a proteção, a promoç rmal e o da educação fo ei m r po te en lm – essencia ônio em ação deste patrim liz ta vi re e al rm não-fo .) ctos (BRASIL, 2006 seus diversos aspe

Esse trabalho diz respeito à utilização de espaços e suportes da memória, no processo educativo, com o objetivo de desenvolver a

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CABRAL, 2012. AMORIM, 2004.


sensibilidade e a reflexão crítica dos estudantes acerca da importância da preservação e salvaguarda dos bens culturais, contribuindo para o exercício e 12 formação da cidadania .

Sabemos que restauradores precisam de conhecimentos sobre substâncias químicas e processos físicos capazes de desempenhar o procedimento mais adequado para restauro de papel, madeira, pintura sobre tela, pintura em parede, etc.

A Educação do Olhar permite ao aluno fazer uma leitura do patrimônio procurando entender seus significados. E na relação com os bens culturais, buscamos estabelecer uma troca de conhecimentos e valores, ao ampliar a visão do aluno, de maneira que o patrimônio seja significativo para ele, para 13 seus estudos e para os conteúdos escolares .

A Biologia fornece as bases para compreender os conhecimentos botânicos que povos e comunidades tradicionais utilizam no preparo de seus alimentos típicos e no preparo de medicamentos e tratamentos à base de ervas. No ensino da Língua Portuguesa, é possível trabalhar com gêneros textuais enfatizando as diferentes formas de poesia popular como literatura de cordel, cantigas de roda e outras formas de canções.

A grande dificuldade para muitos de nós professores é como trabalhar a Educação Patrimonial dentro do currículo. Essa dificuldade se torna ainda maior para professores de áreas disciplinares que, a princípio, parecem não ter tanta relação com os bens culturais. Essa ideia precisa ser desfeita uma vez que o Patrimônio Cultural, por sua natureza é transdisciplinar.

Álgebra, Trigonometria e Geometria podem ser utilizadas junto à leitura de plantas baixas, cortes de fachadas e projetos arquitetônicos.

Ao trabalhar com Educação Patrimonial, especialmente no contexto escolar, esta também podem ser trabalhadas dentro do conteúdo de disciplinas como Química, Biologia, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, e outras.

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Geografia é essencial para a elaboração de mapas com base na cartografia social, bem como para analisar as relações entre a sociedade e o território que se refletem na cultura, ou ainda para o conhecimento de sistemas geológicos dos parques arqueológicos.

ORIÁ, 1998. AMORIM, 2004.

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O QUE DIZ NOSSA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL?

Fluxos migratórios e culturas de fronteira compreendidos à luz das ciências sociais revelam como os povos capacitaram-se em determinadas técnicas e instrumentos que permitiram, por exemplo, as grandes construções e as interações culturais. Portanto, as possibilidades não se esgotam, uma vez que Patrimônio Cultural perpassa todos os conteúdos escolares.

Existem diversos dispositivos legais que tratam da importância da educação de forma mais ampla, contextualizada, plural, interdisciplinar e extracurricular. Assim, a Educação Patrimonial tornase uma ferramenta importante para o processo de ensino-aprendizagem e preservação dos bens históricos, artísticos, científicos, tecnológicos, arquitetônicos, dos saberes, das práticas e das celebrações. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação14 – LDB, no Artigo 3º, trata dos princípios a serem seguidos no ensino brasileiro e em seu Inciso X contempla a importância da experiência extracurricular como mote para o processo de ensino. A percepção da diversidade e da valorização dos bens culturais deve ser compreendida no processo educacional de forma integrada com a realidade e o contexto local do aluno; superando os muros da escola e criando um laço de afinidade, responsabilidade e participação entre estudantes e os bens culturais presentes na comunidade onde vivem.

Figuras 4 e 5: Ações de educação patrimonial com estudantes. Foto: Acervo Fundarpe.

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BRASIL. 1996.

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A LDB também define que o desenvolvimento dos currículos e dos sistemas de ensino devem considerar, obrigatoriamente, as características regionais e locais, da sociedade, da cultura e da economia dos estudantes.

No Brasil, temos inúmeros bens culturais de natureza material e imaterial reconhecidos oficialmente como Patrimônio Cultural por órgãos federais, estaduais e municipais ou celebrados pela população. A Cachoeira de Yuaretê (AM), o Círio de Nazaré (PA), as ruínas da Missão Jesuítica de São Miguel (RS), a cidade de Laguna (SC), a Pedra da Gávea (RJ), o Toque dos Sinos (MG), a Feira de Caruaru (PE), o Sítio Santo Antônio (SP), a Furna do Estrago (PE), o Centro Histórico de João Pessoa (PB), o portão do cemitério de Arês (RN), o ofício da viola-decocho (MT) e o Mercado São José (PE), todos esses são bens culturais brasileiros que guardam e relembram parte da nossa história e identidade tanto local como nacional. Reconhecer e valorizar as diferentes formas de manifestações e expressões é fundamental no processo de reconhecimento da identidade e no entendimento dos processos históricos que a formaram.

É possível dizer que uma das formas mais eficientes de se alcançar esses objetivos é através da Educação Patrimonial. Partindo da educação do olhar para reconhecer e valorizar os bens culturais locais (em suas mais variadas formas), pode-se levar os alunos a refletir criticamente sobre sua realidade e suas relações, sensibilizando-os a uma nova atitude para com o local em que vivem. A Educação Patrimonial pode contribuir desde o Ensino Fundamental – fase do ensino na qual se tem entre as finalidades o desenvolvimento da cidadania e do pensamento crítico – até o Ensino Médio, no qual o desenvolvimento e a percepção cultural estão ligados ao acesso à ciência, à tecnologia, contribuindo para formação do educando de maneira mais complexa e integral.

que não Professor, vamos lembrar de urais que são precisamos nos limitar aos bens cult o Estadual do titulados pelo IPHAN ou pelo Conselh l (CEPPC) em Preservação do Patrimônio Cultura nte do que a sua prática educativa. Mais importa gov ern o, é o cha nce la de um órg ão do entora do bem. reconhecimento da população det

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN's – tratam a transversalidade como a forma essencial no processo educativo, abordando questões importantes como a pluralidade cultural, tema de fundamental compreensão da diversidade etnocultural, possibilitando com que os alunos valorizem a trajetória dos diferentes grupos que compõem a sociedade brasileira.

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2. HISTÓRICO DO JOGO DO PATRIMÔNIO A valorização do brincar tem sido objeto de estudos e debates entre pesquisadores da Educação, da Psicologia e de outras áreas. Compreendemos que a educação lúdica contribui para “a formação de um ser humano ou de um cidadão saudável para si mesmo 16 e para a sua convivência com os outros, seja na vida privada ou pública” . O Jogo Pedagógico ou Didático é produzido com o objetivo de promover determinada aprendizagem e se diferencia de outro material didático por ter um caráter lúdico17. Nesse sentido, o jogo não é um fim em si mesmo, mas um meio para a aprendizagem de determinado conteúdo didático. Isso se constitui em um empréstimo 18 da ação lúdica para adquirir determinada aprendizagem . No planejamento das ações educativas e refletindo sobre a necessidade de produzir trabalhos colaborativos visando a preservação do Patrimônio Cultural, a equipe de Educação Patrimonial da Fundarpe desenvolveu, no ano de 2013, uma ferramenta didática e lúdica chamada Jogo do Patrimônio. Essa iniciativa fez parte dos planos de ação para as celebrações dos 40 anos da Fundarpe e consistiu num jogo de tabuleiro contendo um dado e 40 casas numeradas, sendo uma para cada ano de existência da Fundarpe19. Através do Jogo, objetivava-se mostrar aos estudantes que os bens materiais (tangíveis) e imateriais (intangíveis), que formam nosso patrimônio cultural, estão presentes no cotidiano e nas relações sociais, sensibilizando o público e contribuindo para percepção da corresponsabilidade no que diz respeito à preservação dos bens culturais.

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F LUCKESI, 2005, p.43. CUNHA, 1988. 18 KISHIMOTO, 1996. 19 GOUVEIA JUNIOR, 2015. 17

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A CONSTRUÇÃO DO JOGO DO PATRIMÔNIO (1ª VERSÃO)

estimulam os participantes a cantarem, dançarem ou representarem alguma música ou ação relacionada com o Patrimônio Cultural do Estado. Conta também com casas de avanço que representam boas práticas de preservação cultural e casas de retrocesso que representam ações que prejudicam o patrimônio cultural.

O tabuleiro (impresso em lona no tamanho 3,5m x 4,5m), totalizando uma área de 15,75 metros quadrados, no qual os alunos são os pinos do jogo, conta com vinte e quatro casas que representam alguns bens culturais materiais e Imateriais de Pernambuco. Além dessas, conta com casas de perguntas e casas de mostre o seu talento, as quais

Figura 6: imagem do primeiro tabuleiro do Jogo do Patrimônio Fonte: Fundarpe.

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Este jogo possibilita um estímulo a novas percepções sobre o Patrimônio Cultural do Estado. Os jogadores interagem uns com os outros, trocam informações e podem conhecer um pouco mais acerca do patrimônio pernambucano. As casas do jogo são representadas por alguns bens culturais materiais e imateriais do estado como: · · · · · ·

Figura 7: partida do Jogo do patrimônio em escola estadual. Foto: Acervo Fundarpe

Casa de Câmara de Brejo da Madre de Deus Convento de Santo Antônio de Sirinhaém Engenho Poço Comprido Feira de Caruaru Caretas de Triunfo Banda de Pífanos Coco de Roda e outros

Para saber mais sobre Patrimônios de Pernambuco, consulte nossa publicação Patrimônios de Pernambuco: materiais e imateriais disponível em: <http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/patrimoniocultural/acer vo/publicacoes-patrimonio-epreservacao-cultural/>

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Embora o jogo tenha sido inicialmente pensado para ser executado na rua, a prática da ação o direcionou para aplicação em salas de aula. A dinâmica do jogo acontecia da seguinte forma: a equipe da Fundarpe entrava em contato prévio com Escolas de Referência da rede estadual de ensino que ficava responsável pela seleção de uma turma de estudantes, a qual era dividida em dois grupos.

Esse jogo ligado à cultura pode facilitar estimulando a Arte numa perspectiva divertida [...] faz com que o aluno possa criar, recriar, onde os mesmos expressem seus sentimentos, suas emoções, formando suas ideias, tornando assim uma aula prazerosa com a participação ativa de todos.

No dia da realização da atividade, cada grupo de alunos escolhia um ou dois representantes para servirem de pinos e avançarem nas casas do jogo. Um estudante ficava responsável por jogar o dado e os demais por responder perguntas relacionadas com o patrimônio, de acordo com a casa em que o pino foi alocado. À medida que o jogo era realizado, o mediador fazia perguntas aos estudantes e esclarecia dúvidas sobre os bens culturais, levando a turma à reflexão sobre a importância de preservá-los.

Lindaci Maria Vieira Professora de Artes, Escola Municipal Alfredo Gomes de Araújo – Comunidade quilombola de Trigueiros – Vicência/PE.

O jogo apresentado aqui pela equipe da Fundarpe foi realizado de forma dinâmica e objetiva e dentro da nossa especificidade. As atividades foram aplicadas com êxito pela equipe da Escola Saturnino Vieira de Melo que adaptou a dinâmica do jogo por ter uma educação específica e diferenciada.

Ronaldo Siqueira Coordenador pedagógico, Escola Saturnino Vieira de Melo - Aldeia Kapinawá–Buíque/PE

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3. O JOGO DO PATRIMÔNIO 2.0 práticas, saberes e celebrações, bem como um mapa mental das construções materiais que representam a coletividade”. Essa nova versão foi chamada de Jogo do Patrimônio 2.0, em referência à web 2.0 quando passou a permitir a interação do usuário.

Após a realização do jogo do patrimônio em municípios da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão de Pernambuco, percebeu-se que embora a atividade tivesse alcançado seus objetivos, era necessário criar um novo formato de jogo. Isso porque, observamos que alunos de algumas comunidades do interior do estado, como por exemplo de comunidades quilombolas, não se identificavam ou não reconheciam todos os bens culturais presentes no tabuleiro.

Nesta nova versão do Jogo, ao invés de se aplicar uma lona com os bens culturais que foram selecionados anteriormente, os participantes decidem quais bens culturais de sua região estarão presentes e serão representados nas casas do tabuleiro. Por isso, a dinâmica do Jogo do Patrimônio 2.0 é um pouco diferente da primeira.

No lugar das casas do jogo com bens culturais tombados ou registrados pelo estado, optamos por trabalhar bens culturais que retratassem a diversidade dos municípios ou comunidades participantes da oficina. Dessa forma, além do incentivo à preservação do patrimônio local, a equipe passou a buscar a sensibilização para a valorização de identidades locais e de referências culturais da comunidade em questão.

o Jogo do conhecer agora Professor, vamos pensar como e começar a 0 2. io ôn im tr Pa ia em nossas r essa metodolog za ili ut os m de po ação Patrimonial. atividades de Educ

Então, foi criada uma nova versão do Jogo do Patrimônio que acontece de forma colaborativa e que é produzido juntamente com o público alvo envolvido, a partir de “um inventário de suas

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A CONSTRUÇÃO DO JOGO DO PATRIMÔNIO 2.0 (2ª VERSÃO) Finalmente, como é realizado o Jogo do Patrimônio 2.0? Como é montado? Quais etapas metodológicas a serem cumpridas? De que modo professores podem desenvolver essa ferramenta junto aos seus alunos? Essa versão do Jogo consiste basicamente em 5 etapas que serão detalhadas a seguir:

público, considerando a temática a ser trabalhada e o local onde será aplicado. Lembre-se professor, você é o mediador do processo.

3º Objetivo geral Sensibilizar os participantes para os conceitos da preservação do patrimônio cultural a partir da identificação e do reconhecimento dos valores simbólicos atribuídos aos bens culturais situados na própria comunidade dos participantes do jogo.

1º Tema O Jogo do Patrimônio 2.0 tem como tema principal os patrimônios culturais nas suas dimensões material, imaterial, arqueológico, natural e paisagístico, artístico, etc. Contudo, você verá que a metodologia pode ser aplicada aos diferentes conteúdos educacionais. Imagine, por exemplo, a literatura brasileira sendo debatida com ludicidade enquanto os alunos jogam com os nomes dos autores e principais obras literárias que marcam a história da literatura nacional.

4º Objetivos específicos · Apresentar os conceitos principais sobre as categorias de patrimônio cultural e suas formas de preservação e salvaguarda; · Produzir mapas mentais ou inventários participativos capazes de identificar os bens culturais dotados de valor simbólico para a comunidade participante do Jogo do Patrimônio 2.0;

2º Público-alvo

· Relacionar conteúdos culturais a situações cotidianas capazes de evidenciar as estratégias de preservação e salvaguarda de bens culturais;

Jovens de diferentes idades, adultos ou públicos diversificados. O Jogo se adequará ao

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· Usar da ludicidade como instrumento pedagógico para sensibilizar o público para os conceitos da preservação do patrimônio cultural a partir da identificação e do reconhecimento dos valores simbólicos atribuídos aos bens culturais situados na própria comunidade dos participantes do jogo.

5º Montagem do Jogo do Patrimônio 2.0 Essa fase é composta das seguintes etapas: a) Dinâmica Inicial; b) Elaboração de mapas mentais/ registro das informações; c) Confecção dos desenhos e dado; d) Jogabilidade, que serão explicadas a seguir. Antes, porém, seguem os materiais necessários para construção do Jogo...

Figuras 8 a 11: detalhes da produção do Jogo do Patrimônio 2.0 Foto: Acervo Fundarpe.

ios:

Materiais necessár

lão -Papel cartão/ pape - Tesoura la - Fita adesiva ou co - Barbante l similar - Cartolina ou pape mum - Caixa de lápis co cor/ lápis de cera - Caixa de lápis de - Caixa de hidrocor manho A4 - Folhas de papel ta

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Após esse momento, que dura em média 10 a 15 minutos, pede-se que o grupo fique em pé e forme um círculo e que aos poucos as duplas ou trios apresentem aos demais o que entendem sobre o conceito. A ideia nesse momento é que os estudantes se apresentem como se eles mesmos fossem o conceito. Por exemplo, ao receber o conceito de Cultura, é sugerido que o estudante comece sua fala dizendo: “Eu sou a cultura. Ela está presente nos mais diversos lugares e se expressa das mais variadas formas...”.

a) Dinâmica de grupo Antes da elaboração propriamente dita do Jogo do Patrimônio 2.0, procura-se dialogar e refletir com o grupo sobre alguns conceitos que se relacionam com patrimônio cultural, tais como: história, tempo, cultura, memória, identidade, lugar, diversidade, sentimento dentre outros. Essa primeira etapa consiste principalmente em conhecer quais os conhecimentos prévios os estudantes possuem sobre o assunto para então aprofundá-los. É, talvez, a fase mais importante pois é a partir dela que todo o jogo irá se estruturar. Os temas e a forma de conduzir poderão e deverão variar de acordo com cada grupo e também com os objetivos que o professor deseja alcançar.

À medida que os pequenos grupos apresentam seu conceito, é solicitado que eles liguem seu conceito a outro do círculo através de um barbante. Desse modo, ao final, da dinâmica é traçada uma teia conforme a imagem a seguir:

Uma das estratégias utilizadas pelos técnicos do setor de Educação Patrimonial da Fundarpe tem sido uma dinâmica de grupo denominada 'Dinâmica da teia'. Essa atividade consiste em entregar a cada dupla22 ou trio de estudantes uma placa no tamanho de uma folha A423 com um conceito a ser trabalhado. Em seguida, solicita-se que os participantes conversem entre si sobre o conceito e façam algumas anotações sobre o que sabem e o que pensam a respeito.

Figura 12: Dinâmica da Teia. Foto: Josivan Rodrigues.

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Esse número depende do tamanho do grupo. Apenas recomenda-se que não se forme grupos grandes pois dificulta a interação dos alunos. Nas experiências das ações da Equipe Fundarpe, 3 é o número máximo. 23

O tamanho do papel pode variar. É importante apenas que o conceito esteja escrito em tamanho legível para que todos do grupo possam ler à distância.

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b) Elaboração de mapa mental/registro de informações Após a introdução sobre os conceitos ligados ao patrimônio cultural, vem o segundo momento da construção do jogo com a elaboração do mapa mental. Os mapas mentais24 são uma espécie de diagrama elaborado com o objetivo de representar ideais, tarefas ou outros conceitos relacionados com uma palavra-chave ou uma ideia central, de modo que as informações relacionadas entre si são irradiadas em torno da palavra central.

Figura 13: dinâmica da Teia. Foto: Josivan Rodrigues.

A proposta é que durante toda a dinâmica, o professor estimule o grupo a falar e faça breves considerações auxiliando-os na definição de cada conceito e principalmente relacionando com a realidade local. É importante lembrar que essa dinâmica é apenas uma sugestão dentre outras que os professores possam trabalhar em sala de aula a depender dos recursos e do tempo que dispõem. Para a realização de toda a dinâmica, estima-se um tempo aproximado de 40 minutos, o que dependerá da quantidade de participantes e do grau de interação do grupo.

Utilizando essa técnica, escolhe-se uma 25 palavra central que pode ser a palavra 'Patrimônio' e em seguida estimula-se o grupo a pensar quais são os bens culturais materiais e imateriais (tombados/ registrados ou não) presentes na sua comunidade.

Nesse momento inicial, também pode ser feito um trabalho utilizando vídeos, músicas e imagens que despertem a curiosidade sobre o assunto e esclareçam sobre bens culturais materiais e imateriais. Figura 14: apresentação do mapa mental numa oficina com professores da rede estadual. Foto: Jan Ribeiro. 24

A técnica deste tipo de mapa foi desenvolvida pelo britânico Tony Buzan.

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Nesse momento, o professor auxilia o grupo na escrita dos bens numa cartolina, em etiquetas adesivas ou outro material que for conveniente. Ao final do mapa, além do exercício de estabelecer relações entre os bens citados, temos um pequeno inventário do patrimônio que foi identificado e reconhecido pelos participantes.

Figuras 15: detalhes da produção de mapa mental. Foto: Acervo Fundarpe

Figura 16: detalhes da produção de mapa mental. Foto: Jan Ribeiro

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O grupo pode escolher outro conceito ou mesmo um determinado bem cultural que seja considerado muito importante. A escolha também vai depender dos objetivos que se deseja alcançar com o Jogo. Pode-se, por exemplo, querer trabalhar um bem específico ou um conceito em particular. Professor, lembre-se de que você é o mediador do processo.

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Para saber mais sobre elaboração de Mapas Mentais, consultar: http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/ano7-edicao3/2.pdf http://www.maisaprendizagem.com.br/como-fazer-mapas-mentais/ http://esquemaria.com.br/mapas-mentais/ https://www.goconqr.com/pt-BR/mapas-mentais/

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Não há um limite de quantidade de casas, mas quanto maior a quantidade de desenhos, mais longo será o tabuleiro. É interessante sugerir que os desenhos sejam feitos pelo menos em duplas a fim de promover maior interação entre os participantes e uma perspectiva mais ampla do bem cultural representado. Além dos desenhos dos bens culturais, é solicitado que sejam feitos desenhos das casas de partida e de chegada do tabuleiro, conforme imagens abaixo:

c) Confecção dos desenhos e do dado Após a realização do mapa mental, o grupo é estimulado a representar por meio de desenhos numa folha de papel A4, os bens culturais citados na etapa anterior. A ideia é que cada folha contenha apenas um desenho com o nome do bem na parte inferior. Esses desenhos irão compor as casas do tabuleiro do jogo. Além do papel, são fornecidas caixas de lápis comum e lápis de cor para confecção das casas.

Figuras 19 e 20: exemplos de desenhos para o jogo. Foto: Acervo Fundarpe.

Figuras 17 e 18: confecção de desenhos para o jogo. Fotos: Jan Ribeiro.

Também é solicitado que sejam feitos desenhos correspondentes às casas de avanço e de recuo do jogo. As primeiras correspondem às atitudes de preservação do patrimônio, enquanto as de recuo às ações que prejudicam a preservação dos bens. Podemos observar alguns exemplos a seguir:

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É possível criar também casas específicas para a realidade local. É permitido elaborar também casas representando datas comemorativas (mesmo que não seja uma festa, pois neste caso já faria parte dos bens culturais). Um exemplo é o dia 17 de agosto quando é celebrado o Dia Nacional do Patrimônio Histórico. Enfim, a liberdade e a criatividade é que vão direcionar a condução e criação do jogo. Lembrese sempre, professor, que esta é uma atividade lúdica e colaborativa onde os participantes devem ser sempre estimulados a deixar suas ideias fluírem e compartilhar seus sentimentos.

Figuras 21 e 22: exemplos de desenhos para o jogo. Foto: Acervo Fundarpe.

Antes de começar a jogar, também será preciso confeccionar um dado ou roleta para poder avançar nas casas do tabuleiro. Eles podem ser feitos com papelão, papel cartão ou outros materiais que sejam mais apropriados. Caso o professor não disponha de muito tempo para a realização da atividade, poderá levar esse material pronto para a sala de aula. Abaixo seguem alguns modelos:

Por fim, são realizados desenhos com a inscrição “mostre seu talento”. A ideia é promover um momento de descontração e também conhecer melhor o grupo. Ao parar nessa casa do jogo, o participante poderá declamar um poema, cantar, dançar, de preferência usando o tema do patrimônio como motivação.

Figuras 24 e 25: modelos de dado. Fonte (respectivamente: <http://www.casadaeducacao.com.br/esp umado--dado-de-pontos-30-x-30-x-30-cm.2856.html>. e <http://papeis.blogs.sapo.pt/2009/05/09/> Acesso em 04.05.17.

Figura 23: exemplo de desenho para o jogo. Foto: Acervo Fundarpe.

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Ao final dessa fase, os desenhos são espalhados pelo chão e colados com fita adesiva formando um caminho, onde o jogo será praticado de modo similar ao tabuleiro inicialmente apresentado na primeira versão do Jogo do Patrimônio. Essa é a hora em que a brincadeira começa!

Um estudante fica responsável por jogar o dado e o restante do grupo deve ajudar a responder perguntas relacionadas com o patrimônio, de acordo com a casa em que o pino foi alocado. À medida que o jogo for realizado, sugere-se que o professor faça perguntas aos estudantes e esclareça dúvidas sobre os bens culturais, levando a turma à reflexão sobre a importância de preservá-los. Ganha o grupo que finalizar primeiro o percurso. As perguntas feitas sobre os bens culturais podem ser elaboradas durante o jogo pelo professor. Caso o professor deseje realizar o Jogo em outras aulas, poderá elaborar outras perguntas previamente e escrevê-las em formas de pequenas fichas a serem lidas no momento da brincadeira. Lembrando que por ser uma atividade que busca a interdisciplinaridade, você, professor, poderá inseri-la em outras atividades num projeto com professores de outras disciplinas por exemplo.

Figura 26: Formação do caminho de jogo com os desenhos produzidos durante oficina do Jogo do Patrimônio 2.0 com professores da rede estadual. Foto: Jan Ribeiro.

É importante destacar ainda que o tempo para confecção e realização do jogo é de em torno de 3 horas, além dos 40 minutos da dinâmica que introduz as atividades. Por isso, o professor precisará distribuir esse tempo nas aulas que ele dispor para o desenvolvimento da atividade.

d) Jogabilidade Do mesmo modo que na primeira versão do Jogo, é recomendado que o professor divida a turma em dois grupos e peça para cada grupo escolha um representante para jogar, os quais servirão de pinos e avançarão nas casas do jogo.

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4. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS CASA DO PATRIMÔNIO DE IGARASSU Um dos locais que recebeu a experiência do Jogo do Patrimônio 2.0 foi a Casa do Patrimônio do Iphan do município de Igarassu/PE. A ação aconteceu através de uma parceria entre o Iphan e a Fundarpe em junho de 2015. Contou com a participação de jovens da ONG Ponto Cidadão durante a manhã e alunos Escola de Música e da Banda Heitor Villa Lobos no período da tarde, além de crianças moradoras do Sítio Histórico de Igarassu.

Figura 28: formação do caminho do Jogo do Patrimônio na Casa do Patrimônio do Iphan em Igarassu/PE, 2015. Foto: Fernando Melo.

Em agosto de 2015, foi produzido um tabuleiro gigante em lona impressa para o Jogo do Patrimônio 2.0 de Igarassu a partir dos desenhos produzidos na oficina. O jogo foi incorporado ao roteiro de visita da exposição Preservar Igarassu – lançada durante a VIII Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco – proporcionando aos visitantes a possibilidade de interagir de forma lúdica com o patrimônio cultural da cidade.

Figura 27: Oficina de construção do Jogo do Patrimônio na Casa do Patrimônio do Iphan em Igarassu/PE, 2015. Foto: Fernando Melo.

Figura 29: Jogo do Patrimônio 2.0 desenvolvido após oficina realizada na Casa do Patrimônio de Igarassu/PE.

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Aqui na cidade de Igarassu, utilizamos o Jogo do Patrimônio como uma ferramenta de promoção do patrimônio cultural da cidade. O jogo foi muito bem aceito pelos alunos do Ensino Médio, contribuindo com o processo de aprendizagem. Com essa experiência, passamos a criar um grupo de estudantes trabalhando Educação Patrimonial.

Fernando Melo Professor de História da Escola de Referência João Pessoa Guerrra - Igarassu/PE

Figuras 30, 31 e 32: Estudantes da EREM João Pessoa Guerrra na Casa do Patrimônio de Igarassu/PE. Fotos: igarassupatrimoniodepernambuco.blogspot.com.br

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FORMAÇÃO PARA PROFESSORES QUILOMBOLAS E INDÍGENAS

A formação procurou apresentar e refletir com professores de algumas comunidades quilombolas e indígenas do Estado conceitos-chave da área de preservação cultural e ainda ferramentas para a realização de ações que considerem as referências e os patrimônios culturais locais, a exemplo dos inventários participativos, dos mapas mentais e do Jogo do Patrimônio 2.0.

A iniciativa fez parte das ações de formação executadas pela Gerência de Preservação Cultural – GPCult/Fundarpe (Coordenação de Educação Patrimonial e Coordenação de Patrimônio Imaterial) e da Coordenação para Povos Tradicionais e Comunidades Rurais da SecultPE.

No ano de 2016, foram realizadas formações com professores das comunidades quilombolas de Trigueiros – Vicência/PE e de Engenho Siqueira – Rio Formoso/PE e com docentes do Povo Kapinawá na Aldeia Malhador – Buíque /PE.

Figura 33: Formação realizada para professores no Quilombo de Trigueiros – Vicência/PE em julho de 2016. Foto: Acervo Fundarpe. Figura 34 Formação realizada para professores no Quilombo de Engenho Siqueira – Rio Formoso/PE. Foto: Acervo Fundarpe.

Figura 35: Técnicos da Fundarpe e professores indígenas participantes da formação realizada na Escola Saturnino Vieira de Melo – Aldeia Kapinawá–Buíque/PE em agosto de 2016. Foto Acervo Fundarpe.

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Nossa experiência com a aplicação do jogo do patrimônio foi muito positiva. Os alunos se divertiram e todos participaram ativamente, inclusive aqueles alunos mais tímidos, movidos pelo clima de competição. Outro fato que comprovamos é que o jogo do patrimônio pode ser aplicado em qualquer disciplina e nos diversos níveis.

Como professora de matemática, o jogo contribui bastante para a troca de experiência e conhecimentos entre educador e educando, pois nenhum aluno chega zerado de conhecimentos na escola. A partir daí o jogo contribuiu para trabalhar unidades de medida, percurso, área, perímetro, estatística, probabilidade, localização dentre outros conteúdos.

Josivan Batista Alves Edriane Cruz Barbosa de Melo

Professor de História da Escola Municipal Alfredo Gomes de Araújo – Comunidade quilombola de Trigueiros – Vicência/PE

Professora de Matemática, Escola Municipal Alfredo Gomes de Araújo – Comunidade quilombola de Trigueiros – Vicência/PE

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SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Considerando que todos os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente, realizamos o Seminário de Educação Patrimonial em 2016, dentro das ações da IX Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco. A iniciativa consistiu num espaço para discussão e troca de conhecimentos entre professores da Rede Estadual de Educação sobre a relação entre Educação Patrimonial e Participação Social. O evento aconteceu no Ginásio Pernambucano e contou com a presença de 80 educadores, sendo uma das ações mais exitosas promovidas pela Fundarpe naquele ano.

Figuras 36 e 37: Socialização da experiência do Jogo do Patrimônio com professores, durante o Seminário de Educação Patrimonial realizado em agosto de 2016 Fotos: Jan Ribeiro.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Jogo do Patrimônio 2.0, para além de consistir em mais uma ação governamental, passa a ser uma ação de construção coletiva que envolve os participantes na preservação cultural. Além da importância para a preservação, o Jogo, enquanto uma atividade lúdica e colaborativa, contribui para a formação de cidadãos críticos e autônomos na perspectiva de uma educação do olhar sobre o patrimônio (ORIÁ, 1998) e de uma educação libertadora (FREIRE, 2002).

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REFERÊNCIAS AMORIM, Alexandre R. Alves de. Educação Patrimonial e Patrimônio: as representações sociais do professor de História do Ensino Fundamental, da 5ª à 8ª série, das redes municipais do Recife e do Cabo de Santo Agostinho. 2004. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Educação Patrimonial. Programa Mais Educação. Ministério da Educação, s/a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downloa d&alias=10290-mais-educacao-web-14-02-2012-pdf&category_slug=marco2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 16.05.17. BRASIL. DECRETO Nº 6.177 DE 1º DE AGOSTO DE 2007. Promulga a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada em Paris, em 20 de outubro de 2005. BRASIL. Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. CABRAL, Magaly. Educação Patrimonial x Educação Museal? In: TOLENTINO, Átila Bezerra (Org.). Educação patrimonial: reflexões e práticas. João Pessoa: Superintendência no Iphan na Paraíba, 2012, pp. 38 - 43. CUNHA, N. Brinquedo, desafio e descoberta. Rio de Janeiro: FAE. 1988. FLORÊNCIO, Sônia Rampim; CLEROT, Pedro; BEZERRA, Juliana; RAMASSOTE, Rodrigo. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília, DF: Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc, 2014.

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_________. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília, D F : I p h a n / DA F/ C o ge d i p / C e d u c , 2 0 1 4 . Tex to d i s p o n í ve l e m : <http://www.iphan.gov.br/baixaFcdAnexo.do?id=4240>. Acesso em: 02.04.17. FONSECA, Maria Cecília Londres. Referências Culturais: base para novas políticas de patrimônio. Rio de Janeiro: Repositório do Conhecimento do IPEA, 2003. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/4775>. Acesso em 25.04.17. IPHAN. Educação Patrimonial: inventários participativos. Manual de aplicação. Brasília/DF, 2016. GOUVEIA JUNIOR, Mário. Uma folksonomia do patrimônio cultural de Pernambuco: o jogo do patrimônio 2.0 e a desejada jogabilidade em meio digital. Recife, 2015. HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial. Brasília,1999. KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez, São Paulo, 1996. LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção de neuroses futuras: uma proposta pedagógica a partir da Biossíntese, 2005. Disponível em: <http://www.luckesi.com.br/artigoseducacaoludicidade.htm>. Acesso em: 05.03.17. ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de história. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998.

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