Jornal Contexto - Edição Especial

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L IA

JORNAL

C PE ES

CON TEXTO

Ano 13 São Cristóvão/ SE Maio de 2015

www.contextoufs.com.br

Jornalismo Investigativo Aliados a processos e ameaças, profissionais conciliam a ética e o interesse público

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A religião que mais cresce Nos próximos 20 anos, o islamismo deve passar dos atuais 1,3 bilhões para 2,2 bilhões de seguidores no mundo

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Gastronomia Tradição e cultura são símbolos da culinária sergipana

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Esporte Fisiculturismo e as consequências da busca pelo corpo perfeito

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EDITORIAL

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A união faz a força!” E fez uma edição especial do nosso Jornal Laboratório – Contexto concretizar-se! Implementamos uma verdadeira força-tarefa para, em poucos dias, conseguir o básico para que você leitor pudesse ler agora essa edição. Nossos professores suaram a camisa para conseguir a sonhada impressão do jornal, garimpar o acervo e selecionar o conteúdo jornalístico a partir das edições publicadas apenas virtualmente. Enquanto isso, nossos alunos responsáveis pela diagramação aceitaram o desafio para pensar um layout bacana e que permitisse uma leitura agradável. O resultado você tem agora em mãos: a EDIÇÃO ESPECIAL do CONTEXTO para a II Mostra IN-Comunicações. Essa edição é apenas um “aperitivo” do conteúdo jornalístico produzido a partir da parceria das turmas Laboratório em Jornalismo Impresso (2014.1 e 2014.2) e Planejamento Visual 2 (2015.1). Sim! Aperitivo! Porque a “degustação” completa do

CONTEXTANDO

acervo está disponível virtualmente (ISSU: contexto-ufs). E, por falar em degustar, que tal conhecer os sabores de Sergipe? Nossa equipe de reportagem preparou um excelente roteiro gastronômico para você leitor. Seguindo o ritmo dos sabores regionais, você sabia que a mangaba é a fruta símbolo de Sergipe? Tem mais: Em tempos de intolerância e conf litos religiosos mundo afora, visitamos o Centro Cultural Islâmico de Sergipe, onde os muçulmanos se reúnem para orações e sermões. Para os amantes dos aplicativos de bate papo, trazemos uma ref lexão sobre o uso do WhatsApp. Aos que sonham com o corpo perfeito um alerta: dietas malucas podem colocar sua saúde em risco. Conheça também a história de Jeferson Santos, campeão sergipano e brasileiro de bodybuilding. E, claro, não poderíamos deixar de fora uma autorref lexão sobre a prática jornalística investigativa. Boa Leitura!

In-Comunicações: Programação Horário

Sábado

Orientação Pedagógica: Jornalismo

09h-12h

14h-18h

18h-21h30

Segunda

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Seminário de pesquisa

Seminário de pesquisa

Seminário de pesquisa

Seminário de pesquisa

GT1 – Estudos de R ecepção e Audiência. (08h às 10h) Coordenação: Prof. Mario Cesar Oliveira

GT3 – Usos de publicidade e propaganda (08h às 10h) Coordenação: Prof. Renata Malta

GT 7 – Comunicação, Economia e Política (09h às 10h) Coordenação: Prof. Michele Tavares

GT2 – Análise de produtos Audiovisuais (10h às 12h) Coordenação: Prof. Erna Barros

GT4 – Estudos em Cibercultura (10h às 12h) Coordenação: Prof. Aline Lisboa

GT 5 – Análise de Conteúdo – Revistas Impressas (08h às 10h) Coordenação: Prof. Vitor Braga GT 6 – Usos do Jornalismo (10h às 12h) Coordenação: Prof. Josenildo Guerra

Oficina Atendimento Publicitário: da “faixa de Gaza” ao brief (Jamil Rosemberg - Base Propaganda) Moda e Cidade: Estilo pessoal e paisagem urbana (Ruhan Victor Oliveira)

Oficina: Maquiagem especial para filmes de baixo orçamento Proponente: Camilla Pedroza

Oficina: Foto UFS Cidadão

Oficina: Mashup: Propaganda eficaz na era digital (Rodrigo Menezes)

Oficina: Critica Cultural (Suyene Correia Mestranda do PPGCOM/UFS e Membro ABRACCINE)

Oficina: Critica Cultural (Suyene Correia Mestranda do PPGCOM/UFS e Membro ABRACCINE)

Empreendedorismo Cultural: Como e quando empreender cultura (Ruhan Victor Oliveira)

Woekshow: Trajetória de uma Empresa Jr. (Officina)

Oficina: Mídia e Diversidade (Bárbara Nascimento - Jornalista e Mestranda do PPGCOM/ UFS)

Oficina: Mídia e Diversidade (Bárbara Nascimento - Jornalista e Mestranda do PPGCOM/ UFS)

Oficina: Mídia e Etnia Laila Oliveira (Mestranda do PPGCOM/ UFS)

Orientação Pedagógica: Publicidade e Audiovisual

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Mostra de Filmes

Cerimônia de Encerramento Festa de encerramento (DACS)

Todos os dias

MOSTRA DE FOTOGRAFIA + MOSTRA DE CARTAZES) + MOSTRA JORNAL MURAL

EXPEDIENTE Universidade Federal de Sergipe Campus Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE Reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli Vice- Reitor: Prof. Dr. André Maurício C. Souza Pró- Reitor de Graduação: Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses Diretora do CECH: Drª. Iara Maria Campelo Lima Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Núcleo de Jornalismo: Prof. Drª. Greice Schneider Fone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: dcos.ufs@gmail.com Coordenação Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares (DRT 1195/SE) Coordenação Projeto Gráfico: Prof. Dr. Vitor Braga (DRT – 1009/AL)

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Equipe Contexto - Edição Especial Chefes de Redação: Ana Lúcia Carmo e Carolina Leite Projeto gráfico: Demétrius Oliveira e Saullo d’Anunciação Arte de capa: Hugo Fernandes Revisão: Cleydson Santos, Fernanda Sales e Jéssica França Reportagem: Alana Karolina Gois, Rosely Silva, Silas Brito, Aline Souza, Igor Sá, Luzia Nunes, Bruno Cavalcante, Isadora Santos e Marielle Rocha Fotografia: André Teixeira, Bruno Cavalcante, Igor Sá, e Marielle Rocha. Diagramação: Cleanderson Santana, Ellen Cristina, Ítala Marquise, Helena Sader, Hugo Fernandes, Ícaro Novaes, Leilane Coelho, Lucivânia Santos, Maria Belfort, Nathalia Gomes, Silvânio Júnior, Taís Cristinna e Yasmim Freitas. Site Oficial: www.contextoufs.com.br

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INVESTIGAÇÃO: ESSÊNCIA DO JORNALISMO

A essência do Jornalismo é a investigação. Essa seria a espinha dorsal de nossa profissão que, aliás, exige conhecimentos e muito investimento financeiro.

É

preciso salientar que para se fazer jornalismo investigativo em Sergipe, coisa que poucos veículos ousam fazer - primeiro pelo alto custo e segundo pela interferência política -, é necessário ter ciência de que haverá a reação de setores antidemocráticos que não respeitam a liberdade de imprensa para tentar impedir o trabalho jornalístico e, com isso, enfraquecer e até mesmo desmoralizar o papel investigativo do jornalista. Independente da interferência ou não dos poderes político, econômico e judiciário, o jornalismo investigativo terá sempre papel de destaque e de relevância na sociedade, mas é preciso ter cuidado com as inconveniências que surgem no caminho do processo investigatório. Sob a ótica do julgador, encontram-se casos em que a notícia transcende a apuração e a divulgação dos fatos e invade o terreno do Judiciário. Neste sentido, é preciso entender que a investigação jornalística, como qualquer investigação policial, tem suas limitações que devem ser respeitadas. O pressuposto da liberdade de imprensa e de expressão não me dá o direito de atacar outras liberdades ou de não respeitar os ditames das leis. O caso da Escola Base em São Paulo é um exemplo de que uma investigação mal conduzida nos faz reféns da própria liberdade de imprensa, que teoricamente nos faz acreditar que estamos acima de qualquer li-

*Paulo Sousa

berdade. E é essa falsa impressão que nos leva ao erro, muitas vezes, fatal. Observo a necessidade de mais investimento das faculdades no campo do jornalismo investigativo, pois é um mercado ainda pouco explorado pelas faculdades de Jornalismo, que têm o dever de preparar desde cedo o futuro profissional de imprensa para uma demanda de mercado crescente, mas que exige acima de tudo conhecimentos específicos e responsabilidade social. É necessário precisão, exatidão e profundidade nos fatos para a boa realização desse trabalho. E para quem se interessa pelo ramo do jornalismo investigativo, recomendo muita leitura, principalmente de textos que fogem da superficialidade. Alguns princípios básicos que destaco como pontos importantes para uma boa investigação, é sabermos que jornalismo investigativo não é reportagem de editorias, como alguns jornalistas caem na ilusão de que toda boa reportagem é uma matéria investigativa. A investigação exige mais profundidade e escavação. Jornalismo investigativo também não é reportagem crítica, essa reportagem pode fazer parte da matéria investigativa, mas nunca será vista como uma produção investigativa. Outro erro é achar que a essência do jornalismo investigativo está apenas na cobertura de crimes e corrupção. Isso torna

limitado o alcance da matéria. O jornalismo investigativo nada mais é do que uma abordagem sistemática para um palpite, o que exige pesquisa e reportagem original e em profundidade. Como disse David Kaplan, autor de Global Investigative Journalism, durante uma conferência sobre jornalismo investigativo. “O jornalismo investigativo deve seguir o método científico de formar e testar uma hipótese, juntamente com uma rigorosa verificação de fatos, descobrindo segredos, com o foco na justiça social e prestação de contas e no uso pesado de registros públicos”. Seguindo o entendimento do sociólogo e cientista político francês Dominique Wolton, que no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas defendeu que a imprensa deve ser vista como o contra poder do sistema e nunca o quarto poder, concluo, portanto, que para o bem da sociedade e da democracia, a imprensa nunca deve ser uma aliada do sistema, mas uma poderosa fiscalizadora deste e de qualquer outro sistema que venha a ser implantado no país. *É graduado em Jornalismo, especialista em Radiojornalismo e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Sergipe (SINDIJOR-SE).

JORNALISMO INVESTIGATIVO E A SOCIEDADE

Roberto Cabrini é considerado um dos principais jornalistas do Brasil, especializado em jornalismo investigativo, coberturas de guerras e na defesa dos direitos humanos. Ao Contexto, Cabrini fala do papel do jornalismo investigativo em sociedades democráticas CONTEXTO: Para você, qual é o papel do jornalismo investigativo nas sociedades democráticas? ROBERTO CABRINI: Pode-se medir o grau de democratização de uma sociedade pelo seu nível de jornalismo investigativo. Não há democracia sem jornalismo independente. C: Como você classifica o jornalismo investigativo brasileiro? RC: Nosso jornalismo evoluiu muito se tornando mais arrojado e mais responsável. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

C: Qual é o limite de uma apuração investigativa complexa? RC: O limite é o do bom senso, da responsabilidade e da legalidade... É preciso ousar mas sempre em investigações de claro interesse coletivo. C: Por que é necessário investir no jornalismo investigativo? O investimento para o jornalismo investigativo é vital para a sua relevância. Sem investimento em aprofundamento o jornalismo corre o risco de se tornar oficial, tendencioso, leviano ou omisso. Arquivo pessoal

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ESPECIAL

ESPECIAL

A ARTE DE APURAR

Jornalismo investigativo: da importância da notícia aos detalhes da narrativa. Jornalistas falam sobre os limites éticos, técnicos e a incipiência da prática investigativa em Sergipe. Marielle Rocha marirocha_jornalismo@hotmail.com

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final, o que é jornalismo investigativo? Costumamos ouvir que todo jornalismo por si só é investigativo. No geral, as técnicas de jornalismo são muito parecidas e o resultado final de uma reportagem é fruto da apuração de um fato. Mas, o que diferencia o jornalismo investigativo dos demais setores da atividade são as circunstâncias, normalmente mais complexas, dos fatos, além de sua extensão noticiosa e o tempo de duração quase sempre exercido sobre pressão que se divide em fases, entre elas, pesquisa minuciosa, concentração, perseverança, atenção especial, conhecimento policial básico, muitas entrevistas, desconfiança, frieza e coragem.

Muito se discute sobre o comportamento do jornalista diante das circunstâncias de uma matéria que exige infiltração, dissimulação e, não raras vezes, doses exageradas de perigo. Para a jornalista Paula Coutinho, dependendo da investigação, não há limites para a apuração. “Algumas coisas não tem limite, eu acho que você tem que pesar: Quem você vai prejudicar? O que é que isso vai interferir? Se essa apuração vai ajudar a resolver Marielle Rocha

JORNALISMO INVESTIGATIVO X ÉTICA PROFISSIONAL Até onde é permitido ao repórter dissimular atitudes, usar gravadores escondidos, microcâmeras, passar-se por outra pessoa, adotar outra identidade e, de fato, violar leis? O fato é que essa questão tem dois tratamentos, e em ambos, devemse valer do princípio da honestidade de quem faz, das circunstâncias da reportagem, da intenção da pauta e dos limites que o bom senso e a ética impõem. É muito importante que o discurso ético não seja atropelado pela hipocrisia ou por interesse de um e outro encastelado no poder de plantão. Toda investigação jornalística, portanto, tem que ser ética. O Código de Ética do Jornalista Brasileiro existe, está no papel, mas não ajuda muito. Foi aprovado em 29 de setembro de 1985 pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a partir de uma discussão levada a cabo pela categoria. No artigo nove, inciso “f”, lê-se como dever de todo jornalista: “combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar informação”.

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Jornalista sergipana Paula Coutinho

um problema, se essa apuração vai achar uma melhor verdade ou não”, defende. Em relação às técnicas jornalísticas, Paula é enfática: “Muita gente fala ‘ah, mas é antiético, câmera escondida, é antiético isso, aquilo’, ok! E você acha que você vai chegar a um estuprador e perguntar ‘você estuprou essa criancinha?’, ele não vai te falar, óbvio! A gente tem que ter a clara noção disso. O jornalismo investigativo, como o nome já diz, é porque a pessoa não quer falar. O que a gente faz é investigar isso. Então, sinceramente, pra descobrir alguma coisa, pra mim não tem

limite”. Quando se trata do relacionamento com as fontes, Paula acrescenta: “Muitas vezes as fontes acham que vão te enganar, que vão te seduzir... Você tem que saber ir retirando isso e muitas vezes você tem que se disfarçar de uma coisa que você não é”. JORNALISMO EM SERGIPE

INVESTIGATIVO

Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor), Paulo Sousa, o jornalismo investigativo em Sergipe ainda é tímido, carece de grandes investimentos. “No geral, ele ainda é tímido aqui em Sergipe. Na verdade, isso representa algo ruim para a sociedade, porque a sociedade ganha quando tem um jornalismo investigativo; claro que aquele jornalismo que age com ética, com responsabilidade, obedecendo ao código de ética da profissão”, comenta. Em Sergipe, muitos profissionais respondem processos, seja por ter feito um trabalho investigativo, ou por ter feito o seu trabalho jornalístico rotineiro, ou até mesmo por uma simples opinião que ele fez no rádio, na TV, no jornal, na revista, ou no próprio veículo pela internet. “Infelizmente, essa é a realidade em que a gente acredita que isso só vai ser combatido com a aprovação do projeto de lei que está no Congresso Nacional, que federaliza os crimes contra jornalistas. Federaliza e, ao mesmo tempo, intimida aqueles que não querem permitir que o jornalista exerça a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão”, lamenta. Para Jozailto Lima, editor-chefe* do Cinform, jornal semanal sergipano, o jornalismo investigativo no Estado, apesar de ser mal resolvido e se praticar pouco, evoluiu. “Sergipe evoluiu um pouco, eu vivo o jornalismo em Sergipe há 25 anos.

Quando eu cheguei aqui as matérias eram todas chapas brancas, iam para o jornal aquilo que o governante queria. Eu cheguei em 1990, nós estávamos há cinco anos do fim da ditadura militar, e os governadores ditavam a pauta do jornal. Acho que nesse sentido, as pessoas não reconhecem, mas o Cinform deu um contributo enorme, com sua ousadia, com a liberdade de fazer coisas que Jornalista Jozailto Lima não tem fronteira, que não segue a linha do governante de plantão. Nenhum governador de Sergipe dá manchete no jornal, mas os governadores de Sergipe, apesar de a mídia local

Marielle Rocha

ter melhorado, continuam dando manchete nos demais jornais. Então, houve uma melhora sofrida, uma melhora que eu diria que é carente de mais intervenção, de mais melhora”, relata.

O jornalista também destaca as dificuldades para se exercer o jornalismo investigativo em Sergipe. “Para você conseguir algo é muito difícil, porque até mesmo as instituições que deveriam colaborar são muito corporativas entre si, como o Poder Judiciário, as diversas esferas do Ministério Público, as contro-

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ladorias... Todo mundo trabalha de certo modo para ofuscar dados, então, praticar jornalismo investigativo é algo muito complexo”, conta. Por fim, Jozailto ressalta a pressão por parte de vários setores da sociedade. “Já sofremos processos, tivemos interdição e censura no jornal, chantagem, gente que liga dizendo que o jornal está a serviço de uma outra instituição, todo mundo que é investigado se acha no direito de mesmo errado, sentir-se invadido. Me sinto precavido, eu diria que até numa escala de intimidação, também me sinto intimidado, todo mundo intimida todo mundo, mas a intimidação não é suficiente para que você pare, para que você aborte o que você está a fazer”, conclui.

* Atualmente, Jozailto Lima não exerce mais a função na empresa citada na matéria.

IN-Comunicações promove debate sobre violência contra jornalistas em Sergipe

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Mesa de Abertura da II Mostra IN-Comunicações abordará os registros de violência contra os jornalistas em Sergipe. A escolha da temática foi motivada em virtude do lançamento do “Relatório 2014: Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, organizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Lançado em janeiro desse ano, o documento revela que, em números absolutos, houve uma diminuição dos casos de agressões em comparação a 2013. No entanto, há ainda muitos registros de assassinatos, entre outros casos de violência, contra profissionais de comunicação, sendo a maioria durante protestos populares. Em 2014, foram identificados 82 casos. No ano anterior, foram 189 ocorrências.

prisões/detenções e violência contra organização sindical.

O relatório apresenta em detalhes um panorama da violência contra jornalistas no Brasil, indicando os registros por Região e Estado, por gênero e tipo de mídia. Além disso, também descreve os casos enquadrados em diversas categorias como: assassinatos, agressões físicas, agressões verbais/ injúrias raciais, agressões durante manifestações, ameaças e intimidações, assédio político, atentados, censura, cerceamentos à liberdade de imprensa por ação judicial, impedimentos ao exercício profissional,

O caso do jornalista sergipano Cristian Góes, enquadrado como “Cerceamento à liberdade de imprensa por ação judicial”, ganhou inclusive repercussão internacional, tendo em vista sua condenação por ter escrito e publicado em um blog uma crônica ficcional, em maio de 2012. Na crônica, escrita na primeira pessoa, ele trata de um coronel, que manda e desmanda, com a proteção de um “jagunço das leis”. O desembargador Edson Ulisses, vice-presidente do Tribunal de

Em Sergipe, foram registrados três casos, sendo que dois deles diretamente relacionados ao exercício da profissão. Classificado no relatório como “Ameaças e Intimidações”, destaca-se uma ocorrência em 3 de junho de 2014, quando uma equipe de jornalistas do Portal Infonet foi ameaçada por dois policias civis, na saída da cidade de Salgado. Os policiais ainda quebraram os celulares e a máquina fotográfica da equipe, que foi até Salgado para fazer uma reportagem sobre o suposto assalto a um taxista, praticado por um enteado do secretário de Estado de Segurança Pública. A equipe foi abordada pelos policiais logo após entrevistar alguns moradores da cidade.

Justiça de Sergipe, sentiu-se ofendido e processou o jornalista civil e criminalmente. Em ação civil, Cristian foi condenado a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais ao desembargador. Na ação penal, foi condenado a sete meses e 16 dias de prisão, convertidos em prestação de serviços comunitários. O terceiro caso, classificado como “Assassinato de outros profissionais da comunicação”, remete ao assassinato do radialista Iran Machado, 55 anos, que foi morto a tiros na porta de sua casa, na cidade de Itabaiana. Ele trabalhava nas rádios São Domingos FM e Capital do Agreste e era conhecido pela irreverência nas transmissões de futebol. O criminoso não foi identificado. O momento inaugural da Mostra acontece no dia 08 de maio, a partir das 19h, no Centro de Cultura e Arte (Cultart), da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Na ocasião, os dois casos registrados em Sergipe pela Fenaj serão debatidos pelo Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor-SE), Paulo Sousa, além de contar com a presença do jornalista Cristian Góes e da diretora de jornalismo do Portal Infonet, Raquel Almeida. (Fonte: Ascom/IN-Comunicações)

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MUNDO

ção de indivíduos modernos,” explica Rodorval.

ISLÃ CRESCE PELO MUNDO

Dos sete bilhões de habitantes no planeta, cerca de 1,3 bilhão são muçulmanos representando 25% da população mundial.

Bruno Cavalcante bcavalcante2107@gmail.com

Além da língua, a facilidade para se tornar um muçulmano também tem colaborado para o crescimento deles no Brasil. A reversão acontece quando a pessoa diz por três vezes a frase diante de um interlocutor: “Não há Deus se não Deus e o Profeta Muhammad é seu mensageiro”. Depois dessa etapa de confissão, a pessoa passa a praticar as cinco orações diárias, fazer caridade aos mais necessitados, participar do jejum durante o mês do Ramadã e, se tiver condições financeiras, faz a peregrinação à cidade saudita de Meca. REVERSÃO

Bruno Cavalcante

“São 17h45. Está na hora da oração da tarde”, avisa Fagner Santos, convertido há três dias, interrompendo a entrevista. Ele se levanta, pede licença e vai apressado ao banheiro. Lava as mãos, em seguida a boca, barba e orelha, umedece os cabelos e entra no salão do Centro Islâmico. Ajoelhado, ora por cerca de cinco minutos.

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erca de um milhão de muçulmanos estão no Brasil, sendo que a maioria dos seguidores do Islã encontram-se na Ásia e no Oriente Médio. Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce perdendo apenas para o cristianismo. Os dados apontam, portanto, que os admiradores de Alá fazem parte de uma realidade social, política e religiosa em âmbito mundial. Desconhecido pela grande maioria, o Islã é vítima de preconceito por está associado a casos de terrorismo. Homens bombas e fanáticos religiosos pregando a morte de infiéis estão numa minoria disposta a matar e morrer, movida por teorias segundo as quais um “fiel suicida” garantiria um lugar de honra no paraíso. Esses são movidos pelo fanatismo e a interpretação ao pé da letra de textos sagrados. O verdadeiro muçulmano nega a violência e prega a união de preceitos e a busca da paz para a humanidade. Pouca gente sabe, mas na Rua Nestor Sampaio, no bairro Luzia, funciona o Centro Cultural Islâmico de Sergipe.

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Criado em janeiro deste ano, o centro tem o objetivo de esclarecer equívocos sobre o Islã e divulgar os verdadeiros ensinamentos da religião para a comunidade sergipana. Muçulmanos de Aracaju, Areia Branca, Itabaiana, Itabaianinha e Simão Dias e até mesmo de outros países aproveitam o espaço para as orações e sermões. CRESCIMENTO DO ISLAMISMO Com o crescente número de fiéis e de líderes, o aumento de mesquitas e centros islâmicos torna-se necessário. Hoje são 115 espalhados pelo Brasil, em 2005 eram 70. O representante dos muçulmanos em Sergipe, Bruno Gabriel, acredita que o aumento se dá pela divulgação da religião em língua portuguesa. “Há mais líderes falando e ensinando o Islã em português. Isso ajuda no entendimento e divulgação da religião”, disse Bruno. A língua tem sido o fator principal para a reversão de brasileiros sem origem muçulmana. No Islã todos nascem muçulmanos, por isso quando se fala de novos adeptos eles não usam a palavra

“conversão”, mas sim “reversão”. Bruno também explica que os líderes religiosos não tinham o incentivo a se dedicarem ao idioma, pois o desejo era retornar para o Oriente Médio, mas o pensamento deles vem mudando por pensarem em se estabelecer no Brasil. Ainda sobre o crescimento do Islamismo, o sociólogo Rodorval Ramalho afirma que existem muitas razões para uma pessoa se converter ou trocar de religião. A mudança ocorre desde a necessidade de apoio para enfrentar o cotidiano e a busca de sentindo para a vida. “Os processos de conversão não devem ser vistos como novidade. No começo do Cristianismo, por exemplo, as mulheres se converteram em massa, pois aquela nova religião lhes tratava como iguais aos homens. No mundo moderno, com o pluralismo religioso, as conversões são mais comuns, tendo em vista que cada indivíduo escolhe a religião que quiser. No caso do Islã, é interessante observar que uma religião tão restritiva ao individualismo moderno chame tanto a aten-

Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser casado com um praticante da religião. Também não é necessário estudar ou se preparar especialmente para a ocasião. A reversão acontece quando a pessoa diz por três vezes a frase “Não há Deus se não Deus e o Profeta Muhammad é seu mensageiro” diante de um interlocutor. Depois dessa etapa de confissão a pessoa passa a praticar as cinco orações diárias, a fazer caridade aos mais necessitados, participa do jejum durante o mês do Ramadã e, se tiver condições financeiras, faz a peregrinação à cidade saudita de Meca. Mas voltando para o Fagner, ele mora no município de Lagarto a 75km da capital. Há oito anos era evangélico, se converteu ao Islamismo porque precisava de algo que o acalmasse espiritualmente. “Sempre tive muita fé em um Deus supremo, mas me faltava alguma coisa. Agora, se Deus quiser, morrerei muçulmano”, explica Fagner. Quem se converteu há um ano foi Paulo Andrade. Ele conheceu o Islã por meio de um amigo muçulmano, numa época em que só queria saber de diversão. “Gostava de beber, de cair na noite. Tinha uma irresponsabilidade típica dos jovens”, conta Paulo. Quando anunciou sua decisão de se converter ao islamismo, a família católica ficou apreensiva. As piadinhas, como “vai virar terrorista”, duraram pouco tempo. “Quando perceberam a mudança da minha postura, das minhas atitudes, viram que a religião estava me fazendo bem. Na primeira vez que minha mãe me viu jejuando durante o Ramadã,

ela se emocionou e chorou”, relata Paulo. A LIGAÇÃO DO MUNDO ISLÂMICO COM O TERRORISMO Onde se veem conflitos envolvendo os muçulmanos, eles podem ser explicados pelas diferenças internas, aliadas à miséria e à carência de educação, que contribuíram para o surgimento de grupos fundamentalistas religiosos movidos pelo fanatismo e interpretação ao pé da letra de textos sagrados. A maioria dos muçulmanos é contra os ataques suicidas e considera um pecado extremo, uma ofensa contra Alá, na medida em que atenta contra o dom da vida.

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As muçulmanas se dizem protegidas ao usar o acessório. Quanto ao calor, alegam sentir-se melhor do que parece porque os trajes as protegem do sol. “A mulher tem de conhecer a religião para André Teixeira

Algumas opiniões de muçulmanos em Sergipe sobre o assunto: “No verdadeiro Islã, o terror não existe. No Islã, matar um ser humano é um ato tão grave como a infidelidade. Ninguém pode matar um ser humano. Ninguém pode tocar numa pessoa inocente, inclusive nos tempos de guerra.” – Bruno Gabriel “O Islã tem respeitado sempre diferentes pontos de vista e ideias, e isto deve ser entendido para que possa ser valorizado adequadamente. Lamento dizer que nos países onde vivem os muçulmanos, alguns líderes religiosos e muçulmanos imaturos não têm mais armas à mão do que sua interpretação fundamentalista do Islã. Usam-na para atrair algumas pessoas para lutas que servem para seus próprios propósitos.” – Mustafá “Uma das pessoas mais odiada no mundo é Osama Bin Laden, por ter manchado o nome do Islã. Criou uma imagem muito ruim. Inclusive, ainda que tentássemos todo o possível para reparar o terrível dano ocorrido, levaríamos anos para repará-lo.” – Fagner Santos “É nosso erro; é um erro da nação. É um erro da educação. Um muçulmano de verdade, alguém que entende o Islã em todos seus aspectos, não pode ser um terrorista. É duro para uma pessoa ser muçulmana se está envolvido com terrorismo ao mesmo tempo. A religião não permite o assassinato de pessoas para cumprir uma meta.” – Edivilson Ramos TRAJES O uso do véu é um dos traços culturais que mais chamam atenção daqueles que não são muçulmanos, principalmente das mulheres. Em Aracaju, onde o calor é muito forte, as pessoas não muçulmanas questionam a adoção do traje, que acompanha roupas folgadas que cobrem todo o corpo, mas quem usa pouco se importa.

saber os motivos pelos quais usa o véu”, diz Kátia Ahmad , 32 anos. Natural de Estância, ela casou com um muçulmano e acabou se envolvendo com o islamismo. A adoção do véu é uma norma do islamismo registrada no Alcorão, uma das ordens que Deus enviou aos muçulmanos. “A mulher é chamada a se proteger, a cobrir seu cabelo e se vestir com roupa adequada, seja durante os momentos da oração ou no dia a dia”, diz Kátia. Ao contrário da mulher, o homem não precisa se cobrir porque não chama atenção como a figura feminina. Kátia lembra da diferença entre o véu e a burca. “O véu é usado pelos muçulmanos, a burca não. Não é um ato islâmico, é um costume afegão”, explica. CURIOSIDADES 1. Todos os ensinamentos contidos no Alcorão têm força de lei. 2. Alá é o nome do Deus único do islamismo. 3. Alcorão que dizer o livro, assim como a palavra bíblia. 4. No Alcorão, Alá é identificado por 99 adjetivos. Três deles são “pacificador”, “misericordioso” e “clemente”. 5. Maria, mãe de Jesus, é a única mulher que o Alcorão chama pelo nome. 6. Jesus Cristo é citado 25 vezes no alcorão. Ele aparece ora como filho de Maria ora como o messias Jesus, filho de Maria. Mas, para o islamismo, Jesus Cristo foi apenas um profeta. 7. Segundo os muçulmanos, os ensinamentos de Jesus Cristo foram mal interpretados pelos cristãos.

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SAUDE

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A BUSCA PELA BELEZA

Quando os parâmetros que “ditam” o corpo perfeito causam riscos à saúde. Alana Karolina Gois e Rosely Silva

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star magra, com silicone nos seios, cintura impossivelmente fina e um rosto que traduz a mais perfeita beleza. Estes são os requisitos básicos para um corpo ideal que alimenta a ilusão feminina. Ao longo dos anos, seja pela televisão, pelo cinema ou pelas propagandas, mulheres surgem sem qualquer imperfeição física. Vemos modelos magérrimas desfilando nas passarelas e tudo é repassado como se todas as mulheres devessem ser da mesma maneira que elas: magras e usar manequim 36. Estamos numa época em que as pessoas não são mais avaliadas por sua cultura ou ideais. O que importa agora é “ser” como Gisele Bundchen ou até mesmo Panicat. Trata-se de um problema social, que desenvolve o preconceito e a discriminação para aqueles que não se encaixam no padrão exigido nos dias de hoje. E para tentar ficar bem com o próprio corpo, os malabarismos são variados. A submissão vai desde as mais simples, como cosméticos, até cirurgias radicais e dietas malucas. No meio dessa batalha pela perfeição, estão as jovens que crescem com a ideia de que só serão aceitas se seguirem esse padrão. A partir disso, surgem os mais variados processos cruéis de beleza: passar fome, fazer exercícios exagerados, tudo vale para serem iguais às modelos de capa de revista. Na busca incessante pelo corpo ideal, a aversão à aparência se desenvolve e, ao olhar-se no espelho, até 2% da população mundial se assusta com sua própria aparência. É a partir daí que vemos surgir o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), conhecido também como dismorfia corporal ou dismorfobia. Segundo a psicóloga Maria Luísa Teodoro, o transtorno é psicológi-

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co e a pessoa acredita ter defeitos físicos que não possui ou então, possui em um nível mínimo, mas acredita ser acentuado. O distúrbio ocorre em ambos os sexos e é comum que o dismórfico desenvolva transtornos alimentares, como anorexia, bulimia ou compulsão alimentar. De acordo com a nutricionista Leilane Viana, os transtornos alimentares são doenças mentais que envolvem basicamente o consumo de alimentos e tem como sintomas a preocupação excessiva com o peso, alteração da imagem corporal e medo patológico de engordar. “A maioria dos pacientes que tem transtorno alimentar são jovens. No caso da bulimia e da anorexia o público maior são as mulheres. Diminuiu bastante a faixa etária dos pacientes com a doença, mas hoje varia entre 15 a 40 anos”, explica. Quem desenvolve anorexia tem o medo extremo de ganhar peso, restringindo alimentos e ingerindo uma quantidade mínima de calorias por dia. Ao se olhar no espelho, as pessoas se veem obesas, mas na verdade estão caquéticas. Já a bulimia caracteriza-se por longos períodos de compulsão alimentar, seguidos por episódios de vômitos autoinduzidos. Nesse caso, os bulímicos têm o peso dentro da normalidade, mas têm medo de ganhar mais. Esse transtorno lembra muito a compulsão alimentar, que também apresenta longos períodos de ingestão de alimentos muito calóricos, só que sem induzir o vômito. As consequências são as mesmas de uma pessoa obesa, como pressão alta, colesterol alto, diabetes e problemas do coração. A psicóloga acredita que os transtornos ocorrem porque o indivíduo não

se aceita e deseja se transformar no que a mídia impõe. “A pessoa pode até não se sentir mal da forma que é, mas a mídia e os amigos ao redor impõem que você não pode ser gorda, por isso busca-se formas incorretas, como induzir o vômito, exercícios excessivos, diuréticos e laxantes. Eles não medem esforços para ficarem o mais magros e torneados possíveis”, explica Maria Luísa. Existem também alguns fatores biológicos que contribuem para o desenvolvimento dos transtornos alimentares. Essa pré-disposição à doença, de acordo com a psicóloga, pode nascer na gestação, quando a mãe se preocupa exageradamente em não engordar, fazendo com que o feto absorva essas preocupações e se torne uma criança menos sadia. Porém, Maria Luísa acredita mais no desencadeamento do transtorno através da parte psicológica, atingida pela influência externa, inclusive da mídia. “Lógico que a parte biológica tem a sua influência, mas a partir do momento em que vou ao médico, percebo que tenho algumas deficiências de nutrientes e busco me tratar, fica tudo mais tranquilo. Mas quando reunimos a ausência de nutrientes e a parte psicológica, o caso fica mais sério”, ressalta.

A VIDA IMITA A ARTE OU A ARTE IMITA A VIDA? Através de seus produtos – telenovelas, seriados, programas, entre outros - a mídia vem apresentando a discussão sobre esses transtornos alimentares. Exemplo disso foi a novela Páginas da Vida, escrita por Manoel Carlos e exibida entre os anos 2006 e 2007. Na trama, a personagem Gisele, interpretada na infância pela atriz Raquel de Queiroz e na fase adulta por Pérola Faria, é uma bailarina que desenvolveu bulimia nervosa. Anna, sua mãe, vivida pela atriz Débora Evelyn, é uma mulher muito rígida que faz de tudo para impedir que sua filha engorde por causa do seu sonho de torná-la uma grande dançarina de ballet. Sentindo-se pressionada, Gisele começa a comer tudo o que quer escondido da mãe e com medo de engordar provoca o vômito. Em caso relatado pela psicóloga Maria Luísa, é possível perceber que exemplos como esse, vistos na televisão e nos filmes, muitas vezes retratam histórias reais. Ela citou a história de uma paciente de 16 anos, oriunda de outro estado, que foi diagnosticada como um caso de bulimia. A menina estava em Aracaju para fins somente de estudos e sempre era alertada pela tia e avó que não poderia fazer amigos, apenas estudar. Para a psicóloga, este já era um fator que deixava a garota um pouco perturbada. Além disso, um outro ponto considerado era a ausência paterna. “Eu não consigo dizer um ‘eu te amo’ para o meu pai”, disse a adolescente em uma das consultas. Quando a psicóloga a conheceu, ela conta que a menina não tinha um corpo exagerado, mas ela comentava

que sentia-se acima do peso e que por causa disso começou, involuntariamente, a induzir o próprio vômito. Na cabeça da adolescente, comer um prato de feijão a deixava com a sensação de ter engordado uns “quinhentos quilos”. Além da indução do vômito, o fator principal para a psicóloga diagnosticá-la como bulímica foram os relatos de que a paciente escondia comida embaixo da cama. Quando todos da sua casa dormiam, ela ingeria todos os alimentos escondidos, tomava algum laxante e vomitava diversas vezes. A menina chegava a deixar as unhas bem pequenas, pois sabia que estando grandes, elas poderiam machucá-la durante a indução do vômito. Aos poucos, a profissional foi conversando e explicando a paciente que ela tinha bulimia e que a sua necessidade em vomitar não era só por sentir-se gorda, mas também por questões familiares como a falta do pai. Também houve conversas com a família que não imaginava a real situação em que a garota se encontrava. A partir disso, a paciente tomou consciência de que precisava de tratamento e passou a ser acompanhada por uma equipe de profissionais que envolviam a psicóloga, um nutricionista e um psiquiatra. TRATAMENTO Segundo a nutricionista, para um tratamento eficaz, é necessário a participação de uma equipe multidisciplinar formada por um médico, um psiquiatra, um psicólogo e um nutricionista. Além disso, pode-se precisar de um outro especialista dependendo do estágio em que o paciente se encontre. “Digamos que seja uma paciente com anorexia, que já perdeu muito peso e precisa ser mantida internada em um ambiente hospitalar, então ela vai precisar de um clínico médico, às vezes, de um endocrinologista, porque essa paciente tem uma queda

muito grande de hormônios. Isso depende muito do estágio em que esteja esse transtorno alimentar”, afirma. De acordo com ela, um outro aspecto importante para o tratamento é que o paciente aceite que possui o transtorno e queira se tratar. Todos os pacientes precisam ser acompanhados até que os profissionais percebam que eles podem receber alta, mas a família tem a função de estar sempre observando o comportamento do ente, pois como se trata de um transtorno psicológico, os problemas emocionais podem contribuir para o retorno dos sintomas. Em casos de suspeitas da doença, a psicóloga afirma que a família tem um papel fundamental no processo de recuperação. Ela aconselha aos familiares a estarem mais próximos, conversando, orientando, porém sem cobranças. Em casos mais graves, o recomendado é a internação. Ela ainda alerta sobre possíveis sinais de um transtorno alimentar. “Geralmente, é uma pessoa que tinha uma alimentação normal e de repente passa a ficar retraída, sozinha, se tranca no quarto por muito tempo e passa a ter uma feição triste”, explica. Sobre nossa personagem que ilustra o caso de bulimia, Maria Luisa foi informada que a adolescente havia voltado para o interior. Mas antes de ir, ela procurou os profissionais direcionados a tratá-la e, em última sessão, contou que tomou consciência do seu estado e que começaria a se alimentar corretamente e continuaria resolvendo suas questões com o pai. Além disso, a família também percebeu que não era um problema a menina desenvolver relacionamentos sociais e conciliá-los com o estudo. Segundo a psicóloga, até onde ela acompanhou o caso, as coisas estavam mudando para melhor.

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ESPORTE

10 MELHOR, MAIS FORTE E MAIS RÁPIDO No documentário “Bigger, faster & stronger”, mostra que o grande segredo dos atletas americanos sempre foram os esteroides, que são anabolizantes ou as chamadas “bombas”. Os mais usados são feitos do hormônio masculino, a testosterona, e ajudam a construir músculos. Isso acontecia desde o fim dos anos 50, quando os russos estavam dominando a América na corrida espacial e nas olimpíadas. Os americanos conseguiram vencer os comunistas através dos esteroides.

MUNDO DO FISICULTURISMO

Os caminhos e desafios que o campeão brasileiro de fisiculturismo enfrentou para chegar até o pódio

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fisiculturismo tem como foco principal a definição muscular e entra na categoria de esporte para atletas de volume destacado. Os principais critérios para competição é tamanho e definição, onde esses atletas são avaliados visualmente. Para um atleta iniciante, o procedimento básico é estimular o crescimento das células (fase de hipertrofia) e, em seguida, ele parte para a definição. No entanto, para obter e alcançar essa hipertrofia é preciso se submeter a alguns tratamentos dietéticos (ou seja, ingerir qualquer tipo de alimento industrializado que apresente ausência de determinados nutrientes, como carboidratos, açúcar, sal, lactose, gordura, dentre outros). Nesse processo, é dado uma supervalorização da parte dos carboidratos e das proteínas e no fracionamento das refeições. Então, o atleta de fisiculturismo é comparado a uma criança que precisa se alimentar de três em três horas. Porém, no caso dele, a alimentação acontece antes e pós-treino. Algumas pessoas conseguem alcançar um bom resultado da massa muscular sem contar com recursos externos, a exemplo dos anabolizantes e hormônios para ganhar um volume muscular muito grande. A nutricionista Raquel Simões Mendes Neto, doutora na área de Ciência dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP), explica que, por questões éticas, os nutricionistas não têm uma conduta de fazer uma prescrição dietética, já que o atleta está utilizando anabolizantes. “Não podemos ser coniventes com isso que eles estão fazendo. Muitos fazem isso por conta própria”, defendeu. Ela ainda conta que o atleta fisiculturista é muito disciplinado, pois na fase de pré-competição, ele come carboidratos, proteínas e até gordura para

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Silas Brito ganhar volume. Após dois meses ou quinze dias, ele passa a restringir tudo para secar, perder a gordura e ficar com predominância de músculo em seu corpo. “Esse ciclo de ganha e perda é extremamente prejudicial para ele do ponto de vista metabólico e fisiológico”, orienta Raquel Simões. Dentro do aspecto relacionado à musculação, sabemos que são necessários direcionamentos para o desenvolvimento dessa atividade, que pode ser voltada tradicionalmente para o aspecto estético ou para o tratamento fisioterápico. No entanto, ela também pode ser praticada para fins competitivos. Nesse aspecto, ela está subdividida em algumas modalidades: o levantamento olímpico, o fisiculturismo e a quebra de braço. E, por fim, a musculação como sendo um componente de uma preparação física de equipes de esportes coletivos ou individuais. Uma das federações que administra essas provas é a International Federation of Body Buildingand Fitness (IFBB). Segundo o professor Pedro Jorge Morais Menezes, doutor pela Universidade de Leon na Espanha, que trabalha com ginástica olímpica e desenvolvimento de atividades físicas em academia, antes de se pensar em um treino diferenciado, é preciso se pensar num aspecto que é importante para a prática do fisiculturismo, que é a questão da genética privilegiada do atleta. “Quanto mais geneticamente privilegiado é esse atleta, mais facilidade ele vai ter de incrementar nos programas de treinamento de musculação e atingir o resultado num espaço de tempo bem menor, se comparado a um indi-

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víduo que não tem uma genética privilegiada para o desenvolvimento da massa muscular”, explica. Para um atleta iniciar nessa modalidade, é necessário preparar o seu arcabouço estrutural. “Um treinamento de musculação voltado para um aspecto competitivo, sabemos que vai ser exigido muita carga de treinamento e, para isso, ele precisa ter um alicerce muito bem formado em suas estruturas músculo articular, ósteo articular e músculo ligamentar. Se ele não tiver essa estrutura básica de preparação para suportar as cargas maiores, ele não vai ter como chegar a esses objetivos. É um processo de construção do corpo do indivíduo, partindo do alicerce e nunca do telhado”, completa. “O indivíduo que passa por essa fase da vida e não é uma pessoa praticante de atividade física ou de musculação, o processo de degeneração dele é muito mais rápido do que de um indivíduo que treinou ao longo da existência”, conta o professor. Indica-se que, com o avanço da idade, o indivíduo procure fazer a sua manutenção diária sem perder os hábitos da prática da musculação, só que numa intensidade e num volume proporcional aos seus limites.

Os ícones dessa época que representavam força, invencibilidade e o conceito de melhor, mais forte e mais rápido, foram ganhando forma rapidamente como produtos midiáticos em todo o mundo. Filmes, desenhos, seriados, brinquedos, games , entre outros. Quem não lembra do incrível Hulk Hogan nos rings de luta livre? Rambo, Arnold Schwarzenegger, Heman, Superman, Popeye e o incrível Hulk? E foi justamente por esse último personagem que o Jeferson Santos, campeão sergipano e brasileiro de bodybuilding se espelhou durante a sua vida. Jeferson conta que Hulk é o melhor por ser o mais forte e invencível. 1,90m de altura. 20Kg de massa corporal. Hoje ele possui apenas um objetivo: ser o novo Mister Universo 2014.

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EM SUA INFÂNCIA “Quando criança já nasci um pouco diferente, parecia uma criança de três meses, nasci com quase 5Kg”, lembra Jeferson ao destacar que sempre foi um menino diferenciado em sua comunidade. Sempre foi um pouco rebelde e até problemático na escola, o que lhe acarretou uma série de expulsões. De uma família humilde, com oito irmãos, o campeão de bodybuilding começa a trabalhar com onze anos de idade para ajudar nas despesas de casa. Só depois das participações nos campeonatos, pensa em ingressar numa universidade. Ele lembra que começou a treinar em 2007, porém não era seu objetivo um dia chegar a competir. Foi então que se mudou para São Paulo por uma temporada e voltou para Sergipe. Em 2013, inicia suas participações em competições de fisiculturismo, mas por não estar com um bom condicionamento físico, alcançou apenas o quarto lugar. “Quando subi pela primeira vez no palco, vi que aquilo era o que eu queria pra mim. Comecei a focar no treino e na alimentação”, expressa Jeferson. O atleta relata que as pessoas o chamavam de louco por comer quase 40Kg de batata por dia e 1Kg de frango diário. “Tirava dinheiro de onde não tinha. Precisava escolher, ou comprar roupa ou se alimentar, e eu preferir me alimentar”, completa o fisiculturista. ANABOLIZANTES Para Jeferson Santos, hoje o uso de ergogênicos é normal. Tratam-se de substâncias utilizadas para melhorar o desempenho esportivo e a recuperação após o exercício. E, geralmente, são utilizados para fins terapêuticos e também para aprimorar algumas partes dos músculos. Ele ainda conta que grande maioria dos bodybuilding usam anabolizantes e alerta que muitos que tomam acabam se prejudicando e levando até a morte. “Eu não precisei usar, mas se um dia eu precisar, porque não?”, declara. “Fui classificado para o sul-americano que ocorrerá dia 07 de setembro, no Paraguai, em Assunção”. Antes do campeonato, há um pré-júri que define quem está possibilitado a competir. Dessa forma, os ganhadores da etapa sergipana têm direito a participar do campeonato brasileiro e, os vencedores do brasileiro, estarão aptos a competir no sul-americano. Quem passar por esse último terá a chance de disputar o Mister Universo. As principais federações são a National Amateur Body-Builder’s Association (NABBA) e a International Federation of Body Buildingand Fitness (IFBB). Jeferson faz parte da federação NABBA e a sua categoria é do Class 1, para atletas acima de 1,79m. O critério avaliado nos atletas é simetria. É preciso ter o conjunto completo, um corpo bonito, definido, denso e vascularizado. O campeão de cada class ainda tem a oportunidade de disputar o over round que é o melhor da noite.

OSTENTAÇÃO

PRECONCEITO

Para Jeferson, no Brasil isso ainda não acontece, mas lá fora, nos EUA, o campeonato mais conhecido é o Olímpia, disputado em Las Vegas em um espaço luxuoso. A premiação de um misterolímpia chega a mais de 600 mil dólares. Em 2013, o prêmio foi de um milhão de dólares. No Brasil, não há premiações maiores devido aos poucos patrocinadores que apoiam e investem no esporte.

“Minha família me apoia, mas as pessoas nas ruas tem muito preconceito. As pessoas passam e comentam: ‘Vai bombado!’ ou ‘Olha o homem bomba!’. Isso é muito chato, mas tenho que relevar. Eles pensam que sou o cara que só vive na academia, só tomando bomba para se mostrar na rua que é o que muitos fazem, no caso de muitos que não são atletas”, desabafa.

DIETA A dieta começa oito semanas antes do campeonato. Antes de competir, o atleta chegava a fazer oito refeições por dia em grande quantidade, com 800g de comida por refeição. E na pré competição, ele diminui para 200g. Diferente da especialista em nutrição, Jeferson pondera que o ciclo de ganha e perda não é prejudicial, pois há um período de descanso entre uma competição e outra. “O que comemos é muito saudável, não comemos frituras e nem ingerimos refrigerantes. Até hoje não vi nenhum bodybuilding morrer por causa de dieta”, disse.

O fisiculturista conta que ao se olhar no espelho, vê um cara em busca de uma perfeição que não pode ser achada, mas que ele está disposto a ir atrás dela. “Estou muito longe ainda do que eu quero, pretendo conquistar o sul americano e garantir uma vaga no mister universo”, explica.

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TECNOLOGIA ENTRE O VÍCIO E A NECESSIDADE WhatsApp: o limite entre os dois lados do aplicativo que vem revolucionando a comunicação. Isadora Pinho isadorasaantos18@gmail.com

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ensar em uma comunicação moderna, instantânea, prática e ao mesmo tempo divertida, é pensar hoje, no WhatsApp, ou para os mais íntimos, apenas “whats”. Ou zapzap. Essa tecnologia reforça o quanto as pessoas são dependentes de relações, e por isso, fica cada vez mais raro encontrar alguém que não possui esse aplicativo. Ligações? SMS? Estes estão sendo substituídos, já que as pessoas podem conversar em tempo (quase) real com várias outras ao mesmo tempo. Pedir o número de uma pessoa se tornou inadequado, as pessoas querem agora “o seu whats”. Nesse universo, as mudanças são inerentes e constantes, a cada atualização, uma novidade. Agora não basta apenas enviar uma mensagem e esperar a resposta. É preciso saber se

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TECNOLOGIA empresa, campanhas de vendas, dentre outros assuntos. Cada supervisor, por sua vez, cria o seu grupo adicionando os funcionários da loja. Nesse, são passadas informações pertinentes à loja, frases e vídeos motivacionais, e é claro, também existe o momento de descontração e entretenimento com o grupo”, afirma Tiago. OUVINDO OS ESPECIALISTAS “Hoje, estar conectado é meio que uma regra para viver em sociedade, me sentiria perdida sem o WhatsApp”, Maíra Sandes, estudante de medicina. A opinião da estudante ref lete a realidade da nossa sociedade, onde a comunicação é necessária e o auxílio de ferramentas, como o WhatsApp, é essencial para qualifica-la. Mas o uso desse aplicativo não apresenta apenas benefícios. “Considero-me dependente do WhatsApp, porque deixo o celular sempre ao meu alcance. Não consigo ficar mais de uma hora sem ver, só quando estou dormindo (risadas)”, afirma Maíra. Essa dependência vem se tornando comum entre os usuários que não se veem mais sem essa tecno-

chegou e se foi visualizada. Quantas pessoas já ficaram com raiva quando viram aqueles dois tracinhos azuis e nada de resposta? Quantas pessoas se sentiram “deslocadas” do mundo quando o WhatsApp ficou sem funcionar? Muitas outras se conheceram, se aproximaram e resolveram diversos problemas com o simples teclar neste aplicativo. Sua funcionalidade adentrou o mundo das comunicações e facilitou a interação de diversas pessoas. Nas eleições desse ano, por exemplo, vários candidatos (senão todos) utilizaram o WhatsApp para divulgar suas campanhas e interagir com seu “público”. Não é diferente com diversas empresas e seus colaboradores que se adequaram ao novo meio para garan-

tir melhores resultados diante de seus clientes. Para Tiago Santos, supervisor da IBI Promotora de Vendas – Aracaju, as empresas precisam se adequar às novas realidades de mercado, principalmente aos avanços tecnológicos que tem contribuído consideravelmente para estreitar a relação “cliente x empresa”. Esse aplicativo também agregou diversas vantagens na comunicação interna da empresa, pois além de ser uma comunicação barata, consegue atingir uma grande quantidade de pessoas de forma rápida e em tempo real. “Temos um grupo criado para os supervisores, onde são passadas informações a todo o momento, desde f lash de vendas às comunicações atualizadas sobre normas, procedimentos da

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ENTREVISTA

Vitor Braga Online

O que é o whatsapp? É uma ferramenta para comunicação nos dispositivos móveis na perspectiva de um instant messenger. Qual a funcionalidade desse aplicativo? Poder conversar com as pessoas num fluxo de conversação diferente de outros meios, já que este é utilizado em dispositivos móveis e permite a interação “a qualquer hora”. Como surgiu esse aplicativo e o que marcou sua trajetória até hoje? Foi criado em 2009, por Brian Acton e Jan Koum, com o intuito de materializar a ideia de mobilidade e praticidade na comunicação. Em 2012, já alcançava cerca de 10 milhões de mensagens. Em 2013, alcançou a marca de 250 milões de usuários ativos e 25 bilhões de mensagens enviadas e recebidas por dia. Em 2014, foi vendido para o Facebook, que pagou 19 bilhões por sua aquisição. Hoje o seu forte, além da mobilidade nas conversações, é a criação de grupos, que permitem maior interação e divulgação de informações.

Charge: Yves Deluc logia. Para a estudante, esse vício modificou alguns hábitos de sua rotina, como a perda de foco nos estudos, por exemplo. “Quando estou estudando tenho que deixar o celular longe do alcance de minhas mãos, porque já é algo mecânico, mas não consigo ficar muito tempo sem ver”, conta. A psicóloga clínica, Ilza Donald, explica que isso normalmente acontece devido aos benefícios ofertados pela tecnologia. “O usuário fica tão voltado para os benefícios que não percebe o quanto se torna dependente dele, mas nosso cérebro é um computador natural, cabe a nós mesmos saber equilibrar e dominar as nossas ações”, ressalta. Outro problema, causado pelo uso (excessivo) do WhatsApp, é a mudança nas relações sociais, uma substituição: deixar o real e se contentar apenas com o virtual. Como diz o grande McLuhan em seu livro, “Os meios de comunicação como extensões do homem”, muitas pessoas são mais sociáveis utilizando uma tecnologia do que num ambiente com várias outras pessoas. Esse comportamento facilita o distanciamento do mundo real e uma aproximação do mundo virtual. Essa é a preocupação. “A comunicação que se

estabelece mediada pelos ‘bate-papos’, parte do entendimento de que ‘ele vai ficar lá e eu aqui’, o que gera um nível de segurança, mas ao mesmo tempo, talvez, a pessoa perceba em algum momento uma falta de sentido para aquela experiência, porque tem coisas que não serão expressas pela fala, mas sim pelo olhar, pelo toque, que muitas vezes abrimos mão, quando estamos envolvidos com essas tecnologias”, afirma a psicóloga e professora da Universidade Federal de Sergipe, Danielle de Gois. O aplicativo, como forma de substituição, proporciona uma falsa socialização à medida que não vai aproximar “pessoa - pessoa”, mas sim uma tecnologia sempre interferindo nessa relação (superficial). Por isso, é importante saber dosar as relações e utilizar o WhatsApp como “um meio”, e não como “ única forma” de interação. “A tecnologia pode aproximar à medida que a utilizamos não como substitutiva, mas como um aparato que está a nosso serviço, e não nós a serviço dele. É um recurso que podemos usar para marcar um encontro com alguém, por exemplo, e não como um impedimento de encontrá-lo por já estarmos satisfeitos com as trocas de mensagens”, diz a psicóloga.

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ergipe é um paraíso quando falamos de sua culinária, rica em sabores, em temperos e condimentos. Seus atrativos e derivados do milho como bolos, canjicas, pamonhas, nhoque e pudins compõem o tradicional café da manhã, enquanto que os frutos do mar como sururu, ostra e camarão, estão na maioria dos pratos principais, servidos tantos nos restaurantes tradicionais como nos mais sofisticados. É toda essa diversidade que faz da gastronomia sergipana uma das mais requisitadas do nordeste.

Aline Souza silvalinepa@gmail.com os pratos mais tradicionais, como o pirão de capão e o bacalhau no gogo, este último servido todas as sextas-feiras. O restaurante do seu Gonzaga, assim como é conhecido, é voltado tanto para os turistas quanto para o público local. “Temos 31 anos de tradição, então, não tem como não servir ao público local, porém, os turistas aqui não faltam. O nosso prato principal, o pirão de capão, acompanha a nossa trajetória e por isso é o mais requisitado, tanto pelos turistas quanto pelos conterrâneos, além de ser a cara do nosso

Quem visita o estado não esquece o gostinho tipicamente regional, seja nos pratos principais, nas sobremesas, petiscos, sucos ou aperitivos, a comida sergipana é mesmo marcante. Em um passeio pela capital Aracaju, vamos mostrar um pouquinho do que encontramos aqui, quando o assunto é a riqueza do estado, ou seja, a boa comida Alguns restaurantes, por exemplo, têm o churrasco e marisco como pratos principais, é o caso do “Recanto Comida Caseira do Sílvio”, o restaurante trabalha basicamente com comida regional e está situado na região central de Aracaju, próximo ao Ceasa. Já outros, como o restaurante de seu Gonzaga, situado no mercado de Aracaju, ao lado do restaurante Caçarola, já tem fama quanto aos pratos servidos, que vão desde o pirão e as moquecas de peixe, de camarão, de bacalhau e também, o pirão de camarão, até

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A culinária como atrativo turístico não é novidade, e em Sergipe, ela ganha uma composição diferente, são tantas as variedades de alimentos e especiarias, que o resultado é um cardápio variado e o melhor é que não importa o tipo de estabelecimento, simples ou requintado, você sempre vai encontrar uma porção de pratos de dar água na boca. Os preços sempre muito convidativos, funcionam como um atrativo a mais, para quem só quer experimentar o tempero sergipano.

estabelecimento”, argumenta seu Gonzaga, dono do restaurante. Dona Carminha, 32 anos de cozinha e esposa de seu Gonzaga, nos explica como é feito o prato mais pedido do restaurante, o pirão de capão. “Primeiro a gente corta o capão, cozinha bem cozinhadinho, depois côa, tira o caldo, mexe o pirão até o ponto, grosso ou fino, como a pessoa goste, e depois é só servir com vinagrete e arroz. É muito gostoso, tanto que é o prato que mais sai”, nos explica Carminha. Outro restaurante que nos chamou a atenção foi o Caçarola, da proprietária Meg Lavigne, seja pelos detalhes do ambiente, pelo atendimento, ou pela

presença constante de turistas, mas principalmente pela variedades dos seus pratos, sobremesas e sucos. No cardápio, encontramos o prato mais pedido, o camarão de cueca, além de outros como, caçarola de frutos do mar, moqueca sergipana, pescada aracajuana, camarão da barra. Contamos também com sobremesas como amor perfeito, negão gostoso, veia fogosa e a mais pedida, a tal da moça virgem. O restaurante que está localizado na parte superior do mercado, com vista para o Rio Sergipe, propicia um ambiente super agradável e natural para quem gosta de comer com tranquilidade, o local que também é um ponto turístico na cidade Aracaju, a Torre do Relógio, atrai turistas de toda parte. Além dos pratos principais os restaurantes de Sergipe trabalham com o melhor dos ingredientes quando o assunto é comida local. O carro chefe da região, o caranguejo e camarão, estão presentes na maioria dos restaurantes de pequeno ou grande porte, a exemplo, o pirão de camarão, presente na maioria dos cardápios dos restaurantes locais. Do camarão e do caranguejo, é possível criar uma infinidade de novos pratos, como o bobó de camarão, caldinho de camarão e de caranguejo, quebradinho de caranguejo ao creme, risoto de camarão, camarão na moranga, estrogonofe de camarão, moqueca de camarão, casquinha de caranguejo, dentre outros. Para o café da manhã, o registro da região já se apresenta cedinho, estampado num cardápio variado e colorido, com gostosuras como a macaxeira com carne do sol, o cuscuz com galinha cozida, inhame, charque, bolos, tapiocas, batata doce, sucos diversificados das frutas da estação e muito mais, tudo bem regional, tudo tipicamente sergipano. Embora a grande maioria dos restaurantes que trabalham com a comida da região sejam bem apreciados e contam

Igor Sá

com grandes números de turistas, como o Caçarola, o que nos chamou a atenção foi o fato de não possuírem nenhum vínculo com empresas de divulgação, e não terem também, nenhum sistema de assessoria que vise ampliar seu empreendimento de modo a aumentar a sua clientela, mas mesmo assim, eles se sobressaem com destaque no mercado. Igor Sá

Os atrativos turísticos da culinária sergipana do tradicional ao mais requintado

Igor Sá

O SABOR QUE SERGIPE TEM estava em Sergipe por curiosidade de conhecer o estado. “Confesso que fiquei fascinado com tudo, a emoção aqui é bastante diferente e eu já vim de São Paulo com indicação do restaurante Caçarola. Uma amiga minha, que inclusive morou aqui 6 anos me disse, oh, vai lá no Caçarola que você vai gostar, é um lugar tão convidativo, a gente se sente em casa. Ela me disse isso e... ela estava certa! Amei conhecer o Caçarola, tanto que pretendo voltar mais vezes”, explica o turista.

alimentos, criam novas receitas e enriquecem cada vez mais a gastronomia sergipana. A culinária sergipana é rica por temperos específicos que diversificam o sabor dos alimentos, entre eles, o uso do coentro em grande parte dos pratos culinários. Dentre as suas especialidades estão as comidas relacionadas às espécies litorâneas, fáceis de serem encontradas devido ao ativo movimento da atividade pesqueira.

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Na oportunidade, pedimos para Meg nos explicar bem rapidinho, os ingredientes que fazem do “camarão de cueca” o prato mais pedido do cardápio. “O Camarão de cueca é um camarão feito com leite de coco, azeite de dendê, coentro e cebolinha. Acompanhado com pirão de camarão, vinagrete, farofa e arroz branco. Na semana temos uma variedade no cardápio, porém, o camarão de cueca é o único prato que sai a semana toda, por ser muito solicitado”, conta Meg. Veja o que diz seu Gonzaga, com anos de experiência no ramo. “A propaganda mais importante do mundo é o boca a boca.” Tanto para seu Gonzaga, como para Meg Lavigne, dona do restaurante Caçarola, procurar um meio de divulgação nunca foi problema, para ela o que conta é o trabalho profissional. “Quando se trabalha com honestidade e seriedade, as coisas dão certo. Então é isso! Quem divulga o meu restaurante e os serviços aqui prestados, são os próprios clientes, que gostam e acabam indicando para outras pessoas, ou ainda, não sei, divulgam na internet. Quem sabe mais pra frente, com mais organização, eu pense sim, nesta possibilidade, o que pretendo no momento, é ir aprimorando o meu estabelecimento, juntamente com os serviços que ofereço. Estou trabalhando para isso,” diz Meg. Anderson é paulista, tem 37 anos e

Alem das múltiplas opções de restaurantes que se encontra no mercado central de Aracaju, na Passarela do Caranguejo ou em outros locais da orla da cidade, também é possível encontrar mais umas dezenas de restaurantes, todos eles oferecem o que Sergipe tem de melhor em sua culinária. Nesses restaurantes são servidas as casquinhas de siri recheadas com a própria carne do crustáceo e os caldinhos de sururu, ostra e camarão, tudo isso, para quem gosta de muitas opções tanto de lugar como de paladar. Outra coisa interessante é que, todas essas maravilhas da culinária sergipana são vindas dos lares das cozinhas das donas de casas, é lá onde as receitas são aprimoradas e de tão boas, conquistaram espaços nos restaurantes e no paladar de quem vem de fora. São as donas de casa que se dedicam no manuseio diário dos mais diversos

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GASTRONOMIA MANGABA: SÍMBOLO DE SERGIPE Abundante no solo sergipano, a mangaba está incluida na Constituição como a fruta que simboliza o estado. Luzia Nunes luzianunesb@gmail.com

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e você pensa que o caju é a fruta que representa Sergipe, está enganado. A mangaba é, por lei, símbolo sergipano, como estabelece o Decreto Lei 12.723 de 20 de janeiro de 1992, com base na concentração, significado econômico e cultural da mangabeira. A mangaba, de nome cientifico Hancornia speciosa, “Coisa de comer” em Tupi-Guarani, é reconhecida como fruto característico da cultura sergipana, da qual o estado é o maior produtor do país, 51,6%, metade da produção, como informa o Relatório de Conjuntura Mensal de junho de 2014 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a partir de dados de 2011, fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), onde consta que são extraídas 722 mil toneladas da fruta por ano. Há uma vasta gama de pratos em que a mangaba é o principal ingrediente: doces, licor, suco, picolé, sorvete, trufas, tortas, bombons e balas. É contestante que programas de TV sobre culinária ou com temática agrícola dediquem espaço a apresentação de receitas nas quais essa fruta é o ingrediente principal, como mousse, compotas e bolos, que enriquecem ainda mais as opções para seus apreciadores. A presença do látex contribui como um dos elementos mais fortes da mangaba, ele proporciona o toque final da degustação do suco da fruta, através de um sutil grude nos lábios. Essa característica é responsável por levar algumas pessoas a definir rapidamente a mangaba como “a fruta que gruda”. Esse mesmo elemento foi objeto de pesquisa da UFMG em 2010 a respeito de seus efeitos medicinais no combate a hipertensão. Uma rápida busca na internet oferece considerável número de resultados sobre as qualidades curativas da mangaba sendo empregada em diversos tratamentos ca-

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André Teixeira

seiros, o que traz um novo olhar sobre o uso dessa fruta, que não se restringe ao alimentício. A comercialização da mangaba se dar, principalmente, nas férias livres, em pontos das rodovias do estado, no Mercado Central e nas ruas da cidade. O preço pago ao extrativista é de, em média, R$ 2,55, de acordo com a Conab (2014). Esses produtos se encontram disponíveis na Unidade de Recepção e Distribuição dos Produtos das Catadoras de Mangaba em Aracaju, na Rua Moacyr Lopez Poconé, 350, Conj. dos Motoristas, bairro Luzia. Outro elemento da mangaba que recebe muita atenção é o leite (látex), retirado quando a fruta ainda está verde, que é usado na elaboração de produtos cosméticos e medicinais. SUBSISTÊNCIA E CULTURA O cultivo e a extração da mangaba em Sergipe estão atrelados ao universo de mulheres dos municípios de Indiaroba, Barra dos Coqueiros, Estância, Japaratuba, Japoatã e Pirambu, conhecidas como Catadoras de Mangaba. Esse trabalho é responsável por gerar renda de várias famílias, através do Projeto “Catadoras de Mangaba Gerando Renda e Tecendo a Vida em Sergipe”, criado em 2011 pela Associação Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai), com patrocínio

da Petrobrás, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe e apoio do Movimento Catadoras de Mangaba. Seu objetivo é fortalecer e sustentar as comunidades extrativistas da mangaba, a implantação de noções de cooperativismo, agroecologia, associativismo e tecnologia social. Na primeira etapa, focou o cadastramento de 765 catadoras. Sua linha de ação traz como proposta a geração de renda e trabalho, tratando, ainda, de temas como gênero, igualdade racial e comunidades tradicionais, este último materializado pelo CD “Consolidação da Cultura Tradicional”. Atualmente, o projeto está na segunda fase, enquadrada no período de 2013 a 2015. Nesta, o destaque é o registro da Cooperativa de Comercialização das Catadoras da Mangaba do Estado de Sergipe e a criação da Identificação Geográfica para os produtos da mangaba com foco na cultura da mangaba nacional e internacional, como é exposto no site http://www.catadorasdemangaba. com.br/, lançado em 2011 para fornecer informações do universo das catadoras de mangaba ao público. O cenário não é somente favorável para a cultura da mangaba, como afirma o Movimento Catador de Mangada (MCM), criado em 2007, que luta contra a perda de espaço para a plantação de cana-de-açúcar e a atividade turística por meio da instalação de hotéis e a consequente especulação imobiliária nas áreas de plantio da mangabeira. A ideia é defendida também pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no mapa divulgado em 2010 sobre o extrativismo da mangaba em Sergipe. O texto que acompanha o relatório recebeu atenção do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que o publicou em seu site.

06/05/2015 12:56:53


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