Vale um coração de ouro

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Ano de 2009. A escola em que minha filha estudava realizou um concurso com o tema “A minha história com meu filho merece um coração de ouro”. Quis participar. Escrevi. E ganhei o concurso. Ano de 2014. Gostei demais que minha filha ilustrou a história. Ganhar foi bom. Trazer essa memória foi um novo “descobrir”. Tudo isso foi muito valioso.


Escrita por Vanusa Lima

Ilustrada por Débora Lima

Vale um coração de ouro



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Ser mãe é desejar ter um filho como Ana desejou. Ser mãe é proteger como Joquebede protegeu. Ser mãe é preparar para a vida como Eunice preparou. Ser mãe é amar incondicionalmente como Maria amou.


Lembro-me quando você ainda estava no meu ventre. Todos os dias, após o banho, enquanto passava creme pelo corpo, eu acariciava minha barriga em frente ao espelho e ficava conversando com você, imaginando como seria quando estivesse comigo.

Quando saía da faculdade aos sábados, sempre passava no Parque da Água Branca, perguntava se você queria tomar água de coco e um sorvete. Então, sentava num banco e tomava aquela água de coco, que delícia! O canto dos pássaros, as árvores, plantas e flores à nossa frente. Antes de ir embora, comprava um delicioso sorvete, e caminhava um pouco pelo parque.


Antes de dormir, à noite, conversava com você enquanto seu pai massageava minha barriga com creme, muito creme. Seu pai também participava da conversa. Fazíamos planos. Depois ligava o rádio para escutarmos músicas. Calmas músicas para que pudéssemos dormir tranquilas. Hummm, foi bom esperar você!

Quando senti as dores avisando que você já estava para nascer, senti medo e alegria. Medo por acontecer algo errado e não ter você comigo, em não viver os dias de minha vida com você. E ao mesmo tempo sentia alegria, por saber que você estava chegando, estava curiosa para saber como seria seu rosto, seu corpo, sua voz. Como olharia para mim, seu sorriso, suas mãos me tocando. Nossa quanta ansiedade!


Eu me esforcei ao máximo para o parto ser normal, eu não queria perder um momento quando ele acontecesse. Desde quando saísse de dentro de mim até quando o médico a colocasse em meus braços. E foi assim que aconteceu, assisti todo o parto, e quando me apresentaram a você, olhei bem para que depois não me levassem ao quarto a criança trocada. Coisas de mãe!

Já no meu quarto, quando falaram que trariam você para mim, resolvi vestir a minha melhor roupa. Sentia-me confortável, e pronta para amamentá-la. Você veio. Lembro-me como se fosse hoje, uma emoção, a mais profunda que já tive. Você era tão pequena em meus braços. Você não chorava, olhava fixamente para mim, com aqueles olhos não muito pequenos e brilhantes.


Conversei tanto com você naquela noite, e você parecia entender. As enfermeiras que passavam pelo quarto e corredores diziam: “Mãe vá deitar, descanse, pois a jornada daqui pra frente será grande, terá muito tempo para falar com ela”. Uma mãe, companheira de quarto, também falava: “Ela não entende nada, não perca tempo, você faz desse jeito porque é a primeira filha, vai ver quando tiver outro filho”. Mas não me importava com aquela falácia, eu sabia que você entendia o que estava dizendo, pois eu também conversava muito com você quando estava no meu ventre. Éramos amigas e seríamos para sempre. O seu primeiro banho, fui eu que dei, lá mesmo no hospital. Eu explicava tudo que estava fazendo com você, enquanto passava o sabonete, jogando a água em seu corpinho, depois ao secar, vestindo a roupa e quando a amamentava. Que grande começo de amizade, hein!?


O tempo foi passando, e tudo que fazia era sempre com você, compras de supermercado (sentada no carrinho), feira, limpar a casa (com um paninho limpava o seu andador), fazer a comida (batia numa panela com a colher de pau e gostava de lamber a vasilha da massa de bolo de chocolate, até hoje), passear, visitar os nossos amigos, ir ao restaurante. Em tudo você participava, você realmente era a minha amiga.

Relembrar esses momentos me faz perceber o porquê você é tão especial para mim, e porque a considero como a minha melhor amiga. Você hoje já é uma mocinha, a minha mocinha. Dá-me conselhos, me ajuda, é minha companheira nos diversos trabalhos que faço por aí afora. Você sabe o quanto trabalho, não é mesmo? Até porque está sempre comigo.


Eu não tenho dúvida que o Senhor nosso Deus separou você especialmente para mim. Ele foi cuidadoso na escolha, por isso, como se fosse meu, transcrevo aqui um pequeno “pedaço” da oração de Ana agradecida pelo nascimento do seu filho Samuel: “O meu coração está cheio de alegria colocada pelo meu Deus. Por causa da filha que o meu Deus deu para mim, estou feliz. Não existe outro Deus tão maravilhoso como ele”.

Assim, eu só tenho que agradecer a este Deus que me abençoou com uma filha tão especial e que a cada dia a torna mais especial ainda.

Filha, realmente a nossa história é digna de um coração de ouro.



As mães citadas, Ana, Joquebede, Eunice e Maria, fazem parte de uma extraordinária história, na Bíblia Sagrada.



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