ENTREVISTA | Mauro Oddo Nogueira / Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
[Por: Vagner Ricardo Foto: Elza Fiuza / João Viana]
O DESAFIO DE AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
O
consenso de que as micro e pequenas empresas devem constar das políticas públicas parece ser universal. O perigo, porém, mora nos detalhes dos programas de incentivo. Não é diferente no Brasil, onde se busca acertar a mão na modelagem ideal. Uma contribuição aos debates está disponível no portal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), jogando luzes sobre áreas estratégicas para inspirar os formuladores das políticas públicas. Trata-se do livro “Um pirilampo no porão: um pouco de luz nos dilemas da produtividade das pequenas empresas e da informalidade no Brasil”, do pesquisador Mauro Oddo Nogueira. A mensagem é clara: fortalecer micro e pequenas empresas é sempre recomendável, sobretudo em um país que precisa tirar do desemprego milhões de trabalhadores afetados pela recente crise econômica ou pelo baixo crescimento na sequência. O caso brasileiro é cercado de desafios. As pequenas e micro apresentam baixa pro6 | REVISTA DE SEGUROS///
dutividade na média e pagam salários reduzidos, o que significa falta de capacidade de reter talentos, de elevar a renda nacional e de puxar o crescimento econômico de forma mais vigorosa, como ocorre com os pares das nações mais desenvolvidas. O Brasil já dispõe de alguns marcos regulatórios importantes, mas seus efeitos não são uniformes entre os agentes por inúmeros fatores. Logo, ajustes são necessários. “Não adianta queimar mais lenha na locomotiva sem soltar os freios dos vagões”, lembra Mauro Nogueira. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Revista de Seguros. Por que é tão necessário ter política assertiva de incentivo às pequenas e médias empresas brasileiras. É uma questão estratégica de fato? Mauro Oddo Nogueira: No plano do desenvolvimento econômico, é fundamental ter uma política assertiva de incentivo às empresas de pequeno porte. Isso é estratégico, sim, porque há um volume enorme de empresas
desse porte, que respondem por mais de 70% do pessoal empregado. Então, não se pode pensar em desenvolvimento sem incluí-las. Estamos falando da grande massa que produz no País, porém, com baixa produtividade, o que impacta o desenvolvimento. A produtividade nas pequenas empresas é bastante desigual. Quais as razões? O grau de heterogeneidade da produtividade tem relação, entre outros fatores, com o baixo padrão de renda da população, falta de qualificação da mão de obra e desigualdades sociais e regionais. Isso se reflete no mundo das empresas e gera padrões diversos de produtividade. Repartidos em quartis, o estrato de empresas mais produtivas apresenta uma taxa 20 vezes maior que o quartil mais baixo da economia brasileira. No quartil mais produtivo, estão empresas de grande porte, principalmente as mais ricas e de trabalhadores mais produtivos, com indicadores equivalentes aos padrões internacionais. São empresas globais. Na parte mais baixa do quartil, estão as empresas com produtividade baixa e são majoritariamente de