REDACÇÃO:
RUA 1- DE MARÇO, 66 (Edifício da Bolsa)
RIO D £ J A N E I R O DIRECTOR A N N O II
Abilio de Carvalho
Direcror-gerente Cândido de OÜVeíra MARÇO
DE 1922
NUM,
A INDUSTRIA DE SEGURO! O desenvolvimento que tem tido na edade modernissima a industria dos seguros modificou profundamente as regras jurídicas que presidiam antigamente os contratos relativos aos riscos marítimos. Hoje, cada risco é considerado como elemento de uma série continua de riscos homogêneos; cada prêmio, como contribuição dos segurados para o fundo collectivo, que é administrado pela companhia e do qual se tiram as indemnisações em favor daquelles que são designados pelo destino . Desta maneira se comprehende a funcção social e econômica do seguro destinado a distribuir equitativamente a riqueza entre aquelles que têm mais necessidade delia e a partir dessas premissas se determinam as regras jurídicas que protegem essa funcção. Sc assim se pôde comprehender a razão de ser das cláusulas rigorosas, adoptadas com uniformidade em todos os ramos dessa industria, em que se exige da parte dos segurados tanta exactidão na indicação dos riscos quanta precisão na denunciação dos sinistros. Estas idéas que não são originaes, mas oriundas de um notável publicista, professor de direito commercial numa faculdade estrangeira, precisam ser conhecidas até dos próprios seguradores brasileiros, que empiricamente exercem essa industria sem nenhum conhecimento e sem nenhum 'esforço para saberem ao menos a significação verdadeira dos termos usados nos contratos que assignam ! Vem dahi, talvez, o insuccesso de algumas emprezas e a marcha retardada de outras. A anciã por uma boa receita e a sede de ganho de corretores insinceros levam as companhias a acceitar os riscos de navios incapazes de navegar ou dirigidos por capitães de ruim fé de officio, fazedores de naufrágios, quer por impericia, quer em virtude de mandato criminoso dos armadores ou a segurarem pequenos estabelecimentos, em más condições, por quantias elevadas, despertando assim nos segurados a lembrança de especular com o seguro, incendiando-os. Por seu lado, os segurados suppõem as Com-
panhias entidades fabulosas, de riquezas inesgotáveis que se multiplicam maravilhosamente e devem chegar para attender ás suas reclamações exaggeradas, visto como, até nos casos de sinistras innocentcs, a indemnisação> se converte em lucro para elles. Não é só velhacaria, mas ignorância. Do contrario, saberiam que no systema do seguro elles não deixam de formar uma associação de mutualidade, tal qual succede no seguro mutuo. Para aquelle que faz o seguro para se preservar de um acontecimento possível, que destrua a sua fazenda e bens, para dormir tranquillo, sem receio, do imprevisto, muito deve importar a boa direcção da companhia seguradora. Quanto maiores forem os seus ganhos e as suas reservas tanto mais elle estará garantido num caso de sinistro que deva ser indemnisado. Para os accionistas das Companhias, a escolha da direcção deve ser motivo de grande escrúpulo. Delia depende a prosperidade, o credito e a honra da empresa. O trabalho é árduo, o ganho difficil. Os directores têm de fazer face, sorrindo as vezes, ás pretensões as mais deshonestas; têm de dizer "não", com delicadesa, a pedidos feitos com insolencia ou com humildade de mendigo. A calma lhes é absolutamente necessária. A industria de seguros, repetimos, não pôde ser considerada fonte abundante de proveitos fáceis. Ao contrario, ella conta difficuldades de toda a ordem. E' preciso muito tacto Dará seleccionar os seus freeuezes. evitando deligentemente admittir segurados susoeitos e animados do deseio de explorar a instituição, em proveito próprio. As emoresas que operam sem a indispensável prudência se têm visto forçadas a um prematuro desapparecimento. O caracter estricto da indemnização dos prejuízos dírecta e immediatamente decorrentes da realização do risco assegurado, irrita não raro o segurado, que não tem desse contrato uma idéa perfeita.