Jornal Contexto - Edição 23 (Setembro-Novembro/ 2009). Especial: Transporte Público

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Contexto

Yasmin Barreto

Políticas Públicas SMTT abranda fiscalização e multas, que empresários raramente pagam, e passageiros culpam motoristas e cobradores, os que mais sofrem com a má qualidade do transporte 3

Ano 7-Nº 23

jorlabcontexto.ufs@gmail.com

Michel Oliveira

Jornal-laboratório dos alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Alternativas Bicicletas e dez linhas de micro-ônibus são opções para quem quer fugir do caos urbano 6

Contextando Representantes do Ministério Público e da SMTT debatem a necessidade de qualificação e aumento da frota do Sistema de Transporte Público de Aracaju 7 Terminais “Reforma” não atende às necessidades dos usuários de ônibus da Grande Aracaju, mas Prefeitura anuncia novo projeto de melhoria orçado em R$140 mil 4 Michel Oliveira

Edição Especial Cidadania Precariedade do transporte público, superlotação dos ônibus e falta de acessibilidade prejudicam o deslocamento de grande parte da população aracajuana em seu dia-a-dia 5

Transporte Público Conseguir chegar à UFS de ônibus é um verdadeiro sacrifício: longa espera, veículos velhos, cheios e atrasados. Em Curitiba a qualidade dos transportes surpreende. Há mesmo tantas diferenças assim? Descubra nas páginas 2 e 8.


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Opinião

Setembro - Novembro de 2009

Editorial

O direito de ir e vir e histórias de vai-e-vem Quando a equipe do Contexto foi instigada a pensar um tema da atualidade que merecesse tratatamento especial e fosse de interesse inegável para o público do jornal, apenas um entre os sugeridos chegou perto da unanimidade: transporte público. A idéia era abordar o assunto por múltiplos ângulos. Os jovens repórteres-editores queriam registrar as dificuldades dos estudantes da UFS nos deslocamentos para as aulas, que podem estar contribuindo para índices de evasão em alguns cursos, sobretudo os noturnos. E o drama de quem anda escolhendo carreira pela compatibilidade entre os horários dos ônibus intermunicipais e os da oferta dos cursos. E queriam mais. Por que não mostrar o efeito perverso do clientelismo que reina em algumas pequenas cidades, onde o transporte de pessoas que precisam de atendimento médico especializado na capital vira moeda de troca eleitoral? Que tal desvendar o mapa das linhas do sistema metropolitano com um belo infográfico? Há corrupção no sistema de bilhete único? Vamos apurar e denunciar! A certa altura alguém lembrou de um detalhe: quantas páginas teremos mesmo? Oito?!! Choque de realidade. Mas não abriram mão da premissa que guiou todas as pautas: o direito de ir e vir em segurança e de acordo com as necessidades cotidianas, inclusive as de lazer. As histórias de vaie-vem contadas nesta edição mostram o quanto a falta de planejamento, os privilégios enraizados e a desatenção aos direitos humanos estão deixando população e trabalhadores rodoviários “à beira de um ataque de nervos”, como as mulheres de Almodóvar. Envelhecimento e sucateamento da frota, superlotação, insuficiência de linhas e a sempre adiada licitação são reclamações recorrentes. Toda cidade necessita de uma matriz de circulação de pessoas e mercadorias adequada à sua personalidade geográfica e cultural. A topografia plana de Aracaju, as curtas distâncias a percorrer entre os bairros e cidades vizinhas, e a população ainda reduzida na região metropolitana favorecem a combinação integrada de meios de transporte de massa com alternativas como bicicletas, triciclos, vans-lotação e micro-ônibus, por exemplo. Quem sabe até “importar” o modelo dos ônibus articulados de Curitiba, que disputa com Aracaju o título de capital brasileira da qualidade de vida e encantou os alunos da UFS que participaram do XXXII Congresso da Intercom. Transitando pela cidade durante quase uma semana, os jovens visitantes constataram que os curitibanos locomovemse com mais conforto e agilidade no seu dia-a-dia do que os aracajuanos. Porém, olhando à distância e fazendo as contas, chega-se à conclusão de que o sistema de transporte público de lá, como o de cá, ainda está bem aquém das necessidades e dos direitos de ir e vir da população (ver infográfico acima).

Arte: Pedro Ivo e Ricardo Gomes

Crítica e auto-crítica

À procura de identidade Pela equipe do projeto gráfico

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m jornal não se faz de abstrações. É preciso pensar em soluções para vencer as limitações impostas pela página impressa. Para por em prática a primeira edição especial do Contexto foram criadas duas forças de trabalho: uma de repórteres e outra responsável pela parte gráfica. Esse último não iria apenas desenhar as páginas. Tinha também o desafio de trazer novas idéias e dar identidade ao jornal. Na tentativa de ajudar, nos foram fornecidos sete projetos desenvolvidos pelos alunos da disciplina Planejamento Visual no semestre anterior. Alguns eram bastante precários, outros traziam algumas propostas que nos pareceram utilizáveis. Remexendo em velhos exemplares do Contexto largados na sala de redação, encontramos algumas saídas interessantes. Buscamos inspiração também em jornais do Brasil e do mundo. Para complicar um pouco mais nossas vidas, decidimos mudar o programa de editoração para um mais avançado. O preço da escolha: muita quebra de cabeça para aprender a usá-lo. Mas, ao final, juntando cacos e peças, depois de muito trabalho, chegamos ao projeto atual. Uma versão de teste que ainda passará pelas transformações necessárias nas próximas edições.

Contexto

Muito além do projeto gráfico Transporte Público. Com o tema escolhido veio a reunião de pauta. Pautas definidas, cada um para o seu canto, fazer seu trabalho. Ou assim se esperava. Tempo suficiente todos tiveram. Mas o hábito de deixar tudo para última hora estimula a criatividade de álibis: a fonte não me atendeu; Michael Jackson morreu; tive que ir a Paripiranga visitar minha madrinha com dor de dente. Os textos atrasaram. Na data prevista apenas um estava pronto. A situação é recorrente. Não só em Jornalismo Impresso, mas durante toda a graduação. Prazos elásticos levam os alunos ao comodismo. Jornalismo se faz com prazos, com dead lines. Como iremos para o mercado de trabalho se temos mais de um mês para cumprir uma pauta e ainda assim não a entregamos? As fotografias foram outro problema. Conta-se nos dedos de uma das mãos quem se preocupou com elas. Falta de câmera não justifica. Da equipe do projeto gráfico nem todos atuaram satisfatoriamente. Falta de tempo? Não. Desinteresse. Felizmente sempre há quem contrarie todas essas práticas e entregue o texto na data, lembre das fotos, preocupe-se com o resultado final e com o leitor. Um jornal superlotado A escolha do tema para essa primeira edição temática do Contexto parece ter influenciado na forma como ele foi estruturado e produzido. Pode-se afirmar que a edição 23 deste jornal sofreu com a superlotação. Com o processo de expansão das universidades públicas lembraram-se de aumentar as vagas - Jornalismo passou de 25 para 50 – e esqueceram de ampliar os recursos. Isso se reflete em várias situações: na fila do Resun, na falta de mesas da Bicen, de laboratórios para os cursos, de professores e técnicos para os departamentos e de páginas para o jornal. As oito autorizadas para o Contexto por licitação tiveram que ser divididas por cerca de 20 alunos. Como em um ônibus cheio, não havia lugar para todo mundo. Foi preciso colocar dois corpos em um mesmo espaço, dois repórteres para uma mesma matéria. Alguns conseguiram ir todo o caminho juntos. Outros iam de pé, tentando se equilibrar com o peso das sacolas, enquanto quem deveria ajudar foi a viagem toda sentado, achando que olhar pela janela camuflaria seu comodismo. Para aliviar um pouco, alguns colegas decidiram esperar o próximo ônibus. Outros desceram antes do terminal. Quem ficou, conseguiu um pouco mais de espaço. Esta edição é resultado dessa viagem. Para evitar erros nos próximos trajetos, críticas e sugestões são bemvindas através do email jorlabcontexto.ufs@gmail.com. Como estamos dirigindo? C

Charge

Irlan Simões é estudante do 4º período de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Contexto Universidade Federal de Sergipe Reitor: Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli Pró-Reitor de Graduação: Prof. Dr. Francisco Sandro Rodrigues Holanda Diretor do CECH: Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses Chefe do Departamento de Artes e Comunicação Social (DAC): Profª. Drª. Messiluce da Rocha Hansen Profª. Responsável: Drª. Sonia Aguiar

Jornal Laboratório dos alunos de Jornalismo Projeto Gráfico Diógenes de Souza Santos Fernanda Manuela C. Carvalho Iuri Max Santos Silva Michel de Oliveira Silva Ricardo Gomes Costa Filho

Equipe Contexto Antônio Vinícius O. Gonçalves Erick de Oliveira e Souza Gabriel Cardoso de Paula

Jeimy Remir dos S. Oliveira Larissa Ferreira Santos Lima Joanne Santos Mota Monique de Sá Tavares Pedro Alves dos Santos Neto Pedro Ivo Pinto Nabuco Faro Thamires Nunes de Andrade Victor Hugo de Souza Oliveira Yasmin Barreto Déda Chagas

Edição de Fotografia Michel de Oliveira Silva

Contato Departamento de Artes e Comunicação (DAC) Universidade Federal de Sergipe Campus Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, S/N, São Cristóvão - SE Fones: (79) 2105-6925 / (79) 2105-6926 E-mail: dac@ufs.br

Leia e passe adiante!

Impressão Perfilgráfica Ltda. Rua Alameda das Hortênsias, 48, Imbiribeira, Recife - PE. CEP: 51160-400. Tel (81) 3339-3636. TIRAGEM: 1.000 EXEMPLARES

Leia e passe adiante!


Contexto

Políticas Públicas

Setembro - Novembro de 2009

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Falta de rigor na fiscalização: o ponto crítico dos transportes Empresários aproveitam influência e poder para executar o serviço como bem entendem

Gabriel Cardoso e Vinícius Oliveira

losvinicius@hotmail.com/ gabriel.roots@hotmail.com

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eículos em mau estado de conservação, linhas desordenadas e oligopólio empresarial. Estas são apenas três das principais fontes de reclamação do atual sistema de transporte público de Aracaju, aclamada como a ‘capital brasileira da qualidade de vida’. Passageiros sofrem com a demora de algumas linhas, que impossibilita o embarque imediato de quem precisa cumprir horários, e com a superlotação e o sucateamento da frota, que geram desconforto e insegurança, inclusive para os trabalhadores do setor (ver abaixo e páginas 4 e 5). Andar de ônibus na cidade vem se tornando, de certo modo, uma aventura perigosa controlada por empresas que não se intimidam com a fiscalização eventual. Sete empresas são atualmente responsáveis pelo transporte de passageiros por todos os cantos da Região Metropolitana, mediante contratos e ordem de serviço assinados pelo prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira. Cabe à Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) gerenciar e fiscalizar o chamado Sistema Metropolitano Integrado de Transporte da Grande Aracaju, que além da capital envolve os municípios de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro. Mas os atos de fiscalização das condições de funcionamento dos veículos que essas empresas colocam em circulação não parecem estar sendo praticados com a mesma presteza

com que se assinou os contratos. Não há informações a respeito no site da SMTT e nem documentos que possam ser consultados pelo cidadão comum. Determinar uma idade limite para cada veículo e fazer a vistoria para retirar de circulação os que estejam em piores condições são ações básicas de responsabilidade da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA). De acordo com o diretor de transporte público da SMTT, Orlando Vieira, a idade média dos ônibus em circulação é de quase uma década. “Atualmente, nosso sistema de transporte conta com uma frota de 611 veículos. Desses, 401 ônibus têm mais de sete anos de circulação e 160 deles possuem tempo de circulação superior a 14 anos”, informa. O outro grande problema na fiscalização acontece por conta da permissividade dos fiscais da SMTT em relação à superlotação. Enquanto o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) multa regularmente carros de passeio e outros veículos particulares por excesso de passageiros, a SMTT permite que os ônibus transitem com gente “até o teto”. Os motoristas dizem que estão apenas cumprindo ordens de quem busca o lucro sem se importar com a integridade dos passageiros. Orlando Vieira explica que isso acontece porque a Prefeitura teme possíveis conflitos judiciais com o sindicato dos empresários do transporte coletivo da Grande Aracaju, o Setransp. “O município possui dívidas antigas com algumas empresas, desde

muito antes da administração do prefeito Edvaldo Nogueira. Se começarmos a multar todo ônibus que circule com quantidade de passageiros acima do limite permitido, as empresas responsáveis certamente entrarão com ações na justiça contra a Prefeitura, aproveitando para reativar problemas antigos”, argumenta. À espera da licitação Diante da insatisfação popular com o transporte coletivo em Aracaju, o prefeito emitiu, desde o início do ano, duas notificações às empresas e ameaçou rescindir o contrato, exigindo mudanças de comportamento na execução dos serviços. Em resposta, os empresários do setor comprometeram-se a fazer um investimento da ordem dos R$ 30 milhões, através de uma carta-compromisso divulgada no dia 14 de janeiro deste ano, para começar a eliminar as debilidades do sistema. A proposta foi que o dinheiro seria usado para renovar a frota e implantar o sistema de monitoramento em tempo real. Na carta, os empresários estipularam para ju-nho a entrega de cem veículos novos. Comprometeram-se também a colocar em funcionamento o sistema de

monitoramento via GPRS/ GSM (por satélite), a fim de acabar com os atrasos e as queimas de viagens (quando o motorista não para em certos pontos). O prazo venceu e até o final de setembro apenas 42 ônibus haviam sido entregues, vinte dos quais no dia 18 daquele mês. Na ocasião, Edvaldo Nogueira assinou o Decreto 2.041, de 18 de setembro de 2009, que cria a comissão para o “estabelecimento das providências necessárias ao início do procedimento de licitação para a concessão do serviço de transporte público da região metropolitana de Aracaju”, em detrimento da contratação de empresas e assinatura do termo de ordem de serviço (ver página 7). A possibilidade de adoção do processo de licitação gera expectativas de melhor funcionamento do sistema público de transporte, visto que seu gerenciamento ficará por conta das empresas vencedoras do processo. Desse modo, quando o assunto for transporte público, a SMTT focará seu trabalho na fiscalização, o que em tese possibilitará melhor prestação do serviço. Certo mesmo é que, caso a licitação seja adotada, as mesmas empresas que assinaram a ordem de serviço poderão sair vencedoras. C

Condições de trabalho, o outro lado da precariedade Pedro Alves*

pedraum_rotulo@hotmail.com

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maestro dá duas batidinhas no câmbio, confere os últimos segundos de silêncio e num toque ríspido dá inicio à grande sinfonia de batedeiras. O motor soa com toda força o seu barulho ensurdecedor e as janelas emitem o tom mais agudo. Nenhum ser é capaz de suportar os acordes irritantes dessa orquestra. Somente a necessidade resiste a tais condições. Na vida corrida do dia-a-dia, essa necessidade tem nome: transporte público, tanto para as pessoas que precisam ir e vir, quanto principalmente para os que precisam do emprego de motorista ou cobrador. A precariedade do transporte público em Aracaju salta aos olhos. Do número de veículos em circulação na Região Metropolitana em setembro, quase 30% tinham mais de 14 anos de uso e 65% rodavam há pelo menos 7 anos. Ou seja, uma frota que não suporta a demanda da sociedade e muito menos proporcionam condições dignas de trabalho aos motoristas e cobradores. São estes que passam mais de seis horas dentro de veículos mal conservados, ao longo do dia.

“As condições são ruins, o ônibus trepida demais, as janelas e o motor fazem muita zoada”, reclama Marcelo Gomes da Silva, cobrador da empresa de transporte VCA, que sofre com as dores de coluna ocasionadas pelos anos de trabalho em transporte público. “A cadeira em que os cobradores passam o tempo de trabalho Fotos: Michel Oliveira

O dia-a-dia não é fácil para cobradores e motoristas

sentado é desconfortável, não tem apoio para os braços, não tem cinto de segurança e muito menos regulagem, a dor nas costas é inevitável”, descreve. Já os motoristas sofrem com o barulho e a alta temperatura que vêm do motor situado bem embaixo da cadeira em que passam horas sentados. Para Márcio Santos, motorista da empresa Tropical, o calor do motor interfere diretamente na dinâmica do trabalho, pois vai esquentando ao longo do dia. De acordo com o estudo “Condições de trabalho e saúde de motoristas de transporte coletivo urbano”, desenvolvido em 2006 por Márcia Battiston, mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, esses profissionais sofrem com dois tipos de fatores. Os fatores internos estão relacionados com as condições dos veículos como: ruídos, vibrações, precariedade mecânica e posicionamento do motor (podendo causar varizes e queimagem dos pêlos das pernas). Os fatores externos referem-se ao nível do tráfego, semáforos, congestionamentos e acidentes. Tais fatores se intensificam quando os veículos de transporte público em sua maioria são sucateados.

A carga horária de trabalho dos motoristas e cobradores da Grande Aracaju é em média de 6 horas por dia, sendo 1 hora de repouso. A Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) determina os horários de chegada e saída dos ônibus e fiscaliza diariamente se estão sendo cumpridos. Porém, as condições dos veículos acentuam os fatores internos e externos, ocasionando atrasos tanto na chegada quanto na saída dos ônibus nos terminais, e muita reclamação dos passageiros, que ignoram este lado da precariedade do transporte público. Segundo o cobrador da empresa Halley Fábio Torres, as deficiências estruturais interferem diretamente no tempo de trabalho dos motoristas e cobradores. “Como os carros são velhos, as dificuldades aumentam no trânsito e os ônibus acabam atrasando, e conseqüentemente as horas de trabalho se estendem, tomando o horário destinado ao repouso”. Fábio explica ainda que as horas de repouso não são cumulativas. “Se o ônibus atrasar e tomar a hora de repouso, esta hora não será reposta; repouso, só quando chegar em casa”..C (*com a colaboração de Janaína Oliveira)


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Cidadania

Setembro - Novembro de 2009

Contexto

À bordo da velha “sardinha em lata” Passageiros e profissionais do transporte coletivo divergem sobre a superlotação

Jeimy Remir

jeimyremir@hotmail.com

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superlotação no transporte público de Aracaju mexe com o cotidiano de muitas pessoas, sobretudo daquelas que não têm outra opção para trabalhar ou estudar. Um pequeno retrato dessa realidade foi revelado ao Contexto, que acompanhou o trajeto de duas mulheres: uma, mãe e trabalhadora, de 47 anos; outra, jovem universitária, de 21. O ponto de partida foi o Terminal de Integração Distrito Industrial de Aracaju (DIA), em horários distintos e rotas contrárias da cidade. Em ambos os casos, foi possível constatar as relações entre rodoviários e passageiros, ouvir reclamações e perceber a ansiedade das pessoas para cumprir seus horários. Do trabalho para casa Era fim de tarde de terça-feira, 15 de setembro, com chuva miúda e descontínua, quando a atendente de serviços gerais Josefa de Alcântara, mãe de quatro filhos e solteira, chegou ao ponto de ônibus na Avenida Hermes Fontes, onde pega o primeiro coletivo que passa para conseguir chegar ao DIA. Sete minutos depois, um veículo da linha Augusto Franco/DIA parou. Quando chegou ao terminal, após 12 minutos, o relógio marcava 17h55. Josefa, que trabalha em uma ONG no bairro Salgado Filho, desloca-se do bairro Santa Maria, onde reside há 20 anos, de segunda a sexta-feira, sempre nos horários de pico, às 7h da manhã e às 18h, pelas linhas Padre Pedro ou Santa Maria. Nesse

dia, ela deixou de pegar dois ônibus no terminal de integração por estarem superlotados. Eram 18h20 quando, finalmente, ela e tantas outras pessoas disputaram espaço para entrar no ônibus Padre Pedro/ DIA, que a levaria para casa. Próxima à porta de saída e disputando a barra de ferro com mãos desconhecidas para se segurar, a passageira passou por quatro bairros até chegar ao Conjunto Valadares, no Santa Maria, onde desceu. Durante o percurso, gritos, empurrões e xingamentos misturavam-se com o barulho do trânsito e do ônibus, já velho e sujo, com cadeiras e barras de apoio quebradas. A cada parada, ouviam-se frases que se repetiam por diversas pessoas: “Calma, motô!”, “Espere que vou descer”, “Ainda desce!”, “Desce aqui, ói!”. Depois de 23 minutos, com várias paradas, vias esburacadas, pouca iluminação e quase nenhuma segurança, Josefa desceu no ponto próximo à sua casa e descreveu sua rotina, insatisfações e desejos em relação ao transporte público. “Todos os dias, na ida e volta do trabalho, enfrento ônibus lotados. Eles chegam a atrasar mais de 30 minutos, quando não quebram. No ônibus superlotado, me sinto diminuída enquanto cidadã. Muitas vezes tenho vontade de quebrar aquilo tudo”. Continuando o desabafo, Josefa chamou a atenção para as reais necessidades do seu bairro: “As empresas de ônibus rejeitam a minha comunidade. Colocam só ônibus velhos e poucos. O Santa Maria é um bairro grande e os moradores só têm esse meio de transporte. Eu queria era que

Jeimy Remir

Superlotação é uma realidade diária em Aracaju

as empresas investissem na infraestrutura do transporte, aumentassem a frota nos horários de pico e circulassem nos fins de semana com mais ônibus”. Mas para o cobrador José Amaro, 48 anos, o problema maior não é a superlotação e sim outros serviços. “Essa linha do Padre Pedro, por exemplo, é bem assistida. São três empresas operando aqui: Progresso, VCA e Halley. Fora dos horários de pico, os ônibus não ficam cheios. Pior são as estradas com asfalto desgastado, sem recapeamento, iluminação inadequada e falta de segurança”. Já o motorista Isaías, de 37 anos, que

pediu para não ser identificado, acha que a superlotação traz não só desconforto para os passageiros como cansaço para o motorista. “Como já trabalhei por mais de 10 anos em Recife e conheço o transporte público de outras cidades, percebo que o sistema de Aracaju é pouco funcional, principalmente quanto à frota e à infraestrutura nos terminais. A superlotação cansa mais rapidamente o motorista. O veículo fica mais pesado. O barulho do motor, somado aos do trânsito e dos passageiros, é estressante. Ainda assim, os passageiros não enxergam o lado do profissional. Para eles, sempre somos os responsáveis pelo atraso e pela superlotação”, completa Isaías (ver página 3). De casa para a universidade Início da manhã de quarta-feira, 16 de setembro, céu aberto. Passava das 7h quando a estudante de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Sergipe Stephanie Menezes, que reside no bairro Luzia, chegou ao Terminal do DIA. A caminho das aulas, a estudante enfrenta problemas muito semelhantes aos de Josefa. “Nos horários de pico costumo pegar ônibus lotado para não chegar atrasada. Quando isso acontece, geralmente fico em pé. O que mais me chateia é a demora dos ônibus e a falta de educação das pessoas. Não entendo também o porquê da circulação de veículos velhos e sucateados. Além de inseguros, ainda poluem o ambiente com alta liberação de CO2. Se a frota fosse maior, com certeza o transporte público melhoraria”. C

Reformas nos terminais ainda não são visíveis Monique Tavares

moniquetavares16@hotmail.com

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aredes pichadas, muros sem pintura, pisos sem o devido acabamento, tetos descascados, piso tátil solto, asfalto fresco. Essa é a atual situação em que se encontram quatro dos seis Terminais de Integração de ônibus coletivo de Aracaju: Fernando Sávio (Centro), Manoel Mendes (Mercado), Maracaju e Distrito Industrial de Aracaju (DIA). Esses quatro fazem parte do plano de reforma que está sendo realizado pela Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) em parceria com a Prefeitura Municipal de

Aracaju. A previsão é que todos fiquem prontos até o final deste ano. No Terminal do Centro, onde as obras já estão finalizadas, o que se vê é apenas um retoque no que se dizia ser um plano de readequação. Geovani de Oliveira, que vende balas no local, destaca que o banheiro feminino ainda está interditado devido à falta de alguns itens, como o vaso sanitário para deficientes, por exemplo. Ele explica que o banheiro masculino virou uma espécie de banheiro unissex, já que as mulheres o estão utilizando por falta de opção. “Eu pude sentir algumas diferenças em relação à reforma: vi

que colocaram uma barra de proteção, instalaram mais lâmpadas. Minha queixa é com a pintura. Acho que esqueceram. Se fosse a minha casa não aceitaria essa obra assim pela metade”, reage o vendedor. Para os estudantes Iuri Santana e Rafael Antunes, as reformas não são perceptíveis. “Houve reforma?”, questiona Iuri. “Não percebi mudança alguma, não vejo as placas sinalizadoras, as paredes precisam de pintura e de manutenção, faltam bancos para sentar”, salienta Rafael. O arquiteto Júlio Santana, representante da SMTT, afirma que as placas sinalizadoras serão postas em uma

próxima etapa. Segundo ele, o projeto de “reforma” surgiu da necessidade de adaptar os terminais existentes às condições de acessibilidade universal, tornando-o assim um espaço mais democrático. “O plano de reforma se deu a partir de uma parceria entre o Ministério Público Federal (MPF), o laboratório modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes (Unit), o Cefet e a SMTT”, explicou. No Terminal do Mercado, atualmente em reforma, a situação é semelhante. O banheiro que já está finalizado encontrase fechado, os pisos táteis estão descola-

Paredes do Terminal do Centro após a reforma

Asfalto fresco cobre buraco no Terminal da Maracaju

Situação da gerência do Terminal do Mercado

Fotos: Monique Tavares

Placas com as linhas foram colocadas no Maracaju


Contexto

Cidadania

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Acessibilidade: direito ao transporte público

Menos de 10% dos ônibus que circulam na capital possuem o elevador que facilita o acesso de idosos e deficientes Victor Hugo e Erick Oliveira

v.h.jornalista@gmail.com / erickse@hotmail.com-

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ão é de hoje que os Portadores de Necessidades Especiais sofrem com a falta de uma adequada estrutura de Sistema de Transporte Público em Sergipe. Além das precárias condições dos ônibus, eles enfrentam desrespeito e falta de adaptação às suas necessidades. A entrega das carteiras de passe livre, concedidas em 2007 pela Prefeitura Municipal de Aracaju, não resolveu as situações de desconforto e constrangimento que enfrentam quase todos os dias. Maria Gorette de Medeiros, presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, considera que ainda são necessárias medidas mais eficazes para melhorar a qualificação profissional dos que trabalham nos ônibus, além do aperfeiçoamento dos recursos de assistência (elevador, espaço reservado) para os deficientes. Apesar disso, Gorette afirma que “do ano passado para cá, estamos vendo que as empresas, depois de tanta reclamação, de tanta audiência no Ministério Público, estão tendo mais consciência, colocando mais ônibus adaptados na frota”. Contudo, no cotidiano de muitos deficientes a realidade é dramática. Débora da Silva Gomes, estudante de Serviço Social da Universidade Tiradentes (Unit), é cadeirante e conta que ainda há muitos problemas relativos à acessibilidade no transporte público. “Há cobradores que alegam que o elevador está quebrado só para não acioná-lo”, denuncia.

dos e as paredes, pichadas. O fiscal e administrador do terminal Wagner de Jesus disse que as reformas estão acontecendo durante o dia: “infelizmente o pessoal das obras não apareceu hoje, acho que tomou ‘chá de sumiço’ ou resolveu não vir”, justificou. Segundo ele o banheiro ainda está fechado por falta de uma torneira, que “logo, logo será colocada”. Os mais antigos devem ter prioridade? Os terminais do Maracaju e do DIA, inaugurados em abril de 1987, foram os que serviram de base para o que agora se chama de Sistema Integrado de Transporte (S.I.T). Por serem os mais antigos da cidade, estes dois terminais necessitam de grandes melhorias em sua infraestrutura.

Para chegar à universidade ela pega dois ônibus. De sua casa até o Centro apenas um veículo da linha é adaptado. Do Centro para a universidade há apenas dois ônibus da linha com elevador. Audiência no Ministério Público Para discutir esses problemas, foi realizada uma audiência no Ministério Público do Estado com representantes da Associação de Deficientes Motores de Sergipe (ADMSE), presidida pela promotora de justiça Berenice Andrade de Melo, especializada nos direitos dos idosos e das pessoas com deficiência, no dia 18 de setembro. Foram discutidas as várias situações enfrentadas pelos portadores de necessidades especiais, incluindo a acessibilidade no transporte público. O diretor-presidente da ADMSE, Antônio Fonseca, afirma que “não é preciso apenas que se coloquem ônibus adaptados, também é necessário que os condutores, incluindo motoristas e cobradores, estejam, da mesma forma, adaptados às necessidades que os deficientes demandam no serviço de transporte”. Ele é deficiente físico, utiliza o transporte público e trabalha há mais de 10 anos pela luta de um sistema de trasporte adaptado. A promotora Berenice Andrade esclarece que já foi feito um termo de ajuste de conduta (TAC) com as empresas de transporte público, no qual um dos principais focos de regulamentação será a acessibilidade. “Até o final de outubro, 100 novos ônibus integrarão a nova frota, sendo que todos estarão adaptados aos portadores

de necessidades especiais”, esclarece a promotora. De acordo com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), na região da Grande Aracaju existem apenas 23 ônibus com elevador (em setembro de 2009). “A partir de agora, todo ônibus zero quilômetro que entra em circulação já vem de fábrica com esse dispositivo. É uma recomendação do próprio prefeito”, afirma o assessor de comunicação da SMTT, Jairo Almeida. O pior ainda é o preconceito Débora explica que os problemas estruturais não são os únicos enfrentados por ela, o preconceito ainda é muito grande, as pessoas não resDébora volta para casa no único ônibus adaptado da linha peitam o local destinado aos cadeirantes e acham ruim quando orientam que o motorista trate a todos necessitam ceder o lugar. Ela relata uma com urbanidade. Colocamos o telefone situação de discriminação que sofreu: “O ônibus demorou um pouco, pois o para reclamações. Além disso, a Delegacobrador estava preparando o elevador, cia Especializada tem recebido algumas uma senhora impaciente veio ver do que queixas e tomado posições”. Qualquer irregularidade, não só com se tratava e ao perceber que eu estava me portadores de deficiência e idosos, mas preparando para descer falou: ‘ Pensei que ia descer gente!’”. Segundo ela, situações com toda a população, deve ser denunciada para a Ouvidoria da Superintendência como essa ainda são muito freqüentes. Sobre a reclamação de muitos passa- pelo telefone (79)3238-4646. “Em breve geiros deficientes e idosos em relação ao a situação será bem melhor. A Prefeitura, tratamento inadequado que recebem de por meio da SMTT está trabalhando nesalguns motoristas e cobradores, o asses- te sentido para melhorar o atendimento sor diz que essa insatisfação tem resultado aos idosos e cadeirantes, principalmente”, em multas e até demissões. “As empresas promete Jairo Almeida. C

Uma das queixas recorrentes de quem transita pelo terminal Maracaju é em relação à segurança do local. A sua extensão exige um número maior de guardas municipais. Atualmente, apenas dois ficam na entrada, deixando todo o resto do local à mercê dos “batedores de carteira”. O comerciante Rivaldo dos Santos explica que os roubos são freqüentes, principalmente no período da manhã, horário de maior pico. Rivaldo garante: “ladrão aqui tem demais, segurança, só na portaria”. Segundo ele, a vigilância é feita apenas para o cobrador responsável pelas tarifas e não para a população. Júlio Santana, da SMTT, diz estar atento a essas queixas. “Acredito que a segurança deva ser reforçada, de modo a prezar pela integridade física tanto dos

cidadãos quanto do patrimônio público”. Segundo ele, a meta da Superintendência é utilizar aparatos tecnológicos como câmeras de segurança, que reduziriam não só o número de roubos nos terminais, como também, problemas relacionados ao vandalismo. O terminal do DIA, além de apresentar problemas relacionados à segurança, também está com uma série de debilidades em sua estrutura e é alvo de muitas críticas por quem transita pelo lugar. Questionado sobre por que reformar e não reconstruir aquelas instalações, Júlio Santana diz que há de fato um projeto para construção de novos terminais. O que falta é apenas a aprovação dentro do orçamento da Prefeitura Municipal. O DIA também é alvo de críticas em

relação à limpeza. É constante o número de reclamações referentes ao mau estado dos banheiros. “Para mim o banheiro é uma nojeira, só utilizo quando tenho extrema necessidade, o cheiro é péssimo. Nunca tem papel!”, avalia a estudante Angels Maria. Para o vendedor de acarajés Josael Lima, uma possível solução seria a cobrança de uma taxa para o uso do banheiro. O representante da SMTT diz que esta higienização dos sanitários é dificultosa devido ao elevado número de pessoas que transita pelo local. A população terá que esperar até o final de dezembro para verificar se as melhorias prometidas de fato aconteceram. Afinal, foram previstos R$ 140 mil para as reformas desses quatro terminais, visando beneficiar quem por lá transita. C

Problemas nas grades de esgoto do Maracaju

Material da reforma largado no Terminal Mercado

Pisos táteis foram colocados após a reforma

Fotos: Michel Oliveira

Falta nome dos ônibus no Terminal do Mercado


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Transporte Alternativo

Setembro - Novembro de 2009

Contexto

Bicicletas ganham espaço como meio alternativo na capital Ciclistas desfrutam da terceira maior malha cicloviária do país, mas ainda encontram problemas no trânsito

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om 56,4 km de ciclovias distribuídos por suas maiores avenidas, Aracaju possui proporcionalmente a terceira maior malha cicloviária do país, ficando atrás apenas de Teresina e do Rio de Janeiro. Mas há outros motivos para utilização de bicicletas como meio de transporte alternativo na capital, facilitada por uma geografia plana em quase toda a sua área. Além disso, o fato de a cidade ser de médio porte possibilita a existência de trajetos mais curtos. Nos mais comuns as distâncias não excedem 3 km. Apesar da infra-estrutura ciclística favorável, os aracajuanos que utilizam a bicicleta como meio de transporte enfrentam problemas ao se locomoverem. De acordo com Tobias Basílio, da ONG Ciclo Urbano, os usuários desse tipo de veículo passam por muitas situações perigosas. “As ciclovias não podem ser tidas como a única alternativa para autorizar o uso da bicicleta. A condição essencial para a melhoria das condições do ciclista é a compreensão pelos demais componentes do trânsito de que o ciclista tem direito de estar na rua, tanto quanto o condutor dos demais veículos, respeitadas as disposições do Código Nacional de Trânsito”, considera. Integrantes da ONG Ciclo Urbano apontam a ausência de bicicletários ou paraciclos como uma das principais dificuldades encontradas. Os dois primeiros bicicletários da capital sergipana dentro dos padrões normativos só foram inaugurados no dia 25 de setembro, nas praças General Valadão e Fausto Cardo-

so, com 20 vagas cada um, de acordo com o diretor de ciclomobilidade da SMTT, Fabrício Lacerda. Questão de escolha Quem opta pela bicicleta como meio de transporte diário tem como principais incentivadores a questão ambiental e o péssimo estado dos transportes públicos. Um exemplo disso é o bacharel em História, Breno Ricardo, que fazia o percurso diário da sua casa, localizada no Conjunto Costa e Silva, até a Universidade Federal de Sergipe (UFS), em São Cristóvão, onde estudava. Ele conta que antes fazia o percurso de ônibus, mas enfrentava superlotação e atraso, então resolveu ir de carro. “Não consegui andar de carro por muito tempo, a consciência pesou”, disse. Como pedalava por lazer, pensou que poderia fazer o mesmo

para ir à universidade. “Mesmo com todos os problemas, não me arrependo da escolha que fiz”, completa. Para o engenheiro elétrico Bruno Moreira “Aracaju é o paraíso para pedalar”: possui ciclovias; é uma cidade plana; e tem segurança e apoio da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA). Na avaliação dele, a cidade dá condições para ter a bicicleta como meio de transporte alternativo. Apesar de possuir carro, ele faz a maioria dos percursos com a bicicleta, além de usar o meio para o lazer também. A bicicleta transformou-se em uma escolha simples e econômica para a redução dos impactos urbanos. O aluguel de bicicletas já se tornou uma alternativa

presente nas cidades de Blumenau e Rio de Janeiro. Seguindo o modelo parisiense chamado Vélib, essas cidades instalaram postos de aluguel em pontos estratégicos. Para Tobias Basílio, “esta é uma alternativa que deve vir associada à valorização e a garantia de melhores condições para o transporte público e coletivo”. Embora a cidade já possua uma considerável malha cicloviária, a Prefeitura de Aracaju tem projetos para aumentar a quilometragem das ciclovias para 112 km, interligar as já existentes e contruir mais algumas em locais que necessitam - como o bairro Santa Maria e a Avenida Oviêdo Teixeira. Para o ciclista Breno Ricardo, isso não é o suficiente: “Os problemas que vemos no trânsito são motivados por uma distorção da moralidade. Criou-se uma idéia de que o trânsito é um lugar de disputa, onde cada veículo deve defender seu espaço. Isso é uma questão básica de educação”. C

Yasmin Barreto

Thamires Nunes e Yasmin Barreto

thamisnunes@gmail.com / yasminbarretodc@gmail.com

Dez linhas de micro-ônibus já circulam na cidade Jeimy Remir

Jeimyremir@hotmail.com

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mplantados recentemente em Aracaju, os micro-ônibus vêm se tornando alternativa para usuários que optam por comodidade e rapidez no transporte. Atualmente três empresas trabalham com esse tipo de veículo, com capacidade para 25 pessoas sentadas: a Progresso (através da subsidiária Tropical Transportes), a Halley e a São Pedro. Juntas, elas operam dez linhas. A mais antiga é a Augusto FrancoCentro. Duas saem do DIA (para Cas-

telo Branco e Inácio Barbosa); quatro saem de Maracaju (para Lamarão, Parque São José, Soledade e Conjunto Maria do Carmo). As outras são: Centro Administrativo-Zona Oeste; Av.Maranhão-Terminal Rodoviário; e Castelo Branco-Suíssa. A única que não opera com tarifa única é a Augusto Franco-Centro, que oferece comodidades como poltrona reclinável e ar condicionado por R$ 2,50. As demais integram o sistema de transporte público da cidade. De acordo com o agente de catraca Valter Sena, o transporte alternativo é economia para as empresas e comodidade para os passageiros.

“A empresa que trabalha com micro-ônibus economiza muito”, diz ele, explicando como funciona o sistema. “A lógica é a seguinte: uma linha como a Castelo Branco-DIA, que não dá muita passagem e circula com um veículo grande, vai gastar mais combustível e pegar poucos passageiros. Mais rentável seria para a empresa dessa linha colocar dois microônibus, aumentando o número de veículos e reduzindo o tempo de espera e assim gastando menos combustível. O diferencial desse transporte é a fluidez no trânsito e a comodidade para o usuário. Por isso, considero um veículo bom e espero que cresça na cidade”.


Contexto

ConteXtando

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Transporte Público em Aracaju: funciona ou pega no tranco? Joanne Mota

joannemota@hotmail.com

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m Aracaju o transporte público vem perdendo qualidade ao longo dos anos: sucateamento, superlotação, congestionamento, má qualidade no atendimento, bilhetagem eletrônica, falta de segurança são alguns dos problemas apontados por quem utiliza este serviço diariamente. O sistema de transporte público sempre esteve na ordem do dia das discussões,

O MP já abriu procedimento para renovar e qualificar a frota, porque nós temos uma grande preocupação com o tempo de vida útil de cada veículo, até porque eles transportam vidas.

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Contexto: Má qualidade e insuficiência da frota ficam evidentes com a superlotação e o tempo de espera nos terminais. Na sua avaliação, o que precisa mudar na atual política de transportes da capital? Euza Missano: O Ministério Público já abriu procedimento referente a esse caso, inclusive para fazer a qualificação da frota, porque nos preocupamos com o tempo de vida útil de cada veículo, até porque eles transportam vidas. Assim, o MP abriu procedimento e firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual o Sindicato das Empresas de Transporte Público (Setransp) se compromete a renovar a frota. Hoje (11/09) serão entregues 14 ônibus. Outros já foram entregues, inclusive adaptados para portadores de necessidades físicomotoras. Então, o que foi firmado entre o Setransp e o MP está sendo cumprido.

Orlando Vieira: Falta gestão empresarial. Até o momento foram entregues 22 ônibus, mas a SMTT está aferindo esta semana (a segunda de setembro) mais 15 carros, que estão na garagem e devem começar a rodar a partir da próxima semana. Ao todo serão entregues este ano 110 carros, com o objetivo de qualificar o sistema, o que garantirá mais folga para a frota realizar seu trabalho. Contudo, a Prefeitura ainda está estudando como resolver o problema dos outros veículos ainda sucateados. Há muito por fazer e a inserção de novos veículos ainda não põe fim aos problemas, mas ajuda na qualificação, o que garantirá que o sistema continue funcionando.

C: Que medidas estão (ou deveriam estar) sendo tomadas para tornar esse processo de licitação mais transparente e ágil? EM: O MP não participa do processo de licitação. No entanto, posso informar que há uma ação em tramitação, movida pelas empresas de transporte, representadas pelo Setransp, inclusive com liminar para que a licitação não ocorresse no período que foi deflagrada. Assim, a licitação está sub júdice [aguardando decião judicial]. Além disso, o MP reconhece que o prefeito Edivaldo Nogueira vem dando declarações renovadas na imprensa de que até o final de seu mandato o processo de licitação ocorrerá. O que é correto e está previsto na Constituição Federal.

OV: A licitação é um grande salto para o sistema. Não há dúvida de que a Prefeitura irá executar a licitação. Para isso, o primeiro passo é definir a Comissão que pensará o processo, o qual abarcará consórcio entre a capital e os três municípios da Grande Aracaju (Socorro, São Cristovão e Barra dos Coqueiros). É importante dizer que é Aracaju que gerencia o transporte público nesta área, o que obriga a existência de uma autorização para licitação em cada um desses municípios. Assim, primeiramente é preciso fazer um estudo técnico de cada região.

C: Que fatores são levados em conta na construção da malha viária e para o sistema de concessão das linhas de ônibus? A Srª/o Sr atua nesses processos? EM: Não existe nenhum tipo de participação do MP. A Prefeitura de Aracaju atua junto aos órgãos competentes e as empresas co-partícipes neste processo. O MP atua na fiscalização do serviço para detectar irregularidades e corrigi-las. Em suma, quando o MP atua é de ofício. Instauramos procedimentos para tentar solucionar problemas que lesam o usuário consumidor do serviço. Por exemplo, as reformas dos terminais já são fruto de um procedimento do MP que foi firmado com a SMTT de Aracaju.

e o que era para proporcionar mobilidade e conforto configura-se como um sistema ainda longe de ser o ideal para a população. Para discutir estas questões, o Contexto convidou a promotora pública Euza Missano, responsável pela Promotoria de Direito do Consumidor, e o diretor de transporte da Secretaria Municipal de Transportes (SMTT), Orlando Vieira.

OV: Cada projeto é baseado na demanda de cada sítio. Na zona de expansão de Aracaju, por exemplo, há uma área que cresceu quase 7 mil unidades. Para ela foram criadas linhas que serão ajustadas com o tempo. Contudo, a SMTT, baseada no Código de Trânsito, acompanha, desde 2000, todos os pólos geradores de habitação. Por exemplo, a Caixa Econômica hoje, para celebrar convênio habitacional, deve ter um documento da SMTT afirmando que ali existe uma linha de transporte público.

A licitação se configura como um grande salto para o sistema, um real ganho na execução do serviço. E acredito que até o início de 2011 o processo de licitação seja realizado.

Fotos: Joanne Mota

C - Ouvimos queixas de que o atual sistema de concessões beneficia mais os empresários do setor do que o interesse público. Isso realmente acontece? EM: O MP não participa do processo de concessão, até por que nós somos favoráveis a licitação, pois é o correto é o que define a legislação. O que nós fazemos é acompanhar o desenvolvimento dessa atividade. Por exemplo, nós acompanhamos a distribuição dos cartões ‘Mais Aracaju’ e o processo de reajuste de passagem. Então, o que o MP realiza é um acompanhamento para qualificar o sistema. Agora, o processo de licitação, como forma de concessão, fica a cargo do poder público, do gestor do município.

OV: Não. O empresário precisa receber o que é de direito pelo serviço ofertado. O que acontece é que tudo quem paga é o passageiro. Por exemplo, quem paga a passagem inteira cobre a meia-passagem, o cara que pega carona no ônibus e a gratuidade do idoso e deficiente. Não há subsídio do governo municipal e o empresário precisa manter sua frota, ou seja, precisa fazer manutenção e abastecer os veículos. Então, o empresário consegue seu lucro sim, mas dentro do geral. E estes custos são acompanhados pela SMTT.

C: Atualmente os terminais de Aracaju passam por um processo de revitalização. Como a Srª/o Sr participa desse processo? EM: A Promotoria de Defesa do Consumidor visitou todos os terminais de integração da cidade, e buscamos a SMTT para firmamos um TAC, no qual ficou previsto a correção de alguns problemas verificados pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil, que poderiam causar danos aos usuários desses locais. Um exemplo é a disputa pelos espaços com ambulantes e a ausência de placas indicativas nos pontos. Alguns dos itens verificados foram cumpridos e outros não. Em função do descumprimento, o MP ajuizou ação civil pública, que está em tramitação, contra a SMTT para que os problemas sejam solucionados.

OV: Entendemos que os terminais foram construídos para os passageiros e não para os comerciantes. São estes comerciantes que ocupam o espaço dos passageiros, o que causa muitos transtornos. Dessa forma, a SMTT está acompanhando as reformas que estão sendo executadas e espera que esta ação reverta a problemática. O fluxo de pessoas que trafegam nos terminais pode atingir o número de quase cinco mil usuários em horário de pico. Nosso objetivo é garantir a melhora desse fluxo para os passageiros e garantir que os comerciantes estejam bem instalados em seu interior. (ver matéria p. 5-6)

C: A bilhetagem eletrônica pode ser considerada um serviço confiável e um meio de democratização do acesso ao sistema? EM: O MP avalia como confiável tanto para o usuário como para as empresas. Sua implantação pode ser considerada como um ganho qualitativo importante para o sistema. Aqui nós tivemos algumas reclamações sobre possíveis irregularidades no serviço. Nós realizamos as investigações, mas até agora de todas as denúncias feitas ao MP nenhuma apresentou indício de fraude ou lesão ao consumidor. A bilhetagem eletrônica também colaborou para minimizar o comércio de vale-transporte e passeescolar, que se configurava como prática comum no sistema.

OV: A bilhetagem eletrônica é um avanço para o sistema. Hoje a SMTT tem o controle do número de passageiros que subiram na linha Augusto FrancoBugio, por exemplo. Podemos monitorar quantos passageiros aquela linha está transportando, quantos foram de valetransporte, pagamento em dinheiro, meia-passagem, bem como o número de gratuidades. Então, isso é transparência, pois nós sabemos o número real de passageiros que são tranportados diariamente, e a SMTT acompanha o valor que a empresa está arrecadando e os gastos que tem com sua frota C


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Comportamento

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Contexto

“Ei motô! Para aí que eu vou descer!”

A princípio, todos chegam impacientes. Mas assim que o ‘motô’ puxa o carro, tudo se ajeita. E começa a viagem das percepções. Larissa Ferreira

larafiona@gmail.com

Ô

Michel Oliveira

nibus lotados, sucateados, motoristas impacientes. Quem nunca passou por isso algum dia? Em Aracaju, cerca de 230 mil pessoas andam de ônibus todos os dias, mas poucas prestam atenção ao seu redor. Porém, os que se aventuram a ser mais do que meros passageiros descobrem que andar de ônibus é cultura e uma forma interessante de conhecer pessoas. Tudo pode começar no ponto de ônibus, quando alguém comenta sobre o atraso ou pergunta as horas. Dentro, as conversas geralmente surgem quando o motorista faz alguma barbeiragem ou acontece algo na rua, e todos se esticam para olhar e trocar suas impressões. Algumas dessas histórias duram apenas alguns quilômetros; outras tornam-se amizades fiéis e dura-

douras. Umas são bem curiosas, como a das amigas Rosicleide de Jesus e Marlene Souza, que moram no Eduardo Gomes, em ruas bem próximas, mas só se falam dentro do ônibus, a caminho do trabalho. “Somos amigas de vista, mas nos conhecemos no ponto de ônibus. A gente pega o ônibus junto e conversa no ônibus”, comenta Rosi. Além disso, ônibus também é um espaço solidário. Se o motorista esquece de abrir a porta, se para no ponto errado, ou se algum “tarado” é descoberto, todos se juntam para reclamar, em defesa das vítimas. No entanto, quando a mulher em sua cadeira de rodas pede ajuda para descer, todos se entreolham, como se tivessem vergonha de socorrer. Ônibus também é um lugar de paquera. São olhadas e sorrisos que podem se transformar numa boa história de amor, como a do paraense Antônio Lobato. “Eu estudava na

UFPA e ela também. A gente pegava o mesmo ônibus à noite mas, como eu era muito tímido, não sabia como puxar papo. Todo dia era um martírio: se não pegasse o ônibus com ela meu dia não começava e eu ficava triste por não falar com ela. Até que um dia a universidade ameaçou uma greve e eu percebi que devia fazer algo. Então, uma noite escrevi um bilhete, botei meu telefone e entreguei. Ela ligou e ficamos juntos por dois meses”. Quem convive com a rotina do transporte público sabe que há dias em que entrar num ônibus é como jogar na loteria. É preciso muita sorte para conseguir um lugar vago no meio da multidão ou pegar um motorista prestativo, que aceite parar no lugar onde se quer. Ou que até atenda ao pedido de um bêbado sorridente, lá no final do ônibus, ao lado de sua simpática esposa, também bêbada. “Ei motô! Para aí que eu vô descer!”. Às vezes, tudo é tão coletivo que há os que dividem a música que estão ouvindo no celular, os que se esticam para ler o jornal do vizinho, e os que entram de repente e furtam todas as nossas coisas. E as figurinhas de ônibus? Quem nunca andou ao lado de um bêbado sem noção, da senhora e sua penca de filhos, de cantores ou de dorminhocos profissionais? Para aqueles que, por sorte ou azar, não precisam usar o transporte coletivo,

aqui fica a dica: assim como tudo na vida, andar de ônibus também tem a sua filosofia. Segundo Luiz Eduardo de Souza, estudante de música da UFS, sua vida pode mudar a partir de um ponto. “Você pode sentar, o ônibus pode lotar e você se apertar todo, pode entrar um ladrão... Logo, cada ponto é pura adrenalina. Você não sabe o que pode acontecer, a única certeza é que vai acontecer”. Mas se quiser ter essa experiência, prepare-se. Você irá descobrir que dois corpos podem sim ocupar o mesmo espaço, ao contrário do que diz a Física. Vai aprender a ser malabarista e segurar cadernos, bolsas e sacolas só com uma das mãos e ainda se equilibrar. Também vai aprender a ser tolerante, principalmente quando alguém suado colar em você, ou um outro com o desodorante vencido levantar o braço bem ao seu lado. Sem contar aquele que fica fungando em seu pescoço, sem que você possa sair do lugar. E atenção mulheres: encoxadas e mãos bobas serão comuns. Contudo, quem sabe algum cobrador goste de você e a deixe descer sem pagar? Na maioria das piadas, andar de ônibus é sinônimo de pobreza. Mas, como diria o vendedor de chicletes, ao ser indagado sobre o que seria a tal cultura do andar de ônibus: “Isso aqui é o povo brasileiro, moça”. .C

Circular Aracaju-Curitiba: viagem de volta ao futuro Joanne Mota e Pedro Ivo

joannemota@hotmail.com / p3dr01v0@hotmail.com

A

distância entre o aeroporto e o hotel parecia não acabar nunca. Mas no caminho, os 80 estudantes de Sergipe que decidiram cruzar o país para participar do Intercom 2009 – o XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – já sentiam algumas diferenças importantes em relação à cidade de onde viam. A começar pelo frio. Situada a 934 metros de altitude, Curitiba tem uma configuração urbana predominantemente plana e quadrangular, como a de Aracaju, que fica abaixo do nível do mar. Mas a semelhança para por aí. O maior contraste apareceu no dia seguinte à chegada dos estudantes. “Vocês escutaram?”. Essa foi a expressão utilizada pela sergipana e jornalista diplomada, Iêda Tourinho, ao entrar em um ônibus coletivo da capital paranaense, cuja população beira a casa dos 1.800 mil, contra 544.039 de Aracaju. O que ela presenciou

foi a sinalização falada do sistema público de transporte daquela cidade. O assombro foi compartilhado por todos os alunos que compunham o grupo, acostumados a uma realidade bem diferente. O sistema de tubos/abrigos, corredores exclusivos para ônibus, embarque e desembarque sincronizado foram outros aspectos da urbanidade curitibana que deixaram boquiabertos os ‘estrangeiros’. “Poxa! Dá até pra ler um livro tranquilamente, nem balança!”, comentou o estudante Rafael Gomes, ao dar um passeio pela cidade utilizando o sistema. Segundo ele, a qualidade da frota é incontestável. “Desse jeito nunca andaria de carro, a qualidade do serviço compensa o valor da tarifa cobrada (R$ 2,20)”, avaliou. E pensar que aos domingos a tarifa cai para R$ 1,00... Outro aspecto que surpreendeu foi o discreto som ambiente que, mesmo tocando baixinho, oferece uma variedade de músicas aos usuários. “Doido! Eles tocam jazz no ônibus aqui!!”, espantou-se

Andreza Lisboa. “Além de poder sentar, posso ouvir música ou ler um livro”, completou a estudante. Em Curitiba, cerca de 2 milhões de pessoas utilizam diariamente o sistema de transporte público urbano, composto por 2.600 ônibus, que cobrem 395 linhas. A comparação com a precariedade do sistema da capital sergipana foi inevitável, e gerou um bordão entre os estudantes, depois da passagem pela terra dos pinheiros e ipês: “Aracaju vida dura!”. Hoje, enquanto esperam por um ônibus num dos seis terminais de integração lotados, contra os 27 de Curitiba, e se amontoam para entrar em um dos desgastados veículos das sete empresas que fornecem o serviço, é impossível não lembrar daqueles túneis transparentes que funcionam como parada obrigatória dos ônibus articulados conhecidos como vermelhinhos, com capacidade para 270 passageiros. É bem verdade que houve alguns avanços no sistema aracajuano, com a recente

entrada em circulação de 20 novos ônibus adaptados para cadeirantes. Mesmo assim, depois de 154 anos de desenvolvimento político, econômico e social, a pequena Aracaju ainda é uma cidade com muitos paradoxos, com obras faraônicas e carências essenciais. Como nos velhos tempos, vizinhos conversam sentados às portas das casas nos fins de semana, enquanto um número crescente de bicicletas trafega em meio a uma quantidade de carros que parece maior que a de habitantes; carroças perambulam em meio a carros importados, transportando uma variedade de mercadorias do comércio local; e os trios elétricos do carnaval fora de época contrastam com marchinhas nos bailes e blocos. Todas essas nuances demonstram a metamorfose ambulante - se permitem citar o poeta - que se tornou a menor capital do país, e o quanto ela ainda precisa trabalhar para se tornar uma “cidade modelo”, como a romântica Curitiba. C Washington Takeuchi/circulandoporcuritiba.blogspot.com


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