Revista Comunità Italiana Edição 164

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Luxo náutico Em alta, mercado brasileiro atrai gigante italiana dos iates

Missão em maio Mais de 300 empresas desembarcam no país em busca de negócios

ConferÊncia Crescimento sustentável de Brasil e Itália em pauta www.comunitaitaliana.com

Ano XVIII – Nº 164

ISSN 1676-3220

R 7,00 R$ 11,90

Rio de Janeiro, março de 2012

Para a revista ComunitàItaliana, todos os momentos são Momentos Itália-Brasil. Por isso, ela está de parabéns sempre, não apenas no mês do seu aniversário Washington Olivetto, publicitário


Consciente

Auguri ComunitàItaliana completa 18 anos de sua criação este mês e amadurece seu papel de interlocutora de fatos e projetos culturais, econômicos e políticos entre Brasil e Itália

D

e 1994 até 2012, o percurso se fez com desafios, compensados pelo reconhecimento de pessoas das mais diversas vertentes, que amam ambos os países. A partir de uma ideia, concebida originalmente para informar à numerosa comunidade italiana no Brasil, uma verdadeira ponte foi construída para comunicar aspirações, projetos e sentimentos da parte de artistas, empresários, estudantes, políticos e diplomatas de todas as origens — ultrapassando fronteiras regionais e ganhando prestígio internacional. No ano em que a revista ComunitàItaliana atinge sua maioridade, consciente da responsabilidade do papel que exerce no país que reúne uma das mais numerosas e influentes comunidades de descendentes de italianos do mundo, ouvimos as opiniões de leitores ilustres que nos acompanham ao longo das últimas duas décadas.

Honra Uma mistura de serviço, informação e cultura, a revista ComunitàItaliana é mais que um veículo de comunicação voltado para italianos e descendentes que escolheram o Brasil como seu lar. É também um importante meio de divulgação da cultura da Itália por aqui, e em especial na nossa cidade maravilhosa. É uma honra para o Rio ter aparecido tantas vezes em suas páginas nesses 18 anos, seja nos ótimos artigos, nas variadas reportagens e, principalmente, no guia completo de serviços que mostra aos seus leitores aonde ir, por exemplo, para se sentir um pouco mais carioca, mas nunca menos italiano. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro

Original Desejo expressar os meus cumprimentos mais expressivos pelo aniversário de 18 anos da revista. É uma comemoração importante para uma publicação que é, em primeiro lugar, uma vitrine informativa, de promoção e de cultura, mas também uma bela realidade empresarial com os seus inúmeros colaboradores. A atenção ao conteúdo, a capacidade de interpretar de maneira original os fatos, eventos e tendências das realidades italiana e brasileira, o visual gráfico, sempre cuidadosa e de alto nível editorial, e a linguagem comunicativa e ágil fazem de ComunitàItaliana, ao meu ver, o melhor veículo de italianidade neste grande e diversificato país. Funciona como um instrumento eficaz de suporte para o Sistema Itália, ainda mais necessário diante dos desafios do desenvolvimento e da integração entre Itália e Brasil. Mario Panaro, cônsul-geral da Itália no Rio de Janeiro 2

março 2012 | comunitàitaliana

ComunitàItaliana é um belo exemplo de jornalismo feito com competência, senso de atualidade e requintado apuro estético, como se evidencia na leitura de seus textos e na contemplação de sua programação visual. Essas virtudes lhe permitem exercer com eficácia o papel para o qual seus criadores e editores a conceberam: informar brasileiros e italianos com textos que contribuam para a elevação de seu nível cultural e sua crescente conscientização política. Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa

Brilhante É com grande satisfação que me congratulo com a aniversariante revista ComunitàItaliana, relevante veículo que nos brinda com notícias e reportagens sobre os acontecimentos políticos e sociais de duas terras distantes, mas de povos irmanados pela história. Nesta oportunidade, como oriundo italiano, mando meu abraço e lembro com especial orgulho o fato de ter sido signatário do acordo de cooperação “Programa Brasil Próximo”, que fortaleceu ainda mais os laços entre Brasil e Itália. Inauguramos um modelo de “descentralização” de cooperação e temos colhido muitos frutos da nossa amizade. Felicito, finalmente, o esforço de todos os profissionais que, em torno da Comunità, atuam para a construção deste brilhante produto. Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil

Impecável É com muito prazer que formulo os meus mais expressivos cumprimentos à ComunitàItaliana, que completa 18 anos de fundação. Durante esse período, a revista soube evoluir, cuidando do conteúdo e da roupagem gráfica, e interpretando de maneira impecável o seu papel de ser a voz da nossa coletividade. Nestes quase três anos em que estou no Brasil, sempre encontrei na revista um interlocutor atento, profissional e competente, presente nos momentos mais relevantes da história das relações entre Itália e Brasil e capaz de interpretar com eficácia e sem retórica o orgulho de ser italiano no Brasil. Gherardo La Francesca, embaixador da Itália no Brasil

Momentos Para a revista ComunitàItaliana, todos os momentos são Momentos Itália-Brasil. Por isso, ela está de parabéns sempre, não apenas no mês do seu aniversário. Washington Olivetto, publicitário


Essencial

Plural

Celebro com muito prazer, junto a vocês, esta data tão importante. Não apenas porque tenho belíssimas recordações das minhas viagens em várias cidades do Brasil e admiro a intensa vitalidade e o crescimento impetuoso da economia brasileira, mas porque também sinto que aquele cordão umbilical que nos liga ao Brasil e vos liga à Itália é ainda forte, sinal de uma relação que se consolida cada vez mais. E que o ex-presidente Lula, com quem mantive uma sólida amizade, definia “estratégico”: Itália e Brasil são, naturalmente, países aliados. E o são por motivos históricos, pela altíssima presença da população de origem italiana, e pelo altíssimo nível de integração da nossa comunidade no país, mas também para que nossas economias possam se integrar e se completar mutuamente. A revista Comunità possui uma função essencial nesse desenho: vocês estão em um lugar avançado da nossa cultura e são um importante pilar da ponte da nossa política econômica. Aproveito esta ocasião em que faço os meus melhores cumprimentos pelo aniversário da revista para enviar uma cara saudação aos vossos leitores. Luca Cordero di Montezemolo, presidente da Ferrari, ex-presidente da FIAT e da Confindustria

A comunidade italiana tem uma enorme importância na formação cultural, social e econômica do Brasil. No Rio de Janeiro, sempre recebemos de braços abertos os italianos que nos visitam durante todo o ano, e apoiamos eventos culturais, gastronômicos e empresariais da comunidade italiana aqui. A revista ComunitàItaliana é, sem dúvida, um dos principais instrumentos de comunicação e integração entre o Brasil e a Itália. Nós só temos a agradecer por esse belo trabalho, feito com bom gosto e sempre levando notícias relevantes aos seus leitores. Chama atenção a diversidade de assuntos abordados pela revista, que vão de questões políticas à culinária italiana e brasileira. Meus parabéns pelos 18 anos. Que a revista mantenha o sucesso sempre divulgando informação de qualidade. Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro

Histórica

Empreendedora

A revista ComunitàItaliana surgiu do sonho de um menino brasileiro, Pietro Petraglia, filho de imigrantes do sul da Itália, radicado em Niterói. Lembro daquele rapaz, os olhos fixos em duas paisagens, duas línguas e dois países. A revista é fruto dessa busca de identidade agora ampliada, como aponta seu próprio nome. A publicação integra, com todos os títulos, um capítulo da não pequena história da imprensa ítalo-brasileira. Marco Lucchesi, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras

Há 18 anos, quando a revista ComunitàItaliana foi criada, a Pirelli já era uma das grandes empresas de origem italiana consolidadas no país, com mais de 60 anos de atividades industriais, e pode ser considerada um exemplo de como a cultura brasileira e a cultura italiana têm tantos pontos em comum. A revista é importante para a comunidade ítalo-brasileira nesse sentido, pois contribuiu para fortalecer o trabalho de consolidação da amizade entre os dois povos. Trata-se de uma publicação que ajuda a difundir o desenvolvimento das relações culturais, econômicas e comerciais entre Brasil e Itália. Paolo Dal Pino, presidente da Pirelli Ltda

Orgulho

Inovadora

Independente

Sou neto de italianos, tenho meu passaporte, sinto saudável orgulho de minhas origens e gosto de saber que a revista ComunitàItaliana está firme e forte e completando seus 18 anos, sempre reforçando nosso sentimento de ítalobrasilidade. Avante, sempre avante. Paulo Betti, ator

ComunitàItaliana já era grande antes de completar seus 18 anos. Acompanhou de perto a evolução extraordinária do Brasil. Teve o mérito de fazê-lo de maneira antecipadora e inovadora, com profissionalismo raramente encontrado em seu universo. CI mostrou que é possível gerar informação com qualidade e estilo, sem fecharse no círculo dos italófonos. Devemos tudo isso à sabedoria do seu diretor Pietro Petraglia e a um grupo de colaboradores e jornalistas capazes e motivados. Tenho certeza de que, mesmo num momento difícil para a editoria no exterior, CI saberá superar as dificuldades, sendo mais uma vez pioneira e vencedora! Fabio Porta, deputado italiano

Leio sempre ComunitàItaliana com múltiplo interesse. Além da parte política, a parte cultural é excelente, mesmo os profissionais mais exigentes gostam. E gosto da independência política: falam o que pensam, sem constrangimentos. Affonso Romano de Sant’anna, escritor

Excelências Há 18 anos, a revista ComunitàItaliana desenvolve um trabalho de qualidade na divulgação das excelências brasileira e italiana nos mais diferentes campos do conhecimento. Ao mostrar as mais recentes iniciativas desenvolvidas nos dois lados do Atlântico, ajuda a promover as potencialidades existentes na relação entre o Brasil e a Itália e o congraçamento entre os nossos povos. José Viegas Filho, embaixador do Brasil na Itália

Vitalidade A revista ComunitàItaliana tem tido um papel essencial para fortalecer a integração econômico-cultural entre Brasil e Itália. A publicação não somente aproxima os italianos e descendentes residentes no Brasil, como traz informações sobre a atuação das companhias italianas no país como a TIM, além de abordar assuntos de interesse e manter viva a nossa cultura além das fronteiras geográficas. Luca Luciani, presidente da Tim Brasil comunitàitaliana | março 2012

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M a r ço de 2012

Economia 18 | Conferência Empresários e políticos estiveram reunidos em Brasília no evento Brasil e Itália no contexto global, que discutiu os modelos de desenvolvimento de ambos os países

Negócios 20 | Intercâmbio Governo italiano prepara missão com 300 empresas de olho em oportunidades comerciais em São Paulo, Minas Gerais e Paraná

Náutica 24 | Luxo nas águas Brasil emerge como um dos mais lucrativos mercados de iates do mundo e atrai gigantes do setor, como a italiana Azimut

Música 17 | Zucchero De volta aos palcos brasileiros, cantor fala à Comunità sobre seu novo álbum Chocabeck

Ano XVIII

Nº164

Música

História e arqueologia 50 | Patrimônio artístico Datadas do século XVIII e únicas no Brasil, esculturas italianas em terracota são restauradas pelo Iphan no Rio de Janeiro

49 | Fiorella Manoia A cantora italiana que ama o Brasil e o seu engajamento no Projeto social Axé

Italian Style 57 | O romantismo está na moda

Teatro 52 | Nise da Silveira Atriz Mariana Terra, que personifica nos palcos a médica brasileira que revolucionou o tratamento psiquiátrico, fala de suas ligações com a Itália

Turismo 27 | BIT 2012 Paisagens brasileiras roubaram a cena durante o maior evento dedicado ao turismo da Itália

Sapori 55 | Cannoli Sobremesa siciliana recheada com ricota, pistache e frutas cristalizadas vira moda gastronômica em São Paulo. Saiba onde encontrá-los

Confira o que fez sucesso no Dia de São Valentino, entre bolsas e acessórios com corações da Prada, Gucci e Miu Miu

Cinema 54 | Taviani de ouro Cineastas italianos

Nossos colunistas 11 | Cose Nostre

levam o prêmio máximo do Festival de Berlim com Cesare deve morire

Rio vai receber exposição de Michelangelo e mostra de objetos do Museu do Vaticano durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013

Exposição 47 | A maloca em Roma Estrutura

14 | Fabio Porta

típica da cultura dos índios da Amazônia inspira obras da mostra Re-Cycle, em cartaz no museu Maxxi até 29 de abril

Le sfide del nuovo governo italiano, alle prese com antipolitica e crisi economica

15 | Ezio Maranesi Possiamo superare la crisi economica ma sapremo superare la crisi di identità?

16 | Opinione La Scuola André Urani – per Mauro Villone

33 | Giordano Iapalucci Le tradizioni,

36 Pontos turísticos de São Paulo testemunham a história da comunidade italiana na cidade — a exemplo do Theatro Municipal. Palco da Semana de Arte Moderna de 1922, seu projeto contou com a assinatura dos arquitetos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi

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Lucas Sampaio

l’arte e la cultura del Giappone nel Palazzo Pitti a Firenze

43 | Guilherme Aquino Giorgio Armani privilegia os tacos baixos nos desfiles em Milão: “Chega de mulheres agressivas”

58 | Claudia Monteiro De Castro Os deliciosos fondues da cantina de Roma frequentada por Ratzinger antes de se tornar Papa


Outros cookies saem dos livros de receitas. Os nossos, dos livros de memórias do Sr. Bauducco.

Da família Bauducco para a sua família.


Editorial

Expediente

Opinião fundamental

U

ma publicação como a ComunitàItaliana se propôs desde seu primeiro número, em março de 1994, tem alma, coração e sensibilidade. Como uma caixa de ressonância, a partir de seu corpo, formado por diretores, colaboradores, funcionários e leitores, ela expande a cada momento a vitalidade e a beleza de uma relação entre dois povos complementares. Com um jornalismo puro, focado nas ricas atividades produzidas por Brasil e Itália, tem seu diferencial na abordagem de temas variados e importantes para a formação de opinião e para o entretenimento. Tornou-se, ao longo de seus 18 anos, um veículo de comunicação fundamental para o Sistema Itália no Brasil, onde, através de informação de qualidade diferenciada e de uma apresentação primorosa, construiu uma importante rede para colaborar com o desenvolvimento sustentável entre os dois países. E pensar que este delírio da construção de uma ponte com valor imaterial surgiu no mesmo período em que o Brasil tomou a decisão mais importante para dar passos largos ao que hoje é uma realidade econômica estabelecida. O ex-presidente Itamar Franco lançou o Plano Real, idealizaPietro Petraglia do pelo seu então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Editor Cardoso. Essa medida permitiu que o país reduzisse a inflação, que só no mês de março daquele ano chegou a 47%, e deu maior poder de compra à população com o plano econômico mais eficaz da história. Essas últimas duas décadas foram marcadas pela rápida transformação da imprensa, que aposentou linotipos e máquinas de escrever para entrar no mundo da informática e da internet. E Comunità não se limitou às fronteiras de uma publicação alternativa para informar somente a um público específico. Foi audaz e com entrevistas exclusivas a personalidades dos diversos setores e matérias surpreendentes conquistou o interesse de quem busca uma ferramenta para o conhecimento, para os negócios, para o lazer e o aprendizado da língua italiana. Com uma equipe de Redação enxuta e correspondentes em estados brasileiros e italianos, esta revista foi reconhecida com diversas premiações e teve o mérito de participar com grandeza do processo de renovação da imprensa escrita. Com um visual inovador e atraente para pessoas de várias idades, foi pioneira na reformulação gráfica dos tablóides da época e se mantém atual em sua arte em busca do bem estar na sua leitura. Portanto, neste aniversário, agradecemos aos patrocinadores e incentivadores da Comunità, agradecemos aos nossos funcionários e colaboradores, agradecemos aos leitores que participam ativamente deste encontro harmonioso de duas nações que são tão distantes, mas tão semelhantes e criativas, que se aproximam naturalmente. A história da imigração é tão importante para o Brasil quanto como para a Itália. Sem ela muita coisa seria diferente e talvez não tivéssemos aqui este espaço democrático. Parabéns! Boa leitura!

Fundada

em

março

março 2012 | comunitàitaliana

1994

Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 14/03/2012 às 19:00h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cíntia Salomão Castro; Nathielle Hó Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Editoria de arte Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo); Stefania Pelusi (Brasília); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Gianfranco Coppola (Nápoles) Publicidade: Osvaldo Requião Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 Cel: (21) 9483-2399 orequiao@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 e-mail:zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220

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de


cosenostre Julio Vanni

Fiat e GM

O

diário norte-americano Wall Street Journal divulgou a informação que as gigantes Fiat e General Motors estavam em conversações desde o início do ano sobre uma eventual fusão de suas atividades na Europa. Ainda de acordo com o veículo, os administradores de ambas, Sergio Marchionne e Dan Akerson, não levaram concretizaram a proposta porque a GM já estava avançando um processo de aliança com a PSA Peugeot Citroen. Durante o 18º Salão do Automóvel de Genebra, realizado este mês, Marchionne disse à imprensa que o mercado europeu está em crise, pois falta o equilíbrio entre oferta e procura, “um problema que não se vê em nenhuma outra parte do mundo”, completou.

Igreja sem isenções governo italiano anunciou medidas destinadas

O

a acabar com as isenções tributárias para propriedades comerciais pertencentes à Igreja Católica, o que deve gerar uma arrecadação adicional de até 600 milhões de euros. A medida afeta outras organizações não-lucrativas, em um pacote mais amplo de desregulamentação. A Igreja é proprietária de muitos hospitais, hotéis e pensões que gozam de isenção por serem parcialmente ocupados por freiras e padres, ou por terem uma capela.

Passaporte para menores

Adeus a Lucio Dalla morte de Lucio Dalla,

A

A

partir de 26 de junho deste ano, entra em vigor a obrigatoriedade do passaporte individual para os cidadãos italianos menores de 18 anos. O Consulado Geral em São Paulo informa em seu site que a medida faz parte dos novos regulamentos de segurança europeus. A entidade também alerta que a inscrição no passaporte dos pais, daquela data em diante, não será mais considerada um título válido de viagem para o exterior.

Direito depresidente solodo Ponti-

O

fício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, o cardeal Antonio Maria Vegliò, defendeu o direito à cidadania aos filhos de imigrantes no país onde nasceram. Para ele, se uma pessoa nasceu, cresceu e teve sua formação em um determinado país, é “óbvio que ela se sente uma cidadã local” e, por isso, é justo que também receba o respaldo jurídico, ainda que seus pais sejam de outra nação. A questão, polêmica na Itália, ganhou força após o apelo favorável do presidente Giorgio Napolitano no final de 2011.

A

Arquidiocese do Rio escolheu o Museu Nacional de Belas Artes para sediar uma exposição de Michelangelo, além de uma mostra de objetos do Museu do Vaticano em comemoração à visita do Papa ao Brasil, que vai acontecer durante a Jornada Mundial da Juventude, de 23 a 28 de julho de 2013. A organização da JMJ esteve em visita ao Rio, no começo de março, para falar sobre o evento e da importância de novas comunidades para a evangelização.

um dos mais importantes cantores italianos, em 1º de março, aos 68 anos, comoveu o mundo. O músico, que teve um infarto, estava em turnê em Montreux, na Suíça. Ele se tornou mundialmente famoso com a canção Caruso, interpretada por Luciano Pavarotti e Andrea Bocelli. Outro hit foi a Minha história, regravada por Chico Buarque e por vários artistas de renome. Em novembro do ano passado, Dalla lançou seu último álbum, Questo è amore.

Segredos doprocesso Vaticano de Galileu, a exco-

Pedaladas na colônia omo parte das comemorações do Momento Itália-Brasil, munhão de Martin Luther, Ca Agência Consular da Itália em Santa Maria (RS) e as lo- Oa “confissão” dos Templários. jas Benvenutti Bikes promoveram, em um domingo de fevereiro, a Volta Ciclística Jardim das Esculturas. Além de visitar o jardim — obra de descendentes de italianos — o grupo pedalou pelas estradas da Quarta Colônia de Imigração italiana, caracterizada por suas belezas naturais. O evento reuniu cerca de 50 ciclistas que percorreram cerca de 100 km.

Prêmio Nosside o último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foram

N

abertas as inscrições para o Premio Mondiale di Poesia Nosside. Criado em Reggio Calabria e divulgado em todo o mundo com o apoio da Unesco, leva o nome da poetisa mais antiga de que se tem notícia em solo italiano, nascida por volta do século III a. C., em Locri, na Calábria. Na edição do ano passado, participaram do concurso 360 poetas de 64 nações e 61 línguas. Mais informações no site www.nosside.org

Pela primeira vez, o Vaticano revela ao público estes e outros segredos, em uma exposição até 9 de setembro nos museus do Capitólio, em Roma. São mais de cem documentos originais selecionados por ocasião dos 400 anos de criação dos arquivos secretos. Intitulada Lux in arcana (Luz sobre os segredos, em latim), exibe o pedido de anulação do casamento de Henrique VIII e Catarina de Aragão, e o “dictatus Papae” de Gregório VII — um manuscrito do século XI afirmando a supremacia dos papas sobre todos os outros poderes na Terra.

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Opinião enquetes

frases

“Acho que Itália é um país de namorados apaixonados, por isso é que nunca cá vim antes!”,

Seja a lazer, seja a trabalho, você deixaria de viajar para países europeus por causa do frio intenso?

apresentadora do Fama Show de Portugal, Vanessa Oliveira, na Itália pela primeira vez, em entrevista a Caras, fala sobre relacionamentos amorosos e sobre estar solteira

Sim - 53,8% Não - 46,2%

“Que o filme O Artista possa transmitir, também nos espectadores, a vontade de rever Capra, Lubitsch, e o cinema italiano”,

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/02/12 a 09/02/12.

Vaticano defende reconhecimento de cidadania a filhos de imigrantes. Você apoia essa posição?

Sim - 70%

o presidente francês Nicolas Sarkozy, em entrevista à rádio RTL, fala sobre a importância do resgate de filmes antigos italianos, em preto e branco, semelhantes ao filme francês O Artista, vencedor do Oscar 2012

“Eu sou um pouco moleca, mas quando se trata de amor, sou um capacho”, Elisabetta Canalis, modelo e apresentadora de TV, e ex-namorada de George Clooney, em entrevista à revista italiana Chi

“Eu poderia relaxar, andar de moto, sentar em cafés e curtir meus dias na Itália, mas o trabalho me guia”,

Não - 30% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/02/12 a 15/02/12.

Costa Cruzeiros dona do Costa Concordia e Costa Allegra, perderá credibilidade com os acidentes?

Sim - 88,9%

ator George Clooney em entrevista à Alfa, conta que passa boa parte do ano em seu palácio à beira de um lago na Itália, mas a sua grande paixão é atuar

“Eu quase não me proponho mais a vestir as estrelas do Oscar, isso é comandado por uma máfia”, o estilista italiano Roberto Cavalli, em entrevista à ANSA, diz que não tem dinheiro suficiente para pagar o tapete vermelho

Não - 11,1% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/02/12 a 22/02/12.

no celular

“O modelo social europeu acabou”, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), em entrevista ao The Wall Street Journal, defende o plano de austeridade exigido pela União Europeia (UE) contra a crise

“Ele tem contos eróticos pesados e polêmicos, que retrata uma mulher que tem tesão. Quero fazer a coisa do mesmo jeito e não ser um produto como querem vender”, Pietra Príncipe, apresentadora do Papo Calcinha da Multishow, faz ensaio sensual para o site Nake it baseado nas ilustrações de Milo Manara, quadrinista italiano famoso por suas HQ’s eróticas

Acesse comunitaitaliana. com no seu smartphone com o código QR acima

cartas

“G

ostei muito da matéria sobre o gelato italiano e do serviço prestado pela revista no que se refere à divulgação de sorveterias especializadas. Os ingredientes e a maquinaria da Itália fazem a diferença no preparo de um autêntico gelato.” Adélia Albuquerque, São Paulo – SP – por e-mail

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“A

dorei a matéria sobre os eventos de moda que aconteceram no Rio. Tanto o Fashion Rio quanto o Rio-àPorter dão oportunidade para lojistas e curiosos conhecerem as novas tendências e criações de artistas renomados como Alessa Migani.” Michele Trindade, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail


Serviço agenda Brasil Sabor A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrase) está organizando o festival Brasil Sabor, que acontecerá entre os dias 3 de maio e 3 de junho em todo o país. O slogan da sétima edição do evento é Quem tem boca, vai a Roma,

em referência à gastronomia italiana, em uma parceria do Ministério do Turismo e do Sebrae, com o selo do Momento Itália-Brasil. Durante um mês, as casas participantes irão preparar pratos inspirados na culinária italiana, respeitando as características e tradições de cada região do Brasil. www.brasilsabor.com.br

Nadja Peregrino, o acervo é feito de imagens de italianos e descendentes captadas por Gustavo Stephan e Wilson Costa. A mostra é ligada

com a participação do compositor e pianista Riccardo Piacentini, que apresentam um repertório clássico, baseado na música contemporânea italiana. O concerto chega ao Brasil depois de já ter visitado mais de 30 países desde sua estreia em Vancouver, em 1997. www.iicsanpaolo.esteri.it

à pesquisa desenvolvida pela historiadora Ângela de Castro Gomes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), sobre famílias italianas que migraram para Niterói na primeira metade do século XX. www.centrodeartes.uff.br

Moscheta O Teatro Goldoni, em Brasília, recebe, a partir do dia 30 de março, o espetáculo Moscheta, um clássico da comédia renascentista italiana. Concebido por Angelo Beolco, precursor da Commedia dell’Arte, o espetáculo completa a trilogia italiana do Núcleo de Arte e Cultura (NAC), depois de Goldoni (2000) e Boccaccio (2003). Beolco coloca em cena um mundo camponês rude. A cenografia e o figurino são feitos a partir de material reciclado. Todas as ações da peça foram pensadas no sentido de minimizar o impacto ambiental. www.momentoitaliabrasile. com.br

Duo Alterno Sob a organização do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, acontece, no dia 22 de março, no Circulo Italiano da cidade, o concerto Duo Alterno. O espetáculo conta com a linda voz da soprano Tiziana Scandaletti e

A Pequena Itália em Niterói O Museu do Ingá recebe, de 10 de março a 25 de abril, a exposição fotográfica A Pequena Itália em Niterói. Sob a curadoria da professora

Inquietudine A Casa da Cultura de Paraty recebe, de 9 a 25 de março,

ditas de Salvino Campos. Imagens com temas sobre viagem, movimento e lugares de trânsito de pessoas são as que mais aparecem. A intenção da mostra é problematizar a questão de sentir-se só, mesmo submerso na multidão. O evento faz parte da agenda do Momento Itália-Brasil. www.casadaculturaparat y. org.br

clickdoleitor A literatura italiana no Brasil e a literatura brasileira na Itália A obra organizada pela professora Patricia Peterle reúne artigos que falam sobre traduções de títulos conhecidos e desconhecidos entre os sistemas literários Itália-Brasil. O livro discorre sobre opções de mercado editorial para essas publicações, e trata também da presença italiana nas obras brasileiras. O escrito ainda aborda as dificuldades relacionadas à tradução de vocabulários diferenciados de autores brasileiros como Jorge Amado, para o italiano, entre outras questões relacionadas às pontes culturais entre os dois países. Copiart Editora, 248 páginas, R$30,00.

Itália - para comer e beber bem O especialista em restaurantes Juscelino Pereira e o jornalista Gerardo Landulfo compartilham com os leitores o conhecimento de mais de 15 anos de viagens enogastronômicas à Itália. Os dois percorrem cada uma das vinte regiões do país e seus principais itinerários gastronômicos, levando o leitor a descobrir as melhores mesas, os principais pratos e vinhos, e os mais tradicionais produtores locais, desenhando um panorama histórico e geográfico de uma das mais ricas cozinhas do mundo. Bei Editora, 296 páginas, R$39,00.

Arquivo pessoal

naestante

a exposição fotográfica Inquietudine. Organizada pela Associazione Culturale, pela UERJ e pela prefeitura da cidade fluminense de Paraty, apresenta 25 fotografias iné-

“D

e férias pela “bota” no verão, visitei a cidade de Mármore, na região da Úmbria, pela primeira vez em 2006. Lá, existe uma cascata artificial linda, utilizada para a produção de eletricidade, considerada uma das mais altas da Europa, um colírio para os olhos. Fernando Ferrari São Paulo, SP — por e-mail

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opinione FabioPor ta

Uno “strano” governo Le sfide del nuovo esecutivo italiano, alle prese con antipolitica e crisi economica

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n più di una occasione il presidente del Consiglio Mario Monti per definire il suo governo tecnico si è lasciato scappare l’aggettivo «strano»; si riferiva, ovviamente, all’anomala maggioranza che lo sostiene (Partito Democratico, Popolo delle Libertà, Terzo Polo) ma anche alle caratteristiche ‘tecniche’ e non politiche dei componenti dell’esecutivo. Il Presidente del Consiglio ha reagito con un’espressione di incredulità e sorpresa quando il conduttore di una nota trasmissione televisiva italiana gli ha chiesto se dopo questa esperienza strana di governo (o di governo strano) lui intenda «non fare più politica». «Vuol dire che quella che sto facendo adesso è politica?», gli ha chiesto a sua volta il presidente del Consiglio rivendicando il merito, o il proposito, di fare con il suo governo soltanto da «intercapedine» fra l’opinione pubblica e i partiti. Che si sono un po’, o un po’ troppo, «divaricati» in questi ultimi anni. Una divaricazione che ha raggiunto il suo apice con la legge elettorale che ha tolto ai cittadini il potere di scegliere i propri rappresentanti al Parlamento (con eccezione di quelli eletti all’estero) e con i tre anni dell’ultimo Governo Berlusconi. Questa situazione, e non soltanto la grave crisi economica, spiega la determinazione con la quale il Governo sta intervenendo sulla riduzione dei cosiddetti “costi della politica”. In un’intervista al giornale della Confindustria Il Sole 24 ore Monti ha poi detto chiaramente che “non si può derogare all’obbligo di ridurre finalmente i costi del sistema politico burocratico”. “Il governo - ha avvertito - prenderà presto misure forti”. Ed ha aggiunto che “il lavoro è a buon punto”. Ed effettivamente, anche grazie alla collaborazione delle Presidenze di Camera e Senato e alla sensibilità e disponibilità dei maggiori partiti italiani, i tagli e le riduzioni dei costi della politica sono già iniziati e in maniera significativa.

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Il Presidente del Consiglio (peraltro senatore anche lui, e a vita, da circa due mesi) ha compreso che un segnale in questo senso va dato al Paese. Non occorre cavalcare l’anti-politica: un confronto fra gli stanziamenti destinati alle Camere italiane e quelli destinati agli altri Parlamenti in Europa ci dice infatti che l’Italia non ha il Parlamento più co-

Una “Terza Repubblica” restituirebbe la sovranità agli italiani, riportando la politica al ruolo centrale che le spetta stoso. E pochi sanno che il Parlamento più “caro del mondo” è proprio quello brasiliano. Il vero “costo della politica” è quello costituito dalla sua inefficienza, dalla sua scarsa produttività, dalla lentezza che troppo spesso ne contraddistingue le sue scelte. In questa direzione l’Italia deve agire e presto, a partire dalla modificazione radicale del sistema “bicamerale perfetto”, vale a dire dal doppione rappresentato dai lavori parlamentari di Camera e Senato che si traduce in un raddoppio di tempi (e costi) non più sostenibile e comprensibile in un mondo globalizzato

come il nostro, che richiederebbe invece anche dal legislativo tempi rapidi e risposte urgenti. Se questo nuovo “strano” esecutivo, che oggi ha davanti circa un anno di lavoro fino alle prossime elezioni del 2013, riuscirà ad introdurre con il consenso della maggioranza del Parlamento le opportune modifiche costituzionali funzionali alla modernizzazione del nostro sistema istituzionale (comprensiva della riduzione del numero dei parlamentari e della riforma della legge elettorale),

Mario Monti e i suoi colleghi potranno essere ricordati come i protagonisti di un’importante stagione politica: la stagione che darà vita alla “Terza Repubblica”. La prima era nata all’indomani della seconda guerra mondiale e si è estesa fino alla fine degli anni ottanta, alla vigilia del ciclone “Mani Pulite” e della successiva riforma in senso maggioritario del sistema elettorale; la seconda è stata caratterizzata da una radicale contrapposizione tra centrodestra e centrosinistra e, soprattutto, dall’irrompere sulla scena politica italiana di Berlusconi e del “berlusconismo”. Una “Terza Repubblica” restituirebbe dignità e sovranità al popolo italiano e riporterebbe la politica al ruolo centrale che le spetta in un sistema democratico. Il Governo Monti ha già restituito credibilità internazionale all’Italia; il nostro Paese, dopo gli anni bui e le umiliazioni internazionali sofferte da Berlusconi (e non solo per il ‘bunga-bunga’…), è oggi al centro della difficile, ma possibile, ripresa economica dell’Unione Europea. Un fatto fino a pochi mesi fa impensabile. Una scommessa difficile, quella di questo “strano governo”: rilanciare l’economia italiana e restituire centralità alla politica. Una sfida quasi impossibile che forse solo uno “strano governo” può affrontare e vincere.


opinione

EzioMaranesi

Ce la faremo? Possiamo superare la crisi economica. Sapremo superare la crisi di identità?

C’

è ottimismo nelle parole di Monti e dei ministri. Monti dice che ce la faremo, l’Italia cioè ce la farà. I politici criticano, accettano, concordano discordano, applaudono e mugugnano. Sono meno dannosi del solito anche se, nell’ombra e con occhio attento al consenso degli elettori, dosano pubblicamente approvazioni e dissensi. Alla fine voteranno “sí”. Quando torneranno al potere, e purtroppo ci torneranno, saranno lieti che Monti abbia smosso alcune montagne che loro non sarebbero mai stati capaci neppure di scalfire. Dunque, l’Italia ce la farà. L’Europa e Obama applaudono. La gente italica applaude un po’ meno. Chi più chi meno, tutti saremo colpiti. Ci troveremo cioè con meno soldi in tasca. Sappiamo però che, senza la cura Monti, l´Italia fallirà e i nostri sacrifici saranno molto più pesanti. Quindi sopportiamo inquieti ma docili. I non-onorevoli Bossi e Di Pietro invece, per puro tornaconto elettorale, remano contro. Ce la faremo, sí, ma a fare che cosa? Ciò che il governo Monti cerca di realizzare sono riforme strutturali che permetteranno all’Italia di amministrare il suo gigantesco debito, di tornare a crescere, di modernizzare per quanto possibile le sue strutture, di migliorare il suo tenore di vita medio in modo

compatibile con i futuri scenari mondiali. Vivremo comunque peggio di ieri. Per intenderci: si andrà in pensione più vecchi e con meno soldi, il lavoro sarà meno tutelato, il welfare meno generoso, e cosí via. C´è da chiedersi come sarà l´Italia di domani. Leggo sul Corriere della Sera che in Corea del Sud due terzi dei giovani sono tecnici laureati, la ricerca sul cancro è all’avanguardia mondiale, la vettura dell’anno è coreana, l’informatica è dominio dell’intera popolazione ecc. L’articolo non dice se i coreani sono più felici degli italiani ma, certamente, essi sono più attrezzati per vivere nel mondo di domani. Mi sono ricordato di una sosta, qualche anno fa, sulla piazza di Locorotondo, in Puglia. Mi aveva attratto la vista del paesino, in cima alla collina, noto per un suo vino bianco gradevolissimo. In piazza molti giovani, ben vestiti e di bell’aspetto, passeggiavano all’ombra degli alberi. Era un tardo mattino di un giorno di lavoro. Mi raccontarono che erano disoccupati laureati: in lettere, filosofia, scienze politiche e similari. Se dopo le recenti clamorose disavventure della Costa Crociere non siamo più un popolo di navigatori, se le statistiche sul lavoro nero, sull’evasione fiscale e sulle mafie ci dicono che non siamo più un popolo di santi, siamo pur sempre un popolo di poeti e di filosofi. Ma il mondo

ha sempre più bisogno di tecnici, di gente che studia, si sacrifica, si muove, corre. I nostri politici hanno detto che i nostri giovani sono mammoni, sfigati, bamboccioni. Le statistiche dicono che due giovani su tre non terminano la scuola dell’obbligo. Non vantiamo, stupidamente orgogliosi, una nostra supposta superiorità culturale: nel mondo che cambia i sud-coreani se la caveranno meglio degli italiani. È un mondo che non piace ai nostri intellettuali dall’olfatto inutilmente troppo delicato, né piace a noi che non conosciamo Kant, ma la nostra eredità rinascimentale non ci può dare, oggi,

Due giovani su tre non terminano la scuola dell’obbligo. Non vantiamo, stupidamente orgogliosi, una nostra supposta superiorità culturale: nel mondo che cambia i sud-coreani se la caveranno meglio degli italiani né ci darà domani, nessuna rendita di posizione. La cultura umanistica è una delle basi della formazione dell’individuo, ma sarà l’economia a fissare la misura del nostro benessere. Purtroppo. Monti, in un anno di governo, potrà fare molto per porre l’Italia sui binari che le economie occidentali considerano corretti. Non potrà però che piantare qualche seme per una rivoluzione culturale che possa portare gli italiani a capire che il tipo di vita che ci aspetta sarà diverso da quello che abbiamo goduto quando “stavamo bene” e da quello che viviamo oggi, quando bene non stiamo. Non sappiamo cosa ci aspetta: certamente, con miliardi di persone che premono, assetati e affamati, o che corrono molto più di noi, il nostro livello di vita peggiorerà, a meno che . . . . A meno che, preso coscienza del problema, gli italiani promuovano, e non solo accettino di malagrazia, il cambiamento, escano dal loro sempre meno comodo conservatorismo e si mettano a correre guardando avanti. comunitàitaliana | março 2012

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opinione MauroVillone*

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La Scuola André Urani

abato 11 febbraio scorso Andrè Urani, che proprio quel giorno avrebbe compiuto 52 anni, forse non avrebbe potuto ricevere un regalo più bello. Andrè, di origine italiana e nato a Torino, amava molto Rio de Janeiro, dove ha passato la maggior parte della sua vita. Una vita nella quale non ha mai aspettato che le cose accadessero, ma le faceva accadere. Il suo maggiore impegno era nella lotta contro la disuguaglianza che in Brasile, per chi crede che la pace sociale sia uno dei beni più preziosi, è uno dei principali problemi

da risolvere. Per ricordare l’impegno di Andrè il Comune di Rio e tutti i suoi amici e collaboratori non avrebbero potuto scegliere niente di più significativo di una Scuola per il Futuro dedicata a ragazzi adolescenti. Andrè sapeva bene che nelle disuguaglianze una voce di rilievo è proprio quella dell’educazione. La scuola del futuro, un bell’edificio bianco

* Mauro Villone, scrittore, giornalista e fotografo, vive tra Rio de Janeiro, Torino e in viaggio. A Rio dirige, con Lidia Urani, la ONG Para Ti. Scrive su lastampa.it, sul suo blog unaltrosguardo. wordpress.com, su altre testate e, da questo mese, su Comunità Italiana 16

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e ben curato, dotato anche di un ampio spazio per lo sport e una piscina, sorge su un rilievo con una vista spettacolare sulla città, con il Corcovado da una parte, la distesa urbana al fondo, tutto intorno le montagne con la foresta e dall’altro lato l’inconfondibile scenario di una favela: la Rocinha. Proprio agli abitanti della Rocinha è dedicata la scuola e proprio le favelas erano uno dei campi delle battaglie di Andrè, che riteneva necessario cominciare a combattere subito, dando ai bambini e ai ragazzi la possibilità di creare il proprio futuro. Immaginava un futuro dove, una volta per tutte, nessuno dovesse rimanere ultimo o arrancare per stare dietro agli altri. Le cose cambiano, a volte in peggio, spesso in meglio. Oggi il Brasile sta crescendo e ci sono ancora, come dappertutto, molte cose da migliorare, mentre altre sono da conservare con cura. Viene posta molta attenzione sull’educazione per le giovani generazioni e il sogno di Andrè era quello di realizzare progetti con contenuti concreti. L’atmosfera di partecipazione e di entusiasmo durante la festa inaugurale di sabato, dal Prefeito Eduardo Pais ai collaboratori, agli operai che stavano ultimando con impegno i lavori, da tutti gli amici intervenuti ai figli di Andrè e ai bambini quelli che frequenteranno proprio questa scuola, faceva presagire un futuro ricco di contenuti. Tanti auguri Andrè: i sogni non finiscono mai. Ci saranno ancora infinite occasioni, per tutta l’eternità.


Música

Zucchero de volta ao Brasil Após cinco anos longe dos palcos brasileiros, cantor italiano faz dois shows em março em São Paulo e Porto Alegre para apresentar o novo álbum Chocabeck Janaína Pereira

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De São Paulo

delmo Fornaciari recebeu o apelido de Zucchero (açúcar em italiano) de uma professora de escola. E foi com esse apelido que ele se tornou famoso até se tornar um dos principais nomes da música italiana contemporânea. Nascido em Roncocesi, na província de Reggio Emilia, o cantor começou a carreira nos anos 1970, cantando em diversas bandas, época em que já fazia sua singular mistura de rock, folk, blues, rhythm & blues e música clássica. A carreira solo veio nos anos 1980 e o sucesso mundial chegou em 1989 com Oro, Incenso & Birra, que se tornou o álbum mais vendido da história da música italiana, com as participações de Eric Clapton e James Taylor. A partir daí, todos os álbuns do cantor contam com participações especiais de grandes nomes da música. Zucchero lançou seu mais recente trabalho, Chocabeck, em 2011, e a turnê do álbum finalmente chega ao Brasil. Serão dois shows: um em São Paulo, no próximo dia 26, no Teatro Bradesco, e no dia seguinte, em Porto Alegre, no Teatro do Bourbon Country. O repertório, além de incluir canções de Chocabeck, faz também uma retrospectiva de seus sucessos, como Senza una donna, Diamante, Diavolo in me e You are so beautiful. Em entrevista exclusiva à ComunitáItaliana, Zucchero contou que seu novo álbum é uma volta às suas raízes. — É uma jornada de sol a sol, por meio da vila onde eu nasci e cresci. Falo de minha infância, meus sentimentos como uma criança, da vida simples e pura. O som que eu ouvia aos domingos... Comecei a escrever canções há muito tempo. Quando escrevo, muitas vezes, eu me isolo do mundo, para me expressar e expor os sentimentos que tenho dentro de mim. E Chocabeck foi

inspirado nas memórias da minha infância — revela. O cantor também conta que há coisas que podem inspirar suas canções, mas que, no caso do novo álbum, até o título remete ao seu passado, pois é um dialeto que seu pai falava. — Choca significa bater; beck significa bico. Chocabeck quer dizer ‘bata o bico’. É o som que se faz quando o bico da ave bate. As tradicionais participações especiais continuam em Chocabeck. Dessa vez, o cantor italiano contou com a presença de Bono Vox, vocalista do U2. — Essas experiências de gravar com outros artistas têm sido muito boas, tanto do ponto de vista profissional quanto do pessoal. Os grandes artistas que conheci são pessoas muito especiais, com quem eu gasto meu tempo com prazer. Bono é um amigo querido, uma pessoa muito honesta e generosa com quem eu já trabalhei em outros tempos. Neste álbum, ele escreveu a letra de Someone else’s tears.

De volta ao caloroso público brasileiro O cantor revelou estar ansioso pelas apresentações no Brasil, país que não visita desde 2007: — Espero encontrar o mesmo público caloroso e apaixonado, e que possamos nos divertir juntos! Zucchero confidenciou que este show é diferente dos outros já realizados no país por contar com um trio de cordas que contribui com a sua banda, tornando o som “ainda maior”, comenta. As canções que vai interpretar, em inglês e em italiano, apresentam essa diferença na sonoridade, mas, segundo Zucchero, sua interpretação tão singular é a mesma para qualquer idioma. — Eu amo todas as minhas canções e canto sempre com paixão e intensidade — resume. Seus ídolos musicais hoje são U2, Coldplay, Adele, Peter Gabriel “e outros artistas musicalmente concretos e válidos”, frisa. Fora dos palcos, o músico gosta de viajar, conhecer novos lugares e novas pessoas. Ele também gosta de se dedicar à sua fazenda na Toscana, de estar com os amigos e de comer bem. Sobre a música italiana de hoje, Zucchero acredita ser uma música que poderia “ser capaz de se espalhar mais pelo mundo”. — Hoje em dia, há tantos gêneros musicais, e a música italiana é tão tradicional que poderia ser mais ouvida fora da Itália. Mas o importante, para alcançar o coração das pessoas, é fazê-las se sentirem bem. Isso é o que realmente importa na música.

Serviço São Paulo 26 de março (segunda-feira), às 21h Teatro Bradesco - Piso Perdizes do Bourbon Shopping São Paulo Rua Turiassú, 2100, 3º piso, Pompéia www.teatrobradesco.com.br Porto Alegre 27 de março (terça-feira), às 21h Teatro do Bourbon Country Av. Túlio de Rose, nº 80, 2º andar www.teatrodobourboncountry.com.br

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Economia

Tem que ser bom para os dois Com a presença do presidente da Telecom e do diretor da Banca d’Italia, conferência realizada em Brasília discute maneiras de consolidar os laços econômicos entre Brasil e Itália Stefania Pelusi

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De Brasília

Bernabè, “pois a sede italiana da empresa continua muito sólida e rica, com uma fortíssima geração de caixa”. Como o mercado italiano é bem amadurecido, dá menos oportunidade de desenvolvimento do que o brasileiro, em plena fase de crescimento. Desta forma, “os empreendedores italianos procuram crescer no exterior, visto que a Itália hoje não cresce e ainda deve digerir problemas estruturais velhos”, completou. — Na China, não há espaço para o crescimento das empresas estrangeiras. Pode-se fazer um investimento manufatureiro, mas os chineses querem manter o mercado interno só para eles. A Índia tem um mercado mais aberto, porém fragmentado e com dificuldade de trabalhar devido ao isolamento comercial em nível local. Por sua vez, o Brasil apresenta uma burguesia com visão de futuro e que

Fotos: Rafaela Felicciano

Brasil é o país do futuro? Os números sobre os investimentos das empresas italianas no gigante sul-americano dizem que sim. A presença empresarial da Itália registra cerca de 700 filiais e estabelecimentos produtivos operantes. Com relação aos investimentos diretos, o Belpaese ocupa a nona posição, com quase U$ 18 bilhões de montantes de investimentos, à frente de Luxemburgo, Holanda, Canadá e Suíça, confirmando-se como o oitavo fornecedor do Brasil e o segundo entre os europeus. Tais dados, citados durante a conferência Brasil e Itália no contexto global: experiências e modelos de desenvolvimento, realizada no último dia 12 de março, na Embaixada italiana, diante de empresários, diretores de banco, políticos e diplomatas dos dois

países, confirmam a tendência positiva de incremento das relações entre ambos. Uma das metáforas do sucesso empresarial italiano no Brasil — apresentada com números durante o evento — é a Tim Brasil. Seus clientes chegam atualmente a 65 milhões, quantidade que registrou um crescimento de 26% em relação a 2010 e de 56% em 2009. O presidente-executivo da Telecom Itália, Franco Bernabè, declarou à Comunità estar satisfeito, pois a companhia aumentou, em quatro anos, a capitalização, passando de R$3 bilhões para R$ 11 bilhões, e incluindo R$ 2,2 bilhões que possibilitaram duas grandes aquisições: a Intelig, empresa que atua no mercado de telefonia fixa, e o operador de infraestrutura de telecomunicações AES Atimus Group. Para o biênio 2012-2014, a previsão é de investir R$ 9 bilhões. A crise na Itália e o desenvolvimento no Brasil são duas coisas distintas, mas que podem se conciliar, afirma

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demonstra ser capaz de compreender como enfrentar os problemas do crescimento social, apoiando a classe política em um programa de inclusão social ao mercado — analisou o empresário italiano. O presidente da Telecom Itália, no entanto, lembra que os impostos brasileiros permanecem “muito mais elevados em comparação a outros países” e que “a médio e longo prazo, o país deve criar mais condições de rentabilidade para completar seu processo de maturação”. Ciências sem fronteiras Durante o evento, um memorando de entendimento entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Grupo Empresas Italianas (GEI) foi assinado. A Itália foi o primeiro país a assinar a colaboração para o programa do governo brasileiro Ciências sem fronteiras, cujo objetivo é promover a consolidação, a expansão e a internacionalização da ciência e da tecnologia, e da inovação e da competitividade brasileiras por meio do intercâmbio de alunos de graduação e pós-graduação em mobilidade internacional. O projeto prevê a concessão de bolsas de estudo a estudantes e pesquisadores que pretendam se especializar em universidades e centros de excelência no exterior. A Tim Brasil anunciou a sua adesão ao programa, com uma oferta de 400 estágios semestrais. Destes, 160 serão inteiramente financiados com bolsas de estudo ao longo dos quatro anos de programa. O presidente da Telecom Itália, Franco Bernabè, e o presidente da Tim Brasil, Luca Luciani, ressaltaram a conexão entre as empresas e o processo educacional que garante o desenvolvimento da potencialidade dos jovens talentos e, ao mesmo tempo, valoriza as sinergias entre os dois países. A visão dos bancos Presente no evento, o diretor de fiscalização do Banco Central do Brasil, Anthero Meirelles, afirmou que o horizonte de crescimento para o Brasil continua favorável. — Há boas perspectivas para o Brasil. Na esteira do crescimento econômico, aliado às políticas de inclusão social, o país tem uma classe média em expansão, representando um importante mercado

A TIM — marca da Telecom Itália — mostrou ao público da conferência os números que mostram a expansão da companhia telefônica no Brasil, com a presença dos presidentes da empresa no país, Luca Luciani (com o microfone), e o da sede italiana, Franco Bernabè (na foto durante seu pronunciamento)

consumidor. Esse fator vai demandar investimentos, principalmente de infraestrutura e de ampliação do potencial de produção — disse Meirelles. O diretor geral de Banca d’Italia — instituição financeira que demonstrou claramente seu interesse na economia brasileira ao enviar um representante fixo ao Consulado de São Paulo —, Fabrizio Saccomanni, também participou na conferência. Saccomanni declarou que o Brasil é una economia que apresenta grande potencial. Porém, nos momentos de crise, “apresenta uma tendência errada de inclinarse sobre o protecionismo, o que gera preguiça na produção e desacelera os estímulos ao crescimento e ao investimento”. O diretor da Banca d’Italia lembrou os desafios enfrentados pela Itália: dívida externa elevada e crescimento muito baixo. Saccomanni declarou à Comunità que “a crise representa uma ocasião para fazer reformas radicais e sanar as finanças públicas para melhorá-las”. O diretor da Banca d’Italia lembrou ainda que, após 20 anos, o processo de reforma da Previdência Social italiana chegou praticamente ao seu final e o resultado, segundo ele, é uma “reforma entre as mais avançadas da Europa”. Uma das novas regras fixou a idade para aposentar-se: 66 anos para homens e mulheres. Outra

reforma ainda em discussão na sociedade italiana é a trabalhista, a qual, de acordo com Saccomanni, requer um acordo com todos os sindicatos para proteger sobretudo jovens e desempregados. O presidente explicou que as exportações salvaram a Itália durante a crise e “continuarão a salvá-la” se o país se esforçar para que as pequenas e médias empresas possam crescer por meio de medidas como o aumento do capital e a redução de impostos. — Acredito que as empresas italianas tenham uma forte capacidade empreendedora de inovação. Podemos confiar nisto — ressaltou. O ministro-chefe da SecretariaGeral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também participou da conferência Brasil e Itália no contexto global: experiências e modelos de desenvolvimento, definindo-a como um “momento muito especial para mútuos contatos”. – Percebo que a Itália vive um novo momento com a retomada da auto-estima e com medidas econômicas muito importantes. O Brasil também vive um momento importante na tentativa de manter sua estabilidade e o crescimento no meio dessa crise. O simples fato de vir uma delegação de peso ao Brasil é um motivo de satisfação e de aprofundamento das nossas relações. A Itália tem vantagens importantíssimas por causa da tradição cultural de forte imigração, da forte presença de empresas italianas já implantadas no Brasil, da facilidade com que nos relacionamos. Vejo uma perspectiva muito boa para que, no futuro, nos aprofundemos junto ao mercado italiano, que nos interessa muito — declarou a Comunità. Conclusões O debate do dia 12 de março foi concluído com as reflexões do embaixador da Itália, Gherardo La Francesca. — A Itália está determinada a dar uma “virada”, com soluções politicamente criativas. Já o Brasil adotou com sucesso uma política econômica em desenvolvimento, mas ainda não concluiu todos os seus desafios — refletiu La Francesca, defendendo que ambos os países precisam do intercâmbio econômico, pois a economia italiana “deve iniciar um processo de internacionalização de suas empresas e a brasileira precisa das capacidades empresariais e tecnológicas italianas”.

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Negócios

Missão a

cumprir Missione da compiere Cerca de 300 empresas de 16 regiões italianas estarão no Brasil em maio para visitas, encontros e oportunidades de negócios

Quasi 300 imprese di 16 regioni italiane saranno in Brasile in maggio per visite, incontri e opportunità di affari Gina Marques De Roma

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criatividade e a vontade de crescer são os principais motivos que levam os empresários italianos a atravessar o oceano para encontrar parceiros brasileiros. Com este objetivo, 300 empresas italianas estarão no Brasil de 21 a 25 de maio para participar da grande missão promovida pelo Ministério italiano do Desenvolvimento Econômico, em colaboração com o Instituto de Comércio Exterior (ICE), Câmaras de Comércio Ítalo-brasileiras e 16 regiões da Itália. A missão envolve diversos setores: aeroespacial, agroalimentar, agroindustrial, automóveis, construção, urbanística, madeira, decoração, energia, logística, mecânica, náutica e moda. A abertura será em São Paulo, em 21 de maio, com conferência na Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo). Em seguida, as diversas empresas vão se dividir em setores para encontrar empresários brasileiros de acordo com os respectivos campos de atuação em quatro cidades: São Paulo, São José dos Campos, Belo Horizonte e Curitiba. Em tempos de globalização, as disputas estão cada vez mais acirradas. Agora, mais do que nunca, o conhecimento é fundamental para transformar informação em criatividade e atrair novos consumidores. As alianças culturais e a facilidade de comunicação se transformaram em valores agregados que fazem a diferença. Enquanto os brasileiros possuem profundas raízes na cultura latina, as dificuldades de entrada 20

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O diretor do Ministério italiano do Desenvolvimento Econômico, Pietro Celi: produtos italianos se debatem com os impostos de importação no Brasil

Il direttore del Ministero dello Sviluppo Economico italiano, Pietro Celi: prodotti italiani affrontano problemi di imposte di importazione in Brasile

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a creatività e l’aspirazione alla crescita sono i principali motivi che portano gli imprenditori italiani ad attraversare l’oceano per trovare partner brasiliani. Proprio per questo 300 imprese italiane saranno in Brasile dal 21 al 25 maggio per partecipare alla grande missione promossa dal Ministero dello Sviluppo Economico italiano, in collaborazione con l’Istituto del Commercio Estero (ICE), le Camere di Commercio Italo-Brasiliane e 16 regioni. La missione coinvolge vari comparti: aerospaziale, agroalimentare, agroindustriale, automobili, edilizia, urbanistica, legno, arredamento, energia, logistica, meccanica, nautica e moda. L’apertura avverrà a São Paulo il 21 maggio con una conferenza che sarà tenuta alla Fiesp (Federazione delle Industrie dello stato di São Paulo). Subito dopo le varie imprese si divideranno in gruppi per incontrare imprenditori brasiliani secondo i loro campi d’azione in quattro città: São Paulo, São José dos Campos, Recife, Belo Horizonte e Curitiba. In epoca di globalizzazione le contese si fanno sempre più intense. Ora più che mai il sapere è fondamentale per trasformare informazioni in creatività e attrarre


na China, apesar do estímulo à gula empresarial, são causadas não apenas pelas barreiras comerciais, mas, principalmente, pelas culturais. Os motivos que ligam Itália e Brasil são históricos, marcados pelo grande fluxo de imigração italiana a partir da metade de 1800. No último século, as ligações bilaterais se reforçaram, criando uma relação de simbiose entre ambos. Além disso, os italianos e os brasileiros têm uma característica em comum: são extrovertidos.

“Le barriere protezioniste costituiscono un ostacolo. Non possiamo risolvere questo problema bilateralmente perché siamo vincolati all’Unione Europea. Ci sono difficoltà per esportare i prodotti italiani, specialmente in Brasile, dovuto alle ingenti imposte e alle norme europee”

Fonte: elaborazioni Osservatorio Economico su dati FMI-DOTS dic. 2011

Fonte: elaborazioni Osservatorio Economico su dati FMI-DOTS dic. 2011

Pietro Celi, direttore generale del

Amigos sim, negócios à parte Ministero dello Sviluppo Economico italiano No mercado atual, conta mais a eficiência do que a amizade. Pietro Celi, diretor geral do Ministério italianuovi consumatori. Le alleanze culturali e la facilità no do Desenvolvimento Econômico, recebeu, em seu delle comunicazioni si sono trasformate in valoescritório, em Roma, ComunitàItaliana para falar ri aggregati che aiutano molto. Mentre i brasiliani desta missão. Durante a conversa, abordou os pontos hanno profonde radici nella cultura latina, le diffiem comum entre brasileiros e italia“As barreiras protecionistas coltà per entrare in Cina, malgrado lo stimolo dato nos, mas alertou: constituem um obstáculo. Não alle aspirazioni degli imprenditori, sono causate — Apesar dos idiomas serem dipodemos resolver este problema non solo dalle barriere commerciali ma, specialmenferentes, os italianos e os brasileiros de modo bilateral, pois estamos te, da quelle culturali. comunicam-se com facilidade. Basta I motivi per cui l’Italia e il Brasile sono legati sono um gesto, um sorriso com simpatia vinculados à União Europeia. para se entenderem. No entanto, é Há dificuldades para exportar os storici, segnati dal grande flusso di immigrazione italiapreciso prestar atenção. Os italianos, produtos italianos, especificamente na a partire dalla metà dell’Ottocento. Nel secolo scorso às vezes, confundem este caráter ex- ao Brasil, devido aos altos impostos i legami bilaterali si sono rafforzati creando un reciprotrovertido do brasileiro com uma e às normas europeias” co rapporto di simbiosi. Inoltre gli italiani e i brasiliani hanno una caratteristica in comune: sono estroversi. disponibilidade total, ou seja, com Pietro Celi, diretor geral do Ministério sinais de abertura para se fazer um italiano do Desenvolvimento Econômico Patti chiari, amicizia lunga bom negócio. Não é verdade. A nossa Nell’attuale mercato conta di più l’efficienza dell’amiexperiência profissional demonstra que o empresário cizia. Pietro Celi, direttore generale del Ministero brasileiro é extremamente atento, preciso e eficiente. dello Sviluppo Economico italiano ha ricevuto CoPortanto, se o italiano se apresenta com eficiência e munitàItaliana nel suo ufficio a Roma per parlare precisão, poderá alcançar um objetivo incomum com di questa missione. Durante l’incontro ha parlato di o brasileiro. Caso contrário, será só ilusão. punti di contatto in comune tra brasiliani e italiani, ma ha avvisato: — Malgrado le lingue siano diverse, gli italiani e i brasiliani riescono a comunicare con facilità. Basta un gesto, un sorriso simpatico per capirsi. Ma bisogna fare attenzione. Alle volte gli italiani confondono questo carattere estroverso dei brasiliani con una disponibilità totale, ossia, con segnali di apertura per fare buoni affari. Non è cosí. Posizione occupata dall’Italia come fornitore La nostra esperienza professionale dimostra che gli e cliente del Brasile e relativa quota di mercato imprenditori brasiliani sono estremamente attenti, precisi ed efficienti. Ma se gli italiani si presentano 2008 2009 2010 2011 con efficienza e precisione potranno raggiungere un obiettivo comune con i brasiliani. Al contrario sarà Fornecedor 9º 2,7% 9º 2,8% 8º 2,7% 8º 2,7% Fornitore solo un’illusione. Cliente 9º 2,4% 10º 2,1% 9º 2,1% 8º 2,2% Questa missione in Brasile presenta delle caratCliente teristiche che la rendono diversa dalle anteriori. Si tratta di un viaggio di affari organizzato dal governo italiano insieme alle regioni, che prima promuovevano missioni autonome di internazionalizzazione offrendo opportunità di affari che, spesso, entravano in concorrenza con gli stessi italiani e facevano confusione. — Cito un esempio come quello degli Stati Uniti. Se una regione italiana promuoveva una missione Posizione occupata dal Brasile come fornitore a New York per vendere i suoi prodotti alimentari e cliente dell’Italia e relativa quota di mercato e, dopo due settimane, un’altra regione organizzava lo stesso tipo di viaggio, alla fine si incontravano 2008 2009 2010 2011 gli stessi interlocutori del mercato americano. E il risultato era che si creavano incertezza e confusioFornecedor 24º 1,0% 25º 0,8% 24º 0,9% 22º 1,1% Fornitore ne. Quindi la nostra strategia è cambiata e abbiamo scelto di costruire un percorso unico unendo le forze Cliente 23º 0,9% 24º 0,9% 17º 1,1% 16º 1,3% Cliente — ha spiegato Pietro Celi.

Posição ocupada pela Itália como fornecedor e cliente do Brasil e sua participação no mercado

Posição ocupada pelo Brasil como fornecedor e cliente da Itália e sua participação no mercado

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Negócios A Missão Itália-Brasil: cidades e setores La Missione Italia-Brasile: città e settori São Paulo: madeira e decoração, contract, housing social, construção sustentável, sistema moda, agroalimentar, aeroespaço (São José dos Campos) São Paulo: legno e arredamento, contract, housing sociale, edilizia sostenibile, sistema moda, agroalimentare, aerospaziale (São José dos Campos) Belo Horizonte: mecânica; automóveis, biotecnologia Belo Horizonte: meccanica; automobili, biotecnologia Curitiba: inovação tecnológica, agroindústria Curitiba: innovazione tecnologica, agroindustria

Ora il governo italiano e le varie regioni lavorano insieme nell’organizzazione, selezionando le imprese, i rispettivi campi d’azione e dove si trovano le migliori oppurtunità per trovare interlocutori brasiliani. — Con il tempo, l’esperienza e la maturità ci portano a ripensare le politiche autonome di organizzazione delle missioni all’estero. Internazionalizzazione non significa partire per l’estero ed essere sicuro di vendere il proprio prodotto. Per internazionalizzare bisogna conoscere bene il paese destino, le regole del commercio internazionale e, specialmente, i gusti dei consumator — ha detto Celi. Le 16 regioni italiane che hanno aderito alla missione imprenditoriale in Brasile sono: Marche, Molise, Piemonte, Puglia, Sardegna, Sicilia, Toscana, Umbria, Veneto, Basilicata, Calabria, Emilia-Romagna, Liguria, Lombardia, Campania e la provincia autonoma di Trento.

Imposte e ostacoli commerciali persistono Anche se i rapporti diplomatici e culturali sono forti, l’intescambio commerciale trova ancora degli ostacoli. Le imposte doganali brasiliane e le barriere protezioniste italiane rendono difficile l’ingresso nei rispettivi mercati. In parole semplici, è come una strada a doppio senso. Il Brasile rispetta il regolamento del Mercosud e l’Italia quello dell’Unione Europea (UE). Ciò significa che entrambi i Paesi sono vincolati a regole economiche che non dipendono dai rapporti bilaterali. Da una parte i prodotti brasiliani trovano difficoltà doganali per entrare nel

Principais produtos da Itália exportados para o Brasil

Principais produtos do Brasil importados da Itália

Principali prodotti italiani esportati in Brasile

Principali prodotti del Brasile importati dall’Italia

Período: janeiro - outubro 2011 Periodo: gennaio - ottobre 2011

E mi

%

Macchine per impieghi speciali

498

12,7

Peças e acessórios para veículos e seus motores

477

12,2

352

9,0

306

7,8

Máquinas para usos especiais

Parti ed accessori per autoveicoli e loro motori

Outras máquinas para uso geral Altre macchine di impiego generale

Máquinas de uso geral Macchine di impiego generale

Máq. para ligas-metálicas e outros Macchine per la formatura dei metalli e altre macchine utensili

Produtos químicos de base, mat. plásticos e borracha sintética Prodotti chimici di base, materie plastiche e gomma sintetica

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março 2012 | comunitàitaliana

Período: janeiro - outubro 2011 Periodo: gennaio - ottobre 2011

Minérios de ferro Minerali metalliferi ferrosi

Produtos de cultivos permanentes

162

6,1

4,1

%

1.174 33,0 457

12,8

Pasta-carta, carta e cartone

379

10,7

Couro, artigos para viagem, bolsas, peleteria e selaria

285

8,0

180

5,1

144

4,1

Prodotti di colture permanenti

Pasta de celulose, papel e papelão

238

E mi

Cuoio, articoli da viaggio, borse, pelletteria e selleria; pellicce

Metais de base preciosos e não-ferrosos; combustível nuclear Metalli di base preziosi e non ferrosi; comb. nucleari

Produtos siderúrgicos Prodotti della siderurgia

Fonte: elaborazioni Osservatorio Economico su dati ISTAT

Esta missão no Brasil apresenta algumas características que a diferenciam das outras, feitas no passado. Trata-se de uma viagem de negócios organizada pelo governo da Itália, junto com as regiões, as quais, no passado, promoviam missões autônomas de internacionalização, oferecendo oportunidades de negócios que muitas vezes entravam em concorrência com os próprios italianos e criavam confusão. — Vou citar um exemplo, como o dos Estados Unidos. Se uma região italiana promovia uma missão em Nova York para vender seus produtos alimentares e, depois de duas semanas, outra região organizava o mesmo tipo de viagem, acabava encontrando os mesmos interlocutores do mercado americano. O resultado é que isso criava incerteza e confusão. Portanto, a nossa estratégia mudou e optamos por construir um percurso único unindo as forças — explicou Pietro Celi. Agora, o governo italiano e as diversas regiões trabalham juntos na organização, selecionando as empresas, os respectivos campos de atuação e onde estão as melhores oportunidades para encontrar interlocutores brasileiros. — Com o tempo, a experiência e a maturidade nos levaram a repensar as políticas autônomas de organização das missões no exterior. Internacionalização não significa viajar ao exterior e estar seguro de vender o próprio produto. Para internacionalizar, é preciso conhecer bem o país destinatário, as regras de comércio internacional e, principalmente, o gosto dos consumidores — disse Celi. As 16 regiões italianas que aderiram à missão empresarial no Brasil são Marche, Molise, Piemonte, a província autônoma de Trento, a Puglia, a Sardenha, a Sicília, a Toscana, a Úmbria, o Vêneto, a Basilicata, Calábria, a Emília-Romanha, a Ligúria, a Lombardia e a Campanha. A missão prevê aprofundar diversos temas com especialistas, visitas aos pólos produtivos e encontros B2B com interlocutores locais selecionados.


Interscambio

Intercâmbio Brasil, após uma redução do PIB em 0,6%, derivada da crise de 2009, registrou um índice de crescimento equivalente a 7,5% em 2010 e 2,7% em 2011. Tal crescimento é guiado pelo aumento dos salários efetivos, pela expansão do crédito e pelos grandes investimentos públicos. O desenvolvimento global e o fortalecimento monetário manterão tais níveis de crescimento também no próximo ano, estimado em 3,3%. Ainda são esperados resultados positivos nos anos sucessivos, principalmente em 2014, quando o Brasil vai sediar a Copa do Mundo de futebol da Fifa. O volume de intercâmbio entre Brasil e Itália mostra a importância das relações bilaterais. Entre 2009 e 2010, o saldo italiano voltou a ser ativo após anos de déficit. Registrou, em 2009, um saldo de 278 milhões de euros e, em 2010, de 563 milhões. Apesar de ter sofrido uma leve redução nos primeiros 10 meses de 2011 — passando de 463 milhões de euros para 362 milhões — durante o mesmo período, as exportações italianas ao Brasil tiveram uma aceleração de 24,8%, enquanto as importações de produtos brasileiros para a Itália cresceram em 32,9%. Quase a metade dos produtos italianos exportados ao Brasil são máquinas e aparelhos em geral, em particular, peças industriais especializadas e de emprego geral. Seguem-se os produtos ligados aos meios de transporte, como acessórios para automóveis, tratores e motores, que representam 12,2%, enquanto os produtos químicos de base constituem 4,1% do bolo. A respeito dos itens que a Itália importa do Brasil, os principais pertencem aos setores minerais e metais ferrosos (cerca de um terço das importações) e aos produtos de cultivo permanente (12,8%). Além destes, há o papel (10%), e o couro e seus derivados (8%). Sobre os investimentos italianos para o exterior, entre 1992 e 2010, a Itália investiu, no Brasil, um total de 5.042 milhões de euros. O ano de 2008 registrou o pico de 894 milhões, enquanto em 2009 recuou para 351 milhões, até atingir o negativo de 119 milhões de euros em 2010, devido à crise econômica mundial. Da parte brasileira, os investimentos destinados à Itália registraram, de 1992 a 2010, o equivalente a 662 milhões de euros. Em 2008, também alcançaram a alta de 248 milhões de euros de investimentos, que caíram, porém, para 113 milhões em 2009 e para 63 milhões em 2010.

Impostos e obstáculos comerciais persistem Enquanto as relações diplomáticas e culturais são fortes, o intercâmbio comercial ainda encontra obstáculos. Os impostos alfandegários do Brasil e as barreiras protecionistas da Itália dificultam a entrada nos respectivos mercados. Em palavras simples, um toma lá, dá cá. O Brasil respeita o regulamento do Mercosul, e a Itália, o da União Europeia. Isso significa que ambos estão vinculados a regras econômicas que não dependem das relações bilaterais. De um lado, os produtos brasileiros encontram dificuldades alfandegárias para entrar no mercado da UE — e, portanto, também na Itália. De outro, os produtos italianos se debatem com os impostos de importação no Brasil. — Infelizmente, as barreiras protecionistas ainda constituem um obstáculo. Não podemos resolver este problema de modo bilateral, pois estamos vinculados à União Europeia. Nossos representantes em Bruxelas ilustram estas dificuldades para exportar os produtos italianos, especificamente ao Brasil, por causa dos altos impostos e também das normas europeias — explicou Pietro Celi. A Itália e o Brasil, há anos, se empenham através de uma constante atividade entre as Câmaras de Comércio para tentar superar estas regras protecionistas que ainda impedem a plena abertura para intercâmbios. Com este propósito, ambos os países ativaram o “Mecanismo para monitorar o comércio e os investimentos bilaterais Itália-Brasil”, que se reuniu, pela primeira vez, em Brasília, em novembro de 2009 e, em seguida, em Roma, em abril de 2010, com a intenção de dar continuidade ao trabalho com outros encontros periódicos.

I

l Brasile, dopo una retrazione del PIL dello 0,6% derivata dalla crisi del 2009, ha registato un indice di crescita equivalente al 7,5% nel 2010 e al 2,7% nel 2011. Tale crescita viene guidata dall’aumento degli stipendi effettivi, dall’espansione del credito e dai grandi investimenti pubblici. Lo sviluppo globale e il rafforzamento economico manterranno questi livelli di crescita anche il prossimo anno, stimata a 3,3%. Ci si aspetta risultati positivi negli anni seguenti, specialmente nel 2014, quando il Brasile sarà sede dei Mondiali di calcio della Fifa. Il volume di intescambio tra il Brasile e l’Italia dimostra l’importanza dei rapporti bilaterali. Tra il 2009 e il 2010 il saldo italiano è ridiventato attivo dopo anni di deficit. Nel 2009 ha registrato un saldo di 278 milioni di euro e, nel 2010, di 563 milioni. Malgrado abbia subíto in lieve calo nei primi 10 mesi del 2011 – passando da 463 milioni di euro a 362 milioni – nello stesso periodo le esportazioni italiane in Brasile sono aumentate del 24,8%, mentre le importazioni di prodotti brasiliani in Italia sono aumentate del 32,9%. Quasi la metà dei prodotti italiani esportati in Brasile riguarda macchine ed apparecchi in generale, come quelle industriali e di uso generale. Seguono i prodotti legati ai mezzi di trasporto come accessori per auto, trattori e motori, che rappresentano il 12,2%, mentre i prodotti chimici di base costituiscono il 4,1% del totale. Per ciò che riguarda i prodotti che l’Italia importa dal Brasile, i principali sono quelli del settore dei minerali e metalli ferrosi (circa un terzo delle importazioni) e quelli della coltura permanente (12,8%). Inoltre c’è la carta (10%) e il cuoio e i suoi derivati (8%). Per ciò che riguarda gli investimenti italiani all’estero, tra il 1992 e il 2010 l’Italia ha investito in Brasile un totale di 5.042 milioni di euro. Il 2008 ha registrato un apice di 894 milioni, mentre nel 2009 sono retrocessi a 351 milioni fino ad arrivare al negativo di 119 milioni di euro nel 2010 dovuto alla crisi economica mondiale. Dal lato brasiliano, gli investimenti destinati all’italia hanno registrato, dal 1992 al 2010, l’equivalente a 662 milioni di euro. Nel 2008 hanno raggiunto i 248 milioni di euro in investimenti, ma c’è stato un calo a 113 milioni nel 2009 e a 63 milioni nel 2010.

mercato della UE, e quindi anche in Italia. Dall’altra, i prodotti italiani affrontano problemi di imposte di importazione in Brasile. — Purtroppo le barriere protezioniste costituiscono ancora un ostacolo. Non possiamo risolvere questo problema in modo bilaterale perché siamo vincolati all’Unione Europea. I nostri rappresentanti a Bruxelles mostrano queste difficoltà per esportare i prodotti italiani, specialmente in Brasile, dovuto alle ingenti imposte e anche alle norme europee — ha spiegato Pietro Celi. L’Italia e il Brasile si impegnano da anni, grazie ad una costante attività tra le Camere di Commercio, per cercare di superare queste regole protezioniste che ancora impediscono la piena apertura per gli interscambi. Proprio per questo i due Paesi hanno attivato il “Meccanismo per monitare il commercio e gli investimenti bilaterali Italia-Brasile”, che si è riunito la prima volta a Brasília nel novembre 2009 e a Roma, nell’aprile 2010, proprio per dare continuità ai lavori con altri incontri periodici.

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Fonte: Ministério do Desenvolvimento Econômico – dep. Empresa e Internacionalização

O


Náutica

Luxo nas

águas do Brasil Boat show da italiana Azimut-Benetti no Rio mostra a força do emergente mercado brasileiro junto aos grandes produtores mundiais de iate Cintia Salomão Castro

O

s dois dias em que o Yatching Gala aconteceu, de 3 a 4 de março, no Rio de Janeiro, trouxeram um significado especial para o mercado náutico brasileiro. Não apenas pelo fato do boat show, exclusivo do grupo italiano Azimut-Benetti, ter sido realizado, pela primeira vez, fora do continente europeu. Escolhido para sediar a quinta edição do evento anual, o Brasil já responde por cerca de 15% do faturamento do maior

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importador mundial de embarcações de luxo, assumindo cada vez mais importância para os empresários italianos do setor, sobretudo com a atual retração da economia europeia, e abriga, desde 2010, uma fábrica que deverá atingir, até 2015, a marca de 100 iates produzidos por ano. — O mercado brasileiro é um dos principais para nós. É a primeira vez que realizamos esse evento fora da Europa, tamanha a sua importância. Juntamente com os Estados Unidos, é responsável por 50% de nossas vendas. Continua crescendo e terá um papel cada vez maior. A frota Azimut é a mais numerosa que existe no Brasil. E queremos continuar com esse sucesso com a indústria em Santa Catarina. Nossos planos consistem em dobrar


“Um iate é uma villa flutuante, com design, décor e tecnologia para se navegar com conforto e sem consumo excessivo” Francesco Ansalone, diretor de marketing da Azimut-Benetti

seis novos modelos, entre eles, o Atlantis 44 e o Azimut 70. No dia seguinte, um domingo ensolarado, os convidados puderam realizar test drive nas embarcações, que ficaram à disposição dos convidados no Iate Clube do Rio de Janeiro. Novos milionários a cada dia no Brasil Equipado com móveis requintados, confortáveis suítes e uma sala de estar elegantemente decorada, um iate pode custar a partir de R$ 2 milhões, mas os modelos mais requintados podem chegar à quantia fabulosa de R$ 200 milhões. Segundo as estatísticas da revista americana Forbes, a cada dia, surgem, no país, 19 novos milionários, ou seja, consumidores potenciais de iates e outros requintes. Ao lado da propalada expansão da classe C, o aumento do número de milionários pode explicar o crescimento do mercado de iates, assim como outros produtos de extremo luxo. Ainda de acordo com a publicação, o Brasil tem 137 mil milionários e cerca de 30 bilionários. Enquadra-se na primeira categoria quem possui um patrimônio entre 539 mil e 2,7 milhões de dólares. Um

Fotos: Bruno de Lima

a produção nos próximos três anos — contou à Comunità o presidente e fundador do grupo, Paolo Vitelli, acrescentando que os mercados estratégicos de países em crescimento, como Brasil, Rússia, China, e os do Oriente Médio, deverão substituir a “velha Europa”. Dezenas de especialistas em mercado náutico e clientes de várias partes do mundo compareceram a um jantar de gala na histórica Ilha Fiscal, na zona portuária da capital fluminense. Além de apresentar a nova equipe de gerentes que irá auxiliar o superintendente da Azimut do Brasil, Francisco Berra, a diretoria do grupo detentor das marcas Azmiut, Atlantis, Benetti e Azimut Grande promoveu um “desfile” náutico na Baía de Guanabara de

A Ilha Fiscal, iluminada com as cores da bandeira italiana, serviu de cenário para a primeira edição brasileira do boat show exclusivo do grupo Azimut-Benetti, cujo diretor mundial de marketing, Francesco Ansalone, esteve presente

outro estudo elaborado pela Merrill Lynch confirma esse crescimento: o número de milionários brasileiros subiu cerca de 6% em 2010, e o Brasil ocupa a 11ª posição mundial. Os especialistas apontam como causas a alta do PIB e os altos salários pagos a executivos. De acordo com a Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar), nos últimos cinco anos, o mercado de barcos para esportes e lazer tem crescido, em média, 10%. E os compradores brasileiros de iates possuem características que os diferenciam dos europeus, analisam os especialistas italianos. Além de serem mais atentos à decoração, prezam pelos espaços de convivência e exposição social.

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Náutica

— Já notamos que os consumidores brasileiros são altamente “demanding”. Sabem bem o que querem e prezam muito pela qualidade e pelo estilo italiano. Fazem mais questão do couro, do acabamento, dos móveis e do design do que os próprios italianos — analisa o diretor de marketing mundial do grupo, Francesco Ansalone. Os brasileiros também tendem a enfatizar os espaços de convivência, talvez por fazerem um uso muito mais social, com outros barcos ao lado, nota Ansalone.

— Já nos outros países, como na Itália, o cliente procura passar alguns dias a bordo por ano com a sua família e os amigos mais íntimos, sem colocar vários barcos juntos. Apesar de mais abertos socialmente, os navegantes brasileiros têm em comum com os italianos a paixão pelo mar, o que facilita a comunicação da empresa no país, ressalta a diretora de Comunicação do grupo, Giovanna Vitelli: — A cultura do cliente brasileiro é muito parecida com a nossa, mediterrânea. Portanto, fazemos uso dos mesmos conceitos aqui e lá: o de gozar a vida, e a sensação de independência e liberdade no ato de navegar. Soma-se a isso um elemento novo que estamos trazendo, 26

que é sinônimo de sofisticação: o made in Italy. O luxo na mira do governo italiano Se em países emergentes, a tendência a consumir o luxo extremo é vista com otimismo por muitos, nas nações europeias, porém, onde as economias se mostram estagnadas, o setor tende a reduzir seus milhões de lucros. — A situação hoje é diametralmente oposta, na Itália, a esse crescimento no Brasil. Apesar de sermos embaixadores do made in Italy, um iate é considerado, na Itália, como um exemplo de extremo luxo, o que não é bem visto em um momento de crise. Porém, nos países asiáticos, somos vistos como uma empresa que exprime um conceito de arte. Um iate é uma villa galleggiante, com um design, décor e tecnologia para se navegar com conforto e sem consumo excessivo — define Francesco Ansalone. Além da queda do consumo em geral, outro fator atingiu em cheio o setor náutico da “bota”. O capítulo intitulado “disposições para a taxação de carros de luxo, embarcações e aviões”, dentro

Fotos: Bruno de Lima

Os donos de iates brasileiros fazem mais questão do acabamento e do design em estilo italiano do que os próprios italianos e enfatizam os espaços de convivência, com outros barcos ao lado

A diretoria do grupo náutico italiano fez questão de prestigiar a clientela brasileira. Estiveram presentes no boat show a diretora de Comunicação Giovanna Vitelli; o presidente e fundador Paolo Vitelli; e o diretor executivo Paolo Casani. Acima, o brinde entre os executivos de ambos os países

do pacote do decreto Salva Italia, anunciado pelo governo do premier Mario Monti, no fim do ano passado, instituiu uma taxa diária de estacionamento para as embarcações que se encontram em águas italianas. O valor pode variar de 5 a 700 euros, dependendo

De Turim para o mundo

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undado em 1969, na cidade de Avigliana, na província de Turim, o grupo Azimut-Benetti é hoje o maior construtor de iates do mundo, controlador das marcas Azimut, Benetti, Atlantis e Azimut Grande. A empresa produz mais de 250 iates motorizados por ano em nove estaleiros espelhados pelo mundo, sendo seis na Itália, um na Turquia e aquele que foi inaugurado no Brasil em 2010, no município catarinense de Itajaí. A previsão é que a fábrica brasileira se transforme em um pólo náutico de 200.000 m², com produção de 100 iates por ano, distribuídos em seis modelos — 4 abaixo de 80 pés e 2 entre 80 e 100 pés.

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das suas dimensões. O dono de um barco com 24, 01 metros de comprimento, por exemplo, deverá desembolsar 90 euros todos os dias ao Estado. Esses “novos ventos” acabaram empurrando muitos barcos em direção às águas da Tunísia, da Córsega, da Croácia e da França, provocando protestos dos protagonistas da economia marítima. Para o presidente da Câmara de Comércio da província de Latina, Enzo Zottola, impor taxas aos proprietários de embarcações significa “atingir indiretamente tudo aquilo que gira em torno desse setor produtivo”. A economia do mar, que inclui o turismo e a náutica, representam os valores nos quais a Itália pode ter como base para a sua recuperação, acredita Zottola.


Turismo

Brasil mais uma vez estrela do turismo A maior feira de turismo da Itália este ano teve participação marcante da Embratur, que procurou divulgar as regiões brasileiras a partir das cidades-sede da Copa de 2014 Guilherme Aquino

D

De Milão

ar a volta ao mundo em quatro dias, a pé, foi possível durante a Bolsa Internacional do Turismo — a BIT — na feira de Rho, em Milão. É verdade que não se visita todos os países. A França deu forfait nesta edição, mas Laos, Filipinas, Moçambique, Angola e África do Sul marcaram presença entre as 130 nações dos cinco continentes que participaram da principal feira turística da Europa. O metrô de Rho, a entrada para a Feira, estava coberto de imagens do Brasil. O país ocupou um estande central no Pavilhão 2, o The World. Ecoturismo e viagens de aventura, além de lua de mel (Fernando de Noronha e Porto de Galinhas entram no roteiro dos promessi sposi italianos) estão entre os focos da Embratur, responsável pela estratégia de marketing na Bit. Eventos análogos como a Feira de Lisboa e aquela de Madri também tiveram a marcada presença da Embratur, que cavalga a onda verde e amarela que bate em todas as “praias” europeias. A ofensiva brasileira prepara o terreno para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, tendo no meio a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, que acontecem em 2013. As boas-vindas às 88 mil pessoas que visitaram a Bit-2012, de 16 a 19 de fevereiro — 10% a menos do

que na edição passada, sinal da crise — foram dadas pelo Brasil. Os principais cartões-postais brasileiros, como as dunas de Jericoacoara e o mar de Fernando de Noronha, roubaram a cena dedicada ao turismo mundial. Impossível não entrar no evento com os olhos cheios de imagens em verde-amarelo. A campanha foi criada pela Artplan e incluiu 24 painéis, floorgraphics e banners que ficaram expostos por 14 dias. O impacto visual estava em sintonia com o momento de grande visibilidade que o país vive atualmente. Operadores de turismo, agências de viagens, companhias aéreas e representantes da Embratur ocuparam o estande regado a caipirinha, ao som de samba e bossa nova. A atenção está voltada para as cidades que vão sediar os jogos da Copa do Mundo: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Cuiába, Salvador, Natal, Recife, Fortaleza, Manaus, Brasilia, Belo Horizonte e Curitiba. A estratégia da Embratur é oferecer viagens não apenas nas cidades costeiras mas, a partir delas, chegar ao interior dos estados. As cidades que vão servir de sede devem propor e irradiar roteiros alternativos capazes de atrair o turista e a aumentar a sua permanência na região. Embratur reabrirá na Itália Os encontros com os jornalistas italianos foram one to one com o diretor de Mercados Internacionais da Embratur, Marcelo Pedroso, responsável pelas negociações no

Na maior feira italiana dedicada ao turismo, o Brasil ocupou um estande central, o The World

exterior. Ele anunciou a reabertura dos escritórios da entidade brasileira na Itália, ainda no primeiro semestre de 2012, esperando, assim, fortalecer e aumentar o fluxo turístico italiano para o Brasil. A Itália é o oitavo parceiro comercial do país e o Brasil está de braços abertos para receber os turistas italianos que ocupam o terceiro lugar no ranking dos visitantes estrangeiros, atrás apenas de americanos e argentinos. O apoio aos operadores e visitas ao Brasil para os agentes de viagens são algumas das armas da Embratur para ganhar mercado. A BIT serviu ainda para que vetores importantes do turismo brasileiro apresentassem novidades para o mercado italiano. A companhia aérea TAM, por exemplo, abriu as páginas do novo cardápio dos voos Milão-São Paulo- Milão. A gastronomia aérea usa apenas produtos orgânicos, integrais e funcionais. Tudo com o objetivo de oferecer iguarias mais leves e saudáveis, seguindo a tendência mundial e, claro, uma carta de vinhos de qualidade. O projeto Brasileirinho também pegou carona na presença da Embratur na BIT: o objetivo é apresentar a língua portuguesa, tendo como ponto de referência a história e a cultura do Brasil. Cultura, história, beleza paisagística e calor humano são os motores que ajudam o turismo nacional a ganhar espaço no cenário internacional. E, quanto mais a casa estiver bem arrumada, melhor.

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Atualidade

Contra o incêndio na Amazônia Programa que atua de forma preventiva para reduzir os incêndios florestais é fruto de parceria entre o Ministério brasileiro do Meio Ambiente e a Embaixada da Itália no Brasil Nathielle Hó

D

epois de dez anos de atuação no Brasil, o programa Amazônia Sem Fogo agora vai expandir seus benefícios pela Bolívia. O programa age de forma preventiva para reduzir incêndios florestais e para atender às necessidades dos produtores rurais que usam o fogo de forma errada. O projeto conta com a parceria entre a Direção Geral da Cooperação Italiana, a Embaixada da Itália no Brasil e o Ministério brasileiro do Meio Ambiente. De acordo com dados da Secretaria de Biodiversidade e Floresta do Ministério brasileiro, os fatores que provocam os incêndios estão relacionados com a limpeza do solo (63,7%), com os incêndios intencionais (14,7%) e, em última causa, com os incêndios acidentais que correspondem a 11,6%. Uma das ações do programa Amazônia Sem Fogo é a implantação das Unidades Demonstrativas, que servem como centros de aprimoramento e formação de multiplicadores de conhecimento. Nessas unidades, lideranças comunitárias participam de oficinas de associativismo e cooperativismo e são preparadas para reproduzirem os conteúdos aprendidos sobre técnicas e o uso correto do fogo nas comunidades onde vivem. A instalação das unidades é realizada em propriedades de produtores rurais ou em terrenos cedidos pelos municípios que assinaram protocolos se comprometendo em dar continuidade à iniciativa. Segundo o coordenador do projeto Roberto Bianchi, o programa conseguiu angariar, até 2011, 400 multiplicadores de um total de 97 municípios. Foram mais de 613 mil quilômetros percorridos pelas pessoas envolvidas no programa. — As unidades demonstrativas já mostram resultados surpreendentes e as comunidades estão cada vez mais envolvidas no programa, que está cada vez mais auto-sustentável. Este é o caminho que queremos aqui e nos outros países amazônicos — enfatizou Bianchi. O Amazônia Sem Fogo conseguiu resultados muito positivos em Mato Grosso. Na cidade de Guarantã do 28

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Norte, a redução das queimadas chegou a 93%. Em Alta Floresta, no mesmo estado, a redução chegou a 98% em 2008, o que rendeu ao programa um prêmio de R$ 300 mil ofertado pelo governo do estado. Além dessas regiões, o programa procurou concentrar suas atividades em áreas emergenciais da Amazônia, que compreende as rodovias BR 163 e a Transamazônica, e direcionou seus esforços no Baixo Amazonas e no Médio Xingu. O projeto chegou ainda a territórios do Araguaia e do Portal da Amazônia. Algumas medidas adotadas pelo programa se relacionam com o oferecimento de formas de recuperação da área degradada e alternativas para implantação de sistemas agroflorestais. Em tal sentido, foram instaladas, nas comunidades brasileiras, unidades demonstrativas de manejo sustentável de pastagens. O ensino de

formas de reaproveitamento de resíduos de madeira foi promovido e houve o incentivo da produção de mudas de plantas tropicais, onde o uso dos agrotóxicos dá lugar para o adubo orgânico. Na Amazônia boliviana, o governo reconhece a incapacidade tanto para combater os incêndios quanto para punir os responsáveis. O endurecimento das sanções está entre as opções estudadas pelas autoridades. A regulamentação diz que a multa por superfície total queimada de um terreno na Amazônia boliviana é de US$ 0,20 — um valor irrisório, perto do dano causado pelas queimadas. O reflorestamento das áreas devastadas vai exigir um custo altíssimo. Daí, a necessidade da implantação do programa na Bolívia. O projeto trinacional, que está sendo financiado pela Itália, Brasil e Bolívia, terá duração de 36 meses. O custo total da execução do programa gira em torno de R$ 5,3 milhões, dos quais o governo italiano financiará R$ 3,7 milhões. O Brasil vai investir R$ 1,5 milhão, enquanto a Bolívia vai contribuir com R$ 209 mil. As operações abrangerão toda a Amazônia boliviana, que compreende as regiões de Beni, Pando, Santa Cruz, a região norte de La Paz e o subtrópico de Cochabamba. Na Bolívia, o Amazônia Sem Fogo pretende atingir 1,6 milhão de pessoas e 40 municípios.

As unidades demonstrativas nas propriedades rurais oferecem formas de recuperação da área degradada e alternativas para implantação de sistemas agroflorestais


Notícias

Vaticano em lista negra

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Vaticano apareceu pela primeira vez numa lista do Departamento de Estado dos EUA relativa a centros de lavagem de dinheiro. O Relatório de Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos divulgou a relação de 190 países incluídos em três categorias: maior preocupação, preocupação e monitorados. O Vaticano está na segunda categoria, ao lado de 67 países, como Polônia, Egito, Irlanda, Hungria e Chile. O Estado pontifício, menor país do mundo, entrou na lista por ser considerado vulnerável à lavagem de dinheiro, apesar de ter recentemente estabelecido medidas contra a prática. O Vaticano realizou no mês passado reformas jurídicas para se adequar a regras internacionais contra crimes financeiros, e agora busca sua inclusão numa “lista branca” da Comissão Europeia.

Governo condenado

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Justiça italiana condenou o governo brasileiro a pagar cerca de R$ 36 milhões e bloqueou contas bancárias que servem ao Itamaraty no país para cobrir o rombo de um suposto calote aplicado pela Valec — estatal que cuida das ferrovias — em prejuízo à empresa italiana Italplan Engineering, autora de um projeto para o trem-bala Rio-São Paulo. A ação discute um débito de R$ 608 milhões no Tribunal de Arezzo. A Italplan alega que recebeu a tarefa da Valec, em 2005, após processo de seleção. Um escritório foi montado em Brasília, mas, ao ser apresentada a conta, em 2009, a Valec teria desistido e se negado a pagar pelo projeto.

Protestos contra trem-bala

V

ários protestos vêm acontecendo contra a implantação do trem bala que ligaria a Itália à França. Centenas de pessoas ocuparam um trecho da rodovia em Val di Susa, um vale alpino próximo a Turim, e montaram barricadas e fogueiras com pneus e sucata. Bolonha, Gênova, Trieste e Palermo tiveram protestos semelhantes. Em Milão, houve confronto na estação entre manifestantes e a tropa de choque da polícia. Em Roma, invadiram a sede do Partido Democrático, de centro-esquerda, que tem se desvinculado das manifestações. O governo Monti afirma que não vai desistir da obra, que custará 15 bilhões de euros, com verbas da União Europeia. Quando estiver pronto, o trem deve reduzir as atuais sete horas para quatro a viagem entre Milão e Paris. Críticos dizem que haverá danos ambientais.

Tutto Fellini

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Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, inaugurou, em 10 de março a exposição Tutto Fellini, com mais de 400 itens reveladores do universo do cineasta italiano. Fotografias de bastidores, desenhos feitos pelo próprio diretor, revistas de época, cartazes, entrevistas e trechos de filmes compõem a mostra, em cartaz até 10 de junho. A retrospectiva conta com a curadoria de Sam Stourdzé, diretor do Musée de l`Elysée, em Lausanne, na Suíça. Paralelamente, haverá uma mostra de filmes. Construída como uma espécie de laboratório visual, a mostra favorece o diálogo entre imagens estáticas e em movimento. O evento integra as comemorações do Momento Itália-Brasil.


Terzo settore

Sorridere da un’orecchio all’altro GR – Avevo due cugini sordi con cui sono cresciuto insieme. Due fratelli, due destini diversi. Il ragazzo lavorava nei campi e non parlava, non riusciva a comunicare. Un giorno si è ribellato contro il padrone e l’hanno ricoverato in un ospedale psichiatrico dove è deceduto dopo poco tempo. Invece la sorella ha studiato presso le Canosiane di Brescia, più tardi si è sposata ed ha avuto dei figli. Quindi due fratelli, uno riabilitato e l’altro no, hanno avuto due vite diverse. Dal ‘73 ho cominciato, facendo la specializzazione a Milano nel Cardano.

Costruito in omaggio al lavoro dell’italiano Ludovico Pavoni, il Centro auditivo CEAL-LP è installato a Brasilia da oltre 30 anni sotto la direzione del bresciano Giuseppe Rinaldi, un sacerdote femminista che litiga con le donne che educano gli uomini ad essere maschilisti Stefania Pelusi

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De Brasília

econdo Giuseppe Rinaldi, conosciuto come padre José, direttore del centro a Brasília, le donne devono essere più presenti nella vita pubblica perché gli uomini sono molto venali e si lasciano comprare per qualsiasi cosa, mentre la donna no. Il sacerdote è alla guida di questo centro da 31 anni, ed è instancabile. Non crede all’assistenzialismo, ma all’istruzione — sia dei bambini che ci arrivano con problemi auditivi, sia delle loro famiglie affinché possano accettare la situazione e rendere l’ambiente più facile per i loro figli — spiega il direttore. Il Centro Educacional da Audição e Linguagem (CEAL) Ludovico Pavoni aiuta bambini e adolescenti non udenti fino all’età adulta a costruire un linguaggio orale per mezzo della funzione uditiva, favorendo un’integrazione sia personale che sociale. Offre anche un servizio per i genitori per migliorare la loro qualità di vita attraverso corsi di cittadinanza, alfabetizzazione, informatica, artigianato, di cucina e di cucito, quest’ultimo organizzato da Cristina Segalla, un’italo-brasiliana che aiuta le madri dei bambini ad essere imprenditrici di se stesse. — È una porta per il futuro che attraverso l’arte del cucito 30

riscatta l’autostima delle madri, creando pezzi di facile produzione che vengono poi venduti — spiega sorridente Cristina. In questo modo il Centro aiuta non solo gli utenti che si rivolgono al CEAL-LP, ma anche le loro famiglie. — Spesso le mamme dei bambini sono analfabete e in questo caso, mentre il loro figlio è al centro, gli diamo l’opportunità di imparare a leggere e scrivere — spiega la coordinatrice Flavia Mundim. Rinaldi spiega a Comunità come funziona questo centro che accoglie più di 300 bambini e come non perdersi d’animo nonostante le difficoltà economiche e i preconcetti. Comunità Italiana – Da quanto tempo lavora in questo Centro? Giuseppe Rinaldi – Lavoro qua da 31 anni. Quando sono arrivato nell’80, il Centro aveva già sei anni e da quel momento sono rimasto qui. Prima ero a Brescia in una scuola di non udenti che hanno chiuso nel ‘78 in seguito a un decreto che proibiva le scuole speciali. CI – Com’ è nato il suo interesse per i non udenti?

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Giuseppe Rinaldi, direttore del CEAL-LP a Brasília: “Le donne devono essere più presenti nella vita publica. Gi uomini sono molto venali e si lasciano comprare per qualsiasi cosa, mentre la donna no”

CI – Il Centro Ludovico Pavoni è nato in Italia ed è arrivato in Brasile 40 anni fa. Qual è la vostra caratteristica? GR – In Italia lavoriamo molto con le case famiglia. La nostra specializzazione era dare una professione agli orfani e ai ragazzi abbandonati, per cui erano grandi collegi con tutte le arti e mestieri; adesso la nostra specialità è la grafica. Invece in Brasile la nostra caratterizzazione è la periferia e i ragazzi a rischio. Qui a Brasília è stata pensata una scuola speciale per non udenti, sempre rispettando le tre caratteristiche, la diagnosi e la riabilitazione precoce, l’inclusione nelle strutture normali e l’istruzione e assistenzia sanitaria. Abbiamo un centro di diagnosi, con logopediste, psicologhe, nutrizioniste ecc. Però non siamo più una scuola, perché il Ministerio dell’Istruzione brasiliano lo ha proibito, e quindi adesso siamo un centro di appoggio all’inclusione: tutti i bambini frequentano la scuola e vengono qui nel pomeriggio, mentre di mattina ci sono i piccolissimi, dai 0 ai 3 anni. CI – Il servizio è diviso per fasce di età? GR – Da zero a quattro anni è il periodo più importante per i bebé e i bambini di scoprire il mondo dei


suoni. Dato che il linguaggio orale si basa sull’audizione è fondamentale che i bambini ricevano i suoni insieme al loro significato. Per questa fascia d’età, il centro offre terapia, fonoaudiologo e attività di idrostimulazione, psicomotricità e arte. Per quanto riguarda i bambini dai 4 agli 8 anni il CEALP-LP offre attività di alfabetizzazione per sviluppare la comunicazione orale attraverso l’audizione. Dai 9 anni in su offriamo rinforzo pedagogico agli alunni che frequentano la scuola dell’obbligo. CI – Qual è l’immagine di una persona sorda qui in Brasile, si è ancora pieni di preconcetti? GR – Si sta rompendo un poco alla volta, ma qui sono chiusi. I sordi stessi, come in Italia, hanno cominciato a lottare per i loro diritti, ma si stanno dimenticando dei doveri. Si rifugiano dietro alla lingua dei segni e non vogliono più parlare, non vogliono gli apparecchi, l’impianto cocleare. L’associazione dei non udenti lotta contro tutta la nuova tecnologia perché loro vogliono essere sordi e basta. CI – Il Centro sostiene l’utilizzo di apparecchi auditivi e impianti cocleari? GR – Gli apparecchi aiutano, l’impianto cocleare risolve. La voce è diversa nei bambini che usano l’impianto, perché loro possono sentire la loro voce e possono controllarla. Crescono come bambini udenti, anche se non lo sono. C’ è un bambino dell’asilo che ogni lunedì quando arriva al Centro mi racconta tutte le partite di calcio perché le vede con il papà. CI – Quante persone lavorano in questo centro? GR – Più di cento. I bambini che circolano qui sono circa 300. Lavoriamo anche con i genitori, con i non udenti della comunità che vengono a fare dei corsi di informatica, quindi il numero arriva a circa 450. CI – Le famiglie aiutano o possono diventare un ostacolo? GR – Dipende. Noi investiamo molto sulle famiglie attraverso corsi di cittadinanza, incontri con psicologhi, logopediste, professori. Le famiglie partecipano alla terapia. Gli specialisti gli spiegano come agire con i loro bambini. C’è una sala dove la mamma e il bambino rimangono dentro e la

logopedista e la psicologa osservano da fuori per vedere come interagiscono i due. Se la mamma non interagisce interviene la logopedista e le spiega come coinvolgere il bambino nelle attività quotidiane, per fare da mangiare, pulire, mettere in ordine. Perché è in casa che il bambino impara a parlare. Si lavora molto sulla vita quotidiana del bambino, tutto deve nascere lí. CI – C’è stato un caso in cui avete fatto una mobilitazione davanti al palazzo del governo per una bambina nata senza padiglione auricolare. Sono molti i casi di bambini senza orecchie? GR – Nascono così. Una bambina è venuta qui con 20 giorni, era nata senza orecchie. Abbiamo fatto una manifestazione pubblica davanti al palazzo del governo perché non volevano firmare una convenzione con il nostro centro audiologico. L’assessore alla sanità è sceso per parlare, ha preso in braccio il bebé, quando ha visto che non aveva le orecchie, si è fermato spaventato. Una settimana dopo abbiamo ottenuto la firma. Ad esempio c’è un ragazzo che oltre a non avere un orecchio ha la faccia un po’ deformata, ma a lui non interessa. Un’altra bambina non aveva un orecchio, è venuta qui, l’abbiamo aiutata e adesso mette l’archetto con il vibratore e non ha più vergogna di niente. Adesso con la nuova tecnologia puoi ricostruire il padiglione auricolare. Il bambino non ha problemi, tra bambini non ci sono problemi. Chi rovina tutto sono gli adulti, a cominciare dalla famiglia che comincia ad avere vergogna, la scuola che lo tratta in modo diverso e gli permettono tutto.

Le attività del CEAL-LP a Brasília, tra sport ed artigianato

CI –Com’è il rapporto con i bambini? GR – I bambini non sono difficili. I problemi nascono quando i

“Io sono femminista al 100%, litigo con le donne perché sono loro che stanno educando gli uomini a essere maschilisti. La mentalità è ancora un’ostacolo. Ma se uno non insiste non cambierà mai niente” Giuseppe Rinaldi, sacerdote e direttore del Centro auditivo CEAL-LP a Brasilia

genitori non collaborano. Ci sono casi difficili in cui i genitori sono alcolizzati, madri prostitute, abbiamo storie di tutti i tipi. È molto triste perché ti distruggono tutto quello che uno costruisce. CI – Non ha mai pensato “non ne vale la pena, ci rinuncio”? GR – Al contrario. I problemi sono terribili anche a livello pubblico, perché la relazione con il governo è difficile ed è molto pesante. La mentalità ancora è terribile, il preconcetto. Io spero che le donne comincino ad essere più presenti nello scenario pubblico. Qualcosa sta già cambiando. Io sono femminista al 100%, litigo con le donne perché sono loro che stanno educando gli uomini a essere maschilisti. Ma aiutare a pensare è difficile, perché la mentalità è ancora un’ostacolo. Ma se uno non insiste non cambierà mai niente.

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Religione

Di ritorno a casa Monsignor Lorenzo Baldisseri, dopo nove anni nel gigante sudamericano, ha preparato i bagagli per far rientro alla Santa Sede e assumere l’incarico di Segretario della Congregazione dei Vescovi Stefania Pelusi

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De Brasília

opo 39 anni fuori dall’Italia e aver vissuto in quattro continenti, il nunzio apostolico Lorenzo Baldisseri torna nel Belpaese, nelle “stanze dei bottoni” del Vaticano, coronando con merito una lunga missione pastorale e diplomatica avviata nel lontano 1963. — Per me significa tornare alle origini, all’ambiente naturale — commenta a Comunità. Nato in provincia di Lucca nel 1940, è stato rappresentante diplomatico della Santa Sede in Brasile per nove anni. L’11 gennaio è stato nominato dal Papa Benedetto XVI come nuovo Segretario per la Congregazione dei Vescovi, una delle nove congregazioni della Curia Romana e tra le più antiche, fondata nel 1578 da papa Sisto V. Durante l’ultima celebrazione a Brasília, Baldisseri ha ringraziato per gli anni trascorsi in Brasile e ha dichiarato “porterò questo Paese nel mio cuore”. L’arcivescovo toscano avrà il compito di erigere le nuove diocesi, le province e le regioni ecclesiastiche e costruire gli ordinariati militari, provvederà inoltre al reclutamento e alla nomina dei nuovi vescovi ed amministratori apostolici e dei loro coadiutori e ausiliari, vigilerà sul governo delle diocesi e organizzerà le visite ad limina. — A Roma sono stato incaricato di un posto molto importante, qui (in Brasile) mi sono occupato di tutta la Chiesa, ma in particolare, di 460 vescovi, quando sarò nella Santa Sede il mio lavoro si moltiplicherà per 8, 9 o 10. Ma sono tranquillo perché ho un’esperienza vastissima, mondiale e quest’ultimo periodo in Brasile mi ha aiutato molto. È un paese che vanta il maggior numero di fedeli del mondo e un episcopato enorme: questo indica che sono facilitato, perché una parte già la conosco bene — afferma Baldisseri con un sorriso sereno e una voce pacata. 32

Accordo Brasile - Santa Sede Durante la sua esperienza come nunzio apostolico in Brasile l’arcivescovo ha seguito tutte le delicate fasi delle trattative per firmare l’accordo tra la Santa Sede e la Repubblica Federale del Brasile, a cui ha dedicato un libro insieme a Ives Gandra Martins Filho intitolato Acordo Brasil-Santa Sé, pubblicato a febbraio. Il 13 novembre 2008, durante la prima visita del presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Benedetto XVI, anche il gigante latinoamericano, il Paese con il maggior numero di fedeli e vescovi al mondo, si è aggiunto al novero

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degli Stati con cui la Santa Sede ha stipulato trattati bilaterali. Nostalgia del Brasile Baldisseri, che è stato nunzio apostolico in vari paesi, come Guatemala, Giappone, Paraguay, Francia, Zimbabue, Haiti, India e Nepal, ha ricordato che la sua ultima esperienza in Brasile è stata molto ricca. Da un punto di vista teologico, ha affermato che è un popolo profondamente religioso: — Ha una religiosità naturale. Il cristianesimo poi è venuto, gli ha dato dei contenuti che devono permanere, per questo spetta alla Chiesa fare il lavoro per poterli conservare — ha sottolineato. Secondo Baldisseri, il Brasile è aperto a tutto il mondo. Questo comporta anche il ricevere informazioni di tutti i tipi e da questa enorme pluralità possono sorgere delle contraddizioni. Inoltre ha detto che è un Paese in cui i “diritti fondamentali della persona sono rispettati”: — Non ci sono problemi di razzismo, sono tutti quanti ben ac-

colti in questa immensa patria, al di la dei piccoli problemi regionali e settoriali. È un paese che è stato la meta di tutti i popoli del mondo, tra cui gli italiani. Ci sono 25 milioni di discendenti di italiani in questo Paese, per questo hanno una stima molto grande dell’Italia, addirittura molti dirigenti e autorità hanno il cognome italiano, questo indica come l’Italia sia presente — ha commentato l’arcivescovo. Alla domanda se si sente più vicino all’Italia o al Brasile, Baldisseri ha detto di avere il cuore diviso perché sono state tante esperienze piene di bei ricordi: — Ritorno in Italia dopo molti anni, ma io sono italianissimo: sono toscano della provincia di Lucca e la mia prima archidiocesi, come sacerdote, è stata Pisa. Oggi sono Vescovo e appartengo direttamente al Papa.


firenze

Giordano Iapalucci

Laideapittura selfica dell’artista Oberto Airaudi, pie-

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montese d’origine, era quella di creare una tecnica pittorica collegata a quell’antica disciplina che permette di utilizzare forme di “energia intelligente”; una disciplina capace di interagire armonicamente con l’ambiente e i suoi fruitori. Dalle sue ricerche in ambito terapeutico e di scienze di confine nascono le sue prime opere. Agli inizi degli anni ottanta la sua produzione di pitture si distingue per i colori piatti e per le composizioni prettamente geometriche, mentre quelle attuali si differenziano per l’utilizzo di materiali diversi come metalli, specchi e delle tinte energetiche. Presso Damanhur Firenze A.p.s.- Via Bardazzi 66 - Firenze

Giappone, terra d’incanti N

ella splendida cornice di Palazzo Pitti, la primavera fiorentina inizia all’insegna del Paese del Sol Levante, il Giappone. Nelle sale di questa mostra saranno celebrate le sue tradizioni, la cultura e, non per ultima, la sua arte. L’evento si snoda attraverso le stanze di tre distinti musei all’interno del Palazzo. Il Museo

L’acqua cheta all’Everst ondotto dalla sapiente mano della Di-

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rettrice Artistica Laura Croce, il Teatro Everest presenta una commedia di Augusto Novelli, in stile prettamente fiorentino. La prima assoluta di questa rappresentazione fu al Teatro Alfieri di Firenze e risale al 1908. Fu un vero successo e a dimostrarlo furono non solo le 26 repliche consecutive, ma anche l’attuale apprezzamento di una commedia di vita quotidiana che ritrae un’Italia di cento anni fa e che, nonostante il tempo, rimane ancora attuale. Grazie alla splendida rappresentazione de La Compagnia del Giglio, regia di Mario Altamura e Gabriella Manfriani, è possibile gustare questo spaccato di fiorentinità. Sabato 14 aprile alle 21.00. Info: info@teatroeverest.it

degli Argenti ospiterà “Il Giappone, le sue antiche arti e l’incontro con il mondo occidentale”, mentre la Galleria Palatina presenterà l’eccellenza dell’arte giapponese del ‘900. Per concludere la Galleria d’Arte Moderna accoglierà la sezione dedicata al Giapponismo (Japonisme). Dal 3 aprile al 1° luglio. Ingresso 8 euro.

Alla riscoperta degli arazzi al 20 marzo al 2 giugno la Galle-

D ria degli Uffizi renderà omaggio Sambanda alla splendida arte tessile che si colasseggiando per il centro di FirenP

ze può capitare di imbattersi in un gruppo musicale molto speciale, colorato e pieno di vita come il Sambanda. Nata dall’idea di Riccardo Innocenti, musicista, mestre ghire e insegnante di batteria, l’orchestra si esibisce dal 2004 in tutta Italia riproponendo le musicalità del carnevale di Rio e della Bahia, come anche le canzoni di Sergio Mendes, Carlinhos Brown, Jorge Ben Jor e Bob Marley. Per non perdere le prossime esibizioni non resta che visitare il sito sempre aggiornatissimo e pieno di novità interessanti sui ritmi latino-americani, come anche offerte sugli ottimi corsi di percussioni: www.sambanda.it.

loca tra la rappresentazione artistica e l’artigianato. L’arazzo è un tessuto ornamentale eseguito al telaio con fili di vario tipo, con su cui sono ricamate immagini religiose o della vita quotidiana e che in antichità, disposti sulle grandi pareti di castelli e palazzi, univano la funzione decorativa a quella di isolamento termico. L’esposizione prevede circa quaranta opere di manifattura fiamminga risalenti al XVI secolo come anche “panni” di creazione fiorentina del ‘500 e ‘600. Ingresso 5 euro.

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Atualidade

Contagem regressiva para a Expo 2015 Milão já se prepara para abrigar daqui a três anos uma das maiores e mais tradicionais exposições internacionais do planeta com licitações para obras que podem esquentar a economia nesses tempos de crise

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Guilherme Aquino

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De Milão

utrir o planeta e dar energia para a vida: não é apenas o título da Expo 2015, mas uma missão humanitária, com o timbre milanês. A cidade-sede da maior exposição mundial de caráter não comercial acelera os trabalhos para receber os pavilhões de 150 países. A Suíça foi a

primeira nação a assinar e a confirmar participação. Depois de Shangai, Milão vai ser a anfitriã dos projetos que esperam desenhar um futuro melhor para os habitantes da Terra. O evento vai acontecer entre os dias 31 de março e 23 de novembro de 2015. Esta vai ser a segunda vez que a cidade abriga uma exposição universal: a primeira foi em 1906, quando o tema era transportes. Os números são superlativos e proporcionais ao tamanho da empreitada: 20 bilhões de euros em infraestrutura, quase 30 milhões de turistas e cerca de 80 mil novos empregos. — A duração de seis meses permite um nível de tempo importante para a presença de um país e de uma empresa. Este é palco para todo o mundo. Talvez pela primeira vez, a discussão a fundo com outros países vai produzir uma Expo universal. O tema agrada a todos. O made in Italy é um fator importante e a rede de diplomacia funciona bem. A Expo não tem um conceito de Olimpíadas, ela tem que ser algo único que atraia o visitante. Estamos trabalhando também, por exemplo, em programas culturais que sejam de interesse de quem vier a Milão e à Itália — contou o administrador delegado da Expo 2015, Giuseppe Sala, durante a apresentação para a imprensa, ocorrida em Milão. Ele explica que, entre os pavilhões, está sendo elaborada uma


cenografia que ocupe o tempo “morto” de descolamento entre um lugar e outro, o que faz com que o visitante mergulhe na beleza, na criatividade e na experiência da Expo. Ao italiano Dante Ferretti, ganhador de dois prêmios Oscar em cenografia, foi pedido que elaborasse um projeto para as avenidas principais. Em tempos de crise, manter as projeções técnicas e adequar o orçamento são árduas tarefas de engenharia financeira e contorcionismo político. Mesmo com o governo técnico italiano, as metas e os fundos foram mantidos. — Não existem cortes no projeto da Expo 2015. Mais de 60 países já aderiram à exposição e isso demonstra o quanto ela é importante — assegurou o presidente da região da Lombardia e comissário geral da Expo, Roberto Formigoni, durante uma conferência na Associação dos Correspondentes Estrangeiros, em Milão. Ao lado do administrador Giuseppe Sala, ele confirmou os compromissos assumidos pela “task force” italiana, composta das mais diferentes instituições oficiais, diante do Bureau International des Expositions, o órgão máximo que regulariza a Expo. Em busca de parceiros na iniciativa privada Os organizadores partem, agora, em direção da iniciativa privada. A grande visibilidade da Expo 2015 e a associação a um projeto desta dimensão constituem um convite aberto a empresários e companhias, italianas ou multinacionais, que lideram no campo da inovação de seus produtos. As Câmaras de Comércio de todas as regiões da Itália funcionam a todo o vapor e mais de 500 empresários já foram chamados à causa. A trama para “seduzir” os prováveis parceiros comerciais começou a ser realizada anos atrás, com uma série de eventos em Milão. Um exemplo foi a recente série de conferências sobre o tema da Água, promovida pela região da Lombardia e que contou com a presença de convidados das áreas mais dinâmicas do planeta, entre elas, a de São Paulo. Também no ano passado aconteceu o Primeiro Encontro dos Participantes da Expo, que assinalou a presença de mais de 400 representantes de 92 países. O objetivo é criar uma forte rede diplomática e econômica entre

agentes que fomentam projetos de vanguarda e que possam proporcionar uma importante troca de informações e de ideias — afirmou Roberto Formigoni. — A cada ano, em outubro, até a Expo 2015, faremos um encontro internacional para discutir e debater o nosso trabalho. E estamos sempre procurando adesões privadas, parceiros para o projeto — afirma o administrador Giuseppe Sala. Obras e licitações para aquecer a economia Após muitas polêmicas sobre a compra dos terrenos nas áreas adjacentes a Rho, perto da Feira, o acordo com os proprietários foi feito e as primeiras escavadeiras e tratores já começam a criar o espaço expositivo. Mais da metade da inteira área deverá dar origem ao maior parque verde da Europa.

Além disso, a cidade de Milão vai herdar um novo quarteirão tecnológico e obras de infraestrutura como anéis rodoviários, estradas, linhas ferroviárias e de metrô. Neste período de recessão, a Expo 2015 é vista como um salvavidas para as atividades da capital da Lombardia, não por acaso, a locomotiva econômica da Itália. As licitações públicas para as obras seguem a passo com o cronograma e as empresas concorrentes

O administrador Giuseppe Sala e o comissário geral Roberto Formigoni são porta-vozes da Expo 2015, causa de várias obras e licitações que podem aquecer a economia da Lombardia

Milão vai ganhar um novo quarteirão tecnológico, anéis rodoviários, estradas e linhas ferroviárias e de metrô. Na atual recessão, a Expo 2015 é vista como um salva-vidas para as atividades da capital da Lombardia

participam apenas após passarem por uma comissão de vigilância anti-máfia e que estejam dentro de um rigoroso protocolo de legalidade, que tem como objetivo impedir a entrada, a infiltração da organização criminosa na Expo 2015. Um concurso internacional para a realização da arquitetura sustentável para a implantação dos serviços da exposição universal, lugares públicos e de encontros foi lançado pela organização e é apenas o mais recente deles. A organização quer fazer uma inesquecível Expo, um marco internacional. No passado, as exposições deixaram monumentos como testemunhas de uma época. Em 1889, a de Paris teve como legado a Torre Eiffel. A de Milão, que navega em algumas polêmicas — o que não surpreende por ter sido italiana. Uma delas é a realização da famosa Horta Universal, mas, na opinião do administrador delegado Giuseppe Sala, “seria um erro propor a Expo como uma grande horta botânica. Trata-se de uma escolha concreta que nasce da discussão com o BIE e com os outros países, para uma lógica mais atraente, para chamar, envolver mais nações”. — Os visitantes que deverão vir a Milão devem encontrar alguma coisa única, e não algo que possam ver a cem quilômetros de casa. A Expo é uma janela para o futuro. Eu penso, por exemplo, a um supermercado do futuro, aos alimentos do futuro — completa Sala.

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Turismo

Um passeio pela história de uma comunidade Conheça alguns pontos turísticos da cidade que guarda as marcas da presença da comunidade italiana mais numerosa do Brasil, mesclando história com modernidade Vanessa Corrêa da Silva

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De São Paulo

ma pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que São Paulo é a cidade brasileira com a melhor infraestrutura para o turismo. Além de ser o mais importante pólo de turismo de negócios do Brasil, a capital paulista conta com 972 estabelecimentos hoteleiros (19,3% do total do país), 54.065 quartos (21,6%) e 73.488 leitos (19,7%). Junto com o Rio de Janeiro, a cidade concentra um terço da oferta de hospedagem do país. Apesar de não possuir a exuberância da paisagem carioca, tem uma intensa e famosa vida noturna, boas opções culturais com museus e institutos — além de uma oferta gastronômica variada e de alta qualidade, que agrada a todos os tipos de paladar. Sendo a cidade brasileira que mais abriga imigrantes vindos da Itália, é natural que muitas de suas atrações tenham sotaque italiano — caso dos locais que citamos a seguir.

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Edifício Martinelli onstruído pelo imigrante Giuse-

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ppe Martinelli para ser a sua casa, o prédio de 30 andares causou surpresa em sua inauguração, em 1929, época em que a maioria dos edifícios da cidade não passava dos cinco andares. Considerado o primeiro arranha-céu de São Paulo, o edifício tem vista para grande parte do centro da cidade. A partir de seu terraço, é possível avistar locais como a Catedral da Sé, o edifício Altino Arantes (conhecido como prédio do Banespa), a igreja de São Bento, o viaduto Santa Ifigênia e o vale do Anhangabaú. O edifício Martinelli pode ser alcançado a partir de três entradas, nas ruas São Bento e Líbero Badaró e na Avenida São João. As visitas devem ser agendadas através do telefone (11) 3104-2477 ou por meio de um formulário no site www.prediomartinelli.com.br, e acontecem às segundas, terças e sextas, das 9h30 às 11h30 e das 14h30 às 16h30. Aos sábados, até as 13h.


Theatro Municipal eaberto em junho do ano passado após três anos de reformas, o

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no edifício de mesmo nome, considerado o segundo mais alto da cidade e do país, com 165 metros de altura. Inaugurado em 1965, está situado na esquina das avenidas Ipiranga e São Luís, no centro. Em seu topo, fica o refinado restaurante Terraço Itália, que reúne quatro ambientes. O mais animado é o piano-bar, onde acontecem shows de música ao vivo. Com paredes de vidro, o local oferece uma vista noturna de tirar o fôlego. O restaurante abre para almoço, das 12h às 15h, e para jantar, a partir das 19h. Para um jantar com música ao vivo, as reservas são aceitas a partir das 21h e podem ser feitas através do telefone (11) 2189-2929 ou do site www.terracoitalia.com.br

Rua Avanhandava utra opção para quem quer conhecer a gastronomia italiana feita

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em São Paulo é a Rua Avanhandava, que concentra em um quarteirão nada menos que seis restaurantes. Entre eles, estão entre os italianos mais tradicionais da cidade. É o caso do Famiglia Mancini, onde massas e carnes disputam a atenção dos clientes com um tentador bufê de antepastos regado a queijos, azeitonas, presunto de Parma e alcachofras, entre outras delícias italianas. O proprietário Walter Mancini também comanda as outras cinco casas da Avanhandava e foi o responsável pela revitalização da rua em 2007, transformando-a em uma espécie de boulevard iluminado por luzes coloridas.

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Fotos: Lucas Sampaio

Terraço Itália cone da comunidade italiana de São Paulo, fica

Theatro Municipal foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e pelos italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi. Sua construção foi iniciada em 1903 e o teatro foi inaugurado em setembro de 1911. Além de ter sido o palco da Semana de Arte Moderna de 1922, já se apresentaram no local artistas como Maria Callas, Enrico Caruso, Arturo Toscanini, Claudio Arau, Isadora Duncan, Duke Ellington e Ella Fitzgerald. O teatro fica no centro, na praça Ramos de Azevedo, e conta com um restaurante aberto de segunda a sábado, das 9h às 15h30. A programação de espetáculos e as informações sobre ingressos podem ser conferidas pela internet: www.teatromunicipal.sp.gov.br


Literatura

Escritora de aço Autora de livro previsto para virar filme ainda este ano, Silvia Avallone fala do processo de criação do seu romance de estreia que toca em assuntos cruciais e polêmicos para a sociedade italiana, como machismo, drogas, proletariado e o futuro de um país em crise Guilherme Aquino

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De Milão

ilvia Avallone tem 25 anos. A jovem publicou o livro Aço e chegou em segundo lugar no tradicional concurso literário italiano Premio Strega, no ano passado, vencido pelo escritor Antonio Pennacchi, com Canale Mussolini.

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Nada mal para um romance de estreia, que já teve os direitos cinematográficos comprados, com o lançamento do filme previsto para este ano. O livro narra as aventuras de jovens que se amam, trabalham, estudam e se drogam à sombra e dentro de uma gigantesca siderúrgica, a Lucchini, localizada na cidade de Piombino, diante da Ilha de Elba, onde existia uma importante jazida de ferro. Silvia Avallone pinta um afresco italiano de uma geração crescida com o fenômeno sócio-econômicopolítico do “berlusconismo”. No caldeirão, há ritos de passagens de adolescentes, a iniciação sexual, a

droga no mundo do trabalho, a vida da classe operária em extinção e o reflexo de uma vida espelhada na imagem vendida pela televisão, cada vez mais longe da realidade. ComunitàItaliana - O livro é um acerto de contas com o seu recente passado? Silvia Avallone - Como adolescente, a minha imagem da fábrica moldou-se nas palavras dos meus coetâneos mais corajosos. E é esta fábrica que eu quis contar: esta visão através dos olhos dos jovens heróis, dos meus amigos. Eu senti a necessidade de restituir a vitalidade, o fascínio, a potência de um lugar esquecido do circo mediático, atenta a não deixar de lado o drama das ‘mortes brancas’ (acidentes fatais em locais de trabalho) e os novos problemas concretos dos trabalhadores de hoje. Um lugar de tragédias, mas também de maravilhas e, sobretudo, de imensa humanidade, de grande orgulho, e dignidade. O meu ponto de vista originário, afetivo, nunca mudou, nem quando eu entrei e vi com os meus próprios olhos o coração do gigante. CI - Como você vê a mudança no plano humano da “experiência do trabalho”, principalmente na siderúrgica Lucchini, onde se tem a impressão de estar “em


qualquer lugar do mundo”? Esta realidade poderia ser universal? SA - Estas são fábricas colossais, que parecem destroços do século passado: o século do aço, se pensamos às armas e aos navios enormes produzidos pelas duas grandes guerras mundiais, e ao nome da rua, Stalingrado, não por acaso, do ditador Stalin. Hoje não são mais assim: a indústria pesada não está mais no centro, mas, sim, à margem da atenção do mundo ocidental. E é por causa disso que eu quis contá-la: para recordar que o mundo industrial continua a existir, mesmo que em meio a uma transformação, e continua a representar uma fonte de vida para muitas famílias e muitos jovens em diferentes territórios no mundo dos quais pouco se fala. Este mundo esquecido, mas ainda tão vivo, para mim, é ainda um mundo que merece ser contado, observado, escutado, conhecido com o desejo de compreendê-lo e dele tomar conta, com os olhos e as novas palavras. Hoje, é difícil que um jovem sonhe em ser operário: sonham-se outras coisas e isso não é um delito. Ao contrário, é um dado de fato e um sinal de mudança. Porém, em muitos lugares do mundo, a decisão de ser operário em uma fábrica perigosa e gigantesca como aquela siderúrgica é um destino, uma escolha necessária, e é preciso ocupar-se deste destino, também, transformando-o em menos feroz e mais em linha com as aspirações dos jovens de hoje. Melhorar, não apenas no campo fundamental e capital da segurança e dos direitos, mas também no da cultura. CI - Os conceitos de “consciência de classe”, “proletariado” e “subproletariado” são conceitos em transformação. Estariam em extinção? Se sim, quais seriam os novos? Agora, que você escreveu o livro, pensa que a obra possa ser uma “vingança social”? SA - Creio que os termos como consciência de classe e proletariado pertençam a um dicionário fora de uso. Mas não deixam de existir, infelizmente, os problemas sociais e os dramas aos quais estes termos fazem referência. Existem na Itália, como em outras paragens, lugares nos quais para um jovem é difícil de se realizar e, até mesmo, de sonhar com um futuro diferente daquele de seus pais. Existem ainda os chamados vencedores, os humilhados e os ofendidos. Hoje, podemos alardear uma consciência de liberdade e

uma cultura desconhecida das épocas precedentes. No entanto, quase sempre fazemos contas com mil e uma dificuldades materiais, obstáculos, discriminações e injustiças que anulam as conquistas da cultura. Penso nas mulheres, nas classes sociais mais frágeis, nos jovens com empregos temporários e nos muitos trabalhadores que lutam contra o fechamento das fábricas neste momento de crise global. Uma grande escritora italiana chamada Elsa Morante dedicou um inteiro e formidável romance a descrever com quanta crueldade a História com “h” maiúscula tritura as vidas das pessoas comuns: as pessoas sem poder, a vida que pulsa fragilidade e maravilha fora das suas lógicas. Ecco, a minha ideia é que a História não tenha sido muito alterada, mas que, hoje, em muitíssimas partes do mundo, a consciência das pessoas e o desejo de mudar as coisas (como a internet, a literatura, as revistas, nos protestos populares nas ruas e nas praças) sejam exponencialmente aumentados. Por isso sinto-me otimista, sem negar a realidade dos problemas, em toda a sua espessura.

A obra de Silvia Avallone, que conta as aventuras e desventuras de jovens trabalhadores da siderúrgica Lucchini, vai virar filme ainda em 2012

CI - Como você trata o tema da sexualidade? SA - Eu tentei contar a descoberta da sexualidade tomando distância da vulgaridade e dos estereótipos do comércio, da ânsia do consumismo que inundam, também, nesta delicadíssima e extraordinária experiência. A sexualidade de Anna e Francesca tem a ver com o mar, a luz, o verão, com a descoberta de laços secretos, de desejos arcanos e desconhecidos. Também, aqui, como na fábrica, ensinou-se uma magia que se apresenta com força e delicadeza, como se faz com as coisas míticas. CI- Anna e Francesca são as duas adolescentes e protagonistas do livro. Como elas usam a beleza no meio em que vivem? SA - A beleza de Anna e Francesca é, como cada beleza, uma arma

“Na Itália, a metade das mulheres não trabalha. Elas continuam ligadas a pais e maridos que pensam que podem exercitar direitos de propriedade crua e nua sobre elas”

e também um poder. Mas é justo que este poder seja exercitado na vida privada, nas dinâmicas do amor, do jogo e das emoções. Que a beleza feminina seja usada como mercadoria, que seja degradada a um objeto e exibida pela TV, sem respeito, é um escândalo e, além disso, um escândalo muito velho, superado pelas batalhas que as mulheres fizeram ao longo da história, com os resultados entregues a nós. A paridade com o homem foi alcançada no plano da consciência, mas não na realidade. E aqui fechamos o círculo do que eu dizia antes: a importância da escola, a importância de uma sociedade que ofereça, efetivamente, a possibilidade a todos de escolher o próprio futuro. Anna e Francesca devem poder saber e entender que a emancipação delas está ali, entre os livros e os deveres na sala de aula. CI - O livro aborda a questão da droga entre os jovens operários como instrumento para vencer o cansaço e aguentar os ritmos impossíveis. Qual é a sua opinião sobre o uso das drogas no mundo do trabalho e da diversão juvenil? SA - Em geral, o fenômeno do consumo de drogas me assusta muito e creio que seja uma praga que deve ser combatida, começando por dar a possibilidade aos jovens de realizarem-se, na vida profissional e na afetiva; oferecendo-lhes a oportunidade de sonhar e alcançar um futuro melhor. Coisas que, nestes tempos duros, é realmente muito difícil. Mas o consumo de droga que mais me aterroriza é aquele que ocorre nos locais de trabalho, para combater a fadiga e o ritmo massacrante dos turnos. Entre os jovens que enfrentam o trabalho pesado do ponto de vista físico, para poder aguentar oito horas, mais as horas extras, e depois ter ainda energia para sair à noite, dançar e se divertir, recorrem à cocaína

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Literatura ou às drogas sintéticas. Observo este fenômeno como uma verdadeira tragédia e, por isso, quis contá-lo. Certas fábricas envenenam já por si só, por causa do fumo, do amianto, da pólvora sutil. Acrescentar outro veneno, contribuindo para matar lentamente estes jovens trabalhadores, é um delito que deve ser combatido. CI - Como os códigos familiares mudaram ao longo do tempo? Nestes últimos dez anos, você acha que nas províncias italianas (e nas cidades) exista ainda um machismo reinante e uma silenciosa violência doméstica? Quais são as regras familiares nas quais você acredita? Serão as mesmas que poderia aplicar aos seus filhos em um hipotético futuro? SA - Existem, ainda, no segredo dos apartamentos, muitíssima violência de pais patrões sobre as mulheres e as filhas. Resistem núcleos — mais numerosos do que se pensa — de um machismo reinante. A violência dentro da família é um tabu contra o qual tende-se a não fazer caso, a se esconder. Por isso, eu quis contálo: para jogar uma luz nos costumes arcaicos que, porém, continuam a permear as nossas moderníssimas culturas. Na Itália, a metade das mulheres não trabalha. Por isso, continuam ligadas a pais e maridos que, quase sempre, pensam que podem exercitar direitos de propriedade crua e nua sobre elas. Esta posição feminina subalterna é tão dolorida quando, no papel, a mulher tem os direitos reconhecidos de ser livre e autônoma. A família é um lugar, quase sempre, pouco edificante, onde cova a violência e onde é difícil crescer. Falar do problema significa, ao meu ver, começar a combatê-lo.

“O consumo de droga que mais me aterroriza é aquele que ocorre nos locais de trabalho, para combater a fadiga e o ritmo massacrante dos turnos. Observo o fenômeno como uma verdadeira tragédia e quis contá-lo” 40

CI - Neste momento da vida italiana parece existir pouco ou nenhum tempo e espaço para cultivar uma ideologia... ela existe ainda? Você chegou a receber críticas negativas dos operários ou dos moradores da cidade? SA - Eu não recebi, pessoalmente, nenhuma crítica dos operários, mas de alguns habitantes, sim, que não se reconheceram no meu romance, e que, ao meu ver, esqueceram que um romance não é uma reportagem ou uma sentença, mas uma metáfora que parte do detalhe para expressar alguma coisa de universal. “Acciaio” é, acima de tudo, a história de Anna, Francesca, Alessio, Sandra etc. História de pessoas, de vidas que se entrelaçam, se encontram, de famílias, de adolescentes que sonham sonhos iluminados e errados. Ela conta um mundo humano que eu amo, que acho muito precioso. A literatura não julga e não fornece ideologias. Do meu ponto de vista das coisas, a literatura — por mais que possa ser engajada e tomar posições — não força nunca a realidade nas “casinhas” dos conceitos, mas restitui a vida na sua complexidade, nas suas contradições, nas suas confusões, e, então, na sua beleza de vida que se mantém sempre, e de qualquer forma, um mistério livre de definições. Creio que hoje, na Itália como fora daqui, não exista mais espaço para ideologias como surgiram nos dois séculos passados. Hoje, existe a vontade de olhar a realidade cara a cara, sem entricheirar-se em barricadas ideológicas. E há o desejo de mudar o que esta realidade fere, discrimina, cria violência. As ideias que sabem se confrontar com a realidade, e olhar o futuro, sem violentar a realidade ou os outros, são ideias das quais temos necessidade de haver. CI- Qual é a saída deste momento dramático de crise para a sua geração e aquela que vai chegar? SA - Acho que todos, sem nenhuma exclusão, devem ter a possibilidade de estudar de verdade e, então, de escolher entre destinos diversos, livremente, segundo as suas vocações e os seus desejos. A escola deve ensinar, acima de tudo, a pensar, a imaginar o futuro: o próprio e junto aos outros. Porque cada um é, também, um de todos, e ninguém se realiza sozinho. CI - Como é Silvia Avallone quando escreve? É verdade que você gosta de Lady Gaga e de fazer faxina em casa? SA - Eu escrevo apenas no computador, porque sou filha do meu tempo (tecnológico) e depois, como de costume, quando escrevo, cancelo e reescrevo milhões de vezes... Só o pensamento de todo o papel que teria desperdiçado me provoca arrepios! E como escrever é, muitas vezes um esforço, e uma tensão emocional à enésima potência, fumo dezenas e dezenas de cigarros, bebo um pouco de café e, em geral, devo dizer que não é uma atividade muito saudável... Em compensação, escrever me faz muito feliz. Como medida antiestresse, è verdade que amo arrumar a casa, limpar os vidros, o chão, o banheiro... A primeira coisa que faço depois do café da manhã é me “jogar” na limpeza da casa, quase sempre com a música de Lady Gaga como trilha sonora. Limpar e cozinhar continuam sendo as minhas soluções para combater o estresse, até porque gosto muito da vida doméstica e familiar. Quanto a Lady Gaga, além do fato de que a sua música me diverte muito e me dá energia, creio que seja uma moça fora de série: determinada, inteligente e visionária, ela trouxe ironia e embaralhou o mundo “patinado” das estrelas do pop.

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CI - Tudo passa (dizia o filósofo grego Panta Rei). O que é, para você, um índice de degrado social e cultural? SA - Não podemos baixar a guarda. Devemos preservar as conquistas do passado, além de projetar-nos em direção do futuro. Temos que ter cuidado com a memória, ter em mente as batalhas que fizeram os nossos pais, os nossos avós, os nossos bisavós. Cada resultado é sempre precário: é sempre possível que qualquer direito conquistado, com suor e fadiga e dado por certo, seja rebaixado a algo provisório e duvidoso. A democracia é algo pela qual vale sempre lutar, estar atento, participar. O índice de degrado cultural, neste sentido, é a indiferença. CI - O livro revela uma Toscana longe do cartão-postal das vitrines. O que lhe atrai em lugares como Piombino? SA - Não amo os lugares adormecidos, dobrados ao cinismo e à riqueza. Pensei que Piombino pudesse se transformar numa metáfora das contradições do mundo moderno, na sinuca, entre a indústria e os desejos diferentes, entre o mar e o aço. Mas a Piombino que conto, na realidade, existe apenas em parte, porque no romance eu transfigurei esta realidade. A rua do meu livro, Stalingrado, não existe em nenhuma parte de Piombino, mas pulsa de vida em qualquer província e periferia — mesma aquela do Rio de Janeiro. Estes são lugares do mundo que mais me atraem, seja pela beleza humana que libertam, seja pelo empenho que todos nós devemos procurar para melhorar a vida das pessoas que ali habitam.


Design

Fora dos padrões Coleções de obras dos irmãos Campana chegam ao CCBB do Rio, com design que brinca com funcionalidade e não segue padrões estéticos Nathielle Hó

U

ma simples peça do mobiliário pode virar uma obra de arte se lhe forem atribuídos elementos diferentes e ousados. O trabalho de desconstrução e remontagem de objetos, utilizando materiais incomuns e impensados no design de móveis, são características marcantes dos irmãos ítalo-brasileiros Fernando e Humberto Campana. A dupla ignora o formato tradicional das peças e cria novas funções para os objetos do cotidiano. Humberto é artesão e Fernando participa das criações como arquiteto. O reconhecimento internacional das obras desses dois brasileiros aconteceu através da organização da primeira grande retrospectiva de seus trabalhos, feito pelo conceituado Vitra Design Museum, da Alemanha, com curadoria de Mathias SchwartzClauss. A mostra intitulada Anticorpos chegou ao Brasil e conta

com 200 obras desenvolvidas no período de 1989 a 2009. A exposição, que integra a agenda de eventos do Momento ItáliaBrasil, já passou por museus europeus e centros culturais do Espírito Santo, Brasília e São Paulo. Atualmente pode ser conferida até 6 de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. A mostra traz um panorama histórico dos trabalhos dos Campana relacionados às artes plásticas, peças de mobiliário e joias. De acordo com o curador da exposição, Mathias Schwartz-Clauss, através de diferentes cores, formas e materiais, o público vai poder apreciar um design com características bem brasileiras, que utiliza materiais típicos do país, como fios emaranhados, algodão, plástico, cobre, retalhos coloridos e estampas em formas exuberantes. — A rica linguagem visual dos Campana está firmemente ancorada em sua terra natal, o Brasil, país que reflete o protótipo típico de nossa época globalizada. A exuberância de sua natureza, a mistura de seu povo e a justaposição não mediada de ricos e pobres proporcionam o solo fértil onde crescem os contrastes de cores, formas e materiais — ressalta o curador.

A retrospectiva apresenta a maior parte do acervo da dupla, incluindo coleções particulares, institucionais e a coleção Estúdio Campana. A mostra Anticorpos é dividida em nove módulos: Fragmentos, Objetos Trouvés, Nós, Varetas, Híbridos, Planos Flexionados, Objetos de Papel, Agrupamentos, e Orgânicos. Na série Fragmentos, a grande atração é a poltrona Favela, de 1991, símbolo de improvisação. Na seção Varetas, os irmãos construíram objetos com feixes de varetas que parecem refletir o caos artificial criado pelo homem. Na ala Transplásticos, inserida na coleção Híbridos, de 2007, os irmãos entrelaçam vime com materiais inusitados. Já na seção Objetos de Papel, eles desenvolvem peças que podem ser produzidas industrialmente a partir de papel reciclado. Peças tridimensionais feitas a partir de experimentações com papel machê e colagens com variadas temáticas também foram confeccionadas especialmente para a exposição. — Os objetos do acervo pessoal da dupla, espalhados ao longo da exposição, fornecem insights intimistas, surpreendentes e bem-humorados sobre a vida de Fernando e Humberto Campana — conta Mathias Schwartz-Clauss. Os artistas entendem o design como uma apropriação cultural de múltiplas influências e alegam que várias tentativas criativas são necessárias até se chegar ao objeto finalizado. — Muito dos métodos de trabalho vêm das descobertas, dos erros. Materializar o erro é o mais difícil. As obras beiram o acaso, mas têm engenharia — ressalta Fernando Campana. Os Campana privilegiam o conceito artístico de uma maneira mais parecida com o surrealismo. Uma das técnicas recorrentes dos irmãos é retirar, de seu contexto original, materiais manufaturados, e agrupá-los, para criar uma nova forma a partir disso. A dupla trabalha também com a justaposição de materiais orgânicos e inorgânicos, naturais e industriais, quentes e frios. Schwartz-Clauss afirma que Fernando e Humberto não seguem padrões estéticos. — Eles ignoram todas as convenções do design tradicional, brincam com a noção de funcionalidade e formam seus objetos poéticos a partir de realidades contraditórias — conclui.

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Moda

Homens na moda A Pitti Immagine Uomo, feira referência internacional para a moda masculina, abriu a temporada de moda 2012/2013 em Florença Janaína Pereira

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De Florença

m Florença, a Itália deu a largada para a temporada de moda masculina 2012/2013. Uma das feiras mais tradicionais do setor, a Pitti Immagine teve como um dos destaques a Pitti Immagine Uomo, onde foram apresentadas as tendências de inverno para a moda masculina. A Pitti Immagine, que ocupa uma área de 59 mil metros quadrados na Fortezza da Basso, exibe, desde alta costura, com os nomes mais prestigiados do panorama internacional, até a elegância mais vanguardista. O evento ocorre duas vezes ao ano, para apresentar as coleções de inverno e verão. A última edição de inverno recebeu 30 mil visitantes. Destes, 23 mil eram compradores, enquanto 33% representavam grandes lojas e magazines de várias partes do mundo. Nesta edição, somente na Pitti Uomo, 1073 marcas mostraram suas coleções de inverno, que vão do vestuário passando pelos acessórios, calçados e bolsas. Outras 74 marcas femininas estiveram reunidas na Pitti W. O mercado de roupas masculinas, ao contrário das mulheres, continua a ser um campo complexo da moda: os homens são, cada vez mais, difíceis de agradar quando o assunto é estética e roupas. A Pitti Immagine chamou atenção pelo grande número de compradores italianos, um fato peculiar se levada em consideração a crise econômica que afeta o país. A novidade foi o surgimento de marcas emergentes, que deram um novo impulso e criatividade à feira, e um pavilhão dedicado exclusivamente à moda japonesa.

grife Valentino. Eles apresentaram a coleção masculina do inverno 2012/2013 da marca, que foi a convidada de honra no line up da Pitti Uomo e se apresentou em grande estilo, em um desfile no salão barroco do Palácio Corsini, uma construção do século XVI. Conhecida por sua tradição em alfaiataria, a grife desfilou uma luxuosa coleção de ternos, jaquetas e smokings. Entre as peças leves

Valentino se destaca Um dos destaques dos desfiles da Pitti Immagine Uomo foi a presença dos estilistas Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, diretores da 42

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A Feira Pitti Immagine Uomo, que aconteceu em Florença, apresentou as tendências de inverno 2012/2013 para a moda masculina em roupas, calçados e bolsas

e minimalistas, sobressaíram-se as calças usadas com sapatos sem meia, jaquetas retas de couro e casacos de cashmere, ideais para enfrentar o frio europeu. As cores mais usadas foram o cinza, o preto e o azul marinho, com algumas peças em verde e vinho. — Estamos muito satisfeitos que Pier Paolo Piccioli e Maria Grazia Chiuriace tenham aceitarado o nosso convite. Valentino é uma casa que fez a história da moda. Em sua abordagem visionária e pragmática, tradição e inovação se misturam perfeitamente. Este era o momento certo para um desfile no palco da Pitti, com a nova visão do homem Valentino — comentou o CEO da Pitti Immagine, Raffaello Napoleone. Já os estilistas divulgaram para a imprensa o pensamento que refletia o desfile: “O verdadeiro luxo hoje é conversar com aqueles que optam por ouvir”. Além do desfile de Valentino, a edição da Pitti Immagine Uomo de janeiro de 2012 contou com a estreia do designer Errolson Hugh, especialista em engenharia da alfaiataria, além de apresentações de marcas como a McQ, de Alexander McQueen.


milão

Guilherme Aquino

Armani moda ão tem jeito. Entra ano, sai desfile, só

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dá Giorgio Armani. Com todo o respeito pelos outros estilitas que variam, com criatividade e beleza, os mesmos temas. Mas quem ousaria “inventar” uma calça comprida que não é comprida? Armani trouxe para as passarelas uma calça que bate abaixo dos vestididinhos. E, por favor, não chamem de bermudas. Um hino à feminilidade ainda mais com a decisão de realizar desfiles apenas com sapatos baixos. “Chega de mulheres agressivas. Mandei todas na passarela com tacos baixos, com os pés na terra, caminhando de forma natural, sem a obrigação de parecer uma escort”, comentou o rei Giorgio.

Brasil à milanesa

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jornal Corriere della Sera dedicou duas páginas aos points brasileiros, de acordo com o ponto de vista do embaixador Luiz Henrique da Fonseca, cônsul do Brasil em Milão, e de sua esposa, a embaixatriz Solange Greco. O casal cita eventos, como a presença do país no design através da Brazil S.A, no Salão Internacional do Móvel em abril; e na música, durante o Festival Latino-

Milanês a pé s meios públicos milaneses comemo-

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ram um incremento de quase 10 % de passageiros no último mês. E isso se deve às restrições impostas pela nova administração pública aos motoristas obrigados a pagar uma taxa de 5 euros para entrar com o carro no centro histórico. O milanês fez as contas com o engarrafamento, a qualidade do ar e o preço do metrô. Ele tirou a média e, finalmente, optou por locomover-se de forma mais rápida, menos poluente e mais econômica. Claro que a quantidade de vagões e viagens aumentou para compensar a grande demanda.

americano, entre junho e agosto. Sem falar no Ibrit, em Milão, com a maior biblioteca de livros em língua portuguesa e a presença de dois jogadores brasileiros da Inter e do Milan. Restaurantes, como o Barbacoa, o cabeleireiro Daniel Hair Sytlist, a loja Osklen e a escolas de capoeira, como a Mitokasamba, segundo o casal brasileiro número um, servem para matar a saudade da terrinha.

Milão de bicicleta inte assinaturas diárias contra

Crise da casa dez no ano passado. As bicicletas m apartamento em Milão custa cerca de aluguel decolam na preUde 5.178 euros por metro quadrado. O Vpúblicas

dado é da Bolsa Imobiliária. A crise e o altos valores impedem que o valor dos imóveis acompanhe o ritmo da inflação. O primeiro subiu de 1,4% no segundo semestre do ano passado contra 3,3% de aumento do custo de vida no mesmo período. Se para os proprietários e construtores a maré não está boa, o mesmo não se pode dizer para os inquilinos que estão pagando menos 3,1% e 0,9%, respectivamente, para quitinetes e apartamentos de quarto e sala. Ações de compra e venda caíram em 30% e 74% das compras realizadas são feitas por jovens com a ajuda financeira dos pais.

ferência de habitantes e visitantes. O pico foi em 27 de janeiro com o aluguel de 4.303 bicicletas. A média pedala na faixa dos 3.600 aluguéis por dia, quase o dobro do ano passado — e 2012 ainda está no começo. O número de estações é de 120 e este mês está ganhando outras 10. As ciclovias aumentam a olhos vistos. O problema são os motoristas e a falta de respeito com os ciclistas. Recentemente, dois ciclistas foram atropelados nas faixas pedonais.

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Carnaval

Caravaggio e Portinari na avenida Mocidade transformou Sambódromo em uma aquarela digna do pintor de O Café e Renascer trouxe uma Medusa gigante inspirada no barroco italiano Cintia Salomão Castro

Fernando Azevedo

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nredos e fantasias se repetem todos os anos, mas cada carnaval é diferente e único por conta da emoção e do amor com que é vivido por artistas e foliões. Quem participa dos desfiles no Sambódromo ou se diverte em algum dos milhares de blocos que agitam as cidades brasileiras sabe disso. No ano do Momento Itália-Brasil, Caravaggio, ícone italiano do barroco cujas obras virão ao Brasil para uma exposição ainda este ano na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte, inspirou uma ala inteira da Renascer de Jacarepaguá. Estreante no grupo especial, a escola de samba abriu os desfiles das agremiações de elite este ano, no domingo. Mesmo carnavalesca e

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sob ritmo de samba, uma Medusa de 22 metros de altura, feita de látex e serpentes que se moviam em movimentos de Parintins — uma técnica de movimentos desenvolvida por artistas amazonenses que vem sendo utilizada pelas escolas cariocas — não deixou de meter medo em quem observava sua expressão sobre o carro alegórico. Mesmo ao ritmo alegre do samba-enredo.

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Feita de látex, uma gigantesca Medusa de 22 metros, inspirada na pintura de Caravaggio, desfilou no domingo de carnaval, no Sambódromo, pela escola Renascer de Jacarepaguá

— Escolhi retratar a Medusa inspirada no quadro de Caravaggio para falar da parte mais obscura da sua obra. As pinturas do italiano foram o primeiro contato que Romero teve com a arte, ainda criança, por meio de um livro que recebeu do irmão, que era vendedor de enciclopédias — explicou à Comunità o carnavalesco da escola, Edson Pereira. O enredo O artista da alegria dá o tom da folia propôs uma viagem ao universo criativo de Romero Britto, pintor, escultor e serígrafo brasileiro radicado em Miami e conhecido mundialmente pelo estilo colorido e alegre de suas obras. — Realmente, tenho um grande respeito por Caravaggio, mas seu


Nelson Perez / Riotur

Nelson Perez / Riotur

A Mocidade de Padre Miguel coloriu a Marquês de Sapucaí com as vibrantes cores de Portinari, em uma bela homenagem ao pintor brasileiro filho de italianos

estilo não me incentivou. Foi um momento forte quando o conheci, no sentido de me fazer pensar “isso não é o que eu quero”. Quero criar uma arte positiva, para motivar — contou Romero à Comunità, logo após o desfile, visivelmente emocionado com a homenagem prestada pela escola de Jacarepaguá.

“Foi um momento forte quando o conheci, no sentido de me fazer pensar ‘isso não é o que eu quero’. Quero criar uma arte positiva, para motivar” Romero Britto, pintor, ao comentar a influência de Caravaggio em seu trabalho Sambódromo vira aquarela de Portinari Cinquenta anos exatos depois de sua morte, o pintor Cândido Torquato Portinari, filho de italianos que migraram para o interior de São Paulo em fins do século XIX, foi, pela primeira vez, tema de enredo de uma escola de samba. A ideia do premiado carnavalesco Alexandre Louzada, fã do pintor, foi realizada durante a apresentação da Mocidade Independente de

Padre Miguel, quarta escola a desfilar no domingo de Carnaval com o enredo Por ti Portinari: Rompendo a tela, à Realidade, com 41 alas e 3,8 mil componentes. — Sou fã de Portinari. Quis prestar essa homenagem ao pintor. Sempre me interessei por sua obra e pesquisei muito — revela Louzada, que continuará defendendo a verde e branco no carnaval de 2013. O abre-alas mostrava o pintor no céu, uma alusão ao momento em que o talento de Portinari foi notado por pintores italianos que estavam ilustrando o teto de uma igreja no interior de São Paulo. O carro trazia uma escultura de Portinari à frente, além de estrelas feitas de espelho, tudo completado com um efeito de luzes coloridas e

A atriz Cristiane Torloni participou ativamente do Carnaval no Rio: ela desfilou pela Grande Rio e participou do baile do Copacabana Palace. No Sambódromo, vestida de “deusa da Vitória”, a madrinha do Momento Itália-Brasil contou que pretende voltar à Itália ainda em 2012

Escola homenageia Itália e é campeã de 2012

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om um enredo dedicado à Itália, de autoria de Lucas Pinto e André Rodrigues, a União da Ilha da Magia sagrou-se a campeã do Carnaval de 2012 em Florianópolis. Com 2,6 mil componentes, 20 alas e quatro carros alegóricos, Una Bella Storia fez referências históricas e culturais que incluíam os costumes da Roma antiga, a Divina Comédia de Dante Alighieri, o cientista Galileu Galilei, as Máscaras de Veneza, e heroína Anita Garibaldi e a inconfundível gastronomia italiana. Os imigrantes que vieram trabalhar nas lavouras brasileiras também foram lembrados, assim como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Cristóvão Colombo. Este é o segundo título da escola, criada em 2009. O desfile teve o apoio do Momento Itália-Brasil.

casando com o símbolo da Mocidade: a estrela. Carros e alegorias retratavam vários quadros de Portinari, a exemplo de Flautista, Dom Quixote, O Mestiço e O Morro — que trazia como destaque a cantora Elza Soares. Além disso, foram evocados a azulejaria, a influência do cubismo e os famosos painéis do artista, como Guerra e Paz, expostos na sede da ONU, em Nova York. Com esculturas gigantes, o carro Retirante era tão dramático quanto a famosa pintura concebida sob a influência do italiano De Chirico. — Quis colocar na avenida a obra de Portinari falando dele. Não procurei fazer uma biografia, nem falar da sua trajetória política. Sua obra fala por si. O filho de Portinari, João Cândido, chorou quando leu a sinopse do enredo e me disse que eu tinha conseguido captar a alma do pai — comentou Louzada à Comunità. Apesar de não ter sido classificada para a noite das campeãs, a Mocidade emocionou o público com um desfile digno de uma aquarela de Portinari, com cores claras, fortes e um samba com melodia e letra unindo o traço do pintor ítalo-brasileiro ao espírito do carnaval: Emoção me leva/ Livre pincel a deslizar/Vou navegar, desbravador/Um errante sonhador/Por Ti que a Mocidade canta/Portinari, minha aquarela/ Rompendo a tela /a realidade/ nas cores da felicidade. — Há muito tempo que isso não acontece (a escola ser ovacionada no fim do desfile). Tanto com a Mocidade quanto comigo. E a bateria teve um papel muito importante nisso, levantando o público — comentou o carnavalesco Louzada, após o desfile.

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Carnaval

O carnaval da laranja

Com máscaras medievais e carroças, seis mil pessoas entram na folia na tradicional batalha das laranjas em Ivrea, cidade do Piemonte

Guilherme Aquino

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De Milão

ove carroças puxadas por cavalos circulam pelas ruas do centro histórico de Ivrea, cidadezinha piemontese, sede da antiga fábrica da Olivetti. Aos pés dos Alpes, no vale da Aosta e às margens do rio Dora Baltea, ela se transforma em arena ao ar livre para a batalha das laranjas. Os ocupantes do carro travam uma feroz luta com os “inimigos” que estão a pé. A arma é a laranja. Durante boa parte do percurso, elas voam para cima e para baixo. Quem vai sobre o carro se protege com máscaras do período medieval. Esta é uma representação dos feudatários, dos 46

aristocratas e dos nobres que enfrentam uma revolta popular que tem a fruta como arma de combate. Jogadas com as mãos, as laranjas substituem a flecha e a lança. O arsenal está espalhado pela praça. Quarenta toneladas repousam em caixas de madeira. Ao sinal da chegada da primeira carroça, os caixotes são tomados de “assalto” e esvaziados em um piscar de olhos. Os combatentes se distinguem do público normal com roupas que representam as carroças e armazenam as laranjas em bolsas amarradas na cintura e nas camisas dobradas à altura da barriga. Todos os moradores da cidade participam da festa e aqueles visitantes ou habitantes que não querem virar o alvo dos atiradores usam um

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capucho vermelho na cabeça, o chamado Berreto Frigio. Mesmo assim, é muito difícil evitar as “laranjas perdidas”, aquelas que erram o objetivo e atingem quem está ali perto, nas redondezas apenas como espectadores. A batalha dura cerca de três horas. Durante este período, carroças circulam pelas ruas estreitas e antigas de Ivrea. A trégua existe apenas quando elas saem da praça principal, a Piazza di Città, e entram nas vielas principais e transversais, como a Via Arduino. Ali, os combatentes descansam e limpam a testa, os olhos, as orelhas, as bochechas, o nariz e a boca. O roxo ao redor dos olhos não deixa dúvidas: a “vítima” foi atingida por uma laranjada. — Apenas os mais bonitos são feridos assim — brinca um folião que cobre o olho esquerdo inchado após a batalha. O intervalo entre uma passagem e outra das carroças é ocupado pelo desfile do “exército napoleônico”. É uma referência histórica ao período em que o imperador francês reinou como soberano naquelas terras. Na época, Napoleão organizou e unificou a festa de carnaval dos diferentes rincões para evitar brigas e confusões. Neste momento, entra em cena a legenda da Mugnaia, personagem mítico e representado pela rainha do carnaval de Ivrea. Ela teria sido a assassina do conde de Monferrato, crime que foi o estopim da revolta popular. Ao longo do ano, as agremiações, à semelhança das escolas de samba no Brasil, organizam o carnaval de Ivrea, com muita antecipação. Os sócios começam a criar a decoração dos bairros da cidade, divididos pelas carroças. Ao mesmo tempo, eles iniciam a reservar as laranjas, importadas do Sul da Itália. — Estas laranjas são aquelas com o prazo de validade vencida. Não é um desperdício usá-las no carnaval. Não poderiam ser mais consumidas pelo homem. Elas chegam apenas alguns dias antes do começo da festa — conta um dos organizadores. Bandeiras com os nomes das agremiações tremulam no alto das casas, como Os Escorpiões do Tirano; A Armada do General; Os Enxadristas; Os Mercenários e Os Diabos. No total, os participantes oficiais são cerca de seis mil foliões. Grandes faixas e painéis A batalha das laranjas utiliza ocupam as fachadas das os figurinos das disputas muralhas medievais e do populares medievais castelo de Ivrea, e os “laranjeiros” matam a fome e a sede com a típica cozinha local, que inclui pratos como os Gnocchetti di Ceci. O carnaval de Ivrea existe desde meados do século XVII. Mas a batalha das laranjas chegou em 1947 para nunca mais ir embora. Durante os três dias de festa, os restos das laranjas ficam espalhados e caminhar sobre as cascas espremidas é como andar em cima das uvas. Uma espécie de “vendêmia” improvisada da laranja se instala em Ivrea durante o carnaval. Uma laranjada inesquecível.


Exposição

Reciclagem criativa em Roma

Aline Buaes

Especial para Comunità

A

prática da reciclagem como síntese da inovação criativa é o tema que move a exposição Re-Cycle – Strategie per l’architettura, la città e il pianeta, a grande mostra inaugurada mês passado pelo Museu Maxxi de Roma dedicada ao terceiro milênio. Mais de 80 obras, entre desenhos, modelos, maquetes, projetos de urbanística e paisagística — em diálogo com artistas, designers e videomakers — resultam em uma viagem interdisciplinar reunidas no tema da reutilização criativa do lixo. A exposição, em cartaz até 29 de abril, expande-se também do lado de fora do museu com duas instalações especialmente feitas para a ocasião: o projeto Maloca, dos designers brasileiros Fernando e Humberto Campana, e o pavilhão

Officina Roma, construído com resíduos de canteiros de obras e oficinas para arquitetos. A maloca brasileira, construída com madeira e ráfia sintética, consiste em uma reinterpretação contemporânea das estruturas comunitárias dos índios da Amazônia. Os irmãos designers, reconhecidos mundialmente pela capacidade criativa de transformar materiais e formas comuns, muitas vezes consideradas como lixo, em produtos de vanguarda no design contemporâneo, foram escolhidos pelos curadores da exposição justamente para desenvolver esta abordagem, no limite entre a arte e o design, entre arquitetura e paisagem. A estrutura de grandes dimensões, localizada na entrada principal do museu, segundo os curadores, oferece proteção aos visitantes e dialoga com as sinuosas formas arquitetônicas do prédio, obra-prima da arquiteta

Fernando Laszlo

Maloca brasileira, uma reinterpretação das estruturas dos índios da Amazônia, é destaque na mostra sobre projetos arquitetônicos com material reciclado no Museu Maxxi da capital italiana

Os designers Fernando e Humberto Campana são responsáveis pelo projeto Maloca, que recria o universo indígena

Zaha Hadid aberta ao público há pouco mais de um ano. A maloca nativa dos índios é reinventada, com a tradicional ráfia — desta vez sintética e fruto de tecnologias atuais, mas sempre com o objetivo primário da arquitetura de todos os tempos: oferecer proteção. A curadora da instalação Domitilla Dardi lembra que Fernando e Humberto Campana estão entre os designers que mais contribuíram para tornar a reciclagem um dos temas centrais do design contemporâneo, “criando novas linguagens a partir da transformação daquilo que já existia”. A arquiteta destaca que, nos anos 1980, a dupla de designers ousava ao apresentar projetos com materiais reciclados, em uma época em que este tipo de proposta era definitivamente contra a tendência. Projeto teve apoio de madeireira e de fábrica de móveis O projeto Maloca foi realizado com apoio de uma madeireira italiana que utiliza apenas madeiras de proveniência sustentável certificada, enquanto a ráfia sintética foi produzida em parceria com a fábrica de móveis italiana Edra, grife que há anos trabalha em parceria com os irmãos Campana, apresentando todos os anos novidades no setor de móveis e decoração. A dupla multipremiada de designers paulistas adquiriu fama internacional com peças como a cadeira Vermelha, parte do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York, concebida com cordões trançados de algodão, e como a cadeira Favela, realizada com tocos de madeira recuperados do lixo. As demais obras da exposição incluem projetos recentes, frutos da nova sensibilidade ambiental que permeia o trabalho dos novos designers, além de exemplos consolidados ou até mesmo históricos — testemunhando que a reciclagem é uma prática inerente ao trabalho de projetistas e artistas. Entre os projetos de destaque expostos, há o plástico original do projeto da High Line de Nova York, o desenho de Superstudio para a sobreposição do Coliseu de Roma e o modelo de Túnel de Trento, transformado em museu. O Museu das Artes do Século XXI, o Maxxi, fica na via Guido Reni, 4 A, e está aberto ao público de terça a domingo, das 11h às 19h. Aos sábados, fecha mais tarde, às 22h.

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Fotografia

O sofrimento como auto-ajuda Exposição de fotógrafa de origem lombarda em São Paulo chamou atenção para o tema da automutilação Vanessa Corrêa da Silva

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De São Paulo

ealizada no início deste mês, a exposição Self Harm/Cutting, da fotógrafa Stephany Julia Panteghini, chamou a atenção para um problema que aflige inúmeras pessoas em todo o mundo, das mais diferentes culturas, idades e camadas sociais: a automutilação. A exposição aconteceu no Centro Cultural da Marinha de São Paulo e teve o apoio do Instituto Italiano de Cultura, da Associação Lombardi in Brasile e da Associação da Imprensa Italiana no Brasil. A mostra, aberta ao público e com entrada gratuita, ficou em cartaz de 2 a 9 de março. O ato de autoflagelação, no qual a pessoa se machuca sem a intenção de suicídio, é interpretado como um meio de aliviar, por meio da dor física, uma dor emocional, mais intensa e difícil de ser curada. Muitas vezes acompanhada de arrependimento, a automutilação pode ser indício de um distúrbio psicológico ou de um ato desencadeado pelo meio em que a pessoa vive. Fotógrafa com mais de dez anos de experiência, Stephany Julia Panteghini fez uso do nu artístico para denunciar esse problema, desconhecido por grande parte da sociedade. Brasileira com cidadania italiana (seus descendentes são originários da Lombardia), Stephany é formada em fotografia pela faculdade Senac, de São Paulo. — Nas fotografias apresentadas por Steph Julia, não há nada de contraditório. É um alerta. Aborda o tema da automutilação com delicadeza; mescla a fantasia e o real. Ela nos abre uma janela poética para a questão — opina Jairo Casoy, fotógrafo e professor de fotojornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no texto de abertura da exposição. 48

Sem intenção suicida A mostra contou ainda com textos explicativos da antropóloga e doutoranda pela Universidade Estadual de Campinas, Carolina Branco Ferreira; do professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Hermano Tavares; da psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP, Jackeline Giusti, especializada em automutilação; e do coordenador do Programa de Tratamento de Automutilação do Instituto de Psiquiatria da USP, Marcelo Nogueira. — A automutilação patológica consiste em múltiplos episódios de lesão ao próprio corpo (principalmente cortes e queimaduras), sem intenção suicida, com sensação de alívio subsequente e duração de muitos anos. Pessoas que se automutilam vivenciam um

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A exposição Self Harm alerta para um problema psicossocial: a automutilação, uma forma mórbida de aliviar os sintomas da depressão, solidão e ansiedade

extremo sofrimento e descrevem sentimentos de insensibilidade, de desintegração interna e de morte imediatamente antes de seus atos. Muitas vezes, não experienciam a dor durante o ato e relatam sensação de alívio após o mesmo — explica o texto dos especialistas. Segundo os estudiosos, trata-se de uma forma mórbida de autoajuda, aliviando, embora apenas temporariamente, sensações de vazio, depressão, solidão, ansiedade e raiva. Por mais contraditório que seja, trata-se de um ato anti-suicida, por ser usado como meio rápido e efetivo de trazer a pessoa de volta de uma sensação irreal de morte. Com seu olhar fotográfico, Steph Julia, de 25 anos, desnuda o que, muitas vezes, permanece oculto. Com a iniciativa, ela dá aos seus modelos fotográficos e a quem mais se identifique com eles uma oportunidade de expressão que dispensa palavras sem, com isso, ter que recorrer à dor mais uma vez.

A exposição contou ainda com o apoio da associação Viver Bem, uma organização sem fins lucrativos que visa promover a aceitação e o bem-estar de portadores de transtorno do impulso e suas famílias. Mais informações sobre esse transtorno podem ser encontradas no site da associação www.associacaoviverbem.org.br Um dos mais recentes trabalhos de Steph Julia foi a elaboração do conteúdo fotográfico do livro Influências lombardas na paisagem paulistana, de Ezio Maranesi, publicação que faz parte do projeto Momento Itália-Brasil e que tem o apoio da Embaixada, reunindo informações sobre as obras de artistas, arquitetos e empresários de origem lombarda que ainda hoje caracterizam a paisagem paulistana.


Música

Fiorella com axé Romana de nascimento e baiana de coração, madrinha do Projeto Axé, fundado em Salvador por um advogado fiorentino, a cantora Fiorella Manoia se apresenta em turnê pela Itália acompanhada de jovens baianos saídos da exclusão social Gina Marques

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De Roma

que é que essa ruiva tem? Tem, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! Tem graça como ninguém. Como ela requebra bem! Os versos de Dorival Caymmi, em homenagem à mulher da Bahia, poderiam ter sido inspirados em uma italiana que é baiana como ninguém: Fiorella Mannoia. Considerada uma espécie de embaixadora da música brasileira na Itália, a cantora romana teve parceiros musicais como Chico Barque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, Lenine, Chico César, Jorge Benjor, Carlinhos Brown e Adriana Calcanhoto. Todos reunidos no álbum Onda Tropicale (2006). Como se não bastasse, ela abraça ainda mais amigos brasileiros: crianças e jovens carentes. Fiorella é madrinha do Projeto Axé, uma organização sem fins de lucro, fundada em 1990 em Salvador pelo advogado fiorentino Cesare De Florio La Rocca. O objetivo do projeto é recuperar crianças e adolescentes de rua, excluídos da vida social, afetiva e institucional com acolhimento e inclusão. Neste mês, a cantora vai apresentar seu novo álbum Sud, em turnê por várias cidades italianas, acompanhada por jovens baianos do Projeto. Esta união de música, dança e capoeira nos seus shows não é inédita: em 2010, eles se apresentaram no festival Úmbria Jazz, em uma apresentação que foi sucesso de público e crítica. O Projeto Axé tem como princípio a educação através da arte, como diz La Rocca: — “Arteducação” é uma só palavra porque representa uma integração.

O projeto envolve escolas, professores, assistentes sociais e patrocinadores. Os resultados são concretos. Desde a sua fundação, mais de 18 mil crianças e adolescentes foram acompanhados no percurso de recuperação, que estimula valores e auto-estima. Os dados apontam que 85% deles não caíram na armadilha da droga e do crime. Reaprender a sonhar A palavra axé é herança da língua africana iorubá, antigamente falada entre os povos ao sul do deserto do Saara. Ao longo do tempo, virou

A cantora italiana Fiorella Manoia, madrinha do Projeto Axé, começa este mês uma turnê pelo Belpaese

uma expressão muito usada na Bahia, que significa a energia positiva que permite a criação. O advogado Cesare La Rocca explica que neste projeto as crianças são ensinadas a desejar e a sonhar: — Para quem não tem nada, para os excluídos, constitui um passo essencial, pois as crianças descobrem a beleza e a arte, além de coisas que pensavam a que não tinham direito. Quando o direito adquire maior valor, é natural que venha acompanhado pelo conceito prático do dever — pondera. Nas escolas, as crianças e os jovens aprendem também dança, moda, capoeira música e artes visuais. Fiorella Mannoia conheceu o Projeto Axé há alguns anos, quando estava em Salvador. — Muita gente me falava deste trabalho de Cesare La Rocca. Quando o conheci pessoalmente, constatei o valor do Projeto, no qual é possível compreender o poder exercido pela arte, principalmente entre as pessoas em dificuldade. Quem conhece o Brasil sabe que a palavra pobreza é bem diferente de miséria — afirma a cantora. Em 2009, foi criada a Fundação Axé Italia, uma ONG para divulgar internacionalmente o projeto e seus resultados. A responsável pela fundação sediada em Roma, Roberta Giassetti, se empenha também em recolher fundos destinados aos alunos baianos. — Como os efeitos da crise econômica, podemos ajudar apenas 900 crianças por ano — explica Giassette, captadora de recursos. — O sonho de uma sociedade mais justa passa pela solidariedade internacional. Pela compreensão e não pela esmola — acrescenta Cesare La Rocca. Fiorella completa: — Quando estou em contato com estes jovens, dançando e cantando, me pergunto quantos deles serão futuros profissionais. Acho que o talento é como a sorte: beija só alguns. Em compensação, tenho certeza que, após concluir este percurso, cada um de nós nunca mais será o mesmo.

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Rumo ao Emya 2012 ois museus italianos foram indi-

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cados para concorrer ao prêmio European Museum of the Year 2012 (Emya): o Must, de Vimercate, na província de Milão, e o Museo Passiria, de Bolzano. O vencedor do Emya será anunciado em maio. O prêmio foi criado pelo European Museum Forum (EMF), organização ligada ao Conselho da Europa dedicada a melhorar a qualidade pública dos museus do continente. Inaugurado em 2010, o Must fica na neoclássica Villa Sottocasa, do século XVIII, e conta com percursos cronológicos em vários ambientes, reconstruindo a história de Vimercate — a antiga Vicus Mercati — desde a época romana aos dias de hoje. Um de seus tesouros é a Ara alle Matrone, do século II d.C., uma pedra esculpida com uma epígrafe dedicada às divindades celtas chamadas Matronae. Já o Passiria, que reabre para o público no dia 15 deste mês, abrange a Sandhof, a osteria de Andreas Hofer, o herói tirolese que combateu contra as tropas napoleônicas no Tirol, o Castelo Giovo e o cemitério dos franceses caídos nos combates de novembro de 1809.

A Ligúria neolítica urpresas que surgem do solo italiano

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de Norte a Sul. Um pavimento romano foi descoberto em Marsala, na província de Trapani, durante os trabalhos de reestruturação de um edifício privado na rua Mario Rapisardi, situada na antiga cidade púnica de Lilibeo. Enquanto isso, na Ligúria, restos de cerâmica do Neolítico e da Idade de Bronze foram descobertos, mostrando que a cidade de Val Lerrone é habitada há milhares de anos. Trata-se da primeira descoberta neolítica na região. 50

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Fotos: Bruno de Lima

C intiaSalomãoCastro

Quatro damas de valor

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abedoria, Indústria, Medicina e Agricultura. São os nomes das quatro esculturas em estilo neoclássico trazidas da Itália no século XVIII para o Solar do Visconde do Rio Seco. Durante as obras da reforma no casarão histórico da Praça Tiradentes, os técnicos do Sebrae (que possui um centro de artesanato no conjunto arquitetônico) notaram rachaduras em duas delas. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na-

cional foi então chamado e uma equipe foi formada para restaurar Sabedoria, que fita o horizonte trazendo um livro e um templo de colunas gregas nas mãos, e Indústria, que segura firmemente um compasso. Enquanto isso, Medicina e Agricultura continuam firmemente de pé na cobertura do casarão por estarem em bom estado. — Por conta da dimensão e do material com que foram feitas, em terracota, elas são únicas do gênero existentes no Brasil. Realmente, são muito especiais, apesar da origem desconhecida

— resume a restauradora do Iphan, Claudia Nunes (foto), explicando que as esculturas de 2,10m de altura e 600 kg cada foram o motivo principal que levaram o Iphan a incluir o edifício no Livro de Tombo das Belas Artes. O trabalho de restauração começou em janeiro. Nele, foram usados resina e fibra de carbono. As argamassas originais foram mantidas e reforçadas internamente. — A parte estrutural da restauração está concluída. Agora está sendo feito o trabalho estético, que deve ser concluído em abril — explica Claudia. Ainda não se sabe quando as esculturas serão colocadas novamente à vista do público. Isso iria acontecer, a princípio, somente após a reforma total do casarão, o que deve demorar pelo menos um ano. No entanto, os técnicos estão estudando a possibilidade de, antes disso, expô-las em um museu para que as preciosidades não se percam da vista dos habitantes da cidade.


Teatro

A realidade é uma comédia

Companhia LaMínima comemora 15 anos com a adaptação de Mistero Buffo, de Dario Fo, e teatraliza os problemas brasileiros Nathielle Hó

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istero Buffo, uma comédia que satiriza a realidade, escrita pelo italiano Dario Fo, ganha a adaptação do grupo brasileiro LaMínima, com estreia no dia 22 de março, no Teatro do Sesi, em São Paulo. Com inspiração em passagens bíblicas, quatro histórias de Dario serão encenadas pelos atores Domingos Montagner e Fernando Sampaio. Em cena, vinte personagens são desdobrados pela dupla que comemora, em 2012, os 15 anos da companhia circense LaMínima. Longe do estereótipo do palhaço, eles se despem da fantasia e da maquiagem característica, e trocam o picadeiro pelo teatro. A direção musical fica por conta de Marcelo Pellegrini, com trilha sonora executada ao vivo por Fernando Paz. Neyde Veneziano assina a direção e a tradução. Com a produção do SESI, Mistero Buffo integra as comemorações do Momento ItáliaBrasil e permanece em cartaz até 3 de junho. Os quadros que compõem o espetáculo são A Ressurreição de Lázaro, O Cego e o Paralítico, O Louco e a Morte e O Louco aos pés da Cruz. E um personagem é comum em todos eles: Jesus, que é apenas citado e não representado na peça. A crítica de Dario, rechaçado constantemente pelo Vaticano, tem como objetivo a Igreja Católica.

Domingos Montagner fundou a Companhia LaMínima e é um dos destaques da peça Mistero Buffo

— Dario satiriza o clero. Ele nunca fez sátira ao sagrado. O espetáculo, por ser uma adaptação para o público brasileiro, investe mais na crítica à violência, à ganância, ao culto às celebridades — enfatizou a tradutora Neyde Veneziano. A narrativa inspirada nos mistérios medievais “bebeu diretamente na fonte” dos seculares jograis, os jornais orais em que artistas utilizavam seus dotes de contadores de histórias para narrar as últimas notícias da corte. O jogral era feito por gente do povo, e através dele, a população ficava sabendo das injustiças sociais. Gírias regionais no lugar dos dialetos italianos A diretora explica que o Mistero Buffo, uma obra originalmente italiana, ganhou características novas no Brasil. — Por se tratar de teatro popular, Dario se vale dos dialetos e do grammelot (sucessão de sons e onomatopéias que só se fazem entender se acompanhadas de expressão corporal eficaz). Não se pode dizer que haja dialetos no Brasil. Mas a comunicação se diferencia de acordo com as regiões e os grupos sociais. Sendo assim, pesquisamos a

Neyde Veneziano: Dario Fo é o “homem do teatro”. Além de escrever as peças, interpreta e dirige

linguagem de rua, pois teríamos de encontrar um “linguajar” baseado em gírias. Com relação ao Brasil, nossos maiores problemas, hoje, são a violência e a corrupção. E levando isto em conta, é que adaptamos os ideais “socialistas” ao espetáculo. Conservamos as histórias e toda a estrutura do texto. Mas “abrasileiramos” os problemas. — ressaltou Neyde Veneziano. A peça é uma antologia que reúne mais de 20 monólogos de Dario Fo, criados no final da década de 1960. Naquele momento, a Itália passava por problemas econômicos. Dario defendeu os trabalhadores e se engajou na luta de classes, daí o tom satírico e crítico. No Brasil, o espetáculo apresenta, além dos quatro episódios, dois entreatos e um final musical. As encenações são abertas por prólogos explicativos, conforme conta o ator Domingos Montagner, que, na televisão, encarnou o capitão Herculano, o temido cangaceiro de Cordel Encantado. — Entre uma situação e outra, paramos e damos uma introdução histórica ao público, um prólogo, sobre as situações que vamos narrar. Com isso, a plateia se diverte e também se informa. Dario Fo fazia isso. Neste momento, falamos como pessoas, não como personagens — explicou. O espetáculo usa a comunicação direta. A cada apresentação, 40 pessoas assistem à peça, sentadas no palco. De acordo com Neyde Veneziano, o objetivo é o de criar grande intimidade e interação entre elenco e plateia. — Na estética realista, os atores se comportam como se existisse uma quarta parede, separando atores e público. Em nossa estética, essa parede é rompida. A dupla do LaMínima, assim como Dario, também quer sentir a respiração, as risadas e as reações do público. A comédia no Mistero Buffo não é aquela em que se ri do outro. E sim, se ri com o outro. Trata-se do riso coletivo, de aproximação. É o riso festivo que celebra a vida — concluiu.

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Teatro

A loucura é bela Espetáculo que conta a história de Nise da Silveira, precursora da arteterapia no Brasil, presta homenagem ao psiquiatra italiano Rafaelle Infante Nathielle Hó

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teatro Eva Herz, em São Paulo, abriga, desde fevereiro, a peça Nise da Silveira – Senhora das imagens. Com direção de Daniel Lobo, o espetáculo engloba teatro, vídeo, música e dança para contar a história de vida da mulher que revolucionou a psiquiatria no Brasil. Precursora de métodos alternativos, a médica brasileira aboliu os eletrochoques utilizados na época e, no lugar deles, adotou a arte como forma de tratamento. Nos ateliês de terapia ocupacional, Nise conseguiu extrair sentimentos de alegria e euforia dos olhos embotados de muitos pacientes que viviam anestesiados e em estado vegetativo. As criações que surgiram desse trabalho, em forma de pinturas ou esculturas, estão arquivadas no Rio de Janeiro, no Museu de Imagens do Inconsciente, que completa 60 anos em 2012, e que serviu de mote para a montagem em cartaz até 29 de março. A atriz Mariana Terra protagoniza o espetáculo e personifica a alagoana Nise, desde os 20 anos até a velhice. Mariana, que conheceu a psiquiatra na infância, lembra da figura pequena, mas poderosa, que Nise representava. — Aparentemente, ela era frágil, magrinha, pequena. Porém, através do seu olhar, saía um ser enorme, iluminado. Aqueles olhos penetravam, mergulhavam em você, te desnudavam... Porque ela não pedia licença, ela entrava mesmo com tudo. Tinha uma energia contagiante, que queria o tempo inteiro transformar — conta, com saudade, a atriz. Mariana foi buscar em suas lembranças o jeito peculiar da psiquiatra. Durante a performance, usa o mesmo vestido e adota o coque habitual de Nise. Também consegue adaptar a linguagem corporal característica da psiquiatra, baseada na embocadura da fala e nas “mãos em forma de galhos” que não param de 52

se movimentar. Com um olhar que estaciona no do outro quando encara o público, Mariana prende a atenção das pessoas durante uma hora e meia de espetáculo. A peça apresenta fatos e pessoas que foram importantes ao longo da vida de Nise da Silveira, incluindo situações extremas, como o cárcere ao qual ela foi submetida durante o governo de Getúlio Vargas, por ser considerada socialista, e a aproximação com o escritor Graciliano Ramos. O mergulho no pensamento do dramaturgo esquizofrênico Antonin Artaud, criador do Teatro da Crueldade, que concebe a plateia como parte integrante e atuante nos palcos, integra a narrativa, assim como a relação de Nise com o psicanalista

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suíço Carl Gustav Jung, presente na voz eloquente de Carlos Vereza, o qual, em off, representa o inconsciente da personagem. O espetáculo conta ainda com a transmissão em vídeo dos depoimentos do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar e do diretor teatral José Celso Martinez sobre a grande humanista dos manicômios. A concepção teatral utiliza várias linguagens — desde o gestual ao virtual e à narração. O diretor Daniel Lobo alega que a peça é multifacetada e cheia de nuances. Nise da Silveira revolucionou a psiquiatria através de tratamentos mais humanitários e utilizou a arte como forma de expressão e terapia


As raízes italianas de Mariana Terra O espectador é surpreendido logo no início do espetáculo. Ao adentrar a sala de teatro, caminhando “sob um véu” de meia luz do local, as pessoas procuram seus lugares, enquanto Mariana já está na plateia, pintando quadros, em uma analogia às artes desenvolvidas pelos pacientes de Silveira. — Nas pinturas, há muitos olhos e mandalas. Cada dia eu pinto algo novo, não programado. Já existe alguma troca acontecendo com o público a partir daí. A peça também pode ser comparada a uma tela pintada de forma diferente a cada apresentação — explicou a atriz. No espetáculo solo, Mariana não só dá vida à psiquiatra, mas também aos seus pacientes e aos médicos opositores e conservadores. Ela consegue exteriorizar vários personagens, pois utiliza recursos físicos e verbais para diferenciá-los. Um desses recursos é a dança, que leva a assinatura da bailarina Ana Botafogo. Pela primeira vez, Ana desenvolveu coreografias para o teatro. Cada camafeu, como o paciente era chamado por Nise, tem uma coreografia específica. A música é outro elemento importante, demarcando as ações de cada personagem, explica Mariana. — A gente reveza a música e a dança dos sete camafeus. A paciente Adelina Gomes quer se metamorfosear em flor. Ela tem uma coisa mais leve e delicada, então a música traduz isso. O Octávio Ignácio pintava em pé. Ele era mais agitado e a música segue esse ritmo. O Emygdio de Barros já está mais para uma sonoridade claunesca. Para o Raphael Domingues, que pintava no ar e se comunicava com os passarinhos, também foram criados passos e melodia únicos. O pianista João Carlos Assis fez a trilha a partir da característica de cada um, com a colaboração do percussionista Marco Lobo. A Ana Botafogo buscou inspiração nas pinturas desses pacientes para criar os passos dos personagens — completa. Os trejeitos, a voz e o uso das línguas italiana e francesa também foram fundamentais para diferenciar os personagens e causar estranheza no público brasileiro. — Durante a peça, eu tenho uns lapsos em francês. Nos momentos

em que dou vida ao dramaturgo e poeta esquizofrênico Antonin Artaud, falo em italiano. A ideia é usar falas nesses dois idiomas para causar estranheza, pois é assim que o louco é visto. Você entende superficialmente o que ele fala, mas não consegue acompanhar o raciocínio todo — salienta. O uso do italiano na peça foi proposital. A atriz tem um forte vínculo emocional e profissional com a Itália. Suas raízes provêm do pai, Rafaelle Infante, psiquiatra seguidor e pupilo de Nise. Foi através dele que Mariana, ainda menina, conheceu

Silveira. Rafaelle foi diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e seguiu os passos de Nise no campo da arteterapia. O que a psiquiatra fez nas artes plásticas, ele fez no teatro. Infante experimentou a psicodramaturgia através do projeto Tempo Pirandello, que tinha ligação com o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro. Rafaelle utilizou textos de Luigi Pirandello em peças de teatro com seus pacientes, fazendo da interpretação um instrumento de expressão dos ditos “loucos”. Nesse sentido, o trabalho dele e o de Nise são semelhantes: buscam a cura através da arte. Mariana, que perdeu o pai, muito nova, revisita sua história a cada dia na peça, pois Infante é lembrado e projetado no cenário concebido por Ronald Teixeira como homenagem póstuma. Mariana nasceu na Inglaterra e passou grande parte da vida na Itália.

Letícia Armond

— Procuramos fazer do espetáculo um grande caleidoscópio, assim como era o trabalho da própria Nise — conta.

A atriz Mariana Terra, dirigida por Daniel Lobo, homenageia seu pai, o italiano Rafaelle Infante, seguidor de Nise

Em sua performance solo, Mariana além de dar vida à psiquiatra, interpreta seus pacientes através da dança, que leva a assinatura da bailarina Ana Botafogo

Por isso, muito do que ela empregou no espetáculo tem a ver com essa vivência. Ela chega aos 94 anos de Nise através da máscara branca em forma de bico, la stregha (bruxa em italiano). A atriz ganhou essa máscara na Itália, quando estudou a Commedia Dell’Arte, que atribui à bruxa o papel de transformadora. A máscara foi o que restou de todos os pertences de sua casa em Angra dos Reis, destruída no final de 2010 por causa das intensas chuvas que provocaram uma das maiores catástrofes na região. Coincidentemente, o dia do nascimento de Mariana Terra é o mesmo da morte de Nise da Silveira — 31 de outubro — conhecido como o dia das bruxas. Para Mariana, não chega a ser uma coincidência, e sim, um encontro cármico, sem explicação racional. A máscara, única sobrevivente da catástrofe, faz com que Nise renasça no palco através de Mariana. — A máscara deu vida a Nise a ponto de as pessoas comentarem que é mediúnico. É um mergulho no inconsciente, uma licença poética — enfatizou a atriz. Na Itália, Mariana foi co-fundadora do Aion Teater, uma companhia com sede em Roma. O trabalho com o arquétipo da bruxa e o cajado usado nas danças são heranças do Aion. Do começo ao fim do espetáculo, a sensação é de catarse, e o expectador mergulha na atmosfera criada pela protagonista. Os destinos da atriz e da psiquiatra sempre se cruzaram. A peça mostra que não foi por acaso que Mariana foi escolhida para interpretar e reviver Nise da Silveira. Serviço Nise da Silveira – Sra. das imagens Teatro Eva Herz - Av. Paulista, 2073 Bela Vista - São Paulo Tel: (11) 3170-4059 Quartas e quintas-feiras, às 21h Em cartaz até 29 de março

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Cinema

Urso de Ouro para os Taviani Cineastas italianos levam o prêmio máximo do Festival de Berlim com Cesare deve morire, uma adaptação de Júlio César, de Shakespeare, realizada nas prisões da Itália Janaína Pereira

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De Berlim

filme italiano Cesare deve morire, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, foi o grande vencedor da 62ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que aconteceu de 9 a 19 de fevereiro na capital da Alemanha. Os cineastas, com 83 e 85 anos de idade, são considerados os grandes poetas do cinema italiano. Realizado como um documentário, apresenta uma adaptação da obra Júlio César, de William Shakespeare, interpretada por detentos da prisão de segurança máxima de Rebibbia, em Roma. A obra de Shakespeare, que conta a conspiração para matar o ditador romano Júlio César, em 44 a.C., permite aos presos — alguns condenados à prisão perpétua por homicídio — se expressarem sobre temas como poder, morte e traição. Interpretado pelos presidiários em seus próprios dialetos, como calabrês, siciliano, napolitano e romano, o longa começa com a escolha dos papéis pelo único ator de verdade do elenco, Fabio Cavalli, que há dez anos leva dramaturgia às prisões sicilianas.

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Cesare deve morire, dos irmãos Taviani, foi eleito o melhor filme da 62ª edição do Festival de Cinema de Berlim. Inspirado em Júlio César de Shakespeare, retrata o drama dos encarcerados da penitenciária Rebbibia em Roma

Após a cerimônia de premiação, que aconteceu na noite de sábado, 18 de fevereiro, os irmãos Taviani conversaram com Comunità, e disseram que Cesare deve morire é “o relato da descoberta do poder da arte por homens que vivem uma tragédia, não apenas pelos crimes que cometeram, como também pela drama que é a vida na prisão”. Os cineastas também revelaram a importância da premiação em Berlim. — É o nosso prêmio mais importante, pois este filme é diferente dos outros que fizemos. Para nós, era essencial que fosse visto aqui: um festival preocupado com os problemas sociais do mundo. Trabalhando na prisão, é fácil falar de liberdade, de tirania e de assassinato. Para nós, na Itália, Julius Caesar, de William Shakespeare, é uma obra muito atual — revelou Paolo Taviani. Emocionado, Vittorio Taviani contou a importância do paralelo entre a prisão e a obra do autor inglês: — Espero que alguém, após voltar para casa após ver Cesare deve morire, pense que, mesmo um prisioneiro sobre cuja cabeça pesa um terrível castigo, é um homem. E isso graças às palavras sublimes de Shakespeare.

Os Taviani

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s irmãos Taviani conquistaram fama internacional quando o drama social Pai patrão ganhou a Palma de Ouro e o prêmio da crítica no Festival de Cannes de 1977. Eles também foram premiados com o Grand Prix no mesmo festival, em 1982, por A noite de São Lourenço. Formados pela faculdade de Pisa (Paolo cursou Ciências Humanas e Vittorio se formou em Direito), passaram a fazer curtas depois de terem sido organizadores de um cineclube, críticos de cinema e dramaturgos. Realizaram documentários durante oito anos antes de codirigirem o longa-metragem A man for Burning (1962), com Valentino Orsini.

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Ao escreverem e se alternarem na direção, têm entre seus filmes de maior sucesso Kaos (1984), Good Morning Babylonia (1987), Night Sun (1990) e Fiorile (1993), um drama comovente sobre dinheiro, culpa, amor e vingança. O premiado Cesare deve morire ainda não tem previsão de estreia no Brasil. Presidido pelo cineasta britânico Mike Leigh, conhecido por seus filmes de cunho político e social, o júri do Festival de Berlim deste ano contou ainda com o diretor iraniano Asghard Farhadi, a atriz e cantora francesa Charlotte Gainsbourg, o fotógrafo e desinger holandês Anton Corbijn, o cineasta francês François Ozon, o escritor argelino Boualem Sansal, a atriz alemã Barbara Sukowa e o ator americano Jake Gyllenhaal.


saporid’italia

Vanessa CorrêadaSilva

Doçura siciliana Os deliciosos cannoli siclianos invadem restaurantes e confeitarias paulistanas e viram a sobremesa do momento

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ão Paulo – Nos últimos meses, São Paulo tem deixado de ser o reino dos cupcakes, aqueles bolinhos com fartas coberturas de creme e chocolate e enfeitados com todo tipo de confeito colorido, para ser alvo de uma verdadeira invasão siciliana. O cannolo — canudo originário da Sicília feito de massa frita e recheado tradicionalmente de ricota, pistache e frutas cristalizadas — tem atraído a atenção de cada vez mais chefs e confeiteiros. Caiu no gosto da clientela de muitos restaurantes e docerias paulistanos e pode ser encontrado em diversos lugares, e nas mais diferentes versões. Em São Paulo, têm até uma loja exclusiva: a Cannoleria Café di Dante. O proprietário Alexandre Leggieri, descendente de italianos de Salerno, conta que a receita veio de sua família. Ele estudou gastronomia no Senac, trabalhou em restaurantes na Itália e, quando voltou da Europa, começou a fazer massas caseiras. Passou a vender cannoli para ter uma sobremesa apreciada após as massas que produzia. O sucesso foi tanto que, há cerca de um ano e meio, se dedica exclusivamente à iguaria siciliana. Localizada nos fundos do Instituto Ítalo-brasileiro de Cultura e muito frequentada pelos alunos do curso de italiano, a loja fica um pouco escondida, mas o charme do lugar, com mesinhas ao ar livre, encanta o visitante. Além do tradicional cannolo recheado com ricota e frutas cristalizadas, a Cannoleria vende também o doce na versão ítalo-mineira (com goiabada), ítalo-argentina (com doce de leite), recheado com nutella e com pasta de amendoim. — Muitos italianos vêm até aqui e é claro que eles não vão pedir um cannolo de pasta de amendoim ou de goiabada. Porém, entendem que aqui há gente que gosta, e que eu não atendo só o público mais tradicional. Em São Paulo, Leggieri indica também os cannoli do confeiteiro Flavio Federico, do Zena Caffé e do restaurante siciliano Taormina. Outro cannolo que atrai dezenas de pessoas é o do Antônio Pereira Garcia, vendido antes dos jogos do Clube Atlético Juventus, na Mooca, reduto de imigrantes italianos. Há mais de 40 anos, Garcia acorda às 5:30h da manhã em dia de jogo para produzir os doces com a esposa. Depois, vai com seu tabuleiro em direção aos torcedores. Ele vende cerca de 150 canudos por jogo. Durante a semana, oferece seus doces pelas ruas da Vila Formosa, na zona leste da cidade.

Cannoli* Ingredientes: Massa: 500 g de farinha de trigo; 50 g de açúcar; 70 g de gordura vegetal; 30 g de banha; 80 ml de vinho licoroso do tipo marsala ou Porto; 50 ml de grappa ou cachaça; 2 colheres de chá de água de flor de laranjeira ou essência de baunilha; 1 ovo; 1 gema (guardar a clara para fechar a massa dos cannoli). Modo de fazer: Misture primeiro os ingredientes secos, depois os pastosos e líquidos. Sove bem e abra a massa com um rolo de macarrão. Corte a massa em círculos com a ajuda de um cortador ou uma xícara, e enrole os círculos em tubos, fechando-os e pincelando com clara de ovo. Frite em óleo quente e reserve. Recheio de ricota: 500 g de ricota fresca; 250 g de açúcar; 1 colher de sopa de vinho marsala ou porto; Raspas de 1 limão siciliano (só a parte amarela); 200 g de frutas cristalizadas; Cereja cortada ao meio, pistache ou chocolate granulado para enfeitar. Processe bem todos os ingredientes (exceto as frutas cristalizadas e os “enfeites”) em um processador até a ricota ficar cremosa. Depois, misture ao creme as frutas cristalizadas. Recheie os tubos e enfeite as pontas com cereja cortada ao meio, pistache torrado ou chocolate granulado. *Receita enviada pela Cannoleria di Dante

Serviço: Cannoleria Rua Frei Caneca, 1.071, Consolação. Tel: (11) 3141-0672 De segunda à sexta, das 15h às 21h, e aos sábados, das 9h às 15h.

Serviço: Zena Caffé Rua Peixoto Gomide, 1.901, Jardim Paulista. Tel: (11) 3081-2158 Todos os dias, das 12h à meia-noite.

Serviço: Flavio Federico Alameda dos Arapanés, 540, Moema. Tel: (11) 5051-5277 Todos os dias, de 11h às 20h.

Serviço: Taormina Alameda Itu, 251, Jardim Paulista. Tel: (11) 3253-6276 Todos os dias, das 12h às 15h.

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IlLettoreRacconta

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s irmãos Eugênio Montechiari e Achile saíram da região italiana de Macerata, rumo ao Rio de Janeiro, em 1900, deixando para trás os laços familiares, os quais se diluiriam no tempo e no espaço. Com o passar dos anos, ficariam apenas as imagens desbotadas do passado, tudo em nome dos novos desafios e quimeras que eles preferiram enfrentar no recanto da América do Sul chamado Brasil. Ao receberem os títulos de suas futuras terras, se estabeleceram em Macuco, no interior do estado do Rio de Janeiro. Achile não se aclimatou à vila tropical, migrando para Sanford, na Argentina, enquanto Eugênio permaneceu em Friburgo. Apesar da distância e de nunca mais se verem, o elo fraterno entre os dois irmãos nunca foi quebrado, mantendo-se vivo através das correspondências. Com o passar do tempo, Eugênio e sua esposa, Dona Maria, tiveram seis filhos, aos quais deram muito amor e valores que levariam para toda a vida. Com A Rua Eugênio Montechiari, em Nova a morte de Eugênio, Dona Maria Friburgo, foi construída pelos irmãos comprou uma casa na Vila AméSilvio, Nelo e Edmo, em homenagem ao pai lia. A nova residência acomodou os filhos Edmo, Nelo, Silvio, Hercília, Hermínia e Dejanira. Aos 8 anos de idade, o filho Silvio Montechiari começou a trabalhar ajudando os demais irmãos no orçamento familiar. Aos 12 anos, fez um curso profissionalizante no Senai, se formando posteriormente como técnico de carpintaria. A partir daí, começou a trabalhar com o seu novo ofício, mas não se interessou por este ramo. Apesar da sua pouca idade, Silvio já tinha a convicção de que “pode quem pensa que pode”.

Nova Friburgo 56

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Certa vez, os três irmãos estavam reunidos em frente à residência, quando Silvio compartilhou com Nelo e Edmo o sonho de comprarem a propriedade adjacente e fazerem uma rua com o nome do pai. Todos acharam graça da espontaneidade do jovem e disseram: Silvio, nós não temos dinheiro sequer para irmos ao cinema... quanto mais para construirmos uma rua.... E era a mais pura verdade. Porém, a ideia continuou fixa na cabeça do jovem, como se, em seu íntimo, soubesse que dias melhores estavam por vir. O sucesso era apenas uma questão de tempo para este jovem que percebeu desde cedo que o trabalho é a bússola que norteia os grandes homens. Aos 22 anos de idade, Silvio adquire a mencionada propriedade, que vai da Rua Souza Cardoso ao Parque São Clemente. Em conjunto com os irmãos, começa a construção da Rua Eugênio Montechiari. A máquina contratada quebrava mais do que trabalhava, fazendo com que o trabalho braçal dos irmãos tivesse mais efeito. Porém, o esforço valeu a pena, e o sonho do ainda jovem Silvio se concretizou. Nos negócios, Silvio ia bem. Com um olhar visionário, pegou 10 mil contos de réis de empréstimo com uma sociedade quase falida e, em questão de meses, não só pagou o empréstimo, como já tinha capital próprio para abrir vários negócios. Hoje Silvio é dono da Silvetex — o maior fornecedor de matéria-prima para confecções na cidade de Nova Friburgo. Silvio foi a força motriz e o grande precursor na criação da Fevest, centro da moda íntima friburguense, Silvio Montechiari fomenta hoje internacionalizado. Para a sobrea economia do setor têxtil e vivência desta indústria, muita coisa foi as atividades culturais de Nova Friburgo bancada nos primórdios pelos cofres deste emérito idealizador. Hoje, este pólo gera 30 mil empregos na cidade de Nova Friburgo. Dados estatísticos apontam que 30% dos produtos da moda íntima do país vêm deste pólo de lingerie. Silvio também é o mecenas do grupo de poetas e trovadores da cidade, custeando a criação de um espaço destinado para a declamação de textos. Na retaguarda de um homem bem sucedido, sempre existe uma grande dama, diz um antigo ditado. Nesse caso, foi a sua esposa Di Montechiari: artista plástica, professora, poetisa trovadora e escritora. Com sua sensibilidade e genialidade artísticas, Di expõe suas obras em todo o território nacional, com a maré da crítica especializada sempre pendendo o fiel da balança favoravelmente ao seu talento. A rua criada por Silvio, em homenagem ao seu pai, resume bem a sua vida. Desde cedo, aprendeu o valor do trabalho, a abrir seus caminhos, a nunca desistir de seus sonhos. Hoje esse homem tem o privilégio de olhar para o passado e de sorrir ao ver a magnífica história que construiu. E essa história fez e faz a diferença para milhares de vidas em Nova Friburgo. A. M. Silva Niterói, Rio de Janeiro

Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br

Macerata


San Valetino Fashion

ItalianStyle

No último dia 14 de fevereiro, os apaixonados italianos celebraram o Dia de São Valentino, movimentando o comércio. Confira alguns lançamentos especiais das grifes italianas para a ocasião. A maior parte dos produtos permanece à venda nos próximos meses

Prada

Capri Occhiali O coração é uma elegante interpretação nos óculos de sol da linha Capri da grife bolonhesa Furla. Armação em acetato e coração de metal em alto relevo Preço: € 129 www.furla.com

Cady Camisole

A Dolce & Gabbana sugere o uso da camisola, em estampa de leopardo com lacinhos, com calças jeans ou calças pretas Preço: € 630 www.dolcegabbana.com

Fotos: Divulgação

A capsule collection da Prada para o Dia de São Valentino inclui artigos diversos em estampas com as cores branca, rosa e vermelho. Entre eles, a porta iPhone (95 euros), a porta iPad (200 euros) e a carteira em couro saffiano (355 euros). A coleção de chaveiros também vem em couro com detalhes em ouro (120 euros cada) Preço: Sob consulta www.prada.com

Gucci Miu Miu

A grife dirigida por Miuccia Prada apresentou a sua capsule collection San Valentino com muita classe, produtos em couro especial e muitas pedras coloridas. Duas coleções diversas de bolsas de ombro, uma niqueleira e um bracelete estão entre os destaques Preço: € 65 bracelete (€ 220); niqueleira (€ 295); bolsa de ombro vermelha (€ 750); bolsa de ombro preta (€ 990). www.miumiu.com

Com uma coleção especial para a data, a Gucci apresentou uma nova linha de bolsas, carteiras e acessórios fortemente marcados pela cor vermelha, criados pela diretora criativa Frida Giannini. Destaque para o cinto em couro vermelho com duplo G estilizado em forma de coração Preço: € 275. www.gucci.com

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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro

Cantina tirolese

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om esse friozinho que está fazendo na Itália, a melhor coisa é se conformar e aproveitar o que o inverno oferece de bom. Principalmente no mundo da gastronomia. Ora, os favoritos dos gulosos no inverno são dois: chocolate quente e fondue. Uma ótima dica para se aquecer e mangiare che ti fa bene é experimentar o fondue de carne ou de queijo da Cantina Tirolese (Via Giovanni Vitelleschi 23), um restaurante, ora bolas, tirolês. Fica perto do Castel Sant’Angelo e a decoração é rústica, bem estilo chalé austríaco. O Vaticano fica pertinho, e o local é frequentado também por quem trabalha lá. Antes de se tornar papa, Benedetto XVI era cliente assíduo.

A cada morte de papa

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em uma expressão idiomática muito divertida em italiano: ogni morte di papa. Traduzindo para o português, fica “a cada morte de papa”. Usa-se a expressão para ilustrar um evento que acontece muito raramente, e nada como a morte de um papa para exemplificar tal raridade. Afinal, mesmo se alguns papas tiveram papados relâmpago, como Urbano VII (de 15 a 27 de setembro de 1590), que ficou somente 13 dias, na maioria das vezes, duram bons longos anos. O mais longo foi o de São Pedro: mais de trinta anos. O segundo mais longo foi o do Papa Pio IX (de 1846 a 1878): 31 anos, 7 meses e 23 dias. O terceiro lugar fica com o muito querido Papa João Paulo II, cujo papado durou de 1978 a 2005: 26 anos, 5 meses e 17 dias. Quando este papa tão adorado faleceu, não tive dúvidas: acompanhei um amigo que morava em Roma, o padre Harlei, para dar um “pulinho” no velório. Ficamos na fila na Praça São Pedro oito horas para ver o corpo do papa. Afinal, quantas vezes se participa de um evento deste tipo? Ora, ogni morte di papa!!! Foi emocionante ver como as pessoas confraternizam na fila. Da mesma forma, fui ver o novo papa se apresentar na janela, como manda o ritual. No último mês de fevereiro, quando nevou abundantemente em Roma, foi um novo estupor, pois neva em Roma ogni morte di papa. Em Roma, a última vez que nevou dessa maneira foi em 1985 e eu não morava aqui. Quando acordei e vi meu terraço branquinho, todo coberto de neve, minha rua, os carros, as antenas parabólicas, os tetos, tudo branquinho, que grande emoção! A cidade já é linda, com suas ruínas a cada esquina, ruas carregadas de história, seus paralelepípedos e praças grandiosas. Com a neve, ficou um cenário de sonho, irreal, um filme de Fellini. Claro que muitas pessoas ficam furiosas com os políticos que não sabem reagir num momento raro desse tipo e com os comerciantes que, nos bairros menos centrais, fecham tudo. Não se coloca sal nas ruas, os veículos não têm correntes de pneu para neve, a cidade vira um verdadeiro caos. Porém, para quem não tem carro e conta com o metrô perto de casa, como no meu caso, foi uma grande alegria poder ver o centro de Roma branquinho, a piazza di Spagna e sua escadaria, as esculturas dos monumentos com sua nova “roupa” branca, os bonecos de neve, os tetos, tudo branquinho. Era como se fosse uma nova cidade, uma Roma até então desconhecida para mim. Ainda mais emocionante que ver a cidade sob este véu de noiva, foi ver as pessoas esbanjando sorrisos e bom humor, fazendo guerra de bolas de neve, olhando para tudo com ar de surpresa e alegria. Coisa, que, nesse momento de crise, se vê a cada morte de papa!

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