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Ensaios de

Jornalismo Econômico Produção de conteúdo dos alunos do curso de Jornalismo da PUC Minas São Gabriel N. 0 | Projeto Piloto

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PUC Minas | F aculdade de Comunicação e Artes | 1 . 2016 1


Ensaios de Jornalismo Econômico Produção de conteúdo (textos e infográficos) dos alunos do 5º período de Jornalismo da PUC Minas São Gabriel Projeto gráfico e editorial Profa. Janaina Maquiaveli Chefe do Departamento de Comunicação Social Prof. Ércio Sena Coordenador do Curso de Jornalismo do campus São Gabriel Prof. Jair Rangel Disciplina: Jornalismo Econômico Profa. Janaina Maquiaveli Belo Horizonte Julho | 2016

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Ensaios de

Jornalismo Econômico

Sumário

07 | Introdução Profa. Dra. Janaina Maquiaveli Cardoso 11 | Crescimento industrial pode impulsionar a criminalidade? Joice Lourenço, Lucas Franco, Mateus Calazans e Melissa Andrade 17 | Brasil: uma análise da desigualdade ainda existente Ana Paula Pimenta, Maiara Carvalho e Niquele Fonseca 3


21 | Baixo índice de desenvolvimento humano ainda é um problema para o Brasil Ana Luísa Perdigão Braga e Jaiane Cristine de Souza 25 | Espírito Santo: um estado crescente Clara Senra Coelho Moreira e Izabela Maria de Lima Soares 31 | Crise nordestina e sua evolução: tempestade ou bonança? Bruno Leão, Shara Souza e Sulyen Dantas 35 | Taxa de desemprego entre jovens e distribuição de renda nos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia Ana Clara Moreira, Bruno Luiz de Oliveira e Isabela Martins 39 | Os Tribunais de Conta dos Estados gastam mais do que deveriam em custos de manutenção João Pedro Ramanery 43 | Turismo: um dos grandes pilares da economia brasileira Bruce Lourenço, Cynthia Nogueira e Daiane do Carmo 47 | “E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o de baixo desce” Anasara Moreira, Laís Maressa e Tábata Poline 49 | Nível do desemprego é o maior em uma década Dâmaris Tomaz e Vivian Leite 4


53 | A população brasileira vive cada vez mais, e melhora na qualidade de vida é fator fundamental para a terceira idade viver ativa e feliz Frederik Cortez, João Pedro Oliveira, Julian Cruz e Marco Túlio Minelli 59 | A crise e o beco com saída para os pequenos empreendedores Cecíclia Bohrer e Lorrane Cirino 61 | Jornada dupla: ingresso feminino no mercado de trabalho aumenta, mas mulheres ainda encontram barreiras na hora de cuidar dos filhos Ana Luiza Bongiovani, Daniele Franco e Débora Vidal 67 | As carroças que ainda movem o Brasil Bárbara Angelo 71 | “Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas” Antônio Athanasio

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Introdução Por:

Janaina Maquiaveli

“O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo”.

Historicamente, o Jornalismo Econômico no Brasil sempre esteve, salvo exceções,

Paulo Freire

atrelado à demanda das elites por informações de natureza técnica e estratégica acerca do mundo dos negócios.

Profissionais ligados a diferentes esferas de mercado, tais como empresários, eco-

nomistas, assessores técnicos da iniciativa privada e do governo, conforme ressalta Maria Lúcia Jacobini em “O jornalismo econômico e a concepção de mercado”, formaram e ainda

hoje constituem uma espécie de target privilegiado, vale dizer, das editorias de economia dos grandes jornais, não só no Brasil.

Por outro lado, ou talvez por contingência, é fato que entre os anos de 1970 e 1980 7


as editorias de economia também se consolidaram no campo jornalístico, ganhando em especialidade, técnica e consistência.

No mesmo período, jornais identificados com os conteúdos de economia e negócios,

assim como de política, passaram a integrar um conjunto bastante prestigiado de publi-

cações, como Gazeta Mercantil e Exame, no Brasil; Wall Street Journal e Financial Times, no exterior, tal como destacou Aylê-Salssiê Quintão em “Jornalismo Econômico no Brasil depois de 1964”; “jornais da burguesia”, ele provoca.

No âmbito da formação dos profissionais de Comunicação Social, entretanto, há que

se ultrapassar o princípio de que uma publicação - mesmo que jornalística - é, em primeira

instância, um produto, e como tal, carece de identidade e posicionamento construídos e

percebidos de maneira apropriada. É preciso que os processos de ensino e aprendizagem sejam dialéticos, dialógicos, que se constituam como instrumento de formação técnica, sem dúvida, haja vista os conteúdos programáticos que pautam a condução de cada disciplina;

mas não só. Em meio às crises contemporâneas de linguagem, de direitos, de livre exercício da política e da cidadania, é necessário que, na universidade, e em especial nas Faculdades de Comunicação e Artes, seja ressaltado o sentido gnosiológico da educação, tal como proposto por Paulo Freire, em que educadores e estudantes procuram se posicionar em suas relações com a realidade social à sua volta e além. E se com ética e poética, como nos su-gere Ítalo Calvino em “Seis propostas para o próximo milênio”, tanto melhor. [ ]

Foi esse, portanto, o convite feito aos alunos do 5º período de Jornalismo da PUC

Minas São Gabriel no início do primeiro semestre de 2016: que se debruçassem sobre os conteúdos da disciplina de Jornalismo Econômico, tais como indicadores de macro e microeconomia; fontes relevantes, entre pessoas e instituições; as pautas do dia, muitas vezes

propostas por entidades empresariais; e claro, os gráficos e tabelas de institutos e instituições de renome, representativos da prática e do pensamento econômicos no Brasil.

O objetivo era encontrar em cada informação de natureza econômica aquilo que

lhes parecesse afeito e que, diante de seus próprios interesses e questionamentos, pudesse pautar a produção experimental e ensaística conteúdos de jornalismo econômico. 8


Nosso ponto de partida, cabe explicar, foram as tabelas publicadas pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2015, com a composição do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2013, por unidades da federação.

O resultado é o que se poderá encontrar nas páginas que seguem. Numa semana em

que a União Europeia divulga os resultados dos testes de stress realizados em mais de 50 in-

stituições financeiras da Europa, em busca da capacidade de resistência dos bancos europeus

à crise internacional, creio que os textos a seguir serão uma leitura, no mínimo, auspiciosa: um teste de resistência acerca daquilo com que brasileiros de diferentes regiões se deparam, cotidianamente, quando se trata da produção e da distribuição de riquezas em nosso país. [ ]

A cada estudante, do agora 6º período de Jornalismo da PUC Minas São Gabriel,

agradeço o empenho e a dedicação que exigi em cada uma das minhas [muitas] revisões.

Mas sobretudo agradeço por terem acreditado que poderiam chegar a estes Ensaios de Jornalismo Econômico, a despeito da aridez com que, a princípio, avaliaram os temas de Economia.

Aos professores Ércio Sena e Jair Rangel, meu obrigada pela confiança; e a todos,

boa leitura!

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Crescimento industrial pode impulsionar a criminalidade? Por:

Joice Lourenço Lucas Franco Mateus Calazans Melissa Andrade

Os quatro municípios mineiros que apresentaram os maiores índices do PIB em 2013

também foram os que registraram as maiores taxas de crimes violentos.

Os números relacionados à criminalidade em Minas Gerais, divulgados pela Secre-

taria de Estado de Defesa Social (SEDS) referentes aos anos de 2012 e 2013, mostram uma

realidade cada vez mais frequente no dia a dia dos mineiros: os crimes violentos estão cre-

scendo em determinadas regiões do estado. De acordo com a SEDS, o índice de criminalidade apresentou um avanço de cerca de 20% em Belo Horizonte no período assinalado. Além disso, a cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, registrou um aumento ainda maior, de quase 25%.

Ao analisar os índices levantados pelo Governo Estadual é possível perceber que

diversos fatores perpassam o contexto de crescimento dos crimes. Entre esses fatores, podemos ressaltar o crescimento industrial e tecnológico na capital mineira, em cidades da

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Região Metropolitana como Contagem e Betim, e também em alguns polos do interior, como Uberlândia.

No entanto, é necessário destacar que a violência, de modo geral, é algo muito com-

plexo e difícil de ser definida em uma única palavra. Diversos fatores podem influenciar

direta ou indiretamente este cenário e devem ser considerados para que o conceito seja estudado de maneira adequada. Entre eles o acesso à educação, os níveis de escolaridade e de desemprego, a qualificação da mão de obra, o acesso à moradia e, principalmente, o crescimento econômico de uma região podem estar relacionados à violência.

De maneira geral, percebe-se que as indústrias mineiras estão investindo cada vez

mais em tecnologia e na expansão para envolver todo o mercado, o que resulta em um

quadro de redução da oferta de emprego, uma vez que o alto nível tecnológico muitas vezes dispensa o uso da mão de obra humana e concentra a produção em dispositivos mecânicos.

Assim, o crescimento industrial dos grandes polos de Minas Gerais pode interferir nos dados de criminalidade, como se pode ver abaixo, no caso de Belo Horizonte.

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Para compreender este quadro, a situação de quatro cidades mineiras ajuda a en-

tender melhor o contexto da criminalidade: Belo Horizonte, Contagem, Betim e Uberlândia. Estes municípios concentram algumas das principais fontes de renda do estado, como in-

dústrias, empresas siderúrgicas e tecnológicas, além do agronegócio, que é um segmento mais específico da cidade de Uberlândia.

Observando os dados do infográfico, percebemos que os índices de crimes violentos

continuam registrando aumento no ano de 2016, aparecendo no ranking de criminalidade

do estado como as quatro primeiras colocadas. Segundo o portal Minas em Números, do Governo de Minas, as cidades de Belo Horizonte, Contagem, Betim e Uberlândia totalizaram

mais de 26 mil ocorrências de crimes violentos entre os meses de janeiro a maio deste ano. Este número é pouco mais da metade das ocorrências registradas nestes municípios durante todo o ano de 2013, que totalizaram, naquela época, 50.279 registros.

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Por outro lado, as cidades também apresentaram forte desenvolvimento em suas

indústrias. Contagem, por exemplo, possui mais de quatro mil estabelecimentos industriais, Uberlândia concentra centros de distribuições, Betim abriga a fábrica da FIAT e Belo

Horizonte apresenta um mix de empresas que atendem a variados setores. Desta forma, o

crescimento industrial pode interferir nos índices de criminalidade a partir do momento que esta industrialização não é acompanhada por uma distribuição de renda adequada e por ações em infraestrutura e segurança por parte do poder público.

É o que revela o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea): “Sem renda

suficiente para adquirir a casa própria, nem para alugar um imóvel regularizado, grande

parte da população é empurrada para as periferias das grandes cidades e localidades inadequadas para a moradia, onde convivem com o perigo”.

No entanto, o emprego nas fábricas pode não ser suficiente para suprir a expecta-

tiva dos novos trabalhadores, e o desemprego pode influenciar na ocorrência de pequenos

crimes que, paulatinamente, se tornam grandes crimes. Assim, está montado o cenário: uma alta taxa de criminalidade e concentração populacional, acompanhando um forte desenvolvimento econômico e industrial.

Este cenário pode ser facilmente observado se analisarmos o crescimento do PIB da

Região Metropolitana de Belo Horizonte, que aumentou 9% entre os anos de 2012 e 2013,

acompanhado de perto pelo aumento da criminalidade na região, que atingiu um índice de 21,8%.

Como vimos nos dados apresentados nos infográficos, dentre os municípios que

apresentaram os maiores números do PIB em 2013, Belo Horizonte aparece em primeiro lugar, seguido por Betim, Uberlândia e Contagem.

Da mesma forma, essas cidades também foram as que apresentaram as maiores

taxas de criminalidade no ano: Uberlândia (34,7%), Betim (27,8%) e Contagem (23,2%).

O indicador apresenta o quantitativo de crimes violentos, que considera as ocorrências de

homicídios consumados, homicídios tentados, roubos consumados, extorsão mediante sequestro, sequestro e cárcere privado, estupro consumado e estupro tentado.

Com este quadro, verificamos que a industrialização segue um caminho de grande

investimento tecnológico, o que leva a uma maior modernização das indústrias, que passam a exigir mão de obra qualificada e oferecem vagas de empregos limitadas. Com a perda do

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emprego, muitas pessoas perdem o poder aquisitivo, se endividam e podem perder a quali-

dade de vida, tendo que mudar de residência e morar em bairros mais pobres, como vilas e aglomerados dessas grandes cidades. Assim como outros fatores, isso pode influenciar o

indivíduo que se encontra em situação de necessidade a cometer algum ato de violência, partindo para a criminalidade.

Mas é necessário deixar claro: depende de cada um a decisão para chegar a tornar

real tal situação. Porém, os dados que analisamos revelam que os índices de desenvolvimento industrial, atrelado à má distribuição de riqueza e a falta de políticas públicas em

que parte do crescimento do PIB poderia ser aplicada, podem apresentar relação com o aumento de crimes violentos no estado, nos últimos anos. Percebe-se que não se trata apenas de problemas envolvendo a segurança pública, mas uma questão social que precisa ser

discutida com mais eficiência, para que novas políticas sejam adotadas e resultem, enfim, em ações que resolvam o problema da violência em Minas Gerais.

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Brasil: Uma análise da desigualdade ainda existente Por:

Ana Paula Pimenta Maiara Carvalho Niquele Fonseca

O Brasil, que já foi considerado um dos países com maior desigualdade de renda do

mundo, vem melhorando gradativamente sua posição no Coeficiente ou Índice de Gini, que

mede a desigualdade social nos países. Segundo dados de 2014, o país possui hoje o valor de 0,490 no indicador socioeconômico. A fim de analisar de maneira mais ativa tal infor-

mação, mostramos aqui dados referentes a três estados brasileiros: Minas Gerais, Ceará e

Rio Grande do Sul, para uma comparação de renda e modo de vida das pessoas que residem em tais regiões. Os dados do PIB aqui utilizados são referentes à pesquisa do IBGE de 2013,

e os valores referentes ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e Coeficiente de Gini nos estados constam na pesquisa do site Atlas Brasil, de 2010.

Para compreender de fato o que cada dado aqui apresentado significa, é necessário

entender o que constitui cada indicador socioeconômico utilizado. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) leva em conta três fatores: renda, educação e saúde na vida da população pesquisada, variando de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o IDH

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registrado. O PIB (Produto Interno Bruto), por sua vez, analisa apenas a questão econômica

do indivíduo (renda per capita) e de uma região (total de riquezas produzidas em uma cidade, estado ou país). Já o Coeficiente de Gini mede a desigualdade na distribuição de

renda dos países, e também varia de 0 a 1. Entretanto, quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade existente.

Ocupando a 6ª posição no ranking dos estados brasileiros, o Rio Grande do Sul pos-

sui o IDH marcando 0.746, seguido pelo município do Espirito Santo, que conta com 0.740. Já em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), o Rio Grande do Sul encontra-se ocupando

o 5º lugar no ranking brasileiro, estando atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2013.

Já em relação à desigualdade social, o Rio Grande do Sul tem seu coeficiente de Gini no número 0,504; o terceiro menor do Brasil.

Minas Gerais é conceituado como um estado com IDH alto, de acordo com dados do

Atlas Brasil de 2010. Ocupando a 9ª posição no ranking dos estados brasileiros, Minas pos-

sui o IDH marcando 0.731, seguido pelo estado de Mato Grosso do Sul, que conta com 0.729. Já em relação ao PIB, Minas Gerais encontra-se ocupando o 3º lugar no ranking brasileiro,

estando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, segundo dados do IBGE de 2013. Ana-

lisando ainda outro indicador econômico, dessa vez o Índice de Gini, tem-se que Minas é classificada com 0,509, segundo dados de 2010.

Finalizando o parâmetro comparativo, temos o Ceará, estado do Nordeste brasileiro.

classificado com um IDH de 0,682. Sendo o 13º estado no ranking de PIB brasileiro, o es-

tado vem emergindo pouco a pouco na economia nacional, impulsionado principalmente

pelo setor agropecuário. Porém, o Coeficiente de Gini deixa muito a desejar, situando-se no ponto de 0,556.

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Veja os dados expostos na tabela a seguir:


Mas afinal, o que esses dados realmente indicam? Superficialmente, existe uma

visão geral de como se dá a economia em diferentes regiões brasileiras, destacando os

estados mais ricos e os em situação de pobreza. Mas, se a análise for feita de modo mais

incisivo, cada número ditado por tais indicadores sociais diz também, e principalmente, do indivíduo e seu modo de vida. E enxergamos então, escondido entre os números que compõe cada índice, um dos maiores problemas brasileiros: a desigualdade social. O conceito

de desigualdade social, que assola o país desde seus primórdios, permanece parte da vida

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de milhares de brasileiros que lutam diariamente pela sobrevivência.

Dados do IBGE de 2014 mostram que 10% da população brasileira acumula cerca

de 40% da riqueza do país. É aquela antiga história de uma minoria que detém muito, enquanto uma grande maioria se vira com pouco.

Prova concreta das consequências causadas por uma má distribuição de renda é o

fato de que apesar do PIB de Minas Gerais estar em terceiro lugar, o IDH é classificado como nono. Isso mostra como que, embora possua produção de riqueza e renda geral satisfatóri-

as, quando se trata de questões individualizadas, como o investimento em saúde, educação e cultura, o estado deixa a desejar.

No estado do Ceará a situação é ainda mais complicada, já que o Índice de Gini do

estado nordestino é o 6º maior do Brasil, segundo dados de 2010. Se comparado com o

estado do Rio Grande do Sul, que é o terceiro estado menos desigual do país, percebemos a diferença econômica não apenas entre os dois estados, mas entre duas regiões distintas.

Apesar do Ceará constituir-se hoje como um estado de IDH médio, o Nordeste brasileiro,

especialmente o sertão, ainda vive um grande estado de pobreza. Prejudicados tanto pela

natureza, que garante um período extenso de seca, quanto pelas políticas de governo, essa região é um dos exemplos mais efetivos da desigualdade social brasileira.

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Baixo Índice de Desenvolvimento Humano ainda é um problema para o Brasil Por:

Ana Luísa Perdigão Braga Jaiane Cristine de Souza

Dados dos últimos relatórios do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento

mostram que ainda existem muitos desafios a serem vencidos pelo país.

Anualmente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Pnud,

elabora o relatório de Índice de Desenvolvimento Humano de todo o mundo. O IDH é um índice comparativo entre os países, que tem a função de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida que é oferecida às pessoas.

A renda per capita é um indicador fundamental, responsável por evidenciar o “bom”

IDH. O termo trata do resultado da soma e da divisão, por toda a população, de tudo que é produzido em um país durante o ano e o quociente é o valor da riqueza que caberia a cada pessoa.

No Brasil é possível observar, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE) e do próprio Pnud, que há uma grande desigualdade na distribuição de renda entre as classes sociais, gênero es etnias que compõem a população brasileira.

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As disparidades vêm diminuindo com o passar do tempo mas, na prática, observa-se essa desigualdade nas periferias, nas escolas públicas em relação às privadas, na diferença salarial, na qual poucos ganham muito e muitos ganham pouco.

Proporção percentual da população pobre, no Brasil, em relação à população total, ano a ano, entre 1992 e 2014

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Do ponto de vista do crescimento econômico no Brasil, projeção feita pelo Banco

Santander para o ano de 2015 estimou que, pela primeira vez desde 1996, todos os estados brasileiros apresentariam crescimento negativo ou, no melhor dos casos, estagnação

econômica, como no caso do Pará. De fato, o estado apresentou um dos casos mais extre-

mos de desigualdade, no país, e serve como ilustração. Atualmente, a capital Belém lidera o

ranking estadual, concentrando 22,59% da riqueza adquirida (de R$ 20,558 bilhões) pelo

estado. Em segundo está Paraupebas, com 18,39%. Apesar de ser o único estado sem previsão de recessão em 2015, esse não é um indicativo de melhores condições. Outra forma

de visualizar a dimensão dessa desigualdade é pensar que apenas 10 dos 143 municípios do Pará retém 67% do PIB do estado.

A participação desses municípios aponta que a grande concentração da produção do

estado do Pará ainda está ligada à industria de extrativismo e serviços. Além da Hidrelétrica de Tucuruí, os outros 9 dos 10 municípios [que mais concentram riquezas no estado] se destacam pela indústria de transformação do alumínio e extração de ferro, cobre e bauxita.

Em contrapartida, no mesmo estado, o município de Curralinho, na Ilha de Marajó,

ocupa a última posição no ranking do PIB não só do estado do Pará, mas nacional. Desta

forma, observamos a discrepância na distribuição de renda no estado, já que as grandes

produções estão concentradas, permitindo que se encontrem dentro de um mesmo estado cidades com IDH tão alto, como Belém, e Curralinho, com IDH tão baixo.

Em situação semelhante há outro caso extremo para ilustrar, o Espirito Santo, estado

com menor previsão de perdas, em 2015, com decréscimo de 0,3% do PIB. Segundo Mario Vasconcelos, professor e economista, em entrevista concedida à Gazeta Online, “o principal

fator que faz com que o Espírito Santo não tenha uma queda tão acentuada em seu PIB, como

os outros Estados brasileiros, é o fato de a economia capixaba ser muito voltada para o mercado externo”. Mesmo assim, o estado ainda é visto como uma economia periférica, no sen-

tido de gerar [pouco] conhecimento e se incorporar [de maneira limitada] ao mercado produtivo brasileiro. O que move a sua economia ainda são demandas extrativistas, como produção de minério de ferro, aço, celulose, petróleo e gás.

Em Goiás, numa das piores previsões feitas pelo banco Santander, a retração previs-

ta foi de 3,8%, afetada pela crise na construção civil e no comércio, atingidos pelo aumento

de taxas como o ICMS. Preços mais altos, menos consumo, menor a atividade econômica e 23


menor arrecadação.

A coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, Andréa Bolzo-

ni, em entrevista à Agência Brasil em dezembro do ano passado, afirmou que a queda do

Produto Interno Bruto (PIB) no país poderá ainda ter impacto negativo no IDH dos próximos anos, já que um dos indicadores é a renda, diretamente relacionada ao PIB. “Do ponto de vista da renda per capita, houve pequena retração e é claro que isso afeta também nosso

Índice de Desenvolvimento Humano. Agora, daqui para a frente, precisamos aguardar para ver como as coisas vão se refletir no relatório”, comentou a coordenadora.

Para exemplificar essas informações, pode-se levar em conta o chamado Índice de

Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDH-D), isso pois o Pnud apresenta, anualmente, apenas uma média e não mostra claramente a desigualdade na distribuição

de desenvolvimento humano. Assim, são levados em conta os fatores mais problemáticos

na distribuição do PIB: renda, educação e expectativa de vida. Ao levar em conta os dados

do ano de 2014, o Brasil caiu, em 2015, de 0,755 para 0,557, perdendo 26,3% do IDH. Esse resultado faz o país ficar posicionado abaixo da média da América Latina, que tem 0,570.

Com dados tão desiguais entre os estados, em um país de dimensões continentais

como o Brasil, com produção e extração de commodities e produtos do setor primário em dezenas de áreas, a média de dados nacionais e até mesmo estaduais não refletem com fidelidade o momento atual, ou seja, o país é considerado rico; no entanto, ainda há diversos

setores deficitários e sem investimento. Exemplos claros são a saúde e a educação, que passam por dificuldades há anos, sem que recebam atenção além de promessas políticas em campanha eleitoral.

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Espírito Santo: um Estado crescente Por:

Clara Senra Coelho Moreira Izabela Maria de Lima Soares

O Espírito Santo é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na região

Sudeste; faz fronteira com o oceano Atlântico a leste, com a Bahia ao norte, com Minas Gerais a oeste e noroeste e com o estado do Rio de Janeiro ao sul. Seu crescimento extingue barreiras.

Para iniciarmos a nossa reflexão a respeito do estado do Espírito Santo, achamos

necessária uma breve revisão dos assuntos tratados sobre o PIB dos estados brasileiros, suas projeções e os objetivo internacionalmente reconhecidos de desenvolvimento humano.

A discrepância presente na primeira análise a respeito do PIB dos estados brasilei-

ros em 2013 nos faz avaliar alguns pontos. A região Sudeste possui, consideravelmente, o maior PIB em relação aos conjuntos de outros estados, chamando atenção principalmente para o estado de São Paulo, que apresenta uma porcentagem extremamente alta em relação

aos demais, confirmando uma variação exorbitante entre os estados. Pode-se perceber,

desta forma, que a produção e, consequentemente, a distribuição de riquezas pelos estados 25


brasileiros não é direta nem proporcionalmente relacionada aos indicadores sociais.

Ou seja, vale ressaltar que a produção de riqueza também não se associa direta-

mente ao desenvolvimento social do país. É o que indica o ranking das maiores economias do mundo, em que o Brasil se encontra em sétimo lugar. Em termos territoriais, o Brasil

leva vantagem por seu tamanho, tendo mais capacidade de produção, mas também dificultando a distribuição do desenvolvimento por todo o seu território.

O caso do Espírito Santo Decidimos falar sobre o estado do Espírito Santo por sua forte expressão na com-

posição do PIB brasileiro, ainda que ele passe despercebido, se comparado a pólos como São Paulo, por exemplo.

Entre 1939 e 1994, a renda per capita dos capixabas cresceu oitos vezes, comparada

à média nacional, cinco vezes e meia maior. Ou seja, em um intervalo de 55 anos de crescimento, a população do Espírito Santo possui hoje renda maior que a média do restante do país. Tendo apenas 0,54% do território nacional, hoje o estado responde por um pouco mais de 2% do PIB.

Sua economia é considerada como sendo mais voltada para o comércio exterior. Até

os anos de 1960, o PIB era sustentado pelo setor agrícola, principalmente com a produção de café. O setor primário chegou a representar 54% do PIB. Atualmente, o café continua sendo extremamente importante para a economia do estado, mas com menos importância.

Um ponto de extrema relevância no crescimento das cidades e no desenvolvimento

da economia foram os grandes projetos industriais ali implantados, como as unidades da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia Sigerúrgica de Tubarão (CST), Aracruz e Samarco, em meados da década de 1960. De lá para cá, a base econômica do estado sofreu

diversificações, internacionalizando-se a partir dos anos 1990. Como consequência houve

uma forte vocação pelo comércio exterior. Os sete portos existentes no ES, o Corredor Centro-leste e a boa capacidade logística ali present, ajudaram no desenvolvimento.

Em suma, a economia do Espírito Santo é sustentada, principalmente, pelas ativi-

dades portuárias, de exportação e importação (maior do país), além de ter significativo peso nas indústrias de celulose (maior do país) e rochas ornamentais (maior do mundo). É também a segunda maior exploradora de petróleo do Brasil e a maior do país em ex26


ploração de gás natural, além de ter uma consistente agricultura, como já citamos, na produção de café.

Dados recentes da representatividade das exportações e importações na Balança Comercial do estado do Espírito Santo:

Exportações: Minério de ferro: 46%

Produtos siderúrgicos: 25% Celulose: 10% Granito: 6%

Café em grãos: 6% Outros: 7%.

Importações: Carvão mineral: 14%

Máquinas e equipamentos: 12%

Cátodos e outros produtos de cobre: 9% Fios, tecidos e confecções: 7%

Produtos das indústrias químicas: 6%

Equipamentos para movimentação de cargas: 6% Carros, pneus e peças: 5% Outros: 34%.

Situando o Estado de Espírito Santo no contexto nacional:

O IDH do Espírito Santo passou de 0,690 em 1991 para 0,765 em 2000, indo da 12º

Em 2000, o estado do Espírito Santo passou a ocupar uma posição mediana em

para a 11º posição em relação aos 25 estados do Brasil e Distrito Federal.

relação ao país, apresentando a pior colocação em relação aos estados localizados nas

regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste e o melhor entre os estados das regiões Norte e Nordeste, em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

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A posição expressa em relação ao IDH também foi verificada em relação ao IDH-

Educação, com exceção dos estados de Roraima e Amapá, que superaram o Espírito Santo

no período 1991-2000. No que diz respeito à evolução do IDH-Educação, o estado passou de 0,763 (1991) para 0,855 (2000). O IDH-Educação é o único IDH temático do estado consideradom segundo o Programa das Naóes Unidas para o Desenvolvimento, elevado.

Por outro lado, o IDH–Renda é o único componente que experimentou uma elevação

no ranking nacional, passando da 11º posição para a 7º em 10 anos. Em termos absolutos, isto significou que o valor do IDH-Renda passou de 0,653 (1991) para 0,719 (2000).

Finalmente, o IDH-Longevidade, no que diz respeito à sua posição no período ana-

lisado, entre 1991 e 2000, não apresentou variações significativas, em comparação com as demais Unidades da Federação, permanecendo na 12º posição. Em 1991, o IDH-Longevidade verificado no estado do Espírito Santo foi de 0,653, passando para 0,721 em 2000.

Já as taxas de crescimento encontradas no período entre 1991 e 2000 para o estado

do Espírito Santo foram superiores à média Brasil, em relação ao IDH e aos IDHs temáticos,

com exceção do IDH-Educação. Os valores verificados indicaram uma melhora de 10,87% no IDH geral; 12,06% no IDH-Educação; 10,11% no IDH-Renda e 10,41% no IDH Longevidade.

O estado do Espírito Santo apresentou uma taxa de crescimento em relação ao IDH

superior aos Estados do Amazonas, Roraima, Amapá, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

Ao analisar-se as taxas de crescimento do IDH-Educação, tem-se que o Estado do Es-

pírito Santo apresenta taxa de crescimento apenas superior aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.

O Espírito Santo apresentou uma taxa de crescimento em relação ao IDH-Renda

superior a outros estados brasileiros, com exceção do Maranhão, Piauí e Paraíba, apre-

sentando assim a 4ª maior taxa de crescimento dentre as Unidades da Federação analisadas. Em relação à taxa de crescimento do IDH-Renda, dois estados apresentaram taxas de crescimento negativa: Amazonas e Roraima.

No que diz respeito ao IDH-Longevidade, o Espírito Santo apresentou uma taxa de

A partir dos dados apresentados e das últimas notícias acompanhadas a respeito do

crescimento inferior a 12 estados brasileiros e superior ao Brasil, como um todo.

estado, pode-se di-zer que o orçamento global previsto para 2016 pelo Governo do Espírito 28


Santo, de R$17.051 bilhões, seria referente a um crescimento de 6,41% em relação ao or-

çamento de 2015. As áreas essenciais e com prioridade de investimentos foram educação, saúde e segurança pública, conforme anunciado pelo Governo do Estado.

Ao mesmo tempo, a crise que afeta nosso país como um todo também deixa rastros

entre os capixabas. Enquanto o orçamento para esse ano cresce, a taxa de inadimplência aumentou consideravelmente. Cerca de 9,28% a mais de pessoas estavam endividadas no

mês de fevereiro de 2016, em relação ao mesmo período do ano anterior. E com maior taxa de desemprego do Espírito Santo, Vitória lidera o ranking.

Para finalizar, vale ressaltar que tamanho potencial econômico está sendo abalado

pela instabilidade política e econômica do atual cenário político e econômico do Brasil. As expectativas e investimentos pretendem alavancar os números e apresentar uma melhoria significativa em relação ao ano passado, pelo menos.

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Crise nordestina e sua evolução: tempestade ou bonaça? Por:

Bruno Leão Shara Souza Sulyen Dantas

Com o maior PIB do nordeste, Bahia, Pernambuco e Ceará dão saltos significativos

de desenvolvimento. Estados se destacam, impulsionando economia nordestina, mas também sofrem com os efeitos da crise.

Através de indicadores sociais, traçamos um perfil das condições de vida e situação

de emprego da população nordestina brasileira. Por meio deles pode-se compreender como o Nordeste, tão estigmatizado pela seca e miséria, tem dado saltos substanciais em busca de

sua autonomia, trazendo consigo resultados significativos e transformadores para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.

Dentro dos nove estados pertencentes à região, pode-se observar ao longo do tem-

po, um expressivo crescimento econômico, principalmente no segmento industrial. Neste setor houve a transferência de diversas indústrias que deixaram a região Sudeste em busca

de benefícios fiscais no Nordeste. Áreas de grande desenvolvimento industrial podem ser 31


vistas, como o Distrito Industrial de Ilhéus, na Bahia; o Complexo Industrial de Suape, em Pernambuco; e o Distrito Industrial de Maracanaú, no Ceará; dentre outros. O desenvolvi-

mento deste segmento [industrial] na região é de fundamental importância, uma vez que se desdobra em diversas outras áreas da região.

Produção industrial e turismo na Bahia Em toda a região, a melhor estrutura de produção industrial foi na Bahia (dados de

2013), com o refino de petróleo e coque, seguido dos produtos químicos e alimentos. Como quarto estado mais populoso do Brasil, é possível identificar o crescimento econômico da Bahia, quando se observa que o estado cresceu 3,0% no ano de 2013, à medida que o crescimento econômico do país foi de 2,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). A Bahia tem sua economia diversificada, sendo o maior produtor e exportador de cacau no Brasil, atualmente.

Além de haver uma forte produção agropecuária, o estado também se destaca pelas

atividades de prestação de serviços, em especial o turismo, um setor de pleno crescimento na Bahia, segundo estado que mais recebe turistas em todo o Brasil. Pode-se dizer que o

crescimento do setor de turismo na Bahia começou em 1971, com estratégias públicas de

marketing e mecanismos fiscais que facilitaram a implantação de grandes hotéis. Depois, em 1991, com novas estratégias para o turismo, que focava melhorar a qualidade do produ-

to turístico baiano, o crescimento desse setor até 2005 foi de 221% (dados do BNDES). O desenvolvimento deste setor, assim como o industrial, gerou aumento de empregos, entretanto, mesmo tendo as suas atividades econômicas correspondendo a 36% do PIB nordes-

tino, com a crise, tem havido desaceleração. Os sinais emitidos pelo mercado de trabalho e por outros indicadores são preocupantes, pois não se limitam ao aumento da taxa de desemprego, pelo contrário.

O caso de Pernambuco Pernambuco, por sua vez, teve por gerações a agricultura como sua principal fonte

de atividade econômica, com a cana de açúcar em destaque. Entretanto, nos últimos anos, este cenário vem mudando, sendo o setor de serviços o fundamental para a geração de novas receitas, com 73,3% do PIB do estado, contra 4,8% da agricultura. 32


Com a crise, no entanto, a retração emergiu e o desemprego subiu, como na capital,

Recife, que ja atinge 10% da população. A crise afeta tanto setores antigos, como a indústria de alimentos, como setores explorados mais recentemente, como a cadeia de petróleo.

O cenário cearense Já no caso do Ceará, vemos a economia mais diversificada do Nordeste. A agricultura

dominava o setor econômico do estado, seguido da indústria, até bem recentemente. Atualmente, entretanto, o setor do turismo se destaca como atividade fundamental para o setor de

serviços cearense, atraindo redes de hotéis internacionais e serviços de comércio. O desenvolvimento do estado pesou de maneira positiva na vida dos cidadãos, na última década, que

viram crescer a expectativa de vida por volta de 13,4 anos, segundo o IBGE, e diminuir a taxa de mortalidade, especialmente devido aos programas do governo. Mais de dois milhões de turistas são recebidos no Ceará por ano. O couro, no segmento industrial, é a matéria-prima fundamental para a indústria e o estado é também o segundo maior exportador de flores frescas cortadas do Brasil, atrás somente de São Paulo.

Considerações finais Com inflação elevada, taxa de juros nominal acima de 14% ao ano e tantas incertezas

no ambiente econômico, o Nordeste começa a padecer. A taxa de desemprego, antes de 8,0%,

segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnad), tem tido um acréscimo significativo nos estados da região. A retração da economia tem sido generalizada no Nordeste. Além do mais, o crescimento das epidemias que afetaram a população de maneira mais abrangente no Nordeste aumentaram os custos e as preocupações com a saúde pública, o que fragiliza a população. Com boas lembranças da bonança, o Nordeste é assom-

brado com as ameaças de tempestades, e mais do que um simples gole d’água, teme se afogar.

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Taxa de desemprego entre jovens e distribuição de renda nos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia Por:

Ana Clara Moreira Bruno Luiz de Oliveira Isabela Martins

Uma pesquisa realizada pelo IBGE e divulgada em 19 de maio de 2016 revela um

crescimento de 24,1%, no primeiro trimestre deste ano, no índice de desemprego entre jovens de 18 e 24 anos de idade. A comparação foi feita com a taxa de desocupação dos últimos três meses de 2015, que chegou a 19,4%.

A taxa de desemprego mais elevada, segundo a pesquisa, é a do Nordeste, onde

passou de 9,6 % para 12,8% em um ano. Para compreensão dessa variação significativa,

propõe-se a análise de dados referentes a três estados nordestinos: Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia, que apresentaram, individualmente, os três maiores percentuais no número de jovens desempregados no período estudado.

O Maranhão teve uma queda de 2,6% no número de vagas de emprego, passando de

O estado do Rio Grande do Norte sofreu um aumento no índice de desemprego de

8,2% no quarto trimestre do ano passado para 10,8% no primeiro trimestre de 2016. 2,1%, chegando a 14,3 % em março deste ano.

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Já a Bahia, dos três estados em análise, apresentou o maior percentual de desem-

Para tentar esclarecer o motivo desses aumentos significativos no número de desem-

prego entre os dois períodos estudados, com uma elevação de 3,3% entre os trimestres.

pregados, pode-se levar em conta a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicilio (PNAD), divulgada mensalmente pelo IBGE, que mostra a renda das famílias brasileiras. O Rio Grande

do Norte, a Bahia e o Maranhão apresentam, respectivamente, um rendimento médio nominal

domiciliar de R$818,00, R$736,00 e R$509,00, respectivamente, rendimentos considerados baixos para as famílias brasileiras, tendo em vista o valor do salário mínimo.

As informações produzidas pelo IBGE revelam que, possivelmente, a baixa renda

dos grupos familiares, que apresentou uma queda aproximada de 3,2% em 2015, pode ter impulsionado os jovens a procurar uma ocupação no mercado de trabalho, como estratégia de complementação da renda familiar. Essa procura, contudo, foi ao encontro de um expres-

sivo saldo negativo no número de vagas empregos oferecidas. Segundo o Ministério do Tra-

balho, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em 2015, mais de 80 mil vagas de trabalho com carteira assinada foram reduzidas no Nordeste do país.

Desta forma, é possível perceber as relações existentes entre distribuição de renda

e oportunidade de trabalho nos estados analisados. Quando a divisão de riquezas é mais

igualitária, na mesma proporção, os jovens podem se qualificar, e consequentemente, ingressar no mercado de trabalho. Essa análise pode ser compreendida também através de outros índices.

Simultaneamente, dos três estados em análise, o que apresentou a maior retração

do PIB em 2015 foi o Maranhão, com recuo de 5% em relação ao ano anterior, o que pode

fazer com que o Maranhão permaneça com o título de estado com menor rendimento médio do país. Em seguida vem o Rio Grande do Norte, que retrocedeu 3,6% na produção de suas riquezas e, por fim, a Bahia, com 3,5% de queda na produção do estado.

Como toda queda do PIB é significado de menos riqueza, os estados em questão pro-

duziram abaixo do percentual registrado no ano anterior, o que também pode ter resultado na diminuição significativa de ofertas de postos de trabalho.

Outra possibilidade que pode explicar os níveis de desemprego nessa região é o

Índice de Oportunidade da Educação Brasileira, desenvolvido pelo Centro de Liderança 36


Pública. Os dados revelam que Bahia e Rio Grande do Norte estão abaixo do patamar médio nacional, o que se reflete na falta de capacitação dos jovens, dificultando a entrada deles no mercado de trabalho.

Outro fator possivelmente relacionado ao desemprego é a diminuição das oportuni-

dades de trabalho, em vista da crise. Com a instabilidade política e econômica dos últimos

dois anos, as empresas passaram a contratar menos. E com menos qualificação da mão de

obra, o filtro de acesso às oportunidades também pode ser levado em conta. Um outro es-

tudo, realizado recentemente pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior de São

Paulo (SEMESP), mostra que o perfil de trabalhadores dos estados do Norte e do Nordeste do Brasil é composto, em geral, por pessoas com até o ensino médio completo; e que o

número de pessoas que ingressam na faculdade, apesar de ter tido um aumento em 2015, continua bem pequeno, o que também pode ter influência direta na questão do desemprego nesta região do país.

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Os Tribunais de Conta dos Estados brasileiros gastam mais do que deveriam em custos de manutenção Por:

João Pedro Ramanery

Instituição prevista na Constituição, Tribunal de Contas do Estado (TCE) é um órgão

que possui o dever de fiscalização dos planejamentos orçamentários, a legitimidade de do-

cumentos e receitas, a administração de pessoas físicas e jurídicas, tanto no que diz respeito aos assuntos de âmbito público quanto privado.

Seu principal compromisso é a responsabilidade fiscal e a veracidade dos dados

postos à confiança que é dada. Atualmente, a estrutura dos TCEs deixa um pouco a desejar.

Existem alguns pontos importantes que podem ser visivelmente analisados, como falhas em seu funcionamento, e que devem ser trabalhados pelas autoridades responsáveis.

Estes tribunais, em sua grande maioria, não possuem um controle equilibrado de

custos de manutenção que, somados, superam a faixa de 5,1 bilhões de reais em todo o país. O relatório “Quem são os conselheiros dos Tribunais de Contas”, divulgado pelo “Transpa-

rência Brasil” - órgão independente dedicado a combater a corrupção -, além de tratar dos ele-vados gastos dos TCEs, também ressalta o fato de todos os Tribunais de Contas do Brasil

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serem “desenhados para não funcionar”, pois todos os seus conselheiros são nomeados por indicação do Legislativo e do Executivo, havendo assim uma considerável propensão de indicação de aliados políticos e parentes, caracterizando o nepotismo.

Da mesma forma que os parlamentares são importantes para a Assembleia, os con-

selheiros o são para os TCEs. Sobre isso, o relatório propõe uma relação comparativa entre os custos de manutenção dos TCEs e das Assembleias, que possuem entre 22 a 94 conse-

lheiros por casa; ao passo que os TCEs possuem 7 conselheiros por tribunal. No entanto, mesmo que tenham menos funcionários, chegam a gastar em manutenção, na sua grande maioria, mais de 50% do valor que cada Assembleia gasta, acentuando-se mais em alguns casos, chegando a 80% mais de gastos, como no Rio de Janeiro e Amazonas.

É necessário enfatizar que sendo no mínimo 22 parlamentares por Assembleia e 7

conselheiros por tribunal, seria mais coerente haver um determinado controle sobre estes gastos, equiparando em no máximo 32% do que gastaria cada Assembléia estadual; o que

causaria, consequentemente, uma economia de 2,2 bilhões em todos os TCEs que superam essa estimativa percentual. Os Tribunais de Conta do Piauí e de Roraima, por exemplo, pos-

suem uma relação de 32% do valor total dos custos de manutenção de suas Assembleias, seguidos dos Tribunais de Conta dos estados do Rio Grande do Norte, com 25%, e do Ceará, com 15%.

Os Tribunais de Contas devem ser, mais do que nunca, instituições exemplares, com

boas iniciativas e rigorosas fiscalizações, monitoradas com veemência, internamente. Com esse valor economizado, todos os TCEs poderiam investir mais em políticas de sustentabili-

dade ambiental, por exemplo, como no caso do Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará,

TCM-CE, ou até mesmo em setores ligados a saúde e educação, mesmo sendo responsabilidades do governo federal, estadual e municipal.

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Turismo: um dos grandes pilares da economia brasileira Por:

Bruce Lourenço Cynthia Nogueira Daiane do Carmo

Em meio aos grandes eventos sediados pelo Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio

Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil desde que o país foi sorteado para

Grande do Sul aparecem como a ponta do iceberg do PIB turístico.

sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, despertando interesse e curiosidade de quem planeja uma viagem. Porém, outro fator está contribuindo para o

aumento de turistas estrangeiros e nacionais nas principais cidades brasileiras: a alta do dólar e do euro.

Com o aumento do câmbio, o poder de compra dos brasileiros no exterior caiu brus-

camente; por isso, decidiram trocar as suas rotas internacionais preferidas por viagens

dentro do próprio território, escolhendo como principais destinos as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

Em contrapartida, estrangeiros aproveitam a desvalorização da moeda para conhecer 43


os principais pontos turísticos do país. Segundo o departamento econômico do Banco Central, em janeiro deste ano os visitantes internacionais gastaram cerca de US$ 672 milhões

no país, um crescimento de 14,4%. Foi o maior gasto para o mês desde 2013, quando o valor

foi de US$ 650 milhões. O Brasil é a 10ª maior economia de turismo do mundo e, segundo o Ministério do Turismo, o segmento é responsável por 3,7% do PIB nacional em contribuição

direta, além de impulsionar outros setores como gastronomia, artesanato, automobilístico e hotelaria, gerando emprego e renda.

Segundo aposta de Henrique Eduardo Alves, [ex] Ministro do Turismo, para a reto-

mada da economia brasileira é necessário usar o turismo como uma das alavancadas para

reerguer o cenário. “O segmento de negócios é fundamental para o país reduzir o efeito da

sazonalidade e ampliar os ganhos com o setor de viagens. O país precisa investir na atração de eventos para gerar emprego e renda para a população; esse é um dos nossos grandes desafios”, completa.

A OMT (Organização Mundial de Turismo), agência de organização turística ligada

à ONU (Organização das Nações Unidas), levanta a estimativa de que o turismo é o único setor que pode sempre contribuir positivamente para a economia de um país, representan-

do 10% do PIB mundial em impacto direto e também induzido; afinal, 1 em cada 11 empre-

gos no mundo (também em impacto direto, indireto e induzido) estão no setor de turismo, segundo a OMT.

No Brasil, três estados se consolidam como um dos principais destinos para o tu-

rismo de negócio e lazer: São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que em meio às

nuances que compõem o Produto Interno Bruto (PIB), ainda se destacam pelas belezas

naturais, aspectos culturais e como sede de grandes eventos mundiais, contribuindo como pilastra de sustentação da economia brasileira.

O Grande Estado de São Paulo O Estado mais populoso do Brasil, ultrapassando em números mais de 44 milhões

de habitantes, representa 28,74% do PIB nacional e desponta como o mais visitado, re-

spondendo por um total de 43,8% do faturamento turístico no Brasil, sendo o primeiro no ranking de contribuições neste segmento. São Paulo, apesar de também sentir os efeitos do cenário econômico, detém uma atividade turística de lazer e negócio que apresentou indi44


cadores tendendo a leve queda no ano de 2015, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

De acordo com a 20ª edição do relatório da Central de Monitoramento do Turismo,

realizado pelo Observatório do Turismo de São Paulo, alguns dos dados municipais da ci-

dade de São Paulo apresentam números positivos no comparativo do período de janeiro e março de 2015 e janeiro e março de 2016. É que houve uma movimentação nos hostels, nos

hotéis aos finais de semana e na arrecadação do ISS (Imposto Sobre Serviços), possivelmente impulsionados por turistas de cultura e lazer. Já nos meios de transporte, tanto ro-

doviário quanto aéreo, os índices apresentaram variações negativas com relação ao primei-

ro trimestre de 2015. Com esses fluxos, o turismo no Estado é responsável por mais de 1,7 milhões de empregos e uma receita turística total da ordem de R$ 25,4 bilhões, advinda de gastos diversos em hospedagem, alimentação e compras.

Rio 90º - Turismo e o mundo O Rio de Janeiro, estado brasileiro conhecido pelas suas belas praias e cartões

postais, aparece em segundo lugar na lista de destinos mais procurados no país, perdendo apenas para São Paulo. Em 2015, o estado contribuiu em 11% na coposição do PIB nacional.

A participação do turismo na área econômica do país é de R$ 492 bilhões, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC). O que traz grande visibilidade para o estado

são suas praias, principalmente Leblon, Copacabana e Praia Vermelha. Seus pontos turísticos mais conhecidos e procurados são o Cristo Redentor, Pão de Açúcar e Pedra da Gávea.

Com as Olimpíadas programadas para início no dia 5 de agosto, o estado está rece-

bendo melhorias e mudanças na infraestrutura para acolher um grande número de atletas

e turistas nacionais e internacionais. A estimativa é que o Rio, este ano, contribua significativamente para o crescimento tanto do PIB estadual quanto do nacional. O evento também

auxilia no setor empregatício, oferecendo mais de 90 mil vagas para empregos temporários, contribuindo positivamente para a movimentação direta da economia.

Destino gaúcho - baixas temperaturas servidas com cultura O frio do Rio Grande do Sul, as suas cidades coloniais charmosas, o vinho, a cu-

linária, os grandes eventos, a história cultural, as festas tradicionais e as suas praias são

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alguns dos responsáveis pela representação de 3,1% do setor turístico no PIB Gaúcho, que é de 6,2% na composição do PIB Brasil, segundo dados do IBGE de 2013.

As cidades da Serra Gaúcha possuem atrações durante todo o ano. Um pedaço do

Brasil que mais se parece com a Europa reúne cidades como Gramado e Canela, com uma

natureza privilegiada, mais procuradas durante o inverno e o Natal. As baixas temperaturas

encontradas lá também são um atrativo, devido às possibilidades de queda de neve, algo incomum para um país tropical como o Brasil.

A indústria de eventos, um dos principais atrativos turísticos do estado, é respon-

sável por 7,5 milhões de empregos diretos, indiretos e terceirizados. Além disso, outro setor está crescendo no Rio Grande do Sul, o turismo rural. Ecoturismo, parques, hortas orgânicas, alimentos caseiros e artesanatos atraem os turistas e contribuem para a geração de empregos e a diminuição do êxodo rural.

O turismo se mostra um grande pilar da economia brasileira e é considerado um

caminho para a superação da crise econômica atual. Por isso, é preciso que os estados procurem formas para atrair o público que busca, antes de tudo, viagens e passeios baratos.

“Em momentos de crise, temos de buscar soluções novas para retomarmos o crescimento. O mercado de viagens pode ser a tábua de salvação para economias que passam por momentos difíceis”, explica o ex-ministro de turismo, Henrique Eduardo Alves.

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“E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o de baixo desce” Por:

Anasara Moreira Laís Maressa Tábata Poline

Riqueza dos 80 mais ricos do mundo é a mesma, se juntada, das 3,5 milhões de pessoas

No final da década de 90, mais precisamente em 1999, um grupo de axé estourou um

mais pobres, diz ONU. Violência e falta de escolaridade são consequências desse abismo social.

hit – daqueles grudentos e mal falados – que virou mania em todo o país. Na contramão dos

críticos da tão resguardada música popular brasileira, alguns pensadores da época consi-

deraram a música Xibom Bombom “um retrato do Brasil”. O refrão pegajoso conquistou os

mais desavisados, enquanto os mais atentos entendiam o seu real significado: “e o motivo todo mundo já conhece, é que o de cima sobe e o de baixo desce”.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, a riqueza dos 80 mais

ricos do mundo é a mesma, se juntada, das 3,5 milhões de pessoas mais pobres. E o mais alarmante, segundo a organização, é que a desigualdade social aumenta não só entre ricos

e pobres mas, principalmente, entre os mais ricos e os mais pobres. Enquanto os brasilei47


ros sofrem, mais uma vez, as mazelas de uma política corrupta e uma economia instável, o velho refrão volta a ecoar, reforçando que o fosso da desigualdade continua aumentando

no país. Ainda de acordo com a ONU, a má distribuição de renda não anda sozinha. Entre as causas dessa distância entre classes também estão as desigualdades extremas em relação à educação, a saúde e a habitação, prejudicando direitos civis, políticos e humanos.

No Brasil, a desigualdade social é percebida de várias formas, de um milionário que

viaja para as Bahamas em época de dólar altíssimo, à trabalhadora que enche o carrinho com as compras do mês e mora ao lado de uma família que não tem o que comer.

Para a ONU, países onde a desigualdade social é elevada também registram índices

igualmente altos de outros fatores negativos, como a violência e a criminalidade. Segundo o Mapa da Violência 2015, divulgado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), quase cinco brasileiros morrem por hora no país, vítimas

de disparos de arma de fogo, e nunca foram registradas tantas mortes deste tipo entre a juventude brasileira. Dados do mapa mostram que 59% das mortes por armas de fogo registradas foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também revelou, recentemente,

outro dado alarmante sobre a violência no país. Segundo o instituto, ao analisar essa faixa

etária identificou-se que jovens negros e do sexo masculino são responsáveis pela maioria

dos crimes de pequeno e médio portes, como o tráfico de drogas, furtos, roubos e homicídios.

Mas o que esses jovens, que viraram estatísticas, têm em comum? De acordo com o

Ipea, a maioria deles vive em condições marginalizadas, possuem baixa escolaridade e ain-

da sofrem com o preconceito e estereótipos no cotidiano. Aproximadamente 33% deles estão presos por crimes contra a vida, o restante por crimes de tráfico ou contra o patrimônio.

Apesar de alguns estudiosos defenderem que a violência não pode ser justificada pela pouca renda, falta de recursos e baixa escolaridade, os dados comprovam a relação direta entre

esses fatores. Prova disso é que o aumento de 1% na frequência escolar de jovens entre 15

e 17 anos de idade reduz a taxa de homicídio em 5,8%. Será que podemos ver na educação uma saída? A resposta a essa pergunta – um tanto boba - é sabida por todos, inclusive os que detêm o poder de começar a mudar a situação. Fato é que, enquanto nada for feito, o

abismo social vivido no Brasil vai continuar produzindo violência, pobreza, miséria, desemprego, desnutrição, marginalização. 48

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Nível do desemprego é o maior em uma década Por:

Dâmaris Tomaz Vivian Leite

Desemprego atinge maior nível desde 2012 e traz consigo a perda do poder de compra

Com a queda no ritmo da economia, o desemprego vem se agravando ao logo de cada

do brasileiro.

semestre, cenário com previsão de se manter nos próximos meses. Entre novembro de 2015

e janeiro de 2016, a taxa de desemprego aumentou 9,5%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). Essa taxa é recorde da série histórica da pesquisa, iniciada no primeiro trimestre de 2012. No mesmo período de 2014|2015, o desemprego atingia 6,8% da população economicamente ativa do país.

Analistas indicam que a tendência do mercado de trabalho brasileiro é se manter

num patamar baixo, podendo deteriorar ainda mais, dada a expectativa de profunda re-

tração da economia. De acordo com os economistas, a expectativa é de que o Produto In49


terno Bruto (PIB) sofra contração de 3,6% este ano, depois de despencar 3,8% em 2015. O cenário de grave crise política enfraquece ainda mais a confiança, de forma generalizada, afetando as decisões de investimento e contratações.

Consequentemente, os brasileiros perderam R$ 280 bilhões de seu poder de compra

entre 2015 e 2016. Desde 2004, os recursos disponíveis para o consumo cresceram sem pa-

rar, a um ritmo anual médio de 2,5%; mas 2015 foi o primeiro ano em que esse movimento foi revertido, com a queda repetindo-se em 2016. De acordo com os cálculos, a inflação está

corroendo a renda e os altos juros aumentam os desembolsos para pagamento das dívidas. Além disso, a oferta de crédito, que vinha ajudando a turbinar o consumo, encolheu 8,5% em 2015, diz o estudo.

Para especialistas, o índice de desemprego está gerando um grande de número de

pessoas com inadimplência no Serasa, além de prejudicar a manutenção dos gastos bási-

cos das famílias. Em valores absolutos, os brasileiros tinham em mãos R$ 3,06 trilhões em

2014 para gastar, tanto em itens essenciais como habitação, educação, transporte, energia e água quanto na aquisição de bens de consumo e serviços. Pelos cálculos da consultoria Tendência, o valor caiu R$ 2,82 trilhões no ano passado e cairá R$ 2,78 trilhões em 2016.

É um retrocesso de cinco anos; em 2011, o poder de compra dos brasileiros era de R$ 2,74 trilhões.

O Brasil vem ficando para trás com a forte desaceleração econômica dos últimos

anos, e a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é que este distanciamento continue aumentando. A expectativa é que em 2020 o país atinja renda média de US$ 18 mil,

aproximadamente 80% da média dos emergentes. Quando a comparação é com países desenvolvidos, o resultado é alarmante. O brasileiro tem 27% do poder de compra de um americano médio.

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A população brasileira vive cada vez mais e a melhora na qualidade de vida é fator fundamental para a terceira idade viver ativa e feliz Por:

Frederik Cortez João Pedro Oliveira Julian Cruz Marco Túlio Minelli

Diante do tamanho continental do Brasil, idosos de Santa Catarina, Minas Gerais e Ma-

Imagine uma praça de uma grande cidade no Brasil. Nela, idosos praticam as mais

ranhão têm realidades bem diferentes.

variadas atividades físicas. Imagine, agora, entrar em uma agência bancária e ser recepcionado por uma simpática senhora da terceira idade, perguntando se pode lhe ajudar. Imagi-

ne a melhor idade invadindo as aulas das universidades brasileiras, alinhando as experiên-

cias de vida com novos conhecimentos. Se você consegue imaginar isso hoje, é porque a expectativa de vida da população brasileira é cada vez mais alta.

A cada ano nos deparamos com avanços tecnológicos que, na maioria das vezes,

vêm para facilitar nossas vidas. Quanto mais tecnológica fica a sociedade, mais as pessoas precisam se adaptar, como o touchscreen que substituiu a utilização da caneta ou do lápis

para escrever. E quando surge este assunto, sempre pensamos em como nossos pais ou avós 53


viviam em uma época na qual os avanços tecnológicos eram inimagináveis. Pois bem, agora

a tecnologia faz parte do dia a dia e nossos pais e avós vivem cada vez mais. Já era sabido que, com os avanços da medicina, a expectativa de vida aumentaria. Porém, é preciso que a sociedade se adapte, tendo em vista uma população cada vez mais idosa.

É interessante analisar como os estados brasileiros estão se preparando para dar

conta da demanda do número de pessoas com mais de 60 anos. Num país de tamanho continental, viver no Sul é bem diferente de viver no Nordeste. São regiões separadas por algo além das linhas tropicais do mundo.

Outro fator que diferencia muito esse país é a situação econômica das diferentes

regiões. O que nos leva a pensar: como vive um idoso em Santa Catarina, o estado com

maior expectativa de vida do Brasil; ou qual é a situação do Maranhão, o estado com menor expectativa de vida; e por último, a terceira idade de Minas Gerais vive bem no estado com 3º maior PIB do Brasil?

Um por um, analisamos se esses estados estão se adaptando ao envelhecimento da

população. Um fato muito relevante a ser considerado é o fator previdenciário, cuja regu-

lamentação vem sendo discutida para dar conta do número de pessoas fora do mercado de trabalho que dependerão da Previdência para se sustentarem.

Quanto mais pessoas se aposentam e deixam de trabalhar, mais a população eco-

nomicamente ativa terá que trabalhar para “sustentar” os jovens e aposentados. Mais do

que pensar somente no número de pessoas fora do mercado, temos que pensar no número

de pessoas fora do mercado que não sabem o que fazer da vida com tanto tempo livre. Por

isso, adaptar um país à terceira idade quer dizer criar atividades que os idosos possam realizar e, assim, viverem bem e felizes.

Contudo, podemos levar em consideração que 24,4% da população brasileira com

mais de 60 anos é analfabeta e que 7,2% ainda trabalham. Podemos falar em aproveita-

mento do tempo quando analisamos esses números. Dos 12,6% de idosos brasileiros, mais da metade continua trabalhando. É impreciso dizer que eles continuam trabalhando por ne-

cessidade ou vontade, mas é lógico afirmar que acostumar-se à vida monótona de aposentado é difícil. E aí entra o número de idosos analfabetos, que sem o acompanhamento ou incentivo para se manterem ativos, podem amargar uma vida sozinha e reclusa.

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Santa Catarina, feliz a vida toda Se o estado já possui a melhor qualidade de vida, considerando todas as faixas

etárias, o que é proporcionado para a terceira idade só contribui para uma vida longa e

feliz. Santa Catarina tem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,840, o maior do Brasil. Além disso, 13% de sua população tem mais de 60 anos e a expectativa de vida dos

catarinenses é de 78,4 anos. Na cidade de Balneário Camboriú, aproximadamente 20% da

população são idosos. Em Criciúma, o Projeto de Lei (PL) 06/16 define que todos os assentos dos ônibus são preferenciais para a melhor idade. No estado, pessoas a partir de

60 anos não pagam passagem nos coletivos. E tem jeito de ser mais feliz. Em Florianópolis, em 1983, Neusa Mendes Guedes e Lúia Hisako Takase Gonçalves criaram o NETI (Núcleo

de Estudos da Terceira Idade). O projeto acontece dentro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e tem o objetivo de proporcionar um envelhecimento sadio, oferecendo

cursos e atividades à população em geral. Ser um dos estados mais desenvolvidos do Brasil, e também um dos mais belos, faz de Santa Catarina um lar aconchegante para quem quer aproveitar as atividades e o sossego após os 60 anos.

Minas Gerais, rica e experiente Minas Gerais é um estado bonito por natureza. São 823 municípios, alguns minúscu-

los, como a cidade de Serra da Saudade, com 815 habitantes, segundo dados do IBGE/2010, localizado no centro do estado. Também há municípios populosos, como a capital, Belo

Horizonte, com 2.375.444 habitantes. Mas o fato de ser um estado grande e com muitos municípios não tira de Minas Gerais seu IDH de 0,731, considerado alto. E isso contribui para que 13% da população seja de pessoas com mais de 60 anos. Para contribuir com o en-

velhecimento feliz da população, o governo de Minas dedicou em seu site o espaço terceira

idade, onde todos podem se informar sobre direito, cidadania e saúde. Belo Horizonte, por exemplo, vem se estruturando para atender a parcela de idosos cada vez maior. Com vários

parques na cidade, muitas atividades ocorrem todos os dias da semana e são gratuitas. Na

capital e por todo o estado, é importante também citar as academias da cidade e as áreas para caminhar que os municípios constroem para a população em geral, mas que grupos de terceira idade aproveitam para se reunirem em aulas de yoga ou alongamento. A expectativa de vida em Minas Gerais é de 76,5 anos, e apesar das muitas adaptações que vêm sendo

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feitas, o transporte ainda precisa ser melhorado para que os idosos possam se deslocar e aproveitar todas as vantagens da melhor idade.

Maranhão, a pior expectativa de vida e o que há de positivo O estado do Maranhão abriga uma diversidade cultural única e representa para o

Brasil o verdadeiro caldeirão cultural. O bumba-meu-boi, evento tradicional e típico da

região, atrai os olhares de todo país para a capital e cidade mais populosa do estado, São

Luís. Porém, não só de festa e turismo vive o estado. O Maranhão apresenta a menor expec-

tativa de vida do país, segundo dados divulgados pelo IBGE em 2015, com média de 70 anos.

A relação entre homens e mulheres do estado também apresenta números significa-

tivos. Enquanto a mulher vive em média 74 anos, nos homens este número chega à média de 66,3 anos. Ter uma vida longa requer saúde e números apontam, negativamente, para a realidade maranhense. Dados do relatório “Demografia Médica no Brasil”, divulgado pelo

Conselho Regional de Medicina de São Paulo em 2015, apontam que o estado do Maranhão tem a pior razão de médicos por habitantes no Brasil, com um expressivo número de 0,79

médicos por grupo de cada mil habitantes, tendo a capital, São Luís, a pior taxa de médicos do Nordeste, com 3,4 profissionais a cada grupo de mil pessoas.

Procurando promover o desenvolvimento humano e, como consequência, ampliar

as oportunidades de se viver melhor, o Maranhão desenvolve atividades para melhorar a qualidade de vida da melhor idade. O projeto “A longa vida”, que beneficia cerca de 150

idosos com atividades físicas regulares, busca beneficiar a procura pela qualidade de vida

e o bem-estar dos idosos, em diferentes municípios do estado. De acordo com dados do governo estadual, existem 25 mil aposentados, dos quais 12 mil participam de algum grupo que realiza atividades físicas ou de reinserção na sociedade.

Diante das mais variadas realidades demográficas do país, a qualidade de vida da

terceira idade, ou melhor idade (referido assim por várias vezes aqui), torna-se responsabilidade não apenas do governo, mas também da população em geral. Assim, o Brasil tem

necessidade de caminhar para melhorar seu desenvolvimento humano. De acordo com o

PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), desenvolvimento humano é o processo de ampliação da liberdade das pessoas, no que tange às suas capacidades, bem

como às oportunidades ao seu dispor, para que possam escolher a vida que desejam ter. E 56


entre essas capacidades e oportunidades, a saúde e uma vida longa e saudável fazem parte

do conceito que reúne, em sua medida, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), importante requisito para a compreensão da sociedade brasileira.

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A crise e o beco com saída para os pequenos empreendedores Por:

Cecíclia Bohrer Lorrane Cirino

Com queda livre na economia, mineiros precisam apostar na criatividade para con-

A instabilidade econômica já é uma realidade para os donos de pequenos negócios. E,

seguir fechar as contas no fim do mês.

desta vez, até mesmo o ramo de serviços vem sendo afetado. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil sofreu um recuo de 5% na área. E este número se reflete no orçamento de muita gente.

“A primeira coisa que cortam é o salão, né? Unha, cabelo... Então, para nós, é com-

plicado”, conta Wanuce, proprietária do Espaço de Beleza Wanuce Faria. Dos fundos de seu

estabelecimento, localizado bem no centro de BH, a empreendedora diz que o que parecia

apenas uma fase ruim deixou não só o seu negócio, como o de conhecidos, “mal das per-

nas”. Segundo o IBGE, em Minas Gerais o setor de serviços caiu cerca de 5,9% [no primeiro

tremestre de 2016, em relação a 2015]. E, na capital, os dados revelam ainda que serviços 59


prestados à família e turismo também começam a ser postos de lado.

José de Oliveira, aos 27 anos, via seu negócio entrar numa espiral de contas a pa-

gar, sem um cliente sequer. Foram meses à espera de um pedido; os móveis parados em sua pequena loja no bairro Céu Azul. “Era complicado demais. A gente quer trabalho, mas

ninguém aparece para encomendar nada com essa crise. E aí ficava tudo parado por ali”, desabafa. Passou a buscar trabalhos para ocupar o tempo ocioso, e nada. Até que, usando a

criatividade, encontrou uma saída: as redes sociais. Aliás, eis aqui o ponto em que as duas histórias se encontram.

Wanuce, buscando uma saída, passou a fotografar o antes e depois das amigas,

para as quais fazia um precinho especial, e divulgá-las no Facebook. O compartilhamento

foi crescendo e, hoje, depois de fazer propagandas em grupos e timelines de conhecidos, tem um rendimento melhor que antes da crise. O faturamento triplicou e ela deve tudo à

criatividade. Assim como ela, José decidiu fazer posts divertidos em grupos diversos, que acabaram espalhando seus móveis e, hoje, consegue até uma folga nas contas que, antes,

se acumulavam na loja. “Quem diria que a internet podia ajudar tanto, não é? As pessoas gostam e agora aparecem de vários bairros de BH para comprar aqui”, comemora.

Assim como eles, vários brasileiros andam improvisando e apostando na criativi-

dade para se livrar das dívidas. Parece que, apesar de tudo, ainda existe uma luz no fim do túnel para o empreendedorismo encontrar estabilidade no mercado.

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Jornada dupla: ingresso feminino no mercado de trabalho aumenta, mas mulheres ainda encontram barreiras na hora de cuidar dos filhos Por:

Ana Luiza Bongiovani Daniele Franco Débora Vidal

Uma das frases mais famosas entre todos os grupos que lutam pela igualdade de

gênero é que “lugar de mulher é onde ela quiser”. A premissa, geralmente ligada à vida profissional, busca combater a associação, socialmente construída, entre mulheres e o trabalho doméstico.

De fato, a atribuição de papéis distintos a homens e mulheres no mercado de tra-

balho é uma construção social, que deve ser combatida para que a verdadeira igualdade de

gênero possa acontecer: mulheres devem poder escolher, assim como os homens, que tipo de carreira querem seguir, e se querem ou não “trabalhar fora de casa”.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, essa

escolha ainda não parece fazer parte da vida das mulheres brasileiras. Do total de pessoas empregadas formalmente no Brasil, 38.911.000 são mulheres, num universo de quase 92

milhões de trabalhadores. Além do menor grau de emprego formal, as que conseguem entrar no mercado de trabalho ganham, em média, 34% menos que os homens que ocupam

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cargos semelhantes, mesmo que as mulheres geralmente tenham taxas de escolaridade 10% maiores do que eles.

No caso das mulheres com filhos, as dificuldades só tendem a aumentar: segundo

o RASEAM (Relatório Anual Sócio Econômico da Mulher), mulheres costumam gastar uma

média de 20,8h com o trabalho doméstico - o dobro de seus parceiros homens, que gastam

cerca de 10h semanais com esses tipos de afazeres. Com o encargo de cuidar dos filhos e 62


da casa, sobra menos tempo para o emprego externo, e a possibilidade de ascenção profissional e melhoria de salários diminui consideravelmente.

Para Bárbara Cobo, coordenadora de uma pesquisa do IBGE sobre a participação da

mulher na economia, é muito importante que haja algum sistema de apoio para que as mu-

lheres com filhos possam se manter nos seus empregos. “O suporte de oferta de creches e escolas em tempo integral é fundamental para permitir que as mulheres consigam conciliar

maternidade e estudo, ingressando no mercado de trabalho mais escolarizadas e tendo uma inserção mais qualificada no mercado de trabalho”, diz.

O acesso a creches é de suma importância para que as mulheres com filhos exerçam

sua profissão. E essa relevância pode ser corroborada com os dados de uma pesquisa recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a distribuição percen-

tual de mulheres de 16 anos ou mais, com filhos/as de 0 a 3 anos, por condição de ocupação no mercado de trabalho, segundo a frequência das crianças na creche. Entre as mulheres

sem nenhum filho/a na creche, somente 42,6% exercem algum tipo de atividade remunerada fora de casa. Já entre mães que têm todos os filhos na creche, somente 27,1% não têm nenhuma ocupação no mercado de trabalho.

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Segundo as premissas do Ministério da Educação, faz parte das atribuições do poder

executivo oferecer educação de qualidade desde o ensino infantil. Mas, na prática, a situ-

ação é bem diferente, e, por estar a cargo dos governos dos estados e dos municípios, as condições desse ensino variam muito de acordo com a localidade. Santa Catarina, por exemplo, é o estado com o maior número de vagas em creches e unidades de educação infantil,

proporcionalmente ao número de habitantes: 247.109 das 492.213 crianças de 0 a 5 anos estão matriculadas, segundo dados do Censo.

Já o Pará conta com apenas 303.210 vagas para 891.431 crianças em idade pré-

escolar, também segundo o Censo 2010. Além disso, a tendência é que essa discrepância só

se acentue, já que enquanto a Prefeitura de Florianópolis (SC) busca oferecer mais de 2.600 novas vagas em creches, o déficit de vagas em Belém (PA) só aumenta. Segundo a vereadora

Sandra Batista (PC do B), “esse déficit de vagas se deve ao fato de a prefeitura não construir creches, o que é uma atitude irresponsável do atual prefeito. E, o que é pior, as crianças matriculadas estão em creches em condições precárias”.

Além do problema da desigualdade de gênero, em si, a dificuldade enfrentada pelas

mulheres de ingressar no mercado de trabalho também gera efeitos em uma escala macroeconômica: o Produto Interno Bruto do país só teria a ganhar com um maior número de pessoas inseridas de forma efetiva na economia.

Os casos do Pará e de Santa Catarina são emblemáticos para provar essa relação: o

estado sulista tem a 6ª melhor economia do país, com um PIB de R$ 214.217.000. Já o Pará

possui os melhores índices do Norte, mas ocupa a 11ª posição no ranking das economias es-

taduais brasileiras, somando pouco mais de 120 milhões de reais. De acordo com a Síntese

de Indicadores Sociais elaborada pelo IBGE em 2012, Santa Catarina era o segundo estado

com o maior número de mulheres em empregos formais (68,9% das mulheres maiores de 16 anos), atrás apenas do Distrito Federal (70%). Segundo a mesma pesquisa, esse percentual é de 30,7% no Pará.

O fato da economia paraense estar tão fortemente baseada no extrativismo mineral

e vegetal também desencoraja a participação da mulher no mercado: esse tipo de atividade

é tradicionalmente executado por homens, e as mulheres que tentam ingressar nesse mercado costumam adentrar um ambiente mais hostil e sexista.

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No ParĂĄ, pais ficam horas na fila em busca de vagas em creches municipais. Abaixo, alunos fazem atividades lĂşdicas em creche em Santa Catarina.

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Em suma, a desvalorização da mulher no mercado de trabalho é uma barreira que

deve ser transposta por todos e, para isso, não basta que haja uma mudança no tratamento das empresas ou no salário, mas sim uma reconstrução da conjuntura social brasileira, como um todo.

Além da implantação de mais creches, o Brasil precisa de uma reformulação cultu-

ral, no que diz respeito à maneira como as crianças são criadas, na qual a responsabilidade possa ser dividida, e não colocada apenas sobre os ombros da mulher.

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As carroças que ainda movem o Brasil Por:

Bárbara Angelo

Como a crise do setor automotivo denuncia as falhas da economia brasileira – e o que

Num país em crise profunda, o desempenho do setor automotivo continua em que-

o país pode aprender com ela.

da, entrando no quarto ano da recessão que se iniciou em 2013. De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE), o número de

emplacamentos de automóveis em maio de 2016 foi 21% menor que no mesmo período do ano passado. No total de 2015, os emplacamentos já registravam uma diminuição de 24% comparados a 2014.

No entanto, a expressiva queda na aquisição de veículos novos precedeu a recessão

econômica que assola o Brasil. Em 2013, enquanto a crise automotiva se iniciava com uma

queda de 2% em relação ao ano anterior, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescia

2,3%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A recessão 67


que ainda vivemos apenas mostraria as caras da estagnação em 2014, com um crescimento

de 0,1%, e em um período em que os emplacamentos de veículos alcançavam 8% de queda.

Já no ano passado, a bomba econômica terminou de explodir com uma retração de

3,8% no PIB, confirmando a tragédia sinalizada pelo setor automotivo. Mas a função de

termômetro dessa área da economia deixa de ser uma coincidência quando consideramos que o setor teve uma participação de 20,4% na indústria e 4,1% no PIB nacionais em 2014,

sendo o Brasil o quarto maior mercado interno do mundo, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).

Com uma posição de tanto peso na economia brasileira, é natural que o desempenho

do setor automotivo seja ilustrativo da economia total, possuindo também uma parcela de

consequências sobre seu desempenho. Podemos pensar que os primeiros sinais de desaceleração no consumo se manifestam na aquisição de veículos, mas uma vez que o setor entra

em crise, seus prejuízos têm amplo espaço para se refletirem na economia como um todo, agravando o cenário geral.

Uma via de mão dupla Um dos indicadores desses reflexos são os dados relativos ao emprego no setor.

A ANFAVEA estima que um total de 1,5 milhão de pessoas estejam empregadas direta ou indiretamente pelo setor automotivo. As consequências da crise sobre seus empregados têm sido hóspedes frequentes das manchetes de jornais que retratam uma indústria que, segundo a FENABRAVE, opera com menos que a metade de sua capacidade.

Para evitar a demissão em massa no que é considerada uma crise temporária, e em

congruência com o cenário nacional, o setor tem se comprometido com o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Lançado em julho do ano passado pelo Ministério do Trabalho, o PPE faz concessões a empresas que se encontram em situação similar às automotivas.

A ideia é que o empregador possa diminuir a carga horária de seus trabalhadores

e reduzir salários, sendo que uma parcela do novo salário será bancada pelo programa

através do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Mas o PPE teve um custo de R$131 milhões

só até fevereiro, e grande parte do gasto foi para o setor automotivo, como na região do ABC paulista, onde ele engloba mais da metade das empresas beneficiadas. Agora, com a permanência dos números negativos, muitas montadoras estão ameaçando romper com os 68


contratos de emprego, levando a greves e paralisações.

Um mal enraizado Políticas protecionistas como esta são tradicionais no governo brasileiro, que desde

seu nascimento luta para consolidar a indústria através do fomento direto. O ônus desses investimentos, no entanto, nem sempre é compensado, como no caso do PPE. Essa é outra forma pela qual o setor automotivo pode ser considerado exemplo da economia brasileira

como um todo, tendo sido beneficiado com favores também em 2012, com a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI).

A redução do IPI teve o objetivo de aumentar o consumo de produtos industrializa-

dos através da diminuição do imposto cobrado sobre tais, e esteve em vigência até dezembro de 2014. Mas é irônico que esta tenha sido a medida adotada também para a área au-

tomotiva, que foi responsável pela arrecadação de R$178,5 bilhões em impostos no ano de

2013 (ANFAVEA), em um país no qual a venda de automóveis oferece o dobro da margem de lucro, se comparada à media mundial.

Segundo um levantamento feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Compo-

nentes para Veículos Automotores (Sindipeças), em 2012 as montadoras tiveram uma

margem de lucro de 10% sobre o automóvel vendido no Brasil, com apenas 58% do valor

final sendo relativo aos custos de produção. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 91%. Ou seja, esse tipo de protecionismo sustenta a indústria e alimenta o próprio governo, mas se esquece de que a economia é primariamente feita pelo consumidor.

Estrada para o futuro Se até agora a economia tem andado de mãos dadas com o setor automotivo, com-

prando qualquer briga até as profundezas da recessão, talvez finalmente seja a hora da parceria trazer benefícios para o outro lado. Em janeiro, a ANFAVEA publicou previsão de estabilização na produção automotiva para o ano, com um crescimento de 0,5%.

Enquanto isso, as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a econo-

mia brasileira são de uma recessão de 3,8% em 2016. Embora os números da ANFAVEA não correspondam aos alcançados até agora, a publicação trouxe um dado interessante para o

cenário, ao considerar que as exportações poderão ser responsáveis por parte do cresci69


mento previsto.

O otimismo da associação foi fundado nos dados de 2015, que revelaram um aumen-

to de 24,8% nas exportações, comparadas a 2014. A maior parte dos destinos de automóveis

brasileiros é a América do Sul, e a indústria soube aproveitar o momento econômico para sua vantagem. Com a alta do dólar, as exportações geraram mais lucro, ao mesmo tempo que os importados se mostram menos atrativos.

Por isso, este seria o momento de as políticas econômicas nacionais tomarem o

exemplo do setor automotivo. Ao invés de investir em medidas protecionistas onerosas, o Brasil deveria considerar a situação global e fortalecer as exportações com a segurança de que, em tempos de dólar alto, nenhum produto é melhor do que o nacional.

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“Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas” Por:

Antônio Athanasio

Como a crise do setor automotivo denuncia as falhas da economia brasileira – e o que

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo instituto Pró- Livro, a

o país pode aprender com ela.

média anual brasileira de livros lidos, por habitante, subiu de 4,0 em 2011 para 4,9 em 2015.

Em 2007, esse mesmo parâmetro correspondia a 4,7 livros lidos por ano, por habitante. Entre os dados, a região Sudeste apresenta o maior número de leitores do país, mesmo tendo diminuído esse número em 2011.

A pesquisa é divulgada a cada quatro anos e busca analisar o comportamento do

leitor, medindo a intensidade, a forma, as limitações, as motivações, as representações e as condições de leitura e acesso aos livros (impresso e digital) pelos brasileiros, “aquele que leu inteiro ou em partes pelo menos um livro nos últimos três meses”, relata a pesquisa.

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Diante destas informações, constata-se que, ao estudar sobre a história e a evolução

da literatura, pode-se notar que ela está proporcionalmente ligada à evolução da sociedade. Logo, a história da leitura consiste na história das possibilidades de ler e entender o mundo.

Atualmente, estamos vivendo a era digital, com maior rapidez na forma de nos co-

municarmos. Sabemos que uma mídia não exclui a outra. Contudo, é importante que as bi-

bliotecas e os espaços para leitura façam sentido e despertem o prazer da leitura. Dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas indicam a existência de 6.102 bibliotecas públicas municipais, distritais, estaduais e federais no Brasil, nos 26 estados e no Distrito Federal.

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O hábito da leitura tem influência direta no desenvolvimento humano. “Quando

eu era criança, analfabeta ainda, minha avó lia para mim e para meu irmão...”, comenta a

produtora de TV Érica Fernandes, atualmente desempregada, que vive em Salvador, e cuja média de leitura é de 17 livros por ano. Érica conta que, quando era adolescente, gostava de

ir à biblioteca pegar livros da série Vagalumes para ler. Ela lembra que foi por meio desta coleção que criou hábito de ler. Perguntada sobre o benéfico da leitura, ela reitera: “o be-

neficio é relaxar, conhecer outras visões de mundo, aprimorar meu vocabulário e poder me articular melhor”.

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Já o assistente técnico Adriano Augusto, 21 anos, diz que apesar de ter livros por

toda casa, não consegue dar atenção a eles, por conta da falta de paciência. Ele nos conta que sempre que começa a ler perde a concentração e a disposição para continuar a leitura, e que acaba ligando a TV para se distrair. Contudo, ele sabe da importância da leitura para

se escrever bem e tem recebido estímulo do irmão mais velho, que vive estudando para concursos. Perguntado como ele tem acesso aos livros, ele declara: “sempre que vejo a capa leio, mas os assuntos nunca me despertam interesse.”

“O beneficio [da leitura] é relaxar, conhecer outras visões do mundo, aprimorar meu vocabulário e poder me articular melhor”.

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De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Pró-livro, o que os brasileiros mais gostam

de fazer em seu tempo livre é assistir TV, ouvir música e assistir filmes. A leitura fica em 7º lugar no ranking, sendo que, dentre os leitores pesquisados, apenas 58% são leitores frequentes.

Sabemos da influência das novas mídias digitais e o foco das grandes emissoras de TV, que

vêm perdendo audiência. A preferência pela TV como meio de entretenimento era, em 2011, de 85;

caindo para 73% em 2015. Assim assim, quase não se incentiva a cultura da leitura. É preciso aprender a ler para ensinar aos nossos camaradas a não perdermos a conta do que é contar histórias.

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