2ª edição

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nuição no número de católicos, mas a entrada de católicos não-praticantes nas igrejas protestantes. “A Igreja sempre teve consciência de que o número de pessoas que realmente praticava a religião era menor”, explica o pároco. Isso porque, na avaliação dele, a religião sediada em Roma era vista por muita gente como uma tradição, uma herança dos antepassados. Dessa característica surgiu o costume de muitas pessoas de se declararem católicas, mesmo sem frequentar a igreja aos domingos ou seguir os preceitos atribuídos a ela. O padre ainda critica a chamada teologia da prosperidade, apregoada em algumas igrejas protestantes que pregam o sucesso financeiro como resposta de Deus aos esforços humanos. Já o pastor da Igreja Batista Sebastião Arsênio atribui o avanço da igreja protestante, em grande parte, à popularização da música gospel, trazendo à tona o sucesso das bandas religiosas. Ele lembra que artistas que caíram no gosto dos brasileiros arrastam cada vez mais multidões. Mesmo diante dos dados, o pastor faz uma ressalva. “Muita gente se declara evangélica, mas não segue a religião verdadeiramente”. Mídia e religião E se em tempos modernos conectar-se é uma estratégia de sucesso, sobretudo através das redes sociais, o ambiente religioso, qualquer que seja a crença, aproveitou-se da expansão da internet para também se expor. Popularizar produtos e serviços, aliás, se transformou em nicho empresarial, e hoje há no mercado especialistas em assessoria de mídia.

O jornalista e publicitário Ricardo Gomes é gerente comercial de uma empresa especializada em comunicação católica. O empreendimento surgiu em Governador Valadares há dois anos, a partir da necessidade de implantar uma comunicação interna e externa entre as paróquias. “A igreja acompanha todas as novidades tecnológicas e as utiliza na evangelização”, explica. A empresa também cria peças publicitárias para divulgar eventos. O resultado, ainda recente, começa a aparecer: o serviço que começou pequeno, restrito apenas a Valadares, já tem clientes até fora do Estado. A parceria firmada com uma editora católica, com sede em São Paulo, também ajuda a expandir o mercado. O uso da mídia em favor da religião é uma das características da igreja na pós-modernidade. Já o pastor da Comunidade da Graça, Horácio Perim, avalia: “Tudo o que puder ser feito, com ou sem tecnologia, deve ser feito para o anúncio do Evangelho”. A Comunidade, segundo o pastor, é uma igreja em células. Os membros são divididos em pequenos grupos de partilha para vivenciar as propostas evangélicas. Pastor Horácio diz também que a palavra “igreja”, no contexto bíblico, não está ligada a instituições, mas a pessoas. Um dos desafios da contemporaneidade, avalia, é justamente desmitificar a Teologia da Prosperidade. “É cada vez mais comum pessoas em busca de prosperidade, e não do sacrifício. Preocupam-se em ter, e não em ser”, sustenta. De fato, as religiões tornaram-se verdadeiros produtos cujo objeto de consumo é o encontro com Deus. E pode se sair melhor a igreja que tiver melhores estratégias de comunicação para trazer os fiéis para dentro dos templos.

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Setembro/Outubro 2012


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