Mediação da Literatura: acervos literários do kit escolar 2014

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Mediação da

Literatura

acervos literários do Kit escolar 2014


Secretaria Municipal de Educação

Mediação da Literatura: acervos literários do kit escolar 2014

Belo Horizonte 2014


Prefeitura de Belo Horizonte Secretaria Municipal de Educação Coordenação geral Sueli Maria Baliza Dias Tiragem desta edição: 1.300 exemplares Organização e redação: Dagmá Brandão Silva, Carolina Teixeira de Paula e Leila Cristina Barros Revisão: Leila Cristina Barros e Patrícia Borges Botelho Projeto gráfico e diagramação: Gustavo Rocha de Souza

Edição e distribuição: Secretaria Municipal de Educação Rua Carangola, 288 – 7o andar – Bairro Santo Antônio – Belo Horizonte (31) 3277­8606 smed@pbh.gov.br É permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

M489 Mediação da Literatura: acervos literários do kit escolar 2014 / Carolina Teixeira de Paula; Dagmá Brandão Silva; Leila Cristina Barros (orgs) ­ Belo Horizonte: SMED, 2014. 56 p. 1. Catálogo kit escolar 2014 – Livros literário. I. Paula, Carolina Teixeira. II. Silva, Dagmá Brandão. III. Barros, Leila Cristina. IV. Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Educação. V. Título. CDD 017


Tornar­se leitor é processo que ocorre ao longo do tempo e de distintas maneiras para diferentes pessoas. É preciso saber que não necessariamente um estágio leva a outro. CADEMARTORI, Ligia. O professor e a Literatura; para pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 23­24. (Série Conversas com o professor, 1).


Sumário 1 Apresentação ­ 5 2 O Projeto de intervenção teatral nos diversos espaços da cidade ­ 7 3 Relatos de experiência do teatro ­ 8 4 Resenhas dos acervos de 2014 Educação Infantil (0 a 2 anos anos e 11 meses) ­ 12 Educação Infantil (3 a 5 anos anos e 8 meses) ­ 16 Primeiro ciclo ­ 24 Segundo ciclo ­ 32 Terceiro ciclo ­ 40 EJA ­ 48


1 Apresentação É com muita satisfação que apresentamos o catálogo Mediação da Literatura: acervos literários do kit escolar 2014, no qual constam a relação e as resenhas das obras literárias que os estudantes e os estabelecimentos de ensino da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RMEBH) e da rede de creches conveniadas receberão no presente ano. Reafirmamos o objetivo principal desta política pública de distribuição de livros literários, que completa 10 anos, em 2014: o investimento na leitura em família, possibilitando a construção de bibliotecas pessoais nos lares dos estudantes, ao garantir­lhes o acesso ao livro literário em outros espaços, para além do escolar. Além disso, reforça a importância da instituição familiar no desenvolvimento de práticas de leitura e no incentivo à convivência com os livros. A atuação dos profissionais da Educação, especialmente do professor, como mediadores de leitura, é fundamental na formação de leitores. Prova disso é um dos indicadores apontados na terceira edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada em 2012, que revela “quem mais influenciou os leitores a ler”, nesta ordem: professor ou professora (45%), mãe ou responsável do sexo feminino (43%) e pai ou responsável do sexo masculino (17%). Dessa forma, embora os livros sejam um presente para os estudantes e suas famílias, e tenham como destino as suas casas, as obras são distribuídas no contexto escolar, onde é imprescindível e cada vez mais urgente que ocor­ ram mediações de professores e profissionais das bibliotecas, tendo em vista que a valorização e o aprimoramento da política do kit literário perpassa pela escola. Nessa perspectiva, orientamos que a escola organize um encontro coletivo específico para a entrega oficial dos kits, com a participação tanto da família quanto dos estudantes, incentivando­os à leitura das obras literárias. Vemos nessa ação uma excelente oportunidade para a realização do trabalho integrado entre os profissionais da biblioteca, da sala de aula e da coordenação pedagógica. Acreditamos que momentos como esse são fundamentais para a valorização e a divulgação dos acervos, bem como para a dinamização dos livros do kit e o estímulo ao uso na escola.

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É preciso salientar que, desde 2012, as escolas de Ensino Fundamental, as UMEIs e as creches conveniadas recebem 1 exemplar de cada um dos cerca de 100 títulos selecionados anualmente para compor o kit escolar, independente­ mente das modalidades de ensino oferecidas por esses estabelecimentos. Desta forma, os profissionais terão acesso, como leitores potenciais, a todos os livros selecionados, da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos. Tal medida buscou atender a uma demanda dos profissionais da Educação, que desejam se apropriar cada vez mais dessas obras, como leitores e formadores de leitores. Essa realidade permite, ainda, que seja ampliado o acesso dos estudantes às outras obras constantes no kit escolar. Além das sugestões apresentadas neste catálogo, existem várias outras possibilidades de ações, atividades e projetos realizados a partir dos livros do kit, tais como: mostras e trocas literárias, saraus, recitais, contações de histórias, encontros com escritores, dentre outras. No tocante à importância deste e dos catálogos anteriores no desenvolvimento do trabalho docente e da biblioteca, podemos afirmar que muitas ações de incentivo à leitura e divulgação dos livros que compõem o kit escolar já vêm sendo desenvolvidas em nossas escolas, a partir dessas publicações. Entendemos que este catálogo, assim como os demais, será um importante instrumento de apoio ao trabalho pedagógico desenvolvido nos espaços escolares, especialmente para as ações realizadas na sala de aula e na biblioteca. Desejamos a todos muitas leituras e um excelente trabalho. E que possamos juntos ajudar na construção de uma cidade cada vez mais leitora.

Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte

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2 O Projeto de intervenção teatral nos diversos espaços da cidade No âmbito da SMED, uma forma de diálogo com o conteúdo desses kits consiste nos trabalhos desenvolvidos dentro do Projeto de intervenção teatral nos diversos espaços da cidade, criado em 2009. A ação tem como objetivo principal divulgar os acervos dos kits e despertar nos estudantes o gosto pela leitura, aliado à prática de outras atividades culturais. Abaixo, segue a relação dos espetáculos que já foram montados e apresentados, além dos livros que inspiraram cada criação: 2009 Espetáculo: "Raimundo: cidadão do mundo", inspirado na obra homônima do escritor Fábio Yabu (kit 2009); Espetáculo: "Causos e memórias", com a participação de estudantes da EJA/BH, em que relataram experiências pessoais. 2010 Esquetes teatrais: "Sete histórias para contar" (kit 2010) e "Anacleto" (kit 2010), baseadas, respectivamente, nas obras de Adriana Falcão (texto) e Ana Terra (ilustrações) e Bartolomeu Campos de Queirós. 2011 Espetáculo: "O Vaqueiro, o Bicho Frôxo, o Bumba­meu­boi e a Marione­ te", que se inspirou em várias obras: O Vaqueiro e o Bicho Frôxo, de Doroty Marques, Beto Andreetta e Beto Lima; o Bumba­meu­boi, de domínio público; Marionete, de Mario Vale (kit 2011); Montagem teatral Balaio de Gatos, apresentada no projeto “Música & Poesia”, do Centro Cultural UFMG. 2012 Esquete teatral: "A pantera, o bailarino e o livro", inspirada na obra Ca­ dê?, de Guto Lins (kit 2012); 2013 Espetáculo: "Asas do desejo", baseado nas obras Os estatutos do homem, de Thiago de Mello (kit 2012), e A mula sem cabeça, de Sonia Junqueira (kit 2013).

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3 Relatos de experiência do teatro A seguir, apresentamos alguns relatos de integrantes do Projeto de intervenção teatral da SMED, que revelam o que representa para eles a experiência da leitura e do teatro. São importantes por darem voz aos próprios participantes, profissionais de bibliotecas e, especialmente, estudantes de várias idades e ciclos de formação.

“(...) quando entrei no projeto, comecei a me interessar mais pela literatura e a conhecer um pouco mais sobre ela. (…) O projeto me ajudou a ter uma melhor comunicação com as pessoas do meu cotidiano.” (Emilly Cristina P. da Fonseca, aluna da E. M. Murilo Rubião) “(...) quanto mais eu leio, mais dá sede de ler, de saber o que está por vir.” (Suélen Cristina Custódio da Silva, aluna da E. M. Salgado Filho) Com o projeto “(...) aprendi a escutar a opinião dos outros. Ele me ajuda na escola. Eu era ruim em várias matérias. As minhas notas nessas matérias eram de E e D, agora estão C e B. Eu fazia muita bagunça, brigava com os colegas e com os professores. Agora todos os professores me elogiam. Mudei até em casa (...). Antes eu não gostava de ler, mas agora eu leio várias histórias. Os livros do kit escolar são muito bons para ler.” (Maicon Douglas Alves de Sousa, aluno da E. M. Santos Dumont) “(...) cada vez que eu leio, eu descubro muitas coisas. Eu não consigo ficar sem a leitura (...) a biblioteca da minha escola é como um segundo mundo, só que da imaginação, e é onde eu me sinto livre.” (Gabriella Christi da Cruz, aluna da E. M. Francisco Gomes Magalhães) “(...) quando abrimos a página de um livro de ficção, conhecemos outra realidade, outras pessoas, na verdade, outro mundo. Viajamos como se estivéssemos sendo a personagem principal da história, ou quem sabe até aquele vilão malvado? (...) E foi por causa dos livros que aprendi a gostar de teatro!” (Kamila Izabele Araújo Soares, aluna da E. M. Tancredo Phideas Guimarães)

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“A leitura é importante para incentivar a imaginação, estimula mais a vontade de estudar e, quando você transforma uma história em uma peça, a história ganha mais emoção e é mais fácil de ser contada. Na leitura, você esquece seus problemas e vive aquela história como se fosse você ali... A biblioteca da escola é importante porque todos têm acesso à leitura (…) A biblioteca nas escolas é vida!” (Eduarda Carvalho Gonçalves, aluna da E. M. Cora Coralina) O projeto “me fez conhecer pessoas novas, ideias novas e muito mais coisas legais! Com esse projeto eu aprendi a ouvir e respeitar ideias diferentes, coisas que antes eu não sabia fazer.” (Alexia Tavares de Jesus, aluna da E. M. Francisco Campos) “Esse projeto é muito bom, pois dá oportunidade a alunos de escolas públicas de conhecer pessoas novas, perder um pouco a timidez, ter novas chances na vida e aprender histórias diferentes. Eu reconheço que o teatro me ajudou a ser menos tímida e a ter mais responsabilidade.” (Daniela Cardoso Sartori, aluna da E. M. Padre Francisco Carvalho Moreira) O projeto “me possibilitou aprender coisas novas, me ajudou a me tornar mais independente, a correr mais atrás dos meus objetivos.” (Aline Cristina Ribeiro Santos, aluna da E. M. Salgado Filho) “A adaptação das obras do kit literário transforma o modo de ler. A leitura de uma peça teatral torna mais viva e emotiva a obra, ao mesmo tempo desnudando a intenção do autor e fazendo crescer o nível de entendimento do leitor acerca do tema. O trabalho cenográfico, a construção dos figurinos e a interpretação dos personagens são atividades que impulsionam as crianças e os jovens ao crescimento cultural e emocional, estimula seu desenvolvimento mental e psicológico. A prática teatral (...) estimula a prática da leitura.” (Liliana Passos Avelar, auxiliar de biblioteca da E. M. Tristão da Cunha) “A experiência que adquiri aqui contribui para melhorar o trabalho que desempenho na biblioteca.” (Ana Maria de Louredo Silva, auxiliar de biblioteca da E. M. Carlos Drummond de Andrade)

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“Como auxiliar de biblioteca, sei da importância de realizar um trabalho de incentivo à leitura (…). Esse projeto cumpre o papel de levar aos alunos um pouco da riqueza que temos em nossas bibliotecas. Creio ainda que o projeto é uma excelente oportunidade de trabalharmos o senso de responsabilidade e compromisso dos alunos, bem como a importância do trabalho em equipe e o respeito pelo outro.” (Virgínia Helena Tolomelli, auxiliar de biblioteca da E. M. José de Calazans) O projeto trabalha “questões básicas para os alunos, como responsabilidade, respeito, socialização e a inserção ao mundo cultural, pois ela [Emília] dá dicas dos espaços culturais da cidade e suas programações. (…) O projeto tem o efeito de aproximar os alunos e os professores, o despertar da literatura viva que é o teatro e a conscientização de que a leitura e a biblioteca são mais uma ferramenta na formação do aluno.” (Shirley Cristina Valentim Lopes, professora em atuação na biblioteca da E. M. Salgado Filho) “Aos 63 anos estou vivendo um encantamento, estou penetrando num mundo nunca antes imaginado. Parabéns, SMED!” (Marilda Veloso, professora em atuação na biblioteca da E. M. Helena Antipoff) “Percebi que os alunos melhoraram muito a leitura e que os profissionais envolvidos tiveram a autoestima elevada, se sentindo úteis e produtivos.” (Alice Alves da Silva, bibliotecária da E. M. Eliza Buzelin)

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Resenhas dos acervos de 2014

Educação Infantil 0 a 2 anos e 11 meses

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Educação Infantil ­ 0 a 2 anos e 11 meses

Eu te disse De modo conciso e eficaz, a narrativa de Eu te disse ressalta o relacionamento entre os mais velhos e os mais novos. Um adulto (provavelmente, a mãe) e uma criança caminham por entre obstáculos: uma pedra, um buraco, uma árvore, um desnível no chão. À maneira de uma voz oracular, a mãe sempre adverte ao filho: “você vai cair”, “você vai tropeçar”, “você vai bater”. O título do livro remete ao refrão utilizado pelo adulto, a cada vez que a criança sucumbe aos obstáculos: “eu te disse!”. Na cena final, inverte­se a situação: ao se deparar com uma escadaria, a criança questiona a mãe, ironicamente: “diz pra mim: você vai cair”; porém, a mãe surpreende e instiga a criança a vencer o obstáculo, pulando­o. E é o que acontece. De maneira leve e divertida, a história chama a atenção para a importância e a necessidade de valorizar a experiência dos mais velhos, fonte de sabedoria.

Título: Eu te disse | Autor: Taro Gomi | Ilustrador: Taro Gomi | Tradutora: Stéphane Havir | Editora: Berlendis & Vertecchia | Ano de publicação: 2013

Hum, que gostoso! Hum, que gostoso!, de autoria de Sonia Junqueira, faz parte da coleção “Para os bem pequenos” e é direcionada a crianças de dois a três anos. Aborda o tema da alimentação, numa perspectiva cronológica: do aleitamento materno aos alimentos sólidos. A obra apresenta uma edição coerente com os objetivos literários e aborda um tema bastante adequado às expectativas do leitor pretendido, uma vez que a experiência de alimentar­se, para crianças pequenas, costuma ocupar boa parte do seu interesse, de sua percepção e organização da realidade. O texto é curto, a linguagem é simples e apropriada ao universo infantil; são explorados aspectos melódicos bastante caros a crianças pequenas, tais como rimas e aliterações, favorecendo a interação lúdica na linguagem poética. Texto e linguagem visual convergem: as ilustrações estabelecem uma relação semântica com o texto, produzindo um ambiente lúdico e favorecendo a interação do leitor com a obra.

Título: Hum, que gostoso! | Autor: Sonia Junqueira | Ilustradora: Mariângela Haddad | Editora: Autêntica | Ano de publicação: 2013

No Mundo do Faz de conta... A obra possui uma estrutura bastante atraente às crianças, devido ao tamanho e às cores vibrantes das ilustrações, e encontra acolhida também entre aquelas que ainda não leem. É uma narrativa agradável e divertida que, na sua simplicidade, tem elementos que lhe conferem bastante fluência e possibilidade de imediata identificação por parte dos pequenos leitores. Toda a estrutura do texto relaciona­ se a palavras­chave. A forma, o tamanho, o traçado, o uso das cores, o fundo, a disposição das figuras na página são recursos expressivos que ampliam as possibilidades significativas do texto. A maneira como o autor e ilustrador aborda as características dos bichos é muito interessante, evidenciando seu senso de observação. O caráter dinâmico e bem humorado do texto é proporcionado, principalmente, pelo diálogo entre texto escrito e ilustração, aspecto que exige da criança uma leitura atenta desses dois signos, o verbal e o visual.

Título: No mundo do faz de conta... | Autor: Fê | Ilustrador: Fê | Editora: Paulinas | Ano de publicação: 2012 13


Educação Infantil ­ 0 a 2 anos e 11 meses

Não é uma caixa A obra narra a história de um coelhinho que usa a sua imaginação para criar vários brinquedos usando apenas uma caixa de papelão. Na cabeça do coelhinho, aquela caixa não era apenas papel e, a cada brincadeira, transforma­se em avião, carro e balão, de acordo com a sua criatividade. As ilustrações em vermelho vão colorindo a caixa em preto e branco e revelando o que se passa na imaginação do personagem. A obra apresenta texto e ilustrações propícios ao universo das crianças. A autora e ilustradora brinca com as imagens, possibilitando que algumas se transformem em outras, aguçando o imaginário e favorecendo a percepção da literatura como algo que pode sempre ser transformado. A organização texto escrito/imagem favorece a leitura, um complementando e enriquecendo o outro. O projeto gráfico da obra, como um todo, é atraente e desperta o interesse dos leitores ao mesmo tempo em que dá indícios sobre o modelo de uma caixa, que é o foco do texto.

Título: Não é uma caixa | Autora: Antoinette Portis | Ilustradora: Antoinette Portis | Tradudor: Cassiano Elek Machado | Editora: Cosac Naify | Ano de publicação: 2012

Que quintal! Que quintal! é uma obra da conhecida poetisa mineira, Laís Corrêa de Araujo, escrita em 1987 e agora relançada pela editora Baobá. A ênfase da obra é o cotidiano de uma fazenda, apresentado em versos simples e despretensiosos, reiterando os sons da natureza e dos homens enquanto a vida é vivida. Ao longo da obra, acontece a reiteração “olha só quanto barulho/ lá no fundo do quintal!”, enfoque que está presente tanto na palavra quanto na visualidade. Os versos da obra dialogam com a cultura popular mineira e contribuem para o alargamento das vivências do leitor, seja aquele do interior de Minas, seja aquele de outros estados do país.

Título: Que quintal! | Autor: Laís Corrêa de Araujo | Ilustrador: Thaís Mesquita | Editora: Baobá | Ano de publicação: 2013

Ronc ronc A obra de Beatriz Ribeiro apresenta uma construção narrativa toda em linguagem figurada e construída a partir de onomatopéias, desde o título “ronc ronc”, em duplo sentido. Pela sua criatividade, é capaz de manter o interesse de crianças bem pequenas, favorecendo a apreciação do livro. As ilustrações são bastante sugestivas, e em cores atraentes, formando um conjunto harmonioso. A principal qualidade da obra reside nesse jogo de linguagem lúdica e criativa. por meio de onomatopéias dispostas de forma inteligente e cativante.

Título: Ronc ronc | Autora: Beatriz Ribeiro | Ilustradora: Rita Duque | Editora: Roda & Cia. | Ano de publicação: 2012

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Resenhas dos acervos de 2014

Educação Infantil 3 a 5 anos e oito meses

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

2 patas e 1 tatu Trata­se de obra pensada, em todos os sentidos, para crianças pequenas. O formato favorece o manuseio e a distribuição do texto no papel é pertinente ao público a que se destina. Com um enredo simples, e visualmente atrativa, a obra convida o leitor a brincar com o sentido das palavras, dos números e dos sinais matemáticos; explora a sonoridade das palavras e usa imagens que ampliam as possibilidades significativas do texto. A narrativa prioriza o tom melódico, elucidando a participação criativa da criança na leitura. Merecem destaque, também, as apresentações do autor e do ilustrador, que também foram pensadas para o público­alvo: ambos apresentam­se em primeira pessoa, com um texto simples e uma linguagem próxima da criança.

T´itulo: 2 patas e 1 tatu | Autor: Bartolomeu Campos de Queirós | Ilustrador: Luiz Maia | Editora: Positivo | Ano de publicação: 2010

A lua cheia de... A obra narra a história de três gatinhos que querem alcançar a lua porque pensam que ela é feita de queijo e, por isso, está cheia de ratos. Apesar de várias tentativas, porém, eles descobrem que é impossível chegar até ela, pois está mais longe do que imaginam. Ao final da narrativa, o autor ressalta que, apesar de não terem conseguido atingir o seu objetivo, o trio aprendeu muitas coisas novas e ainda se divertiram bastante. A narrativa leva o leitor a refletir que vale a pena ter persistência e se esforçar para conseguir aquilo que se quer. O autor utiliza o recurso da repetição de palavras, o que possibilita aos leitores que ainda não sabem ler uma maior aproximação e interlocução com o texto. As relações que se estabelecem entre o texto e as imagens também asseguram a proximidade do leitor, que interage ludicamente com a obra.

Título: A lua cheia de... | Autor: Lor | Ilustrador: Lor | Editora: A Semente | Ano de publicação: 2012

Como nascem os pássaros azuis A obra é uma narrativa por imagens que apresenta um conjunto singelo e harmonioso dos elementos apresentados. Os traços, as formas e o enquadramento são representativos da história que se quer contar: enxutos e suaves. Trata­se da história de um menino que, em frente à janela de um lugarejo (chão de terra batida, casas pequenas, uma igreja), esboça o desenho de pássaros. Em determina­ do momento, o garoto se dispersa e abandona o desenho, dando o mote para que os pássaros, então em grafite, banhem­se em um pote de tinta azul e ganhem vida fora do quarto. É possível entrever a potencialidade da criação e da imaginação humanas: partindo­se de um menino que desenha distraidamente, chega­se a um resultado simples e belo, que é o surgimento dos pássaros azuis. Nota­se a importância do título num livro de imagens, único elemento verbal, que, neste caso, apresenta­se coerente e ajuda no entendimento da narrativa.

Título: Como nascem os pássaros azuis | Autor: Walter Lara | Ilustrador: Walter Lara | Editora: Abacatte | Ano de publicação: 2013

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

Duas orelhas e um sorriso Duas orelhas e um sorriso apresenta a simpática história de um cachorrinho cujas manchas no corpo se alteram de acordo com seu humor, ou com a situação que está vivendo. É uma narrativa de palavras­chave, de forma que o texto explica a imagem e vice­versa. As manchas do cachorro variam de acordo com o que traz o texto: assim, um cachorro feliz tem nuvens brancas; ao passo que, se está zangado, as nuvens tornam­se cinzentas; se está com fome, suas manchas tomam a forma de osso; ao ser atendido, fica cheio de rojões explodindo. Assim, apesar de tratar­se de narrativa em que palavras e imagens estão indissociáveis, as ilustrações ultrapassam a explicação do texto e mostram­se inventivas. A história é envolvente e incita a curiosidade do leitor, que certamente se sente familiarizado com o personagem, uma vez que cachorros são comuns no cotidiano, sejam os da vida real, sejam os de desenhos e filmes.

Título: Duas orelhas e um sorriso | Autor: Caulos | Ilustrador: Caulos | Editora: Rocco Pequenos Leitores | Ano de publicação: 2011

Já sei ler! A obra Já sei ler! mostra a importância afetiva da leitura feita pela mãe, ainda que a criança já domine o código verbal e tenha condições de ler sozinha. O final da narrativa apresenta um elemento­surpresa, presente na pergunta que a menina dirige à mãe: “Mamãe! Mamãe! Pode ler este livro para mim?”. A temática é relevante e a forma como é apresentada, inclusive nas imagens – mostrando as várias opções que a menina tem, quando se torna leitora – oferece um grau de abertura que convida à participação criativa e à interação lúdica da criança na leitura. A linguagem e a temática são adequadas e acessíveis ao público­alvo e a obra tem potencial para instigar o leitor a estabelecer relações com outros textos – ampliando suas referências estéticas, culturais e éticas – e contribuir para a reflexão sobre a realidade, sobre si mesmo e sobre o outro.

Título: Já sei ler! | Autor: Vera Lúcia Dias | Ilustrador: Agustín Comotto | Editora: Canguru | Ano de publicação: 2013

Macaquice Macaquice é uma pequena história em prosa que utiliza frases curtas e um vocabulário bastante simples, contribuindo para que as crianças em fase inicial de apropriação do código da escrita tenham maior autonomia na leitura do texto. A forma como a narrativa está estruturada permite classificá­la como “história com repetição”, cuja principal característica é apresentar sequências recorrentes ao longo da narrativa. Esse movimento repetitivo da estrutura do texto se apresenta de forma articulada, dando uma ideia de encadeamento. Por ter como recurso a brincadeira com as palavras, atende ao público infantil em geral, pois possibilita o lúdico, o faz­de­conta e estimula a diversão, o conhecimento e o contato com a fantasia.

Título: Macaquice | Autora: Nye Ribeiro | Ilustradora: Rita Duque | Editora: Roda e Cia | Ano de publicação: 2012

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

Monstro que é monstro Com um divertido jogo de frases, os autores contam que monstro que é monstro não é um ser fedido e que mete medo, mas um ser esquisito que se lambuza de picolé, pisa na poça d’água, quer saber o porquê de tudo, faz cócegas no irmão e apronta o tempo todo. Com olhos arregalados e bocas de um dente só, os monstrinhos que saltam das páginas são elaborados como se fossem seres de um mundo fantástico. A narrativa apresenta várias “monstrices” que as crianças gostam de fazer e os leitores podem se reconhecer num desses monstros: aquele que não gosta de tomar banho, ou que arrota no meio da refeição, ou ainda o que dorme de tênis de tão cansado depois de um dia agitado. O mais divertido é que, ao final, os autores perguntam se alguém já viu algum desses monstrengos por aí? As ilustrações, feitas a partir de uma técnica de colagem, ganham destaque pela sua criatividade e comicidade. Este livro é diversão garantida para os pequenos leitores.

Título: Monstro que é monstro | Autora: Renata Bueno | Ilustrador: Fernando de Almeida | Editora: Reviravolta | Ano de publicação: 2013

Não! Na obra Não!, as ilustrações são o ponto alto: elas não só complementam o texto verbal como são essenciais à compreensão da história, pois estabelecem um contraste entre a interpretação do cachorro para o que é dito e o que realmente acontece. Na construção do texto verbal, utilizam­se vários recursos gráficos, como a alternância entre letras maiúsculas, minúsculas, cursivas; o uso de grifos, negrito, sublinhado, a inserção de smileys, etc. Também há correções no próprio texto, como se fosse o cão que estivesse escrevendo. Brinca­se com a visualidade da palavra “não”, que, ao longo do texto, vai ficando mais e mais comprida (“nãão”, “nããão”, “nããão”). A obra trabalha a habilidade de inferência da criança, pois ela precisa concluir que a visão do cachorro é totalmente equivocada: ele pensa que seu nome é “Não” e que está agradando, mas seu verdadeiro nome é Apolo e está sendo repreendido o tempo todo, por suas ações.

Título do livro: Não! | Autora: Marta Altés | Ilustradora: Marta Altés | Tradutora: Gilda de Aquino | Editora: Escarlate | Ano de publicação: 2013

O casamento do rato com a filha do besouro Os contos extraídos da cultura popular realizam uma das façanhas da boa literatura: ser capaz de reunir gerações de leitores, por sob suas mais diversas diferenças: faixa etária, gênero, nacionalidade ou tempo histórico. Acessível, em termos de linguagem e construção, o texto de Rosinha, O casamento do rato com a filha do besouro, é um reconto de texto recolhido da cultura popular por Pereira da Costa (1851­1923), grande pesquisador da cultura popular, como nos informa a autora. Os versos, de uma sonoridade cativante, vão construindo cumulativamente a história, muito ao gosto de leitores crianças. As ilustrações são grandes, coloridas e estimulam a leitura e enriquecem o texto verbal.

Título: O casamento do rato com a filha do besouro | Autora: Rosinha | Ilustradora: Rosinha | Editora: Jujuba | Ano de publicação: 2012

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

O reizinho e o dragão A obra O reizinho e o dragão apresenta uma narrativa breve, em que as três crianças Jack, Zak e Caspar passam o dia brincando de “cabaninha”, que eles julgam ser um forte ou castelo antigo, propício a protegê­los das investidas de inimigos poderosos e temíveis, como os dragões que soltam fogo pelas ventas. Na cena final, à noitinha, os pais aparecem para resgatar, um a um, os “bravos guerreiros”. Trata­se de enredo com o qual as crianças pequenas estabelecem imediata identificação, pois esta é uma situação bastante presente no imaginário infantil. Ademais, combater inimigos imaginários e ameaçadores é atitude lúdica imprescindível em vários jogos para a infância.

Título: O reizinho e o dragão | Autor: Peter Bently | Ilustradora: Helen Oxenbury | Tradutora: Vanessa Nicolav | Editora: Caramelo | Ano de publicação: 2011

Os incomodados que se mudem Os incomodados que se mudem é uma divertida adaptação de uma cantiga do folclore popular brasileiro. Destinada às crianças menores, a obra explora recursos visuais adequados ao público­alvo, que interagem com o texto e o complementam. São usadas apenas as cores preto e vermelho nas ilustrações, que ocupam a maior parte da distribuição espacial das páginas. O manuseio do livro pelas crianças é facilitado por suas dimensões e pela escolha do material gráfico de boa qualidade. O tom humorístico, orientado principalmente pelas ilustrações, acompanha toda a historieta. São explorados recursos expressivos da repetição de palavras, resultando em um texto que consegue prender a atenção até mesmo daqueles que ainda não sabem decodificar a escrita.

Título: Os incomodados que se mudem | Autora: Márcia Leite | Ilustradora: Anita Prades | Editora: Jogo de Amarelinha | Ano de publicação: 2013

Os pássaros Os pássaros é uma narrativa por imagens que explora recursos visuais de modo criativo, fugindo a estereótipos e podendo ampliar as referências estéticas e éticas do leitor. A história organiza­se em torno de um motorista, cujo veículo transporta uma carga de pássaros. Subitamente, o homem depara­se com um obstáculo intransponível: um abismo. Impedido de continuar a viagem, decide libertar os pássaros, mas um deles (bem pequeno, tímido e negro) não acompanha o bando (colorido e agitado) e fica no caminhão, fazendo companhia ao motorista. Estabelece­se, a partir daí, uma relação de cumplicidade entre os dois. O enredo ressalta o valor da amizade e do companheirismo, enfatizados por meio da singela e surpreendente cena final.

Título: Os pássaros | Autor: Germano Zullo | Ilustradora: Albertine | Tradutor: Cide Piquet | Editora: 34 | Ano de publicação: 2013

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

Os três porquinhos A obra de Mariana Massarani é uma atualização da clássica história Os três porquinhos, sob a forma de livro de imagens. Assim sendo, as ilustrações são o ponto alto da edição: bastante sugestivas e expressivas, elas funcionam como o suporte perfeito para a história. Nessa releitura, os três irmãos vivem em um mundo repleto de aparelhos eletro­eletrônicos tais como geladeiras, televisões de controle remoto, rádios. A casa deles possui todo o conforto e em nada se diferencia de uma casa moderna de classe média. O lobo, por sua vez, sentindo­se faminto e deparando­se com a floresta completamente desmatada, pega o carro e sai em busca do alimento: os porquinhos, que, espertos, lhe preparam uma armadilha, através de um engenhoso estratagema. A cena final, politicamente correta, sugere que lobo e porquinhos se tornam amigos e parceiros, formando uma banda que tem o lobo como vocalista.

Título: Os três porquinhos | Autora: Mariana Massarani | Ilustradora: Mariana Massarani | Editora: Manati | Ano de publicação: 2013

Promessa é promessa A obra conta a história de uma marmota que, após o período de hibernação, conhece uma flor, o dente de leão. Mesmo com certa previsibilidade, o enredo apresenta o ciclo das estações, de maneira singela e harmônica: inverno, primavera, verão, outono. O autor defende, com sua mensagem, a ideia de que é importante confiar nos outros, pois “promessa é promessa”, como indica o título. De extrema delicadeza e esteticamente agradáveis, as ilustrações expressam bem as situações vividas pelos personagens da história. A narrativa possui elementos que, em geral, envolvem bastante as crianças na leitura, tais como a presença de animais, textos relativamente curtos e desenhos grandes.

Título: Promessa é promessa | Autor: Knister | Ilustradora: EveTharlet | Tradutora: Silvia Ribeiro | Editora: Hedra Educação | Ano de publicação: 2012

Quando isto vira aquilo Quando isto vira aquilo, do premiado autor e ilustrador da literatura infantojuvenil Guto Lins, mostra que o resultado de um troca­troca pode ser surpreendente. Com um traço alegre e simples, o livro faz um divertido passeio pelas cores e formas da natureza. O corpo da cobra pode se transformar no rabo da onça, o sapo torna­se um jacaré, a tromba do elefante se confunde com as patas do cavalo, dentre outras transformações. O autor busca aguçar os olhos do leitor para que ele enxergue que sempre há pequenos segredos escondidos nas coisas mais óbvias e novas perspectivas a serem exploradas, bastando voltar o olhar com atenção e sensibilidade para o mundo a sua volta. A obra é um divertido exercício de observação que faz a imaginação voar e ensina aos pequenos, desde cedo, a procurar novos ângulos de visão para aquilo que estamos acostumados a ver.

Título: Quando isto vira aquilo | Autor: Guto Lins | Ilustrador: Guto Lins | Editora: Rocco/Fio | Ano de publicação: 2008

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Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

Quem é ela? Duas crianças olham pela janela e veem alguém se aproximando, mas somente o menino sabe quem é. A menininha, por não conseguir identificar a pessoa, pergunta: “mas quem é ela?”. A partir desse momento, sucedem­se frases curtas enigmáticas, que dão pistas sobre a identidade da personagem misteriosa. O jogo com a linguagem visual é alegre, lúdico, representativo e sugestivo. Sem subestimar o leitor, a resposta é dada no final, pela representação artística, agora verticalizada, da figura materna. De natureza alusiva, texto e ilustrações integram­ se de forma a permitir a inferência da resposta para a adivinhação, sem torná­la trivial. As pistas para a descoberta da personagem são dadas, a partir de comparações com as características de animais: olhos de águia, velocidade do guepardo, braços de polvo, ouvidos de elefante, nariz de tamanduá, juba de leão. Ao mesmo tempo, a forma de adivinhação sustenta a curiosidade do leitor, permitindo a interação com as crianças.

Título: Quem é ela? | Autor: Eliane Pimenta | Ilustrador: Ionit Zilberman | Editora: Brinque Book | Ano de publicação: 2012

Um elefante se balança... A obra narra a aventura de um elefante que se balança numa teia de aranha e, a cada página, convida seus amigos para também se divertirem. No meio dessa brincadeira “empolgante”, a dona aranha resolve cortar o fio e todos caem. A surpresa é assinalada na última página, pois quebra as expectativas do leitor: o que seria degradação acaba se tornando uma grande diversão. O projeto gráfico­ editorial é simples e bem cuidado, cumprindo sua função estético­literária e adequando­se ao público a que se destina. Além disso, as ilustrações são belas e em tons suaves. Destaca­se que a quebra de expectativa ao final da narrativa é algo muito valioso, no sentido da recriação dos sentidos pelo leitor, ou seja, nem sempre aquilo que parece, é realmente óbvio; mais uma característica da obra que permite ao leitor mergulhar na fantasia, criar e recriar sentidos e significados para o que foi lido. Desse modo, a obra propicia uma interação lúdica significativa.

Título: Um elefante se balança... | Autora: Marianne Dubuc | Ilustradora: Marianne Dubuc | Tradutoras: Dorothée de Bruchard e Lara de Bruchard Costa | Editora: DCL | Ano de publicação: 2012

Zoo Por ser uma narrativa construída por meio de imagens, o ponto forte do livro são as ilustrações, bastante coloridas e vivas. Ilustrado em páginas duplas, o volume compõe­se de dezesseis cenas, que retratam as mais diversas espécies animais habitantes do jardim zoológico, espaço de convívio harmônico entre as diferenças. Animais selvagens e de grande porte como o urso, a onça pintada, o elefante, a zebra, a girafa e o rinoceronte convivem com criaturas leves e delicadas como pássaros e coelhos, ou extravagantes como macacos e tartarugas. Há ainda os seres asquerosos como répteis e anfíbios. A pressuposição da convivência pacífica e harmoniosa entre seres de natureza tão distinta constitui uma interessante metáfora para se pensar o mundo, visto como lugar da aceitação da diferença, onde todos vivem com todos.

Título: Zoo | Autor: Jesús Gabán | Ilustrador: Jesús Gabán | Editora: Projeto | Ano de publicação: 2012 22


Educação Infantil ­ 3 a 5 anos e 8 meses

Já pra cama, monstrinho! A obra narra a história de um menino, na pele de um monstrinho, e suas estratégias para ludibriar o pai e evitar a ida para a cama. As situações apresentadas abordam a “hora de dormir” de forma divertida e delicada e são pertinentes ao universo infantil, quando se trata de encontrar desculpas para adiar o sono: beijinho na mamãe, tomar água, fazer cocô, brincar com a escova de dentes, ouvir uma história. O tema é adequado para o público leitor pretendido, pelas semelhanças com a vida real e por se abrir a um universo de fantasia e ludicidade. A linguagem e as imagens se organizam de modo apropriado para o público­alvo. As ilustrações são simples, bonitas e em harmonia com o texto verbal. O tamanho e o tipo da fonte, bem como a disposição do texto nas páginas são adequados a crianças da educação infantil, que ainda estão se familiarizando com o texto escrito.

Título: Já pra cama, mosntrinho! | Autor: Mário Ramos| Ilustrador: Mário Ramos | Editora: Berlendis & Vertecchia | Ano de publicação: 2012

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Resenhas dos acervos de 2014

Primeiro ciclo

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Primeiro ciclo

A compoteira O livro narra as lembranças de Alice, uma senhora de 82 anos, que quando criança foi à festa de aniversário de uma amiga e descobriu, quando chegou lá, que havia feito uma confusão, a aniversariante na verdade não era a sua colega, mas sim, a avó dela. Mas o que mais chamou a atenção da menina foi que, as amigas da avó chegavam à festa carregando as mais variadas compoteiras, com os doces preferidos da aniversariante. Mas, distraidamente, Alice se descuidou e derrubou uma das compoteiras, que se quebrou em mil pedaços. Ela ficou muito chateada e para distraí­la, Dona Odília, a avó de sua colega, levou a menina para conhecer a sua coleção de "compoteiras" de doces, o que acabou servindo de inspiração para que Alice começasse a sua própria coleção de compoteiras, que seriam usadas para guardar “doces de histórias”. A obra apresenta coerência entre texto verbal e não­verbal, propiciando ao leitor uma experiência significativa com a obra literária.

Título: A compoteira | Autor: Celso Sisto | Ilustradora: Bebel Callage | Editora: Prumo | Ano de publicação: 2011

A jararaca, a perereca e a tiririca A obra da premiada autora Ana Maria Machado apresenta um tom militante, posto que seu enredo parte de uma problemática sóciocultural de amplas consequências para a natureza: a interferência nefasta do homem na sobrevivência da biodiversidade de animais e para a vida cultural das pessoas, especialmente os habitantes das grandes cidades, testemunhas da extinção de rizomas naturais em função da construção civil e do desenvolvimento. Assim, as personagens fabulares vivem humanamente, na trama, as experiências subjetivas de sobrevivência, derrota ou superação dessas consequências. A obra oferece três finais diferentes às três personagens centrais, evidenciando como o ser humano, na sua natural diversidade, responde de forma diversa aos problemas com que se depara. A trama desta narrativa em prosa rimada apresenta três personagens fabulares levadas a enfrentar a perda de seus habitats naturais face à invasão da construção civil urbana.

Título: A jararaca, a perereca e a tiririca | Autora: Ana Maria Machado | Ilustradora: Cecília Esteves | Editora: Objetiva | Ano de publicação: 2012

As patas da vaca A obra é construída a partir de jogos de sentido com as palavras “vaca” e “pata”. A partir das combinações silábicas e deslocamentos de sentido, cria­se um animal insólito: a vacapata, que se desdobra em vapataca, pacatava, tavapaca, o que contribui para aguçar a imaginação da criança. Recursos expressivos da enunciação literária, tais como a homofonia, são explorados, como se pode ver no uso das palavras bico/bica e pata (elemento da fisiologia animal) e pata (ave). A utilização de expressões cristalizadas na língua – como bico­de­pato e pata­choca – contribuem para despertar o interesse do leitor para os jogos lúdicos, divertidos e bem­humorados com a linguagem.

Título: As patas da vaca | Autor: Bartolomeu Campos de Queirós | Ilustrador: Walter Ono | Editora: Gaudí Editorial | Ano de publicação: 2009

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Primeiro ciclo

Chora não...! O protagonista desta breve história é um menino que está muito triste e chora copiosamente: não se sabe o porquê de tamanho desespero. Seu sofrimento incontido é expresso por meio do exagero e da hipérbole: suas lágrimas acabam por criar um imenso rio, de dimensões amazônicas, numa alusão bem­humorada à expressão “chorar um rio de lágrimas”. Ao final da história, a surpresa: o menino está assim triste e choroso por ter perdido o primeiro dente. O tom burlesco, engraçado e divertido passa então a constituir o cerne da experiência da perda e deste rito de passagem encenado no texto – a saída da primeira infância. A presença da Iara, proveniente das águas do rio formadas pelo choro é o elemento mágico que remete às histórias e contos bastante comuns ao imaginário infantil. Título: Chora não...! | Autora: Sylvia Orthof | Ilustrador: Simone Mathias | Editora: Edigraf Participações | Ano de publicação: 2013

Cultura A obra Cultura apresenta uma narrativa curta que, em conjunto com as ilustrações, promove a diversão, por meio da linguagem verbo­visual e o jogo vocálico com o significado que as palavras podem ter. Tanto a temática quanto a linguagem são bastante adequadas ao público infantil: as orações são curtas e o vocabulário bastante simples e acessível, mas de boa qualidade e imaginativo, fomentando relações, comparações e associações. Voltado para o público infantil, o texto é inteligente e suscita a reflexão e a imaginação (“O cavalo é o pasto do carrapato”); fomenta diálogos e comentários (“Engordar é a tarefa do porco”); além de chamar a atenção para fatos da vida e os usos da linguagem (“As raízes são as veias da seiva”). O texto verbal – juntamente com a imagem – permite uma leitura bem­humorada e divertida.

Título: Cultura | Autor: Arnaldo Antunes | Ilustrador: Thiago Lopes | Editora: Iluminuras | Ano de publicação: 2012

É assim A narrativa trabalha, de maneira delicada e lúdica, duas questões essenciais da condição humana, apresentadas por meio de duas perguntas aparentemente simples: “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Estas duas indagações metafísicas constituem o cerne da experiência humana e são tratadas, na obra, com leveza, sem qualquer traço de melancolia ou negatividade. Assim como o desenrolar das estações do ano que se sucedem no contínuo temporal, a vida humana faz­se por ciclos (o da chegada e o da partida), que são vistos como pertencentes à ordem natural das coisas. O mérito maior do livro é mostrar, de forma sensível, o processo de consciência da finitude que atinge seres e coisas indistintamente.

Título: É assim | Autora: Paloma Valdivia | Ilustradora: Paloma Valdivia | Tradutora: Graziela R. S. Costa Pinto | Editora: Comboio de corda | Ano de publicação: 2012

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Primeiro ciclo

Joãozinho e Maria A obra é uma adaptação do conto clássico dos irmãos Grimm, realizada por Ronaldo Simões Coelho e Cristina Agostinho e com belas ilustrações de Walter Lara. Mantendo firme conexão com o enredo clássico, a história é contextualizada em um bioma brasileiro: a Serra da Mantiqueira. O leitor é inserido neste contexto, a partir de referências a lugares (Cachoeira Véu da noiva, Pico das Agulhas Negras), bem como a espécies de animais característicos (maritacas, periquitos, saracuras, tucanos, juritis) e árvores frutíferas, como as goiabeiras. Também as guloseimas com as quais a bruxa adorna sua casa para atrair as crianças são recontextualizadas – doces tipicamente brasileiros, como brigadeiro, doce de leite e pé­de­moleque são inseridos na narrativa. Merece destaque a composição de personagens negras (aspecto que somente se destaca nas ilustrações), como forma de contemplar a temática étnico­racial sem marcar a diferença como um problema.

Título: Joãozinho e Maria | Adaptadores: Ronaldo Simões Coelho e Cristina Agostinho | Ilustrador: Walter Lara | Editora: Mazza | Ano de publicação: 2013

Meu presente Com delicadeza e criatividade, Meu presente valoriza a leitura, mostrando que o livro é uma boa opção para presentear as pessoas. A obra narra a história de uma menininha que queria ganhar uma boneca no dia do seu aniversário, porém, ganhou um livro. Então, passa a brincar com o livro como se fosse sua boneca. Até que suas colegas descobrem o que ela estava escondendo no carrinho de bonecas e, a princípio, criticam a menina pela sua atitude, mas depois acabam gostando da ideia de ler. A leitura da obra evoca experiências pessoais e pode ajudar o leitor a refletir sobre a importância do objeto livro. Propicia ao leitor uma experiência significativa e também permite contato expressivo, lúdico e sensível com a linguagem, ampliando as referências estéticas, culturais e éticas da criança.

Título: Meu presente | Autora: Eva Montanari | Ilustradora: Eva Montanari | Tradutor: Peter O'Sagae | Editora: DCL | Ano de publicação: 2012

Meu primeiro amor Na obra Meu primeiro amor, conta­se a história de uma menina que descobre o prazer de desenhar com lápis de cor. A narrativa é realizada do ponto de vista de um “lápis de cor”, que expressa, por meio de uma linguagem poética e abstrata, a percepção que tem do envolvimento da menina com o ato de desenhar. Trata­se de uma singela narrativa, centrada na história da menina e de sua caixa de lápis de cor, cuja temática é interessante para o universo infantil. A ênfase da história é marcada pelo sentimento de amor que a menina nutre pelo lápis; a analogia com o namoro e o amor à primeira vista é evidente: há os recuos, as incertezas, as dúvidas, a insegurança. No final, a parceria com os lápis se estabelece e a protagonista pode voar nas asas da imaginação, criando coisas e mundos diversos e variados, os quais só poderiam surgir de uma imaginação fértil e de uma bela caixa de lápis de cor.

Título do livro: Meu primeiro amor | Autor: Júlio Emílio Braz | Ilustrador: Salmo Dansa | Editora: Scipione | Ano de publicação: 2013

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Primeiro ciclo

Muito tarde A narrativa explora uma situação muito comum no cotidiano infantil: a alegação, feita pelos pais, de que está “muito tarde” para fazer algo, tendo em vista o cumprimento de determinados hábitos e rituais a que as crianças devem se submeter, como ir para a cama a certa hora, por exemplo. O tratamento poético conferido à situação que está sendo narrada é visível em frases como “muito tarde é escuro”, num procedimento de desautomatização da linguagem. O protagonista é um menino que, no quarto, se preparando para dormir, alcança a solução para o problema: imagina que “muito tarde” é o nome de uma cidade, onde todas as brincadeiras são possíveis e permitidas, a qualquer hora. Graças ao poder da imaginação, a criança safa­se da obrigação imposta pela família de ir para a cama, construindo um mundo lúdico e prazeroso, apenas possível de ser acessado à noite, através do sonho.

Título do livro: Muito tarde | Autora: Giovanna Zoboli | Ilustradora: Camila Engman | Tradutora: Noelly Russo | Editora: Zahar | Ano de publicação: 2012

Nicodème Nicodème é uma criança tímida e frágil, mas que traz dentro de si um enorme desejo de ter superpoderes para resolver seus problemas. Muitos acontecimentos frustram o pequeno Nicodème: no caminho para a escola, os pedestres o empurram, sem prestar atenção nele; o colega da escola obriga­o a lhe dar quase todas as suas bolinhas de gude; o professor o repreende em público, porque ele se esqueceu de seu caderno. Em cada um desses casos, Nicodème quer ser maior, mais forte... ser o super­Nico, capaz de dar uma lição em todos. Até que um dia o garoto percebe que esse super­herói só existe na sua cabeça e que ele poderia ser respeitado e querido sendo simplesmente o Nicodème. A obra aborda a importância da autoconfiança, sendo capaz de levar o leitor a reconhecer suas potencialidades para resolver os problemas. Com belas ilustrações a lápis, em tons de cinza e acentuados com a cor vermelha, a obra é uma verdadeira festa para os olhos e para o coração.

Título: Nicodème | Autora: Agnès Laroche | Ilustradora: Stéphanie Augusseau | Tradutoras: Isabelle Gamin e Rosana de Mont'Alverne Neto | Editora: Aletria | Ano de publicação: 2013

O fim da fila O fim da fila é um livro de imagens, sem texto grafado. O enredo apresenta uma fila de animais da fauna nacional que esperam pelo momento de “ganhar” identidade brasileira. Um índio distribui cores aos animais, através das pinturas que realiza na pele, nos cascos, nas plumas dos bichos que por ele passam. Lida­se com a noção de um eterno recomeço, pois, após receberem a pintura corporal, os animais a perdem com a chuva; apesar de ser um banho que os renova, também os obriga a voltar até o índio que as fez. Ao final, encontram a saída e o começo de tudo, através de uma árvore e por meio da utilização de um recurso gráfico que consiste em levar os personagens até a quarta capa e à fila que se estende até a capa, iniciando tudo novamente, em um processo lúdico e cíclico.

Título: O fim da fila | Autor: Marcelo Pimentel | Ilustrador: Marcelo Pimentel | Editora: Rovelle | Ano de publicação: 2011

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Primeiro ciclo

O menino que queria virar vento A obra narra a história de um menino que queria virar vento para visitar uma amiga que morava muito longe. Com delicadeza, o autor brinca com o inusitado, convocando os leitores a uma experiência criativa com o texto e com as imagens, de modo a estabelecerem relações imprevisíveis e inventivas, a partir da leitura. O texto é cuidadosamente elaborado, usando­se o recurso da narração de ações progressivas, emendadas uma na outra, o que enriquece a leitura. As ilustrações não se limitam a reproduzir personagens e situações contidas na narrativa, mas acrescentam informações que expandem o alcance do texto verbal e convidam o leitor à construção de novos sentidos para o texto. As imagens mais ricas aparecem nas cenas em que o protagonista se transforma, desaparecendo nas páginas do livro. Observa­se o cuidado com a construção textual e imagética, o que possibilita a ampliação das experiências literárias e estéticas do leitor.

Título: O menino que queria virar vento | Autor: Pedro Kalil Auad | Ilustradora: Luisa Helena Ribeiro | Editora: Aletria | Ano de publicação: 2012

Oi, Au­au! Oi, Au­au! é uma história sobre amizade, bichos de estimação, honestidade e sonhos de criança. A narrativa já começa na segunda capa, com a notícia de animais que fugiram de um zoológico. Lili é a protagonista da história, uma garotinha que sempre quis ter um animal de estimação e, numa manhã, acorda e vê no pátio da sua casa um urso grande, peludo, com quatro patas, rabo e nariz, e decide que ele será o seu animalzinho. Ela pede permissão para ficar com ele, mas os pais (que nem olharam para o bicho) não aprovam, justificando, que provavelmente, ele já tivesse um dono. Então Lili faz um cartaz sobre o animal para tentar encontrar o seu dono, mas no fundo não queria que ninguém o encontrasse. Porém, o pessoal do zoológico identifica o urso através do cartaz e o leva de volta. Lili a princípio fica muito triste, até que um novo animal aparece em seu quintal, um tigre que passa a ser chamado pela menina de Miau. Assim, com leveza e criatividade, o autor constrói a narrativa e ilustra com delicadas imagens que ajudam a compor o texto.

Título: Oi, Au­au! | Autor: Adam Stower | Ilustrador: Adam Stower | Tradutora: Gilda de Aquino | Editora: Brinque­book | Ano de publicação: 2012

Sete patinhos na lagoa A obra de Caio Riter narra a história de sete patinhos perseguidos pelo jacaré Barnabé, que não desiste de comê­los e trama planos engenhosos, que incluem disfarces de Batman e de celebridades, para ir devorando a cada um deles. Ingênuos, os patinhos acabam caindo nas ciladas do inimigo, até que um deles tem uma ideia simples e genial: com um instrumento bobo, consegue aprontar uma armadilha para o Jacaré Barnabé. O autor retoma o gênero da fábula, de forma renovada, usando a estrutura da narrativa de repetição e acúmulo. Ele consegue se distanciar das estruturas orais de contar os números e, de forma criativa e lúdica, produz uma narrativa em versos capaz de cativar a atenção dos leitores infantis. O texto e as ilustrações são bastante divertidos; as imagens mostram movimento e ação; texto e imagens complementam­se mutuamente. Título: Sete patinhos na lagoa | Autor: Caio Riter | Ilustrador: Laurent Cardon | Editora: Biruta | Ano de publicação: 2012 30


Primeiro ciclo

Tantos cantos Em Tantos Cantos, um único poema conduz toda a narrativa, enquanto as imagens compõem uma série de recordações a partir das ilustrações repletas de significado. A obra aborda, com delicadeza e sensibilidade, os simples prazeres da vida que nem sempre são saboreados: o som que emana da máquina de costura, dos sabiás que cantam lá fora, do trem que parte ou chega e dos tamancos andarilhos sob seus pés. Os sons do cotidiano entram nos ouvidos de três irmãs que juntam tudo para transformar no que a imaginação pedir ou do que a casa delas precisar. É uma história de vivências cotidianas de quintais de todo mundo, onde se resgata o saber ouvir, tão necessário nos dias de hoje. A partir de várias onomatopeias presentes nos espaços onde as crianças circulam, a autora tece a trama em forma de poesia.

Título: Tantos cantos | Autora: Lúcia Hiratsuka | Ilustradora: Lúcia Hiratsuka | Editora: Universo | Ano de publicação: 2013

Um dia, um cão As cenas deste livro de imagens compõem uma história de vida, triste e sofrida, de um cão abandonado que, ao final, conquista um lugar junto a uma criança que parecia estar na mesma condição que a dele. A autora utiliza apenas as várias intensidades de linha e de tonalidade de grafite para narrar a trajetória percorrida pelo cão. As figuras humanas e os espaços da narrativa, com formas pouco definidas em relação à figura humana real, podem permitir à criança fazer inferências diversas na busca da construção de significados. Observa­se uma diversidade de situações expressivas, sentimentos e emoções que podem ser vivenciados pelas crianças na interação com a personagem e vinculadas às representações que têm do mundo à sua volta.

Título: Um dia, um cão | Autora: Gabrielle Vincent | Ilustradora: Gabrielle Vincent | Editora: 34 | Ano de publicação: 2013

Cadê a monstrinha? Nada como ler uma história com personagens que parecem velhos conhecidos nossos. Quem nunca viu uma barata horrenda, cascuda? Um punhado de galinhas, pintos, patos, espalhados em um quintal, de bicos abertos, prontos para atacar? Ou um casal de avós com seu netinho? De maneira divertida, Elizete Lisboa reúne todos esses personagens, numa obra produzida com belas ilustrações e duas escritas, como anunciado na quarta capa: “o leitor pode ser a criança que enxerga normalmente e que lê olhando para a página. Pode ainda ser a criança que precisa ler com as mãozinhas.” Os leitores infantis terão acesso a uma leitura lúdica, poética e o contato com a escrita em braile, que também possibilita uma outra forma de sensibilidade.

Título: Cade a mosntrinha? | Autora: Elizete Lisboa | Ilustradora: Maria José Boaventura | Editora: Paulinas | Ano de publicação: 2012

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Resenhas dos acervos de 2014

Segundo ciclo

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Segundo ciclo

O 20.000 Léguas submarinas 20.000 Léguas submarinas em quadrinhos apresenta histórias baseadas no original de Júlio Verne. Na capa, de cores fortes, o chamariz fica por conta da reprodução da cena de uma das histórias que compõem o volume, na qual um polvo gigante aparece prendendo o que parece ser um submarino em design futurista. Por se tratar de uma obra em quadrinhos, a ilustração é um dos grandes atrativos: em algumas delas, a noção de profundidade, permitida pela perspectiva adotada pelo ilustrador, causa um efeito tridimensional que impressiona o leitor. Quanto aos enredos apresentados, é elogiável a capacidade do livro de condensar, em pouco mais de seis capítulos, algumas ricas aventuras contidas no original, preservando­lhes as características literárias. Além disso, a encadernação em brochura resistente ao manuseio e o papel de qualidade, tanto na capa quanto no interior, permitem que o livro não passe despercebido pelos olhos do leitor.

Título: 20.000 léguas submarinas em quadrinhos | Do clássico de Júlio Verne | Roteiro: João Marcos | Desenhos: Will | Editora: Nemo | Ano de publicação: 2012

A manta A manta: uma história em quadrinhos (de tecido) é uma narrativa de estrutura linear que apresenta, em virtude da curiosidade de uma criança (a narradora), a história e as lembranças por trás de cada retalho da colcha de sua avó. A temática não se relaciona com a perda, como se poderia depreender, mas traz as possibilidades de ganho pela convivência com uma avó que gostava de contar fatos vividos por familiares, reforçando, assim, a potencialidade do narrar em virtude de sua abertura à criação e à recriação. O livro explora com consistência o gênero literário proposto, trabalhando com indícios que levam à percepção de certas características das personagens, sem criar situações que as explicitem, deixando, assim, espaço para o leitor, que poderá relacionar o contador de histórias com alguém que enxerga as coisas de um modo poético. Isso ajuda a perceber o valor da manta, que, ao costurar tecidos, metaforicamente, costura vidas.

Título: A manta: uma história em quadrinhos (de tecido) | Autor: Isabel Minhós Martins | Ilustrador: Yara Kono | Editora: Tordesilhinhas | Ano de publicação: 2011

A frangas As frangas, de Caio Fernando Abreu, é uma história inspirada no livro A vida intima de Lauras, escrito por Clarice Lispector. Narra­se, em primeira pessoa, a história de oito frangas que moram em cima de uma geladeira. O narrador descreve a origem, as características físicas e o jeito de ser de cada uma delas, além de contar algumas de suas peripécias e o relacionamento entre elas. Ao fazer referência à obra de Clarice, o livro mostra­se pertinente como texto literário em diálogo com importante obra da tradição literária brasileira. As ilustrações, artisticamente trabalhadas, dão enfoque às personagens principais, dialogando com o texto verbal. Lembranças, memórias, sentimentos e reflexões estão presentes em toda a narrativa. O foco narrativo apresenta o mundo pelo olhar do narrador­personagem, sempre sob a ótica de sua compreensão, por meio do qual ele dialoga, o tempo todo, com o leitor. Esse aspecto, sem dúvida, contribui para uma leitura aberta e criativa da obra.

Título: As frangas | Autor: Caio Fernando Abreu | Ilustradora: Suppa | Editora: Vida Melhor | Ano de publicação: 2013 34


Segundo ciclo

Contos de princesas O livro Contos de Princesas, de Wendy Jones e Su Blackwell, reúne sete contos clássicos de princesas: Cinderela, O príncipe e o sapo, As doze princesas dançarinas, A princesa e a ervilha, Branca de Neve, Rapunzel e Bela Adormecida. Embora já bastante conhecidos pela maioria dos leitores, a forma como a autora os reconta confere nova vitalidade às narrativas, sempre com elementos e detalhes inusitados. A presente edição ganha destaque especialmente pelas belíssimas esculturas de papel impresso que ilustram o texto verbal. As imagens da obra nasceram de papel reciclado, do próprio material que é usado como suporte para outras aventuras literárias. A leitura dessa obra é capaz de oferecer ao leitor uma significativa experiência estética a partir dos contos que há muito tempo fazem parte do imaginário infantil.

Título: Contos de princesas | Adaptadora: Wendy Jones | Ilustradora: Su Blackwell | Fotógrafo: Tim Clinch | Tradutora: Monica Stahel | Editora: WMF Martins Fontes | Ano de publicação: 2012

De carona na carochinha De carona na carochinha é uma obra que reúne sete contos da tradição oral popular brasileira, recontados por Flávia Savary com humor e com a inserção de alguns elementos característicos da contemporaneidade. As ilustrações de Laurent Cardon corroboram o tom bem­humorado do texto verbal. O título é bastante sugestivo, uma vez que a autora reconta as narrativas populares, imprimindo­lhes seu estilo, marcado pelo humor e originalidade. Cada história é acompanhada de duas a três ilustrações, que dialogam de modo muito produtivo e criativo com o texto literário, alargando as possibilidades de produção de sentidos. As atualizações propostas pela autora nos contos tradicionais conferem­lhes humor e certo toque de originalidade, sem, contudo, lhes alterar significativamente a efabulação.

Título: De carona na carochinha | Autora: Flávia Savary | Ilustrador: Laurent Cardon | Editora: Globo | Ano de publicação: 2012

Maluquinho por arte O edição apresenta 15 histórias em quadrinhos nas quais uma turma de crianças lida com diversas formas de arte, visita museus e participa, na escola, de uma exposição de trabalhos artísticos dos próprios estudantes. Os personagens pertencem à série de grande sucesso, na qual o protagonista é um menino criativo, brincalhão e extremamente ativo, cuja marca é andar com uma panela na cabeça: o famoso Menino Maluquinho. Entre uma história e outra, em página inteira, desenrola­se uma história ao longo de todo o livro, a da exposição de artes. Em página inteira, aparece o trabalho de cada um dos alunos para a exposição, com uma dupla de personagens dialogando sobre a obra. Todas as histórias apresentam humor e ironia e, em todas elas, o Menino Maluquinho tem a oportunidade de demonstrar seus talentos, sua irreverência, sua liderança. A narrativa é bem humorada e atraente; o desenho dos personagens e o emprego de outros recursos gráficos é primoroso.

Título: Maluquinho por arte: histórias em que a turma pinta e borda | Autor: Ziraldo | Editora: Globo Livros | Ano de publicação: 2011

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Segundo ciclo

Menina amarrotada Trata­se de uma narrativa repleta de lirismo e imaginação, onde conta­se a história sobre a relação entre pai e filha, usando uma linguagem poética, cheia de sentimentos e significados. A trama retrata a sensação de perda e medo de uma criança quando vê o pai viajar para longe, sem ter a certeza do seu retorno. Na narrativa, particularmente nos trechos descritivos, a prosa da autora se reveste de recursos imagéticos que dão o tom das emoções experimentadas pela personagem central, representada, na obra, pela metáfora de um pedaço de papel amassado. As imagens destacam­se porque não apenas traduzem ou sublinham aquilo que o texto diz, mas também possuem a função de narrar. Elas contam outra história para além do texto, estabelecem um diálogo, sem tirar dos leitores a prerrogativa de exercer a imaginação; ao contrário, estimula­os e leva­os a novas leituras e novas reflexões.

Título: Menina amarrotada | Autora: Aline Abreu | Ilustradora: Aline Abreu | Editora: Jujuba | Ano de publicação: 2013

O avião de Alexandre Nesta reedição do livro O avião de Alexandre, da autora do clássico A bonequinha preta, a ilustradora Anna Cunha dá à obra, escrita em uma época diferente da sua, um tratamento delicado e harmonioso. Trata­se da história de um menino­rei que governa uma extensa área coberta de terras, mares, montanhas e possui um desejo de voar para ver toda a extensão do seu domínio. Entretanto, como vive em uma época anterior aos avanços tecnológicos, Alexandre emprega muita imaginação e criatividade para realizar seu sonho. A analogia à vida de Alexandre, o Grande, um dos mais célebres conquistadores da história da humanidade, é um convite para que o leitor reflita sobre a vida de pessoas que ousam sonhar e lutar pela realização de seus sonhos. A proposta do livro se ajusta aos interesses e desejos infantis, quer pela imaginação, criatividade, coragem do pequeno Alexandre; quer pelo desafio de voar, compreendido tanto do ponto de vista literal quanto do metafórico.

Título: O avião de Alexandre | Autora: Alaíde Lisboa | Ilustradora: Anna Cunha | Editora: Peirópolis | Ano de publicação: 2013

O gato Massamê e aquilo que ele vê A obra é uma história curta, na qual o texto verbo­visual potencializa o imaginário infantil, por meio da relação entre seus protagonistas, a menina Luísa e o inquieto e aventureiro gato Massamê. A relação de complementaridade entre o texto literário e as ilustrações enriquece a produção de sentidos. Algumas das marcas estilísticas da autora, como o tom coloquial e as interpelações que a voz do narrador faz ao leitor, estão presentes, tornando a narrativa fluida, criativa e atraente. A alusão a um personagem consagrado da literatura infantojuvenil também é importante referência. Recursos expressivos próprios da oralidade, como onomatopeias, emprestam dinamismo à narrativa. A relação entre os protagonistas é perpassada pela afetividade e pela cumplicidade. A baixa visão de Massamê faz com que ele se envolva em emocionantes e perigosas aventuras, aproximando a narrativa do gênero “comédia de erros”, que termina com um final feliz.

Título: O gato Massamê e aquilo que ele vê | Autor: Ana Maria Machado | Ilustrador: Jean­Claude R. Alphen | Editora: Ática | Ano de publicação: 2012

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Segundo ciclo

O ladrão de dragões A obra O ladrão de Dragões faz parte de uma coleção, “Aventuras de Dragão”, ao lado de duas outras da série, Meu filhote Dragão e O incrível resgate do Dragão. A narrativa apresenta as aventuras de um garoto e seu amigo “Dragão,” pelas terras do “Nem lá nem Cá”, a fim de salvarem o último ovo de uma espécie muito rara de dragão, o “ Crista Vermelha”, das garras de um velho feiticeiro. A narrativa é leve e despojada e se apresenta dentro de um estilo que tem agradado bastante pequenos leitores, cativados pela figura do Dragão que solta fogo pelas ventas. As ilustrações são muito bem sucedidas e se harmonizam com o texto verbal, conferindo a este maior verossimilhança.

Título: O ladrão de dragões | Autor: M. P. Robertson | Tradutora: Elisa Zanetti | Editora: Biruta | Ano de publicação: 2012

O livro do Rex O livro do Rex é uma seleção de tirinhas, de Ivan Zigg. As histórias distribuem­se em quatro partes temáticas, cujo protagonista é o dinossauro Rex: “O diário de Rex”, “O fantástico mundo de Rex”, “Conta outra história” e “Planeta Rex”. Cada página traz uma situação que, em quatro ou cinco quadros, conclui­se com um desfecho engraçado. As cenas são compostas com os recursos narrativos típicos das histórias em quadrinhos, com letras grafadas a mão. A linguagem marcadamente coloquial, típica dos quadrinhos de humor, é bastante apropriada para as crianças. O herói­protagonista aparece sempre acompanhado, em quase todas as aventuras, de uma amiga, da mesma espécie, e de um amigo inseto. Embora dinossauros, os personagens principais vivem situações contemporâneas comuns ao cotidiano das crianças urbanas, tais como a reciclagem do lixo e o desejo de proteção ao ambiente.

Título: O livro do Rex | Autor: Ivan Zigg | Ilustrador: Ivan Zigg | Editora: Ediouro Lazer e Cultura | Ano de publicação: 2013

O mundo das pessoas coloridas O mundo das pessoas coloridas é uma narrativa de estrutura linear que apresenta a história de João e José, dois meninos que se consideram irmãos, pois se conhecem desde o início de suas vidas. A harmonia é quebrada com a convivência em uma nova escola, onde colegas destacam o fato de não poderem ser irmãos, pois José é negro e João é branco. O tema é desenvolvido de modo terno, adequado ao público infantil. A obra tem explícita intenção de levar à reflexão sobre a falta de lógica do racismo, ainda que não se use o termo, o que provoca, em especial na fala dos adultos, certo viés pedagógico. Assim, a mensagem que prevalece é a importância de todos os seres humanos conviverem em harmonia, além da valorização da cultura afro.

Título: O mundo das pessoas coloridas | Autor: Caio Ducca | Ilustrador: Thiago Amormino | Editora: Mazza Edições | Ano de publicação: 2012

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Segundo ciclo

O mundo num segundo O mundo num segundo aborda, de maneira divertida e consistente, a complexa temática do tempo. Cada página do livro remete a situações e lugares diferentes, como a enfatizar a celeridade e a inevitabilidade da passagem do tempo. Seja em alto­mar, no elevador, dentro de um carro preso no congestionamento, na praia ou no metrô; seja ainda em casa, cumprindo as tarefas mais cotidianas e prosaicas como se deitar, receber encomendas pelo correio, estudar, tem­se a consciência de que o tempo não para. A articulação tempo­espaço é outro motor importante do livro, pois a sensação da velocidade da passagem do tempo ocorre em lugares tão distintos quanto no mar Báltico, em um quintal em Portugal, no Marrocos, em grandes metrópoles como a cidade do México, Tóquio ou Nova York. Trata­se de obra de grande potencial reflexivo, pois aborda, de modo criativo e sintético, uma das grandes questões existenciais da época em que vivemos.

Título: O mundo num segundo | Autora: Isabel Minhós Martins | Ilustrador: Bernardo Carvalho | Editora: Peirópolis | Ano de publicação: 2013

Ou isto ou aquilo Numa edição primorosa, a obra reúne 56 poemas clássicos de Cecília Meireles, publicados pela primeira vez em 1964. O livro tornou­se um divisor de águas na produção poética brasileira para crianças, pelo tratamento poético e pela convivência harmoniosa entre variadas formas e tradições poéticas. Os poemas constroem­se obedecendo a certos princípios da poesia, quais sejam o largo uso de aliterações e assonâncias, o que confere excepcional ritmo e musicalidade a eles. Por outro lado, os jogos de palavras, os trocadilhos e os trava­línguas constituem uma excelente iniciação à leitura de poesia. O título remete ao difícil aprendizado de fazer escolhas. Com leveza e elegância, a poetisa nos lembra que a vida é feita de escolhas: já que não se pode ter tudo, é preciso escolher isto ou aquilo e simultaneamente excluir isto ou aquilo.

Título: Ou isto ou aquilo | Autora: Cecília Meireles | Ilustrador: Odilon Moraes | Editora: Global | Ano de publicação: 2012

Pai, não fui eu! A obra trata, com humor, das aproximações dos universos da realidade e da fantasia, feitas pela criança. Ao retratar um embate entre pai e filha e a forma como a criança lida com situações­limite, criando um universo imaginário, a obra faz refletir sobre as fronteiras entre esses dois universos e a importância do imaginário na vida real. O foco narrativo em primeira pessoa, na voz do pai e não da menina, produz efeitos de sentido que possibilitam ao leitor um significativo e instigante exercício de leitura, visto que a perspectiva do adulto mescla­se à da criança e o pai entra no jogo de faz de conta da filha. Outro recurso interessante é a construção da narrativa, feita basicamente a partir de um jogo de perguntas e respostas entre as personagens principais, como uma espécie de desafio: quanto mais a menina é questionada, mais fantasiosa torna­se sua história, que progride num crescendo de expectativas por parte do leitor, instigado a construir hipóteses e antecipações.

Título: Pai, não fui eu! | Autor: Ilan Brenman | Ilustradora: AnnaLaura Cantone | Editora: Companhia das Letrinhas | Ano de publicação: 2012

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Segundo ciclo

Pedro e os cacarecos A obra Pedro e os cacarecos apresenta um menino fascinado por transformar peças triviais e em encantar pessoas. O narrador resgata lembranças de sua infância, como a feira de ciências em que ficou em segundo lugar, e, com muita criatividade, inventa histórias para objetos aparentemente sem valor, como caixa sem tampa, papel rasgado, pedaço de isopor, etc. O tema é atraente para as crianças por se tratar de uma prática bem comum ao universo infantil, que é colecionar cacarecos. As ilustrações dialogam com o texto verbal, enriquecendo as possibilidades de compreensão e interação com a narrativa. São usados traços simples, mas repletos de significado e que se destacam por estarem sobrepostos a um fundo preto. A interação entre o escrito e o visual cria uma narrativa bem humorada e descontraída, capaz de estimular a leitura e prender a atenção de crianças de todas as idades.

Título: Pedro e os cacarecos | Autora: Simone Barra | Ilustradora: Simone Barra | Editora: Lê | Ano de publicação: 2013

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Resenhas dos acervos de 2014

Terceiro ciclo

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Terceiro ciclo

À esquerda, à direita À esquerda, à direita narra a história de dois jovens que moram sozinhos em uma cidade grande, são vizinhos de parede, mas nunca se encontram: enquanto ele sempre sai pela direita, quando deixa o prédio, ela sai pela esquerda. Até que o acaso os une em um parque. Há uma conexão imediata entre eles e a promessa de um encontro futuro, mas os telefones anotados no papel se desmancham na chuva. Até o fim do livro, o que se vê são os quase reencontros dos dois. Com uma sensibilidade apuradíssima, Jimmy Liao retrata o afastamento e o isolamento das pessoas nas grandes cidades. A obra constitui­se num conto, criativamente ilustrado e colorido. Além de oferecer uma visão de mundo interessante e noções de estética peculiares, o cunho romântico da obra facilita e dinamiza a leitura. As cores, o tamanho e o tipo da fonte, os traços dos desenhos e o grau de detalhamento das ilustrações constituem um conjunto adequado para o jovem leitor.

Título: À esquerda, à direita | Autor: Jimmy Liao | Ilustrador: Jimmy Liao | Tradutores: Lin Jun e Cong Tangtang | Editora: Moitará | Ano de publicação: 2012

Adolescência & Cia. Adolescência & Cia. é uma coletânea de contos de autores que integram o “Coletivo 21”, um grupo organizado por escritores de Belo Horizonte. Por meio de histórias que envolvem o universo juvenil, a obra convida o leitor a pensar sobre a realidade, sobre a vida, os costumes, os valores sociais. São narrativas que instigam o leitor a estabelecer relações com outros textos, a ler nas entrelinhas, a entender o uso das metáforas. Os temas são tratados com uma linguagem repleta de recursos expressivos, que estimulam no leitor o despertar de emoções, proporcionando uma experiência significativa quanto ao uso literário da língua. Os nove contos são divididos por uma página contendo o título do conto e uma ilustração ao final de cada um deles. A obra é composta por poucas ilustrações, característica marcante dos livros destinados a um leitor mais maduro, e por uma apresentação que estimula e enriquece a leitura.

Título: Adolescência & Cia. | Organizador: Jorge Fernando dos Santos | Ilustrador: Claudio Martins | Editora: Miguilim | Ano de publicação: 2012

Angélica A narrativa da obra Angélica é feita em terceira pessoa, com múltipla focalização, e relata a história da cegonha Angélica e suas aventuras e desventuras, acompanhada sempre pelos amigos Porto (o porco), Canarinho (o elefante), Napoleão Gonçalves e Mimi­das­Perucas (o casal de sapos) e Jota e Jandira (o casal de crocodilos). A narrativa explora a simbologia da diferença, por meio da cegonha que não se adapta aos costumes do seu país e de sua família e acaba por migrar para o Brasil. Na nova terra, conquista uma série de amigos que, de alguma maneira, são todos portadores de determinadas caracteristicas que os sin­ gularizam. Com a temática, a autora propõe a possibilidade de se conviver com a diferença, aceitando­a e respeitando­a. Nota­se o recurso ao encaixe de narrativas, graças à encenação de uma peça teatral que é utilizada para divulgar a história de Angélica e seus amigos, em luta pela tolerância e pela aceitação da diferença. Título: Angélica | Autora: Lygia Bojunga | Ilustradora: Vilma Pasqualini | Editora: Casa Lygia Bojunga | Ano de publicação: 2011 42


Terceiro ciclo

Beatriz em trânsito A obra narra a história de Beatriz, uma “adolescente em transformação”, amante dos livros e que vive de mudança. A narrativa explora temas como medo, morte, solidão, saudade e, principalmente, amizade. Também aborda, em linguagem clara e acessível, temas mais delicados, como suicídio, as dificuldades de um deficiente físico e a pedofilia; porém, de maneira suave e alheia aos estereótipos. O ponto forte da obra é a intertextualidade que propicia com outras obras literárias do cenário nacional e estrangeiro, pois os personagens principais da história são leitores assíduos. Muitas obras são citadas, como: O morro dos ventos uivantes; Alice no país das maravilhas; As reinações de Narizinho, dentre outras. Os personagens não só apresentam a obra, mas também estabelecem diálogos sobre passagens de outros livros, contribuindo de forma ativa para a ampliação das referências estéticas e culturais do leitor, além de incitá­lo à leitura de outras obras.

Título: Beatriz em trânsito | Autor: Eloí Elisabete Bocheco | Ilustrador: João Lin | Editora: In Pacto | Ano de publicação: 2012

Bilhetes viajantes Bilhetes viajantes constrói­se a partir de uma série de bilhetes escritos por garotos de diferentes lugares do mundo para distintos destinatários. Cada uma das 16 mensagens é precedida de um breve texto introdutório que contextualiza sua produção. Não há um fio narrativo em comum que conduza o enredo, o que há em comum nos textos é a faixa etária dos remetentes: jovens entre 12 e 15 anos. A obra apresenta cuidadoso projeto gráfico­editorial e as ilustrações são em matizes vivas, compostas por diferentes elementos, como diversidade de grafias com letras de tipos, tamanhos e cores diferentes, variando de mensagem para mensagem. Os textos que antecedem cada “bilhete” vêm sempre em letra de imprensa. A relação entre os textos verbais e os textos visuais é harmônica e confere valor artístico ao exemplar.

Título do livro: Bilhetes viajantes | Autor: Paulinho Assunção | Ilustradora: Regina Miranda | Editora: Dimensão | Ano de publicação: 2012

Fábulas entortadas De maneira satírica e debochada, estas Fábulas entortadas, como o próprio título sugere, constituem uma releitura paródica das fábulas tradicionais, que têm em Esopo e La Fontaine seus principais divulgadores. É próprio da natureza alegórica do gênero a transmissão de algum ensinamento moral, bem como a veiculação de uma crítica ao comportamento social de pessoas ou grupos. No caso das fábulas de Israel Jelin, esta crítica é exercida por meio do humor e da ironia, perceptíveis principalmente no tradicional desfecho, que, com sarcasmo e irreverência, apresenta uma singular e engraçada visão de mundo. Veja­se, a título de exemplo, a moral “entortada” da célebre fábula “A cigarra e a formiga”: “quem só sabe cantar dança”. Eis o tom predominante desta releitura das tradicionais fábulas que tanto encantam leitores de todas as idades, em todos os tempos. Título: Fábulas entortadas | Autor: Israel Jelin | Ilustrador: Sebastião Nunes | Editora: Edições Dubolsinho | Ano de publicação: 2012

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Terceiro ciclo

Fita verde no cabelo O conto Fita verde no cabelo: nova velha estória, de João Guimarães Rosa, faz uma nova leitura do clássico “Chapeuzinho Vermelho”. Como no original, a menina (nesse caso, Fita Verde) é chamada pela mãe, que lhe pede para levar um pote de doce à sua avó. A diferença está no restante da história, uma vez que não há lobos nos bosques, pois “... os lenhadores tinham exterminado o lobo.” Nesta obra, o autor aborda a questão da realidade no cotidiano e a trajetória das fantasias de uma adolescente, ainda com pouco juízo, perfazendo a trajetória de suas fantasias até a perda da avó. São abordados sentimentos que vão desde a alegria e o desejo até o medo e a solidão, o que contribui para a reflexão do jovem sobre si mesmo e sobre o outro. A obra trata de sentimentos e atitudes humanas sem induzir comportamentos e/ou opiniões, contribuindo para a formação humana. Título: Fita verde no cabelo; nova velha estória | Autor: João Guimarães Rosa | Ilustrador: Roger Mello | Editora: Ediouro Lazer e Cultura | Ano de publicação: 2013

Naquele verão A obra apresenta a história de amizade e cumplicidade entre três crianças (dois irmãos e a filha da empregada). “Um por todos e todos por um” era o lema que levavam com eles, até que, “naquele verão”, uma triste surpresa os aguarda. A mãe dos garotos adoece e, por mais que acreditassem em sua melhora, as coisas não acontecem como planejavam, e eles são cobrados a ter uma maturidade de que ainda não são capazes. A narrativa é bem construída, tem um ritmo dinâmico, com diálogos breves e realistas, que envolvem o leitor. As personagens principais são crianças e as situações descritas são comuns ao seu universo (escola, amigos, relação familiar), o que favorece a aproximação com o público­alvo. A narrativa apresenta um mundo que não é perfeito, no qual nem tudo pode ser compreendido ou tomado como completamente certo ou errado. Nele, os adultos não têm todas as respostas e as crianças nem sempre são poupadas de experiências dolorosas.

Título: Naquele verão | Autora: Jutta Richter | Tradutor: José Feres Sabino | Editora: Iluminuras | Ano de publicação: 2012

O avô mais louco do mundo A obra retrata a empolgante história de um menino que passa alguns dias na companhia do avô e aprende muito ao lado desse homem que, mesmo na terceira idade, mantém o espírito jovem. Também descobre um novo sentimento quando conhece Gabriela, neta de dona Rosário, namorada do avô. O livro é de fácil leitura e tem potencial para mobilizar o leitor a estabelecer relações com outros textos, como também contribui para o desenvolvimento da percepção de mundo, da ampliação das referências éticas. O livro conta ainda com divertidas e inteligentes ilustrações do paulistano Negreiros, que, juntamente com o texto verbal, desperta reflexões sobre conceitos como excentricidade, terceira idade, gêneros e gosto musical, questões ambientais e afeto, e também sobre preconceitos que envolvem vários deles. A forma, o traçado, o uso das cores, o fundo, a disposição das figuras na página são recursos que ampliam as possibilidades significativas do texto.

Título: O avô mais louco do mundo | Autor: Roy Berocay | Ilustrador: Negreiros | Editora: Gutenberg | Ano de publicação: 2013 44


Terceiro ciclo

O chamado do monstro Desde que a mãe adoece, Conor passa a ter pesadelos frequentes e, por isso, não se mostra nada assustado quando o monstro – uma árvore enorme que sempre viveu atrás da casa e subitamente ganha voz e movimento – aparece pela primeira vez em seu quarto. O monstro propõe ao garoto contar três histórias, desde que ele conte a quarta. No início o garoto não entende o pedido, mas, ao longo da narrativa, compreende a proposta do monstro e consegue desvendar seus segredos. A narrativa apresenta uma linguagem concisa, clara e objetiva, indo direto aos acontecimentos. Os diferentes ambientes onde transcorrem os fatos, bem como os personagens, são detalhadamente descritos ao longo da obra. A narrativa mobiliza o leitor e o instiga a decifrar os mistérios tecidos pelo texto. As ilustrações em preto e branco são envolventes e enriquecem a leitura, dão vida à história, aos espaços, aos fatos e aos sentimentos dos personagens.

Título: O chamado do monstro | Autor: Patrick Ness | Baseado em uma ideia original de Siobhan Dowd | Ilustrador: Jim Kay | Tradutor: Antônio Xerxenesky | Editora: Ática | Ano de publicação: 2011

Os dançarinos Os dançarinos é uma adaptação, para a linguagem das HQs, da obra literária do reconhecido escritor Sir Arthur Conan Doyle. Quando estranhos desenhos de dançarinos começam a aparecer na casa de um cavalheiro inglês e sua misteriosa esposa, Sir Sherlock Holmes e seu fiel companheiro, Dr. Watson, são chamados para desvendarem mais esse caso. A transposição dos contos para a história em quadrinhos conseguiu manter, com felicidade, a essência da narrativa de Sir Arthur Conan Doyle. Sem dúvida, boa parte do mérito se deve à harmonia da adaptação com a ilustração, que garantiu o máximo de proximidade entre a representação gráfica e o texto original.

Título: Os dançarinos | Autor: Sir Arthur Conan Doyle | Adaptador: Vincent Goodwin | Ilustrador: Ben Dunn | Editora: Farol Literário | Ano de publicação: 2012

Os dias estão todos ocupados A obra compila as tirinhas publicadas diariamente em jornais de todo o mundo, durante o ano de 1993, pelo autor Bill Waterson. Os protagonistas são o menino Calvin, de seis anos, e seu inseparável tigre de pelúcia, Haroldo. Calvin tem personalidade forte, é egocêntrico, autoconfiante e prepotente, e se acha o ser humano mais fantástico da terra. Graças ao poder da fértil imaginação do menino, Haroldo ganha vida quando não há ninguém por perto. Por isso é que, com muita frequência, as tirinhas retratam suas conversas com o tigre, e os assuntos prediletos são: filosofia, religião, televisão, natureza humana e vida em sociedade. A dupla vivencia fantasias e brincadeiras, cujo tom é o humor ácido, a inteligência crítica e observadora, a ironia refinada e a criatividade, por meio de frases de efeito e diálogos bem­humorados.

Título: Os dias estão todos ocupados: as aventuras de Calvin e Haroldo | Autor: Bill Waterson | Ilustrador: Bill Waterson | Tradutor: Alexandre Boide | Editora: Conrad Editora do Brasil | Ano de publicação: 2011

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Terceiro ciclo

Peter Pan Em caprichosa edição, traduzida e adaptada por Flávio de Souza e ilustrada por Marilia Pirillo, o leitor brasileiro tem a oportunidade de contato com o maior sucesso de J. M. Barrie, nome artístico de James Matthew Barrie, jornalista, escritor e dramaturgo escocês (1860­1937). A peça Peter Pan ou o menino que não queria crescer foi transformada em novela e tornou­se um clássico, adaptado também para filmes, desenhos animados e séries. Um texto cuja organização revela a exploração adequada do gênero, com três ingredientes muito favoráveis: aventura, magia e mistério, caros aos leitores da faixa etária a que se destina. Na Terra do Nunca, as crianças vivem cercadas de perigos, precisam a aprender a enfrentar desafios e se envolvem com mil aventuras. As ilustrações, em cores discretas, constituem um misto de suavidade, graça e delicadeza, de modo a combinar com o clima da narrativa, entre a imaginação e a aventura.

Título: Peter Pan | Autor: J. M. Barrie | Ilustradora: Marilia Pirillo | Tradutor e adaptador: Flavio de Souza | Editora: FTD | Ano de publicação: 2012

Ponte para Terabítia A obra conta a história de Jess, um garoto de 10 anos, único menino em uma casa com mais três meninas, residente na zona rural de um estado norte­americano. Leslie se muda para a casa ao lado da sua, para sua tristeza, pois o garoto desejava que os novos vizinhos tivessem um filho menino, para lhe fazer companhia. Jess sonha em ser campeão de corrida de sua escola e vai encontrar em Leslie Burke uma concorrente e, também, uma grande amiga com a qual cria um universo particular, o reino de Terabítia, espaço da fantasia comum a outras narrativas literárias para crianças e jovens, como o País das Maravilhas, o Jardim Secreto ou História sem Fim. Katerine Paterson, como informam os paratextos, é ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen de 1998, um dos mais importantes da área da literatura para crianças e jovens. Bridge to Terabithia, título original do livro, ganhou a medalha Newbery em 1978, quando foi publicado. Em 2007, recebeu uma versão para o cinema, um ano depois de ter sido traduzido para o português pela também premiada escritora Ana Maria Machado.

Título: Ponte para Terabítia | Autora: Katherine Paterson | Tradutora: Ana Maria Machado | Editora: Salamandra | Ano de publicação: 2006

Pra lá Pra lá é uma obra baseada na canção de mesmo título, de autoria dos músicos Luiz Tatit e Dante Ozzetti. O texto escrito em versos procura brincar com o que sempre vem depois, o que está adiante, o que está além, daí o título que impulsiona o enredo. O leitor é levado a refletir acerca do que acontece ao seu redor e a tomar consciência da amplidão do universo, por meio de pequenos versos, que são jogos de linguagem e brincadeiras com as palavras, tais como: “TEM INTERIOR MUITO ALÉM DO SERTÃO" e “PRA LÁ DO INVERNO PRIMAVERA” ou “PRA LÁ DESSE MUNDO/ TEM MAIS DO QUE UM RANCHO FUNDO”. As ilustrações, compostas por linhas finas e aquarela, estabelecem com o texto verbal uma simetria perfeita, criando um conjunto harmônico.

Título: Pra lá | Autores: Luiz Tatit e Dante Ozzetti | Ilustradora: Edith Derdyk | Editora: Hedra Educação | Ano de publicação: 2012

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Terceiro ciclo

Quadras ao gosto popular As quadras, quadrinhas ou trovas consistem num quarteto ou estrofe de quatro versos, ou seja, trata­se de uma forma fixa. A redondilha, sobretudo a maior (de sete sílabas) é seu verso mais utilizado. As quadras caracterizam­se pela brevidade, pela singeleza e pela feição sentenciosa que muitas vezes assumem. Quadras ao gosto popular é uma coletânea que reúne 33 quadrinhas, escritas entre os anos de 1934­1935. De autoria do célebre poeta português Fernando Pessoa, foram selecionadas a partir de uma temática comum a todas elas: o amor e suas diferentes variações e formas, como o amor à pátria e à mulher amada, a musa inspiradora. Trata­se de uma excelente oportunidade de iniciação à leitura da poesia deste consagrado poeta de língua portuguesa.

Título: Quadras ao gosto popular | Autor: Fernando Pessoa | Organizadora: Maria Viana | Ilustradora: Rosinha | Editora: Larousse Júnior | Ano de publicação: 2010

Sherlock Holmes e o caso da joia azul Sherlock Holmes e o caso da joia azul é uma adaptação da obra de Sir Arthur Conan Doyle, que apresenta mais um fato enigmático a ser desvendado pelo detetive mais famoso do mundo. A história tem início quando Peterson, o mensageiro, encontra na rua um chapéu e um ganso e leva­os para Holmes, a fim de que ele descubra o dono daqueles pertences. Então, Holmes coloca uma mensagem no jornal para que o dono do chapéu apareça e permite que o mensageiro leve o ganso para comê­lo. A mulher de Peterson descobre que dentro da barriga do ganso estava uma famosa joia azul, uma preciosíssima pedra que sumira do quarto de hotel da Condessa de Morcar. A partir daí, o detetive inicia a busca pelo verdadeiro culpado daquele roubo e se envereda por uma série de situações cômicas que o levam a resolver mais um caso. E assim, Holmes demonstra mais uma vez seus poderes de observação quase sobrenaturais, que o tornou um célebre personagem dos romances policiais.

Título: Sherlock Holmes e o caso da joia azul | Autor: Arthur Conan Doyle | Adaptadora: Rosa Moya | Ilustrador: Roger Olmos | Tradutores: Luciano Vieira | Machado e Elisa Zanetti | Editora: Panda books | Ano de publicação: 2011

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Resenhas dos acervos de 2014

EJA

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EJA

A árvore generosa Em tradução primorosa de Fernando Sabino, a obra apresenta a história delicada e pungente dos laços afetivos que ligam um menino a uma macieira. Trata­se, na verdade, de uma alegoria sobre a passagem do tempo, que submete seres e coisas a seu fatal domínio. É também uma metáfora da condição humana e da solidariedade e doação da natureza para com a espécie humana, pois a árvore distribui tudo que possui (frutos, sombra, madeira) a quem dela precisa, sem pedir nada em troca. Árvore e menino cumprem um ciclo vital que se inicia na tenra infância – representada, de um lado, pela árvore carregada de frutos; de outro, pelo menino que alegremente escala seus galhos – e termina na velhice. Ao final, a árvore é reduzida a um pequeno toco e o menino, transformado em um velho trôpego e sem forças.

Título: A árvore generosa | Autor: Shel Silverstein | Ilustrador: Shel Silverstein | Tradutor: Fernando Sabino | Editora: Cosac Naify | Ano de publicação: 2013

O voo da asa branca O voo da asa branca, de Rogério Soud, tem como tema central a canção “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Trata­se de uma narrativa visual, com possibilidades mais abertas de leitura que somente atender figurativamente à letra da música. Esse aspecto faz do texto imagético muito pertinente para a formação dos leitores em foco. Ao narrar visualmente a canção “Asa Branca”, o projeto editorial mostra­se central para o desenvolvimento da obra. Tanto a coesão entre os tons de cores empregados nas guardas e capas quanto a impressão das imagens constituem, de modo geral, aspectos relevantes para os sentidos das imagens. O mote central da canção de Gonzaga e Teixeira, o sertão, com seu sol inclemente, leva o sertanejo a buscar esperança em uma “asa branca” que não sabe se é real ou imaginária.

Título: O voo da asa branca | Autor: Rogério Soud | Ilustrador: Rogério Soud | Obra baseada na canção “Asa branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira | Editora: Prumo | Ano de publicação: 2012

Ave viola: cordel da viola caipira Ave viola: cordel da viola caipira é um livro primoroso, composto por sextilhas, muito bem elaboradas e que traduzem, poeticamente, todo o encantamento da viola caipira, um instrumento de dez cordas, com o mesmo formato do violão. O espaço dos versos é partilhado pelo texto visual com o qual se estabelece um rico diálogo. As ilustrações lembram as gravuras do cordel original produzido no nordeste brasileiro e foram impressas em grandes proporções, provocando um impacto visual surpreendente. A qualidade estética da obra também se apresenta pela forma como o autor trabalha com a sonoridade das palavras, produzindo rimas perfeitas, um ritmo cadenciado à leitura e uma musicalidade típica da literatura de cordel. Um lirismo envolvente emerge das estrofes que compõem esta produção literária, marcada por uma linguagem fortemente sensorial, que enfatiza as qualidades da viola. Destacam­se ainda, os paratextos ricos em informações presentes nas orelhas e no miolo do livro.

Título: Ave viola: cordel da viola caipira | Autor: Jorge Fernando dos Santos | Ilustradora: Denise Nascimento | Editora: Paulus | Ano de publicação: 2012

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EJA

O cavalo e o lobo e outras fábulas de La Fontaine A obra apresenta uma seleção de conhecidas fábulas de Jean de La Fontaine, o famoso fabulista francês, com o diferencial das belíssimas ilustrações de Gustave Doré, consagrado ilustrador francês nascido no século XIX. As fábulas de La Fontaine são conhecidas pelo fato de, geralmente, serem protagonizadas por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão (frequentemente satírica ou pedagógica) aos seres humanos. O universo narrativo de La Fontaine caracteriza­se pelo texto breve, escrito em linguagem acessível; como fecho narrativo, tem­se a moral da história, apresentada de forma bastante didática.

Título: O cavalo e o lobo e outras fábulas de La Fontaine | Autor: La Fontaine | Ilustrador: Gustave Doré | Tradutor e adaptador: René Ferri | Editora: Baú de Ideias | Ano de publicação: 2012

Kaxinjengele e o Poder Kaxinjengele e o poder: uma fábula angolana discorre sobre o poder, escrita por Luandino Vieira, um dos mais consagrados escritores da literatura africana. Na narrativa, destacam­se as marcas da oralidade, que é um dos traços estruturais constitutivos da literatura africana. As frases “que vai agora ser contada”, “já contei” e a expressão que encerra o breve texto “Tenho dito” são indicativos desta característica. Kaxinjengele é a figura que representa o desejo de poder, o qual é conferido pelo povo, através do voto. Como Kaxinjengele tem pressa de assumi­lo, o povo, desconfiado de tamanha sofreguidão, aborta o projeto, passando­lhe um ensinamento carregado de moralidade: “Quem não pode esperar para ser proclamado não é capaz de governar”. A frase conclusiva, à maneira de uma lição de moral, torna­se o ingrediente central da narrativa e revela o seu duplo propósito: entreter e instruir.

Título: Kaxinjengele e o poder: uma fábula angolana | Autor: José Luandino Vieira | Ilustrador: José Luandino Vieira | Editora: Pallas | Ano de publicação: 2012

Menino Drumond A obra Menino Drummond traz 22 poemas de todas as fases do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, de forma cronológica e divertida. Os textos foram selecionados e ilustrados pela renomada autora e ilustradora Angela­Lago. A obra reúne poemas que articulam visões da infância, da adolescência, do cotidiano e das memórias de Drummond. São lembranças que o poeta não expõe diretamente no papel, mas usa o verso e a metáfora para ir buscá­las, num passado refeito, reconstruído poeticamente. Os poemas não abordam fatos específicos, mas falam de algo mais, que vai além do visível. As metáforas visuais presentes no texto e as delicadas ilustrações expressam a estética da obra e a sensibilidade poética do autor, além de aproximar os leitores de uma literatura singular.

Título: Menino Drummond | Autor: Carlos Drummond de Andrade | Ilustradora: Angela­Lago | Editora: Companhia das Letrinhas | Ano de publicação: 2012

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EJA

O sabiá e a girafa O sabiá e a girafa é uma história contada em prosa poética, pelo autor Leo Cunha e com belas imagens de Graça Lima. A narrativa se divide em três partes: a primeira apresenta o sabiá que cantava, mas não conseguia voar; a segunda mostra a girafa que enxergava tudo lá do alto, mas era muda e gostaria de cantar; na terceira, acontece o encontro entre os dois, trazendo a completude entre os desejos das duas personagens. O texto é repleto de poesia e metáforas em torno das limitações que fazem parte da natureza humana, levando o leitor a refletir sobre a sua própria condição de incompletude. Além das descobertas individuais, a história também possibilita o reconhecimento das habilidades das outras pessoas e a possibilidade de encontrar nelas a parceria para a realização dos seus objetivos. Carregada de grande lirismo e de ludismo verbal, esta obra é capaz de agradar a adultos e crianças de todas as idades.

Título: O sabiá e a girafa | Autor: Leo Cunha | Ilustradora: Graça Lima | Editora: FTD | Ano de publicação: 2012

Os sinos Os sons dos sinos das igrejas anunciam alegrias e tristezas, dobram pela vida e pelos mortos, evocam pessoas e sentimentos, congregam fiéis. De qualidade literária indiscutível, este clássico poema de Bandeira apresenta temática complexa e delicada: a morte, a saudade, a finitude da vida. Os versos são apresentados em páginas inteiras, totalmente cobertas por belas ilustrações em aquarela, em cores suaves, sugerindo sentimentos em sintonia com os versos. Os versos são apresentados em pequenas estrofes a cada página, com a rima que imita o bater dos sinos intercalando a anunciação da partida de entes queridos do personagem e pressagiando a sua. Cadência, ritmo e rima atraem os leitores – desde os mais novos aos adultos – suavizando o impacto do tema pela repetição de sons conhecidos desde a infância.

Título: Os sinos | Autor: Manuel Bandeira | Ilustrador: Gonzalo Cárcamo | Editora: Gaudí | Ano de publicação: 2013

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ANEXO 2: Catálogos anteriores 2011: De livros e vivências tecidas: acervos literários dos kits escolares Primeira publicação sobre o kit literário, registra parte da história desta política de leitura da RMEBH, apresentando um breve histórico, dados e informa­ ções sobre os kits, além da lista dos livros seleciona­ dos de 2004 a 2011 e das resenhas dos acervos de 2010 e 2011.

2012: Democratização da Literatura: acervos literários do kit escolar 2012 Apresenta as resenhas dos livros literários que com­ põem o kit 2012 e duas ações de divulgação e dina­ mização dos acervos, no âmbito da SMED: “Encontro com escritores” e “Projeto de intervenção teatral nos diversos espaços da cidade”.

2012: Direito à Literatura: acervos literários do kit escolar 2013 Apresenta as resenhas dos livros literários que compõem o kit 2013.

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