Encontro Aberto Primatologia

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Encontro Aberto de Primatologia de 2018: resumos e artigos

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Título: Encontro Aberto de Primatologia de 2018: resumos e artigos Autor: Ângela Brandão Co-autor(es) Vários Design e paginaçâo Maria da Luz Vieira Imagem de capa: Pedro Ferreira Editora: Associação de Professores do Concelho de Almada ISBN: 978-989-99725-5-1

Almada, julho de 2018

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Encontro Aberto de Primatologia de 2018

resumos e artigos Associação de Professores do Concelho de Almada Universidade Sénior de Almada – USALMA

7 de julho de 2018 Encontro dos primatólogos portugueses Aberto ao público em geral

Comissão organizadora:

Angela Brandão (ULFC, CFCUL, PrimCog) Domitila Cardoso (APCAlmada - USALMA) Edite Prada (APCAlmada; USALMA) Evelina Daniela Rodrigues (ISPA, CLUL, PrimCog) Jerónimo Matos (Apcalmada - USALMA) Joana G. Pereira (PrimCog) Raquel Costa (Kyoto University, PrimCog) Sofia V. Dias (PrimCog) Susana Varela (IGC, cE3c)

Comissão científica:

Susana Costa (CAPP - ISCSP/UL) Catarina Casanova (CAPP - ISCSP/UL) Tânia Minhós Rodrigues (CRIA - FCSH/UNL) Rui Moutinho Sá (Univ. Lusófona da Guiné-Bissau, CIAS - UC) Raquel Amador (CAPP - ISCSP/UL) Susana Varela (IGC, cE3c) Angela Brandão (ULFC, CFCUL, PrimCog)

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O Encontro Aberto de Primatologia Os Primatas são um grupo animal que sempre despertou grande interesse, não só da parte da comunidade científica, mas também do público em geral, devido em grande parte às suas características morfológicas e proximidade evolutiva com o Ser-humano.

Apesar de Portugal não ser habitat natural de nenhuma espécie de primata para além da nossa, a comunidade científica nacional que se dedica ao estudo deste grupo animal tem desenvolvido estudos que contribuem amplamente para o aumento do conhecimento e protecção de diversas espécies de primatas não-humanos e, consequentemente, para as áreas da evolução e do comportamento humano.

Assim, a organização e promoção de eventos onde seja dada a conhecer a contribuição nacional e lusófona para a área da primatologia é de extrema importância.

Com este objectivo o Encontro Aberto de Primatologia, decorreu no dia 7 de Julho em Almada, Portugal.

Este encontro reuniu os investigadores da área da primatologia e chegou à população em geral que participou activamente.

Com a realização deste Encontro Aberto de Primatologia, pretende-se criar um ponto de encontro para os primatólogos portugueses e/ou lusófonos trocarem conhecimentos e contactos e criar um veículo de comunicação em português entre cientistas e cidadãos.

O Encontro Aberto de Primatologia foi uma oportunidade para a população em geral poder conhecer em primeira mão como se faz, comunica e debate em "Ciência", promovendo o seu envolvimento activo no evento através de actividades, como a avaliação das comunicações e das fotos.

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PROGRAMA, 7 de julho 2018 Sessão Plenária O papel dos zoológicos na conservação e na educação: O trabalho desenvolvido pelo Zoo de Lagos.

Paulo Figueiras Director do Zoo de Lagos

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Diversidade genética Técnicas não-invasivas de DNA Barcoding aplicadas à conservação de primatas elusivos no Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau.

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Colmonero-Costeira I., Borges F., Gerini F., Minhós T. & Ferreira da Silva MJ.

Do sifakas minimize inbreeding?

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Serão todos primos? A genética na conservação dos primatas da África Ocidental.

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Bárbara Parreira (BP), Erwan Quéméré (EQ), Cécile Vanpé (CV), Inês Carvalhoa (IC), Lounès Chikhi (LC)

Filipa Borges, Isa A. Pais, Rui M. Sá, Michael W. Bruford, Catarina Casanova, Lounès Chikhi, Tânia Minhós, Maria J. Ferreira da Silva

Linguagem, personalidade, e cooperação Decifrando a comunicação dos nossos parentes evolutivos mais próximos Evelina

Rodrigues, António J. Santos

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Como pode o Orangotango ajudar a compreender a origem das palavras na linguagem humana

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As sequências comportamentais e a personalidade

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A importância da memória para a cooperação em primatas

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António Alexandre

Brandão, A., Costa R., Rodrigues, E. e Vicente, L.

David Sousa, Luís Correia, Leonel Garcia-Marques

Sessão Plenária A relação dos primatas humanos com os primatas não-humanos: o exemplo da região nordeste do brasil 53 Carla Soraia Soares de Castro

Presença humana, tráfico.

O tráfico de primatas não humanos na Era dos Descobrimentos Cecilia Veracini

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Demographic and behavioral changes of west african primates inhabiting an anthropogenic environment 58 Tânia Minhós & Maria Ferreira da Silva

Distribuição, “efeito visitante” e luto Mapeando o macaco-uivador-da-costa (Alouatta palliata aequatorialis) para a conservação.

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Irene Duch-Latorre, Stella de la Torre, Laura Cervera, Galo Zapata-Ríos, Sara Álvarez-Solas, Felipe Alfonso-Cortes, Nathalia Fuentes, Víctor Utreras B.

Avaliação do impacto do Ecoturismo no comportamento de Gorilas de Montanha no Parque Nacional da Floresta Impenetrável do Bwindi, Uganda

60 Raquel Costa, Misato Hayashi, Michael A. Huffman, Gladys K. Zikusoka, Lilly Ajarova, Fred Bercovitch, Masaki Tomonaga

Luto e Depressão nos Primatas Não-Humanos

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Fotografias

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Constança Carvalho

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Pósteres

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Em busca do Efeito Visitante nos Santuários: Implicações no comportamento e bem-estar dos chimpanzés da Fundação Mona López-Álvarez, Sanjorge, Soloaga, Llorente

•

Utilização de ferramentas: Descrição do caso do Gibão-de-mãos-brancas no zoo de Lagos dão

Concurso de Fotografia Encontro Aberto de Primatologia 1.° Prémio Título: O Abraço. Evelina Daniela Rodrigues 2.° Prémio Sem título Raquel Costa 3° Prémio Título: Mãe e filho Catarina Henriques Silva

Pereira, Peixoto, Bran-

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Breve biografia dos oradores convidados Professora Doutora Carla Castro Professora no Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, da Universidade Federal da Paraíba, no Brasil, e doutorada em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (São Paulo, Brasil). Ministra diversas disciplinas sobre ecossistemas e ecologia de populações, em cursos de Graduação e Pos-Graduação.

As suas principais linhas de investigação são a ecologia comportamental (ordens Primata e Pilosa) e a perceção socioambiental de comunidades humanas e suas relações com a fauna local (especialmente com os primatas nãohumanos). Neste momento a sua investigação principal a nível de comportamento dos primatas versa sobre o comportamento de consumo de cana-de-açúcar por indivíduos de macaco-prego-galego (Sapajus flavius) que habitam a reserva particular do patrimônio natural engenho gargau, Paraíba, Brasil.

Tem vários artigos e capítulos de livros publicados, para além de inúmeras apresentações em congressos e conferências nacionais e internacionais.

No Encontro Aberto de Primatologia, a Prof.ª Carla Castro irá abordar a relação dos primatas humanos com os primatas não-humanos, mostrando o que ocorre no Brasil, principalmente na região nordeste onde desenvolve a sua investigação. Os primatas não-humanos são retirados da floresta e mantidos nas casas como animais de estimação, vendidos em mercados ilegais ou ainda caçados para servir de alimento (petiscos) ou para preparar remédios caseiros.

UFP - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (CV) http://sigaa.ufpb.br/sigaa/public/docente/portal.jsf ?siape=1297269 Paulo Figueiras Paulo Figueiras tem uma formação de base agropecuária e é diretor do Zoo de Lagos desde 2000. A sua experiência profissional inclui as posições de Director do Parque Zoológico de Lagos (Desde a fundação 16 Novembro de 2000), Administrador do ZIMS (Zoological Information Management System) da colecção zoológica do Parque Zoológico de Lagos, e Técnico (inspector) da AIZA (Associação Ibérica de Zoos e Aquários) na admissão de membros à Associação, incluindo funções de Monitorização do calau-de-faces-prateadas (Bycanistes brevis) na EAZA (European Association of Zoos and Aquaria), ser membro do comité do calau-rinoceronte (Buceros rhinoceros) e do comité do siamango (Symphalangus syndactilus) na EAZA. O Zoo de Lagos participa também no projecto de Conservação do Saguinus Oedipus na Colômbia, e nos projectos de conservação do Saguinus imperator, do Saguinus midas e do Saimir boliviensis no European Endangered Species Programme (EEP).

Tem desenvolvido um longo trabalho de educação e sensibilização para a conservação.

A sua palestra no Encontro Aberto de Primatologia irá versar sobre o papel dos Jardins Zoológicos, em especial do Zoo de Lagos, na conservação e na investigação de diversas espécies animais, nomeadamente de primatas nãohumanos.

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Sessão Plenária

O papel dos zoológicos na conservação e na educação: O trabalho desenvolvido pelo Zoo de Lagos.

Paulo Figueiras Director do Zoo de Lagos

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Diversidade genética

Técnicas não-invasivas de DNA Barcoding aplicadas à conservação de primatas elusivos no Arquipélago dos Bijagós, GuinéBissau.

Colmonero-Costeira I.1,2, Borges F.2, Gerini F.2,3, Minhós T. 4,5,6 & Ferreira da Silva MJ.2, 7, 8

Department of Biology, School of Sciences, University of Minho, 4710-057 Braga, Portugal CIBIO/InBio, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto, Campus Agrário de Vairão, 4485-661 Vairão, Portugal 3 Department of Biology, Anthropology Unit, University of Pisa, Pisa, Italy 4 Department of Anthropology, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Avenida de Berna, 26-C, 1069-061 Lisbon, Portugal 5 Centre for Research in Anthropology (CRIA), Instituto 24 Universitário de Lisboa, Av. Forças Armadas Ed. ISCTE, 1649-026 Lisboa, Portugal 6 IGC, Instituto Gulbenkian de Ciência, Rua da Quinta Grande, 6, P-2780-156, Oeiras, Portugal 7 Organisms and Environment Division, School of Biosciences, Cardiff University, Biomedical Sciences Building, Room C/5.15, Museum Avenue, Cardiff, CF10 3AX, Wales, UK 8 CAPP, School of Social and Political Sciences, University of Lisbon, Rua Almerindo Lessa - 1300-663 Lisboa, Portugal 1 2

Estimativas atualizadas sobre a distribuição de primatas ameaçados são fulcrais para o desenvolvimento de medidas de conservação eficientes. Contudo, em espécies de primatas elusivas e/ou raras que habitam ecossistemas de baixa visibilidade, como as florestas de África Ocidental, dados de presença baseados exclusivamente em observações diretas podem levar a inferências erradas sobre a sua distribuição. Assim, o uso de técnicas não-invasivas de DNA Barcoding (Códigos de Barras de DNA) permite a elaboração de estimativas de distribuição com maior grau de exatidão. O macaco verde – Chlorocebus sabaeus – (Quase Ameaçado), o macaco mona – Cercopithecus campbelli – (Quase Ameaçado) e o macaco de nariz branco – Cercopithecus petaurista buettikoferi – (Vulnerável) são as únicas espécies de primatas não humanos que ocorrem no Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. Contudo, a informação acerca da sua distribuição encontra-se desatualizada e poderá ser pouco precisa. Na Guiné-Bissau, o macaco de nariz branco poderá estar extinto no continente, tornando as populações residentes no Arquipélago dos Bijagós cruciais para a conservação desta espécie no país. No âmbito deste estudo, foi realizado um censo genético em 6 das 23 maiores ilhas do arquipélago para atualizar a distribuição e avaliar o risco de extinção das espécies. Extraiu-se DNA de 113 amostras fecais e de tecidos georreferenciados. Para classificar as amostras ao nível da espécie utilizou-se um fragmento do D-loop do DNA mitocondrial. O nosso estudo confirmou molecularmente a presença das três espécies no arquipélago e registou-se a ocorrência do macaco verde na ilha de Uno pela primeira vez, face aos relatórios anteriores. Verificamos também que a identificação visual dos espécimes durante as expedições foi imprecisa. O nosso estudo realça a importância das ferramentas de DNA Barcoding na conservação de primatas, nomeadamente na atualização das suas distribuições.

Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, The Born Free Foundation e Chester Zoo. Palavras-chave: Conservação de Primatas; Genética Não-Invasiva; DNA Barcoding; Distribuição Geográfica; Cercopithecini;

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Diversidade genética

Do sifakas minimize inbreeding?

Bárbara Parreira (BP)a, Erwan Quéméré (EQ)b, Cécile Vanpé (CV)c, Inês Carvalhoa (IC)a, Lounès Chikhi (LC) a,d,e. a b

Instituto Gulbenkian de Ciência. Rua da Quinta Grande, 6, 2780-156 Oeiras, Portugal

Unité de Recherche 035 CEFS (Comportement et Écologie de la Faune Sauvage), Institut National de la Recherche Agronomique, F-31326 Castanet Tolosan Cedex, France c

CNRS, LBBE (Laboratoire Biométrie et Biologie Évolutive), UMR 5558, UCB Lyon 1, 43 boulevard du 11 novembre 1918, 69622, Villeurbanne Cedex, France d

CNRS, EDB (Laboratoire Evolution et Diversité Biologique), UMR CNRS/UPS 5174, F-31062 Toulouse, France e

CNRS, UPS, EDB (Laboratoire Evolution et Diversité Biologique), Bâtiment 4R3 b2, 118, Route de Narbonne – F -31062 Toulouse, France

Most primates are social. Many primate populations consist of small age-structured units where a limited number of individuals monopolize reproduction and exhibit complex mating strategies. However, despite its ubiquity social structure is ignored by most population genetics. The traditional genetic approach envisions social groups as relatively small and isolated units of related individual. There are genetic risks associated with small population sizes, including loss of genetic diversity and inbreeding depression. Thus many group-living species are believed to be at high risk of inbreeding-depression. This is the case of many primate species, where ecologists often invoke inbreeding-avoidance strategies as an important mechanism to prevent inbreeding-depression effects. During the past years we have developed new software to simulate genetic and demographic data under some of the most common mating strategies found in primates. This has shown that the subdivision of populations into small groups is surprisingly efficient in maintaining genetic diversity in the form of outbreeding without selective mechanisms. This is highly counter intuitive and contradicts the belief that small groups are necessarily subject to strong genetic drift and at high risk of inbreeding depression. Currently, we are applying this framework to an endangered lemur species, the golden-crowned sifaka.

Although confined to a restricted and fragmented region of northeastern Madagascar, this lemur species exhibits extremely low levels of inbreeding. Using this new framework, simulations were tailored in order to fit the life-history and social system of the golden-crowed sifaka. I will discuss how this theoretical framework can be used to help interpreting the genetic diversity from real species and also as a null model against which ecological theories can be tested.

Keywords: sociality, mating system, genetic diversity, inbreeding avoidance, sifaka

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Diversidade genética

Serão todos primos? A genética na conservação dos primatas da África Ocidental.

Filipa Borges 1, Isa A. Pais 2,3, Rui M. Sá4, Michael W. Bruford 2, Catarina Casanova 1, Lounès Chikhi 5,6,7, Tânia Minhós 1,2,3,5, Maria J. Ferreira da Silva 1,2,8 CAPP, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, Portugal Organisms and Environment Research Division, School of Biosciences, Cardiff University, United Kingdom 3 CRIA, Universidade Nova de Lisboa, Portugal 4 CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal 5 Instituto Gulbenkian de Ciência, Oeiras, Portugal 6 CNRS, Université Paul Sabatier, ENFA, UMR 5174 EDB (Laboratoire Évolution and Diversité Biologique), Toulouse, France 7 Université de Toulouse, UPS, EDB, Toulouse, France 8 CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto, Portugal.

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Resumo O chimpanzé-ocidental (Pan troglodytes verus) encontra-se em perigo crítico de extinção. A Guiné-Bissau é considerada uma das áreas mais importantes para a conservação deste primata a nível global. No entanto, a falta de informação de base relativamente ao isolamento das subpopulações no país tem vindo a impedir a correcta avaliação da sua viabilidade a longo prazo. O presente estudo representa a primeira análise genética nacional dos chimpanzés na Guiné-Bissau. 665 amostras fecais foram recolhidas de forma não-invasiva e três tipos de marcadores genéticos – ADN mitocondrial, microssatélites autossómicos e um microssatélite associado ao cromossoma Y – foram utilizados para estimar a diversidade genética e a estrutura populacional. Os elevados níveis de diversidade genética e a subtil diferenciação genética entre subpopulações sugerem que os chimpanzés possuem uma elevada capacidade de dispersão em paisagens dominadas pela presença humana e/ou que as potenciais barreiras ao fluxo génico são ainda recentes. A falta de uma forte estrutura populacional no marcador genético masculino sugere que, ao longo das últimas gerações, ambos os sexos poderão ter contribuído para a dispersão entre grupos.

Os resultados deste estudo vão ao encontro do que havia sido revelado para populações de outras espécies de primatas, nomeadamente cólobus e babuínos, em regiões mais restritas da Guiné-Bissau. Presentemente, uma avaliação da diversidade genética e estrutura populacional está a ser realizada para várias espécies de primatas na zona sul da Serra Leoa. Esta região apresenta uma faixa contínua de floresta com pouca interferência humana, em contraste com o que se verifica na Guiné-Bissau, pelo que se espera que esta comparação permita obter conclusões mais robustas relativamente ao papel das comunidades e actividades humanas na conservação destas espécies na África Ocidental.

Palavras-chave: Conservação; Genética; Primatas; África Ocidental; Chimpanzé.

Introdução As florestas da África Ocidental são consideradas, em termos globais, um dos hotspots de biodiversidade, onde um elevado número de espécies endémicas estão ameaçadas por perda de habitat (Myers et al., 2000). Os cientistas têm vindo a comunicar uma crescente preocupação relativamente aos decréscimos populacionais e desaparecimentos de espécies nesta área (Brooks et al., 2002). Desde o princípio do século XX, extinguiram-se mais de 50% das populações de mamíferos, num evento por vezes referido como a sexta extinção em massa ainda em curso (Ceballos, Ehrlich and Dirzo, 2017). Esta é, portanto, uma região que deverá ser considerada prioritária para a conservação da biodiversidade (Myers et al., 2000).

Os primatas, em particular, encontram-se actualmente ameaçados por uma crise que poderá extinguir 37% das espécies existentes em África (Estrada et al., 2017). Esta crise pode ser atribuída a actividades humanas ambientalmente

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insustentáveis (Estrada et al., 2017), que são influenciadas pelos conturbados contextos sociais e políticos típicos das zonas africanas onde existe elevada biodiversidade (Hanson et al., 2009). De facto, guerras civis recentes fazem parte da história dos países onde se encontram as florestas da África Ocidental (Dudley et al., 2002). As consequências desta instabilidade política e económica sobre a biodiversidade fazem sentir-se através de um aumento dos níveis de desflorestação, de caça furtiva e de consumo de carne de animais selvagens, nomeadamente de primatas (Draulans and Van Krunkelsven, 2002; Dudley et al., 2002).

O presente estudo insere-se no âmbito de dois projectos de investigação: Primaction (Protecting the western chimpanzee and primate species from illegal logging and bushmeat hunting in Guinea-Bissau) e Primatomics (Genómica da paisagem comparada em primatas não-humanos da África Ocidental: uma contribuição da antropologia biológica para o seu plano de conservação). Tendo em conta a fragilidade e importância das florestas da África Ocidental para as espécies de primatas, pretende utilizar-se técnicas de genética e genómica da conservação para contribuir para a diminuição do seu risco de extinção e para a preservação do seu potencial adaptativo perante futuras alterações ambientais (Figura 1).

Figura 1. Localização da África Ocidental, zona de estudo da presente investigação.

Métodos Foram recolhidas, de forma não-invasiva, 665 amostras fecais de chimpanzés ocidentais (Pan troglodytes verus) na Guiné-Bissau, em quatro parques naturais localizados na zona Sul do país (Parque Nacional das Florestas de Cantanhez, Parque Natural das Lagoas de Cufada, Parque Nacional de Dulombi e Parque Nacional de Boé) e em áreas fora dos parques, na zona de Empada (Figura 2).

Os dados genéticos de ADN mitocondrial e de microssatélites autossómicos e associados ao cromossoma Y foram obtidos através de duas fontes: 1) gerados por Borges (2017) utilizando amostras recolhidas em 2015 e 2016 em Cufada e Dulombi por M.J. Ferreira da Silva e colaboradores; 2) base de dados genéticos criada por Sá (2013) com amostras recolhidas em 2008 e em 2010 em Cantanhez, Cufada, Boé e Empada.

Utilizando os dados genéticos produzidos, foram realizadas análises de diversidade genética, estrutura populacional, barreiras físicas à dispersão e história demográfica.

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Figura 2. Área de estudo e locais de amostragem (círculos laranja) na Guiné-Bissau. Os principais cursos de água estão representados a azul, as estradas a branco e os aglomerados populacionais a cinzento.

Na Serra Leoa, que apresenta uma faixa contínua de floresta no Sul do país (ao contrário do que se verifica na Guiné-Bissau), foram recolhidas de forma não-invasiva, entre Abril e Junho de 2018, 9 amostras fecais de chimpanzé ocidental, 267 de cólobus vermelho ocidental (Piliocolobus badius) e 21 de cólobus preto-e-branco ocidental (Colobus polykomos) (Figura 3, Figura 4). Estas amostras estão, neste momento, a ser laboratorialmente processadas, pretendendo-se, depois de amplificar ADN mitocondrial e microssatélites, realizar análises semelhantes às descritas anteriormente para a Guiné-Bissau, para que se possam comparar os dois locais de amostragem. Adicionalmente, estudos de conectividade de habitat, alterações de tamanho populacional, tamanho populacional efectivo, parentesco e endogamia serão realizados.

Figura 3. Faixa contínua de floresta no Sul da Serra Leoa (Gola Rainforest National Park), onde foram recolhidas amostras fecais de primatas em 2018.

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Figura 4. Da esquerda para a direita: chimpanzé ocidental (Pan troglodytes verus), cólobus vermelho ocidental (Piliocolobus badius) e cólobus preto-e-branco ocidental (Colobus polykomos). Fotografias tiradas na Serra Leoa, em 2018, por Isa A. Pais.

Resultados Com os dados genéticos de chimpanzés ocidentais da Guiné-Bissau, obteve-se valores elevados de diversidade genética, tanto com base no ADN mitocondrial (diversidade haplotípica de 0.942 e diversidade nucleotídica de 0.037) como nos microssatélites autossómicos (número efectivo de alelos de 4.510 e heterozigotia esperada de 0.748). A estrutura populacional revelou-se fraca (Figura 5), tendo-se, ainda assim, encontrado diferenciação genética significativa (p < 0.05) entre a Cufada e as subpopulações geográficas de Cantanhez e Boé para ambos os tipos de marcadores genéticos.

Figura 5. Outputs de dois tipos de análises populacionais realizadas com os dados de microssatélites autossómicos – PCA e Structure –, que indicam a presença de uma estrutura populacional fraca.

A análise da história demográfica, com base no ADN mitocondrial, sugere subdivisão da população. Analisando o microssatélite associado ao cromossoma Y (masculino), encontraram-se apenas dois alelos (variantes genéticas), estando no Boé apenas presente um deles e em Cantanhez, Cufada e Empada os dois (dados insuficientes para Dulombi) (Figura 6).

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Figura 6. Frequências alélicas do marcador genético associado ao cromossoma Y na Guiné-Bissau. O tamanho dos círculos é proporcional ao número de genótipos obtido em cada local (40 em Cantanhez, 14 em Empada, 29 em Cufada e 13 em Boé). Os principais cursos de água estão representados a azul, as estradas a branco e os aglomerados populacionais a cinzento.

Discussão Os resultados obtidos com base nas amostras de chimpanzé ocidental recolhidas na Guiné-Bissau representam o primeiro estudo genético nacional desta espécie naquele país. Estes vão ao encontro do que Minhós et al. (2013) e Ferreira da Silva et al. (2014) haviam reportado para espécies de cólobus e babuínos, respectivamente, em regiões mais restritas do país. De facto, os elevados níveis de diversidade genética e a subtil estrutura populacional sugerem que os chimpanzés apresentam uma forte capacidade de dispersão em paisagens dominadas pela presença humana e/ou que as barreiras impostas ao fluxo génico são ainda demasiado recentes para que as análises genéticas realizadas as detectem. Relativamente à análise do marcador do cromossoma masculino, parece haver indicações de que ambos os sexos terão contribuído para a dispersão entre subpopulações ao longo das últimas gerações (contrariando o comportamento de dispersão principalmente mediada pelas fêmeas normalmente observado em populações desta espécie).

Os dados para a Serra Leoa, de momento em fase de recolha e análise, darão a possibilidade de comparar padrões populacionais genéticos entre florestas fragmentadas (Guiné-Bissau) e contínuas (Serra Leoa). Espera-se que estes dados permitam inferir com maior robustez acerca do papel de intervenções humanas sobre a conservação das espécies de primatas não-humanos na Árica Ocidental. Finalmente, espera-se que os dados genómicos, actualmente a serem gerados para chimpanzés, cólobus vermelhos, cólobus pretos-e-brancos e babuínos de vários locais da África Ocidental, permitam obter conclusões ainda mais robustas que contribuam para a conservação destas espécies.

Referências

Borges, F. (2017) A country-level genetic survey of the IUCN critically endangered western chimpanzee (Pan troglodytes verus) in Guinea-Bissau. MSc thesis, 159 pp. University of Porto, Portugal.

Brooks, T. M., Mittermeier, R. A., Mittermeier, C. G, da Fonseca, G. A. B., Rynalds, A. B., Konstant, W. R., Flick, P., Pilgrim, J., Oldfield, S., Magin, G. and Hilton-Taylor, C. (2002) ‘Habitat Loss and Extinction in the Hotspots of Biodiversity’, Conservation Biology, 16(4), pp. 909–923.

Ceballos, G., Ehrlich, P. R. and Dirzo, R. (2017) 'Biological annihilation via the ongoing sixth mass extinction signaled by vertebrate population losses and declines', Proceedings of the National Academy of Sciences, 114(30), E6089-E6096.

Draulans, D. and Van Krunkelsven, E. (2002) ‘The impact of war on forest areas in the Democratic Republic of Congo’, Oryx, 36(1), pp. 18–34.

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Dudley, J. P.et al. (2002) ‘Effects of War and Civil Strife on Wildlife and Wildlife Habitats’, Conservation Biology, 16(2), pp.

319–329.

Estrada, A. et al. (2017) ‘Impending extinction crisis of the world ’ s primates : Why primates matter’, Science Advances, 3: e1600946.

Ferreira da Silva, M. J., Godinho, R., Casanova, C., Minhós, T., Sá, R. M. and Bruford, M. W. (2014) ‘Assessing the impact of hunting pressure on population structure of Guinea baboons (Papio papio) in Guinea-Bissau’, Conservation Genetics, 15(6), pp. 1339–1355.

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Minhós, T., Nixon, E., Sousa, C., Vicente, L. M., Ferreira da Silva, M. J., Sá, R. M. and Bruford, M. W. (2013) ‘Genetic evidence for spatio-temporal changes in the dispersal patterns of two sympatric African colobine monkeys’, American Journal of Physical Anthropology, 150(3), pp. 464–474.

Myers, N., Mittermeier, C. G., da Fonseca, G. A. B. and Kent, J. (2000) ‘Biodiversity hotspots for conservation priorities’, Nature, 403(6772), pp. 853–858.

Sá, R. M. (2013) Phylogeography, conservation genetics and parasitology of chimpanzees (Pan troglodytes verus) in Guinea-Bissau, West Africa. PhD thesis. Cardiff University, United Kingdom.

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Linguagem, personalidade, e cooperação

Decifrando a comunicação dos nossos parentes evolutivos mais próximos Evelina Rodrigues 1,2,3, António J. Santos 1 1 2 3

WJCR - William James Centre for Research, ISPA-Instituto Universitário, Portugal; Primate Cognition Research Group, Center for Philosophy of Sciences of the University of Lisbon, Portugal; Center of Linguistics of the University of Lisbon, Portugal

Resumo Nas últimas décadas, a comunidade científica tem-se debruçado sobre o estudo da comunicação de outros primatas, nomeadamente a dos chimpanzés para compreender as raízes da nossa linguagem. Tentativas de ensinar algo parecido com o discurso humano aos grandes símios falharam, mas um sucesso razoável foi obtido quando tentaram ensinar formas de linguagem visível. Estudos foram feitos em cativeiro no âmbito da compreensão de símbolos linguísticos em linguagem gestual e em lexigramas (quadros que contêm vários símbolos com significados associados). Os sinais adquiridos da linguagem gestual mostraram-se úteis na comunicação entre chimpanzés igualmente treinados e até transmitidos às gerações seguintes. O uso de lexigramas demonstraram que os chimpanzés possuem uma capacidade de juntar símbolos de forma não aleatória, o que poderá estar na base de um sistema sintático rudimentar. Mais recentemente os investigadores têm dado particular atenção à comunicação que ocorre na natureza.

Os chimpanzés comunicam através de vocalizações, expressões faciais e gestos. Apenas a partir dos 9 meses é que o chimpanzé começa a compreender a mãe e outros elementos do grupo como agentes socias, e começam a dirigir-lhes sinais intencionais. O uso intencional de gestos, a sua flexibilidade e adaptabilidade ao estado de atenção da audiência, alimentaram as teorias de que a linguagem humana se pode ter originado a partir dos gestos. As expressões faciais e as vocalizações aparentam ter uma grande componente emotiva, o que sugere menos controlo na emissão da mensagem que o individuo pretende passar. No entanto, estudos recentes demonstram que se pode extrair informação importante das vocalizações, tais como a identidade do individuo, a sua posição na hierarquia e o contexto. Com esta apresentação pretende-se dar a conhecer os últimos progressos que foram feitos nos estudos sobre a comunicação em chimpanzés.

Palavras-chave: chimpanzés, comunicação, gestos, vocalizações, expressões faciais O estudo da comunicação nos nossos parentes filogenéticos mais próximos remete-nos para uma grande panóplia de questões: Como evoluiu a nossa linguagem? Terão os chimpanzés capacidade de linguagem? Serão capazes de aprender a nossa linguagem? E seremos capazes de aprender a interpretar a sua “linguagem”? Como comunicam os chimpanzés entre si?

A palavra “linguagem” tem diferentes significados em diferentes contextos e disciplinas. Por este motivo, a evolução da linguagem é um tema particularmente controverso que ainda continua a ser debatido no meio académico. Apesar de ser inquestionável que os outros animais comunicam, não podemos considerar todos os sistemas de comunicação, linguagem. Hoje em dia sabe-se que certas capacidades envolvidas nestes sistemas de comunicação, que outrora foram consideradas exclusivamente humanas (ex.: cognição antecipatória, seguimento do olhar, memória episódica, etc…), existem também noutras espécies (Fitch, 2010). No entanto, é a coexistência de muitas destas características que permite distinguir a linguagem dos outros sistemas de comunicação animal (Saxton, 2010).

Os chimpanzés recorrem a sinais intencionais complexos, desde expressões faciais, sinais vocais até gestuais para comunicarem. Estudar todas estas modalidades nos nossos parentes filogenéticos mais próximos pode-nos dar pistas sobre como surgiu a nossa linguagem. Qual a modalidade que surgiu primeiro na evolução da linguagem, ou se tanto a modalidade vocal como a gestual coevoluíram, são questões que ainda são atualmente debatidas.

Os primeiros estudos de linguagem nos grandes símios, passaram por tentar ensinar algo parecido com o discurso humano aos chimpanzés. Após várias tentativas falhadas, um sucesso razoável foi obtido quando tentaram ensinar formas de linguagem visível, como linguagem gestual americana (ASL) e lexigramas (Gardner & Gardner, 1969; Lyn

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& Savage-Rumbaugh, 2000). Os sinais adquiridos de ASL acabaram também por ser usados na comunicação entre conspecíficos igualmente treinados e até transmitidos às gerações seguintes. Estudos com lexigramas (quadros que contêm vários símbolos com significados associado) demostraram que os chimpanzés possuem uma capacidade de juntar símbolos de forma não aleatória e de construir os símbolos através das partes que os compunham. Segundo Matsuzawa (1985), a preferência por uma determinada ordem de palavras poderia estar na base de um sistema sintático rudimentar.

Apesar deste tipo de estudos nos permitir perceber se os chimpanzés partilham determinadas capacidades com os humanos, não significa que façam o mesmo uso delas para comunicar. Anos mais tarde, vários estudos começaram a focar-se na comunicação entre conspecíficos, nomeadamente no uso e no significado das expressões faciais, vocalizações e gestos identificados. Algumas semelhanças morfológicas entre humanos e chimpanzés podem induzir em erro a interpretação de algumas expressões faciais. Por exemplo, a expressão “silent bared teeth” pode sugerir que o chimpanzé está a sorrir, mas na realidade é uma expressão facial associada ao medo, ao consolo e à submissão. No que diz respeito às vocalizações, muitas delas parecem estar associadas a determinados contextos ecológicos. No entanto, por vezes uma variação nos contextos sociais pode sobrepor-se a esta componente ecológica (Clark & Wrangham, 1993). A inibição de vocalizações também se verifica em certos contextos. Por exemplo, machos subordinados quando sozinhos e na presença de fêmeas evitam vocalizar para não atrair outros machos. Diferenças no padrão temporal com convergência em variantes locais, sugerem que pode também estar envolvida uma componente de aprendizagem (Marshall, Wrangham, & Arcadi, 1999). Um estudo recente demonstrou que as vocalizações aparentam ser mais complexas do que inicialmente se pensava, podendo-se extrair determinadas informações tais como identidade, idade, estatuto hierárquico e contexto das diferentes componentes da vocalização “pant-hoot” (Fedurek, Zuberbühler, & Dahl, 2016). Por fim, grande importância tem sido dada à modalidade gestual, uma vez que os gestos aparentam ser usados de maneira flexível, intencional e capazes de se adaptar ao estado de atenção do recetor (Tomasello & Call, 1997). Os chimpanzés começam a produzir gestos por volta dos 9 meses, atingindo o seu pico de produção de diferentes tipos de gestos por volta dos 3 anos (Pika, 2008). Em chimpanzés que vivem na natureza, foram descritos 66 tipos de gestos (Hobaiter & Byrne, 2011) conhecendo-se já alguns dos seus significados (Hobaiter & Byrne, 2014).

Neste momento, ainda falta explorar alguma complexidade das sequências gestuais, nomeadamente em determinados contextos, como o contexto de brincadeira. Atualmente, o avanço da tecnologia, permite-nos ir um pouco mais longe, e analisar também outras vocalizações e estudar as suas componentes. Recentemente, alguns investigadores têm-se debruçado sobre a integração de diferentes modalidades, que apesar da sua complexidade é muito importante, uma vez que as várias modalidades coexistem em condições naturais. Por fim, o papel da aprendizagem e como estas modalidades variam em diferentes culturas ainda está longe de ser totalmente conhecido. Apesar de começarmos a compreender melhor como os nossos parentes filogenéticos mais próximos comunicam, ainda nos resta decifrar uma grande parte deste código.

Referências:

Clark, A. P., & Wrangham, R. W. (1993). Acoustic analysis of wild chimpanzee pant hoots: Do Kibale Forest chimpanzees have an acoustically distinct food arrival pant hoot? American Journal of Primatology, 31(2), 99–109. http://doi.org/10.1002/ ajp.1350310203 Fedurek, P., Zuberbühler, K., & Dahl, C. D. (2016). Sequential information in a great ape utterance. Scientific Reports, 6(1), 38226. http://doi.org/10.1038/srep38226 Fitch, W. (2010). The evolution of language. Retrieved from https://www.google.com/books?hl=pt-PT&lr=&id=RProTk_ Ag7gC&oi=fnd&pg=PR9&dq=Fitch,+W.+T.:+2010,+The+evolution+of+language&ots=XB4x_u-HHt&sig=FSFXPCBqezAXgPDUs51ImyraV8o Gardner, R., & Gardner, B. (1969). Teaching sign language to a chimpanzee. Science. Retrieved from http://citeseerx.ist.psu. edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.384.4164&rep=rep1&type=pdf Hobaiter, C., & Byrne, R. W. (2011). The gestural repertoire of the wild chimpanzee. Animal Cognition, 14(5), 745–67. http:// doi.org/10.1007/s10071-011-0409-2 Hobaiter, C., & Byrne, R. W. (2014). The Meanings of Chimpanzee Gestures. Current Biology (Vol. 24).

Lyn, H., & Savage-Rumbaugh, E. (2000). Observational word learning in two bonobos (Pan paniscus): Ostensive and non-ostensive contexts. Language & Communication. Retrieved from http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0271530999000269 Marshall, A. J., Wrangham, R. W., & Arcadi, A. C. (1999). Does learning affect the structure of vocalizations in chimpanzees? Animal Behaviour, 58(4), 825–830. http://doi.org/10.1006/anbe.1999.1219

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Matsuzawa, T. (1985). Use of numbers by a chimpanzee. Nature, 315(6014), 57–59. http://doi.org/10.1038/315057a0 Pika, S. (2008). Gestures of apes and pre-linguistic human children: Similar or different? First Language, 28(2), 116–140. http://doi.org/10.1177/0142723707080966 Saxton, M. (2010). Child language: Acquisition and development. Retrieved from https://www.google.com/books?hl=pt-PT &lr=&id=cztdBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR7&dq=Acquisition+and+development+saxton&ots=MT0e9x0ajm&sig=HhcZogh RLmkdToLPhEGeNjlttak Tomasello, M., & Call, J. (1997). Primate Cognition. New York: Oxford University Press. Retrieved from https://books.google.com/books?hl=pt-PT&lr=&id=bSYdl2ExJrEC&pgis=1

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Linguagem, personalidade, e cooperação

Como pode o Orangotango ajudar a compreender a origem das palavras na linguagem humana António Alexandre 1 1

PCRG - Primate Cognition Research Group, Center for Philosophy of Science of the University of Lisbon

O Orangotango Pongo spp., o único grande símio vivo fora do continente Africano, encontra-se criticamente ameaçado de extinção. O progresso do ser humano no Sudeste Asiático reflecte-se na diminuição de habitat viável e no aumento do conflicto entre o ser humano e o orangotango, que culminará, se nada mudar, na sua extinção nos próximos 50 anos. O seu desaparecimento terá um impacto impossível de qualificar, não só pela riqueza de funções que este desempenha no ecossistema, como pelo seu valor intrínseco enquanto espécie e enquanto parente próximo do ser humano. Das várias semelhanças entre os orangotangos e o ser humano, há uma que tem sido alvo de particular interesse: o estudo do seu comportamento vocal como ponte para a compreensão da linguagem humana, tal como a conhecemos.

Grande parte dos estudos sobre a origem e a evolução da linguagem em primatas não-humanos foca-se em vocalizações que não necessitam do controlo motor da boca para a sua produção – as chamadas “voiced calls” – e que podem ser consideradas precursoras das nossas vogais. Este enfâse deve-se ao facto de estas vocalizações serem bem mais comuns do que as que necessitam do controlo motor – as chamadas “voiceless calls”, homólogas às consoantes na linguagem humana. No entanto, e ao contrário de todos os outros primatas e grandes símios, o orangotango não só emite com muito mais frequência “voiceless calls” como também combina ambos os tipos de chamamentos. Assim, o seu repertório vocal torna-se um óptimo modelo para estudar a origem das combinações entre vogais e consoantes, oferecendo uma oportunidade única para a compreensão da evolução da linguagem humana e o aparecer das primeiras palavras.

Como tal, tenciono apresentar as razões pelas quais os diferentes tipos de vocalizações dos orangotangos nos podem ajudar a compreender a origem das palavras na teoria evolutiva da linguagem.

Palavras-chave: Orangotango, vocalizações, linguagem, evolução humana, conservação

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Linguagem, personalidade, e cooperação

As sequências comportamentais e a personalidade Brandão, A.1,2, Costa R.2,3, Rodrigues, E.2,4,5 e Vicente, L.1,2

Departamento de Comportamento Animal, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Portugal Primate Cognition Research Group, Centro de Filosofia das Ciências, Universidade de Lisboa, Portugal 3 Primate Research Institute, Departamento de Cognição, Universidade de Kyoto, Japão 4 WJCR - William James Centre for Research, ISPA-Instituto Universitário, Portugal 1 2

5

Center of Linguistics of the University of Lisbon, Portugal

Resumo A personalidade pode ser definida como a forma de pensar, sentir e agir típica de cada indivíduo. O estudo da personalidade em primatas não-humanos, tem tido um crescimento exponencial nestas últimas décadas. Para estudar a personalidade têm sido utilizadas diversas metodologias, como os testes experimentais, a observação utilizando inventários comportamentais definidos para esse fim, análises hormonais, etc. No entanto, as sequências comportamentais per se, não têm sido alvo sistemático de investigação. No presente trabalho, observámos as seguintes espécies: capuchinhos (Sapajus apella) e lémures-vermelhos (Varecia rubra) do Zoo de Lagos, mandris (Mandrillus sphinx) e lémures-de-cauda-anelada (Lemur catta) do Badoca Safari Park, e gibões-de-mãos-brancas (Hylobetes lar) do Zoo de Lagos e do Zoo da Maia. Utilizou-se o programa EthoSeq ( Japyassú et al., 2006) para descobrir as sequências comportamentais características de cada grupo estudado e de cada indivíduo. Verificaram-se que em todos os grupos estudados os indivíduos apresentavam sequências comportamentais pouco usuais no grupo e em alguns casos mesmo únicas. Alguns indivíduos eram mais “típicos” mostrando sequências comportamentais muito próximas das sequências detectadas para o grupo, enquanto outros tendiam a diferenciar-se mais. Podemos concluir que o estudo das sequências comportamentais pode dar-nos informação muito rica sobre a personalidade dos indivíduos estudados e ser especialmente útil em estudos longitudinais interessados nos processos de adaptação.

Palavras-chave: personalidade, sequências comportamentais, complexidade, EthoSeq, adaptação.

Introdução A personalidade pode ser conceptualizada como um conjunto de padrões, individuais e consistentes, de sentimentos, pensamentos e comportamentos (Gosling, 2001). O interesse pelo estudo da personalidade iniciou-se há volta de um século atrás com os primatas humanos, e desenvolveu-se em várias áreas da psicologia. Infelizmente os estudos e teorias da personalidade em primatas não-humanos são bastante mais recentes. Entre a década de 1930 e 1940 os primatólogos começam a apontar para a existência de diferenças individuais em macacos e símios. No entanto, posteriormente e à excepção de Jane Goodall e do seu trabalho sobre o Parque Nacional de Gombe, na maioria dos estudos as diferenças individuais foram largamente ignoradas (Weiss, King and Murray, 2011). Só na década de 60 do século passado começam timidamente a publicar-se artigos que utilizaram diferentes métodos para avaliar a personalidade, como os testes experimentais, a observação utilizando inventários comportamentais definidos para esse fim, análises hormonais, observação comportamental directa, etc.. O número de artigos sofreu um crescimento exponencial entre a da década dos anos 80 a 90, e tem tendido a estabilizar ao longo do presente século, à excepção dos estudos que utilizam codificações de observações naturalísticas que continuam em franco crescimento (Freeman et al., 2011).

Nas investigações em primatas não-humanos têm-se estudado as diferenças individuais em categorias comportamentais simples, mas até à data não se têm estudado estas diferenças individuais em sequências comportamentais. No entanto, Lehner em 1996 (2007, pp. 440-464) já discutia a importância de analisar as sequências comportamentais intra e inter-individuais, e Japyassú et al. em 2006 sublinhava como as sequencias comportamentais não estereotipadas revelam a plasticidade comportamental dos indivíduos e das espécies.

Neste estudo analisamos as sequências comportamentais para detectar diferenças inter-individuais e entre os grupos das cinco espécies estudadas: capuchinhos (Sapajus apella) e lémures-vermelhos (Varecia rubra) do Zoo de Lagos, mandris (Mandrillus sphinx) e lémures-de-cauda-anelada (Lemur catta) do Badoca Safari Park, e gibões-de-mãosbrancas (Hylobetes lar) do Zoo de Lagos e do Zoo da Maia (para mais informação consultar os anexos).

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Tabela 1. Apresenta as espécies observadas, o número de fêmeas e de machos de cada um dos grupos, e o número de observações realizadas por cada indivíduo (apresentando o número mínimo e máximo de observações).

Espécie Varecia rubra (lemur-vermelho) Lemur catta (lemur-de-cauda-anelada) Sapajus apella (macaco-capuchinho) Mandrillus sphinx (mandril) Hylobates lar (gibão-de-mãos-brancas)

Fêmeas 3 3 11 7 3

Machos 5 7 3 4 3

Número de observações por indivíduo 12-51 17-35 59-83 50-54 51-52

Métodos Para cada uma das espécies foi construído um etograma geral da espécie que depois foi simplificado pela formação de categorias de comportamentos que se consideraram potencialmente significativas em termos de personalidade.

Para a recolha de dados foram utilizadas tecnologias de registo de dados em vídeo e em papel e lápis. Os registos em vídeo foram utilizados como recurso para clarificação de situações ambíguas. Recorreu-se ao método de decisão por discussão e consenso entre os observadores. Cada sessão de observação teve a duração de 10 minutos. A tabela 1 apresenta informações sobre a constituição dos grupos observados e número de observações realizadas (para mais informação podem consultar-se os diapositivos em anexo).

Utilizou-se o programa EthoSeq ( Japyassú et al., 2006) para descobrir as sequências comportamentais características de cada grupo estudado e de cada indivíduo.

Resultados Este estudo apresenta os resultados preliminares obtidos. Verificou-se que nem todas as categorias comportamentais observadas deram início a um padrão comportamental. As categorias comportamentais que geraram um padrão são as categorias cujo comportamento inicial A foi seguido por um outro comportamento B de uma forma consistente (com uma probabilidade de ocorrência a superior a 25%). Cada comportamento inicial pôde ser seguido de forma consistente por um, dois, três, e em raras ocasiões quatro possibilidades diferentes, ou seja, por um comportamento B1,B2, B3 ou B4. O comportamento B1 é o comportamento com a maior probabilidade de ocorrência, o comportamento B2 é o comportamento com a segunda maior probabilidade de ocorrência, e o B3 é o comportamento com a terceira maior probabilidade de ocorrência. Neste estudo apenas considerámos os três primeiros comportamentos. Os resultados descritivos podem ser observados na figura 1. Na figura 2 é possível observar as médias que cada uma das preferências comportamentais tem em cada grupo estudado.

Figura 1. No gráfico aparece o número total de categorias comportamentais que dão início a pelo menos um padrão com um comportamento preferencial subsequente – barra azul, o número total de categorias comportamentais que dão início a um padrão com pelo menos dois comportamentos preferenciais subsequentes – barra vermelha, o número total de categorias comportamentais que dão início a um padrão com pelo menos três comportamentos preferenciais subsequentes – barra verde, e por último a média das três anteriores – barra preta.

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Figura 2. No gráfico aparece a média em percentagem da preferência pelo primeiro comportamento subsequente – barra azul, a média em percentagem da preferência pelo segundo comportamento subsequente – barra vermelha, e a média em percentagem da preferência pelo terceiro comportamento subsequente – barra verde.

Criou-se um índice de complexidade que se calculou segundo a fórmula: Índice de Complexidade = B1/x1+B2/x2+B3/x3

3 Em que B1, B2 e B3 são os comportamentos subsequentes conforme explicado anteriormente, e x é o número total de categorias que apresentaram um, dois, ou três comportamentos subsequentes respectivamente. A figura 3 permite ver os resultados deste índice nas diferentes espécies estudadas.

Figura 3. No gráfico aparece o valor do índice de complexidade obtido para cada uma das espécies estudadas.

Por último, cada indivíduo foi comparado com as escolhas típicas do seu grupo. O total de escolhas inusuais realizado por cada indivíduo (escolhas pouco frequentes no grupo, ou seja, com uma probabilidade <15%) foi dividido pelo número total de escolhas possível. O valor obtido para cada um dos indivíduos serviu base para a comparação entre os indivíduos de cada grupo e entre as várias espécies (ver figura 4).

Figura 4. O gráfico apresenta os valores proporcionais de comportamentos inusuais para cada indivíduo de cada um dos grupos. As diferentes espécies são representadas por uma linha de cor diferente.

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Discussão Observou-se que as diferentes espécies apresentam diferentes graus de complexidade. As espécies mais complexas apresentam um maior número de padrões. Essa complexidade exprime-se num maior número de possibilidades comportamentais no grupo, ou seja, os indivíduos tendem a apresentar várias possibilidades de resposta consistentes ao longo do tempo de observação.

Os resultados também revelam que os indivíduos das diferentes espécies apresentam padrões comportamentais que incluem comportamentos pouco escolhidos pelos restantes membros do seu grupo. Os indivíduos das espécies com maior complexidade parecem apresentar um maior equilíbrio entre os comportamentos usuais e os comportamentos inusuais, portanto, os indivíduos desses grupos mostram certo grau de previsibilidade mantendo a individualidade comportamental.

Em resumo, o estudo da complexidade dos padrões comportamentais pode dar uma informação rica sobre os indivíduos pertencentes a um dado grupo, e tem um importante valor translacional permitindo o estudo comparativo entre espécies. No entanto, e dado ser um estudo ainda em fase preliminar, é necessário explorar melhor tanto o índice de complexidade, como a previsibilidade e as transições inusuais, pois provavelmente será necessário fazer ajustamentos que permitam uma precisão maior dos resultados.

Referências

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Lehner, P. (1996/2007). Behavior units. Handbook of ethological methods (2nd ed.). New York: Cambridge University Press.

Weiss, A. King, J.E. and Murray, L. (2011). Preface. In A. Weiss et al. (eds.), Personality and temperament in nonhuman primates. Springer: New York.

Anexos

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Linguagem, personalidade, e cooperação

A importância da memória para a cooperação em primatas David Sousa 1, Luís Correia 2, Leonel Garcia-Marques 3

WJCR - William James Centre for Research, ISPA-Instituto Universitário, Portugal BioISI, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 3 CICPSI, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1 2

Palavras-chave: Primatas, cooperação, memória, cognição funcional, sistemas multi-agente.

Introdução Em dilemas sociais de cooperação existe uma tensão entre os interesses colectivos e individuais. A cooperação é o ideal para o grupo mas o egoísmo compensa a curto-prazo. Por isso, teoricamente, a selecção natural favorece a não cooperação (Nowak, 2006). Contudo ela observa-se a todos os níveis de organização biológica, nomeadamente em sociedades de primatas (Dugatkin,1997; Hammerstein, 2003). Para além de estabelecerem relações pró-sociais com indivíduos não aparentados, os primatas não se comportam como agentes estritamente racionais como seria previsto de um ponto de vista económico clássico. Como explicar a origem evolutiva do comportamento cooperativo em primatas? Segundo a teoria da reciprocidade, a simples troca de actos altruístas promove a evolução e manutenção da cooperação independentemente da proximidade genética, mas desde que o benefício da reciprocidade compense o custo do altruísmo, o tempo de vida for suficientemente longo e os grupos forem estáveis e socialmente tolerantes.

Condições que maximizam o número de encontros, e em particular entre os mesmos indivíduos. Para além disso, alguma capacidade de reconhecer outros indivíduos, detectar o oportunismo e agir de acordo, é essencial para a eficácia da reciprocidade (Trivers, 1971), permitindo a auto-regulação social a favor da cooperação. De facto, uma meta-análise recente mostra que a reciprocidade explica a partilha de comida em primatas, uma forma fundamental de cooperação ( Jaeggi and Gurven, 2013) e um factor de complexidade das sociedades de primatas.

Jolly (1966) e Humphrey (1976) defendem que a cognição dos primatas terá evoluído como resposta adaptativa a uma vida social complexa. De acordo com a hipótese do cérebro social, o número de neurônios neocorticais de um organismo limita a dimensão e a complexidade da vida social devido ao limite que impõe à memorização e processamento de informação social (Dunbar, 1998), o que deverá explicar a correlação positiva conhecida entre o volume neocortical da espécie e a dimensão de grupo (Dunbar, 1992). Por estes motivos, memória e cooperação são aspectos inter-relacionados. Modelos analíticos e simulações computacionais procuram prever as condições necessárias para o sucesso da cooperação (Rand and Nowak, 2013). Vários autores concordam que a cognição, a psicologia e a organização social dos primatas terá evoluído no sentido de facilitar a cooperação para a sobrevivência, e essencial ao funcionamento da reciprocidade é a capacidade de memorizar informação social (Stevens e Hauser, 2004; Stevens e Gilby, 2004; Stevens, Cushman, e Hauser, 2005). Neste trabalho apresenta-se um modelo multi-agente desenvolvido com o objectivo de avaliar a importância da memória para a construção de uma rede social de reciprocidade que permita sustentar a cooperação para a sobrevivência. Esperou-se que na condição em que os agentes cooperativos possam memorizar a identidade de outros agentes, as possibilidades de sobrevivência fossem superiores à condição em que não têm memória, podendo nesse caso ser explorados por agentes não cooperativos. Os resultados são compatíveis com a hipótese do cérebro social.

Métodos O modelo que se apresenta inspira-se no modelo de Zibetti, Carrignon, e Bredeche (2016). Um modelo multiagente desenhado na plataforma Netlogo (Wilensky, U. 1999) para a investigação do comportamento social em ambientes de recursos limitados. Todos os valores dos parâmetros que se apresentam foram definidos empiricamente

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de modo a que as possibilidades de sobrevivência dos agentes sejam por um lado prejudicadas pelas circunstâncias ecológicas (quantidade inicial de recursos e velocidade de regeneração) e por outro promovidas por uma frequência de interacções suficientemente grande para permitir a reciprocidade, como exigido pela teoria. Deste modo será possível testar o efeito de mecanismos cognitivos adicionados como a memória.

No mundo existem árvores e agentes cooperativos (C) e não cooperativos (NC). A cooperação refere-se à partilha de energia adquirida na forma de frutos colhidos das árvores. Para sobreviverem os agentes deslocam-se no espaço à procura de fontes de energia (árvores ou agentes cooperativos). O mundo é toroidal e tem dimensões 51×51 patches (unidades de espaço bi-dimensional em Netlogo). Inicialmente existem 3 árvores colocadas aleatoriamente no espaço.

Cada árvore tem 5 frutos e se perder todos os frutos morre. A cada 4 ticks (unidades de tempo em Netlogo) nasce uma nova árvore com as mesmas características. Inicialmente existem 100 agentes colocados aleatoriamente no espaço, com uma energia aleatória entre 1 e 100, e que se deslocam aleatoriamente no espaço (1 patch por tick) dentro do seu campo de visão, perdendo uma unidade de energia a cada tick. O campo de visão é definido por um ângulo atencional de 120º e uma distância atencional de 9 patches. Se um agente encontra uma árvore no seu campo de visão desloca-se na sua direcção e colhe um fruto adquirindo energia máxima. Se encontra várias árvores desloca-se na direcção da mais próxima. Mas se perder toda a sua energia antes de encontrar uma árvore morre. Se em algum momento a sua energia for inferior a 33 e encontrar outro agente no seu campo de visão com energia superior a 33, então faz um pedido de energia a esse agente. Se o agente alvo for cooperativo, as energias dos dois são somadas e o total é dividido pelos dois. Caso contrário nada acontece. Neste caso, o agente em causa poderá memorizar (caso tenha memória) a identidade do outro para responder “na mesma moeda” numa eventual interacção simétrica futura. Colher frutos é prioritário a interagir com outros agentes.

Para o propósito deste estudo investigou-se o sucesso da cooperação e da não cooperação em termos do número de sobreviventes de cada tipo variando a proporção inicial de agentes cooperativos (Ci) na condição em que os agentes não têm memória, sendo a cooperação incondicional, e na condição em que os agentes têm memória e agem reciprocamente. As simulações foram realizadas até aos 2000 ticks, quando o número de sobreviventes mostrou tendência para estabilizar. Cada configuração foi executada 100 vezes. A média de sucesso (S) foi calculada para cada configuração.

Resultados

Figura 1. Sucesso da cooperação (C) e da não cooperação (NC) em função do número inicial de agentes cooperativos. No caso do estudo da cooperação incondicional (A) os agentes não têm memória. No caso do estudo da reciprocidade (B) os agentes cooperativos (CM) memorizam a identidade de agentes que não foram cooperativos.

A Figura 1 mostra os resultados das simulações efectuadas. Note-se no geral que à medida que aumenta o número inicial de agentes cooperativos no sistema o sucesso da cooperação aumenta e o sucesso da não cooperação diminui.

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No caso em que a cooperação é incondicional, isto é, quando os agentes não podem memorizar a identidade de outros agentes em eventuais interacções de partilha de energia não podendo assim agir acordo com o seu comportamento, o sucesso da população cooperativa só é superior ao sucesso da população não cooperativa quando o número inicial de agentes cooperativos é igual ou superior a 80. No caso do estudo da reciprocidade, em que os agentes podem memorizar a identidade de outros agentes de forma a adequar o seu próprio comportamento em eventuais interações simétricas futuras, o sucesso da população cooperativa já é superior ao sucesso da população não cooperativa quando o número inicial de agentes cooperativos é igual ou superior a 60. Comparando o sucesso da cooperação incondicional com o sucesso da reciprocidade, torna-se claro que o sucesso da reciprocidade é superior para todos os valores do número inicial de agentes cooperativos.

Discussão Na maioria dos casos o sucesso da estratégia oportunista foi superior ao sucesso da estratégia pró-social. Ainda assim os resultados não só demonstram a importância qualitativa da memória para a sobrevivência nas condições prédefinidas como apoiam a teoria da reciprocidade. No caso do estudo da cooperação incondicional, como os agentes não cooperativos têm os agentes cooperativos como fonte de energia alternativa às árvores beneficiam também do suporte social constituído pela população cooperativa, que pelo facto de redistribuir continuamente e incondicionalmente a sua energia acaba por sacrificar-se reduzindo as suas próprias possibilidades de sobrevivência. No caso do estudo da reciprocidade a população cooperativa tende a prevenir-se da exploração oportunista isolando-se progressivamente através da identificação de agentes não cooperativos baseada na memória. Desta forma é possível compensar o esforço altruísta, sustentar a resistência e usufruir mais eficazmente da rede de reciprocidade emergente. Em qualquer caso, quando a população cooperativa é dominante torna-se também mais fácil encontrar outros agentes com a mesma predisposição, facilitando ainda mais a eficácia da reciprocidade.

O modelo presente não pretende reflectir exactamente a realidade dos primatas mas diminuir a sua complexidade de modo a testar qualitativamente as condições necessárias para a emergência da cooperação em sociedades de primatas. Todos os parâmetros foram escolhidos empiricamente para testar a importância da memória na construção de um rede de reciprocidade para a emergência da estratégia colectiva de sobrevivência. Para parâmetros diferentes da caracterização do mundo e definição da actividade dos agentes, seria de esperar que, em muitos casos, a cooperação não fosse sustentável perante a pressão ecológica, e que noutros, pelo contrário, não fosse sequer necessária. ‘Memória’ é vista aqui como uma redução operacional do que se entende deste conceito em linguagem comum. Não se afirma aqui que a natureza da cognição e cooperação seja tal e qual descrito, mas demonstra-se que modelos bottom-up simples como este, baseados na descrição do mundo, actividade dos agentes, e nas condições necessárias previstas para a estabilidade da cooperação, apoiam as previsões teóricas e laboratoriais. O modelo realça a importância de considerar mais atentamente aspectos ecológicos, cognitivos e interacções mútuas à escala temporal do tempo de vida dos agentes.

Conclusão Os resultados e interpretações apoiam a teoria da reciprocidade e são compatíveis com a hipótese do cérebro social no sentido em que, se a cognição terá evoluído em função do aumento da complexidade da vida social, nomeadamente devido à tensão entre competição e cooperação para a sobrevivência, a memória, sendo um aspecto fundamental a todos os processos cognitivos, estará na base desse processo revelando vantagens adaptativas relativamente à sua ausência, como foi aqui demonstrado. Vantagens sem as quais outras formas de auto-regulação social de comportamentos não poderiam emergir, nomeadamente a moral.

Este modelo foca-se na organização social no tempo de vida dos agentes. Para investigar mais profundamente a co-evolução da cognição e da cooperação, no futuro pretende-se adaptar este modelo a um estudo evolutivo introduzindo a possibilidade dos agentes se reproduzirem.

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Sessão Plenária

A relação dos primatas humanos com os primatas não-humanos: o exemplo da região nordeste do brasil Carla Soraia Soares de Castro 1 Professora Associada no Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Universidade Federal da Paraíba, Brasil 1

Resumo A palestra ministrada no Econtro Aberto de Primatologia abordou a relação dos primatas humanos com os primatas-não humanos. A relação das populações tradicionais, tais com indígenas, com diversas espécies de primatasnão humanos, o papel destes na regeneração de florestas, por meio da dispersão de sementes, e as principais ameaças sobre as populações de espécies de primatas não-humanos foram enfatizados. Neste contexto, foram apresentados os resultados das pesquisas realizadas com comunidades humanas, que vivem no entorno de àreas protegidas, visando investigar a caça de primatas não-humanos que ocorreu no passado no litroal norte da Paraíba, Brasil; se ainda ocorre; que espécies são caçadas e quais os seus usos (ex: alimentação). Os resultados mostraram que as comunidades humanas reconhecem Callitrix jacchus, Alouatta belzebul e Sapajus flavius, espécies de primatas-não humanos, que habitam as Áreas Protegidas (Reserva Biológica e Reserva Particular), afirmam que a caça ocorreu no passado e ainda ocorre com menor frequência. Allouta belzebul e Sapajus flavius foram caçados preferencialmente para alimentação de subsistência, mas atualmente são consumidos como petisco. Já Callitrix jacchus, foi e é capturado para ser mantido em residências como pet.

te.

Palavras-chave: Etnoprimatologia; Conservação; Sensibilização Ambiental; PAN Primatas do Nordes-

Introdução Os primatas não humanos compartilham uma história evolutiva próxima com os humanos, desempenham papéis importantes nos meios de subsistência, culturas e religiões de muitas sociedades, são figuras centrais do conhecimento tradicional local e regional, do folclore, da história e até das economias, oferecem introspecções únicas sobre a evolução humana, a biologia, o comportamento e as doenças emergentes (Estrada et al., 2017; Freedman e Herron, 2000).

Há 504 espécies em 79 gêneros distribuídos nos Neotrópicos, na África continental, em Madagascar e na Ásia.

Aproximadamente 60% dessas espécies estão ameaçadas de extinção e aproximadamente 75% de suas populações estão em declínio. As demandas do mercado global e local, levando à extensa perda de habitat através da expansão da agricultura industrial, pecuária em grande escala, extração de madeira, exploração de petróleo e gás, mineração, construção civil e construção de novas redes rodoviárias em regiões que se sobrepõe as suas distirbuições, o aumento da caça e do comércio ilegal, juntamente com mudanças climáticas e doenças emergentes agem em sinergia agravando o declínio das populações de primatas não-humanos (Borgerson, 2015; Andresen et al., 2018; Santos et al, 2017).

Neste contexto, o litoral norte da Paraíba, Brasil, abrange 11 municípios totalizando uma área de 1.960,503 km².

Nesta região há manguezais, rios, matas de restinga e remanescente de floresta Atlântica, bem como Áreas Protegidas e Territórios Indígenas. A agroindústria sucro-alcooleira, a extração mineral, a pesca, a agricultura e pecuária são as principais atividades desenvolvidas na região (Santos & Talora, 2012).

Destaca-se duas áreas protegidas, a Reserva Guaribas onde se encontram as espécies Callitrix jacchus (Figura 1) e Alouatta belzebul (Figura 2) e a Reserva Particular na qual são encontradas, além das espécies citadas, a espécie Sapajus flavius (Figura 3). Alouatta belzebul encontra-se na categoria de espécie vulnerável e Sapajus flavius na categoria de espécie ameaçada de extinção (IUCN, 2015; icmbio, 2016), ambas são espécies alvo do Plano de Ação (PAN) para Conservação dos Primatas do Nordeste (BRASIL, 2012).

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Figura 1 - Indivíduo da espécie Alouatta belzebul (Foto: Frederico Acaz Sonntag)

Figura 2 – Indivíduo adulto compartilhando alimento com filhote de Callitrix jacchus (Foto: Gustavo Fernandes Silveira)

Figura 3 – Painel ‘Reinado do Sol’ do artista plástico Flávio Tavares, retratando a chegada dos holandeses na costa paraibana e a presença de um indivíduo de Sapajus flavius. Acervo da Estação Ciência Cabo Branco, João Pessoa, Paraíba, Brasil.

A Reserva Biológica Guaribas foi criada pelo Decreto Federal nº 98.884 em 1990, recebeu esse nome devido às populações de Alouatta belzebul que se encontravam localmente extintas. Na ocasião, foi sugerido que se firmasse um compromisso de repovoar a área com a espécie que dá nome à Reserva, transformando-a em espécie-bandeira (IBAMA, 2003). A Reserva Particular Engenho Gargaú foi criada pela Portaria IBAMA n°64 em 1994 e pertence à Japungu Agroindustrial S/A.

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Objetivos Considerando o registro histórico de extinção local, da espécie Alouatta belzebul, provocada pela caça e a pela perda de hábitat o objetivo da pesquisa foi investigar o que as comunidades humanas, que vivem no entorno dessas reservas, conhecem da caça das espécies de primatas não-humanos, se ainda ocorre caça, quais espécies são caçadas e para que fins (ex: alimentação).

Material e métodos Foram conduzidos inquéritos semi-estruturados nas comunidades A (N=16) e B (N=28) que habitam o entorno da Reserva Particular, localizada no município de Santa Rita e da Reserva Guaribas (SEMA 2), localizada no município de Mamanguape, respectivamente. A coleta de dados abrangeu os períodos de maio a julho de 2015, nas comunidades A e B, e também de março a abril de 2017 apenas na comunidade B. Foi aplicado aos dados o teste de Fischer (5%).

Resultados e discussão Os resultados mostraram que as comunidades humanas reconhecem as espécies Callitrix jacchus, Alouatta belzebul e Sapajus flavius que habitam as Reservas,de forma que afirmoram ter havido caça e que ainda há com menor frequência do que no passado (Tabela 1). A comunidade A apontou a caça das espécies Sapajus flavius e Alouatta belzebul e comunidade B da espécie Callitrix jacchus (Tabela 1). A comunidade A informou que Sapajus flavius e Alouatta belzebul são consumidos como petisco. Já a comunidade B identificou que a espécie Callitrix jacchus é mantida nas residências como pet (Tabela 1).

Tabela 1 – Percentual de respostas das comunidades A e B aos inqueritos

Caça no passado/presente (p=0,003)* Espécies que foram/são caçadas (p,0,001)*

COMUNIDADE A (N=16)

COMUNIDADE B (N=28)

37,8%/22%

47,5%/12%

S. Flavius (50%) A. Belzebul (80%) Petisco (81,8%): S. Flavius e A. Belzebul (p<0,001)*

C. Jacchus (16,7%) Pet (18,2%): C. Jacchus (p<0,001)*

Uso das espécies caçadas

*Teste de Fischer (5%)

Os resultados mostram que, apesar, das comunidades A e B habitarem o entorno de áreas protegidas ainda desenvolvem atividades (ex: caça) que não são compatíveis com as Reservas. Embora as narrativas tradicionais enfatizem a importância das áreas protegidas na conservação da natureza, as comunidades locais nem sempre compartilham de tais narrativas. É importante conhecer as percepções das pessoas que vivem no local para envolvê-las nos programas de conservação (Casanova, et al., 2012; Costa et al., 20017). Neste sentido, os resultados mostram a necessidade de melhorar a interação e comunicação entre as equipes das Reservas e as comunidades locais que vivem no entorno, de forma que sejam parte integrante da conservação da natureza.

Referências Andresen, E.; Arroyo-Rodrigues, V.; Roble, M.R (2018). Primate seed dispersal: old and new challenges. International Journal Primatology, 1-23.

BRASIL. Portaria nº 37, de 23 de março de 2012. Aprova o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas do Nordeste - PAN Primatas do Nordeste. Senado, Brasília, DF. 2012 Borgerson, C. (2015). The effects of illegal hunting and habitat on two sympatric endangered primates. International Jour-

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nal Primatology 36:74–93 Casanova, C.; Sousa, C.; Costa, S. Are animals and forests forever? Perceptions of wildlife at Cantanhez Forest National Park, Guinea-Bissau Republic. Memórias, Environmental Anthropology number. Casanova, C and S. Frias (eds.), Lisboa: Sociedade de Geografia de Lisboa, 2012.

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Presença humana, tráfico.

O tráfico de primatas não humanos na Era dos Descobrimentos Cecilia Veracini 1 1

CAPP-ISCSP, Universidade de Lisboa.

Este trabalho apresenta os resultados de uma revisão das fontes literárias e iconográficas europeias que contêm referencias aos primatas não humano na Era dos Descobrimentos. A análise de documentos dos séculos XV e XVI, demonstra que a exploração de fauna silvestre em África e na América do Sul, merece ser entendida como uma atividade econômica tão organizada e sistemática quanto qualquer outra de sua época. Estas evidências provam que em todas as fases da expansão europeia os primatas não humanos tem sido uma presença constante nos navios que regressavam à Europa e eram entre os animais mais cobiçados, juntamente com os papagaios. Os coloridos primatas africanos subsaarianos e os neotropicais eram novos e interessantes para as cortes europeias e se tornaram muito apreciados como animais de estimação. Os primatas, animais exóticos muito custosos, representavam um autêntico símbolo de status que enfatizava a influência e a posição social de seus proprietários, sendo também usados como presentes em embaixadas diplomáticas. As fontes iconográficas do período revelam a marcada presença de Callitrichidae (géneros Callithrix, Leontopithecus, Saguinus), macacos capuchinhos (géneros Sapajus, Cebus), Cercopithecinae (géneros Cercopithecus, Chlorocebus, Papio entre outros). Apesar de incipiente, esse trafico teria a capacidade de produzir sérios reflexos nas populações de determinadas espécies da Floresta Atlântica brasileira de distribuição muito restrita, nomeadamente o mico-leão-dourado ou o macaco prego galego (Sapajus flavius).

Palavras-chave: Idade Moderna, História, comércio, primatas.

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Presença humana, tráfico.

Demographic and behavioral changes of west african primates inhabiting an anthropogenic environment Tânia Minhós1,2,3 & Maria Ferreira da Silva4,5

Department of Anthropology, School of Social Sciences and Humanities, Universidade Nova de Lisboa, 1069-061 Lisbon, Portugal 2 Centre for Research in Anthropology (CRIA-FCSH/NOVA), 1069-061 Lisbon, Portugal 3 Instituto Gulbenkian de Ciência, Rua da Quinta Grande, 6, P-2780-156 Oeiras, Portugal 4 CIBIO/InBio, Centro de Investigação e Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto, Campus Agrário de Vairão, Vairão,Portugal 5 Organisms and Environment Division, Cardiff School of Biosciences, Cardiff University, CF10 3AX, Cardiff, UK 1

Primates are an incredible diverse order in terms of their socio-ecology, being able to explore a wide range of natural resources and habitats. However, their long-life histories, generally low effective population sizes and increasing proximity with human settlements makes them extremely vulnerable to extinction, with more than half of the species threatened by varied anthropogenic activities (habitat destruction, hunting, diseases). The conservation of primate natural populations in West Africa is particularly challenging. Whereas the Guinean Forests of West Africa are classified as biodiversity hotspot, the human pressure on its biodiversity is among the highest in Africa. This is not only due to human population growth but also to the long-lasting political and economic instability faced in this region. Anthropogenic activities are altering the landscapes very rapidly, forcing the non-human primates to adapt to the new conditions. Whereas some species are more plastic and able to change some aspects of their socio-ecology (e.g. diet, dispersal, group size), others fail to adapt to the new environment and suffer from significant populations losses or even local extinctions. Here, through the application of molecular tools, we will explore the behavioural and demographic changes of four sympatric West African primates inhabiting a highly human-modified landscape. We summarize a decade of findings for the West African chimpanzee, Guinea baboon, Temmincki’s red colobus and Western black-and-white colobus inhabiting the Cantanhez National Park, in Guinea Bissau. We have been reporting changes in dietary habits, dispersal patterns, intra-group social dynamics and demography that are likely best explained by the intense and increasing human exploitation of forest resources in the park. We highlight the fact that different primates show different responses to the same anthropogenic pressures and discuss the evolutionary and conservation challenges faced by these primates inhabiting an increasingly human-impacted environment.

Key words: forest fragmentation, demographic bottleneck, dispersal patterns, colobus, chimpanzees

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Distribuição, “efeito visitante” e luto

Mapeando o macaco-uivador-da-costa (Alouatta palliata aequatorialis) para a conservação.

Irene Duch-Latorre 1,2,3, Stella de la Torre 1,3, Laura Cervera 3, Galo Zapata-Ríos 4, Sara Álvarez-Solas 3,5, Felipe Alfonso-Cortes 3,6, Nathalia Fuentes 3,6, Víctor Utreras B. 7 Universidad San Francisco de Quito, Colegio de Ciencias Biológicas y Ambientales, Av. Interoceánica, Cumbayá, Quito, Ecuador 2 Universitat Autònoma de Barcelona, Cerdanyola del Vallès, Barcelona 08193, Spain 3 Grupo de Estudio de Primates del Ecuador 4 Wildlife Conservation Society-Ecuador Program, Eloy Alfaro N37-224 y Coremo, Quito, Ecuador 5 Universidad Regional Amazónica Ikiam, Tena, Ecuador 6 Proyecto Washu-Fundación Naturaleza y Arte, Ecuador 7 Proyecto Paisajes-Vida Silvestre, Dirección Nacional de Biodiversidad, Ministerio del Ambiente del Ecuador 1

O objetivo do presente estudo foi construir o primeiro mapa de vulnerabilidade ambiental para o macaco-uivadorda-costa (Alouatta palliata aequatorialis), também conhecido em português por bugio. Esta espécie, como mais de metade dos primatas do mundo, encontra-se ameaçada devido à destruição de habitat, que atinge níveis alarmantes (95%) na Costa do Equador. Deste modo, consideramos necessário analisar e mapear a sua vulnerabilidade mediante a aplicação de tecnologias GIS – como passo prévio ao desenvolvimento de ações para a sua conservação. O nosso modelo considera a vulnerabilidade ambiental como a combinação de diversas ameaças antrópicas: proximidade a povoações, desflorestação, densidade humana e categoria de proteção do habitat. Sobrepusemos os valores de vulnerabilidade com os dados de distribuição para o macaco-uivador-da-costa, obtidos no primeiro senso de primatas à escala regional do Equador. Também analisámos a relação entre estes valores e o tamanho dos grupos, e as tendências do uso desta espécie pelas comunidades locais (alimento, animal de estimação, usos medicinais e estéticos, ecoturismo). O nosso mapa mostra que a maioria das populações de macacos uivadores habitam fora das áreas protegidas.

Surpreendentemente, o tamanho dos seus grupos aumenta com a proximidade das povoações e com a densidade humana, sugerindo que os macacos uivadores se aproximam aos núcleos urbanos procurando comida ou ausência de predadores. Devido aos nossos resultados inconclusivos acerca do efeito do seu uso por parte das comunidades e às mortes massivas de macacos uivadores em 2016, é urgente analisar em profundidade as consequências do aumento do contacto humano-animal. Recomendamos também a criação e fortalecimento de áreas protegidas e corredores em zonas chave. Esta proposta, acompanhada da aplicação do nosso modelo para os outros primatas da Costa e Amazónia do Equador, é um passo fulcral para a conservação dos primatas equatoriais.

Palavras-chave: Conservação • GIS • Perda de habitat • Primatas neotropicais • Vulnerabilidade Ambiental

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Distribuição, “efeito visitante” e luto

Avaliação do impacto do Ecoturismo no comportamento de Gorilas de Montanha no Parque Nacional da Floresta Impenetrável do Bwindi, Uganda Raquel Costa1, 2, 3, Misato Hayashi1, Michael A. Huffman1, Gladys K. Zikusoka3, Lilly Ajarova4, Fred Bercovitch5,6, Masaki Tomonaga1 Primate Research Institute, Kyoto University Primate Cognition Research Group, Lisbon 3 Conservation Through Public Health 4 Chimpanzee Sanctuary & Wildlife Conservation Trust 5 Wildlife Research Center, Kyoto University 6 Save The Giraffes, San Antonio, Texas 1 2

Sumário O ecoturismo desempenha um papel especialmente importante na conservação dos gorilas das montanhas (Gorilla beringei beringei) mas muito poucos estudos focaram nos potenciais impactos do ecoturismo no comportamento dos animais. Este estudo pretende examinar como a presença de observadores humanos influencia o comportamento dos gorilas. Foram colectados dados comportamentais (amostragem focal e multifocal) antes, durante e depois das visitas dos turistas, de um grupo de gorilas no Parque Nacional da Floresta Impenetrável do Bwindi, Uganda. A análise preliminar dos primeiros 3 meses de dados do projecto (Dezembro 2017 a Fevereiro 2018) mostra que a coesão do grupo é significativamente diferente antes, durante e depois de um encontro (Kruskal-Wallis H = 8.96, p = 0.011), com os animais duplicando o tempo de catagem e contacto físico durante e após a visita dos turistas. Pretende-se continuar a recolha de dados e estender as análises para avaliar se estas mudanças no comportamento e a coesão do grupo são benéficas ou prejudiciais para os gorilas.

Introdução Os gorilas de montanha são classificados pela IUCN (2013) como espécie criticamente ameaçada. Uma vez que não existem gorilas de montanha em parques zoológicos, o Ecoturismo representa a única chance de observação destes animais, não havendo outros programas de conservação da espécie ex situ. O processo de habituação desta espécie é mais fácil e rápido quando em comparação com as outras espécies de gorilas, pelo que o Ecoturismo direcionado a gorilas de montanha é mais desenvolvido atraindo milhares de turistas.

Os primatas respondem de forma diferente (positiva, negativa ou neutralmente) à presença de humanos (Hosey, 2000) mas sabemos muito pouco sobre o porquê de os animais reagirem dessas formas e quais as consequências para o seu bem-estar. Um estudo preliminar sobre o impacto do turismo no comportamento dos gorilas de montanha no Bwindi mostrou que a vigilância, movimento e comportamentos auto-dirigidos aumentaram durante as visitas dos turistas, sendo que o grupo girava mais coesamente à volta do macho dominante aquando destas visitas (Muyambi, 2005). Um outro estudo, mostrou que os turistas diminuíram a distância aos animais, mas que são os próprios gorilas que iniciam o contacto. Portanto, existe já alguma evidencia que sugere alterações comportamentais dos gorilas aquando da presença humana, mas com pouco detalhe, principalmente ao nível social do grupo e não se sabem quais serão as consequências a longo prazo destas alterações no comportamento e para a conservação da espécie.

Metodologia Local e Amostra O Parque Nacional do Bwindi está localizado no sudoeste do Uganda, e é habitat para cerca de metade da população mundial de gorilas de montanha (aproximadamente 400 indivíduos, Robbins et al., 2011). O parque tem 15

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grupos de gorilas completamente habituados e dois grupos em processo de habituação. Ao momento de escrita deste artigo, o estudo foca-se em um primeiro grupo de gorilas com 15 indivíduos, com o nome de Rushegura, que vive no sector Buhoma.

Colecta de dados O comportamento dos animais foi registado antes (período de pré-contacto), durante (contacto) e depois (póscontacto) da visita dos turistas para avaliar as alterações da dinâmica social dos grupos, activity budget, vigilância e interacções entre humanos e gorilas, usando os métodos de focal e multifocal (Martin and Bateson, 2007). Cada sessão estende-se por 10 minutos e tem por base um etograma de 20 comportamentos (i.e. Afiliação, Forrageio, Comportamento dirigido aos humanos, etc.). Este etograma e o período de observação foram definidos durante o estudo piloto deste projecto (Setembro-Outubro, 2017) por se adequarem às características do estudo, da sua questão e também do terreno. A colheita de dados compreende 4 horas de contacto com os animais, iniciadas aquando da localização do grupo, o que varia todos os dias. É previsível um aumento de comportamentos individuais e a diminuição dos comportamentos sociais durante a visita dos turistas, indicando o aumento do estado de alerta e stress relacionado com a presença humana. Este efeito deverá diminuir ao longo do dia, após a visita, com o período pós-contacto apresentando taxas comportamentais semelhantes ao período pré-contacto.

A estimativa da distância entre o focal e o restante grupo (1) um braço de distância e 2) a menos de 5 metros) foi registada para avaliar a dispersão do grupo. A estimativa da distância entre gorilas e humanos foi também registada para correleccionar as alterações comportamentais com a proximidade espacial humana, assim como os padrões de movimentação e o tamanho e a composição do grupo de turistas para o mesmo efeito: 1) menos do que 3 metros, 2) entre 3 e 7 metros, ou 3) mais de 7 metros). As coordenadas geográficas são também recolhidas no inicio de cada sessão focal para futuramente desenhar o mapa de movimentação do grupo. Para evitar subjectividade do registo de dados, existe apenas um único investigador a recolher os dados.

O protocolo de investigação foi submetido e aprovado primeiramente pela Comissão Ética do Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, seguindo as Guias de Maneio e Uso de Primatas Não Humanos do Instituto. Posteriormente, o projecto foi também aprovado pela Autoridade do Uganda para a vida Selvagem e pelo Conselho Nacional do Uganda para a Ciência e Tecnologia.

Análise estatística preliminar Os dados recolhidos têm uma distribuição não normal (Shapiro-Wilk test), pelo que foi usado um teste não paramétrico para examinar as diferenças comportamentais entre os períodos de observação (Kruskal-Wallis test). O software usado foi o R studio, versão 3.5.0.

Resultados preliminares A primeira análise preliminar dos primeiros 3 meses de dados do projecto (Dezembro 2017 a Fevereiro 2018) mostra que a rotina dos animais foi de facto influenciada pela visita dos turistas. A coesão social do grupo foi significativamente diferente antes, durante e após a visita dos turistas (Kruskal-Wallis H = 8.96, p = 0.011), com a afiliação (catagem e contacto físico) a duplicar durante e após a visita, quando comparado o período que antecede a visita dos turistas. Este resultado está em acordo com os resultados de Muyambi (2005) que descobriu também que os grupos de gorilas se encontram mais coesivos e os indivíduos mais próximos do silverback durante a visita. Este resultado pode ser interpretado como um indicador de que a presença humana em proximidade e encarada pelos gorilas como um risco. No entanto, salienta-se que este resultado é preliminar e compreende apenas um limitado número de horas de dados, pelo que poderá também ser este um resultado “artefacto” do tamanho da amostra.

Plano de investigação futura e importância do estudo Será necessária a colecta de dados neste e outros grupos de gorilas de montanha no Bwindi para estabelecer a primeira base de dados de longa duração, no que toca as alterações e adaptação comportamental dos gorilas à presença humana no Bwindi. Mais dados, significarão uma análise estatística e quantitativa mais detalhada, que permitirá revelar as nuances das respostas comportamentais dos gorilas. Os dados geo-espaciais serão também analisados.

A informação sobre como os gorilas reagem e adaptam o seu comportamento à presença humana é uma ferramen-

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ta vital para a concretização do plano de acção de Ecoturismo e para validar o Ecoturismo em si. Os dados recolhidos por este estudo irão por isso ajudar as autoridades locais a desenvolver planos de gestão do Ecoturismo, focando na minimização dos níveis de distúrbio para os animais e, ao mesmo tempo, refinando o papel educativo da actividade, nomeadamente na promoção do comportamento calmo nos gorilas – diminuindo riscos potenciais de conflito e incutindo aos visitantes sentido de responsabilidade durante a visita e o seu papel na conservação da espécie. Por sua vez, os dividendos do turismo, podem desviar as populações locais, da exploração menos sustentável dos usos da floresta (caça, extração de madeira, agricultura, etc), persuadindo-as a proteger as suas espécies endémicas, património natural e recursos ecológicos.

Agradecimentos Este estudo não seria possível sem a colaboração da Autoridade Do Uganda para a Vida Selvagem, a ONG local, Conservation Through Public Health. Um agradecimento especial para os trackers e guias de Buhoma pela ajuda no campo e a Dr. Angela Brandão e Prof. Colin Chapman pelos comentários e discussão de metodologia. Este estudo foi financiado pelo programa doutoral PWS, MEXT e JSPS-CCSN.

Referências Hosey, G. R. (2000). Zoo animals and their human audiences: what is the visitor effect?. Animal Welfare, 9(4), 343-357.

Martin, P. R. and Bateson, P. P. G. 2007. How good are your measures? In: Martin, P. R.; Bateson, P.; Bateson, P. P. G. (ed.)

Measuring Behaviour: An Introductory Guide. Cambridge, Cambridge University Press: 72-85.

Muyambi, F. (2005). The impact of tourism on the behaviour of mountain gorillas. Gorilla Journal, 30, 14-15.

Robbins, M. M., Roy, J., Kato, R., Kabano, P., Basabose, A., Tibenda, E., ... & Gray, G. (2011). Bwindi mountain gorilla census 2011—Summary of results. Uganda Wildlife Authority, 28.

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Distribuição, “efeito visitante” e luto

Luto e Depressão nos Primatas Não-Humanos Constança Carvalho 1 1

Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa

Resumo Tanto a depressão como o luto são estados emocionais complexos que incluem sentimentos dificilmente traduziveis em comportamentos observáveis. Porém, enquanto que os modelos animais são amplamente utilizados numa tentativa de compreender a depressão humana, os comportamentos de luto que os animais não humanos exibem são, frequentemente, questionados enquanto tal.

A dificuldade em aceitar a existência de luto nos animais não-humanos, incluindo nos primatas não-humanos, prende-se essencialmente com a natureza dos dados existentes (anedóticos) e com a aplicação da lei da parcimónia.

Este artigo sintetiza a informação disponivel sobre esta temática, descrevendo processos de luto encontrados em primatas não-humanos. São analisadas e discutidas as várias hipóteses evolutivas para o aparecimento e seleção dos comportamentos de luto.

Palavras-Chave: Luto; Depressão; Primatas Não Humanos Introdução O luto é um processo natural que ocorre sempre que há uma perda significativa na vida de alguém. Porém um luto mal resolvido pode levar à instalação de uma depressão crónica (para uma revisão sobre luto normal e patológico, ver por exemplo, Arizmendi & O’Connor, 2015).

Alguns sintomas da depressão (e.g. baixa auto-estima, culpa excessiva) são impossíveis de mimetizar em modelos animais. Porém, é comumente aceite que os primatas não-humanos podem modelar a depressão humana, enquanto se colocam reticências face à possibilidade destes animais apresentarem comportamentos de luto.

Luto em Primatas Não-Humanos A primeira vez que a palavra luto foi utilizada na literatura para descrever o comportamento de um primata nãohumano foi em 1879, quando Arthur Brown descreveu a reacção de um chimpanzé no zoo à perda do seu companheiro de vida. Um século mais tarde, Jane Goodall (1986), comove o mundo com a história de Flint, o chimpanzé que se deixou morrer de tristeza após a morte da sua mãe.

Nas últimas décadas têm sido cada vez mais frequentes os relatos de indivíduos que se recusam a abandonar e/ou carregam os corpos mortos dos seus conspecíficos, sobretudo de mães que carregam os corpos das suas crias mortas nas mais variadas espécies (para uma revisão ver Fiore, 2013).

Para além dos comportamentos acima descritos, existem outras alterações comportamentais relevantes especificas de diferentes comunidades como o comportamento de sugar o próprio leite (Majolo & McFarland, 2009) ou limpar os dentes do indivíduo morto (Van Leeuwen et al., 2017).

Lei da Parcimónia A lei da parcimónia, pode ser descrita como o princípio que determina que o comportamento de um animal não deve ser interpretado como resultante de um processo cognitivo superior/complexo se puder ser explicado em termos de um processo mental inferior/mais simples (Morgan, 1894).

Inicialmente foram propostas várias hipóteses para explicar o facto de mães serem avistadas a carregar os corpos

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mortos das suas crias, como a hipótese hormonal, a indistinção da morte e a incerteza da morte, porém, ao longo dos anos, foram observadas evidências que obrigaram a comunidade científica a excluí-las uma a uma (para uma revisão sobre estas hipóteses e o seu progressivo abandono ver Fiore, 2013).

No caso de crias que se recusam a abandonar o corpo morto das mães as hipóteses avançadas como possíveis explicações são a) poupança de recursos energéticos; b) desencadeamento de comportamentos parentais por parte de outros adultos.

Embora estas hipóteses sejam ambas plausíveis, é pouco provável que as alterações comportamentais observadas em indivíduos de todas as idades tenham uma origem no caso das crias e dos adultos, sobretudo quando nunca existiram hipóteses explicativas para o comportamento dos adultos que se recusam a abandonar um conspecifico morto.

Hipóteses evolutivas para o comportamento de luto Face ao exposto e ao acumular de evidências anedóticas, é possível concluir que os primatas não-humanos (e provavelmente muitos outros animais) exibem comportamentos de luto.

Porque terá evoluído este comportamento aparentemente tão desvantajoso? Carregar o corpo morto de uma cria, permanecer no chão junto de um companheiro morto à mercê de predadores são comportamentos que reduzem a fitness do indivíduo. Que vantagens terão levado a seleção natural a fixá-los?

Alguns autores (e.g. Fiore, 2013) consideram que o luto tem valor adaptativo pois compreender e processar a perda, torna o indivíduo mais apto à nova realidade.

Outros, como Winegard e colegas (2014) sugerem que o luto terá evoluído enquanto sinal honesto da capacidade de vinculação, isto é, quem sofre profunda e honestamente com a perda de alguém, tem em si a capacidade de estabelecer laços fortes e profundos com os outros.

Outra explicação possível é que o comportamento de luto terá evoluído como subproduto do fortalecimento dos laços sociais, isto é, o luto evoluiu não por ser adaptativo em si mesmo, mas por evoluir em simultâneo com a proximidade afetiva, muito vantajosa em espécies que vivem em comunidades cooperativas.

Conclusão A hipótese mais provável para as alterações comportamentais que os primatas não humanos apresentam após a perda de um conspecifico com custos para a sua fitness parece ser o luto. Embora o comportamento de luto em si possa ter evoluído como um subproduto dos laços sociais, o processo como o luto decorre deverá ter um valor adaptativo.

Referências Arizmendi, B. J., & O’Connor, M. F. (2015). What is “normal” in grief ? Australian Critical Care, 28(2), 58-62.

Brown, A.E. (1879). Grief in the Chimpanzee. The American Naturalist, 13(3), 173–175.

Fiore, R. (2013). What defines us: An analysis of grieving behavior in non-human primates as a potential evolutionary adaptation. Thesis presented at University of Colorado.

Goodall, J. (1990). Through a window: My Thirty Years with the Chimpanzees of Gombe. New York, NY: Mariner Books Houghton Mifflin Harcourt Majolo, B., & McFarland, R. (2009). Brief communication: Self‐suckling in Barbary macaque (Macaca sylvanus) mothers before and after the death of their infant. American Journal of Physical Anthropology: The Official Publication of the American Association of Physical Anthropologists, 140(2), 381-383.

Morgan, C. L. (1894). Contemporary science series. An introduction to comparative psychology. Walter Scott Publishing Co Van Leeuwen, E. J., Cronin, K. A., & Haun, D. B. (2017). Tool use for corpse cleaning in chimpanzees. Scientific reports, 7, 44091 Waters, Hannah. “The Evolution of Grief, both Biological and Cultural, in the 21st Century.” Scientific American (2011).

Winegard, B. M., Reynolds, T., Baumeister, R. F., Winegard, B., & Maner, J. K. (2014). Grief functions as an honest indicator of commitment. Personality and Social Psychology Review, 18(2), 168-186.

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Fotografias 1.° Prémio do Concurso de Fotografia Encontro Aberto de Primatologia Autor: Evelina Daniela Rodrigues Título: O Abraço.

Espécie: Macaco caranguejeiro (Macaca fascicularis) .

Descrição: Nora repousando com a sua cria num envolvente abraço na Monkey Forest em Ubud, Bali - Indonésia

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2.° Prémio do Concurso de Fotografia Encontro Aberto de Primatologia Autor: Raquel Costa Descrição da fotografia: Fotografia captada no sector de Buhoma, do Parque das Florestas Impenetráveis do Bwindi, no Uganda. A foto capta a timidez de um gorila de montanha bebé (Gorilla beringei beringei), chamado Rushokye, com cerca de dois anos de idade, aquando da presença de observadores humanos. Este bebé pertence ao grupo Rushegura, que foi um dos primeiros grupos de gorilas habituados à presença humana nos anos 90 para efeito de Ecoturismo no Uganda. Este grupo é composto actualmente por um silverback, dois blackbacks, 6 fêmeas adultas, 2 juvenis e 4 bebés e é visitado todos os dias por turistas, contribuindo para a protecção da espécie e do seu habitat. Este pequeno gorila é por isso já considerado um “embaixador” da sua espécie, apesar da tenra idade.

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3.° Prémio do Concurso de Fotografia Encontro Aberto de Primatologia Autor: Catarina Henriques Silva Título: Mãe e filho (5/Julho/2016 - Langkawi, Malásia) Resumo: A intimidade existente entre mãe e filho, a mãe protetora e o filho curioso.

Estes dois Macacos-Caranguejeiros mostram que nós, humanos, não somos assim tão diferentes do resto do reino animal.