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FRATERNO

ISSN 2176-2104

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Miguel Sardano O criador de uma das maiores feiras do livro espírita fala sobre a venda conjunta com obras espiritualistas e de autoajuda, sobre a sobrevivência das editoras e outros desafios do mercado livreiro. “É difícil, estamos numa saia-justa.” Págs. 4 e 5

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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Uma visão atual sobre os romances espíritas

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iferentes opiniões sobre os romances espíritas são abordadas nesta edição por quem escreve, recebe mediunicamente e edita, numa mostra inicial que pode se transformar num saudável debate sobre um assunto tão recorrente e que vem transformando o mercado editorial espírita. Importante instrumento e base de difusão do espiritismo, o livro merece análise e especial cuidado. A pergunta que cadencia os depoimentos dos entrevistados, como Vera Marinzeck, Lygia Barbiére Amaral, Eliana Machado é: O que precisa ter um romance para ser considerado um bom livro espírita? Ou melhor, o romance pode ser um bom livro para transmitir conhecimentos espíritas? Não deixe de ler a matéria especial nas páginas 8 e 9. Aliás, você já formou sua opinião a respeito?

Estrelas que não se apagam Um emocionante depoimento de uma mãe que supera a dor da perda de seus filhos e se dedica a consolar outras pessoas que passam pela mesma experiência. “Hoje já não sinto mais dor. Saudades? Imensas. Sou muito mais feliz! Perdi meus medos de tantas coisas pequenas!” Leia na página 14.

O encontro de Allan Kardec com George Sand Exatamente no dia em que iria lançar O livro dos espíritos, andando pelas ruas de Paris, Allan Kardec avistou a carruagem de uma das mais expressivas escritoras francesas. Acenou e cumprimentando-a disse: “Madame Sand, venho oferecer-lhe o primeiro livro da doutrina dos espíritos!” Acompanhe o desenrolar desse emocionante encontro na página 6.

Não perca as novas aventuras da Laurinha De Tatiana Benites

Divirta-se

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eDItoRIAL

em cena, o

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uando entrevistamos o escritor Richard Simonetti na edição 448 (dezembro/2012), começávamos a abrir espaço para análise de um dos assuntos mais comentados nos grupos espíritas: o livro. Idealizador, em 1976, dos clubes de livro espírita, Richard comentou que sua ideia inicial havia sido modificada e que, na atualidade, a preferência dos leitores era por romances nem sempre compatíveis com a doutrina. O momento era mesmo complicado para as editoras e livrarias dos centros espíritas. “O problema maior é o empenho de vender mais, ter mais associados, lucrar mais. Impossível analisar tudo o que é publicado”, dizia. O assunto, desafiador na sua abordagem, acabou margeando as edições seguintes. Falamos, por exemplo, sobre direitos

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romance autorais na internet, sobre disponibilização do livro sem autorização, criando nas páginas do Correio um campo fértil de esclarecimentos sobre o mercado editorial espírita, sem a menor intenção de fomentar polêmicas, mas de colocar de forma responsável a realidade, para que sirva de instrumento para reflexão, no tempo em que a rapidez da informação nos atropela e, embora globalizada, muitas vezes nos isole. A exposição dos fatos necessariamente não implica uma conclusão que feche questões que ainda precisam ser exploradas de forma madura, uma vez que a divulgação correta dos princípios espíritas, como já comentou Emmanuel, é a maior caridade a favor do espiritismo. Nesta edição, entrevistamos alguns editores, autores e médiuns, que nos ajudam

CORREIO DO CORREIO Direito autoral na internet Sobre o uso e disponibilização de conteúdo editorial na internet (edição 449), não ficou claro que existe a lei de direitos autorais e que ela abrange a internet no artigo 29, X. Jáder Sampaio, Belo Horizonte, MG. O ponto de vista desenvolvido foi amplo, voltado à existência de legislação clara e específica sobre uso e disponibilização de conteúdo editorial na internet.

A resposta, corretamente, foi negativa. Não houve análise específica sobre a ótica do direito autoral, que tem legislação própria, mas que, com a edição de texto legal específico compreendendo o uso/acesso/publicação via internet, certamente poderá fazer com que a lei dos direitos autorais possa vir a sofrer modificações interpretativas. De fato ela não trata de forma específica dos direitos do autor no “veículo” internet, existindo, no entanto, entendimentos doutrinários que permitem aplicação analógica no

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

a refletir a respeito dos romances, compartilhando opiniões, defesas e críticas, num movimento legítimo de expressão, onde o respeito e o direcionamento de um novo olhar tudo pode modificar. O importante é que se fale com conhecimento. E o Correio oferece aqui sua contribuição, com votos de que a doutrina espírita possa sempre ser a luz que ilumina a razão e o coração. Boa leitura!

âmbito da internet, dada a exegese do artigo 29, X, que estabelece: Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas. Logo, a resposta foi dada a uma questão ampla, envolvendo várias áreas do direito, o que se confirma, pela análise do principal projeto em discussão, o marco civil da internet, Projeto de Lei n. 2126/2011. Maria Odete Duque Bertasi, advogada e membro da AJE-SP. (Veja o projeto no site www.correiofraterno.com.br)

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno cnPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. estadual: 635.088.381.118

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Uma ética para a imprensa escrita

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• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • não responderemos aos ataques dirigidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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Acontece

FOTOS: A. J. ORLANDO

Da esquerda, Lian Abreu Duarte (neto de Canuto Abreu), César Perri, Nestor Masotti e esposa e Oceano Vieira e esposa

Evento marca transferência de museu para a FEB

Público

Por IZABEL VITUSSO

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equena cerimônia, em 18 de abril, reunindo cerca de 50 pessoas nas dependências do Instituto Cultural Espírita de São Paulo, marcou a transferência do Museu Espírita de São Paulo para a Federação Espírita Brasileira, cuja gestão e coordenação ficarão a cargo do pesquisador Oceano Vieira de Melo. O evento contou com presenças como: do presidente Antonio Cesar Perri de Carvalho e dos diretores da FEB, Célia Maria Rey de Carvalho, João Pinto Rabelo e Niraldo Pulcineli, dos fundadores do ICESP, Paulo Machado e Elza Malzzonetto Machado e do ex-presidente da FEB, Nestor João Masotti. Vários colaboradores do ICESP, dirigentes da USE Regional da Capital e da Lapa, da presidente da USE-SP Júlia Nezu de Oliveira e também jornalistas da imprensa espírita estiveram presentes. Emocionada, Elza Machado relatou detalhes do histórico do Museu, que foi iniciado em 1997, quando o casal mudou-se de uma casa para um apartamento, diante do impasse sobre o que fazer com o material sobre o espiritismo que reuniam em viagens. O ideal passou a rondar o casal quando se deparara com o texto de Allan Kardec, que dizia estar em seus planos

estabelecer um museu. “Foi a nossa inspiração”– recorda Elza. “Levamos a ideia aos companheiros da diretoria do ICESP. Compramos um terreno, fomos atrás de recursos e, pronto o prédio, iniciamos a montagem o Museu”. O projeto se desenvolveu em torno do grande acervo formado por documentos, livros raros, cartas, periódicos, reunidos pelo próprio casal, inclusive textos de Kardec, doados por Canuto de Abreu. O presidente da Federação Espírita Brasileira Antonio Cesar Perri destacou o momento histórico, com homenagens ao casal fundador e a Nestor Masotti, que desde 2008 vinha se dedicando e dirigindo esforços para a efetivação desse projeto. “Para a FEB é uma satisfação muito grande assumir este museu, considerando todo esforço que houve do casal, dedicando sua vida para montar o Museu Espírita de São Paulo. Com ele, a FEB assume o compromisso de zelar pela memória do espiritismo brasileiro e mundial. Sem dúvida, ele terá um papel bastante destacado no movimento espírita brasileiro e internacional”– enfatizou Perri. O presidente também enfatizou que uma equipe já vem trabalhando na digitalização de livros e documentos. “Tenho impressão

de que no ano que vem, quando se comemoram os 150 anos do O evangelho segundo o espiritismo, será possível apresentarmos um novo cenário deste museu”. O casal Machado também foi homenageado pelos colaboradores do ICESP, e todos se emocionaram com singelos momentos musicais com o grupo de serenata Trovadores Urbanos. Em entrevista ao Correio Fraterno, Nestor Masotti cita a afirmativa do Espírito de Verdade ao falar sobre o acontecimento: “Só pela união conseguiremos construir a difusão da doutrina espírita com segurança. E esta união, voltada à preservação da memória do movimento espírita, é uma garantia de continuidade para que as futuras gerações possam tomar conhecimento e levar avante essa mensagem que é o consolador prometido.” Além dos documentos, periódicos, objetos, telas, também fazem parte do material de memória 5 mil livros de acervo, 10 mil livros editados para a venda e três prédios. “A gente tem um sonho, mas às vezes não é nossa missão concluir, apenas começar”– refletiu sabiamente Elza Machado, ao entregar oficialmente para a FEB o significativo projeto.

Paulo Machado com Nestor Masotti

Elza Machado www.correiofraterno.com.br


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ENTREVISTA

A questão da venda dos livros espíritas Por ELIANA HADDAD

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econhecido por sua extensa dedicação no trabalho da difusão do espiritismo, inclusive fora do país, Miguel de Jesus Sardano é também conhecido por ter iniciado o que hoje é uma

das maiores feiras do livro espírita do Brasil. Todo mês de abril, passam pelas dependências da Instituição Assistencial Amélia Rodrigues, obra que ele fundou em Santo André há 27 anos, cerca de 4 mil pessoas, que levam para casa 40 mil livros em dois dias de evento. No último megafeirão, Miguel Sardano concedeu esta entrevista ao Correio Fraterno, onde expõe o seu ponto de vista sobre o assunto bastante recorrente nas rodas espíritas: a venda do livro espírita juntamente com obras espiritualistas e de autoajuda. Acompanhe! Nesta feira, este ano, percebe-se que há novas editoras, novas propostas. Qual a influência disso tudo para o movimento espírita? Miguel de Jesus: Temos notado a cada dia uma expansão, uma variedade muito grande. As próprias editoras estão com uma maior abertura e hoje fica muito difícil estabelecer uma espécie de índex no movimento espírita como havia antigamente. Não era uma censura, mas uma seleção. Temos aqui em Santo André, por exemplo, uma feira de livros genuinamente espíritas. Há uma equipe de pelo menos vinte pessoas que passa o ano inteiro lendo livros para ver se há alguma coisa antiespírita e está cada vez mais restrita, porque o leitor diz: “mas eu queria tal livro, porque foi citado lá no seminário...” Foi assim que começou esse movimento? Miguel de Jesus: Tudo começou assim. As pessoas começaram a encomendar livros que eram citados em palestras. E hoje tudo está muito eclético. O senhor acha que a vinda dessas novas editoras, com obras espiritualistas pode atrapalhar a divulgação do espiritismo? Miguel de Jesus: As pessoas que não estejam bem enfronhadas com a doutrina, www.correiofraterno.com.br

não participam de casas espíritas efetivamente, não fazem parte de cursos é possível que façam confusão. Mas ficou muito difícil comercialmente para todos os segmentos do mercado. A Aliança Espírita Evangélica, a Federação Espírita, as distribuidoras Mundo Maior, Boa Nova, Candeia, todas estão trabalhando conosco nessa sequência espiritualista e autoajuda. O caso da umbanda é um caso à parte, porque eles estão querendo mostrar mais aquilo que não é umbanda. Estão muito preocupados, porque estão confundindo umbanda com magia, com adivinhação, etc. Mas e a pureza doutrinária, como fica? Miguel de Jesus: Nós pensamos muito nisso, na questão da pureza doutrinária, que hoje não dá mais para segurar. E isso está também nos programas de rádio, de TV... Fazemos a divulgação, até porque tratam-se de obras edificantes, todavia, somos cautelosos no sentido de não patrocinar qualquer tipo de distorção que venha a confundir o leitor. A divulgação do espiritismo e a pureza doutrinária sempre serão nossas principais preocupações. Por que o senhor acha que deve haver essa abertura no mercado? O comercial vai pesar mais que o editorial?

Miguel de Jesus: Existe essa preocupação também, de que haja muita comercialização, mas outro fator é a sobrevivência das editoras, que está sendo muito difícil, porque elas vivem do faturamento, das vendas, da procura dos títulos...

dois livros do papa, livro de culinária, de meditação... Mas aí como fazer? Vamos limitar a participação das editoras. Nós é que teríamos de dizer a elas, esse pode, esse não pode. É difícil. Estamos com essa saia-justa...

Se não for assim, o que o senhor acha que vai acontecer com as editoras? Miguel de Jesus: Vai ter uma restrição muito grande e poucas editoras vão sobreviver. Agora existem aquelas que tradicionalmente, como a FEB e a USE, por exemplo, que não editam uma obra que não seja genuinamente espírita...

Como o movimento espírita tem visto isso ultimamente? Miguel de Jesus: Quase não se fala nada. Porque as feiras estão todas assim, aderindo ao segmento espiritualista e autoajuda. Senão, não sobrevivem.

Mas elas estão dentro do papel delas... Miguel de Jesus: Não é que não podem, mas é que ficam dentro dos seus estatutos, que não permitem. Não há como proibir a pessoa de fazer sua escolha de acordo com os seus interesses, mas há a responsabilidade que recai sobre nós, como espíritas, de oferecermos obras que possam comprometer o seu entendimento. Miguel de Jesus: Muitas pessoas sugeriram que eu separasse na feira a ala espírita, a ala espiritualista, a ala de autoajuda e outros, diversos. Aqui tem os livros do padre Melo,

Como o senhor, como espírita, analisa essa situação? Miguel de Jesus: Cada vez mais está se transferindo para que cada pessoa tenha seu próprio discernimento. Porque tivemos no passado, por exemplo, o Herculano Pires, o Ary Lex, que combatiam muito essa coisa e defendiam a pureza doutrinária, mas eram outros tempos... Hoje, por exemplo, a Suely [Caldas Schubert] faz pesquisa e nesse novo livro dela Os poderes da mente cita quarenta autores. As pessoas começam a querer também esses livros e aí vão comprar um aqui, outro acolá... E não são os espíritas que vão fazer parar? Miguel de Jesus: Não. Há alguma força que está por trás de tudo isso, com tantos


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entReVIStA títulos de espiritualidade. Por exemplo, o fenômeno Zíbia Gasparetto; muita gente tem restrições, mas eu conheço centenas de pessoas que se tornaram espíritas lendo seus romances. Ela fala de reencarnação e, se a pessoa quiser aprofundar, começa a perguntar, a fazer parte de um curso, a comprar livros. Fica muito difícil restringir. Há quem defenda que essa divulgação misturada é um “movimento das trevas”, justamente para confundir e atrasar o progresso sobre as verdades espirituais. Miguel de Jesus: Eu nunca pensei nesse lado... Mas o Kardec abordou, o rótulo não é muito importante. Eu acho que a humanidade não vai se tornar espírita. Agora, como as ideias espíritas estão estruturadas na verdade, vão prevalecer. Como o senhor vê essa feira daqui a cinco anos, por exemplo? Miguel de Jesus: Vejo que haverá cada vez mais uma expansão maior. E sobre esses livros não-espíritas? Miguel de Jesus: Eu mesmo estou lendo para conhecer melhor o assunto e saber responder por exemplo: no espiritismo o que é um orixá? Eu respondo que são os diversos níveis espirituais, mas não são outros seres alienados... Eles têm que explicar o seu histórico, da escravidão, do candomblé, da imposição do catolicismo, da adaptação com o sincretismo. Isso tudo tem uma longa história que pode ser contada. Por que não? Como é montar a estrutura de uma feira como esta? Miguel de Jesus: Muita gente pergunta e não se tem ideia do gasto que temos com aluguel de equipamentos, segurança. E por que tem tanto desconto? Porque a editora aqui vende independentemente da distribuidora e da livraria, com desconto maior ao cliente. O lucro que chega para nós é pequeno Temos 10% brutos de tudo o que é vendido. Desses 10, tiramos todas as despesas e restam 4 ou 5%. Seria realmente mais pela divulgação... Miguel de Jesus: Sim. Não teria outro sentido.

Um parecer sobre romances espíritas O que diz o presidente da FEB, Antonio Cesar Perri de Carvalho, sobre o assunto: O que melhor define um romance espírita? Cesar Perri: Como gênero de literatura, o romance é uma narração recheada de ações e com o aparecimento de várias personagens, algumas episódicas e outras ligadas ao fio condutor do enredo. No caso dos romances espíritas, acrescenta-se a interexistência entre as dimensões espirituais e corpóreas e surgem comentários sobre princípios da doutrina espírita. Nas interrelações pessoais entre os personagens, de uma maneira ilustrativa, pode-se compreender conceitos de mediunidade, de reencarnação e de evolução espiritual. Qual o seu papel? Cesar Perri: O romance espírita é uma alternativa importante para os leitores que têm simpatia pelas ideias espíritas. Em forma de narração e com dinâmica da vivência dos personagens, é uma literatura que desperta e prende a atenção do leitor. Um instrumento importante para o tratamento dos princípios do espiritismo, relacionando-se passado, presente e futuro. Há casos em que a sequência de romances – como a série dos médiuns Yvonne Amaral Pereira e de Francisco Cândido Xavier– favorece a compreensão sobre a trajetória de espíritos, em várias etapas reencarnatórias.

Antonio Perri: doutrina espírita como obra de educação

LIVROS & CIA. Madras Editora Tel.: (11) 2281-5555 www.madras.com.br Catálogo racional – obras para se fundar uma biblioteca espírita de Allan Kardec 128 páginas 14x21cm

FEB Editora Tel.: (21) 2187-8282 www.feblivraria.com.br

tes e expositores espíritas para que em reuniões doutrinárias e palestras sejam empregadas como ilustração ou para fortalecimento de princípios doutrinários, mas sem deixar de se citar e remeter ao estudo das obras básicas do codificador. No ano passado, por ocasião das comemorações dos 70 anos de publicação de Paulo e Estêvão, a Federação Espírita Brasileira realizou o seminário nas várias regiões do país, intitulado “Os trabalhadores espíritas e os primeiros cristãos, à luz da obra Paulo e Estêvão”, estimulando a reflexão e o estudo sobre os albores do cristianismo e o trabalho dos espíritas, fundamentando-se em obras de Allan Kardec e de Léon Denis.

Em sua opinião, a que se deve essa grande explosão no mercado de romances espíritas? Cesar Perri: Os romances sempre se caracterizaram por provocarem intensa circulação no mercado livreiro. No movimento espírita e entre os simpatizantes do espiritismo, os romances espíritas não poderiam ser uma exceção.

Outras considerações: Sugerimos que se dinamizem campanhas sobre a boa leitura, incluindo-se as obras básicas de Allan Kardec, citando-as em programas, artigos e palestras. Seria um reavivamento da campanha “Comece pelo começo”, lançada pela USE-SP há 41 anos. Os vários gêneros de literatura disponíveis no movimento espírita deveriam sempre remeter e valorizar a codificação espírita.

Pode-se dizer que os romances retardam o interesse pelo aprofundamento na doutrina? Cesar Perri: As narrações romanceadas devem merecer a atenção dos dirigen-

Obs.: Perri ainda comenta que a Editora FEB passa por reformulações e modernizações para garantir presença marcante do livro espírita na sociedade. “A doutrina espírita é basicamente obra de educação e precisa induzir, como escreveu o poeta, ‘o povo pensar’ e com reflexões sobre religiosidade e espiritualidade.”

O novo testamento tradução de Haroldo Dutra Dias 608 páginas 15x21 cm

Editora Nova Consciência Tel.: (19) 3491-7000 www.editoraeme.com.br Copos de cristal de Gabriel Rodrigues Cervantes 200 páginas 14x21cm

Editora Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 www.correiofraterno.com.br O príncipe do Islã de J. W. Rochester psicografia de Arandi Gomes Teixeira 272 páginas 14x21 cm

Leia outros depoimentos na matéria de capa nas páginas 8 e 9. www.correiofraterno.com.br


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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

O encontro de Allan Kardec com George Sand Por Magali Oliveira Fernandes

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ntes de fazer qualquer comentário a respeito do encontro que teria havido na França entre essas duas personalidades: Allan Kardec (1804-1869) e George Sand (1804-1876), gostaria de falar a respeito de quem foi George Sand. Na verdade, George Sand é pseudônimo de Aurore Dupin de Francueil (nome de nascimento, ou Aurore Dudevant, quando se casou com Casimir Dudevant). Esta escritora tornou-se uma personalidade e uma das autoras mais conhecidas de sua época (século 19), não apenas para o público francês, mas internacionalmente; tanto pelos textos , quanto por sua própria história. Autora de mais de uma centena de romances, além de peças para o teatro, contos infantis, artigos para periódicos, teve publicada uma grande quantidade de biografias a seu respeito. Sem contar com a sua autobiografia retratando a intensa correspondência que mantinha com escritores, políticos, intelectuais, bem como sua vida familiar e sua relação com os amigos e os companheiros. Um dos principais: o músico polonês Frédéric Chopin. No Brasil, alguns dos seus livros foram lançados com bastante êxito em edições brasileiras, sobretudo nas décadas de 1930 a 1960. Tudo isso, em sintonia com o momento de expansão do mercado editorial no País. Mas, antes de acontecer essas produwww.correiofraterno.com.br

ções editoriais de grande alcance de público no Brasil, leitores expressivos já a conheciam, porém em idioma francês. Um deles foi D. Pedro II, que a admirava, chegando a tentar uma entrevista com George Sand quando de sua viagem à França, nos idos de 1871. Surpreendentemente, depois do sucesso obtido no século 19 e até meados do 20, entre os brasileiros, constatou-se o desaparecimento quase que absoluto de seus títulos por aqui. A boa notícia é que em pesquisa recente a respeito de George Sand1, inteirei-me de que está havendo entre pesquisadores da França e de outros países da Europa e América uma retomada dos estudos de sua obra, considerando sua importância no cenário francês do século 192. **** O instigante de toda a história de George Sand é que no meio espírita ela surge informalmente num comentário feito por Chico Xavier, que também a admirava como romancista. Conta-se que o médium mineiro descreveu à escritora espírita Suely Caldas Schubert3 uma passagem em que Allan Kardec e George Sand se encontram em Paris, no dia exato do lançamento de O livro dos espíritos, em 18 de abril de 1857. “(...) E assim foi que, andando pelas ruas de Paris, com o primeiro exemplar do livro nas mãos, (...) o professor avistou a carruagem de Sand, reconhecendo-a em seu interior. Imediatamente acenou e, cumprimentando-a, disse: – Madame Sand, venho oferecer-

-lhe o primeiro livro da Doutrina dos Espíritos! A que ela retrucou: – Ah, professor Denizard – ela assim o chamava –, eu sei que o senhor está fazendo experiências verdadeiras. Eu mesmo sou delas testemunha, porque desde quando muito jovem observava alguém, um vulto, a me acompanhar o tempo todo! De pequena, lutei muito para que os demais compreendessem o que se passava comigo, mas em vão!... (...) O senhor está de parabéns, professor!” “O professor Rivail agradeceu-lhe a acolhida fraterna, dizendo-lhe que estimaria muitíssimo ver sua apreciação da obra. – Professor Denizard, guarde para si este exemplar, do qual não sou digna. Alegrar-me-ei bastante em opinar sobre ele mais tarde, quando o tempo me permitir. Atualmente, tenho a vida atribulada de compromissos. Prometa enviar-me outro volume posteriormente.”

sobre tal sujeito, suponho que um espírito de elite como o vosso, Madame, não teria sido dominado pelos pré-julgamentos e deve querer o exame./ Se vossos afazeres vos permitem de consagrar alguns instantes a essa leitura, talvez vereis, pela exposição dessa doutrina, o espiritismo sair do círculo estreito das manifestações materiais para abraçar todas as leis que regem a Humanidade. Os Espíritos, por sua vez, Madame, me têm falado muitas vezes de vós e, em lhe endereçar esta obra, a qual é bem mais vossa do que minha, não faço mais do que executar o desejo que eles me inspiraram./ Recebeis, eu vos suplico, Madame, com o tributo de admiração que partilho com tantos outros, a homenagem de meus sentimentos os mais distintos./ Allan Kardec / Paris, 20 de mai 1857.” Pesquisa de pós-doutorado em Comunicação e Semiótica, da PUC-SP, em 2010-2012. 1

Para os interessados, conferir artigo de minha autoria: O processo criativo no universo da edição – George Sand no Brasil. Revista Tessituras & Criação, n. 3, 2012. http://revistas.pucsp.br/index.php/tessituras/article/view/11406/8313. 2

Esse encontro de abril de 1857 acabou promovendo o envio de uma carta de Allan Kardec para George Sand, em 20 de maio do mesmo ano, acompanhada da obra doutrinária que se inaugurava naquele período. E assim se escrevia4: “Tenho a honra de vos endereçar um exemplar de O livro dos espíritos, o qual lhe pediria que o aceitasse como homenagem./ Se aí julgo por certo as ideias emitidas nos seus vários escritos, a questão das relações do homem com os seres incorpóreos não vos é nada estranho; sem prejulgar vossa opinião

3 Conferir HTTP://observadorespirita.blogspot.com. br/2009/04/18-de-abril-de-1857.html. Há também referência em Nova História do Espiritismo, Dalmo Duque dos Santos. Ed. Conhecimento.

A carta encontra-se publicada no livro de autoria de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen: Allan Kardec – o educador e o codificador. Vol. II. (organização de Zeus Wantuil), FEB. 4

Editora e jornalista, autora do livro Chico Xavier: um herói brasileiro no universo da edição popular, Ed. Annablume e Vozes do céu – os primeiros momentos de impresso kardecista no Brasil, Ed.Mandacaru.


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ESPECIAL

Romance

Muito além de um

Por ELIANA

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m 1865, Luiz Olímpio Teles de Menezes escreveu para o Diário da Bahia rebatendo um crítico que escrevera contra o espiritismo “por não ser fiel nas citações que fazia a O livro dos espíritos, visando depreciar a doutrina”. Junto à carta, seguiam também esclarecimentos baseados na introdução do livro lançado por Allan Kardec em 1857, em Paris, e que já estava em sua 13ª edição. “As citações textuais das obras espíritas são a melhor refutação das deformações que certos críticos fazem sofrer a doutrina”, escrevera Menezes e mais dois amigos que assinavam a carta. Acrescentavam que não se tratava de convencer adversários, “porque a doutrina se justifica por si mesma, o que possibilita que não sofra tais deformações”. Cerca de 150 anos depois, o Brasil é hoje o país que reúne o maior número de espíritas em todo o mundo, com 3,8 milhões de espíritas declarados (Censo 2010). A realidade mostra, contudo, que há muito mais pessoas que simpatizam com as ideias espíritas (30 milhões), sendo a reencarnação, a vida após a morte e a espiritualidade assuntos tão recorrentes na mídia que já não assustam como no passado. Segmento social com maior renda e escolaridade, os espíritas formam um público que lê, estuda, consome e desperta interesse. Só a Federação Espírita Brasileira, através de sua editora que publica todos os livros da codificação e cerca de 500 outros títulos, 88 dos quais psicografados por Chico Xavier, já lançou no mercado 45 milhões de exemplares de obras assinadas por 160 autores, dentre os exemplares 10 milhões são de obras básicas da doutrina. Milhares de títulos também foram já foram lançados por quase duzentas editoras que publicam livros espíritas, não havendo um número que represente ao menos uma estimativa de total comercializados. O que se sabe, por exemplo, é que um único evento, como o Megafeirão do Livro Espírita, Espiritualista e Autoajuda, realizado anualmente em Santo André, SP, é capaz de vender 40 mil livros em dois dias de evento, por onde passam cerca de 4 mil pessoas. Afora os números de realizações como essas, o certo é que poucos dados numéricos ajudam a mapear e a entender melhor o mercado espírita. Isso sem considerar a questão do conteúdo das obras, lembrando Menezes, no tocante às deformações.

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O que se lê hoje sob a chancela ‘livro espírita’? Se todo arcabouço do conhecimento espírita está em perfeita sintonia com todas as áreas do saber, seria boa prática as livrarias das casas espíritas comercializarem livros não apenas espíritas? E os romances? Seriam os vilões, pelo risco de a fantasia e a licença poética deturparem a realidade doutrinária? Ou aliados, que garantem o sustento das obras espíritas, enquanto entretêm e transmitem a milhões de leitores conhecimentos sobre a doutrina espírita a serem depois aprofundados? As opiniões, só para focar um único gênero da literatura espírita, são diversas. Procurados para falar sobre o assunto, representantes do mercado editorial espírita expõem o que pensam, inclusive o presidente da FEB – Federação Espírita Brasileira, Antonio Cesar Perri (veja entrevista na página 5). Coincidentemente, na mesma época do fechamento desta edição, também a USE – União das Sociedades Espíritas, realizava em São Paulo um seminário sobre a importância de se reconhecer as qualidades de um livro espírita, cuja reportagem pode também ser conferida no site www.correiofraterno. com.br. Para tantas perguntas, o momento é rico para debates, diante do tema frequentemente requisitado nos bastidores das casas espíritas. O importante é que espaços se abram para a reflexão. Afinal não vivemos mais tempos de Index Prohibitorum, mas podemos mostrar que é possível avaliar todos os lados de um assunto tão preponderante como a genuína divulgação da doutrina dos espíritos. O que pensam editores, autores e médiuns “O papel do romance espírita é aproximar os leitores de novos conhecimentos, sobretudo os espíritas, utilizando-se da emoção, do enredo envolvente e da boa escrita. Eles têm sido portas de entrada de simpatizantes para a doutrina espírita. Aqueles realmente interessados acabam por procurar um centro ou começam a ler Kardec a partir das indicações contidas em um romance. É preciso acabar com o preconceito que ainda possa existir quanto aos romances espíritas.

Cada leitura no seu papel: romances e codificação.” Ricardo Carrijo, editor da Lúmen Editora. “O romance espírita oferece esclarecimentos lógicos e racionais quanto ao mundo em que vivemos e ao futuro que a morte do corpo nos reserva. Faz isso retratando belíssimas histórias e alertando-nos quanto ao verdadeiro sentido e os reais objetivos da nossa existência. Se retardam ou não o interesse pelo aprofundamento na doutrina, dependerá do leitor. Em alguns, ele aumentará a sede de saber, levando-os a estudar a codificação de Kardec; em outros, acrescentará, ilustrando os diferentes temas da doutrina. Àqueles que preferem apenas as emoções de uma bela história, resta-nos dar um conselho fraterno: estudem a doutrina espírita e aproveitarão melhor os conteúdos dos romances que tanto apreciam.” Arandi Gomes Teixeira, psicógrafa de romances espíritas. “A explosão no mercado de romances espíritas retrata, primeiro, a busca constante do ser humano por conhecimentos que possam inspirá-lo, trazendo algo mais do que a rotina do dia a dia material. Segundo, pela grande facilidade existente na atualidade de se publicar um livro. E terceiro porque o mercado de livros espíritas se transformou em um dos principais do país, e isto atrai inclusive pessoas sem compromisso com a doutrina espírita. Temos que ter em mente, na publicação e mesmo na divulgação de obras espíritas, os conhecimentos trazidos nas obras de Allan Kardec, incluindo a Revista Espírita, onde ele alerta que publicar uma obra sem exame prévio e sem uma devida revisão é uma prova de pouco discernimento.” Cristian Fernandes, editor da Correio Fraterno. “Como somos capazes de aprender com os erros alheios, o romance espírita tem o papel de fazer com que através da observação das atitudes dos personagens entendamos e aprendamos o que é correto ou não, para aplicarmos em nossas vidas, em determinadas circunstâncias e pouparmos sofrimentos. Atualmente as pessoas estão buscando uma vida mais harmoniosa e feliz e essa procura vai ao encontro do que um romance espírita pode oferecer. Principalmente sobre o que nos reserva a vida além da vida, assunto pouco tratado por outras reli-


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e espírita

ma linda história

A HADDAD giões e filosofias. Em autógrafos, pessoas de outros cultos religiosos e filosóficos já me disseram ter comprado O livro dos espíritos ou O evangelho segundo o espiritismo por conta de uma referência feita por Schellida [espírito] em um de seus romances.” Eliana Machado Coelho, psicógrafa de romances espíritas. “Acho que a melhor explicação sobre a explosão do mercado de romances espíritas está na frase de Kardec (Gênese, III:5): ‘a dor é o aguilhão que impele o homem para frente, na senda do progresso.’ O romance espírita acaba atraindo toda gama de pessoas em busca de explicações, de sentido para a vida. Diariamente recebo cartas de leitores que passaram a se interessar pela doutrina a partir da leitura de meus romances. Eles têm uma função importantíssima em um país como o nosso, oferecendo informações aos poucos, ilustradas por situações do dia a dia. É uma tarefa de amor... Por isso a literatura espírita não é absolutamente um mercado, um meio de se ganhar dinheiro fácil. Diria que é uma oportunidade de trabalho no bem, que deve ser encarada com muito respeito, coragem e dedicação por aqueles que a abraçam.” Lygia Barbiére Amaral, escritora de romances espíritas. “Acredito que o sucesso dos romances espíritas se deve ao interesse das pessoas pelo assunto, visto que o materialismo já não atende às necessidades da alma. As editoras, claro, têm um papel importante na disseminação desses romances ao adotarem tais livros, lidos por pessoas que simpatizam com a doutrina espírita, mesmo que não tenham uma base a respeito dos fundamentos compilados por Kardec. Elas leem tais romances porque trazem conforto e algum alívio para a alma. Eles podem ser a porta de entrada para o aprofundamento, mas a escolha de seguir o caminho de conhecer as verdades espirituais é sempre individual. Não acredito que um livro seja uma barreira para quem quer crescer.” Rogério Pietro, escritor de romances juvenis. Os romances espíritas têm realizado seu objetivo: despertar para uma nova compreensão. Tenho ouvido muito: “Comecei no espiritismo lendo o livro Violetas na janela e

hoje frequento um centro espírita, frequento cursos e até dou aulas na evangelização enfantil, COEM etc.” Há alguns anos, os leitores eram mais mulheres. Hoje, além delas, são pessoas interessadas em fazer boas leituras, ávidas por conhecer a vida depois da vida, como: o que acontece quando o corpo físico perece? O que irão encon-

trar no plano espiritual? Realmente para despertar interesse nada melhor que algo prazeroso. Eles são um começo. Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho, psicógrafa de romances espíritas. Leia os depoimentos na íntegra: (www.correiofraterno.com.br)

A tela sob o bordado Entre os diversos gêneros nas obras psicografadas pelo médium Chico Xavier, pode-se destacar o romance como um dos mais importantes, principalmente os ditados por Emmanuel. Entre suas obras mais populares estão cinco romances históricos: Há dois mil anos, 50 anos depois, Renúncia, Paulo e Estevão e Ave Cristo, que falam sobre o nascimento e a ascensão do cristianismo. Outras histórias romanceadas foram recebidas pelo médium, como livros que retratam a trajetória do espírito André Luiz no mundo espiritual, na série Nosso lar. Também Yvonne Pereira trouxe mediunicamente alguns romances clássicos da literatura espírita, como Amor e ódio, A tragédia de Santa Maria, Memórias de um suicida e Devassando o invisível, entre outros. Nesse último, inclusive, há considerações importantes da médium sobre o tema. “Muitos dos nossos leitores, ou quase que em geral os espíritas, supõem sejam os romances mediúnicos meros arranjos literários, ficções habilidosas para exposições doutrinárias.” Lembra que o espírito Adolfo Bezerra de Menezes, em Dramas da obsessão, classifica os romances espíritas de “similares das parábolas messiânicas”, visto serem extraídos da vida real do homem, assim como as parábolas foram inspiradas na vida cotidiana dos galileus e judeus. “Engana-se, pois, quem julgar os romances histórias ilusórias, simples composições artístico-literárias para fins de propaganda doutrinária. (...) Nos romances mediúnicos existe a

verdade de vidas humanas como fundamento, senão relatórios ligeiramente alterados a fim de não identificar completamente as personagens”. Também Allan Kardec tece seus comentários sobre romances na Revista Espírita. “À primeira vista, o romance parece ser o gênero mais fácil. Consideramo-lo mais difícil que a História, embora menos sério. O historiador tem o quadro traçado pelos fatos, dos quais não pode afastar-se uma linha; o romancista deve tudo criar; mas muitos pensam que basta um pouco de imaginação e de estilo para fazer um bom romance”. E acrescenta: “Pode-se fazer romances sobre o espiritismo, como sobre todas as coisas. Dizemos mesmo que o espiritismo, quando for conhecido e compreendido em toda a sua essência, fornecerá às letras e às artes fontes inesgotáveis de poesias encantadoras. Mas por certo não será para os que só o veem nas mesas girantes(...). Como nos romances históricos ou de costumes, é indispensável conhecer a fundo a tela sobre a qual se quer bordar, a fim de não se cometer disparates, que seriam outras tantas provas de ignorância(...) Aquele, pois, que não estudou a fundo o espiritismo, em seu espírito, em suas tendências, em suas máximas, tanto quanto em suas formas materiais, é tão inapto para fazer um romance espírita de algum valor, quanto o teria sido Lesage de fazer Gil Blas, se não tivesse conhecido a história e os costumes da Espanha”. www.correiofraterno.com.br


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LAR EMMANUEL

Projeto Esporte e cidadania recebe apoio de Fundação

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Por IZABEL VITUSSO

a disputa do jogo de queimada, realizada dia 15 de maio entre as crianças do Projeto Jornada, do Lar da Criança Emmanuel, o que menos importou foi o resultado da partida. Para elas, a felicidade maior estava em pisar na quadra de esportes totalmente revitalizada e coberta que acabava de ser inaugurada. A realização dessa meta só foi possível graças à parceria com a Fundação Salvador Arena, benfeitora de muitos anos não só do Lar da Criança Emmanuel, mas de inúmeras frentes de promoção social. Uma cerimônia breve reuniu crianças, diretoria, funcionários e voluntários da casa e também representantes da Fundação. Ao comentar sobre as razões que movem ações como essa, a conselheira da Fundação Salvador Arena, Vanize Aparecida Vigatto,

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salientou a importância das instituições investirem na boa preparação de projetos a serem apresentados a parceiros, para obterem sucesso. A história da Fundação, que já soma 65 anos, também foi abordada, lembrando o idealismo do engenheiro Salvador Arena, empresário que, sem filhos, destinou os recursos de seu patrimônio a projeto direcionados à comunidade, na área de educação e assistência social. “A cobertura da quadra garantirá a execução das atividades diárias previstas para as crianças, mesmo em dias chuvosos, ou em sol excessivo. Os espaços cobertos destinados ao esporte e lazer estavam pequenos, em relação às 300 crianças e jovens hoje atendidos” – lembrou o presidente do Lar da Criança Emmanuel, João Sgrignoli. O Lar Emmanuel, ao qual a editora

Correio Fraterno é vinculada, trabalha há mais de 50 anos junto à comunidade local, com alto grau de vulnerabilidade social, na cidade de São Bernardo do Campo, SP. E assim como acontece com tantas instituições que trabalham para o bem, toda conquista representa mais recursos a garantir o sucesso no cumprimento do compromisso assumido. Mais aconchego, mais desenvolvimento, tanto para as crianças da creche como para a comunidade como um todo, atendida nas diversas iniciativas realizadas pelo Lar e pelo Centro Espírita Pátria do Evangelho.

Vanize Vigatto (Fundação Salvador Arena), Geni Francisco (diretora da creche do Lar Emmanuel) e educandos oficializam a inauguração


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COISAS DE LAURINHA

Água florificada Por TATIANA BENITES cado das costas? E sua mãe, entendendo a confusão, responde: – Filha, é água fluidificada e não água florificada. É água com os bons fluidos da oração e não água com flores! Sua madrinha sorriu e disse: – Não tem problema, vou guardar mesmo assim.

E Laurinha responde: – Madrinha, guarda essa, porque colocar a oração dentro da água eu não sei não, mas as florzinhas foi fácil, se quiser depois eu te ensino. A água pode ter suas propriedades modificadas pelo fluido magnético e espiritual, transmitidos tanto através do passe como por meio da prece. 1

Tatiana Benites e Hamilton Dertonio lançam novo livro na Saraiva

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a sala, a mãe de Laurinha e sua madrinha conversavam, enquanto ela se divertia com sua priminha Duda, um bebezinho de poucos meses. Laurinha, esperta, ficou prestando atenção na conversa dos adultos. – Cida, não sei mais o que fazer, tenho sentido muitas dores nas costas, estou me sentindo muito mal. Não consigo me cuidar, ir ao médico e nem ao centro espírita consigo ir, porque não tenho com quem deixar a Duda – disse Flora, a madrinha. – Nossa, Flora, precisa se cuidar. Marque um médico para ver se o que você tem é somente uma dor muscular ou algo mais sério – respondeu Cida. – Eu sei, preciso mesmo marcar, mas com criança pequena é tão difícil; nunca tenho com quem deixar. Parei meus estudos no centro espírita também. – O centro espírita é muito bom, principalmente para você que não está se sentindo bem. Vá ao menos ouvir palestras, tome um passe e beba uma água fluidificada1...

– Mas será que posso levar a Duda? – Claro que sim. Só não pode levá-la nos estudos, mas é bom, porque assim ela também será assistida. Laurinha, que prestava atenção em tudo, vendo sua madrinha muito desanimada, nem esperou sua mãe terminar a frase. Deixou a Duda no colo de Flora e correu para a cozinha. Lá pegou uma garrafa de água, em seguida foi até o vaso de flores e apanhou algumas delas, despetalando alguns botões e depositando-os no interior da garrafa. Voltando à sala com a garrafa cheia de flores na mão, entregou à sua madrinha e falou: – Madrinha, eu fiz água florificada pra você. – Laurinha, o que é isso? – indagou a madrinha. – Eu ouvi a mamãe dizer que você podia melhorar com água florificada e resolvi fazer uma pra você melhorar. – Dizendo assim, virou-se para sua mãe e completou: – E agora, mãe, ela tem que beber essa água de flores ou é só passar no machu-

Dia 4 de maio, a autora Tatiana Benites lançou oficialmente em São Paulo o livro Tem espíritos embaixo da cama? (Ed Correio Jovem) na livraria Saraiva, no Shopping Paulista. Depois do sucesso editorial de Tem espíritos no banheiro?, este segundo livro sobre as aventuras de Laurinha traz outras histórias bem-humoradas sobre temas espíritas interpretados por uma criança. Menina esperta, Laurinha, todas as vezes que vai à casa espírita, sai com uma novidade. Obra também para pais, educadores e para todos aqueles que queiram se divertir com as confusões inusitadas da personagem, o livro é de leitura fácil e rápida, sem deixar de lado a precisão dos conceitos espíritas. Com ilustrações de Hamilton Dertonio, o livro traz também um flip book. (Leia entrevista com o ilustrador em www.correiofraterno.com.br) www.correiofraterno.com.br


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CARTA ENIGMÁTICA DO CORREIO

ENIGMA

Quem redigiu a primeira das famosas epístolas de Paulo?

VIII Semana Espírita de Foz do Iguaçu De 6 a 13 de julho, com o tema O evangelho segundo o espiritismo – 150 anos. Participação de José Virgílio Goes, Lincoln Barros de Souza, Júlio César de Andrade, Enrique Baldovino, Maria Helena Marcon e outros. Informações: http://www.feparana.com.br/evento.php?cod=2111.

JUL

6

Semana da Família em São José dos Campos De 1 a 7 de julho, com palestras na Obra Social Célio Lemos - Rua Ana Gonçalves da Cunha, 30 - Jardim Jussara - São José dos Campos, SP. Partipação dos oradores: Alberto Almeida , Carlos Augusto Abranches, Mario Silva Waltrick, João Batista S Silva, Francisco Gabilan, Alessandro Viana de Paula e André Luiz Villar. Promoção USE de São José dos Campos. Informações: http://www.use-sjc.org.br

JUL

1

Encontro Espírita em Belo Horizonte De 26 a 28 de julho, promovido pela Associação Médico-Espírita de Belo Horizonte, com o tema ‘O Evangelho e o futuro’. Com a participação de Haroldo Dutra, Aila Pinheiro, Enéas Alexandrino, Roberto Lúcio, Jaider Rodrigues, Rosemeire Simões e Andrei Moreira. Local: Casa de Retiro São José. Rua Itaú, 475 – Dom Bosco, Belo Horizonte, MG. Informações: www.amemg.com.br ou (31) 3332-5293.

qualquer hora, em qualquer lugar

Solução da Carta Enigmática

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Congresso Espírita de Mato Grosso De 1 a 4 de agosto, será realizado o 5º Congresso Espírita de Mato Grosso, que contará com a presença de Plínio Oliveira (musical), Divaldo Franco, Alberto Almeida, Suely Caldas Schubert, Sandra Borba, Antonio Cesar Perri, Lacordaire Abrahão e Alírio Cerqueria. O evento acontece no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá. Realização: Federação Espírita do Estado do Mato Grosso. Informações: www.feemt.org.br

AGO

1

Festival de Música Espírita de UbeAGO raba Dia 24 de agosto acontece no anfiteatro do centro administrativo da Prefeitura Municipal de Uberaba o XII FEMEU, uma iniciativa da União da Mocidade Espírita de Uberaba. No evento, apresentam-se as 15 músicas que foram pré-selecionadas. Local: Av. Dom Luiz Maria Santana, 141, Santa Marta, Uberaba-MG. Informações: www.jornalespiritadeuberaba.com.br/femeu ou (34) 9969-7191.

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Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

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Resposta do Enigma:

Timóteo e Silas.

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QUEM PERGUNTA QUER SABER

Por que estamos tão dependentes dos computadores? Da REDAÇÃO

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m julho de 1971, pergunta semelhante foi dirigida ao médium Chico Xavier, no programa Pinga-Fogo1. comentava o entrevistador que a “cibernética” iluminava o mundo e o recolhimento do homem para as coisas do espírito parecia cada vez menor. Disse ele: “Chico, honestamente, será que a máquina fria, calculista, vai conseguir estrangular o homem?”. Vejamos a resposta do médium, que 40 anos depois ainda tão bem esclarece o assunto: A pergunta é muito válida e devemos reconhecer que hoje precisamos estudar até mesmo os nossos lazeres e que a nossa mente não tem estado tão eficientemente preparada para o descanso que a máquina nos trouxe e muitas vezes nos impõe. A automação nos faz viver na presença do futuro. Por isso mesmo, os espíritos amigos nos pedem para que sejamos cultores da chamada prospectiva, a ciência da prospecção. Precisamos compreender que dentro de uma estrada nebulosa necessitamos de luz que nos mostre à frente; necessitamos de reuniões, de técnicos, de religiosos, de cientistas, de pais de família, de mães de família (...). Precisamos ouvir as pessoas amadurecidas na experiência e os mais jovens, para compreendermos o que será de nós no

Diante da comunicação tão rápida pelas redes sociais, emails e mensagens, minha dúvida é se essa forma de nos relacionarmos pode ser considerada um progresso na visão do espiritismo. Por que estamos tão dependentes dos computadores? Jussara Limeira, pelo site dia de amanhã, se abandonarmos os nossos propósitos espirituais de vivência na construção de um mundo melhor. Precisamos compreender o cristianismo, como sendo uma doutrina de vivência humana, para que nós não venhamos a perder o calor da fraternidade uns para com os outros, para que não sejamos transformados em simples números na vida econômica, ou em meros robôs em nossa vida social. Para isto não

basta ouvir os adivinhadores da futurologia, conquanto respeitemos todos eles. Mas realizarmos por nós, dentro do país, sob a custódia das nossas autoridades, mesas-redondas, para compreendermos a importância da família com as áreas de compreensão que a família é hoje chamada a descerrar em seus núcleos para nos adaptarmos à era nova. Precisamos compreender a importância do lar como célu-

la da vida social, para que não venhamos a despencar num caos do qual não sabemos, amanhã, como nos levantarmos. A pergunta é muito válida e sugere a nós todos um vasto movimento de meditação com respeito aos nossos próprios destinos, porque as máquinas estão impondo a nós todos um repouso para o qual muitos de nós não estamos preparados. Precisamos estudar intensivamente, compreendendo que o estudo não é apenas uma obrigação para a mente infantojuvenil. Nós todos, aqueles que amadureceram na experiência da vida, precisamos estudar os nossos próprios caminhos de amanhã, para que não venhamos a entrar nas trevas de espírito. (...) Temos nos ensinamentos de Jesus bastante material para superar a influência surpreendente da máquina. Diz o nosso Emmanuel, que está presente: nós, como cristãos, vencemos trezentos anos de martírio nos primeiros séculos do cristianismo. Será possível que, agora, não saibamos vencer o nosso próprio excesso de conforto, para sermos cristãos? É uma pergunta para nós também. Programa de entrevista veiculado pela extinta TV Tupi na década de 1970. 1

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FOI ASSIM

Estrelas que não se apagam Por ANA OLIETE LIMA DE SOUZA

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udo estava caminhando da melhor forma possível. Minha filha Angélica grávida e muito feliz, foi ganhar o filho amado. Depois de três dias em casa, precisou voltar para o hospital e lá ficou 18 dias na UTI. Ela desencarnou no dia 16 de agosto de 2009. Foi muito triste sua passagem! Achei que eu não ia conseguir viver mais. Eu e minha família nos unimos mais do que nunca para continuarmos os dias tão difíceis que foram vividos. Eu, meus dois filhos, Lincoln e Welinton, e o meu marido, que não aceitava aquela perda da filha amada. O tempo se arrastava e nós caminhávamos lentamente. Passado um tempo, já tínhamos esperança de voltar a sorrir. Welinton era a nossa grande sustentação. Estava sempre mais conformado do que todos nós.

Em um sábado, porém, ele saiu para fazer o que mais gostava: andar em sua moto, que mantinha para o seu lazer. Então, outro pesadelo voltou a acometer a nossa família. Depois de sofrer um acidente, Welinton também partiu. Fazia um ano e três meses que Angélica já não estava conosco. Lembro-me que cheguei a ter vergonha da minha situação, pois me senti a menor pessoa do mundo... Aquela que sequer merecia a bondade de Deus. Só depois fui entender que a dor não é castigo, mas instrumento de progresso no amor. Mas eu tinha de ser forte, pois meu marido e o filho mais velho precisavam de mim. Depois de três meses do ocorrido, uma amiga trouxe-me notícias dos filhos queridos, dizendo-me que eles estavam em tratamento em uma colônia espiritual

e que precisavam do meu amor para se recuperar mais rapidamente. Foi a primeira esperança de eu continuar vivendo. Em seguida, conheci o Centro Espírita Lírio Branco, em São Bernardo, que realiza um trabalho muito especial de autoajuda para pessoas que, como eu, experimentam provas difíceis. Muitas delas mais difíceis do que a minha, como a mãezinha que chorava a perda do filho com apenas quatro anos de idade. Ao vê-la em sua dor, entendi que eu não tinha o direito de reclamar, pois meus filhos ficaram comigo muito mais tempo: a Angélica 25 anos e o Welinton 36. O tempo foi passando e eu fui convidada a fazer parte da equipe dos trabalhadores nessa tarefa, chamada “Entes queridos”. Esquecida de minha dor, por querer ajudar os que chegam passando a dor que eu já conhecia, fui um dia surpreendida com uma linda mensagem assinada pelos dois que preencheu todo o meu coração. Welinton falava da grande sorte de terem um ao outro na espiritualidade. Quando uma mãe poderia ver alguma vantagem, ao ver partir dois filhos em tão pouco espaço de tempo? Pois naquele

momento eu entendi. E aquela era mais uma lição: a de que eu precisava aprender a amar sem pensar só em mim. Olha que maravilha eles estarem juntos! No primeiro Dia das Mães, depois que partiram, recebi uma mensagem linda, dizendo que o meu presente eram as estrelas que eu naquela noite conseguisse ver no céu. Chorei muito quando li e disse comigo mesma: “Ficarei com todas!” Essa história de ganhar estrelas tinha um significado especial para nós. Era comum em casa ouvir de minha filha que o namorado havia lhe oferecido tais e tais estrelas do céu. Eu desdenhava, mas no fundo pensava: “Que lindo! Um dia alguém há de me oferecer também estrelas!” Hoje já não sinto mais dor. Saudades? Imensas. E se assim posso dizer: sou muito mais feliz! Porque consigo ver beleza no que antes passava despercebido. Perdi meus medos de tantas coisas pequenas, por entender que Deus está mais do que presente em minha vida. Não há o que temer. E nunca, nunca os meus filhos estiveram tão presentes. São como minhas estrelas que, mesmo não as vendo em noites escuras, eu sei que elas estão lá. Este fato aconteceu com Ana Oliete Lima de Souza, de São Bernardo do Campo. Conte também a sua história para ser publicada aqui no Correio Fraterno. (redacao@correiofraterno.com.br)

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DESTAQUE

Direções para os centros espíritas no Brasil

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JULIA NEZU

Da REDAÇÃO

dequar e dinamizar são as palavras que darão o tom para as ações, nos próximos cinco anos, das lideranças espíritas de todo o país, baseadas no Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro. O documento é fruto de um esforço conjunto entre todas as federativas do Brasil, aprovado no Conselho Federativo Nacional da FEB. Nele estão definidas as diretrizes, os objetivos e as sugestões de projetos para o período de 2013 a 2017, cujo desenvolvimento será acompanhado pelo CFN em reuniões ordinárias e nas reuniões das comissões regionais. A divulgação do plano foi um dos assuntos abordados nos encontros realizados de forma simultânea, no final de abril, das quatro Comissões Regionais do Brasil que integram o Conselho Federa-

Reunião das Federativas da Regional Sul: diretrizes para o movimento espírita

tivo Nacional da FEB. Em São Paulo o encontro reuniu cerca de 150 pessoas, contando com representantes do Estado, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. Também a Federação Espírita Uruguaia se fez presente, através de seu vice-presidente, Eduardo dos Santos, e equipe de sete participantes. As diretrizes têm como foco principal a difusão da doutrina, a preservação da unidade de princípios da doutrina, a comunicação social espírita, a adequação dos centros espíritas para o atendimento de suas finalidades, a multiplicação dos centros espíritas, a união dos espíritas e a unificação do movimento, a capacitação do trabalhador espírita e a participação na sociedade. Informações: www.febnet.org.br

Da REDAÇÃO

Iniciada em São Paulo pesquisa sobre materializações Foto rara do espírito materializado com o rosto descoberto

O

s fenômenos de materialização, muito comuns no movimento espírita no século passado, saíram de cena na atualidade. Não se fala mais nas reuniões mediúnicas que envolviam efeitos físicos, como comunicação por escrita e voz diretas, levitação de objetos, transporte de médiuns e objetos, moldes em parafina e materialização de espíritos. Era tempo de se provar a existência do espírito. É justamente este universo recheado de instigantes histórias que atraiu o escritor e comunicador espírita Ivan Franzolim para seu novo projeto, o de realizar uma pesquisa e registrar em livro. “O Brasil teve experiências bastante ricas com médiuns como Ana Prado, Mirabelli, Peixotinho, Otília Diogo, sem falar nos de cura, como José Arigó e Edson de Queiroz. São fatos que, se não forem registrados, cairão no esquecimento, levando parte da história do espiritismo no Brasil”– afirma o pesquisador, que foca sua pesquisa primeiramente na cidade de São Paulo. Franzolim já sabe que dentre os médiuns também estão Antônio Alves Feitosa, João Rodrigues Cosme, Lúcio Cosme, Benedito Cosme, Waldemar Lino Alves, Ênio Wendling, Fábio Machado, Carlos Eduardo Seixas, Francisco Antunes Bello, José Corrêa Neves, Waldemar Xandó de Oliveira, Nery Pulino, Diógenes Pulino, Oswaldo Pereira de Oliveira, Oscar Barbosa, Eduardo Ladeira Bandeira, Carmen Cunha Nicoletti. Mas sabe que outras dezenas se dedicaram ao exercício da mediunidade

de efeitos físicos em benefício dos necessitados. Sabe também que em São Paulo, entre as décadas de 1940 e 1980, reuniões com fenômenos de materialização foram sendo instituídas em casas como: Centro Espírita Maria de Nazaré (Zona Norte), Templo do Cristianismo Espírita (Interlagos), Grupo Espírita Irmão Josafá (Zona Norte), Grupo Espiritual Padre Zabeu Kauffmann e Irmã Josefina (Aeroporto), Casa dos Espíritos (Tucuruvi), Fraternidade Espírita Irmão Kamura (Parada Inglesa), Associação Cristã Padre Zabeu Kauffman (Bela Vista), Sociedade Metapsíquica de São Paulo (Centro), Centro Espírita Padre Zabeu (Vila Piva), Centro Espírita Padre Zabeu (Celso Garcia), Centro Espírita Mais uma Estrela que Nasce (Zona Norte), Instituto de Pesquisas Metapsíquicas do Grupo Espírita Padre Zabeu (Santa Cecília). Faz parte de sua pesquisa registrar também os espíritos que se manifestavam, já tendo alguns nomes, dentre eles: Abud Malek, Adri Caramuru, Atanásio, Tupi-Cação, Irubi, Padre Chico, Padre Zabeu, Irmão Geraldo, Irmã Josefa, Irmã Noiva, Petter Zefferino, Nho Leocádio, Sebastião, Irmã Ângela, Irmã Gessy, Dr. Kamura, José Grosso, Palminha, Dr. Fritz, Dr. Joseph Gleber, Irmã Scheilla. Para concluir seu trabalho, o pesquisador conta com mais informações e pede aos que puderem ajudar entrar em contato pelo e-mail franzolim@gmail.com ou pelo telefone: (011) 2950-1483.

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MAIO - JUNHO 2013


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