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O valor da contribuição de Herminio C. Miranda

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“Rochester é um mestre consumado na arte de contar histórias” Pág. 8

FRATERNO O ESPIRITISMO EM LINGUAGEM MODERNA

Publicação da Editora Espírita Correio Fraterno • e-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br • Ano 41 • Nº 427 • Maio - Junho 2009

ESQUIZOFRENIA OU OBSESSÃO?

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nstigado pelo personagem Tarso (Bruno Gagliasso), o debate sobre esquizofrenia tem provocado diálogos importantes entre os personagens da novela Caminho das Índias (TV Globo), repetindo a fórmula já consagrada da autora Gloria Perez ao abordar temas polêmicos em suas histórias, colocando nas telas fatos reais que normalmente são escondidos e até evitados por preconceito ou desconforto no meio social. A discussão sobre a causa da esquizofrenia não é nova, principalmente se o assunto for analisado à luz do Espiritismo, que considera a concepção do homem não apenas pela visão mecanicista, mas forma-

PRIVAÇÕES

podem ter levado Flammarion a Kardec Camille Flammarion foi designado para o discurso de despedida a Kardec quando de seu retorno à pátria espiritual. Era 1869. Camille tinha 27 anos, rapaz ainda, porém cheio de méritos, e de excelente bagagem cultural. É bem provável que Flammarion tenha tomado contato com O Livro dos Espíritos aos 15 anos de idade, em 1857. Pág. 11

do de corpo físico, perispírito e alma, cujos componentes se interrelacionam e desempenham funções específicas. Apesar da abordagem de O Livro dos Médiuns não deixar dúvidas de que a mediunidade não provoca a loucura, na prática, porém, nem sempre é fácil se distinguir, por exemplo, um quadro típico de processo obsessivo de um transtorno psicótico. Muitas dúvidas pairam em torno do assunto, confundindo-se inclusive mediunidade com obsessão, assuntos que são abordados na seção Entrevista, numa edição especial. Leia nas páginas 4 e 5

Esquizofrenia: o drama de Tarso (Bruno)

Muito além de Shangri-la Há alguns anos, assistimos a um filme cujo enredo é uma história interessante. Após um acidente de avião, em região distante da civilização, uns três ou quatro sobreviventes saíram andando, em busca de salvação. Depois de longa e atribulada caminhada, deram, inesperadamente, com um país maravilhoso: uma pequena nação, isolada, onde as coisas eram todas perfeitas. Tudo calmo, agradável e tranquilo. Pág. 15

41 ANOS DE CORREIO FRATERNO

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EDITORIAL

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Da arte da representação aos traços do Fraterninho

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istória, ciência, atualidades e entretenimento se encontram de forma intensa nesta edição. A começar pela discussão em torno do tema esquizofrenia, que vem ganhando espaço nas principais mídias, não deixando nem mesmo o ator Bruno Gagliasso, na vida real, alheio ao assunto: tem visitado clínicas e se comunicado intensamente pela internet com o público, que deseja saber mais sobre sua instigante experiência no papel de um esquizofrênico, na novela Caminho das Índias (TV Globo). Pois é sobre este tema que a jornalista Eliana Haddad traz para o leitor, na seção Entrevista, o que dizem alguns

estudiosos atuais e também os já desencarnados. E para quem se prepara para tirar férias em julho e não abre mão de uma boa leitura, entre no mundo do consagrado escritor Herminio C. Miranda, que fala sobre seu trabalho e a tradução de um dos clássicos de Conde de Rochester: A Feira dos Casamentos, na seção Literatura e Espiritismo. O que teria levado o estudante e futuro astrônomo Camille Flammarion, que se tornaria depois um dos baluartes do Espiritismo, a procurar o professor Allan Kardec? No Baú de Memórias você vai encontrar pistas. Não dá para não comentar: As aven-

Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

turas do Fraterninho ganha cada vez mais a simpatia do público adulto, junto às crianças. Nesta edição, a beleza dos traços em sua missão, sob as lonas do circo, surpreendem. Não deixe de ler!!!! Equipe Correio

CORREIO DO CORREIO Homenagem ao Lucena Linda a reportagem sobre o nosso saudoso Lucena (edição 426). Nos emocionamos ao ler o texto. A foto então, mais linda ainda. Um exemplar foi doado ao Memorial Antonio Lucena do ICEB e outro à sua querida esposa, Sra. Deusarina, que agradece sensibilizada a homenagem. Parabéns ao Correio e a toda a sua equipe. Saudações de todo o pessoal do SEI. Giovanni Scognamillo, Rio de Janeiro-RJ

Qualidade do Correio Parabéns pela edição do Correio Fraterno de março/abril 2009 (edição 426). Adorei particularmente a reportagem Trinta Anos sem Herculano Pires e a interessante entrevista com Astrid Sayegh. Abraços. Neyde Schneider (Presidente da Sociedade de Estudos Espíritas 3 de Outubro) São Paulo-SP

A última edição do Correio mobilizou muitos leitores e trabalhadores do movimento espírita, que carinhosamente se manifestaram para ressaltar a qualidade do jornal, pelos temas e pelas coberturas de eventos publicados. Agradecemos o carinho e dividimos os méritos com todos os articulistas que nos ajudam a compor cada edição, enviando graciosamente seus escritos, frutos de muito labor e reflexões. Equipe Correio Fraterno

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• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

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ACONTECE

MEGAFEIRÃO Livros em oferta atrai milhares de leitores Por IZABEL VITUSSO

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15º Megafeirão de livros espíritas, que se realiza todo início de abril em Santo André, região do ABC, já é evento aguardado por um público cativo. Realizado pela Distribuidora de Livros Bezerra de Menezes, nas instalações da Creche Amélia Rodrigues, ele chega a receber mais de 4 mil pessoas e a vender quase 40 mil livros em dois dias de realização. No encontro, escritores e leitores, editoras e distribuidores têm oportunidade de encurtar caminhos e estreitar laços, tendo como interesse comum os livros, muitos dos quais com descontos de até 70%. A equipe do Correio Fraterno também fez parte do evento, oferecendo livros em ofertas e a assinatura do jornal. A oportunidade de encontrar grande quantidade de títulos, em preços mais

baixos é o que faz dona Josefina Barcha, 80 anos, deslocar-se todo ano da Penha, bairro da zona Leste de São Paulo, para passar boas horas do dia circulando nos corredores da feira. “Quando eu chego, fico em êxtase. Aí espero me acalmar e pego sem pressa os livros que eu quero. Apesar dos meus 80 anos, não sou dada a ficar fazendo crochê. Eu quero estudar. Venho atrás dos livros que ainda não tenho, como alguns de Herculano Pires.” Mas não são só os leitores que ficam em êxtase. Autores veteranos, como José Carlos De Lucca, Eliana Machado Coelho, e também os estreantes se entusiasmam com o corpo a corpo, técnica intensamente utilizada esse ano por muitos autores, no contato direto com o leitor. Ariovaldo Cesar Junior, autor estreante de Araraquara-SP, mas com intensa

Ariovaldo: corpo a corpo com o leitor

vivência na seara espírita, faz questão de narrar a técnica que utilizou para garantir uma avaliação sincera de sua primeira obra, A Proposta do Coronel, antes de procurar a editora O Clarim pensando em publicá-la: “Minha esposa, Cristina, por meio da mediunidade vinha-me dizendo sobre meu compromisso com a escrita. Eu achava esquisito, porque aquilo não passava pela minha cabeça. Mas um dia eu disse: amanhã vou levantar às 5 horas e me colocar à disposição. Assim eu fiz: Liguei o computador, fiz uma prece: “Senhor, estou às ordens, estou pronto para o trabalho. Se precisarem, podem contar comigo.” Permaneci concentrado. Veio uma ideia, fechei os olhos e aquela ideia continuou. Eu disse, vou escrever, porque não é meu! Tempos depois, quando o romance ficou pron-

to, eu o imprimi e dei para oito pessoas de segmentos diferentes avaliarem, sem dizer de quem era a autoria mediúnica. Todos os retornos foram positivos.” Animado com a aceitação do público, o escritor afirma que o trabalho continuará com outras obras, cujos recursos irão para o projeto Escola Espírita Eurípedes Barsanulfo, criado a um ano e meio na cidade de Araraquara pelo grupo onde é membro. Segundo a Associação das Editoras, Distribuidoras e Divulgadores de Livros (ADELER) O Megafeirão é o maior evento no segmento de livros espíritas, contando este ano com a participação de 90 editoras e cerca de seis mil títulos à disposição dos leitores. Números que, segundo o coordenador do evento Luis Saegusa, consolidam-se a cada ano, graças ao “esforço de todos os envolvidos”.


MOSAICO

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Escola de Assistência ao Próximo comemora 50 anos

Pensamentos de Richard Simonetti “O verdadeiro amor jamais cogita da própria liberdade, pois se realiza na felicidade do ser amado, em permanente doação.” “Podemos ser menos felizes com a dor, mas seremos decididamente infelizes se brigarmos com ela.”

Por ELIANA HADDAD Formatura da primeira turma EAPAN. Enfermeira Nancy de óculos. Ao lado, sua mãe Maria Augusta Puhlmann, fundadora do Nosso Lar

“Acumular bens na Terra, além das necessidades essenciais, é verdadeira loucura, já que não somos da Terra.” “Somente quando aprendermos a viver como verdadeiros cristãos, elegendo o bem dos outros como nosso verdadeiro bem, estaremos gerando bemestar futuro para que a alegria e a saúde, a paz e o equilíbrio sejam os nossos companheiros de sempre.” Richard Simonetti é conceituado expositor e escritor espírita, com mais de sessenta títulos publicados. De seu livro Temas de hoje, problemas de sempre. Ed. Correio Fraterno.www.correiofraterno.com.br

Dona Nancy

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Instituição Beneficente Nosso Lar está comemorando 50 anos de fundação da EAPAN – Escola de Assistência ao Próximo Ana Nery. Criada 12 anos após a fundação da Instituição, a EAPAN foi a primeira escola não profissional do Brasil a capacitar “elementos de boa vontade para trabalhos de assistência ao próximo pela alegria de servir”, como destaca o jornalista João Batista Ramos em matéria publicada, na época, na Folha de São Paulo.

No último dia 14 de maio, uma tarde de confraternização com apresentação artística e palestra da oradora Heloisa Pires marcou as comemorações da data, reunindo na Instituição diretores, alunos, funcionários, assistidos e voluntários, muitos dos quais integrantes da primeira turma de formandos e que até hoje trabalham no Nosso Lar. A presidente Nancy Puhlmann Di Girolamo lembrou que a EAPAN nasceu durante uma viagem dos recém-formados em Sociologia, da


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“quem sente o prazer de fazer o bem não pode mais viver sem ele” Heloisa Pires levaram adiante o ideal de preparar uma equipe multidisciplinar, através de curso livre, considerando a visão do ser integral, que ajudasse a preparar pessoas para trabalhar no crescente movimento de assistência social que se desenvolvia no Brasil, fortemente inspirado em ideais

cristãos e assistencialistas. Numa segunda fase, a EAPAN passou a capacitar voluntários para o Centro de Reabilitação, com crianças portadoras de múltiplas deficiências, hoje chamado DIPCE (Desenvolvimento Integral das Potencialidades da Criança Excepcional) e depois a ofere-

cer cursos de aprimoramento pessoal, com base na união do amor e da ciência, da ação e do conhecimento. Valorizando a importância do trabalho realizado por décadas, Heloisa Pires acentuou que “quem sente o prazer de fazer o bem não pode mais viver sem ele” e, recorrendo aos grandes ensinamentos de seu pai, Herculano Pires, lembrou o quanto ele defendia a importância da superação através das descobertas, da dilatação de possibilidades do desenvolvimento do homem integral. “Nunca se deixe abater, supera as circunstâncias e busque a perfeição”asseverava o filósofo espírita.

ACONTECE

Bolívia ao Brasil, da qual ela participara, e “em meio ao mal-estar físico de origem climática e o entusiasmo sóciopolítico da turma formada em 1958 que almejava reformar o mundo”. Naqueles tempos, a Escola de Sociologia e Política da USP era uma Instituição multidisciplinar, com tendências de contestação, incluindo alunos com formações variadas e religiões diversas, o que, sem dúvida, influiu para a valorização da diversidade como fator de riqueza cultural – ideia que gerava polêmica no campo das ações sociais então em desenvolvimento. Tendo como referência a frase de Anália Franco “Assistir é Educar”,

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PARA ENTENDER MELHOR

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O PESO DAS PALAVRAS por JOSÉ BENEVIDES CAVALCANTE A verdade deve ser dita quando possa servir de alavanca para reerguer quem se encontra no chão. Eu fugiria de quem só tivesse verdades para me dizer... Chico Xavier1

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onvidado a proferir palestra em nossa casa espírita, o expositor foi pronto em dizer que gostaria de falar sobre o aborto. Quando ele chegou ao centro, logo lhe pedi se podia me adiantar como abordaria o tema. – Não se preocupe – respondeu, incontinenti. Já sei o que está pensando. Fique tranquilo. Não atirarei pedra em ninguém... – Como assim? – Anos atrás, quando falava sobre aborto, uma jovem desmaiou na plateia. Desde então, me dei conta de que estava sendo duro demais na minha fala. Se, por um lado, a Doutrina Espírita nos mostra que, pela lei da causalidade, sempre somos responsáveis pelos nossos atos e daí decorre que jamais sofremos por acaso, por outro, ela nos adverte que devemos ser responsáveis e indulgentes para com as faltas alheias. Infelizmente, nem sempre percebemos o quanto é difícil falar de causas e efeitos a pessoas não-espíritas, sem assustá-las ou machucá-las. Aliás, existe entre nós um velho hábito de se tirar conclusões precipitadas, de se generalizar situações, e de ir se atribuindo os problemas dessas pessoas aos erros do passado, nelas despertando culpa ou, até mesmo, revolta pelo nosso atrevimento. Lembro-me do caso de uma mãe, que ficou muito indignada quando inadvertidamente lhe disseram que seu filho, portador de múltipla deficiência, teria praticado crimes horríveis na encarnação anterior. Quando falamos, principalmente a quem não tem conhecimento espírita, precisamos ser comedidos na palavra, sabendo o que estamos dizendo e a quem nos dirigimos, para que a nossa fala, colocada de forma adequada e compreensiva, não cause mais problemas do que os que já existem. Não é difícil constatar que, ao se sentir dono da verdade, embora querendo ajudar, o espírita corre o risco de se entusiasmar com o seu “conhecimento” e extrapolar o bom senso, fazendo diag-

nósticos e prognósticos que mais prejudicam que ajudam. Já citamos, aqui, o episódio de uma senhora, que fora instada por um dirigente espírita a frequentar o centro, pois, caso não o fizesse, ficaria louca. Ela, que tinha um marido muito autoritário, que sequer suportava ouvir falar de Espiritismo, pois já havia queimado todos os livros espíritas que encontrou em casa, ficou completamente desorientada e perturbada com a previsão sinistra do dirigente. Há, também, o caso de médiuns que, diante do paciente, que chega perturbado ao centro, passam a descreverlhe quadros de terror, envolvendo obsessores violentos e sedentos de vingança, quando não é encaminhado diretamente a sessões mediúnicas em que espíritos agressivos se manifestam, proferindo ameaças assustadoras. Quem não está familiarizado com a doutrina, acaba se apavorando com tais situações, ainda mais quando pouco ou nada se fala a respeito dos Espíritos protetores, de que Kardec se ocupou tanto em O Livro dos Espíritos. Certa vez, assistimos a um vídeo espírita que pretendia esclarecer o público leigo sobre obsessão. Fiquei preocupado e, ao mesmo tempo, chocado com as figuras demoníacas que eram mostradas dentro de uma casa, enquanto a família se reunia para a refeição. Com certeza, cenas apavorantes como aquelas não poderiam ser nada convidativas para quem pretendesse se sentir seguro no Espiritismo. É claro que a Doutrina Espírita, que segue os princípios morais do evangelho de Jesus, não pode concordar com tais situações, porquanto elas servem mais para intimidar os consulentes do que propriamente para despertar-lhes a consciência para seus elevados valores espirituais. O Evangelho de Chico Xavier, Carlos Baccelli, Editora Didier. 1

Advogado, pedagogo. Vice-presidente do CE. Caminho de Damasco e USE Intermunicipal de Garça-SP. E-mail: jobenevides@gmail.com

Esquizofrenia Que doença é essa? Por ELIANA HADDAD Instigado pelo personagem Tarso (Bruno Gagliasso), o debate sobre esquizofrenia tem provocado diálogos importantes entre os personagens da novela Caminho das Índias (TV Globo), repetindo a fórmula já consagrada da autora Gloria Perez ao abordar temas polêmicos em suas histórias, colocando nas telas fatos reais que normalmente são escondidos e até evitados por preconceito ou desconforto no meio social. O jovem Tarso é sensível à arte e sente-se pressionado pela expectativa familiar de que ele se transforme num poderoso executivo, sucessor de uma grande empresa. Deprime-se e acaba desenvolvendo uma doença mental. Tem alucinações, escuta vozes, sente-se perseguido, tem atitudes violentas, apavorando os pais e a namorada, que sem compreenderem seus surtos, ficam atordoados e perdidos. “Os doentes mentais são os nossos ‘intocáveis’ (indivíduos pertencentes às castas inferiores, no caso da Índia) e cabe a analogia: eles têm sido silenciados, vistos como absolutamente incapazes, esquecidos, varridos literalmente para debaixo do tapete. Espero contribuir para acabar com o preconceito que os estigmatiza” – declara a autora Gloria Perez em entrevista concedida à página virtual da emissora, dedicada à novela. A discussão sobre a causa da esquizofrenia não é nova, principalmente se o assunto for analisado à luz do Espiritismo, que considera a concepção do homem não apenas pela visão mecanicista, que nasce, cresce, reproduz e morre, mas como um ser trino, imortal, formado de corpo físico, perispírito e alma, cujos componentes se interrelacionam e desempenham funções específicas. Em O Livro dos Médiuns, comenta-se um dos pontos mais importantes, que ainda causa muita dúvida sobre as doenças mentais. Pergunta Kardec aos Espíritos se a mediunidade poderia produzir a loucura. A resposta é clara. “Não mais que todas as outras coisas, quando não há predisposição para a fraqueza do cérebro. A mediunidade não produzirá a loucura, quando o princípio não exista; mas, se o princípio existe, o que é fácil de se reconhecer pelo estado moral, o bom-senso diz que é preciso usar de cautela sob todos os aspectos, porque toda causa da agitação pode ser nociva.” Mas essa distinção não é tão simples, pois uma linha muito tênue separa uma coisa da outra, como se fosse possível dividir esse homem de aspecto trino, em três homens diferentes - o homemespírito, o homem-perispírito e o homem-corpo – com suas doenças e dificuldades específicas. É justamente essa visão compartimentada que provoca sempre a mesma pergunta aos especialistas da área, sejam psiquiatras, neurologistas ou pesquisadores do binômio cérebro/mente, numa tentativa incansável de se encontrar a verdadeira causa das manifestações e desequilíbrios psíquicos.


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Afinal, é obsessão ou loucura?

Dr. Nubor O. Facure A resposta do neurocirurgião e pesquisador espírita Nubor O. Facure, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas e ex-professor titular de Neurocirurgia da UNICAMP é bastante coerente. “Não é fácil dar uma certeza no diagnóstico quando os sintomas são subjetivos, por exemplo, no caso de enxaqueca e na doença do pânico, quadros em que pode haver sensações de tonteira e deslocamento corporal, sem que algum exame específico possa constatar as alterações.” Ele acrescenta ainda que mais complicado será o diagnóstico diferencial destes quadros tipicamente orgânicos com aquelas manifestações que ocorrem no início das chamada manifestações mediúnicas. “É o tempo que vai nos mostrar ou a eclosão das potencialidades mediúnicas ou a caracterização mais típica da enxaqueca ou do pânico.” Apesar, segundo ele, de serem constantes e facilmente detectadas as diversas alterações que ocorrem no organismo dos médiuns durante as manifestações espirituais, nenhuma delas têm a propriedade de afirmar categoricamente a presença de entidades espirituais, já que todas estas alterações são inespecíficas e podem ocorrer em diversas outras situações tipicamente orgânicas. Facure esclarece, porém, que os quadros de alucinação das diversas manifestações psicóticas são quase sempre de conteúdo repetitivo, predominantemente uma alucinação auditiva, com vozes quase sempre condenatórias e de conteúdo persecutório. O psicótico revela também um contexto sintomático relativamente fácil de ser reconhecido pelo seu caráter delirante e

pela desagregação do pensamento que o dissocia por completo da realidade. “O médium, com suas percepções visuais ou auditivas, em nenhum momento vai referir idéias persecutórias ou dissociações com a realidade. O bom senso vai revelar a lucidez do médium e o maior ou menor significado da mensagem que ouve ou observa pela vidência.” Para Facure, outro ponto importante a ser destacado é que o Espiritismo é uma doutrina que introduz um vastíssimo campo de estudo, ampliando diagnósticos e introduzindo uma nova compreensão para justificar a razão do sofrimento que a doença nos traz. “Eliminar problemas espirituais implica reeducar o espírito”. Avaliação sobre diagnóstico e tratamento para os transtornos mentais

Dra. Marlene Nobre A médica ginecologista, escritora e presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME) e da AME Internacional, Dra. Marlene Nobre, diz que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como o estado de completo bem-estar do ser humano integral: biológico, social, ecológico e espiritual. No entanto, em qualquer lugar do mundo, a preparação dos médicos ainda é extremamente reducionista, não sendo eles alertados para os problemas psicológicos e espirituais do paciente, embora o Código Internacional de Doenças (CID) contemple a existência dos estados de transe, fazendo a distinção entre os normais, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença. “Ficamos tristes com a conduta dos colegas que, habitualmente, rotulam todas as pessoas que dizem ouvir vozes como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas. ...Muitos são considerados psicó-

ticos por ouvirem espíritos e, na realidade, são médiuns.” O processo obsessivo e os transtornos psicóticos

Dr. Sergio Felipe de Oliveira O mestre em Ciências, estudioso da estrutura da glândula pineal humana, afirma que é preciso “discriminar no diagnóstico qual o papel da obsessão espiritual na doença que a pessoa está vivendo, já que todo transtorno psicótico, como a esquizofrenia, possui o componente obsessivo-espiritual.” Lembra que a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto no transtorno mental anímico, a partir de neuroses graves que marcam o subconsciente, quanto na interferência de fatores externos. Esses fatores externos podem ser químicos e orgânicos, como na ingestão de drogas ou nas desordens orgânicas – febre muito alta, uremia, desordens cerebrais – ou espirituais. Também cita que o manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM IV – alerta que o clínico deve tomar cuidado para diagnosticar pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou psicose. “A distinção entre alucinação, clarividência ou clariaudiência é uma situação bastante complexa”, comenta Dr. Felipe , lembrando que há melhora acentuada, nos casos em que há uma predominância do fator obsessivo-espiritual, com a magnetização e a desobsessão – o que traz novos horizontes para a Psiquiatria. Nos casos em que há predominância anímica ou orgânica, a melhora está mais associada à transformação do paciente. Os sintomas de Fabrício André Luiz As obras do médico e autor espiri-

tual André Luiz são exemplos vivos do interesse da Ciência Espírita no campo da pesquisa e da saúde. Um dos relatos citados por ele no livro No Mundo Maior descreve o quadro esquizofrênico do personagem Fabrício.“O cérebro apresentava anomalias estranhas. Toda a face inferior mostrava manchas sombrias. A esquizofrenia, originando-se de sutis perturbações do organismo perispirítico, traduz-se no vaso físico por surpreendente conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas. A imaginação superexcitada detinha-se a ouvir o passado... O doente ouvia as vozes internas, ansioso, amargurado. Desejava desfazer-se do pretérito, pagaria pelo esquecimento qualquer preço, ansiava fugir a si próprio, mas em vão: sempre as mesmas recordações atrozes vergastando-lhe a consciência.” Doença da alma Dr. Jorge Andréa Para o Dr. Jorge Andréa – professor, cientista espírita, autor do livro Visão Espírita nas Distonias Mentais, “as psicoses são autênticas doenças da alma ou do Espírito em severas respostas cármicas, quase sempre demarcando toda a jornada carnal... Os sintomas, por não terem o devido esgotamento no campo do exaustor físico (personalidade) perduram e refletem-se em outra reencarnação.” Dr. Bezerra de Menezes Segundo o Dr. Bezerra de Menezes – médico e autor espiritual de vários livros sobre o assunto, como A Loucura Sob Novo Prisma, “o esquizofrênico não tem destruído a afetividade, nem os sentimentos; tem dificuldade em expressálos, em razão dos profundos conflitos conscienciais, que são resíduos das culpas passadas. E porque o espírito se sente devedor, não se esforça pela recuperação, ou teme-a a fim de enfrentar os desafetos, o que lhe parece a pior maneira de sofrer do que aquele em que se encontra.” Referências KARDEC, Allan – O Livro dos Médiuns – Cap. XVII-5. Ed. FEB Jornal Folha Espírita – junho/2004 Revista Psychic World www.nuborfacure.blogspot. url www.cvdee.org.br

ENTREVISTA

Aspectos importantes sobre o assunto são abordados nesta edição numa espécie de entrevista coletiva, com os principais depoimentos dos expoentes espíritas sobre o assunto:

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LITERATURA E ESPIRITISMO

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HERMINIO C. MIRANDA O valor de sua contribuição

patifes são tão refinados e convincentes como os personagens bondosos, sérios e responsáveis. Ele joga muito bem com uns e outros, como os dramáticos contrastes do chiaro scuro na pintura. Ele prefere deixar aos seus leitores e leitoras a decisão entre o bem e o mal. A feira dos casamentos é obra que expõe isso muito explicitamente ao mostrar o triunfo moral dos bons e a ruína dos transviados.

Da REDAÇÃO

Q

uem conhece a qualidade do material produzido pelo escritor Herminio C. Miranda sabe a satisfação que proporciona a chegada de novas edições de suas obras. Estudioso do Espiritismo e respeitado pelos quase 40 livros publicados, Herminio conta que titubeou quando, na condição de grande admirador de J. W. Rochester, recebeu, há alguns anos, um volume em edição francesa do romance A feira dos casamentos. Um amigo enviara-lhe sugerindo que ele a traduzisse. A história se passava na Rússia Imperial, nas altas rodas sociais, com

príncipes e barões se movimentando, numa sociedade sofisticada, corrupta e imoral, 40 anos antes da Revolução que implantou o regime comunista. Herminio sabia da enorme responsabilidade do empreendimento. Porém, uma semana depois, a decisão estava tomada: não apenas lera a obra; já havia traduzido dezenas de páginas. E concluiu: “Ninguém resiste ao Rochester. Ele é um mestre consumado na arte de contar histórias.” Agora com projeto gráfico totalmente remodelado, o romance volta a ser publicado pela editora Correio Fraterno. Em entrevista concedida à jornalis-

ta Maria Menner, para o jornal Correio Fraterno, Herminio Miranda fala mais sobre o autor espiritual e suas obras. Vale a pena ler: O romance A Feira dos casamentos vai para sua 11.ª edição. A que se deve este sucesso? Herminio: Os livros de Rochester são sempre bem sucedidos. Ele é um verdadeiro mago da palavra tanto quanto hábil na arquitetura de seus enredos. Às vezes, penso até que ele tenha sido uma espécie de inventor do suspense ou, no mínimo, um de seus precursores. Suas histórias são densas e envolventes. Seus

Em sua opinião, os personagens da obra existiram mesmo, ou foram inventados apenas com o propósito de se dar um recado? Herminio: Parece-me que ele mistura um tanto de fantasia nos seus escritos com personalidades e fatos reais. Temos disso um exemplo em Romance de uma rainha – aliás, um de meus prediletos na bibliografia de Rochester, no qual personagens historicamente conhecidos misturam-se a alguns tipos aparentemente fictícios, quando ele precisa de dramatizar mais claramente determinados episódios, sem recorrer a longas e cansativas descrições. Como se sabe, seus livros são muito mais dialogados do que descritivos. Apesar de ter considerável poder de descrever móveis, decorações e cenários, ele não abusa de tais recursos. Quanto aos personagens, creio que ele às vezes os cria ou carrega nas cores de tal modo que os coitados ficam mais para o lado da caricatura. Em A feira dos casamentos encontramos alguns desses, mas nenhum tão caprichado como o caricato Pfauenberg, aparentemente construído a partir de um modelo real conhecido do autor. Ademais, nesse livro, Rochester está mais interessado em evidenciar a degradação de uma época, do que a história de cada personagem. Já em Romance de uma rainha, ele ocupou-se mais em preencher os claros que a História - com maiúscula - deixou de contar deliberadamente ou não. Hatasu, por exemplo, existiu de fato e sua presença no livro explica e complementa plausivelmente muito do que os historiadores profissionais não tomaram conhecimento. Acima disso, porém, o


autor consegue trabalhar muito bem com os mistérios e magias do lendário Egito dos faraós. E, no caso, da faraona, irmã do grande Tutmés III, que, aliás, a sucedeu no trono. Para o autor espiritual, o mago Tadar voltaria mais tarde como Richard Wagner, o mago da

ópera mística, lendária e misteriosa. O príncipe Horenseb, teria sido junto de Wagner, o infeliz rei Ludwig II da Baviera, admirador incondicional do grande compositor e até seu mecenas. Isso faz sentido e nos leva a perceber melhor certos enigmas não solucionados da his-

toriografia. Pelo que você vê, sou grande admirador do antigo John Wilmot, conde de Rochester. Não quero dizer com isso, que todos os livros de sua ampla herança cultural sejam de meu agrado. Ou que eu não discorde de certas posturas do autor.

LIVROS & CIA. Editora Allan Kardec Tel./Fax: (19) 3242-5990 editora@allankardec.org.br www.allankardec.org.br Do pó das estrelas ao Homem de Hebe Laghi de Souza, 240 páginas formato 14x21 cm

Meu nome é Patience Worth

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escritor Herminio C. Miranda conta que o jornalista estadunidense Irving Litvag, na busca por um bom artigo, deparou-se com um livro intitulado Comunicando-se com os mortos. Um dos autores era o senhor Casper S. Yost, amigo dos sogros de Litvag. Yost assinava um artigo em que falava sobre um espírito chamado Patience Worth. O jornalista pensou estar diante de mais um caso de fantasma, porém logo percebeu que tropeçara “num dos mais bizarros mistérios do século 20”. E assim, depois de muita pesquisa que lhe tomou cerca de nove meses de estudo, lançou o livro Singer in the Shadows – The strange case of Patience Worth (sem versão para o português, mas que, em tradução livre seria algo tipo Cantores nas Sombras – O estranho caso de Patience Worth). Que ‘estranho caso’ seria esse? E quem é Patience Worth? Tudo começou na noite de 8 de julho de 1913, quando um grupo de distintas senhoras da classe média-alta da cidade de Saint Louis, no Missouri, EUA, se reuniu em torno de uma prancheta Ouija – um tabuleiro com as letras do alfabeto e um ponteiro deslizante, em que os participantes apóiam suas mãos e fazem perguntas aos espíritos. Entre essas senhoras estava Pearl Lenore Curran, então com 30 anos. A senhora Curran não acreditava em espíritos e não gostava daquela brincadeira. De repente, o ponteiro começou a deslizar rapidamente e, aos poucos, formou-se a seguinte frase: Há muitas luas vivi. Estou de volta... Meu nome é Patience Worth. As senhoras ficaram aturdidas, pois não conheciam ninguém com aquele nome. Então, o espírito comunicante explicou que sua

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Por GEORGE DE MARCO Pearl Curran

verdadeira identidade devia provir da excelência e da natureza das obras literárias que ela ditaria à médium. No caso, e não por acaso, a senhora Curran abandonou a escola aos 14 anos, acalentando o sonho de ser cantora. Suas inclinações literárias eram exíguas, seus conhecimentos de História eram imprecisos e seu entendimento sobre o Novo Testamento era muito vago. Exatamente o que precisava aquele espírito e, de fato, segundo o pesquisador italiano Ernesto Bozzano “é justamente a cultura histórica, literária e filológica que constitui o que há de mais notável nos romances de Patience Worth!” Dentre esses romances, destaca-se The Sorry Tale (A história triste). Considerada a obra mais rica e mais admirável de Patience, A história triste se desenrola na Palestina, nos tempos de Jesus. Segundo Bozzano, este é um romance histórico “duma vasta concepção, no qual atuam certos caracteres que não são

comparsas superficialmente desenhados, mas caracteres poderosos de personagens vivas”. Dentre tantas impressões causadas pelo livro, que transporta o leitor por cenas geográfica e historicamente irrepreensíveis, o capítulo mais impactante é o da crucificação de Jesus, que apesar de longo, foi ditado à senhora Curran numa única sessão. Tal riqueza de detalhes chamou a atenção dos pesquisadores que investigaram o romance de Patience. Afinal, ela se apresentara como uma senhora inglesa do século 17, mas mostrava surpreendente conhecimento e familiaridade com o contexto em que se movem seus personagens, os hábitos, os acontecimentos desenvolvidos na História triste. Para Herminio, Patience estava lá, pois “somente uma pessoa que tenha, de alguma forma, vivenciado os fatos, poderia ter condições de escrever uma obra como The Sorry Tale”. Talvez por isso tenha adotado o pseudônimo de Patience Worth, que pode ser traduzido como “O valor da Paciência”. Valor que também deve ser creditado ao próprio Herminio, ao enfrentar o desafio de traduzir o romance para nossa língua – e foram dez meses até colocar o ponto final. Ao ser lançado nos EUA, A história triste arrancou elogios de tablóides como The New York Time e The Nation. Aguardemos que, também no Brasil, o valor deste romance seja reconhecido, num resgate da impressionante obra de Patience Worth. Publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor, evangelizador de mocidade e coordenador de teatro na seara espírita. E-mail: georgedemarco@hotmail.com.

Editora Boa Nova Tel.: (17) 3531-4444 boanova@boanova.net www.boanova.net Lucidez - A luz que acende na alma de Franciso do Espírito S. Neto, por Hammed, 157 páginas formato 14x21 cm

EBM Editora Tel.: (11) 3186-9766 ebm@ebmeditora.com.br O médico Jesus de José Carlos De Lucca, 152 páginas formato 14x21 cm

Correio Fraterno Tel.: (11) 4109-2939 correiofraterno@correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br O homem novo de Herculano Pires, 159 páginas, formato 14x21 cm.

LITERATURA E ESPIRITISMO

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ACONTECEU

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Riscos cardiovasculares e ESPIRITUALIDADE

COISAS DE LAURINHA

Pagar o mal com OBEM Por TATIANA BENITES

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o dia 22 de abril, o professor e doutor em Cardiologia Dr. Hélio Penna Guimarães, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração – IEP-HCor – proferiu uma palestra para o público acadêmico e profissionais da área, na UNIFESP-EPM – Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina – sobre os “Riscos cardiovasculares e espiritualidade”. Penna mostrou que resultados de pesquisas apontam a religiosidade como fator de interferência na manutenção da saúde, citando que em levantamentos mundialmente realizados em 2004, concluiu-se que o estresse e a depressão são fatores mais importantes do que os considerados atualmente, na interferência da saúde do coração. E completou: A religiosidade está diretamente associada à redução de fatores de risco, como pressão alta, tabagismo, alcoolismo e melhora na predisposição para a prática de exercícios físicos, menor incidência de depressão e mais rapidez nas convalescências. A confirmação desses novos paradigmas é relevante para a modificação da percepção e conduta da sociedade atual.

Trata-se de um grande desafio a constatação pela Ciência da ação fluídica da prece na saúde, uma vez que o espírito é um elemento ainda desconsiderado em ambiente de pesquisas e avaliação. Palestras como essa acontecem periodicamente na UNIFESP, promovidas pelo Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade – NUSE – criado há dois anos, com o objetivo de estimular ações e estudos em torno da temática no ambiente acadêmico, e tem a participação do Departamento Acadêmico da AME - Associação Médico-Espírita de São Paulo. Uma das frentes de trabalho envolve visitas aos pacientes das enfermarias do Hospital São Paulo, pelo programa “Saber ouvir”, e pelo projeto “Caravana”, quando os alunos visitam todos os quartos do Pronto-Socorro do Hospital, todo último domingo do mês, fazendo preces junto aos pacientes. Pelo terceiro ano consecutivo, o NUSE/ D.A AME também realizarão o Simpósio de Saúde e Espiritualidade, que chega a reunir na própria Universidade mais de 400 interessados. Este ano, acontecerá nos dias 6 e 7 de novembro. Informações: nusepm@gmail.com.

Laurinha foi ao centro espírita junto com seus pais para assistir à palestra do dia. Encontrou com seus amigos e logo se uniram para conversar. Quando a palestra começou, cada um sentou ao lado de seus pais e fizeram a oração de abertura, logo depois o palestrante começou a falar: – Hoje nossa palestra será sobre o Capítulo XII de O Evangelho segundo o Espiritismo, cujo tema é “Amai os vossos inimigos – Pagar o mal com o bem”. A palestra estendeu-se por quase uma hora e todos prestavam atenção, em silêncio. Enquanto o palestrante citava algumas partes do Evangelho, as crianças refletiam sobre o que estava sendo dito. Ouviam o palestrante: – Amai, pois, os vossos inimigos, fazei o bem, e emprestai, sem nada esperar.... Laurinha começava a refletir e não compreendia muito bem as palavras: “pagar o mal com OBEM”. O que seria OBEM? Ao final da palestra, os amigos se reuniram para conversar e Laurinha falou para Guilherme: – Não entendi direito essa palestra. – Por quê? – Sei lá. Não entendi o que é OBEM. – Quer dizer que quando alguém fizer alguma coisa ruim para você, é melhor que você pague com o bem. – Como assim? – Sei lá. Deve ter um jeito de pagar. – Ah! Já entendi. Conversaram mais um pouquinho e depois foram embora com seus pais. Em casa, Laurinha ficou pensando no que aprendeu e pensou: – Acho que é melhor arranjar logo como pagar o mal.... Tive uma idéia! Laurinha correu para o quarto, pegou seus materiais de artes e começou a recortar, pintar e de repente ... – Pronto!! Acho que fiz o suficiente para todos: papai, mamãe, eu, Guilherme, Pedro, Lívia... Foi para sala e entregou uma porção de papéis desenhados para o pai e outra para mãe. Seus pais se entreolharam e sua mãe questionou: – Filha, o que é isso? Você fez um novo dinheirinho? – Sim, mamãe. Criei um dinheiro que chama OBEM, porque aqui em casa a gente não tinha. – E pra que serve, filha? – perguntou seu pai. – Ora, papai, nós aprendemos hoje na palestra: “temos que pagar o mal com o bem”, por isso está escrito em cada dinheiro... OBEM. Agora quando alguém nos fizer mal, podemos pagar com OBEM e não teremos mais dívidas. Seu pai deu uma risada gostosa e falou: – Mas e quem não tiver esse dinheirinho? – Calma, papai, ainda vou ter que fazer mais.... Você compra mais papel verdinho pra mim? O que eu tinha já acabou.


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PRIVAÇÕES podem ter levado Flammarion a Kardec Por ARISTIDES COELHO NETO “O corpo cai, a alma permanece e retorna ao espaço. [...] A imortalidade é a luz da vida, como esse brilhante Sol é a luz da Natureza.” – Camille Flammarion (em seu discurso sobre o túmulo de Allan Kardec)

C

amille Flammarion foi designado para o discurso de despedida a Kardec quando de seu retorno à pátria espiritual. Era 1869. Mestre Rivail desencarnava antes de completar 65 anos. Camille tinha 27, rapaz ainda, porém cheio de méritos e de excelente bagagem cultural. É bem provável Flammarion ter tomado contato com O Livro dos Espíritos aos 15 anos de idade, em 1857. O livro representava um marco na história da humanidade, trazendo a lume pela primeira vez o nome Allan Kardec e a palavra Espiritismo. E mudaria certamente os rumos do pensamento de então. Como se sabe, Allan Kardec era, no princípio, apenas um pseudônimo obscuro do mestre Hippolyte Léon Denizard Rivail, este, sim, nome consagrado como cientista e pedagogo. Por que aquele jovem se interessaria pela obra? Sem dúvida pelo impacto que tal publicação gerou nos meios culturais da França e de tantos outros países. Camille, que viria a se tornar um astrônomo de renome, era intelectual que começara cedo... Esse envolvimento com ciência e cultura fazia parte de sua índole perquiridora — aprendeu a ler aos 4 anos. Aos 5, além de escrever, dominava os rudimentos da gramática e aritmética. Flammarion nasceu aos 26 de fevereiro de 1842 em Montigny-Le-Roy, na França. Filho de agricultores humildes, desde o momento em que passou a frequentar a escola foi sempre o pri-

meiro aluno. Na sua formação católica, alguns padres marcaram presença, dentre eles um que lhe falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia. Prosseguiu seus estudos no pequeno seminário de Langres. Sua infância foi permeada de episódios alegres e gratificantes, mas também de experiências amargas. O ano de 1854 lhe seria marcante. A cólera iria exterminar um quinto da população de Montigny. Flammarion, aos 12 anos, perde seus avós paternos, e seu pai adoece. A mãe, extenuada, mal tem forças para tratar do marido. E sua família ainda perde todos os bens materiais. Em maio de 1854, seus pais partiram para Paris, na tentativa de um recomeço. Em agosto de 1856, sem recursos, Flammarion também segue para Paris. Trabalhava muito. Nem sempre com as coisas das quais gostava. Lia e escrevia muito! Aliás, começara a escrever muito cedo. Era comum Flamma-

rion aproveitar a luz do luar para tal, pois em muitas ocasiões nem vela possuía. Dormia pouco. Em meio às necessidades por que passava, a contemplação da natureza o comovia significativamente. Admirava-se com a grandeza do Universo, e no seu afã de saber mais sobre os astros do céu, improvisava lentes e tubos de papelão, simulando microscópio e rudimentares telescópios, atraído pelo espetáculo do céu. Aos 15 anos, ei-lo envolto em dificuldades com subsistência, morando e se alimentando mal, em trabalho não-gratificante. Mas sua perseverança e seus sonhos nunca arrefeceram. Assistia todas as noites aos cursos gratuitos da Associação Politécnica. E continuava elaborando seus escritos. Tantas privações podem tê-lo levado a Rivail à época. O insigne professor, desprendido quanto a questões de dinheiro e coisas materiais, revelava verdadeira paixão pelo ensino. Aliado a isso, seu amor ao bem o levou a dar aulas gratuitas. Se Rivail, durante seis anos, ministrou aulas de Química, Física, Anatomia, Astronomia e outras matérias, por que não teria sido esse o motivo do encontro entre o futuro Allan Kardec e o futuro astrônomo Camille Flammarion? O jovem que mais tarde se converteria também num baluarte do Espiritismo, “sempre coerente com suas convicções inabaláveis, um verdadeiro idealista e inovador”, segundo Gabriel Delanne. Se até Astronomia o professor Rivail dominava, imaginem quantas conversas fraternas não devem ter acontecido entre Camille e Rivail em torno dessa área. Abordagem nova,

agora visão clara e racional de civilizações diversas, enchendo de vida aqueles instigantes astros que brilhavam nos céus de Paris e do planeta Terra. Rivail também dormia pouco, como Flammarion, o que é próprio de homens que julgam que seus planos e projetos não cabem no espaço regulamentar de um dia. Com 16 anos, Flammarion já tinha prontos os manuscritos de seu primeiro livro. E começam a abrir-se as portas para o rapaz sedento de saber. Ingressando no bacharelado em Ciências e Letras, volta de fato suas atenções para Astronomia. Ao deixar, aos 20 anos, o Observatório de Paris, passa a dedicar-se com mais afinco ainda a seus estudos, seguindo-se então muitos sucessos. Sua jornada foi um suceder de prêmios e de reconhecimento por parte do mundo estudioso e intelectual da época. No decorrer de sua existência na Terra produziu mais de cinquenta obras, a maioria delas impregnada dos conceitos que a doutrina codificada por Kardec lhe proporcionou1. Seria Camille Flammarion jovem demais para, em meio a tantas realizações e privações, ter-se tornado ainda espírita convicto – amigo pessoal e dedicado de Kardec –, escritor renomado, reconhecido no meio científico por seu arrojo e capacidade de inovação? Ora, prezado leitor, os grandes espíritos não podem perder tempo... 1 Títulos espíritas de Camille Flammarion: A morte e o seu mistério, Estela, Narrações do Infinito, Urânia, O desconhecido e os problemas psíquicos, As casas mal-assombradas, Deus na natureza, O fim do mundo.

Arquiteto, professor, articulista espírita www.aristidescoelho.com.br

BAÚ DE MEMÓRIAS

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!

Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.


AGENDA

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CORREIO FRATERNO

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado com o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br

3.º Congresso Espírita Brasileiro Abertas as inscrições para o 3.º Congresso Espírita BraABR sileiro, promovido pela Federação Espírita Brasileira, que se realizará de 16 a 18 de abril de 2010, em Brasília-DF. Informações: www.100anoschicoxavier.com.br; 3congresso@febnet.com.br; cfn@febnet.org.br. Tel: (61) 2101-6188.

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Magnetismo Seminário Mesmer MagnetisJUN mo e Espiritismo com Paulo Henrique de Figueiredo em Parnamirim- RN, dia 26 de junho às 20h, no auditório Escola Municipal Augusto Severo. Av. Sargento Norberto Marques, 168. Tel: (84) 3231-4410. E-mail: vidaesaber@gmail.com.

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CRUZADA DO CORREIO

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EVENTOS LAR EMMANUEL Noite dos Caldos e Sopas 18 18 de julho, 18 horas

JUL

Aluguel de salão para festas Com espaço para 350 pessoas, amplo estacionamento, área verde. Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955, V. Alves Dias, São Bernardo. Tel: (11) 4109-8938 4109-8775.

A dupla de namorados Quando está em cena muda É pólvora junto ao fogo E o resto é “Deus nos acuda.”

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Plano em que vivem os que desencarnam

Mentor de Chico Xavier

VER, em inglês

Comunica- Instituto Uma parte ção através de Escrever do globo da voz do Medicina novamente ocular médium Molecular

Satélite natural da Terra Humilhado

--------Barsanulfo, médium mineiro

Última vogal

Precursor da magnetização

Sigla de Roraima

Autora espiritual do livro “Mãe”

OU, em inglês

Locomoverse Transcomunicação instrumental

DENTRO, em inglês

Sílaba de BARATA

Livro da Ed. Correio Fraterno: O Fantástico ------

Vitamina da laranja

Sufixo de favelada Anjo caído (Bíblia) Interjeição de dor

Vogais de oitenta Sem _ _ _ _ nem beira

Alcoólicos Anônimos Festa, Grande curso de balada (gíria popular água doce jovem)

__ Motta, cantor

2 em algarismos romanos

Local onde transitam pessoas e veículos

Capital da França

Sociedade Simples

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Encontro Nacional de Historiadores e Pesquisadores Abertas as inscrições para o SET 5.º Encontro Nacional da Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas, a ser realizado no Centro de Cultura Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, em São Paulo, dias 26 e 27 de setembro. Candidatos a apresentarem trabalhos científicos deverão enviar até o dia 15/07 cópia do material, no limite de 15 laudas para e-mail: eventos@ccdpe.org.br Tel.: (11)-3667-3506 3664-9600

ENIGMA

Em + ela

A letra da vitória

Parte do monitor do computador

Oposto de SIM

Que autor espiritual ditava trovas de humor como esta ao médium Chico?

qualquer hora, em qualquer lugar SOLUÇÕES

Flor símbolo do amor Nintendo Entertainment System

Terceira vogal

Personagem infantil do Correio Fraterno Fem. de bom

Consoante de RUA Primeira pessoa do singular

O dia mais importante Cubo para jogar 9 em algarismos romanos

Letra do alfabeto que Penúltima não possui vogal sonoridade

Animal com asas Vitalidade Antecede o nome dos santos

Livro da Ed. Correio Fraterno: --------da verdade

Resposta do Enigma: Cornélio Pires *Saiba mais, acessando www.correiofraterno. com.br


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Por IZABEL VITUSSO

Excelência em distribuição de materiais hospitalares

ESPECIAL

Diretor do Centro de Cultura retorna ao plano espiritual

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Distribuidor autorizado:

Johnson & Johnson Prod. prof. Kimberly Clark Health Care Smith’s Health Care Luiz Schvartz: Sua estada entre nós deixa doces lembranças

O

querido companheiro engenheiro Luiz Schvartz deixou o plano físico repentinamente no último dia 23 de maio, enquanto assistia à aula inaugural do “Curso de Gestão de Centros Espíritas”, no CCDPE – ECM - Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, promovido em parceria com a União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo - USE e a Distrital Jabaquara. Grande amigo, muito estimado, alma doce e carinhosa, Schvartz frequentava a Federação Espírita do Estado de São Paulo desde a década de 80 – desenvolvendo atividades como expositor na Área de Ensino – e, desde 2006, atuava também no Centro de Cultura, como Diretor de Patrimônio, onde vinha realizando importante trabalho de melhoria das condições do prédio da sede. Cerca de 40 dirigentes, coordenadores e outros interessados pelo tema encontravam-se assistindo à aula ministrada pelo Prof. Marco Leite, da secretaria Geral do CFN da FEB, quando, sentado em carteira rente à parede, ele recostou a cabeça e serena-

mente partiu da forma que, segundo companheiros do CCDPE, era o seu desejo: trabalhando (no caso estudando) para o bem. Segundo familiares, ele não se sentira bem dias antes e passaria por consulta médica, mas ainda assim não deixou os compromissos. Vitimado pelo enfarto, recebeu pronto atendimento, além das vibrações de todos os presentes. “Luiz Schvartz era muito amigo das pessoas. Tinha um interesse muito grande pelo Centro de Cultura. Era um verdadeiro seguidor de Jesus” – acentua a presidente do CCDPE Julia Nezu. De origem familiar judia, Luiz Schvartz procurou o Espiritismo, com a morte de seu pai, quando foi em busca de uma explicação. Nascido em São Paulo em 31 de março de 1946, era casado com Rosana e tinha três filhos e cinco netos. Ficam aqui registrados o nosso carinho e a nossa homenagem ao “Seu Luiz” – com quem convivemos no Centro de Cultura – pela imagem de cobertura do evento, captada horas antes de ele alçar o seu voo ao retorno espiritual. Eventos@ccdpe.org.br

Unidade de S. J. dos Campos Rua Cel. João Cursino, 139 Vila Icaraí (12) 3904-2399

er J. W. Rochestnda minio C. Mira

Tradução de Her

pela médium

Wera

Krijanowskaia

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Você não pode perder este casamento Intrigas e traições delineiam a história de sedução e interesse dos casamentos aristocráticos russos, onde personagens buscam riqueza e poder. Perdas e ganhos de fortunas misturam-se a lutas pessoais de superação, enquanto a ética cristã permeia valores, apazigua ódios e transforma orgulhos feridos. De J. W. Rochester psicografado por W. Krijanowskaia e traduzido por Herminio C. Miranda 452 páginas

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FOI ASSIM…

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Pelo bem da

medicina

Por ADRIANO HENRIQUE DE OLIVEIRA

M

inha mãe, D. Mira, casou-se em 29 de janeiro de 1972, em Caruaru-PE e um mês depois veio a adoecer com depressão profunda e obsessão, permancendo internada por cerca de um mês numa clínica psiquiátrica em Campina Grande, PB. Retornou então a Caruaru-PE, onde novamente foi recolhida, desta vez na famosa Clínica Psiquiátrica de Dr. Veloso. Ao obter alta, minha mãe foi levada ao Centro Espírita Léon Denis, em Caruaru, continuando o tratamento na AME (Associação Municipal Espírita), em meados de 1972. Já curada, recebeu o convite para o trabalho das consultas na AME, pelo então presidente Sr. Luís de Freitas, já falecido. No ano seguinte, eu nasci e, apresentando um grave mal, fiz minha mãe peregrinar entre médicos, que diagnosticaram minha doença como sendo tuberculose. Já desenganado pela medicina da Terra, fui levado pelos meus avós a fazer uma consulta espiritual na AME, onde detectou-se a aproximação de alguns espíritos apresentando o quadro de tuberculose que tinham o desejo de vin-

gança. Após oito dias de tratamento no Centro Espírita, D. Mira procurou o famoso pediatra Dr. Queiroga, que me encaminhou para hospitais de RecifePE e, ao fazer-se o raio-x do tórax, os exames acusavam normalidade: “transparências normais nos campos pulmonares”, ou seja, findo o tratamento no Centro Espírita, os pulmões estavam sem tuberculose. O médico, Dr. Queiroga, ficou estupefato e disse à minha mãe: “Eu só não quero que a senhora desmoralize a Ciência”. Isso se deu porque minha mãe perguntara ao médico se ele acreditava no Espiritismo. Daí em diante, passamos a frequentar reuniões e a estudar. Hoje tenho alguns livros editados e escrevo para vários jornais pelo Brasil. Sendo assim, eu sou um dos tantos que chegaram ao Espiritismo pela porta da dor. Cheguei e continuo firme!! Essa história aconteceu com Adriano Oliveira, de Caruaru-PE. Conte a sua também. Escreva para redacao@ correiofraterno.com.br

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ESCRITÓRIO

BRASIL

Tel.: (11) 4126-3300 Rua Santa Filomena, 305 1º andar - Centro São Bernardo do Campo - SP jdcontabil@terra.com.br

Anália Franco

A mãe dos alunos sem mãe Por LUIS MENEZES Para muitos o nome de Anália Franco está associado a um shopping de alto padrão e ao luxuoso bairro da Zona Leste da Cidade de São Paulo e poucos atribuem a origem desse nome à figura da educadora incomparável, nascida em Resende, RJ, em 1856, e que teve seu desenlace há exatos 90 anos. Professora primária desde os 16 anos, foi também escritora romancista, poetisa, literata, jornalista e autora de peças teatrais. A partir da lei do ventre livre, Anália Franco se viu diante da missão de amparar os filhos libertos de pais escravos que, pela condição de liberdade, eram rejeitados pelos senhores de seus pais e, sem qualquer recurso de sobrevivência, eram colocados na “roda da misericórdia” para adoção ou mendicância. Seu pensamento se condensava em: “diminuir a necessidade da esmola, pelo desenvolvimento da educação e do trabalho, de onde proveria o bem-estar e a moralidade das classes pobres. Acreditava que amparando as crianças, arrancando-as das trilhas do vício, as tornaria cidadãs úteis e dignas para o próprio desenvolvimento do país. Em 1911 adquiriu a Chácara Paraíso que havia pertencido ao Padre Regente Feijó e ali instalou a Colônia Regeneradora D. Romualdo. Este prédio hoje abriga o campus de uma das Universidades de São Paulo. Abolicionista e espírita zelosa, venceu o preconceito racial e religioso com o exemplo silencioso dos que trabalham enquanto os pequenos criticam. A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 23 asilos para crianças órfãs, dois albergues, além de colônia, banda, orquestra, grupo dramático, em 24 cidades do Interior e na Capital. Sua alegria era sair levando consigo as crianças a que ela chamava, em seus escritos, de meus alunos sem mães. Nossa alegria é poder escrever sobre esta mulher notável que antecipou seu tempo trocando miséria por promoção social paternalismo por cursos profissionalizantes. Bibliografia: Paulo A. Godoy. Grandes Vultos do Espiritismo. http://www.analiafranco.org.br, http://portal.prefeitura.sp.gov.br/s...historico/0002


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Por LAURO F. CARVALHO

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ssistimos, há muitos anos, a um filme cujo enredo é uma história interessante. Após um acidente de avião, em região distante da civilização, uns três ou quatro sobreviventes saíram, em busca de salvação. Depois de longa e atribulada caminhada, deram, inesperadamente, com um país maravilhoso: uma pequena nação, isolada, onde as coisas eram todas perfeitas. Tudo calmo, agradável e tranquilo. O clima ameno, o ambiente acolhedor e as pessoas que a habitavam, inteligentes, afáveis de belíssimo aspecto e simpatia irradiante. A fartura era invariável, ninguém conhecia a escassez. O solo, coberto com relva matizada de flores e as pedras, em vez de rochas comuns, eram gemas e pepitas de altíssimo valor, jamais vistas antes por eles, do mundo de onde procediam. Diamantes, rubis, topázios e um sem-número de pedras e minerais nobres, de tamanho e pureza sem-par, jaziam espalhados em quantidade, enfeitando o chão e divisáveis no fundo dos regatos de águas cristalinas. Depois de permanecerem durante algum tempo naquele pequeno paraíso, acolhidos espontaneamente pelos nativos, sentiram saudade do mundo de origem e desejaram voltar, não obstante todas as maravilhas que ali desfrutavam. Indagando dos habitantes quanto a uma possível permissão de retorno e a indicação de caminhos, foram informados de que não era possível. A região circunjacente era inóspita e sem comunicação com o mundo exterior. Apesar disso, vez por outra, vinha ao espírito daqueles sobreviventes aéreos o desejo de retornar ao seu ambiente, até que um dia um deles resolveu arriscar-se a uma fuga. Tinha-se apaixonado por uma das lindas jovens do lugar e, correspondido, decidiram ambos buscar uma saída para a civilização donde ele provinha. Transpuseram os limites do país e foram caminhando em meio à região agreste. Ele, antes de partir, movido de cobiça, procurou aprovisionar-se

O verdadeiro Shangri-la da vida é o reduto do lar fraterno, onde se cultiva o Evangelho! de tudo quanto pôde. Além dos víveres necessários, colheu o máximo que conseguia carregar daquelas gemas que ali havia, tão despercebidas. Eis, porém, que, ao amanhecer do segundo dia de viagem, começou a perceber, estupefato, estranhas mudanças: tudo aquilo de esplêndido que trazia consigo foi-se modificando, deteriorando, decaindo... Até a linda moça com quem estava fugindo foi enrugando a pele, encarquilhando o corpo, até se tornar uma velhinha decrépita. Cada vez mais espantado, viu as roupas se tornarem rotas e as maravilhosas e graúdas gemas não passavam agora de seixos comuns a lhe pesar inutilmente na mochila... Só então compreendeu, aturdido, que todas aquelas riquezas que trazia só existiam e perduravam lá no local donde saíra. Afastando-se, tudo perdia o encanto e se tornava comum como as coisas mais vulgares da vida que antes lhe eram próprias. A grande lição A mensagem do filme parece ser a de que o país das maravilhas é um ideal perfeitamente viável ao homem, a partir do momento em que se decida a agir com inteligência, simplicidade e amor, evitando complicar a vida com aflições e anseios irreais, desnecessários. Se ele não proceder com ambição e materialidade, se não se entregar ao egoísmo, vaidade e competição, se encarar e aceitar seu semelhante com naturalidade, se aprender a curtir a natureza sem destruí-la, nem fazer dos recursos naturais objeto de fantasias e alvoroço, certamente viverá num paraíso inalterável. Do contrário, porém, as mais valiosas coisas e tesouros mais anelados se tornam objetos vulgares e causa de aflição, contaminados

por seus maus sentimentos. Parafraseando, porém, essa figura, dizemos que o verdadeiro Shangri-la da vida é o reduto do lar fraterno, onde se cultiva o Evangelho! Além de ser o refúgio natural, onde somos aceitos e podemos viver à vontade, constitui a fortaleza íntima onde os rebenques da peleja diária são amortecidos e as forças refeitas. Isso se nele a luz do Cristo brilha como farol iluminador das mentes e corações que partilham o mesmo teto. O culto semanal do Evangelho em família é uma das mais prodigiosas práticas que o Meigo Cordeiro instituiu, desde quando reunia os discípulos nas casinhas humildes de Cafarnaum e Betsaida, Genezaré e Jericó... As pessoas que deixam o lar paterno, vagando pelo mundo incréu em busca de estabilidade, afeto e segurança, sentem, mais que as outras, a veracidade do que asseveramos. Lutando por firmar-se

entre estranhos e defrontando-se com o interesse frio, dificuldades e solidões a cada passo, melhor avaliam o que seja o calor humano de um lar, onde haja a confiança, segurança, amparo e compreensão, valores que o cultivo do Evangelho vai gerando e consolidando ao longo do tempo. Porque, fora disso, dessa paz e confiança que um lar bem estruturado proporciona - seja ele a morada coletiva de muitas almas, o reduto familiar normal ou mesmo o simples espaço de poucos habitantes - tudo mais, todas as complexidades com que a sociedade de consumo nos tenta nada significam em termos de bem estar real... Oh, Senhor! Transforme os lares da Terra em formosos Shangri-las em que a luz de Teu Evangelho fulgure, tornando maravilhosamente simples a vida de todos esses náufragos do comboio de Seu Planeta!... Iniciou-se na Doutrina ao realizar tratamento espiritual em Palmelo (GO), considerada a primeira cidade espírita do Brasil. Em Brasíliia, fundou na década de 60 o Sanatório Espírita de Brasília, além de livraria e uma das maiores distribuidoras de livros espíritas do Brasil. E-mail: laurocarvalho21@gmail.com

MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO

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EQUILÍBRIO

Muito além de Shangri-la


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CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2009


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