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As experiências de fé vividas pelas crianças
Ser catequista é um grande presente de Deus. Poder fazer experiência de seu imenso amor sempre que partilhamos as coisas de Deus com os catequizandos que nos são confi ados, é sempre uma oportunidade de provar a delicadeza do amor d’Aquele que nos criou.
O Salmo diz que o perfeito louvor é dado pelos lábios dos mais pequeninos (Sl 8). É com esse louvor que nos encontramos na experiência dos encontros de Catequese. As crianças, adolescentes, jovens e famílias que acorrem à Catequese não são tábuas rasas. Elas chegam já com suas experiências e vivências próprias da fé que vêm de casa, que é transmitida pelas gerações e é guardada na simplicidade.
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Quando chegam aos encontros de Catequese essa fé trazida de casa se encontra com os demais e todos são iluminados pela fé da Igreja que, por sua vez, ilumina e direciona as reflexões através do catequista. Este conduz e aprende junto no encontro de Catequese.
Gostaríamos de compartilhar algumas reflexões trazidas pelas crianças dos primeiros anos da Catequese de uma das turmas que acompanhamos nos últimos anos.
Em uma ocasião, refletindo com as crianças sobre os patriarcas, chegamos à história de Abraão, nosso pai na fé. Como bem sabemos Abraão e Sara eram um matrimônio estéril, e sofriam por isso. Quando Deus chama Abraão faz a promessa da descendência numerosa (Gn 15,5), mesmo sem o casal confiar, a promessa se cumpre como bem sabemos.
Na ocasião desse encontro de Catequese havíamos celebrado há pouco a Semana Santa e a Páscoa, e explicávamos a simbologia dos dias da Semana Santa, mais especifi camente sobre a bonita Vigília Pascal na noite do Sábado Santo. Então que fomos surpreendidos com a reflexão de uma das crianças:
“Então quer dizer que aquelas velas acesas no Círio Pascal, que a gente entra na igreja enquanto as luzes estão apagadas, somente iluminados pelas luzes das nossas velas, representam a promessa que Deus fez a Abraão: as nossas velas acessas na Igreja são as estrelas do céu e em todas as igrejas do mundo acontecendo o mesmo são os numerosos fi lhos de Abraão”.
Quando escutamos semelhante reflexão, de uma criança de 9 anos, nossos corações arderam de emoção, pois nesse instante era a fé de seu coração, que recebeu de sua família, iluminada pela graça falando para o grupo de amigos da Catequese.
Em uma outra ocasião, já preparando para a primeira confissão, en- quanto falávamos da consciência e da reflexão que somente nós podemos fazer, sobre os erros que cometemos uns com os outros, uma das crianças sentia muita dificuldade de entender. Foi então que um colega começou a explicar: “Se seu cachorro começa a brincar com a sua bola e rasga, ele não sabe o que está fazendo, não é capaz de entender o que está fazendo, pois é um animal sem razão, está seguindo seus instintos e brincando. Já se sua irmã brincando com sua bola por pirraça rasga, ela está fazendo com intenção e se se arrepende pode pedir perdão, e então vocês voltam à paz”.
A maturidade das crianças às vezes nos surpreende. Muitas vezes parecem tão imaturas, inseguras de si mesmas, e no momento seguinte nos surpreendem com uma maturidade acima da média, deixando claro que é Deus que trabalha através da família, através dos catequistas e da comunidade.
Catequese
Na ocasião das confi ssões, cabe recordar que era a primeira confi ssão de todos da turma, e também fomos surpreendidos pela seriedade com que viveram o momento. A ansiedade é bastante comum ainda para nós quando nos acostamos ao Sacramento da Penitência, imagine para as crianças na primeira ocasião que examinam suas consciências e se sentam para a confi ssão. Entretanto, de acordo com o pároco, fi zeram ótimas confi ssões, mais demoradas que dos adultos, demonstrando uma séria refl exão e sentido de suas ações, e ainda grande amor pela Eucaristia.
Já durante o recesso da Catequese fomos procurados por uma mãe que contou uma anedota de uma das crianças. Afanada entre os afazeres de casa, a mãe pediu ajuda do fi lho que como uma criança normal tentou se esquivar e saiu correndo. Difi cilmente a mãe acata passivamente uma negativa dessas, e quase sempre o chinelo ganha “propriedades voadoras”, e assim sucedeu, porém sem sucesso, pois o chinelo caiu antes. Contudo o menino escorregou e caiu. Foi então que a mãe altivamente disse: “Tá vendo? Deus castiga”! Prontamente a criança se levantou, e esquecendo-se da dor do tombo respondeu à provocação da mãe: “Deus não castiga, aprendemos na Catequese que Deus nunca castiga”. A mãe fi cou sem ação, pois estava preparada para repreender o fi lho, mas a resposta do fi lho a desconsertou.
“Muitas vezes (as crianças) parecem tão imaturas, inseguras de si mesmas, e no momento seguinte nos surpreendem com uma maturidade acima da média, deixando claro que é Deus que trabalha através da família, através dos catequistas e da comunidade”.
Essas situações relatadas são uma amostra do que acontece em nossos encontros de Catequese e, certamente, se repetem em muitos encontros pelo mundo todo. As diferentes experiências de fé nos trazem para a mesma experiência de Jesus Ressuscitado, que nos alimenta através da Palavra e da Eucaristia.
Estamos iniciando um novo ano de Catequese. Esperemos que essas experiências se repitam e venham novas, pois Deus sempre nos surpreende.
Encerramos essa nossa contribuição com o canto do Salmo: “Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus. Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos” (Sl 8,2-3).