A confusão no Mar do Conhecimento

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NUNO CARVALHO E MARTÍN
KEITE PACHECO
ILUSTRAÇÕES
CARVALHO

Para as crianças de todos os sete mares

Era uma vez um mar encantado: o Mar do Conhecimento. Nele, todas as criaturas nadavam com entusiasmo e curiosidade. A extensão desse mar era infinita. Ele se renovava incessantemente e circulava com abundância novos cursos, revelando correntes muito distintas, misteriosas, maravilhosas. Nunca seria possível compreender em detalhes toda a sua riqueza, tamanha era sua diversidade.

Um dia, na costa oeste de uma região muito poderosa ao norte, surgiu um polvo ambicioso chamado Gugou. Ele era rápido, esperto e sonhava em dominar todo o poder que o Mar do Conhecimento continha.

O polvo Gugou era conhecido por sua avareza e soberba. Ele tinha pressa em vigiar e controlar cada coisa que encontrava para conquistar moedas, pois acreditava que assim seria a criatura mais poderosa de todo universo. Seus tentáculos iam crescendo a cada nova empreitada. Suas ventosas eram pegajosas e faziam as coisas douradas grudarem mais do que as outras.

Com o passar do tempo, os tentáculos do Gugou foram ficando imensos e o Mar do Conhecimento ia se tornando cada vez mais opaco e xôxo. As cores e correntes marinhas, antes tão misteriosas e diferentes, foram ficando repetitivas. O polvo Gugou crescia ainda mais quando capturava moedas ao vigiar cada habitante do oceano.

As criaturas marinhas começaram a se incomodar e perceberam que, para impedir o polvo Gugou de sufocar o Mar do Conhecimento, precisavam unir suas forças e encontrar uma solução criativa. Eles sabiam que tinham que agir rápido antes que o polvo conseguisse interromper de vez os fluxos oceânicos e bloqueasse para sempre os mistérios infinitos do mar.

Depois de muita deliberação, alguns peixes decidiram que a chave para enfrentar o polvo Gugou seria fazê-lo voltar ao seu tamanho normal.

Eles acreditavam que, se o polvo diminuísse seus tentáculos gigantescos, ele perderia sua ambição descontrolada e se tornaria mais pacífico. Os peixes começaram a trabalhar juntos, movendo-se rapidamente e formando círculos ao redor dos braços gigantes do polvo. Eles nadaram em sincronia, criando um redemoinho que revolucionou tudo ao redor.

Um cardume do sul teve a ideia de coletar e organizar o que achavam no Mar do Conhecimento, assim como o polvo Gugou dizia fazer. Mas, eles não escolhiam as ondas que tinham mais moedas. Esses peixes viajavam por partes inexploradas, em trechos muito remotos onde viviam criaturas pequenas e frágeis, mas incrivelmente belas. Ao ajeitar o que acharam, passaram a contar a novidade com entusiasmo. Todos ficaram maravilhados em conhecer tanta sabedoria que estava escondida.

Um outro cardume que vivia nas margens do oceano, decidiu que iria tecer uma rede bem forte, uma rede de informação com centros de transmissão. Eles queriam que outros peixes também se reunissem para enfrentar os tentáculos do polvo Gugou. Por isso, colocaram conchas em cada um dos nós da rede. Essas conchinhas de todos os tamanhos e origens faziam com que as mensagens chegassem mais depressa e com mais força em muitas partes do Mar do Conhecimento.

Assim, pouco a pouco, o mar foi ficando agitado. Cada criatura, não importava seu tamanho ou força, oferecia uma contribuição diferente e foi a diversidade e a união que fizeram os tentáculos do polvo Gugou diminuírem. Com o tempo, ele foi retomando seu tamanho normal. O fluxo das águas foi ganhado cor e vida novamente.

O Mar do Conhecimento nunca mais foi o mesmo, mas se tornou ainda mais bonito depois dessa confusão.

As criaturas marinhas aprenderam a lição: Ninguém se liberta sozinho. Todos se libertam em comunhão.*

7 anos, ilustrador, editor de vídeos e animador Gosta de brincar, desenhar, ler mangás e assistir animes Seu sonho é viajar para o Japão.

Mãe, pesquisadora e comunicadora. Gosta de ler, ouvir podcasts e cozinhar. Usa pantufas em casa e adora encontrar joaninhas.

5 anos, pirata, piloto de carrinhos e atleta de skate de dedos Gosta de brincar de esconde-esconde, dançar e lutar karetê É muito bom em fazer rimas.

São Paulo, julho de 2023..

Este livro foi produzido como parte do processo de avaliação da disciplina “Comunicação e Trabalho por Plataformas”, ministrada pelo Prof. Dr. Rafael Grohmann, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

O objetivo deste projeto é comunicar um conceito discutido na disciplina a um público mais amplo por meio de um produto midiático e/ou artístico. A história criada tem como base o artigo intitulado “Informática do Oprimido”, escrito por Rodrigo Ochigame e publicado na Logic Magazine em 31 de agosto de 2020.

*A última frase do livro é uma adaptação da citação de Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido”, publicado em 1968: "Ninguém liberta ninguém Ninguém se liberta sozinho , Os homens se libertam em comunhão.".

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