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Dez anos do pontificado do Papa
Francisco e a Economia de Francisco
Este ano comemoramos dez anos do Pontificado do Papa Francisco. Neste texto celebrativo iremos conferir que suas intuições a respeito da Economia não “vieram do nada”, mas são fruto de uma longa caminhada existencial, fruto de sua biografia, e de sua sensibilidade para escutar as realidades vigentes que esmolam: cuidado, acolhida, discernimento e misericórdia.
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Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires no dia 17 de dezembro de 1936 no bairro das Flores. Seus pais eram de origem ítalo-portenha, filhos de imigrantes italianos que chegaram à Argentina no final da década de 20. Seu pai, Mario Bergoglio trabalhava na ferroviária como contabilista e sua mãe, Regina Maria Sivori cuidava da casa dando uma atenção especial à educação dos filhos, que por sinal eram cinco: Jorge Mario Bergoglio (o mais velho) Oscar Adrián, Marta Regina, Alberto Horacio e Maria Elena. Aos 21 anos de idade ingressou no Seminário Diocesano de Buenos Aires em Villa Devoto. Neste mesmo ano (1957) teve uma enfermidade muito forte (pneumonia) o que acarretou a retirada parcial de seu pulmão direito. No ano seguinte (1958) decidiu entrar na Companhia de Jesus, isso porque dentro de si sempre buscava “algo mais (...), mas não sabia o quê”1 e foi então, que nos jesuítas três aspectos o chamaram atenção, tanto que carrega consigo até hoje: ‘o espírito missionário, a comunidade e a disciplina’. Estes aspectos podem ser observados nas ações e nas palavras de Bergoglio até hoje como bispo de Roma.
Nesta brevíssima biografia, vale a pena destacar que sobre a sua própria identidade, o Bispo de Roma afirmou serenamente após um breve instante de silêncio: “Eu sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, um gênero literário. Sou um pecador”. O Pontífi ce ainda complementa: “Sou um pecador para quem o Senhor olhou. O meu brasão episcopal, Miserando atque eligendo (Eleito pela Misericórdia), senti-a sempre como muito verdadeira em mim” (Francisco, L´Osservatore Romano, 2013).
Sua Humilde Trajet Ria
No dia 20 de maio de 1992, o Papa São João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. D. Jorge Mario Bergoglio foi nomeado vigário episcopal na região de sua terra natal (Flores) e logo em seguida (21 de dezembro de 1993) tornou-se vigário-geral da Arquidiocese de Buenos Aires. Após quatro anos virou arcebispo coadjutor na mesma Arquidiocese, assumindo-a em 28 de fevereiro de 1998, e no dia 21 de fevereiro de 2001, o Papa o fez cardeal, nesta ocasião D.
Bergoglio pediu “aos fiéis não irem a Roma festejar a púrpura, mas destinar aos pobres o dinheiro da viagem”.
Na biografia oficial de Francisco no site do Vaticano, diz que ele foi um “pastor simples e muito amado na sua diocese”, que a conheceu nos mínimos detalhes “viajando também de metrô e carro, durante quinze anos de seu ministério episcopal”2 . No exercício do ministério episcopal recomendou muitas vezes aos padres argentinos “misericórdia (sempre), coragem apostólica e portas abertas a todos”. A simplicidade é uma característica muito peculiar em Jorge Mario Bergoglio, ele mesmo dizia muitas vezes “o meu povo é pobre e eu sou um deles”; assim, justificava sua escolha de morar em um pequeno apartamento e preparar sua própria comida na capital da Argentina.
Há 10 anos atrás, no dia 13 de março de 2013, um dia após o início do Conclave, ele foi eleito para ocupar a cátedra de São Pedro. Jorge Mario Bergoglio (77 anos de Idade), portanto, é o 266º Papa da Igreja Católica Latina e escolheu para si o nome de Franciscus (Francisco). Ele foi o primeiro Papa: da América Latina (Argentina), Jesuíta e a utilizar o nome Francisco.
O papa justificou a escolha do nome Francisco como inspiração para seu pontificado, quando após as votações caírem sobre ele o seu amigo, cardeal franciscano brasileiro D. Claudio Hummes (em memória), disse: “Não se esqueça dos pobres”, Bergoglio então pensou estamos vivendo tempos de guerras, e Francisco é um homem da
Paz; pobres, como precisamos de uma Igreja Pobre e para os pobres; por fim, Francisco é um homem que cuidou da Criação, vivemos tempos de devastação e destruição. Assim, o nome do Pobrezinho de Assis, pela primeira vez na história da Igreja Católica inspirou um bispo de Roma.
Programa Misericordioso De Governo
Olhando pelo retrovisor da história, cheios de gratidão ao caminho percorrido, o Pontificado do Papa Francisco foi marcado por reformas profundas e iniciativas revolucionárias que proporcionaram um frescor novo para a vivência do Evangelho na atualidade. Para envolver os cristãos todos num novo impulso missionário buscou a proximidade, o diálogo, o encontro, alegria, acolhimento, acompanhamento, integração, escuta caritativa por meio de assembleias, sínodos, participação e comunhão. Sobriedade, frugalidade, austeridade e solidariedade são palavras que expressam o “programa misericordioso de governo” escrito pelo Pontífice na Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho). Como um guia programático, neste documento estão as sementes que hoje começamos a colher enquanto brotos de uma nova evangelização. A conversão missionária da Igreja em saída, samaritana, conversão pastoral e reforma das estruturas, como por exemplo, a revisão geral da Cúria Romana, através da criação do Conselho de Cardeais, a participação de seis mulheres no Conselho Econômico (duas britânicas, duas espanholas e duas alemãs), também a presença de mulheres no alto escalão da Igreja Católica, lugar sempre ocupados por homens, uma como vice-ministra das relações internacionais, outra como diretora dos museus vaticanos, vice-diretora as Sala de Imprensa da Santa Sé, Ir. Raffaella Petrini, vice-governadora da Cidade do Vaticano, e Nathalie Becquart que será subsecretária do próximo Sínodo, com direito a voto.
As mudanças intra eclesiais foram e estão sendo muitas e fortíssimas, desde o “pente fino” contra toda e qualquer possibilidade de corrupção no Banco do Vaticano (Instituto de Obras de Religião – IOR), aumento do controle financeiro até as mudanças de estatuto do IOR e dos colaboradores, incluindo cardeais (Cf. Intra : Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro, 2018).
“Há dez anos, portanto, o Papa Francisco vem provocando os cristãos e as pessoas de boa vontade a cuidarem da casa comum, viverem uma cultura do encontro, diálogo, da Paz e não se deixarem guiar pela Cultura do Descartável, fruto da globalização da indiferença, que gera uma economia da exclusão, que mata e destrói a criação de Deus. Desde seus posicionamentos, gestos, escritos, discursos e até convocações de sínodos, cada passo é pleno de sentido para uma conversão do nosso estilo de vida, e para mudanças estruturais”.
Provoca Es
Há dez anos, portanto, o Papa Francisco vem provocando os cristãos e as pessoas de boa vontade a cuidarem da casa comum, viverem uma cultura do encontro, diálogo, da Paz e não se deixarem guiar pela Cultura do Descartável, fruto da globalização da indiferença, que gera uma economia da exclusão, que mata e destrói a criação de Deus. Desde seus posicionamentos, gestos, escritos, discursos e até convocações de sínodos, cada passo é pleno de sentido para uma conversão do nosso estilo de vida, e para mudanças estruturais. Em 2013, quando exortou o mundo inteiro para não perder o dom das lágrimas diante do sofrimento dos mais frágeis (na Ilha de Lampedusa), ali já denunciava que a Economia da Exclusão gera indiferenças e mortes.
Depois em forma de escrita, dos números 52 a 60 da Evangelii Gaudium descreve que o dinheiro deve servir e não governar, e as consequências da idolatria do dinheiro e o consumismo desenfreado. Em 2014 foi recebido pelos Movimentos Populares mundiais na Bolívia, e cunhou a expressão Terra, Teto e Trabalho.
Nos anos que seguiram o Papa convida o mundo inteiro a “reconstruir nossa casa comum”, com urgência e inteligência, pois “tudo está interligado” (carta Laudato si´: sobre o cuidado da casa comum).
Dentro da dimensão social da fé que visa um agir global e local no mundo o Papa Francisco também chamou atenção aos processos que devemos iniciar para criar um Sociedade mais justa, fraterna e solidária, carta Fratelii Tutti: sobre a Fraternidade e Amizade Social. Nos sínodos que convocou sempre havia uma preocupação especial à questão econômica, seja na Família, nas Juventudes, no Pan-amazônico e agora sobre a Igreja Sinodal.
Por fim, após uma década servindo a Igreja através do Ministério Petrino, como bispo de Roma, o cardeal Bergoglio, Papa Francisco, jesuíta e latino-americano oferece ao mundo inteiro um novo jeito de governança que resgata e atualiza os ensinamentos do Concílio Vaticano II sob a ótica da América Latina, abrindo assim um novo horizonte de possibilidades e contribuições advindas das periferias existenciais e geográficas.
Desta forma, foi e está sendo através dos processos que Francisco têm iniciado dentro e fora da Igreja que surgiu (brotou) a Economia de Francisco, uma rede global de jovens e adultos empenhados em Educar para Novas Economias, mais solidárias, justas, fraternas, que cuida da criação e não a devasta, colocando a vida no centro e não o lucro, onde o dinheiro deve servir e não governar, e principalmente onde os pobres são colocados no centro para decidirem juntos, gerando riquezas sim, mas não esquecendo de as partilhar em favor do bem comum.
Ana Carolina Alves e Augusto Martins
Equipe Educação
Financeira para a Vida