Encontro Aberto Primatologia

Page 50

Encontro Aberto de Primatologia de 2018: resumos e artigos

50

Linguagem, personalidade, e cooperação

A importância da memória para a cooperação em primatas David Sousa 1, Luís Correia 2, Leonel Garcia-Marques 3

WJCR - William James Centre for Research, ISPA-Instituto Universitário, Portugal BioISI, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 3 CICPSI, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1 2

Palavras-chave: Primatas, cooperação, memória, cognição funcional, sistemas multi-agente. Introdução Em dilemas sociais de cooperação existe uma tensão entre os interesses colectivos e individuais. A cooperação é o ideal para o grupo mas o egoísmo compensa a curto-prazo. Por isso, teoricamente, a selecção natural favorece a não cooperação (Nowak, 2006). Contudo ela observa-se a todos os níveis de organização biológica, nomeadamente em sociedades de primatas (Dugatkin,1997; Hammerstein, 2003). Para além de estabelecerem relações pró-sociais com indivíduos não aparentados, os primatas não se comportam como agentes estritamente racionais como seria previsto de um ponto de vista económico clássico. Como explicar a origem evolutiva do comportamento cooperativo em primatas? Segundo a teoria da reciprocidade, a simples troca de actos altruístas promove a evolução e manutenção da cooperação independentemente da proximidade genética, mas desde que o benefício da reciprocidade compense o custo do altruísmo, o tempo de vida for suficientemente longo e os grupos forem estáveis e socialmente tolerantes. Condições que maximizam o número de encontros, e em particular entre os mesmos indivíduos. Para além disso, alguma capacidade de reconhecer outros indivíduos, detectar o oportunismo e agir de acordo, é essencial para a eficácia da reciprocidade (Trivers, 1971), permitindo a auto-regulação social a favor da cooperação. De facto, uma meta-análise recente mostra que a reciprocidade explica a partilha de comida em primatas, uma forma fundamental de cooperação ( Jaeggi and Gurven, 2013) e um factor de complexidade das sociedades de primatas. Jolly (1966) e Humphrey (1976) defendem que a cognição dos primatas terá evoluído como resposta adaptativa a uma vida social complexa. De acordo com a hipótese do cérebro social, o número de neurônios neocorticais de um organismo limita a dimensão e a complexidade da vida social devido ao limite que impõe à memorização e processamento de informação social (Dunbar, 1998), o que deverá explicar a correlação positiva conhecida entre o volume neocortical da espécie e a dimensão de grupo (Dunbar, 1992). Por estes motivos, memória e cooperação são aspectos inter-relacionados. Modelos analíticos e simulações computacionais procuram prever as condições necessárias para o sucesso da cooperação (Rand and Nowak, 2013). Vários autores concordam que a cognição, a psicologia e a organização social dos primatas terá evoluído no sentido de facilitar a cooperação para a sobrevivência, e essencial ao funcionamento da reciprocidade é a capacidade de memorizar informação social (Stevens e Hauser, 2004; Stevens e Gilby, 2004; Stevens, Cushman, e Hauser, 2005). Neste trabalho apresenta-se um modelo multi-agente desenvolvido com o objectivo de avaliar a importância da memória para a construção de uma rede social de reciprocidade que permita sustentar a cooperação para a sobrevivência. Esperou-se que na condição em que os agentes cooperativos possam memorizar a identidade de outros agentes, as possibilidades de sobrevivência fossem superiores à condição em que não têm memória, podendo nesse caso ser explorados por agentes não cooperativos. Os resultados são compatíveis com a hipótese do cérebro social.

Métodos O modelo que se apresenta inspira-se no modelo de Zibetti, Carrignon, e Bredeche (2016). Um modelo multiagente desenhado na plataforma Netlogo (Wilensky, U. 1999) para a investigação do comportamento social em ambientes de recursos limitados. Todos os valores dos parâmetros que se apresentam foram definidos empiricamente


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.