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O Tríduo Pascal como meta na caminhada quaresmal
Na conclusão da Quaresma, os fiéis celebrarão a Páscoa, e o Tríduo Pascal é essa direção para a qual caminham os católicos. Como uma forma de contribuir para que as comunidades estejam mais preparadas para celebrar este tempo tão importante para a Igreja, que é o Tempo Pascal, a Pastoral Litúrgica da Diocese de Toledo reuniu coordenadores paroquiais e Ministros Auxiliares da Comunidade (MAC) em torno do tema “A Mistagogia do Tríduo Pascal”. O tema foi abordado pelo mestre em Teologia, Arnaldo Temochko, que também é especialista em Música Ritual e pós-graduando em Liturgia, da Arquidiocese de Curitiba. Arnaldo tem contribuído na assessoria de muitos encontros da Pastoral Litúrgica e nesta edição da Revista Cristo Rei, apresenta sua reflexão acerca do tema proposto no encontro diocesano.
Revista Cristo Rei – É para o Tríduo Pascal que os católicos se direcionam nesta Quaresma. Qual é a tônica na compreensão desse momento?
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Arnaldo – O Tríduo Pascal é o coração do Ano Litúrgico e está no coração da nossa fé. Por isso que vem esse tempo de preparação com a Quaresma e depois um tempo de prolongamento que é o Tempo Pascal. A Quaresma, o Tríduo e o Tempo Pascal formam o que chamamos de Ciclo da Páscoa. Por isso, a mistago-
Pe. Sérgio fez a acolhida aos participantes e direcionou a programação gia faz com que tenhamos condições de mergulhar nessas celebrações. E aliás, a mistagogia é isso: é pela celebração que entramos no mistério que celebramos. No coração da oração Eucaristia temos a narrativa da Última Ceia. Quando no final o padre diz “mistério da fé”, a Assembleia responde uma Confissão de Fé: “Anunciamos a tua Morte e proclamamos a tua ressurreição. Vinde Senhor, Jesus (até que Ele volte)”. Esse é o mistério central da nossa fé. Tudo na nossa fé é conduz para celebração desse mistério; todos os Sacramentos, todos os sacramentais e a Eucaristia que é o memorial supremo desse mistério.
RCR – A própria espiritualidade dá esse direcionamento. Alguns elementos favorecem essa cami- nhada. O que considera importante?
Arnaldo – Os elementos dessas celebrações são diversos. Mas poderíamos falar da escuta da Palavra que é um elemento central em todas as celebrações litúrgicas da Igreja, mas sobretudo nessas celebrações do Tríduo Pascal. As leituras da Quinta-feira Santa, por exemplo, narram a primeira Páscoa, o lava pés – que no Evangelho de João também é um sinal da própria Eucaristia. A ação litúrgica da Sexta-feira Santa é uma celebração da Palavra, porque não celebramos a Eucaristia, mas nos reunimos nesta ocasião basicamente para ouvir o Evangelho da Paixão e para adorar a cruz. Esses são os elementos centrais desta celebração. E depois, na Vigília Pascal, temos oito leituras que narram a história da Salvação e que nos levam à narrativa da Ressurreição. No fundo, eu digo que tem um fio de ouro que costura toda a Bíblia que é a ressurreição de Jesus no domingo.

RCR – Por isso compreender essa conexão dos profetas à ressurreição, do Antigo com o Novo Testamento?
Arnaldo – A Liturgia da Igreja que consegue fazer essa conexão. Em cada celebração litúrgica escutamos a primeira leitura do Antigo Testamento, que é favorecida pela meditação do Salmo Responsorial, e sobretudo ela vai ter uma conexão com o Evangelho. Podemos dizer que a primeira leitura é uma sombra daquilo que no Evangelho vai ser revelar plenamente em Jesus Cristo. A meditação da Palavra de Deus na Liturgia é o lugar privilegiado para compreendermos melhor a Sagrada Escritura. Por que digo isso? Porque, às vezes, encontramos, inclusive dentro da nossa Igreja, algumas reflexões da Palavra que vão muito numa linha, digamos, “racionalista”. É importante lembrar que a Sagrada Escritura não é um livro de Geografia ou um livro de Biologia; ela é um livro da nossa fé, pois guarda os tesouros da nossa fé. Precisamos saber nos aproximar da Sagrada Escritura e na celebração litúrgica da Igreja é o lugar onde aprendemos a ler a Bíblia de forma orante.
RCR – Na Assembleia Diocesana de 2022, foi indicado que é preciso levar os fiéis a compreender melhor os ritos e, dentre eles, a escuta da Palavra. Mas muitos pediam que os ritos fossem explicados durante a celebração. Qual a relevância disso?






Arnaldo – Isso passa pela formação litúrgica do povo de Deus. O Papa Francisco escre- veu a Carta Apostólica Desiderio desideravi sobre a formação litúrgica. É justamente sobre isso que a Carta menciona: para que os fiéis tenham condições de participar das celebrações. Depois da reforma litúrgica do Concílio, a Igreja, como mãe, procura resgatar essa dimensão da participação ativa consciente, frutuosa, interna e externa. São Bento falava em unir a mente o que pronunciamos com a boca. Temos que sair do “piloto automático” e só vamos alcançar isso através da própria Liturgia. Não adianta, por exemplo, encher a missa de comentários ou explicações de cunho racionalista. Acabamos nos iludindo ao imaginar que isso levará a uma participação melhor, ao contrário, vai deturpar o que é a missa. Sabemos que a missa não é uma aula, mas uma celebração. Papa Bento XVI dizia que a melhor catequese sobre a missa é uma missa bem celebrada. E uma missa bem celebrada é celebrarmos os ritos da Igreja. A Liturgia é uma ação de Cristo e o povo cristão só pode celebrá-la na medida em que está unido a Cristo. Os ritos que temos nas celebrações são uma porta de entrada para o Mistério Pascal. Por isso que não podemos introduzir na Liturgia algo que acho bonito ou um canto porque eu gosto. A Liturgia é a fé da Igreja em ato. Por isso cuidamos dos ritos.
