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Entrevista Mauro Orlandini

O homem por trás do político

Orlandini chegou a Bertioga em 1979, um jovem recém-formado em arquitetura e avesso à política. Mas, foi ela quem mudou sua história e, hoje, perto dos 60 anos, acredita ter feito tudo na hora certa

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Por Marina Aguiar

Foto Dirceu Mathias

·• “Agora conseguimos consolidar uma série de coisas, sem mudar a filosofia, e sem mudar os caminhos”

Mauro Orlandini •·

Mauro Orlandini, já em seu discurso de posse no primeiro mandato, declarou que desejaria ser o pior prefeito de Bertioga. Com isso, quis dizer que desejava que os próximos fossem sempre melhores. Eleito pela terceira vez em 2012, Orlandini vive uma fase de colheita dos frutos que plantou.

Nascido em Batatais, e criado em Brodoski, ambas no interior de São Paulo, Orlandini chegou a Bertioga em 1979, recém-formado em arquitetura (FMU - São Paulo) e avesso à política. Hoje, perto dos 60 anos, mudou sua história e acredita ter feito tudo na hora certa. Acompanhe, a seguir, alguns aspectos de sua vida e obra até hoje.

Como foi a sua juventude? Eu era um adolescente com cabelão; cortei o cabelo quando entrei na faculdade, e minha mãe fez questão de guardar numa caixinha de meia Selene. Ela sempre foi cuidadosa e eu, muito certinho. Depois que fui para a capital, vi que tudo era meu, ganhei o mundo. Vivi, curti bastante, foi um momento muito rico para mim. Depois, vim para cá e minha vida normalizou, casei. Fiz tudo o que tinha que fazer, na hora em que tinha fazer.

Por que veio para Bertioga? Comecei a frequentar a cidade porque um tio meu tinha uma ruína de uma construção de uma casa em Bertioga. Quando eu fazia faculdade, vim visitar e percebi que aqui era um lugar de futuro, só não sabia qual era o futuro. Vim e enxerguei o potencial do turismo, não sabia como participaria dessa área. Comecei a fazer projetos em um escritório de arquitetura e engenharia que montei com meu cunhado. lítica. Na faculdade, passei longe dos movimentos e do diretório acadêmico. Quando vim para Bertioga trabalhar com arquitetura, a cidade pertencia a Santos. Oswaldo Justo era o prefeito na época e precisava nomear um administrador para Bertioga. Ele ia nomear um amigo dele, mas se deparou com uma lei que só permitia que engenheiros ou arquitetos administrassem Bertioga. Ele me chamou; eu acreditava que só iria ficar dois meses e acabei ficando dois anos e meio. Não sei dizer como ele me convenceu, mas todos têm o direito de acreditar no destino, não é?

Sua formação o ajudou a encarar

a política? O prefeito Justo me ajudou muito enquanto eu estava na administração, mas uma coisa me deu prazer em trabalhar no ramo: a sensibilidade. O arquiteto tem sensibilidade, e tudo o que faço é pensando no bem-estar das pessoas. Tenho percepção de que tudo deve ser feito pensando em gente. Porque a escola é feita para pessoas, o hospital é feito para pessoas. A felicidade das pessoas é o centro de tudo. A minha profissão é fundamental em uma prefeitura, principalmente, em uma cidade como Bertioga, que ainda está em processo de implantação.

Como analisa seus três mandatos? O período da gestão é muito curto, as coisas acabam se atropelando, mesmo porque, quando ela vai dar resultado, você já está em outro mandato. Já é outra pessoa que comanda e, às vezes, não concorda com o que foi feito antes. Isso atrasa muito as coisas. Por isso fui candidato à reeleição; agora conseguimos consolidar uma série de coisas, sem mudar a filosofia, e sem mudar os caminhos.

Qual foi o momento mais mar

cante da sua carreira política? Prezo muito a educação e a cultura das crianças. Em minha última campanha, eu estava andando pelas ruas e uma mulher veio até mim, segurou minha mão e disse assim: “Estamos chateados com o senhor, prefeito. O senhor sumiu, não voltou mais aqui, a rua está com buraco, a iluminação precisa de cuidados. Mas aqui em casa são três votos e eles são para o Orlandini, porque minha filha dança balé, nós sabemos o que você faz pela cidade”. Essa é a parte que compensa, porque a gente tem tanto desgaste e chateações no dia a dia. São essas coisas que nos dão oxigênio.

O senhor tem tempo livre para o la

zer? Quando me encontro com outros prefeitos, percebo que temos comportamento diferenciado. Eu não deixo que o cargo de prefeito seja mais importante do que eu. Ser pai, marido e amigo é muito mais importante que o cargo que ocupo. Sou honrado, é a terceira vez que sou prefeito e até desenhei o brasão do município. Ele vai ficar para resto da vida, tenho um orgulho muito grande, mas mantenho os pés no chão. Faço tudo com certa leveza, não deixo o trabalho ser pesado, isso acaba sendo, também, um lazer. Eu deito e durmo porque fiz o melhor possível.

Como é a sua rotina? Todo dia levanto cedo, vou para a rua, gosto muito de andar, e vou para o gabinete; aí começa o dia. Aparecem os problemas, processos, reuniões e eu vou embora. Chego em casa mais de dez horas da noite todos os dias, vou para o computador e fico geralmente até três horas da manhã, enviando e-mails. Quando chega o final de semana, enquanto os colegas do interior vão para o rancho, para os momentos de lazer, nós, prefeitos do litoral, também trabalhamos. Vou a reuniões com pessoas que preferem vir em um final de semana e aproveitam o resto do dia. Acho mais fácil conciliar com eles aqui, e eu ir até eles. Geralmente, é futebol, missa, reuniões que acabam sendo mais sociais. O domingo eu tiro para almoçar com a família.

Seu relacionamento com a família

é normal? Não sou perfeito, nem como pai, nem como arquiteto, nem como prefeito. Temos que procurar ser o melhor possível. A família quase sempre fica em segundo plano. Depois que me envolvi com a política, tornei-me muito ausente. Dei sorte por ter uma esposa maravilhosa. Cecília foi responsável pela educação dos nossos filhos. Ela também sempre me apoiou. Quando pensei em me recandidatar, a decisão foi dela. Ela dizia: “Se Deus está te pondo nessa missão, ele vai te dar força, vamos pra frente”. É bom saber que tenho o apoio da família, porque a ausência não é fácil, muitas vezes há momentos até injustos. Por isso, me empenho como prefeito. Não quero que acabe o mandato e algum amigo do meu filho diga que eu fiz alguma porcaria. Preocupo-me em fazer bem-feito. São preços injustos que pagamos, mas faz parte do jogo.

Quem o acompanha, percebe que o senhor está sempre desenhando. O que

desenha? Meus desenhos não têm muito tema. Consigo, ao contrário do que as pessoas pensam, estar numa reunião desenhando, mas prestando atenção. No papel ao lado tenho anotações, estou sempre plugado, prestando atenção em tudo. Levanto, dou minha opinião. Eu desenho como qualquer pessoa, mas, em vez de fazer quadradinho, bolinha, eu faço um desenho.

O que faz com seus desenhos?

Guarda? Ultimamente, tenho desenhado a Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Costumo dar esses desenhos. Quando chego a uma reunião, as pessoas pedem meu desenho, a ‘ata’ da reunião, como geralmente brincam. Como prefeito, é um cargo cheio de dificuldades; entrego para aqueles que estão precisando desatar nós. Mas sempre fotografo antes para guardar. Com isso eu divido um pouco do foco e sempre estou leve.

·• Nossa Senhora Desatadora dos Nós, um dos desenhos de Orlandini •·

Projeto dos sonhos

O prefeito também apontou alguns projetos em análise, um deles é a reforma do antigo terminal do Jardim São Raphael. “Lá não tem nada que se possa fazer para melhorar, já tentamos iluminar, colocar holofotes, mas sempre some”, lamenta Orlandini. A proposta é substituir o terminal por um aquário municipal.

Orlandini conta que há uma caixa d’água no local, que pode ser transformada em um elevador. Ao redor haveria uma rampa para as pessoas descerem e assistirem as imagens de um aquário virtual. “Uma novidade é que seria todo em touchscreen. Em um aquário normal, se você toca a tela onde há uma baleia, por exemplo, ela se afasta. Neste não, quando você tocar a baleia, ela virá até você”, conta o prefeito.

Além de aquário, as paredes virtuais poderão passar outros tipos de filmes, como aulas sobre o pré-sal ou qualquer outro assunto. “Cria-se uma dinâmica, professores poderão dar a aula que quiserem neste lugar”.

Já o outro espaço seria um complemento, com um aquário natural, porém pequeno. A maior parte desse galpão seria destinada a exposições. “Na imagem, colocamos a baleia, porque é o animal símbolo de Bertioga, por conta do azeite de baleia utilizado na iluminação pública e particular em tempos idos”, comentou Orlandini.

O projeto ainda está no papel, mas o prefeito já procura parceiros para efetivar a reforma. O objetivo é que se consiga uma PPP (parceria público- -privada), pela qual a iniciativa privada entraria com o dinheiro, construiria e exploraria o local por tempo determinado, até se ressarcir do que gastou e obter algum lucro.

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