Revista Comunità Italiana Edição 173

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Pirelli Calendário de 2013 presta homenagem ao Brasil

Ceia italiana Um roteiro de última hora para o fim de ano em São Paulo

Aviação Alitalia se expande e inaugura voo Roma-Fortaleza www.comunitaitaliana.com

Rio de Janeiro, dezembro de 2012

Ano XVIII – Nº 173

Exclusivo

O que ele sonhou para a Itália

ISSN 1676-3220

R 7,00 R$ 11,90

Conheça os projetos, inéditos no Brasil, que Oscar Niemeyer realizou para cidades italianas. Além das obras construídas, o arquiteto deixa ao país que admirava desenhos que nunca saíram do papel

Eleições parlamentares italianas se aproximam






De ze m bro de 2012

A no X V III

N º173

Nossos colunistas 09 | Cose Nostre Steve McCurry / Calendario Pirelli

Fábrica de Espetáculos do Theatro Municipal do Rio vai contar com a consultoria do Teatro Alla Scala, de Milão

12 | Fabio Porta A Bersani va riconosciuta una “doppia” vittoria: ha creduto fortemente nelle Primarie, non le ha semplicemente vinte

13 | Ezio Maranesi Non possiamo dimenticare gli italiani dei tempi di guerre, emigrazione, fame, durissimo lavoro per rifare una Italia distrutta. Una grinta e una voglia di fare che gli italiani di oggi non hanno ereditato

14 A atriz Sônia Braga posa para o fotógrafo norte-americano Steve McCurry. Ele é o autor dos cliques do Calendário Pirelli 2013, que tem os flagrantes cotidianos do Rio de Janeiro como cenário. A empresa italiana escolheu a cidade como uma forma de homenagear o Brasil. Outra novidade é o destaque para o compromisso social das modelos, famosas ou não, ao invés das habituais fotos de nudez.

Capa

Intervista

Gastronomia

36 | Oscar Niemeyer

22 | Bilancio

O mais influente arquiteto brasileiro de todos os tempos, morto 10 dias antes de completar 105 anos, deixa para a Itália um legado que vai além de suas obras monumentais construídas em Turim, Ravello e Milão: projetos para Veneza, Padova e Vicenza nunca realizados

Gherardo La Francesca, Ambasciatore d’Italia in Brasile, fa un bilancio del suo mandato che finisce questo mese e ricorda il successo del Momento Italia-Brasile

54 | Cenone com a família Confira o roteiro

Política 32 | Bersani é o candidato da centro-esquerda na disputa pelo cargo de premier em 2013

30 | Eleitores italianos no Brasil buscam na internet informações sobre candidatos e partidos

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Economia 28 | Aviação

para se deliciar com ceias italianas nos restaurantes especializados de São Paulo — para comer no local ou levar para casa, ainda que de última hora

57 | Transada

Executivo da Alitalia fala do novo voo Fortaleza-Roma e do investimento no emergente tráfego aéreo que tem o Brasil como destino

Considerado o “salão de pizzaria mais transado do mundo” por revista americana, estabelecimento situado em São Paulo foi inaugurado por filho de italianos do Brás

Moda 45 | Italian Style

51 | Autêntica Em

Botas, roupas, luvas e máscaras de esqui para curtir a Settimana Bianca em alto estilo

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sua primeira visita ao Brasil, presidente da Associazione Verace Pizza Napoletana pede às pizzarias do país que mantenham a receita original

43 | Guilherme Aquino O museu Triennale, templo do design em Milão, abre as portas para uma ousada mostra sobre a estética inspirada no sexo

58 | Claudia Monteiro De Castro A Itália é um lugar perfeito para se aprender a cozinhar. A escola Pepe Verde, perto do Panteão, no centro histórico, oferece cursos para profissionais e amadores



Editorial

Expediente

Em jogo, soberania P

olítica italiana não é brincadeira, ou, para muitos, parece uma imensa brincadeira. Pode um líder que renunciou ao cargo de primeiro-ministro há um ano sob pressão pela desastrosa administração da crise econômica em seu país e está envolvido em vários processos polêmicos, condenado inclusive a prisão por fraude fiscal, dar as cartas do jogo? Se esse homem for Silvio Berlusconi pode. Mais uma vez o Cavaliere, de 76 anos, é o centro das atenções com suas movimentações inesperadas. Dessa vez, seu partido (PDL) abandonou a bancada, no Senado, durante o voto de uma moção de confiança ao governo tecnocrata de Mario Monti no dia 5 de dezembro. A perda do apoio, o qual Monti considerou como traição porque mantinha coalizão com a centro-direita, fez com que o premier técnico pedisse demissão em comunicado oficial ao presidente da República, Giorgio Napolitano. Com isso, as eleições, que já ocorreriam em abril de 2013, serão antecipadas para fevereiro do ano que vem. E, até o fechamento desta edição, Silvio Berlusconi será candidato pela sexta vez, centrando sua campanha na bandeira do nacionalismo anti-Alemanha e contra a Europa, na falta de crescimento e no combate aos impostos altos que esmagam a classe média. Assim, Berlusconi, que tem a seu favor 15% da população italiana, irá buscar votos nos insatisfeitos com as duras reformas implantadas pelo governo Monti, naqueles que não se veem representados pela esquerda do PD e naqueles que votaram no comediante Beppe Grillo como forma de protesto nas últimas eleições. Não se ilude em vencer como em 2001 ou em 2008, mas, no fundo, consegue tirar as atenções do candidato do PD, Pier Luigi Bersani, que tinha até então favoritismo em pesquisas, com uma provável Pietro Petraglia entrada na disputa do próprio Professor Mario Monti, que Editor é aclamado pela imprensa internacional e é o candidato da Europa e dos EUA. O chamado “risco-Itália”, com a possibilidade de um retrocesso nas medidas tomadas por Monti, causa tremor no cenário mundial e principalmente na Europa dominada por Angela Merkel e na América de Barack Obama. Um desvio de estrada da via de recuperação econômica de um país importante para economia global como a Itália acarretaria numa tragédia para as finanças muitas vezes maior do que o ocorrido com a Grécia. Neste jogo está em pauta se os italianos querem ser levados a sério numa Europa unida ou se vão optar por um caminho desconhecido em nome da soberania. Um euro-premier ou um político que deverá demonstrar garantias importantes para navegar num mar de especulações. A Itália tem um papel chave para a economia mundial e todos os holofotes estarão voltados para essa corrida eleitoral. Até fevereiro tudo pode acontecer. Boa leitura!

Fundada

em

março

de

1994

Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 14/12/2012 às 18h00 Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Nathielle Hó; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi Subedição: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Editoria de arte Colaboradores: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Publicidade: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220

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cosenostre JulioVanni

Parceria espetacular Fábrica de Espetáculos, um projeto da Associação dos Amigos

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do Theatro Municipal do Rio, vai contar com a consultoria do Teatro Alla Scala, de Milão. O projeto envolve a restauração de um prédio histórico no bairro carioca da Saúde para ser a sede da Central Técnica de Produção (CTP) do Parque Temático do Espetáculo e da Escola de Espetáculos. A entidade italiana vai colocar à disposição da equipe brasileira um especialista para auxiliar na organização dos espaços, do pessoal e do material necessários aos laboratórios. E não só: o Alla Scala vai oferecer vários cursos avançados e de especialização para o exercício das profissões do mundo do espetáculo. Inaugurada em 1977 para produzir cenários, figurinos e adereços, a atual CTP está precariamente instalada em galpões no bairro de Del Castilho. A iniciativa foi intermediada pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio.

Diplomático e sustentável

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Embaixada italiana no Brasil será um avançado laboratório de tecnologias sustentáveis no país: a terceira fase do Embaixada Verde prevê a instalação pelo grupo italiano Ecomacchine de um sistema de micro geração eólica integrado ao fotovoltaico. A tecnologia inédita em solo brasileiro prevê o uso de cinco turbinas com uma potência duas vezes maior do que as tradicionais, além de serem menos invasivas do ponto de vista arquitetônico. Para executar o projeto, a UnB, a Embaixada, a Central Energética de Brasília e o Politécnico de Turim acabaram de lançar a rede nacional e internacional GESENet. Também será criado no campus da universidade um centro de coleta e elaboração dos dados provenientes da central energética.

O papa no Twitter

O grande jogo confronto entre Brasil

“Q

ueridos amigos, é com grande alegria que entro em contato convosco via Twitter”. Esta é a frase de estreia de Bento XVI no microblog, no último dia 12. Até o fechamento desta edição, a página do papa contava com mais de 860 mil seguidores. Desde que foi anunciada a sua participação no Twitter por meio do perfil @pontifex, em 3 de dezembro, milhares de internautas em todo o mundo começaram a segui-lo. Não é Ratzinger em pessoa a tuitar, mas ele aprova todas as mensagens, garantiu o conselho pontifício para as comunicações sociais da Santa Sé. O papa deverá responder a perguntas dos fiéis. Ao perfil, estão relacionadas outras páginas em sete línguas diferentes. O conteúdo em português pode ser visto em @Pontifex_pt e em italiano em @Pontifex_it.

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A

árvore de Natal da Bradesco Seguros chega à sua 17ª edição com o tema Todos os Natais do Mundo. Armada na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio, este ano reproduz as Quatro Estações, de Antonio Vivaldi, e emite as badaladas da Basílica de São Pedro, no Vaticano. A árvore de 85 metros de altura foi certificada pelo Guinness Book como a maior do mundo em uma estrutura flutuante. As lâmpadas simulam as quatro estações: tons de verde, com detalhes de galhos de árvores, lembram o outono; a tonalidade branca representa a neve do inverno; as flores coloridas em efeito 3D, como se fosse um jardim brotando, simbolizam a primavera; e os tons de amarelo com brilho solar recordam o verão. Importado da Itália, um carrilhão eletrônico emite os sons de sinos.

Premiados em Roma

D

ois filmes brasileiros foram premiados em mostras paralelas do Festival de Roma, que agitou a capital italiana em novembro. Avanti Popolo, do israelense radicado em São Paulo, Michael Wahrmann, ganhou o prêmio principal da seção Cinema XXI. O longa é o último filme em que aparece nas telas como ator o cineasta Carlos Reichenbach, morto em junho de 2012. Já a adaptação do romance escrito por José Mauro de Vasconcelos, Meu pé de laranja lima, levou 10 mil euros e foi escolhido como melhor filme na mostra Alice nella città, dedicada a produções infanto-juvenis. A direção do filme foi de Marcos Bernstein, roteirista do longa Chico Xavier.

e Itália na Copa das Confederações pela última rodada da primeira fase da competição está marcado para acontecer no dia 22 de junho, em Salvador. As duas seleções caíram no grupo A, juntamente com México e Japão. O ex-jogador Ronaldo afirmou que a azzurra será uma das protagonistas da Copa do Mundo de 2014. “Vai ser um grande jogo entre duas das mais fortes seleções do mundo”, avaliou o ex-craque do Inter sobre a partida do ano que vem, lembrando que sempre acompanha a Itália por ser “uma parte” da sua vida de jogador.

FAO e Haiti Ferrari Store diretor-geral da FAO, o braOniusileiro José Graziano, se reunoGrupoRio em novembro, em Roma, Via Italia inaugurou em com o presidente do Haiti, Mi-

O

10 de novembro a primeira Ferrari Store do Brasil, no Fashion Mall, shopping do Rio de Janeiro. Na loja, os consumidores poderão comprar produtos como miniaturas, roupas, acessórios, malas de viagem e relógios. A empresa também pretende abrir lojas em São Paulo e outras cidades brasileiras nos próximos cinco anos.

chel Martelly, a quem ofereceu ajuda para o desenvolvimento do país. Ambos concordaram em fazer um apelo internacional para arrecadar US$ 74 milhões com o objetivo de reativar a agricultura, prejudicada pelo furacão Sandy. Martelly quer apresentar a “nova cara” do Haiti, “menos triste, com metas para investimentos e turismo”.

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Opinião enquetes Chanceler Giulio Terzi diz que reeleição de Obama aproxima os Estados Unidos da Europa. Você concorda?

Sim - 60% Não - 40% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/11/12 e 09/11/12.

A crise global acarretou o aumento de impostos para ricos na Europa. Você é a favor disso?

Sim - 55,6% Não - 44,4% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/11/12 e 15/11/12.

Ministro italiano Terzi diz que o objetivo na Síria é obter sistema democrático. Conseguirão isso?

Sim - 16,7% Não - 83,3% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/11/12 e 22/11/12.

no celular

Acesse comunitaitaliana. com no seu smartphone com o código QR acima

frases “Entre nós existia mais uma relação de pai e filha. Eu fui incapaz de esclarecer isso até agora”, Elisabetta Canalis, atriz italiana, ao jornalista Bruno Vespa, revelando que via no ator George Clooney a figura de seu pai, não só por ele ser mais velho, mas por transmitir respeito no relacionamento

“Estou fazendo aulas de italiano para filmar Fellini em janeiro. Eu não poderia chegar a Los Angeles com o sotaque dos americanos de Bastardos Inglórios”,

“Hoje há nudez em todo lugar, e esse expediente só é válido se for empregado com bom gosto, amor pela mulher que se está fotografando e uma ideia, uma intenção”, Sophia Loren, durante o lançamento do calendário Pirelli 2013, do qual é madrinha, ao dizer que não gosta da nudez banal

Wagner Moura, ator brasileiro, em entrevista à Folha de S. Paulo, contando que contratou uma professora particular de italiano para interpretar no cinema o cineasta, aproveitando para satirizar o sotaque dos atores do filme de Tarantino

“É importante e ótimo que na nossa chave tenha Itália, Japão e México, pois são confrontos que nos darão a chance muito maior de observação do que se não tivéssemos enfrentando grandes adversários. O foco do jogador brasileiro muitas vezes é maior quando enfrenta mais dificuldades”,

“Andava pelas ruas como um viciado em drogas e pegava até velhas e travesti”, Rocco Siffredi, ator pornô italiano, ao ser perguntado em entrevista sobre o que achava do ex-diretor do FMI Strauss-Kahn, acusado de violência sexual, e contar que já chegou ao fundo do poço, mas, que graças à esposa, conseguiu se controlar

Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção brasileira de futebol em coletiva de imprensa, ao declarar que considera positivo o desafio de enfrentar equipes fortes logo na primeira fase da Copa das Confederações

“Não sei se vamos ter um presidente da República que não seja branco, mas inevitavelmente vamos ter cada vez mais, no Parlamento e na direção das empresas, cidadãos italianos que não são filhos de italianos”,

“Em termos de impostos, estamos em estado de guerra. Não é possível ter a paz social, uma paz entre cidadãos e Estado, se não colocarmos fim nesse fenômeno”,

Gianfranco Fini, presidente da Câmara italiana dos Deputados, em encontro com estudantes. Ele citou a reeleição de Obama à presidência dos Estados Unidos e comparou o fato com a situação atual na política e no mercado de trabalho da Itália

Mario Monti, premier italiano, durante evento da Confederação de Dirigentes de Empresas (Cida), ao dizer que seu governo luta contra os sonegadores de impostos

cartas

“M

uito interessante a matéria sobre os tipos de tomates italianos. É bom saber que o tomate contém substâncias como o licopeno, que são benéficas para a saúde. A Itália é exemplo a ser seguido quanto ao cultivo e à qualidade do fruto.” Nathalia Azevedo, Rio de Janeiro - RJ – por e-mail

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“G

ostei muito da matéria sobre o Salão do Automóvel de São Paulo. Os lançamentos da Fiat chamaram a atenção de quem é aficionado por carros. A exposição da Ferrari e Maserati com certeza foi o ponto alto do evento.” Matheus Lopes, São Paulo – SP – por e-mail


Serviço agenda Esplendores do Vaticano A Oca do Parque Ibirapuera em São Paulo abriga, até 31 de março de 2013, 200 obras de arte sacra e objetos históricos vindos do Vaticano. A exposição é dividida por temas ao longo de 11 galerias.

Prêt-à-Porter Enquanto as semanas de moda São Paulo Fashion Week e Fashion Rio antecipam as coleções do outono inverno 2013, o salão Prêt-à-Porter lança novidades para os lo-

jistas no Expo Center Norte, em São Paulo, entre os dias 13 e 16 de janeiro de 2013. O evento reunirá acessórios de moda e confecções brasileiras e estrangeiras, inclusive de marcas italianas. www.saopaulopretaporter.com A Capela Sistina, em cujas paredes e forro estão afrescos de Michelangelo e Rafael, foi recriada no teto da Oca. O público poderá ver pinturas de artistas como Guercino e Bernini, além de documentos históricos, vestimentas e itens litúrgicos do Vaticano. www.esplendoresdovaticano.com.br

Couromoda A feira internacional de calçados e artefatos de couro vai comemorar 40 edições em 2013. No período de 14 a 17 de janeiro, fabricantes de 13 estados brasileiros e produtores internacionais, incluindo dez empresas italianas que fazem parte do Marche Shoe Group, ocuparão o pavilhão do

Anhembi Parque, em São Paulo. As empresas apresentarão os lançamentos de marcas de sapatos femininos, masculinos e infantis, bolsas, artigos de viagem e acessórios para atender todos os nichos de mercado. www.couromoda.com Expovinis Brasil A exposição de vinhos mais importante da América Latina acontece entre 24 e 26

naestante

abril de 2013, no Expo Center Norte, em São Paulo. O Espaço Itália 2013 foi concebido para garantir uma forte visibilidade no evento e contará com uma área dedicada à exposição de empresas e outra destinada a encontros individuais. As Câmaras Ítalo-brasileiras de Comércio no Brasil apoiam as empresas italianas que participarão do concurso Top Tem, que vai escolher os melhores vinhos por categoria, e de encontros B2B promovidos na feira. www.exponor.com.br Revestir 2013 O Transamérica Expo Center, em São Paulo, sedia de 5 a 8 de março a maior feira de soluções em acabamentos da América Latina. Na feira, o ICE, a agência para promoção, exportação e internacionalização de empresas italianas, organiza a participação de uma delegação do setor de materiais como mármore, cerâmica e madeira. O evento atenderá a profissionais de arquitetura, design de interiores, revendas, construtoras e compradores internacionais. www.exporevestir.com.br

clickdoleitor

A máquina da lama Roberto Saviano traz três ensaios publicados no jornal italiano La Repubblica. Em Autorretrato de um chefão, o primeiro deles, transcreve as conversas que teve com um ex-mafioso. Acusado de 30 homicídios, Maurizio Prestieri liderou uma facção da Camorra e conta em detalhes como funciona o lucrativo comércio de cocaína, bem como os rituais de sangue da máfia napolitana. Convertido em informante da polícia, hoje Prestieri vive escondido, como o próprio Saviano, que vive sob escolta policial desde que Gomorra foi publicado. No livro também são contadas histórias da Itália contemporânea, como a do lixo que enriquece a Camorra e o processo de intimidação e compra de votos pela máfia nas eleições. Companhia das Letras, 160 páginas, R$ 29,50

Arquivo pessoal

Nos bastidores da Fiat O livro conta a história da Fiat, desde os primeiros dias da empresa, em 1899, à turbulência econômica que levou à fusão com a Chrysler, em 2008. A obra de Jennifer Clark relata como o presidente-executivo da Fabbrica Italiana Automobili di Torino, Sergio Marchionne, conseguiu levantar as duas companhias. A Fiat precisava de um parceiro para ganhar competitividade global e a Chrysler, para sair da falência. Os negócios receberam apoio até do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O leitor fica sabendo como a empresa sobreviveu a bombardeios de guerra, ataques terroristas, tormentas trabalhistas e abismos financeiros durante sua existência. Saraiva, 352 páginas, R$ 46,50

“E

star na Europa e não visitar a Itália era algo inimaginável, então escolhi ir a Roma. Passei o fim de semana lá com um amigo que também está fazendo intercâmbio. Visitamos a Piazza Navona e ficamos hospedados em um hostel próximo à estação de trem. Depois dessa viagem, fiquei com vontade de conhecer todo o resto da Itália!” Roberta Amazonas Niterói, RJ — por e-mail

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opinione FabioPor ta

Una festa di democrazia Le primarie del centrosinistra italiano ridanno speranza a chi crede nel cambiamento del Paese

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iù di tre milioni di cittadini, in Italia ed all’estero, hanno partecipato al primo ed al secondo turno delle “Primarie” per la scelta del candidato che guiderà la coalizione del centrosinistra alle prossime elezioni. Si è trattato di una vera e propria “boccata di ossigeno” per la politica italiana; un momento di partecipazione popolare spontanea che apre di fatto la strada ad una probabile vittoria del centrosinistra alle elezioni, previste per i primi mesi del prossimo anno. A Pierluigi Bersani va riconosciuta così una “doppia” vittoria: il leader del Partito Democratico infatti ha creduto fin dall’inizio nella forza attrattiva e rigenerante di queste primarie, anche quando tanti lo sconsigliavano a percorrere questa strada. La vittoria di Bersani non è quindi soltanto l’aver sconfitto con un netto distacco (61 contro il 39 per cento) il suo rivale, Matteo Renzi; il successo di questa grande consultazione popolare è il vero primo grande risultato del segretario del PD, adesso anche candidato premier del centrosinistra per il governo del Paese. Sarebbe però ingiusto non riconoscere proprio al Sindaco di Firenze, giovane e coraggioso sfidante di Pierluigi Bersani, il merito di aver fatto diventare questa disputa un vero e proprio momento di confronto in grado di coinvolgere e mobilitare l’Italia intera. Tutti, anche gli esponenti del centrodestra, hanno evidenziato il dato importantissimo e significativo relativo alla grande partecipazione ed al costruttivo dibattito politico conseguente alle primarie del centrosinistra. In uno dei momenti storici di più forte crisi della politica e delle istituzioni (basti pensare al dato dell’astensionismo, che alle elezioni siciliane ha sfiorato il 50%), la partecipazione di milioni di cittadini italiani al primo e al secondo turno delle ‘primarie’ ha confermato che in Italia esiste ancora un fortissimo senso civico unito ad una grande volontà di cambiamento. 12

Sarebbe un bene per il Paese se anche la coalizione del centrodestra percorresse questa strada, coinvolgendo i propri elettori nella scelta del candidato in grado di sfidare Bersani alle prossime consultazioni elettorali per la formazione del Parlamento italiano; un dibattito in questo senso è in corso all’interno dei partiti che formano (o sarebbe meglio dire, formavano) la coalizione guidata negli ultimi (quasi) venti anni da Silvio Berlusconi. La distanza tra politica e opinione pubblica, tra cittadini ed istituzioni, si accorcia infatti soltanto restituendo agli elettori la sovranità che gli compete, e non soltanto nel giorno delle elezioni politiche.

A Bersani va riconosciuta una “doppia” vittoria: ha creduto fortemente nelle Primarie, non le ha semplicemente vinte

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Inoltre, è stato un segnale bello e significativo quello di coinvolgere in questa importante consultazione anche gli stranieri in Italia e gli italiani all’estero, due “categorie” di cittadini che spesso vivono ai margini delle scelte politiche del nostro Paese. La speranza, adesso, è che il Partito Democratico e il suo leader sappiano continuare a valorizzare queste potenzialità riconoscendo loro il dovuto peso anche all’interno delle proposte programmatiche elettorali e, quindi, di governo. L’Italia si solleverà dall’abisso nel quale

la crisi economica degli ultimi anni l’ha gettata soltanto se saprà ridare forza a tutte le sue tradizionali doti e qualità: competenza nella politica, innovazione e ricerca, ma anche un “made in Italy” che è fatto in primo luogo dalla unica e straordinaria presenza degli italiani nel mondo, prima ancora che dai suoi prodotti. Se Bersani & C. saranno in grado di interpretare con la saggezza ma anche l’audacia necessaria il mandato che gli elettori potrebbero concedergli nel 2013, l’Italia avrà sicuramente grandi chance per uscire da una crisi che non è soltanto economica, ma anche politica e culturale. Se così fosse, il 2 dicembre del 2012 sarà stata una data storica: il giorno in cui tre milioni e mezzo di elettori non hanno semplicemente scelto il leader di una coalizione, ma hanno ridato coraggio e dignità alle speranze di una penisola che per millenni ha rappresentato per il mondo intero qualcosa di più di una semplice unità politico-territoriale. E’ questa l’Italia che tutti vorremmo continuare ad amare e della quale essere fieri ed orgogliosi!


opinione

EzioMaranesi

Che Italia vogliono gli italiani? I Italiani di ieri e italiani di oggi: un impegno diverso cambiamenti sono rapidi e imprevedibili. Cambiano gli equilibri geo-politico-economici, con gli asiatici che corrono più degli altri. Il mondo arabo è in fermento. Milioni di persone fuggono dalla fame e dalle guerre e premono alle frontiere dei paesi più fortunati. Cresce l’intolleranza religiosa. La globalizzazione appiattisce verso il basso il livello di benessere dei popoli sviluppati. Cambiano i valori morali e cambia il clima. Gli italiani ne sono consapevoli, vogliono il cambiamento ma lo temono e resistono. Poco quindi cambia nell’Italia reale e nelle istituzioni. Sarà per la forza delle cose e non per volontà e scelta che l’Italia, domani, sarà diversa. Ogni popolo ha i politici che si merita: gli italiani, di cui peraltro non ho grande stima, meriterebbero di meglio. I nostri sono mediocri, talvolta disonesti, ma li abbiamo eletti noi. C’è voluto un non-politico per ricordare agli italiani che bisogna spendere solo quanto si guadagna, che vi sono debiti da onorare, che vi sono doveri oltre che diritti. I politici non avevano il coraggio di farlo. Uniti nella difesa del loro status, litigano da anni sul come dare all’Italia una Costituzione più moderna, far quadrare i bilanci, governare la nazione. E l’Italia invecchia paralizzata in un mondo che corre. E gli italiani sono sempre più poveri in benessere e sani valori. I gruppi di potere: finanza, grande impresa, sindacati, chiesa, lobbies, mafie ecc. potrebbero giocare un ruolo importante nel nostro sviluppo, ma non hanno alcun

Gli italiani di altri tempi: tempi di guerre, di emigrazione, di fame, di durissimo lavoro per rifare una Italia distrutta. Una grinta e una voglia di fare che gli italiani di oggi non hanno ereditato

interesse a che le cose cambino. Ogni cambiamento, nel mondo di oggi, tenderebbe a togliere loro potere e benefici. E alzano barricate affinché nulla cambi. Gli italiani vogliono il cambiamento ma non amano le rivoluzioni. La rivoluzione è rischio e sacrificio, cose scomode. Si deve cambiare l’Italia ma non il nostro welfare fatto di soldi presi in prestito, né la nostra giornata. Quando il Governo limita l’uso del contante e incentiva l’utilizzo delle carte di credito per combattere l’evasione fiscale l’italiano si ribella e denuncia violazioni alla privacy. In Brasile l’uso della carta di credito è generalizzato. Quando il Governo propone che sulle ricette sia d’obbligo porre il principio attivo delle medicine l’italiano non si fida, paga di più e compra il farmaco di griffe. Il brasiliano compra normalmente il generico. In Brasile nessuno contesta il pagamento della IPTU; in Italia è considerata una tassa iniqua e va combattuta. Gli italiani chiedono che il governo eviti gli sprechi e dicono che le Provincie sono enti inutili: quando il Governo decide di ridurne il numero i ragli salgono al cielo. Il Governo propone timidamente, troppo timidamente, di aumentare il numero dei taxi, delle farmacie, dei notai, di privatizzare imprese pubbliche, di tagliare la spesa pubblica: è rivolta. I

napoletani vogliono una città pulita ma non vogliono né le discariche né gli inceneritori. Mandano i rifiuti in Olanda, dove gli inceneritori funzionano con la benedizione degli olandesi. La Sicilia paga 27.000 guardie forestali: ne basterebbero 2.000. È comprensibile che non si licenzino oggi 25.000 persone, ma sarebbe ragionevole pensare ad un piano di riduzione negli anni. Non se ne vuol parlare. Si potrebbe continuare a lungo. È comprensibile: la resistenza al cambiamento è un atteggiamento naturale e gli italiani sono oggi costretti a sacrifici durissimi per pagare debiti e errori dei padri e dei nonni. Ma non possiamo dimenticare gli italiani di altri tempi: tempi di guerre, di emigrazione, di fame, di durissimo lavoro per rifare una Italia distrutta. Una grinta e una voglia di fare che gli italiani di oggi non hanno ereditato. L’Italia deve cambiare. Il divenire del mondo forzerà il cambiamento. Se le forze politiche, i gruppi di potere e gli italiani piloteranno il cambiamento avremo l’Italia che vorremo. Altrimenti metteremo solo toppe alle emergenze che si presenteranno con frequenza sempre maggiore. Sarà l’Italia che vogliono gli altri.

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Sociedade

A alma do Rio no mítico

Calendário

Pirelli

L’anima di Rio nel mitico Calendario Pirelli 14

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Stefania Pelusi

A empresa italiana de pneus dedica o seu famoso calendário de 2013 à Cidade Maravilhosa e ao compromisso social

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La fabbrica italiana di pneumatici dedica il suo famoso calendario del 2013 alla Città Meravigliosa e all’impegno sociale

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ão por acaso, o Rio de Janeiro foi a cidaon è per caso che Rio de Janeiro sia de escolhida pela Pirelli para ser o cenário stata scelta dalla Pirelli come sfondo da edição histórica do seu famoso calendell’edizione storica del suo famoso cadário, marcada pela mudança de foco: lendario, segnato dal cambiamento di em vez da habitual nudez, o compromisso social. Pe- obiettivo: invece della solita nudità, l’impegno sociale. Per la prima volta l’audacia erotica la primeira vez, a ousadia erótica das delle foto del The Cal, com’è conosciufotos do The Cal, como é conhecida a ta la pubblicazione, è lasciata da parte publicação, é deixada de lado para dar per dare spazio alle donne impegnate espaço às mulheres comprometidas em in progetti umanitari e ONGs. Lo sfonprojetos humanitários e ONGs. O pado delle immagini che illustrano i mesi no de fundo das imagens que ilustram os meses de 2013 são os ângulos e as del 2013 sono angoli e paesaggi più paisagens mais populares da capital flupopolari della capitale fluminense, fominense, clicados pelo célebre fotógrafo tografati dal celebre statunitense Steve norte-americano Steve McCurry, veteMcCurry, veterano di guerre e conflitrano de guerras e conflitos urbanos. Ele O fotógrafo Steve McCurry ti urbani. Il fotografo si è trasferito a se instalou no Rio de Janeiro por duas explorou no calendário a Rio de Janeiro per due settimane e ha diversidade de cores e cenários esplorato la diversità dei suoi colori e semanas e explorou a diversidade de su- do Rio de Janeiro dei suoi paesaggi. as cores e seus cenários. Il fotografo Steve McCurry — Nessuno meglio di McCurry a— Ninguém melhor do que McCur- ha esplorato le diversità vrebbe potuto rappresentare l’anima ry poderia ter representado a alma do di colori e scenari di Rio del Brasile, un paese che negli ultimi Brasil, um país que nos últimos anos de Janeiro nel calendario comunit àit aliana | dez embr o 2012

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Sociedade tem passado por grandes mudanças — resume o presidente da Pirelli, Marco Tronchetti Provera. Para a quinta maior fabricante de pneus do mundo, o Brasil é o coração do grupo, depois da Itália. Atualmente, um terço das atividades se concentra no gigante sul-americano onde existem cinco fábricas, mais de 550 pontos de venda exclusivos e 11 mil empregados espalhados pelas unidades instaladas em Campinas, Santo André e Sumaré (SP), Gravataí (RS) e Feira de Santana (BA). A empresa italiana conta com 22 indústrias em 13 países e é líder absoluta no Brasil e na América do Sul. — Há 83 anos estamos aqui. É certamente o país do futuro, onde queremos ficar nas próximas décadas. Queríamos fazer uma homenagem especial e então o que há de melhor em unir um grande fotojornalista com as imagens de um Brasil verdadeiro? Não se trata somente de beleza, mas da imagem de um país transformado e que está crescendo com um grande compromisso social respeitando o ambiente, o que é a alma do calendário — declarou Tronchetti Provera durante o lançamento para

“Queríamos fazer uma homenagem especial ao Brasil. Não se trata somente de beleza, mas é a imagem de um país transformado e que está crescendo com um grande compromisso social respeitando o ambiente, e isso é a alma do calendário” Marco Tronchetti Provera, presidente da Pirelli a imprensa da 40ª edição do calendário, no luxuoso hotel Copacabana Palace, no dia 27 de novembro. Edição limitada para vinte mil sortudos The Cal 2013 combina compromisso social com a beleza do cenário e das mulheres. São 34 fotos coloridas, encadernadas pela primeira vez em formato de livro, com uma capa verde. Entre as imagens, 23 constituem retratos de atrizes e modelos, nove mostram pequenos instantes e detalhes da vida cotidiana

“Volevamo rendere un omaggio speciale e, quindi, cosa c’è di meglio che unire un grande fotogiornalista alle immagini di un Brasile vero? Non si tratta solo di bellezza, ma dell’immagine di un paese trasformato che sta crescendo con un grande impegno sociale, rispettando l’ambiente, che è l’anima del calendario” Marco Tronchetti Provera, presidente della Pirelli

O fotógrafo Steve McCurry, homenageado pelas modelos do Calendário Pirelli, buscou retratar em suas fotos, a paisagem, a cultura e o povo brasileiro Il fotografo Steve McCurry ossequiato dalle modele del Calendario Pirelli, ha cercato di ritrarre nelle sue foto il paesaggio, la cultura e il popolo brasiliano 16

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anni ha attraversato grandi cambiamenti — riassume il presidente della Pirelli, Marco Tronchetti Provera. Per la quinta maggior fabbrica di pneumatici al mondo, il Brasile è il cuore del gruppo dopo l’Italia. In questo momento un terzo delle attività si concentra nel gigante sudamericano, dove ci sono cinque fabbriche, più di 550 punti vendita esclusivi e 11 mila impiegati sparsi nelle unità installate a Campinas, Santo André e Sumaré (SP), Gravataí (RS) e Feira de Santana (BA). L’azienda italiana conta su 22 industrie in 13 paesi ed è leader assoluta in Brasile e in Sudamerica. — Siamo qui da 83 anni. È sicuramente il paese del futuro, dove vogliamo rimanere nei prossimi decenni. Volevamo rendere un omaggio speciale e, quindi, cosa c’è di meglio che unire un grande fotogiornalista alle immagini di un Brasile vero? Non si tratta solo di bellezza, ma dell’immagine di un paese trasformato che sta crescendo con un grande impegno sociale, rispettando l’ambiente, che è l’anima del calendario — ha


dichiarato Tronchetti Provera durante la presentazione alla stampa della 40ª edizione del calendario nel lussuoso hotel Copacabana Palace, il 27 novembre scorso.

Il presidente della Pirelli Marco Tronchetti Provera insieme alla madrina dell’evento, Sophia Loren: l’attrice ha elogiato il calendario per non utilizzare nudità

Il maestro della fotografia Steve McCurry cattura l’anima delle brasiliane Sonia Braga, Isabeli Fontana e Marisa Monte per The Cal 2013

Donne forti e impegnate con lavori di inclusione sociale Le protagoniste del Calendario Pirelli del 2013 sono 11 modelle, attrici e cantanti come le brasiliane Isabeli Fontana, che ha partecipato ad altre cinque edizioni, e Adriana Lima, presente nel 2005 e che, questa volta, è stata fotografata incinta di cinque mesi, oltre all’attrice Sonia Braga, 62enne, la cantante carioca Marisa Monte e l’attrice italo-egiziana Elisa Sednaoui. Nelle foto ci sono inoltre le modelle Hanaa Ben Abdesslem, tunisina; la ceca Petra Nemcova; l’etiope Liya Kebede e le statunitensi Karlies Kloss, Kyleigh kuhn e Summer Rayne Oakes. Tutte hanno una cosa in comune: realizzano attività d’inclusione sociale o mantengono legami con ONGs. Perciò questa edizione è stata definita “calendario dell’anima”. McCurry, al contrario dalla tradizione della Pirelli, ha lasciato le modelle vestite dalla testa ai piedi.

Alessandro Scotti

Alessandro Scotti

O mestre da fotografia Steve McCurry capta a alma das brasileiras Sonia Braga, Isabeli Fontana e Marisa Monte para The Cal 2013

Alessandro Scotti

e duas são compostas inteiramente de arte urbana, conhecida como grafite e pichação. O autor dos cliques, Steve McCurry, de 62 anos, define-se como um fotógrafo de rua que capta “situações achadas”. O norte-americano passeou bastante pelas ruas do Rio, onde procurou os momentos da vida cotidiana e tirou uma infinidade de fotos. — Procuro sempre aquele momento entre duas coisas, em que existe uma sensação de tensão no retrato. Tentei retratar o Brasil, sua paisagem, sua economia e cultura, junto com o elemento humano — explicou o mestre da fotografia que, com vinte e poucos anos, entrou escondido no Afeganistão, disfarçado de camponês afegão.

O presidente da Pirelli Marco Tronchetti Provera junto à madrinha do evento Sophia Loren: a atriz elogiou o calendário por não utilizar a nudez

Edizione limitata per ventimila fortunati The Cal 2013 associa l’impegno sociale alle bellezze del panorama e delle donne. Sono 34 foto a colori pubblicate per la prima volta come libro dalla copertina verde. Delle immagini, 23 sono ritratti di attrici e modelle, nove mostrano piccoli istanti e dettagli della vita di tutti i giorni e due sono composte completamente da arte urbana, conosciuta come graffito e pichação [graffito solo di scritte, ndt]. L’autore delle foto, Steve McCurry, 62enne, dice di essere un fotografo di strada che capta “situazioni trovate al momento”. Lo statunitense ha camminato molto per le vie di Rio, dove cercava momenti della vita di tutti i giorni e ha fatto un’infinità di foto. — Cerco sempre quel momento tra le due cose, in cui c’è una sensazione di tensione nel ritratto. Ho cercato di raffigurare il Brasile, il suo paesaggio, la sua economia e cultura insieme all’elemento umano — ha spiegato il maestro della fotografia che, a vent’anni circa, è entrato di nascosto in Afganistan travestito da contadino afgano. Secondo lui la fotografia rappresenta “un importante strumento espressivo per raccontare le grandi e piccole storie quotidiane”. Sullo sfondo delle sue foto fluisce una Città Meravigliosa lontana dalle spiagge, la Rio dei quartieri storici come Lapa e Santa Teresa, le favelas e i locali tradizionali come bar, scuole di danza, stazioni ferroviarie e mercati locali. — La prima volta che sono venuto a Rio mi è sembrato un qualcosa di mitico, con le montagne, le spiagge e l’incredibile luce. È uno dei più magnifici paesaggi urbani del mondo. Non c’è niente che si possa paragonare a Rio, nemmeno lontanamente.

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Sociedade “Da primeira vez que estive no Rio, pareceu-me algo mítico, com as montanhas, as praias e a luz incrível. É uma das paisagens urbanas mais magníficas do mundo. Nada se compara ao Rio, nem chega perto” Steve McCurry, célebre fotógrafo norte-americano, autor dos cliques do Calendário Pirelli 2013 Para ele, a fotografia representa “um importante instrumento expressivo para contar as grandes e pequenas histórias cotidianas”. No pano de fundo de suas fotos, flui uma Cidade Maravilhosa longe da praia, o Rio dos bairros históricos como Lapa e Santa Teresa, as favelas e os lugares tradicionais como botecos, escolas de dança, estações de trem e mercados locais. — Da primeira vez que estive no Rio, pareceu-me algo mítico, com as montanhas, as praias e a luz incrível. É uma das paisagens urbanas mais magníficas do mundo. Nada se compara ao Rio, nem chega perto. Mulheres poderosas e comprometidas com trabalhos de inclusão social As protagonistas do Calendário Pirelli de 2013 são 11 modelos, atrizes e cantoras, como as brasileiras Isabeli Fontana, que participou de outras cinco edições, e Adriana Lima, presente em 2005 e que desta vez aparece com a barriga de cinco meses de gravidez, além da atriz Sonia Braga, com 62 anos, da cantora carioca Marisa Monte e da atriz ítalo-egípcia Elisa Sednaoui. Também estão nas fotos as modelos Hanaa Ben Abdesslem, da Tunísia; a tcheca Petra Nemcova;

“La prima volta che sono venuto a Rio mi è sembrato un qualcosa di mitico, con le montagne, le spiagge e l’incredibile luce. È uno dei più magnifici paesaggi urbani del mondo. Non c’è niente che si possa paragonare a Rio, nemmeno lontanamente” Steve McCurry, célebre fotógrafo norte-americano, autor dos cliques do Calendário Pirelli 2013

Posaram para o calendário celebridades femininas que desenvolvem trabalhos de inclusão social ou são associadas à ONGs, além de modelos anônimas em flagrantes do cotidiano

Hanno posato per il calendario celebrità femminili che sviluppano lavori di inclusione sociale o sono associate a Ong, oltre alle modelle anonime della vita quotidiana

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— La nudità avrebbe deviato il lavoro dal suo punto centrale. Sembrava più appropriato che fossero come tu le vedresti se le incontrassi per la strada, ma la sensualità viene a galla tanto quanto se fossero nude — spiega McCurry, autore della famosa foto della bambina afgana dagli ipnotici occhi verdi pubblicata sulla copertina della rivista National Geographic nel 1985. L’attore italo-brasiliano Rodrigo Santoro è stato il presentatore della cena di gala del lancio del calendario, al Pier Mauá. La musica è stata organizzata da Marisa Monte e Carlinhos Brown, che hanno cantato successi dell’epoca dei Tribalistas, molto popolari tra gli italiani. Altre stelle che hanno ‘brillato’ sul posto sono stati il veterano attore Giancarlo Giannini, che era in Brasile per ricevere un omaggio durante il Festival Pirelli del Cinema Italiano, l’attore Owen Wilson, indicato all’Oscar nel film Gli eccentrici Tenenbaums, e il pilota di Formula 1 Felipe Massa. Con un vestito giallo, la radiosa modella Isabeli Fontana si è fatta presente all’evento e ha dichiarato a Comunità che quest’edizione è speciale perché è dedicata alle donne di buon cuore e umanitarie, oltre ad essere belle. — È la bellezza interiore, oltre a quella fisica, che conta in questo calendario — dichiara la modella, che ha anche confessato la voglia di conoscere l’attrice Sophia Loren, madrina dell’evento. La vera signora della festa del The Cal ha rubato la scena alle modelle: era niente di meno che la diva del


a etíope Liya Kebede e as norte-americanas Karlies Kloss, Kyleigh kuhn e Summer Rayne Oakes. Todas têm uma coisa em comum: desenvolvem trabalhos de inclusão social ou mantêm laços com ONGs. Por isso, esta edição foi definida como o “calendário da alma”. McCurry, na contramão da tradição da Pirelli, deixou as modelos vestidas dos pés à cabeça. — A nudez teria desviado o trabalho de seu ponto central. Parecia mais apropriado que elas estivessem como você as veria se as encontrasse na rua, mas a sensualidade vem à tona tanto quanto se elas estivessem nuas — explica McCurry, autor da famosa foto da menina afegã de hipnotizantes olhos verdes que ilustrou a capa da revista National Geographic em 1985. O ator ítalo-brasileiro Rodrigo Santoro foi o apresentador do jantar de gala de lançamento do calendário, no Pier Mauá. A música ficou por conta de Marisa Monte e Carlinhos Brown, que cantaram sucessos da época dos Tribalistas, muito populares entre os italianos. Outras estrelas que brilharam por lá foram o veterano ator Giancarlo Giannini, que estava no Brasil para receber uma homenagem durante o Festival de Pirelli do Cinema Italiano, o ator Owen Wilson, indicado ao Oscar em Os Excêntricos Tenenbaums, e o piloto de Fórmula 1 Felipe Massa. Com um vestido amarelo, a radiante modelo Isabeli Fontana marcou presença no evento e admitiu à Comunità que essa edição é especial por ser dedicada a mulheres do bem e humanitárias, além de bonitas. — É a beleza interior, além da física, que está contando neste calendário — afirma a modelo, que também confessou a vontade de conhecer a atriz Sophia Loren, madrinha do evento. A verdadeira dona da festa do The Cal roubou a cena às modelos: era ninguém menos que a diva do cinema italiano e mundial Sophia Loren. Mesmo definido como calendário da alma, Sophia comentou que o corpo das mulheres sempre fica bem visível. — Finalmente um avanço: rostos bonitos e interessantes, sem nu, porque já não gera notícia. O compromisso das mulheres? Sempre houve, mas falavam menos — afirmou à Comunità a atriz napolitana. Ela elogiou o Calendário 2013 e lembrou do ano de 2007, quando foi uma das protagonistas: — Vendo as fotos desta edição, quem sabe não me animo a fazer outro — brincou. Do alto de seus 78 anos, dentro de um longo de pedrarias prateado com decote, ela admite que o segredo da sua eterna beleza e juventude é uma vida saudável. — Eu ando muito, como com moderação e durmo bem. Acordo todos os dias às quatro e meia. Eu gosto

O prefeito do Rio Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral participaram da homenagem ao ex-presidente Lula, que recebeu das mãos de Sophia Loren o primeiro Prêmio Pirelli pelo trabalho desenvolvido entre 2003 e 2010

Il sindato di Rio Eduardo Paes, e il governatore Sergio Cabral, hanno partecipato alla premiazione all’ex presidente Lula, che ha ricevuto dalle mani di Sophia Loren il primo Premio Pirelli per il lavoro svolto tra il 2003 e 2010

Os projetos verdes da Pirelli no Brasil

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undada em 1872, na cidade de Milão, a Pirelli comemorou 140 anos em 2012, dos quais 83 no Brasil. A relação com o Brasil começou no início do século XX, quando o italiano Alberto Pirelli, filho do fundador da empresa, desembarcou na Amazônia para pesquisar a borracha natural da região. A Pirelli atualmente conta com nove centros de pesquisa e desenvolvimento, setor no qual investe aproximadamente 3% do faturamento mundial nos produtos de linha e 7% da receita. Dos centros de pesquisa de Milão e de Santo André, nasce a nova linha de produtos ecológicos, o processo de reciclagem de água para todas as fábricas e a redução da utilização de matérias-primas provenientes do petróleo. Além disso, a empresa de Tronchetti Provera apoia o Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis da Reciclanip, entidade sem fins lucrativos criada por fabricantes de pneus que tem como objetivo fortalecer os esforços de coleta e destinação de pneus inservíveis.

cinema italiano e mondiale Sophia Loren. Anche se è stato definito come calendario dell’anima, Sophia ha sottolineato che il corpo delle donne rimane sempre ben visibile. — Finalmente un passo in avanti: facce belle e interessanti, senza nudi, tanto non fa più notizia. L’impegno delle donne? C’è sempre stato, ma parlavano meno — ha dichiarato a Comunità l’attrice napoletana. La Loren ha tessuto elogi al Calendario 2013 e ha ricordato quello del 2007, in cui era una delle protagoniste: — Vedendo le foto di questa edizione, magari vengo stimolata a farne un altro — ha detto, scherzando. Con i suoi 78 anni, vestita con un lungo con pietre argentato e scollato, la Loren ammette che il segreto della sua eterna bellezza e gioventù sia una vita salutare. — Cammino molto, mangio con moderazione e dormo bene. Mi sveglio tutti i giorni alle quattro e mezza. Mi piacciono queste ore di silenzio, sono tutte

I progetti verdi della Pirelli in Brasile

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ondata nel 1872 a Milano, la Pirelli ha festeggiato i 140 anni nel 2012, di cui 83 passati in Brasile. Il rapporto con il Brasile è iniziato agli albori del XX secolo, quando l’italiano Alberto Pirelli, figlio del fondatore dell’azienda, è sbarcato in Amazzonia per fare ricerche sul caucciù della regione. La Pirelli in questo momento conta su nove centri di ricerca e sviluppo, settore in cui investe il 3 % circa del fatturato mondiale nei prodotti di linea e il 7% delle entrate. Dai centri di ricerca di Milano e Santo André nasce la nuova linea di prodotti organici, il processo di riciclaggio dell’acqua per tutte le fabbriche e la riduzione nell’uso di materie prime provenienti dal petrolio. Inoltre l’azienda di Tronchetti Provera appoggia il Programma Nazionale di Raccolta e Destinazione di Pneumatici Inservibili della Reciclanip, ente no-profit creato da fabbricanti di gomme che ha per meta quella di aumentare gli sforzi per una raccolta e la destinazione di pneumatici inservibili.

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Sociedade

Todos o querem, mas só alguns o têm

Tutti lo vogliono, ma pochi ce l’hanno

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que o calendário recuperou a fama. Dez anos depois, com um foco mais maduro, The Cal se consolidou como uma estratégia de marketing da Pirelli a partir da edição do renomado fotógrafo Herb Ritts, que mostrava modelos em poses mais eróticas e agressivas do que antes. Depois disso, na edição de 1994, foram tiradas as referências publicitárias e a publicação voltou às origens com fotos mais artísticas e um erotismo discreto. The Cal consegue atrair a atenção a cada ano e deve isso a profissionais das lentes como Pecinotti, em 1968; Sarah Moon, em 1972; e Norman Parkinson, em 1985, só para citar alguns. Aparecer em algum dos 12 meses tornou-se uma marca de distinção para as supermodelos, assim como para os fotógrafos. E não apareceram somente modelos, mas atrizes. Em 2007, uma das protagonistas foi Sofia Loren, então com 72 anos, além de terem posado as atrizes Penélope Cruz, Hilary Swank, Naomi Watts e Lou Doillon. O tema daquela edição foi a cama, o que representou uma nova imagem e uma nova conotação para um calendário que virou peça de mobiliário exclusivo.

mer, il calendario ha recuperato la sua fama. Dieci anni dopo, con obiettivi più maturi, The Cal si è consolidato come strategia di marketing della Pirelli a partire dall’edizione del famoso fotografo Herb Ritts, che mostrava modelle in pose più erotiche ed aggressive di prima. Dopo, nell’edizione del 1994, sono state tolti i riferimenti pubblicitari e il calendario è ritornato alle origini, con foto più artistiche e di un erotismo discreto. The Cal riesce ad attrarre le attenzioni tutti gli anni e lo deve a professionisti della fotografia come Pecinotti, nel 1968; Sarah Moon, nel 1972; Norman Parkinson, nel 1985, solo per citarne qualcuno. Avere una foto in uno dei 12 mesi è divenuto un segno di distinzione per le supermodelle, cosí come per i fotografi. E non ci hanno lavorato solo modelle, ma anche attrici. Nel 2007 una delle protagoniste è stata Sophia Loren, allora a 72 anni, oltre ad essere apparse le attrici Penelope Cruz, Hilary Swank, Naomi Watts e Lou Doillon. Il tema di quell’edizione era il letto, il che ha rappresentato una nuova immagine e una nuova connotazione per un calendario che è diventato un articolo di arredamento esclusivo.

esde 1964, o Calendário Pirelli sempre oferece novos ícones de beleza e estilo. Diferencia-se a cada ano e se torna um objeto de desejo de colecionadores, pois é destinado a uma pequena elite de sortudos que o recebem como cortesia. Um símbolo que festeja, além da beleza feminina, a arte capaz de se transformar ao longo dos anos por meio de estilos e autores sempre diferentes. Os cenários também mudam a cada ano: podem ser lugares distantes e exóticos ou simplesmente os holofotes de um estudo de fotografia. Tudo começou em 1964 com o fotógrafo oficial dos Beatles, Robert Freeman. O calendário teve um sucesso imediato, graças às imagens ousadas das modelos que despertaram a atenção da Itália, em uma época em que o país estava se recuperando da austeridade da década anterior. Nos anos seguintes, tornou-se um símbolo e um objeto de culto, apesar de não ter sido publicado entre 1975 e 1983 devido à crise petrolífera e aos cortes no orçamento. Foi só no ano de 1984, com o fotógrafo erótico Uwe Ommer,

dessas horas de silêncio, são todas para mim. Aproveito para fazer tudo o que não posso durante o dia. À noite, vou para a cama às 20 horas, assisto ao telejornal e depois decido se dormir ou assistir a algum programa, se eu gosto. Mas nunca me deito depois de meia-noite — revela a diva. Quem roubou a cena e não respondeu às perguntas dos jornalistas foi o ex-presidente Lula, que recebeu das mãos da madrinha Sophia Loren o primeiro Prêmio Pirelli pelo trabalho à frente do governo brasileiro entre 2003 e 2010 e pelas mudanças no país. — O Brasil não desperdiçará o século XXI, como fez com o século XX. Perdemos muito tempo. Hoje é um país respeitado, levado em conta e com uma grande auto-estima — aclamou Lula durante discurso para os 600 convidados, em sua maioria do mundo do espetáculo e dos negócios. Ele estava sentado na mesa de honra, compartilhada com a atriz italiana, da qual é fã, com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e com o prefeito Eduardo Paes. — Os mais jovens não tiveram o privilégio de assistir aos maravilhosos filmes da atriz — afirmou o ex-presidente. Ele disse estar muito feliz por ter conhecido pessoalmente Sophia Loren. Também participaram do evento o governador da Bahia, Jacques Wagner; o embaixador da Itália no Brasil, Gherardo la Francesca; o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa; a secretária estadual de Agricultura de São Paulo, Mônika Bergamaschi; e o secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia. 20

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in dal 1964 il Calendario Pirelli ha sempre offerto nuove icone di bellezza e stile. Ogni anno è diverso e diviene oggetto di desiderio di collezionatori, visto che è destinato ad una piccola élite di fortunati che lo ricevono in regalo. Un simbolo che festeggia, oltre alla bellezza femminile, l’arte capace di trasformarsi negli anni grazie a stili ed autori sempre diversi. Anche gli sfondi cambiano ogni anno: possono essere luoghi distanti ed esotici o semplicemente i riflettori di uno studio di fotografia. Tutto cominciò nel 1964 con il fotografo ufficiale dei Beatles, Robert Freeman. Il calendario ottenne un successo immediato grazie alle audaci immagini delle modelle che richiamarono le attenzioni dell’Italia, in un’epoca in cui il paese si stava recuperando dalle austerità dei decenni anteriori. Negli anni seguenti è divenuto un simbolo e un oggetto di culto, malgrado non sia stato pubblicato tra il 1975 e il 1983 dovuto alla crisi petrolifera e ai tagli dei costi. Solo nel 1984, con il fotografo erotico Uwe Om-

per me. Ne approfitto per fare tutto ciò che non posso fare durante la giornata. Di sera, vado a letto alle 20.00, vedo il telegiornale e dopo decido se dormire o vedere qualche programma, se mi piace. Ma non mi addormento mai dopo la mezzanotte — rivela la diva. Chi ha rubato la scena e non ha risposto alle domande dei giornalisti è stato l’ex presidente Lula, che ha ricevuto dalle mani della madrina Sophia Loren il primo Premio Pirelli per le sue attività a capo del governo brasiliano tra il 2003 e il 2010 e grazie ai cambiamenti in Brasile. — Il Brasile non sprecherà il XXI secolo, come ha fatto con il XX. Abbiamo perso molto tempo. Oggigiorno è un paese rispettato, considerato e con una grande autostima — ha detto Lula durante il discorso tenuto davanti ai 600 invitati, di cui la maggior parte del mondo dello spettacolo e degli affari. Lula era seduto al tavolo d’onore, condiviso con l’attrice italiana di cui è fan, con il governatore di Rio, Sérgio Cabral, e con il sindaco Eduardo Paes. — I più giovani non hanno avuto il privilegio di vedere i meravigliosi film dell’attrice — ha dichiarato l’ex presidente, che ha detto di essere molto felice di aver conosciuto personalmente Sophia Loren. Hanno partecipato all’evento anche il governatore di Bahia, Jacques Wagner, l’Ambasciatore d’Italia in Brasile, Gherardo la Francesca, il sindaco di Los Angeles, Antonio Villaraigosa, la Segretaria dell’Agricoltura dello Stato di San Paolo, Monika Bergamaschi, e il Segretario dell’Industria, Commercio e Minerazione dello Stato di Bahia, James Correia.


Alessandro Scotti

No making of, a modelo Isabeli Fontana aparece em pose para Steve McCurry no CalendĂĄrio Pirelli 2013

Nel making of, la modella Isabeli Fontana fa pose per Steve McCurry per il Calendario Pirelli 2013

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Intervista

Un’ora e quaranta

per non soffrire di

saudade

Gherardo la Francesca, Ambasciatore d’Italia in Brasile, fa un bilancio del suo mandato e racconta come si sta preparando per la sua prossima destinazione, Paraguay, Paese confinante con il suo caro Brasile Stefania Pelusi

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Omar Matsumoto

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arismatico e comunicativo come un vero e proprio romano. Gherardo la Francesca, 68 anni, dopo tre anni e quattro mesi a capo dell’Ambasciata italiana in Brasile, andrà in pensione a fine mese e confessa che preparerà le valigie il 31 dicembre all’ultimo momento. Sua moglie Antonella, anche lei della carriera diplomatica, ricoprirà l’incarico di Ambasciatrice in Paraguay, dove si trasferirà con tutta la famiglia a febbraio. Questi anni a Brasilia ammette “sono passati piuttosto rapidamente, sono stati molto intensi”. La Francesca spiega che un diplomatico deve saper fare un po’ tutti i mestieri, ma prima di tutto deve rappresentare il proprio Paese. L’Ambasciata italiana ha ottenuto molta visibilità tra i rotocalchi brasiliani e italiani grazie all’iniziativa del Momento Italia Brasile, che racchiudeva un calendario fitto di eventi per celebrare la lunga amicizia tra i due Paesi. Inoltre si è distinta con il progetto pioniero dell’Ambiasciata Verde, basato sull’uso delle energie rinnovabili. Durante il suo mandato però non sono mancati momenti critici: il 2011 è stato un anno molto delicato nei rapporti diplomatici tra Brasile e Italia dovuto al caso Battisti.

CI - Per quanto riguarda la presenza di aziende italiane in suolo brasiliano. Qual è il numero raggiunto? GLF - È un numero in continua evoluzione. Adesso siamo arrivati a 742.

ComunitàItaliana - Nella sua prima intervista data a Comunità nell’agosto 2009, ha detto che tra le difficoltà esistenti sul piano finanziario per nuove azioni c’era l’assenza di gruppi bancari italiani in Brasile. Come vede la situazione a distanza di tre anni e mezzo? Gherardo La Francesca - Qualcosa si sta muovendo, ci sono dei gruppi bancari che stanno mettendo piede e altri che stanno consolidando la loro presenza in Brasile. Ritengo che questo sia un fenomeno trainato dalla grande presenza imprenditoriale: è logico che se le imprese italiane e industrie sono sempre più attive, il sistema finanziario non può non prenderne atto. Tutto ciò sta avvenendo, anche se i fenomeni non sono fulminei.

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CI- Può fare un bilancio del suo mandato? Quali le conquiste? GLF - Sono tantissime le cose da fare, qualcosa credo che siamo riusciti a realizzare e magari anche qualcosa che potrà servire per futuri sviluppi. L’ambasciatore italiano in Brasile, Gherardo la Francesca insieme a sua moglie Antonella sfogliano il programma del Momento Italia-Brasile

CI - Un evento marcante è stato il Momento Italia Brasile (MIB). Come si è concluso questo “viaggio” iniziato ad ottobre 2011? GLF - È stato indubbiamente un successo con questa conclusione importantissima: siamo entrati nel Palazzo Presidenziale con le opere di Caravaggio che è stato preso d’assedio da lunghe file. La mostra ha battuto tutti i record a Brasilia. Il fatto di aver potuto registrare in questi anni una continua crescita dei rapporti bilaterali, un incremento che non ha sofferto neanche tanto delle perturbazioni finanziarie ed economico commerciali che hanno colpito tutte le economie del mondo negli ultimi anni. Questo dimostra che è una tendenza consolidata.


CI - Il MIB ha stimolato la rete della presenza italiana in Brasile? GLF - Con il MIB abbiamo dovuto mobilizzare tutte le risorse di cui disponevamo. Non risorse finanziarie, perché data la situazione italiana, non avevamo questo tipo di aiuto. Forse delle volte la scarsezza di risorse finanziarie, può essere uno stimolo per trovare soluzioni alternative importanti. Quello che ne è uscito fuori è un quadro aggiornato e completo che comprende 742 imprese, 461 associazioni dei circoli italiani, 101 uffici della rete consolare. Tutte antenne importantissime in un territorio sconfinato come quello del Brasile. Questo ci ha dato anche lo stimolo per immaginare, ideare e mettere in pratica dei progetti importanti. CI - Che tipo di progetti? GLF - La creazione di un call center che possa servire a tutta la rete consolare. Attualmente il sistema è quello tradizionale, se qualcuno ha bisogno di informazioni per rinnovare un passaporto, per fare una procura o una pratica di certificazione si rivolge al proprio Consolato. Attualmente abbiamo sei centralini che saranno unificati in un unico call center.

Bruno de Lima

CI - Quali sono i vantaggi? GLF - Il primo vantaggio è quello di beneficiare delle economie di scala, creando una struttura unificata che corrisponde a esigenze di razionalità. Il secondo è quello di armonizzare le risposte e anche le procedure. Un’iniziativa

“Il MIB è stato indubbiamente un successo con questa conclusione importantissima: siamo entrati nel Palazzo Presidenziale con le opere di Caravaggio che è stato preso d’assedio da lunghe file” comunit àit aliana | dez embr o 2012

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Intervista importante che sarà collegata a un secondo progetto, l’insegnamento a distanza dell’italiano. Stiamo lavorando alla creazione di un sistema a distanza dei docenti. Inoltre stiamo valutando la possibilità di lanciare un applicativo per smartphone in modo che sia una cosa tra il didattico e il divulgativo. I due progetti sono collegati perché dal momento in cui tutti coloro che hanno un interesse ed entrano in contatto con le autorità italiane, passano attraverso un unico call center che sarà attrezzato e molto più professionale, i sei fiumi che finora sono separati confluiranno in un unico estuario. A questo punto ci è venuta l’idea di sfruttare questa grossa confluenza per dare un ulteriore stimolo all’apprendimento dell’italiano. CI - Sentendo le opinioni dei cittadini italiani e di chi aspira ad avere una cittadinanza, il tallone d’Achille sembra essere ancora le lunghe file d’attesa e la burocrazia. Il progetto del call center, può migliorare questa situazione? GLF - Non si tratta di un esperimento che nasce dal niente perché il Consolato di Curitiba ha già realizzato un mini progetto, quindi noi già possiamo far nostre le esperienze maturate e le aspettative che noi abbiamo sono di migliorare la qualità e l’efficienza dei servizi. Il centralino è il primo approccio quando una persona si rivolge alla rete consolare e ormai ci sono delle tecnologie che permettono un’efficienza maggiore rispetto al passato. Inoltre in questo modo possiamo liberare un po’ le risorse umane, perché in realtà così com’è assorbe un carico di energie e di ore di lavoro eccessivo e forse non proporzionato al risultato che si ottiene. Quello che il centralino può fare è un primo filtro, dando

rapidamente e con efficienza professionale una prima risposta che soddisfa una grossa parte dei richiedenti, i quali non vanno a intasare la fila. CI - In questo mese è stata avviata la terza fase dell’Ambasciata Verde, in cosa consiste? GLF - È un progetto che mi ha dato molta soddisfazione. Sta camminando in maniera autonoma perché non è più un progetto solo dell’Ambasciata, è un progetto che stiamo portando avanti con il Politecnico di Torino in Italia, l’Università di Brasilia (UnB) in Brasile e altre Università stanno entrando. L’entrata di partner di alto livello scientifico ci fa salire di livello. La terza fase consiste nell’aggiunta di un’importante attrezzatura che è un piccolo impianto di microgenerazione eolica. Noi adesso produciamo l’energia con i pannelli fotovoltaici, ma esistono oggi delle realizzazioni che non sono le stesse che si usano per gli impianti di grandi dimensioni. Sono dei cubi di un metro e mezzo di lato che girano come una ventola, anche con vento modesto e hanno un rendimento diverso dall’energia solare. La cosa che sta stimolando molto i ricercatori delle università coinvolte è quella di poter fare il matching fra due sistemi di generazione diversi. Quindi l’Ambasciata d’Italia a Brasilia sarà il laboratorio più completo per lo studio di applicazioni delle energie verdi. Un’altra

Gherardo la Francescain due momenti: durante il suo intervento al 16º Meeting Internazionale realizzato in ottobre del 2011 e nel padiglione italiano della Rio+20 nel Parque dos Atletas

“La vita non è una favola dipinta di rosa e i momenti critici possono verificarsi anche nei rapporti più solidi e profondi come quelli fra l’Italia e il Brasile” (sul caso Battisti)

Ambasciata italiana a Brasilia, edificio progettato dal rinomato architetto Pier Luigi Nervi

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cosa importante è che tutti i dati relativi a produzione e consumo di energia dell’Ambasciata verranno elaborati con un apposito software e messi a disposizione di chiunque ne abbia interesse, come centri di ricerca, imprese che considerano questi dati utili per preparare con maggiore precisione dei business plan. CI - Oltre alle tante soddisfazioni, immagino che in questi anni vi siano stati momenti critici e meno facili, come il caso Battisti. GLF - La vita non è una favola dipinta di rosa e i momenti critici possono verificarsi anche nei rapporti più solidi e profondi come quelli fra l’Italia e il Brasile. È vero abbiamo avuto dei momenti difficili. Il 2011 è stato un anno un po’ complicato. CI - È stato convocato due volte per consultazione dal Governo Italiano. Come ha gestito questo momento? GLF - Io penso che nei momenti di difficoltà bisogna cercare di mantenere una certa serenità, cercare di vedere tutto il quadro complessivo


Vari momenti durante il mandato dell’Ambasciatore italiano. In alto a sinistra, in senso orario un incontro con l’ex presidente Lula; durante un evento della Camera di Commercio di Rio nel Copacabana Palace; in compagnia dell’attrice brasiliana Fernanda Montenegro e durante la festa di conclusione del MIB con l’ex pilota Emerson Fitipaldi

e non soltando le cose di segno non positivo. Credo che questo in qualche misura sia avvenuto. Un momento non privo di difficoltà che non sono state completamente risolte o accantonate, però questo momento difficile è stato gestito con capacità e con coscienza del fatto che si inseriva in un contesto di più ampie dimensioni.

biglietto aereo per andare dall’altra parte del mondo, questo è soprattutto per svolgere una funzione di collegamento e di catalizzatore che favorisca sinergie tra partner dei due Paesi. Dobbiamo rappresentare un Paese straordinario, come non ce ne sono altri e che ha una realtà ricca, complessa e sfaccettata che non finiamo mai di scoprire.

CI - Il mese scorso sono state esposte delle sue fotografie al Museu Nacional dos Correios a Brasilia. Oltre ad essere Ambasciatore, è anche fotografo? GLF - È un hobby che ho coltivato nel tempo. Sono convinto del fatto che alle volte bisogna mettere la testa in cose completamente diverse perché ha un effetto salutare. Io credo che sia importante perché aiuta ad avere un equilibrio, ad avere sensibilità in alcuni aspetti e alla fine dei conti io sono convinto anche del fatto che aiuta a lavorare anche meglio. La cultura e l’arte devono essere un canale di comunicazione; penso che un diplomatico debba cercare il più possibile di comunicare con il mondo nel quale si trova ad operare. Alla fine dei conti se ci pagano uno stipendio, un

CI - Ha qualche rimpianto, qualche posto che voleva vedere che non è riuscito a conoscere? GLF - La realtà del Brasile è così articolata e complessa che tre anni e mezzo non bastano. Di luoghi che non sono riuscito a visitare ce n’è soprattutto uno, ma il rimpianto non è tanto. Il posto dove non sono riuscito ad andare è il Pantanal, ma sto per trasferirmi in Paraguay e ci andrò da lì. Certo mi dispiace lasciare il Brasile.

“La realtà del Brasile è così articolata e complessa che tre anni e mezzo non bastano. Di luoghi che non sono riuscito a visitare ce n’è soprattutto uno, il Pantanal”

CI - Sua moglie Antonella, anche lei della carriera diplomatica, è stata nominata Ambasciatrice in Paraguay. Come funziona nella vostra famiglia? Vi alternate i ruoli? GLF - Io andrò in pensione il 31 dicembre e per una inaspettata fatalità ci trasferiremo ad Asunción, perché noi stavamo tristemente preparando i bagagli per rientrare a Roma con i figli di 9 e 16 anni. È giunta questa proposta a mia moglie a settembre. All’inizio c’è stata un po’ di perplessità e sorpresa, perchè tra l’altro il Paraguay non è molto conosciuto tra i Paesi dell’America Latina, però ha una realtà interessante che penso sarà piacevole da scoprire. Dopo il primo momento di sorpresa, la reazione è stata positiva. Mia moglie ha fatto un grosso sacrificio di carriera per la famiglia, questo bisogna dirlo, il fatto che le abbiano proposto questo ruolo è una dimostrazione di grande stima per le sue notevoli capacità professionali. CI - È inutile chiedere se soffrirà di saudade GLF - Per matar a saudade c’è un’ora e quaranta di aéreo da Asunción.

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Atualidade

Mais forte

Após sete meses do terremoto que deixou milhares de desabrigados, Emília-Romanha mostra a sua capacidade de união e recuperação, mas ainda há muito trabalho pela frente Gina Marques

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De Bolonha

a madrugada de 20 de maio de 2012, às 4 horas da manhã, um monstro com enormes mandíbulas destroçou o norte da Itália. Após nove dias, com apetite voraz, ele voltou a dilacerar a região da Emília-Romanha. O gigante se chama terremoto, é imprevisível e quando desperta causa só desolação. Os dois abalos sísmicos de magnitude 5,9 e 5,8 na escala Richter deixaram 27 mortos e 350 feridos, além de ter destruído centenas de escolas e milhares de casas, edifícios, indústrias, inclusive monumentos artísticos, culturais e religiosos. A vida de mais de meio milhão de pessoas mudou. Passaram-se sete meses e o primeiro balanço público mostra que ainda existem obstáculos, mas prova sobretudo que os emilianos são capazes de arrancar a força das entranhas de uma tragédia, arregaçar as mangas e partir para a reconstrução. Depois de um semestre, ninguém mais vive nas tendas. As aulas nas escolas começaram regularmente. A emergência foi superada graças aos esforços de cidadãos, administradores públicos e voluntários. No entanto, ainda há muito a ser feito. O sisma atingiu uma das áreas mais produtivas da Itália, concentradora de diversas empresas agrícolas, agroalimentares,

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artesanais e industriais. Um exemplo é o queijo parmigiano-reggiano, marca registrada da região e um dos símbolos do Made in Italy. O tremor danificou 633 mil formas, causando um prejuízo estimado em 150 milhões de euros. Para ajudar os produtores, ao invés de se limitar às contribuições com doações, o consórcio de produtores do queijo formou um comitê. Assim, criou-se uma corrente de solidariedade que

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A igreja de Santa Maria Maggiore recebeu a assistência de engenheiros para a reconstrução e proteção de obras sacras após o terremoto

incentiva o consumidor a comprar pedaços de parmesão. Além do agroalimentar, um dos setores mais importantes é o biomédico, conhecido internacionalmente, com seis multinacionais. Para se ter uma ideia, o ramo biomédico da Emília-Romanha produziu em 2011 um valor agregado de 19,6 bilhões de euros e gerou 12,2 bilhões de euros em exportações. O terremoto destruiu milhares de empresas e os danos foram estimados em 2,7 bilhões. — A situação foi terrível, mas não nos deixamos dominar pelo desespero. Não podíamos perder os pedidos comerciais, as encomendas. Tivemos que agir imediatamente. Imagine um setor como o biomédico que requer um controle minucioso dos aparelhos e a esterilização completa dos locais de produção. Tivemos que ativar rapidamente novas salas esterilizadas próximas e transferir o pessoal aos novos locais. Passada a fase de emergência, 90% das empresas estão ativas e o fornecimento não foi interrompido — explica Giuliana Gavioli, responsável pelo setor biomédico da Confindustria de Modena e diretora da B.Braun Avitum Italia, uma empresa atingida pelo abalo sísmico que recuperou sua atividade após poucas semanas. Prevaleceu a vontade de reagir, afirma o presidente da Confindustria de Modena, Pietro Ferrari. — Nós somos como uma cadeia de produção. Bastava que faltasse um anel desta corrente para que saltasse tudo — explica Ferrari. Pesados danos aos símbolos de uma identidade cultural Após os tremores, deu-se início à contagem dos danos e à fase de controle. A Emília-Romanha agiu com rapidez e eficiência. Foram verificados 40 mil edifícios, dos quais 24.564 habitações, 963 escolas, 2.075 edifícios de uso produtivo, 2.697 de uso comercial, 1.139 escritórios, 11.311 armazéns e 174 imóveis destinados ao


uso turístico. Os controles mostraram que 41% dos edifícios são imediatamente acessíveis, 23% são temporariamente ou parcialmente inacessíveis e 6% estão inacessíveis por causa do risco que um elemento externo pudesse cair no edifício. Os danos são estimados em cerca de 3,3 bilhões de euros. As pessoas que tiveram as casas destruídas, inacessíveis parcialmente ou totalmente, puderam contar com a contribuição financeira para um alojamento autônomo. Este incentivo financeiro beneficiou 40 mil pessoas. Outra emergência enfrentada pela região setentrional foi a reabertura das escolas. Era importante que crianças e jovens não perdessem o ano escolar. Por isso, logo após a tragédia, foram erguidos edifícios pré-fabricados para aproximadamente 70 mil estudantes. O custo deste programa é estimado em 166 milhões de euros. O patrimônio cultural e arquitetônico sofreu danos terríveis. Os terremotos feriram as construções antigas, como igrejas, castelos e palácios que simbolizam a identidade da população. Estima-se que os danos diretos cheguem a 2 bilhões de euros e digam respeito a 2.100 estruturas. A região atuou com um programa para as primeiras intervenções urgentes, no valor de 1 milhão de euros. — É importante reconstruir o patrimônio cultural onde estava e como estava, mas isso requer tempo. No nosso plano de reconstrução é fundamental a preservação da identidade — ressalta o assessor responsável por atividade produtiva, plano energético, desenvolvimento sustentável, economia verde e construções da Emília-Romanha, Gian Carlo Muzzarelli. No entanto, antes de reconstruir, é preciso remover os destroços, o que também tem um custo: 21,3 milhões de euros. Nos últimos seis meses, foram recolhidas 221 mil toneladas de detritos. O governo guiado por Mario Monti entendeu que, ao ajudar a região, estaria contribuindo para o crescimento do país. No entanto, ela espera mais do governo e do parlamento. Quer, por exemplo, que o governo enfrente dois pontos que ainda não foram resolvidos. Um deles encontra-se no plano fiscal para aquelas empresas que registraram uma queda evidente nas entradas, não por causa da crise econômica e sim pelo terremoto.

O outro é permitir o adiamento dos pagamentos de alguns impostos para trabalhadores e empresas atingidas. Não se trata de um privilégio, mas é impossível fazer de conta que nada aconteceu. — Desde o primeiro dia nosso objetivo foi claro. Nós não voltaremos a ser como antes, pois seremos mais fortes com a reconstrução — disse o presidente da região Emília-Romanha, Vasco Errani. Segundo ele, esta grande tragédia pode representar uma ocasião para crescer com mais segurança em relação às construções anti-sísmicas, à proteção ambiental, à economia energética e aos investimentos em energias alternativas, pesquisa, qualidade do trabalho e respeito à legalidade.

Após a tragédia, Dalai Lama e o papa Bento XVI visitaram a EmíliaRomanha, onde foram recebidos pelo presidente da região Vasco Errani

Um prejuízo total de 12 bilhões sentido por 57 cidades Os terremotos atingiram 57 cidades de quatro províncias da região — Bolonha, Ferrara, Modena e Reggio Emilia. Trata-se de 33 municípios que entram na chamada cratera, ou seja, a área mais abalada. São sete na província de Reggio Emilia, 14 na de Modena, cinco na de Bolonha e sete na província de Ferrara. A população envolvida chega a 550 mil habitantes. O abalo sísmico afetou uma das áreas mais industrializadas do país, com grande atividade agrícola e alto índice de emprego, além de densamente populosa. Na área da “cratera” está 1,8% do PIB italiano. Os danos do sisma no norte da Itália foram estimados em 13 bilhões e 273 milhões de euros. Na região da Emília-Romanha, a estimativa é de 12 bilhões e 202 milhões de euros: 676 milhões para medidas de emergência; 3 bilhões e 285 milhões de danos para as construções residenciais; 5 bilhões e 237 milhões de danos nas atividades produtivas; e 2 bilhões e 75 milhões de danos aos bens históricos e culturais e aos edifícios religiosos. A quota restante está subdividida entre edifícios e serviços públicos e infraestrutura.

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Economia

Cada vez mais perto Alitalia inaugura voo Fortaleza-Roma em janeiro e investe cada vez mais no emergente tráfego aéreo que tem o Brasil como destino Nathielle Hó

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maior companhia aérea italiana tem bases nos aeroportos Leonardo da Vinci em Fiumicino-Roma, Linate, Malpensa, Veneza, Turim, Nápoles e Catania. A Alitalia opera atualmente 79 destinos internacionais e transporta mais de 25 milhões de pessoas por ano. Esses números comprovam a importância da empresa que deixou de ser estatal e passou por mudanças para sobreviver à crise econômica europeia que eclodiu em 2008. Tem investido em tecnologia brasileira através da compra de aeronaves da Embraer e amplia cada vez mais as opções de voos do Brasil. Em 2011, reinaugurou a rota Rio-Roma e, em janeiro de 2013, dará início às operações entre Fortaleza e a capital italiana. O crescimento da economia brasileira e o fato de sediar grandes eventos, como as Olimpíadas, contribuem para o incremento do movimento aéreo brasileiro, e a Alitalia mostra que não quer ficar de fora desse boom. — Devido ao aumento do tráfego aéreo iremos inaugurar, em 14 de janeiro de 2013, a nova rota Fortaleza-Roma que operará com o Boeing 777, inicialmente com duas frequências semanais — afirmou à Comunità o diretor regional da Alitalia para a América Central e do Sul, Antonio Sgro. O executivo lembrou que, para afugentar a crise e a falência e ter a estabilidade atual, a companhia teve que vender 25% de suas ações à transportadora franco-holandesa Air France-KLM, que pagou 310 milhões de euros para ter cota participativa, em 2009. — A nova Alitalia, Companhia Aérea Italiana, completamente 28

Alitalia investiu em tecnologia brasileira ao adquirir as aeronaves da Embraer em 2011

privada, surgiu das cinzas da antiga Alitalia, que chegou a encerrar suas atividades depois de muitos anos de dificuldades, causadas em primeiro lugar pelos altos custos e pela gestão estatal. Precisava de um parceiro industrial forte e preparado para acompanhar o plano de desenvolvimento nos anos seguintes, e identificou na Air France-KLM a companhia mais qualificada para isso. A Alitalia, hoje, é um exemplo de gestão e atenção aos custos, à alta produtividade e à constante evolução técnica — ressalta Sgro. Apesar da estabilidade atual da empresa, a crise que afeta a Itália a obrigou a reestruturar o quadro de empregados. Em outubro de 2012, foram demitidos 690 funcionários para economizar

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30 milhões de euros. Segundo a direção, foram cortados cargos excedentes, entre 300 assistentes de voo, 300 funcionários de terra e 90 de manutenção. Na ocasião, afirma Sgro, o CEO Andrea Ragnetti negociou com os representantes sindicais para que fosse encontrada uma “solução que permitisse gerar a economia necessária, sem reduzir os níveis ocupacionais”. Outro reflexo da crise sentida em agosto foram as enormes filas e o caos nos aeroportos italianos por conta da suspensão dos voos de outra companhia aérea, a Windjet, durante a alta temporada, o que fez com que a empresa italiana tivesse que disponibilizar voos especiais. Para Sgro, além de arruinar as férias de muitas pessoas, o fato comprovou a fragilidade das pequenas companhias aéreas. Investimento em tecnologia brasileira Apesar do cenário europeu de dificuldades e do aumento do preço da gasolina dos últimos anos, os italianos contam com uma das frotas mais jovens do mundo, inclusive jatos de curto e longo alcance, com 20 aeronaves entre Boeing 777 e Airbus 330, e 18 jatos da Embraer. Os Airbus 319, 320 e 321 completam a frota, que soma 140 aviões. A Alitalia investe cada vez mais em equipamentos brasileiros: os italianos veem na Embraer uma grande fornecedora que agrega aparelhos de alta tecnologia. Em 2011, a Alitalia analisou os aviões de fabricantes da Rússia e do Canadá, mas preferiu apostar no equipamento brasileiro. — A intenção é modernizar as estruturas para aumentar o número de destinos e voos. Em 2013, vamos operar rumo a novos destinos


internacionais, como Yerevan, Zurique, Praga e Tiblisi — enfatiza Sgro. Terreno fértil para investimentos: essa é a visão que a Alitalia tem do Brasil. Antonio Sgro afirma que o mercado brasileiro é para a empresa o terceiro maior no mundo, depois de Estados Unidos e Japão. A Alitalia tem nove voos semanais entre São Paulo e Roma e seis entre Rio e Roma, operados com o Boeing 777, que têm 293 lugares disponíveis, e com o Airbus 330, que dispõem de 224 lugares. Ambos são compostos pelas três classes: Magnifica (executiva, com poltronas que viram verdadeiras camas), Classica Plus (classe intermediária que poucas empresas têm) e a primeira classe. Aeroportos brasileiros não acompanham ritmo de crescimento Antonio Sgro ressalta a importância de se estreitar laços econômicos com o Brasil, mas alerta que a infraestrutura dos aeroportos no país ainda é precária. Um estudo de 2012 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 17 dos 20 principais aeroportos brasileiros estão em uma situação preocupante devido ao excesso de passageiros. Alguns não possuem sequer pistas pavimentadas ou equipamentos eletrônicos modernos. Doze operam acima do limite de sua capacidade, a exemplo do aeroporto internacional de São Paulo, o maior do país. Com capacidade para atender 24,9 milhões de passageiros por ano, em 2011 recebeu 30 milhões. De acordo com a pesquisa, somente os aeroportos de Porto Alegre, Salvador e Manaus funcionam em condições adequadas. O estudo

“O setor aéreo brasileiro incorpora luzes e sombras. De um lado, empresas excelentes como a Embraer se impõem no mundo e o país soube promover sua imagem internacional. De outro, a infraestrutura dos aeroportos não acompanhou esse crescimento” Antonio Sgro, diretor da Alitalia para América Central e do Sul ainda revelou que apenas 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado ao setor de transportes. — O setor aéreo brasileiro incorpora luzes e sombras. Se, de um lado, empresas excelentes como a Embraer conseguiram se impor no mercado mundial e o país soube levantar a própria imagem internacional e promover seus destinos, por outro, a infraestrutura não acompanhou esse crescimento. Hoje, os aeroportos brasileiros têm estruturas inadequadas para enfrentar o crescente fluxo de passageiros e garantir a eles a qualidade que merecem. Felizmente, o governo brasileiro tem aprovado reformas para que esse quadro mude — enfatiza Sgro. Além dos problemas estruturais nos aeroportos, o país registra altos índices de acidentes aéreos,

de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. O último relatório registrou 85 acidentes com aviões e helicópteros entre janeiro e junho de 2012 — um aumento de 6,2% em relação ao mesmo período de 2011, quando foram contabilizados 80 casos. Em 2010, foram 46 acidentes nos seis primeiros meses. Apesar dos resquícios históricos de problemas no setor aéreo brasileiro, Antonio Sgro é otimista quanto ao Brasil, país que atrai cada vez mais europeus para trabalhar e fixar residência. — O governo e todas as instituições brasileiras estão cientes do potencial do país e da necessidade de se continuar com os projetos de desenvolvimento e investimentos em determinadas áreas estratégicas, como distribuição de riqueza, incremento da qualidade escolar, segurança dos cidadãos e moralização da classe política. O futuro nos indicará se os esforços terão atingido o alvo — ressalta. Ele adianta que o balanço de 2012 da companhia no Brasil será muito positivo: fechará com um incremento do número de passageiros transportados e receita de mais de 30% em relação ao ano anterior e de mais de 60% em relação a 2010, contabiliza Sgro. A Alitalia, lembra o executivo, busca manter um padrão de qualidade e interagir com o público através das redes sociais Facebook e Twitter, nas quais apresenta promoções e novidades. — Em 2013, a Alitalia continuará reproduzindo o que o Belpaese tem de melhor, arte, enogastronomia, design e ambiente simpático. A empresa sempre vai fazer com que o cliente, logo que sentar na poltrona do avião, tenha a sensação de já estar na Itália — concluiu. comunit àit aliana | dez embr o 2012

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Eleições Italianas

Ao voto

Cerca de três milhões de pessoas no exterior devem votar nas eleições de 2013 que vão decidir quem será o próximo primeiro-ministro Stefania Pelusi, Nathielle Hó e Cintia Salomão Castro

N

o último dia 8 de dezembro, o premier Mario Monti comunicou ao presidente Giorgio Napolitano sua intenção de renunciar. As eleições parlamentares devem acontecer em um prazo máximo de 70 dias após o anúncio oficial da queda do governo, esperado para acontecer nas próximas semanas. O pleito deve acontecer até março de 2013 — e os cidadãos italianos que votam no exterior passam dos três milhões e podem ser decisivos na escolha do próximo presidente do Conselho de Ministros do país. De acordo com os dados do Ministério italiano do Interior, o percentual de participação entre os eleitores residentes no Brasil, nas últimas eleições de 2006, alcançou 43,60% para a Câmara dos Deputados e 40,32% para o Senado. Em um cenário de crise econômica e de medidas de austeridade, a tendência é que essa participação cresça para que haja mudanças, segundo o conselheiro consular da Embaixada da Itália no Brasil, Gabriele Annis. Muitos ítalo-brasileiros, ao receberem o formulário de votação pelo correio, manifestam o desejo de participar do processo democrático, mas muitos não sabem que órgãos devem procurar para obter informações sobre os candidatos e os partidos, e entender o processo de votação que escolhe o representante do governo parlamentarista italiano, que possui regras bem distintas do brasileiro, presidencialista. — A situação das contas públicas italianas impôs cortes de gastos na administração pública e na rede diplomático-consular, o que afeta as instituições no exterior. Para sair da crise, é necessário saber aproveitar as oportunidades que só surgem nos momentos de transição. As entidades italianas no exterior são chamadas a fazer um esforço de inovação e adaptação aos novos tempos e às novas circunstâncias — enfatiza o conselheiro da Embaixada italiana. O Embaixador da Itália, Gherardo la Francesca declarou à Comunità estar muito confiante O conselheiro consular Gabriele Annis destaca sobre as próximas eleições:

o papel da rede de associações, consulados e comitês dos italianos no exterior na hora de votar

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Uma semana de fogo D

epois de 13 meses à frente de um governo técnico, Mario Monti apresentou a sua renúncia ao presidente da República, Giorgio Napolitano. “Estou convencido de ter feito a coisa certa. Em qualquer caso, não poderia fazer outra coisa. Mas estou preocupado: não por mim, mas pelo que eu vejo”, afirmou o professor de 69 anos que assumiu o poder em 2011 no auge da crise financeira do país, após a demissão de Berlusconi. No início de dezembro, vários eventos levaram à crise de governo. 2 de dezembro: Pier Luigi Bersani ganha as primárias e se torna o candidato do partido de centro-esquerda, o Partido Democrático (PD), para as próximas eleições. Já o Povo da Liberdade (PDL) aguarda a decisão de Berlusconi se escolher outro líder do partido ou se ele vai se candidatar novamente. 6 de dezembro: O ministro do Desenvolvimento Econômico, Corrado Passera, afirma que “seria um erro para a Itália” uma possível candidatura de Berlusconi. O líder do PDL na Câmara, Fabrizio Cicchitto, comunica a decisão do partido de retirar o apoio ao primeiro-ministro em duas moções de confiança. 7 de dezembro: O governo lança decreto legislativo sobre a Ficha Limpa para mudar a muito criticada lei eleitoral atual. O secretário do PDL, Angelino Alfano, em discurso na Câmara dos Deputados, declara concluída a experiência do governo Monti e anuncia a retirada da confiança no Executivo. 8 de dezembro: O ex-premier Berlusconi surpreende com o anúncio da sua candidatura pelo centro-direita às eleições legislativas de 2013. No mesmo dia, Monti encontra o presidente Napolitano e anuncia que, após a aprovação da lei orçamentária de 2013, irá renunciar ao cargo.

— A instituição do voto dos italianos no exterior é relativamente recente e responde a intenção de envolver mais na nossa política. A nossa ambição declarada é fornecer aos nossos compatriotas um serviço mais eficiente e satisfatório — afirma. Ítalo-brasileiros se informam sobre os candidatos na internet Gianpietro Bosco, 36, vota há anos e se interessa por política italiana. O pai, que chegou ao Brasil vindo da Calábria aos 18 anos, o ajuda com informações na hora de escolher o candidato. — Meu pai é bem informado. Ele conhece mais os políticos e me orienta. Eu faço pesquisas na internet em sites, blogs e jornais, inclusive leio os comentários dos

Mario Monti apresentou sua intenção de renunciar ao cargo de primeiro-ministro no início do mês


italianos sobre o assunto. É mais ou menos o que eu faço durante as eleições brasileiras, pois acho a propaganda política mais confusa — conta. O empresário revela que gostaria de receber informações mais claras dos órgãos oficiais italianos. — Chega a ficha para votar, mas informações sobre os candidatos não há. Achei o texto do referendo (em junho de 2011) muito complicado, com uma ambiguidade que não deixava claro se você optava pelo sim ou pelo não. O texto veio com letras pequenas, sem tradução e com uma linguagem rebuscada e prolixa. Muitos amigos meus, cidadãos italianos, me ligavam com dúvidas porque não entendiam o que estava escrito. O italiano Roberto Max Storai Lucich mora no Brasil desde 1994 e conta que seus alunos sempre procuram esclarecer dúvidas sobre o voto. — Os italianos no exterior e os oriundos querem participar das eleições, não querem ser instrumentalizados. Querem manifestar appartenenza (sentimento de pertencer) a uma Itália que vai além das fronteiras geográficas. Hoje em dia, as novas tecnologias ajudam a informar. O professor lembrou uma cena que o impressionou muito: na fila para votar durante as primárias, conversou com uma senhora brasileira descendente de italianos. Ele perguntou por que se interessava tanto pelo Belpaese e ela respondeu que era uma lembrança de seus bisavós, que sofreram tanto para dar uma vida melhor aos filhos e que, por isso, aproveita qualquer oportunidade que tem para manifestar a sua cidadania. O professor de italiano em Brasília, Roberto Max Storai Lucich, acredita que os italianos no exterior procuram cada vez mais se informar sobre candidatos e partidos

Conheça os procedimentos para votar nas eleições italianas Para exercer o direito de voto, o italiano residente no exterior deve estar inscrito no AIRE (Anagrafe degli Italiani Residenti all’Estero), órgão que cadastra os emigrantes de acordo com a circunscrição consular. A solicitação de inscrição pode ser feita através de carta endereçada ao Ufficio AIRE do consulado de sua residência. De acordo com o site do Consulado, é possível fazer a inscrição através do envio de um email e documentos. Os cidadãos que transferem a residência por um período superior a 12 meses têm a obrigação de comunicar ao consulado competente territorialmente, no prazo de 90 dias, a sua chegada ao país. Também devem informar sobre qualquer alteração de estado civil, mudança de residência e alteração do núcleo familiar. O consulado atende somente às pessoas inscritas no Ufficio AIRE, daí a importância da inscrição e da atualização do cadastro. Para registrar-se no AIRE, os documentos necessários são formulário de requerimento preenchido (pode ser obtido no site do consulado) e comprovante de residência. Para ítalo-brasileiros, também é requerida uma fotocópia da carteira de identidade. Caso o reconhecimento da cidadania italiana tenha sido feito diretamente na Itália, é necessário anexar um original do Certificato di Cittadinanza, além da fotocópia autenticada do passaporte italiano ou da identidade italiana. Três semanas antes da data da eleição, os consulados enviam aos eleitores a cédula eleitoral, a lista dos partidos políticos e dos candidatos. As instruções são bilíngues e a cédula vem somente em língua italiana. Diferente das eleições eletrônicas brasileiras, o voto é realizado através da cédula em papel, que deve ser enviada pelo correio de volta para o consulado dentro da data especificada nas instruções. Os eleitores podem optar por votar na Itália. Neste caso, votam na circunscrição do território nacional. Para se beneficiar desta possibilidade, o eleitor deve preencher o formulário encontrado nos sites dos consulados, assiná-lo e devolvê-lo, acompanhado de uma cópia do documento de identidade do eleitor. Segundo a Constituição da Itália, pode-se votar a partir dos 18 anos para a Câmara dos Deputados e dos 25 para o Senado. Na Itália, o voto não é obrigatório.

Já as ítalo-brasileiras Heloisa e Paula Roure acham os formulários de votação e o sistema de envio simples e descomplicados, porém gostariam de receber um informativo após o resultado do pleito. — Seria interessante o envio de informações sobre os percentuais de votos de cada candidato e qual foi a participação dos brasileiros com a cidadania italiana — comenta Heloisa, aposentada e ex-servidora pública que aprende italiano junto às filhas. Como Gianpietro, elas também pesquisam na internet para conhecer os candidatos, além de assistirem aos noticiários e conversarem com pessoas que tem contato com residentes na Itália. Outra sugestão da família Roure é que as eleições sejam comunicadas com antecedência para que os eleitores tenham mais tempo de buscar mais informações sobre os políticos e, assim, fazer uma escolha mais adequada. O conselheiro da Embaixada, Gabriele Annis, lembra que o acesso a notícias sobre candidatos, partidos políticos, leis e melhorias

sociais ficou mais fácil por causa da internet e dos canais televisivos de transmissão internacional. — A rápida difusão de notícias pela internet permite hoje, mais do que no passado, o acesso a informações sobre os programas dos partidos. Além disso, a RAI em sua transmissão internacional divulga notícias completas sobre as eleições. É também muito importante o papel da rede composta por 461 associações, dos 101 consulados honorários presentes no Brasil e dos órgãos representativos como os Comites, os Comitês dos Italianos no Exterior, e o CGIE, Comitê Geral dos Italianos no Exterior — ressalta. O conselheiro ainda lembra que cada vez mais italianos e descendentes tem procurado informações sobre as eleições para poder participar e que o nível de abstenção tem diminuído. Na Itália, diferentemente do Brasil, o indivíduo não corre o risco de ter que justificar sua ausência, nem paga multas ou é impedido de exercer cargos públicos ou de tirar o passaporte ou carteira de identidade.

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Política

A vitória de Bersani Bersani vence as eleições primárias e vai representar a centro-esquerda na disputa pelo cargo de premier italiano em 2013 Gina Marques

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om a vitória nas primárias, Pier Luigi Bersani, de 61 anos, será o candidato de centro-esquerda na eleição à presidência do Conselho de Ministros da República italiana, marcada para acontecer na primavera de 2013. Ele venceu o segundo turno com mais de 60% sobre Matteo Renzi, de 37 anos. O resultado demonstra a clara preferência dos eleitores pela continuidade da liderança do atual secretário do Partido Democrático (PD). Segundo as pesquisas, o PD é o favorito para vencer o pleito nacional do próximo ano, e não só por ser a opção política mais compacta. A centro-direita italiana está fragmentada em uma profunda crise depois da queda do governo de Silvio Berlusconi. As primárias serviram também para revitalizar a vontade de política de três milhões de eleitores nesta Itália governada pelo professor Mario Monti e sua equipe de tecnocratas. A campanha foi acirrada entre Bersani e Renzi, que é prefeito de Florença. O jovem alfinetava o secretário ao propor-se como renovador e única esperança de mudança. No primeiro turno, concorriam outros três candidatos: Nichi Vendola, do partido Esquerda Ecológica e Liberdade; Laura Puppato, do PD; e Bruno Tabacci, do Grupo Misto. No segundo turno, os “perdedores” decidiram apoiar Bersani. Matteo Renzi reconheceu a derrota, cumprimentou o ganhador e descartou qualquer tipo de polêmica dizendo “seremos leais”. Porém, durante a campanha das primárias e sobretudo nos últimos 15 dias, parecia claro que, entre o veterano Bersani e o jovem prefeito Renzi, não havia nem simpatia, nem pontos em comum. Nos debates televisivos, os candidatos diziam na cara um do outro os recíprocos defeitos. Bersani acusou o jovem rival de negociar que sua campanha fosse financiada por Davide Serra do hedge fund (fundo de cobertura) Algebris, uma holding com sede no paraíso fiscal das ilhas Cayman. 32

o interesse no assunto, já que as pesquisas apontavam a existência de uma opinião pública desiludida com a classe política em geral. Estas primárias também fizeram os eleitores de centro-esquerda se perguntarem se o poder deve estar mais ao centro ou mais à esquerda, e se os velhos princípios ainda estão em vigor ou se novos são necessários. Ou ainda se o candidato deve ser um antigo comunista com ampla carreira política e experiência de governo, ou um jovem católico que abraça valores da economia privada, do mercado e do pragmatismo. As primárias serviram de exemplo para outros partidos, como o Povo da Liberdade (PDL) de Berlusconi que, no dia 8 de dezembro anunciou a sua candidatura pela centro-direita às eleições de 2013.

De Roma

— Acho que alguém baseado em Cayman não deveria nem falar, nem dar conselhos — declarou. Já Renzi convidava os eleitores a se desfazerem da velha guarda “que durante a vida inteira não fez nada além de política”. No entanto, foram estas diferenças que fizeram acordar a centro-esquerda italiana e recuperar

Pier Luigi Bersani do Partido Democrático (PD), após vitória nas eleições primárias sobre o rival Mateo Renzi, será o candidato de centroesquerda na eleição parlamentar de 2013

O secretário do PD, Pier Luigi Bersani, venceu com 60,8% dos votos o prefeito de Florença, Matteo Renzi, que obteve 39% do total

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Bersani ocupou três ministérios entre 1996 e 2008 Pier Luigi Bersani nasceu em Bettola, província de Piacenza, na região da Emília-Romanha, em 29 de setembro de 1951. — A minha família é de artesãos. Meu pai Giuseppe era mecânico e tinha um posto de gasolina. Depois de ter cursado o ensino médio em Piacenza, me inscrevi na universidade de Bolonha, onde me diplomei em Filosofia, com uma tese sobre São Gregório Magno — conta Bersani em seu site de campanha. Casado com Daniela desde 1980, tem duas filhas, Elisa e Margherita. Depois de uma breve experiência como professor, se dedicou totalmente à política. É secretario do Partido Democrático desde 2009. Foi presidente da Região Emília-Romanha entre 1993 e 1996, além de ministro da Indústria, Comércio e Artesanato nos primeiros governos de Romano Prodi e de Massimo D’Alema. Foi ainda ministro dos Transportes e da Navegação nos segundos governos de D’Alema e de Giuliano Amato, e ministro do Desenvolvimento Econômico no segundo governo Prodi.


Política

Acervo de chumbo Documentos, fotos, vídeos e reportagens sobre a ditadura militar brasileira serão cedidos por fundação italiana ao país Andre Batista

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ilhares de arquivos históricos sobre a ditadura militar brasileira pertencentes à Fundação Lelio e Lisli Basso serão digitalizados na Itália e doados ao Brasil para que componham parte significativa do futuro Memorial da Anistia. A previsão de inauguração do memorial é outubro 2013. A partir dessa data, documentos, vídeos, fotos e reportagens serão disponibilizados para que os cidadãos possam entender melhor o nebuloso período pelo qual o país passou entre 1964 e 1985. O projeto do memorial ganhou a simpatia de Dilma Rousseff (então ministra da Casa Civil) por dois principais motivos. O primeiro é que a sua construção faz parte de um projeto maior, chamado Memórias Reveladas e que ela ajudou a idealizar, cuja função é instalar centros de referência sobre o regime em várias partes do país. Em um segundo momento, o local escolhido para a sua implantação também pesou para conquistar a atenção de Dilma. A sede será no Colégio de Aplicação da UFMG, conhecido como “Coleginho”, em Belo Horizonte. Foi ali que a então estudante Dilma iniciou sua luta contra a ditadura, através do grupo de militância Comando de Libertação Nacional, o Colina, grupo que defendia a luta armada contra o regime. Em nota, o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, enalteceu o compromisso firmado entre o Ministério da Justiça e a Fundação para implantar o museu: — É um passo à frente para afirmar o Memorial da Anistia vocacionado como espaço de preservação da memória a partir da narrativa e do testemunho das vítimas — resume. No total, a fundação italiana digitalizará cerca de 70 mil páginas. Esses documentos se referem ao Tribunal Russel II, ao Tribunal Permanente dos Povos e ao I Congresso Nacional da Comissão

Brasileira pela Anistia, realizado em 1978, em São Paulo. Além dos textos, o acordo prevê a recuperação de fotografias e vídeos, a realização de pesquisas e a reedição de livros que serão publicados através do projeto Marcas da Memória, criado pela Comissão da Anistia.

O presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão: a iniciativa da fundação italiana de digitalizar e doar documentos sobre a ditadura militar brasileira é importante para a democracia

Entenda por que documentos brasileiros estão na Itália Após a Guerra do Vietnã, os filósofos Bertrand Russel (britânico) e Jean-Paul Sartre (francês) decidiram investigar os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos. Era de conhecimento público que o governo norte-americano havia praticado atitudes proibidas pelos tratados mundiais a respeito das guerras, mas ninguém reunia forças para questionar tais atitudes. Os pensadores criaram, então, o Tribunal Russel-Sartre, mais conhecido como Tribunal Russel, que investigou, recolheu documentos, testemunhos e provas — e as exibiu. O tribunal foi ignorado pelos Estados Unidos, mas teve grande repercussão ao redor do mundo, dando origem a outros julgamentos nos mesmos moldes, também chamados de Russel. O então senador italiano Lelio Basso, do PSIUP (Partito Socialista di Unità Proletária), tomou conhecimento das atrocidades cometidas pelas ditaduras na América do Sul. Na década de 1970, ele criou o Tribunal Russel II, que realizou audiências em Roma e em Bruxelas. Todas contaram com o apoio de organizações internacionais que denunciavam as violações dos direitos humanos na América Latina. O Tribunal foi criado através da união de uma rica biblioteca particular de Basso e do acervo do Istituto per lo Studio della Società Contemporânea, o Issoco. Tais audiências deram origem a órgãos importantes na defesa dos direitos humanos, como o Tribunal Permanente dos Povos. O papel ativo de Lélio Basso, nascido na Ligúria, rendeu à fundação italiana diversos documentos importantes que podem revelar fatos da época. Em vídeo publicado no blog do Ministério da Justiça, Paulo Abrão garante que, com a vinda do material, “nós teremos de um lado o acervo das vítimas perseguidas dentro do país e de outro o acervo da resistência no exterior”. Ambos demonstram a “força da sociedade quando ela é capaz de reagir contra a opressão, contra a restrição à suas liberdades e na luta em favor da democracia e dos direitos humanos”, completa.

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Notícias

Maricá na Itália

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prefeito de Maricá (RJ) Washington Quaquá (foto) falou sobre as possibilidades de investimentos na cidade fluminense para 80 empresários em Roma, no final de novembro. A conferência fez parte de uma missão oficial de seis dias na capital italiana, que incluiu reuniões com grupos interessados em investir na região. Na ocasião, foram firmadas parcerias entre o município brasileiro e o governo italiano para a instalação de uma indústria de produção de

Investimentos no Vêneto

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ma missão da Confindustria de Veneza trouxe ao Brasil empresários com o objetivo de atrair investimentos brasileiros à região. O presidente da organização veneziana, Luigi Brugnaro, e o secretário de Turismo e Comércio Exterior do Vêneto, Marino Finozzi (foto), destacaram a importância de se estreitar os laços com o Brasil. Finozzi ainda destacou que o país está entre as dez principais nacionalidades que visitam as cidades vênetas. São Paulo recebeu a missão em 27 de novembro e a capital fluminense, entre os dias 29 e 30. O encontro organizado pela Câmara Ítalo-Brasileira do Rio incluiu um seminário no Consulado com a participação do cônsul Mario Panaro e do diretor do Centro Internacional de Negócios da Firjan, Amaury Temporal. Participaram dos encontros oito empresas venezianas e 20 fluminenses. Entre os setores abordados, estavam o metalúrgico, o metal-mecânico, o imobiliário e os call centers. De acordo com Finozzi, as exportações de Veneza para o Brasil devem ultrapassar os 460 milhões de euros em 2012, o que representa um aumento de 24,5% se comparado a 2011.

placas fotovoltaicas, a construção de uma indústria de lixo e resíduos orgânicos e a instalação de um pólo da UniNetuno. Além disso, uma universidade italiana de ensino à distância oferecerá cursos técnicos de gastronomia, moda e turismo. Também está prevista a construção de um pólo de indústria náutica de barcos esportivos em Ponta Negra. Diversos empresários agendaram visitas em Maricá para janeiro de 2013 com o objetivo de aprofundar as possibilidades de investimento na cidade.

Assinatura: 1 ano = R$ 118,00 2 anos = R$ 199,00

Endereço para envio: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050


Notícias

O trem de duas nacionalidades

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Itália e a França assinaram um acordo para a construção da ferrovia onde irá passar o Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Turim e Lion. As obras devem começar no início de 2014. O premier Mario Monti foi recebido em Lion pelo presidente francês François Hollande. Também

Antissemitismo em Roma

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m ataque brutal contra torcedores do clube de futebol inglês Tottenham Hotspur, em Roma, alimentou os temores na Itália com relação ao crescimento da violência antissemita. A cidade é atingida por um aumento da militância da extrema direita desde outubro, com manifestações dos jovens neofascistas do Blocco Studentesco que costumam terminar em confrontos com a polícia. O Tottenham tem muitos torcedores judeus, que foram agredidos em um pub onde bebiam, após o jogo contra a Lazio em novembro. Dez pessoas foram feridas no ataque. O embaixador de Israel na Itália, Naor Gilon, salientou que a ação é oriunda de “uma nova tendência de antissemitismo na Europa”. O prefeito de Roma, Gianni Alemanno, anunciou a destinação de 21 milhões de euros para o Museu do Holocausto “a fim de dar uma resposta imediata” aos sinais de antissemitismo registrados na cidade”.

participaram do encontro os ministros italianos das Relações Exteriores, Giulio Terzi; do Interior, Annamaria Cancellieri; do Desenvolvimento Econômico, Corrado Passera; da Educação, Francesco Profumo; e o vice-ministro da Infraestrutura, Mario Caccia. Durante o encontro, algumas pessoas se manifestaram contra a construção do TAV em frente à prefeitura de Rhone.


O que Niemeyer

sonhou

para a

Itália

O legado que o maior dos arquitetos brasileiros deixa ao Belpaese inclui quatro monumentos realizados e projetos que nunca saíram do papel

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Cintia Salomão Castro

ma das principais características do mais influente arquiteto brasileiro de todos os tempos era a exaltação da beleza nas construções. Para ele, ela era a própria função da forma. Certa vez, em entrevista à jornalista italiana Antonella Rita Roscilli, Oscar Niemeyer declarou que percorrer a Itália significava encontrá-la por toda a parte — justamente, a beleza — e de modo sempre surpreendente e renovado. No Belpaese, o homem que desenhou os principais monumentos de Brasília deixou quatro obras realizadas e três projetos que nunca saíram do papel, guardados com tremendo carinho por seus colegas italianos, embora sejam pouco ou nada conhecidos no Brasil. Os laços com o país de Andrea Palladio começaram cedo: sua primeira esposa, Annita Baldo, com quem se casou aos 21 anos e teve sua única filha, Anna Maria, era filha de um imigrante de

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Padova, cidade a qual, sete décadas depois, presentearia com um projeto. O Palazzo dei Congressi foi desenhado por ele em 1988 para ser inserido atrás do edifício do antigo Foro Boario, próximo ao Prato della Valle, cartão-postal da cidade. A região do Vêneto é dona de pelo menos três “sonhos” de Niemeyer. Além do centro de convenções para Padova, ele desenhou uma ponte para Veneza e, juntamente com o amigo e também arquiteto Federico Motterle, em 1978, esboçou um teatro para Vicenza. Niemeyer dizia que em solo italiano cultivava muitas amizades. O sociólogo Domenico De Masi, um dos principais artífices da construção do famoso teatro de Ravello, era um deles. — Sinto uma imensa dor — confessou à ComunitàItaliana poucos dias após a morte do autor do projeto dos Cieps, escolas

Um centro de convenções para Padova, um teatro para Vicenza e uma ponte para Veneza: projetos de Niemeyer feitos entre os anos 1970 e 1980 que nunca saíram do papel

públicas do Rio idealizadas por Darcy Ribeiro. Os maiores arquitetos da atualidade, como a iraquiana Zaha Hadid e o espanhol Santiago Calatrava se declaram influenciados pelas inconfundíveis curvas de Niemeyer. Para De Masi, isto é um feito que merece ser ressaltado. — A coisa mais importante de todas é que, antes dele, toda a arquitetura era criada no primeiro mundo e imposta ao terceiro. Vejamos as casas coloridas alemãs de Blumenau, por exemplo. Niemeyer foi o primeiro a romper com isso, criou uma arquitetura e a impôs aos países do primeiro mundo. Em Paris, Londres, Turim e Madrid, em todos esses lugares está a sua marca – afirma o autor de O ócio criativo. O modernismo futurista de Niemeyer em plena Campânia O anfiteatro de Ravello, conhecido como auditório de Oscar Niemeyer, é a obra mais conhecida do brasileiro em solo italiano, e também a mais recente, inaugurada em 2010. O governador da região da Campânia na época, Antonio Bassolino, quando soube da sua morte, escreveu em sua página do Twitter, “Um adeus afetuoso e um obrigado a Oscar Niemeyer. Colocou um grande amor na projetação do auditório de Ravello”. Nos anos que seguiram à sua projetação, o teatro foi alvo de polêmicas e críticas da parte dos defensores da tradição

A ponte para Veneza desenhada por Niemeyer em 1985 (croqui abaixo) é caracterizada por uma arcada única, inspirada nos vaporetti — as típicas barcas da cidade dos canais. A ideia era propô-la para ficar junto à Accademia delle Belle Arti di Venezia (foto ao lado). Atualmente, o que existe no local é apenas uma ponte provisória de madeira

patrimonial, que não viam com bons olhos aquele imenso sinal futurista e fortemente contemporâneo em um território repleto de monumentos seculares. Inaugurado em 2010 com um formato curvilíneo, foi concebido para abrigar o Ravello Festival e chegou a receber artistas como Lucio Dalla. — A beleza local é medieval e colocar uma obra de arte contemporânea assim, revolucionária, exigiu seis anos de debate,

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discussões e autorizações — recorda o sociólogo Domenico De Masi, ex-presidente da Fundação Ravello. As críticas italianas ao projeto estiveram entre as apreciações desfavoráveis que o ganhador do prêmio Pritzker de arquitetura de 1988 recebeu ao longo da carreira iniciada como estagiário no escritório de Lúcio Costa. Entre as principais avaliações negativas, está o desinteresse pelo que cercava

O arquiteto com o sociólogo italiano Domenico De Masi: uma parceria que resultou na construção do teatro de Ravello, situado na Costa Amalfitana, onde causou polêmica entre os mais tradicionalistas

seus monumentos, entre ruas, acessos a meios de transporte e cidades vizinhas, e o desprezo pela funcionalidade. O fato é que, ao declarar seu amor pelas curvas e confirmar que sua inspiração vinha das formas sinuosas e arredondadas da geografia carioca, construiu uma marca registrada tão brasileira e inconfundível a ponto de ser um dos poucos arquitetos conhecidos em todo mundo pelo público não especializado e de Darcy Ribeiro ter dito que será o autor do único testemunho de nossa civilização daqui a mil anos. O arquiteto vicentino Luca Biancoviso, estudioso de sua obra,

“Preciosa herança” Curador de cinco mostras dedicadas ao gênio brasileiro realizadas em solo italiano, o arquiteto Luca Biancoviso, de Vicenza, cidade famosa por reunir monumentos de Andrea Palladio, fala do legado deixado por Niemeyer ao Belpaese

C

omunitàItaliana: Que legado Niemeyer deixa à Itália? Luca Biancoviso: Deixa uma herança preciosíssima em território italiano: as quatro arquiteturas realizadas aqui (as sede da Mondadori, da Fata Engineering, da Burgo e o auditório de Ravello) são obras já presentes nos livros de arquitetura e constituem há décadas uma referência para a projetualidade de muitíssimos arquitetos de todo o mundo. Há outro aspecto importante: estou certo de que ele, trabalhando ao lado de vários projetistas italianos em cooperação, entre eles, o meu caro amigo Federico Motterle, tenha influenciado de um modo ou de outro os próprios colegas italianos, deixando assim inclusive uma herança cultural, impalpável, que acredito tenha ficado impressa em quem teve a sorte de colaborar com ele. Eu mesmo, como vários colegas da minha idade, sempre fui fascinado pela sua genial personalidade, não apenas pelo magistral trabalho desenvolvido no campo da arquitetura internacional, mas também pelo forte caráter extremamente coerente, expresso na sua arquitetura. Então, esse é outro lado da sua herança, a qual, todos, até hoje, devemos aprender: a generosidade, o amor incondicional pelas próprias ideias e o próprio trabalho, que não é outra coisa que um meio de expressar as ideias.

Os arquitetos italianos Luca Biancoviso e Carlotta La Jacona encontram Oscar Niemeyer

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“Toda a arquitetura era criada no primeiro mundo e imposta ao terceiro. Niemeyer foi o primeiro a romper com isso. Ele criou um estilo e a impôs aos países do primeiro mundo. Em Paris, Londres, Turim e Madrid vemos a sua marca”

CI: Você acredita que os projetos inéditos feitos por Niemeyer para a Itália tenham alguma chance de serem realizados? LB: Ver tais projetos realizados seria um sonho para mim e para muitos que estimam a sua arquitetura. De qualquer forma, é muito difícil que isso possa acontecer. A mostra que curei em Padova, em 2010, tinha, devo admitir, a finalidade de reacender o conhecimento sobre um projeto que, em 1988, foi literalmente esquecido, e cuja memória então refrescamos até para contrapor aquela magnífica e exemplar arquitetura ao projeto de um banal centro comercial que o Comune de Padova intencionava realizar na mesma área (adjacente ao Prato della Valle). Ao final, o centro comercial não será construído, e gosto de pensar que isso seja um pouco mérito da nossa mostra. Já na minha cidade, Vicenza, foi construído, nos últimos anos, ainda que com grande atraso em relação ao projeto de Niemeyer, um Teatro Civico, que engloba a função proposta por ele em 1978. Aquele projeto, recusado na época pelo Comune de Vicenza, foi revisitado, sucessivamente, para fazer o Teatro Estadual de Araras.

lembra que é notório como soube sempre encontrar inspiração para os seus trabalhos na natureza e na paisagem da sua terra natal, “do arremesso curvilíneo do Pão de Açúcar e dos relevos da costa brasileira que se jogam diretamente no oceano, às linhas moles das praias apreciadas da janela do seu escritório no Rio de Janeiro, e talvez graças às belas mulheres que naquelas praias se deitam para se bronzear”.

CI: E a ponte feita para Veneza? LB: Quanto à ponte que ele desenhou para a área da Accademia di Venezia, podemos ter ainda esperanças de que seja levado em consideração se o Comune de Veneza quiser realizar uma obra definitiva, já que atualmente o que existe é uma ponte provisória de madeira. Recentemente, a cidade recebeu uma ponte nova sobre o Canal Grande, em um projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Apesar da sua beleza, é mais lembrado pelos problemas de construção e de gestão do que pela sua arquitetura. Porém, os problemas econômicos e políticos que atravessam a administração pública italiana atualmente não facilitam a construção de um desses projetos magníficos. Nesse sentido, a realização do auditório de Ravello foi quase um milagre.

Edifícios comerciais estão no Piemonte e na Lombardia O norte da península italiana reúne três obras do arquiteto que se declarava comunista até os seus últimos dias. Quis o destino que fossem sedes de grandes empresas e indústrias. O Palazzo Mondadori, da editora Mondadori, foi inaugurado em 1974 em Segrate, na província de Milão, e é considerado um dos mais representativos

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Domenico De Masi, sociólogo italiano


O teatro projetado para Vicenza era destinado à área verde do centro histórico da cidade, onde ficava o Teatro Municipal, destruído pelos bombardeios das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial. A proposta feita por Niemeyer, junto com Federico Motterle, não foi aceita sobretudo por falta de um acordo em relação à sua gestão. A área é ocupada atualmente por um estacionamento subterrâneo. O projeto espelha bem as características do vocabulário arquitetônico do brasileiro: um grande pórtico para pedestres (com lojas e escritórios) que circundava duas torres altas cilíndricas, onde haveria um centro de convenções e um hotel com serviços. A parte externa seria em cimento pintado de branco, explica o arquiteto italiano Luca Biancoviso

projetos de toda a sua obra, inspirada no Palácio do Itamaraty. O empresário Giorgio Mondadori ficou impressionado com os desenhos feitos por Niemeyer em 1968. Seis anos depois, era inaugurada a estrutura que até hoje abriga a direção, a redação e a parte administrativa de uma das mais importantes casas editoriais italianas. Os arcos cercados por espelhos d´água e lagos artificiais remetem inevitavelmente a Brasília. Já a sede da Burgo Group, fabricante de papéis, em San Mauro Torinese, foi realizada entre 1978 e 1981. Um ano antes de iniciado o canteiro de obras, o projeto mereceu a capa da revista Domus, em 1977. O complexo tem instalações que “parecem remeter à cidade-satélite de odisséia no espaço, uma grande roda para exaltar os momentos funcionais da sua organização interna”, comentavam os arquitetos na época. O complexo chegou

As exposições A

Itália não esperou fazer uma homenagem póstuma a Niemeyer: de Turim a Ravello, o país realizou diversas exposições sobre a sua carreira. Entre 2007 e 2008, a exposição Oscar Niemeyer: Arte, Città e Paesaggio, curada por Salvino Campos, passou por Roma (Faculdade de Arquitetura Roma Tre, Embaixada brasileira e galeria Candido Portinari), Nápoles (Palazzo Reale) e Vicenza (Stamperia Busato). Em 2008, foi a vez de Turim: o Politecnico di Torino promoveu a mostra Oscar Niemeyer Cento Anni. Um ano antes, Benevento organizou, no Palazzo Paolo V, Oscar Niemeyer - A arte de projetar. Em 2010, as autoridades padovanas promoveram a exposição Oscar Niemeyer Un Progetto per Padova (cartaz da foto). O assessor para a Cultura de Padova, Andrea Colasio, ressaltou que o foco era exibir os projetos criados para a cidade e que, para isso, trazia, pela primeira vez, esboços originais como o projeto do Palazzo dei Congressi. A cura foi do arquiteto vicentino Luca Biancoviso, presidente da associação cultural Independent Event Center, condutora de um extenso trabalho de pesquisa sobre o brasileiro que rendeu outros frutos como a retrospectiva 101% Oscar Niemeyer: l’arte di progettare, hospedada em Vicenza, Benevento e Veneza em 2009, e Oscar Niemeyer: architetture italiane, realizada especialmente para a inauguração do auditório de Ravello em 2010. Biancoviso conta que em agosto de 2010 propôs ao Museu Nacional de Brasília que acolhesse a mostra Oscar Niemeyer, Architetture Italiane, a mesma que passou por Ravello, mas que nunca recebeu resposta. — No ano passado, conheci, em São Paulo, o diretor do Instituto Italiano de Cultura e ele também se mostrou favorável à ideia de levar a mostra ao Brasil, mas isso dependia dos financiamentos italianos e não havia orçamento — conta o arquiteto de Vicenza, que ainda espera encontrar alguma instituição interessada em trazer os projetos criados por Niemeyer especialmente para a Itália.

a receber em 2011 uma exposição organizada pela prefeitura da cidade: Oscar Niemeyer a San Mauro, 1981-2011, trent’anni della sede Burgo. Concebida para comemorar os 30 anos da sede, virou uma homenagem ao mestre que morreria apenas um ano depois. Também datam dos anos 1970 os grandes arcos longitudinais que marcam a fachada da sede da empresa Fata Engineering, hoje Fata Group do grupo Finmeccanica, em Pianezza, na província de Torino. Foi realizada entre 1976 e 1981 em um projeto assinado em conjunto com o italiano Riccardo Morandi. Em 2007, o autor do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e do Memorial da América Latina chegou a receber uma homenagem oficial do Estado italiano. O presidente Giorgio Napolitano concedeu-lhe a

ordem de Grande Ufficiale dell’Ordine della Stella della Solidarietà Italiana, uma Medalha de Cavalheiro da República italiana, entregue pelo então embaixador Michele Valensise, no Rio de Janeiro.

A sede da Mondadori, situada em Milão, foi inaugurada em 1975

Parte do projeto criado por Niemeyer para ser o Centro de Convenções de Padova em 1988

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Saudosa parceria O arquiteto de Vicenza, Federico Motterle, fala das lembranças de uma amizade que durou mais de três décadas, período em que fizeram vários projetos destinados a cidades italianas Cintia Salomão Castro

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arquiteto Federico Motterle, hoje com 76 anos, foi o grande colaborador italiano de Oscar Niemeyer. Em um arco de 30 anos, atravessou o oceano mais de 40 vezes para encontrar o brasileiro, com quem projetou a sede da Burgo Group, em San Mauro Torinese, construída entre 1978 e 1981. Juntos, entre os anos 70 e 80, “sonharam” um teatro cívico para Vicenza e um grande auditório para Padova, que funcionaria também como centro de convenções. Os dois se conheceram através do arquiteto brasileiro Glauco Campello, que colaborou com a construção de Brasília e representava Niemeyer junto à Mondadori na época da construção da sede de um dos maiores grupos editoriais do país. Em entrevista à Comunità, Motterle lembra que, à época da inauguração da sede da Mondadori, nos anos 1970, o autor das famosas cúpulas do Congresso Nacional era muito criticado na Itália, mas que, agora, é “muitíssimo” apreciado.

O Palazzo Ducale, obra-prima do gótico veneziano, era um dos momentos italianos mais admirados por Niemeyer

ComunitàItaliana - Como foi projetar o grande auditório para a cidade de Padova? Federico Motterle - Na verdade, era um grande teatro. Niemeyer queria saber como viviam os padovanos. Então eu lhe expliquei que eles gostavam de caminhar ali, uma área grande. Então, ele pensou em fazer uma grande escadaria para que fosse aproveitada a parte de cima do teatro. CI - Quando esteve com Niemeyer da última vez? FM - Foi há três anos, quando estive com minha esposa em seu escritório, no Rio. Estive no Brasil umas 40 vezes para encontrá-lo e fazermos os projetos juntos. Quando soube que ele estava muito doente, fiquei muito triste. E quando ouvi a notícia da morte, provei uma grandíssima dor. 40

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CI - Que lembrança tem do amigo e colega Niemeyer? FM - Tocava-me o seu modo de projetar e a sua grande capacidade de síntese. Ele primeiro colocava os problemas, e depois chegava a uma síntese. E tinha uma humanidade incrível, que me tocava muito. Ao sairmos do seu escritório, quando íamos jantar, se encontrássemos um menino de rua, ele primeiro lhe dava algo para comer, e só depois, então, íamos fazer a nossa refeição. CI - Como a obra de Niemeyer era vista na Itália? FM - Há 30 anos, na época em que projetou a sede da Mondadori, era muito criticado por causa do seu modo particular de fazer arquitetura. Agora todos o apreciam muitíssimo. Ele superou a etiqueta da arquitetura racionalista e orgânica, aspectos que juntava, mas foi além disso. CI - Quais monumentos da Itália ele mais apreciava? FM - Ele gostava muito do Palazzo Ducale, de Veneza (obra-prima do gótico veneziano) do modo como é feito, por ser cheio em cima e vazio na parte de baixo.

Assinado por Oscar Niemeyer e Federico Motterle, o projeto de um grande teatro que funcionaria como centro de convenções para a cidade de Padova, situada no Vêneto, data de 1988. A sobriedade das formas e a volumetria reduzida foram pensadas para respeitar a monumental praça do Prato della Valle, da qual seria limítrofe. A sala do auditório proporcionava um visual que se abria, de modo que o parque externo servisse de cenografia natural. O croqui foi apresentado ao Comune (prefeitura) de Padova, mas o curador da mostra Oscar Niemeyer: architetture italiane, Luca Biancoviso, não encontrou mais nenhum rastro do material junto aos arquivos oficiais da cidade, de onde parece ter desaparecido. As tabuletas originais, porém, foram inesperadamente encontradas no vasto arquivo pessoal de Motterle, o que tornou possível conhecermos hoje a ideia original. “Fica o nosso grande remorso de não ter sabido ou podido dar continuidade à hipótese de Niemeyer para a realização do centro de convenções-auditório no Prato della Valle. Um projeto que teria sabido conjugar a sua audaciosa concepção arquitetônica com aquela que é com certeza uma das mais bonitas praças do mundo”, declarou à Comunità o secretário de cultura da cidade de Padova, Andrea Colasio, que classificou o arquiteto brasileiro como uma das figuras mais importantes que marcaram profundamente a história da arquitetura internacional


Do Itamaraty para Milão Glauco Campello, arquiteto que representava Niemeyer junto à Mondadori, revela o clima amigável que existia entre o gênio brasileiro e o dono de um dos maiores grupos editoriais da Itália Cintia Salomão Castro

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arquiteto Glauco Campello era o representante do escritório de Oscar Niemeyer junto à editora Mondadori, uma das maiores da Itália. O criador das colunas do Palácio da Alvorada foi contratado por Giorgio Mondadori para criar a nova sede da empresa, na efervescente província de Milão dos anos 1970. Fascinado pelo Palácio Itamaraty, o empresário italiano solicitou a Niemeyer que adotasse no projeto o motivo dos arcos do monumento de Brasília. Glauco Campello, que participou da construção da Capital Federal, morou em Milão entre 1971 e 1975 para acompanhar o projeto. Ele conta que Niemeyer pegava o avião para ver o canteiro de obras quando podia, geralmente quando ia a Paris, cidade onde também assinava projetos. Ambos foram muito bem recebidos na Itália, recorda. — A relação entre Giorgio Mondadori e Niemeyer era de amizade e admiração. O empresário italiano respeitava a criação e o projeto arquitetônico. Dava sugestões, mas sempre com respeito — revelou à Comunità. O francês era o idioma usado na maior parte do tempo entre o arquiteto e Mondadori, e não havia problema de comunicação, lembra Campello. — Sempre com aquela simpatia, Niemeyer conseguia se comunicar. Se preciso fosse, ele gesticulava. Conversava com todos, era muito querido pelos colegas de trabalho, independente da posição — recorda. Naqueles anos, Campello conheceu o arquiteto vicentino Federico Motterle, que apresentou a Niemeyer na primeira oportunidade: era o início de uma amizade e parceria que durariam 30 anos. Empresarial, mas aberta à visitação do público Projetado em 1968 e inaugurado em 1975 em Segrate, o complexo onde está instalado o Grupo

Mondadori é tão significativo que a empresa abre suas portas à visitação agendada. Considerado um dos mais importantes da obra de Niemeyer, o monumento surpreende pela leveza, formado por planos suspensos pelo paralelepípedo central, que hospedam os escritórios

Oscar Niemeyer com Giorgio Calanca, Giorgio Mondadori e Luciano Pozzo em 1969

e as redações, contrapostos por dois corpos baixos e sinuosos que emergem de uma lâmina d’água. O grande parque desenhado pelo projetista Pietro Porcinai circunda o complexo. A fachada apresenta altos arcos em estilo romano, refletidos na superfície de um espelho d’água. No entanto, as arcadas possuem extensões desiguais e o corpo principal do edifício está suspenso, o que dá muita leveza ao complexo. As diferenças entre o Palácio Itamaraty e a sede da Mondadori podem ser vistas como uma evolução do vocabulário utilizado pelo arquiteto, pois o projeto para Milão é posterior ao brasiliense. A adequação dos edifícios ao contexto para o qual foram projetados é a base das diferenças, explica o arquiteto Campello. O edifício que abriga os escritórios e as redações do Grupo Mondadori no norte da Itália foi inspirado no Palácio Itamaraty. Enquanto no monumento de Brasília os arcos obedecem a um ritmo regular e são idênticos nas quatro fachadas, e a caixa de vidro, recuada, pousa sobre o jardim aquático e não toca a cobertura de concreto, na sede da Mondadori os arcos têm um ritmo variado, arbitrário, e a caixa de vidro está suspensa à cobertura de concreto, flutuando entre o jardim e o teto, explica Glauco Campello, representante de Niemeyer junto à Mondadori na época da construção do complexo. O Itamaraty foi projetado nos anos 1960 e inaugurado em 1970. Já a sede da empresa italiana foi desenhada em 1968 e inaugurada em 1975

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Arte

Em tempos de guerra Conferência promovida em Roma faz estudiosos refletirem sobre os perigos corridos pelos monumentos artísticos durante conflitos bélicos

© MIBAC, Archivio Fotografico Brera

Laprotezione del patrimonio artistico dalle offese della guerra aerea, Le Monnier, 1942

e esculturas, conseguiram ser abrigadas. No entanto, aquelas imóveis, como monumentos, castelos e palácios, não tiveram a mesma sorte. — Para proteção, as esculturas e as pinturas eram embaladas cuidadosamente e transportadas de noite para abrigos dentro dos Museus do Vaticano e do Castel Sant’Angelo. Nesta época, os Museus do Vaticano se transformaram no maior museu internacional porque abrigava obras do mundo inteiro. E todas catalogadas com o registro dos proprietários e respectivos museus a que pertenciam — disse a professora especialista em história da arte dos Museus do Vaticano Micol Forti.

Gina Marques etentora de 52% do patrimônio artístico mundial como um museu a céu aberto, a Itália sofreu enormes perdas de vidas e artes durante o grande conflito do século passado. Mas poderia ter sido pior se não fosse a intervenção de vários homens, civis e militares, entre eles alemães, com a fundamental contribuição do Vaticano. Em 15 e 16 de novembro, Roma sediou a conferência internacional Museus e Monumentos em Guerra – 1939-1945, organizado pelos Museus do Vaticano e pela Galeria Nacional de Arte Moderna. O encontro representou uma ocasião para diversos especialistas e amantes da arte debaterem o tema da destruição e da proteção artística. Esta foi a etapa italiana que deu continuidade aos convênios feitos em Londres, Paris e que proximamente será em Berlim. Nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, a capital italiana tinha o status de cidade inviolável por causa do seu valor histórico e artístico, além da ausência de importantes indústrias e de ser a sede do Estado neutro da Santa Sé e de diversas instituições eclesiásticas, explica a professora de história da arte Paola Mathis no capítulo dedicado a Roma no livro 19401945 Arte em fuga, arte salvada, arte perdida: cidades italianas entre Guerra e Liberação. Diversas instituições e personalidades, como o papa Pio XII, tentaram intervir junto ao governo norte-americano para evitar ataques aéreos. Mesmo assim, Roma sofreu repetidos bombardeios entre julho de 1943 e a 42

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FIfty war-damaged monuments of Italy, Istituto Poligrafico dello Stato, 1946

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De Roma

O Arco di Costantino e outros patrimônios históricos em Milão e Gênova correram risco de destruição durante os bombardeios da Segunda Guerra

primavera de 1944. Ao atingir a capital, as forças aliadas tocavam no coração do Estado fascista, completa Paola Mathis. A Segunda Guerra Mundial trouxe destruição em todas as partes de norte a sul do país e diversos monumentos foram arruinados pelas bombas das forças militares aliadas e rivais. Muitas obras de arte consideradas “móveis”, ou seja, quadros

Mosteiros, palácios e pontes sofreram danos em várias cidades A Itália entrou na guerra ao lado da Alemanha em 10 de junho de 1940. No entanto, as providências para tutelar o patrimônio artístico já haviam começado em janeiro daquele ano. Porém, considerando as enormes dimensões de alguns monumentos como o Coliseu, a missão era quase impossível e foi limitada às obras mais significativas. — De acordo com o tipo de monumento, foram usados dois diferentes sistemas de proteção. Podiam ser andaimes de madeira em compartimentos independentes e forrados com de sacos de areia, ou uma espécie de forro com a construção de um muro protetor que, apesar de não reparar das bombas, servia de barreira anti-incêndio — disse a professora Mathis. São diversos os exemplos de destruição que sofreram terríveis danos comparáveis a catástrofes como terremotos: do mosteiro de Monte Cassino às pontes de Florença, passando por palácios em Padova, Rimini e o teatro La Scala Milão. Estima-se que, durante a Segunda Guerra Mundial, foram gastos 6 bilhões de liras (cerca de 3 milhões de euros) em três anos para proteger os monumentos. No entanto, muitos acabaram perdidos para sempre — não vítimas de bombardeios e sim de ladrões e contrabandistas que se aproveitaram do conflito para vender as obras de arte e enriquecer. Entre eles, os parentes do rei da Itália Vittorio Emanuele. A crueldade humana é capaz de destruir em um minuto a beleza artística de séculos de história. Muitos monumentos foram reconstruídos, mas a ferida da guerra ficou para sempre.


milão

GuilhermeAquino

Renascimento s bibliotecas renascem em meio à cri-

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se. Seja pelo preço dos livros, seja pela falta de espaço em casa. Em Milão, o aumento de empréstimos de publicações foi de 13% em Vallio Terme. Na rica província de Brescia, o incremento foi de 46%, para não citar os 38% em Florença e os 72% em Palermo. Os números são comparados àqueles de 2010. A curiosidade é que os maiores aumentos de empréstimos de livros ocorrem nas pequenas bibliotecas municipais.

Kama, sexo e design

O

museu Triennale, templo do design, abre as portas para uma ousada mostra sobre a estética inspirada no sexo. A curadora da mostra Kama, Sesso e Design, Silvana Annicchiarico, explicou que a ideia da exposição é uma oportu-

nidade para apresentar objetos inspirados nos órgãos sexuais. São duzentas peças que incluem achados arqueológicos, desenhos originais, fotografias e óperas de artistas e designers, além de oito instalações.

Utilidade pública Comune de Milão corre atrás de

Alarme Máfia Milan do futuro empresa de call-center Blue Call caiu presidente do clube milanista, Silvio

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nas redes da polícia depois de ter se emaranhado nas teias da máfia. Ela tinha clientes importantes como Vodafone e Sky. A descoberta por parte dos investigadores e dos magistrados é apenas a ponta do iceberg da presença mafiosa na região e levou à prisão de 30 pessoas. Segundo os dados em posse da procuradora antimáfia da Lombardia, Ilda Boccassini, a infiltração mafiosa na malha econômica da região é enorme. Somente no ano passado, foram confiscados 950 bens das organizações criminosas. E seriam 25 as famílias que comandam as máfias no norte da Itália.

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Berlusconi, afirmou que a reconstrução do “diabo” vai durar três anos. A equipe de Robinho, Pato e companhia, liderada pelo tenaz Allegri, deverá passar por uma grande reforma. De olho no técnico em um momento sabático, Guardiola, o dono da bola, pede que Pato seja usado a conta-gotas para não sofrer a “enésima” contusão e que o clube pesque no viveiro de jovens o time do futuro. O tempo de investimentos pesados em grandes talentos no mercado já era. O modelo do Barcelona, de valorizar a prata da casa, é o ideal.

O

Paris e Londres no campo dos aplicativos gratuitos que ajudam os visitantes e os habitantes a orientarem-se melhor pela cidade. Um exemplo é o aplicativo descarregado em um smartphone que localiza os pontos de wi-fi para a navegação gratuita na internet. Outro revela os eventos que estão em curso através de 13 itinerários turísticos. Para o próximo ano, a prefeitura da cidade vai lançar uma licitação com o objetivo de criar e incentivar o nascimento de novos softwares que sirvam como simplificadores da vida dos milaneses e seus hóspedes.

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Moda

À moda da casa Jovens estilistas brasileiros se inspiram na moda do Belpaese em concurso de moda promovido no Paraná Janaína Pereira

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De São Paulo

esde 2001, o Sindicato Empresarial da Indústria do Vestuário de Maringá, o Sindvest, realiza o concurso Paraná Criando Moda - Talentos da Moda Paranaense, destinado aos estudantes de moda, design e confecção do estado do Paraná. Em 11 edições, o concurso teve 863 projetos inscritos, 116 estudantes selecionados e 33 profissionais premiados. A partir do quarto ano, passou a focar os estudantes e recém-formados com o objetivo de valorizar a formação acadêmica e incentivar novos talentos. Em 2012, em sua 12ª edição, apostou na Itália como tema para os participantes. Itália à moda da casa foi a proposta do concurso para colocar nas passarelas modelos inspirados na moda do país que é berço de grifes como Armani e Versace. O evento procurou celebrar também a parceria entre os governos brasileiro e italiano, e aproximar as relações econômicas, tecnológicas, científicas, culturais e educacionais entre ambos. — Com o tema, o concurso Paraná Criando Moda propôs uma troca de experiências e conhecimentos em moda e design, unido a criatividade brasileira à tradição italiana — resume Fabiana Pepita Vieira, do Sindvest. Para Fabiana, a Itália possui uma longa tradição na moda e, no Brasil, essa cultura ainda é muito recente. — Temos muito o que aprender com os designers italianos. Contudo, o que não falta aos brasileiros é força de vontade e criatividade — pondera. Fabiana repara que a moda italiana tem um cuidado especial com os detalhes, o design e a alta costura, o que deve ser observado pelos jovens estilistas do Brasil. A moda italiana é impecável em modelagem, acabamento e inovação, analisa. 44

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Os 12 novos talentos residentes no Paraná encararam o desafio de criar e desenvolver suas coleções, passando por avaliações de empresários e profissionais do setor. Com a Itália como tema, os participantes precisaram usar toda a criatividade para mostrar em cada detalhe de suas peças a inspiração italiana. Sinônimo de elegância, a Itália escreveu seu nome na história da moda através de estilistas como Giorgio Armani, Roberto Cavalli, Salvatore Ferragamo, Valentino Garavani, Miuccia Prada, Donatella e Gianni Versace. Cada um, dentro do seu estilo, é conhecido — e reconhecido — em todo o mundo. A banca examinadora formada por profissionais da indústria da moda levou em consideração a fidelidade e a adequação ao tema, a criatividade, os materiais utilizados e a inovação. Segundo a gerente de marketing da Lectra, Daniella Ambrogi, jurada no concurso, todos os trabalhos captaram bem a moda italiana com criatividade e graça. — É difícil definir um único traço sobre a cultura italiana. O tema geral é a Itália, mas cada um trabalhou um assunto em particular dentro desse universo, e todos o desenvolveram muito bem.

O vencedor, anunciado no último dia 30 de novembro, foi Robson Oriole, estudante do segundo ano de design de moda da Unipar, na cidade de Cascavel, que usou Veneza como inspiração. Para a final do concurso, o jovem estilista apresentou dois looks, um conceitual e outro comercial. O primeiro é uma combinação de casaquinho com uma saia midi. Já no segundo, a composição foi um vestido. O mote principal da coleção foi a casa Deo Bepi, localizada na ilha veneziana de Burano. De acordo com Oriole, o domicílio apresenta formas psicodélicas e uma diversidade de cores que ele tentou passar para as peças. — Procurei utilizar o corano texturizado que lembra paredes surradas, porém resistentes, como são encontradas dentro da casa — disse. A jurada Daniella Ambrogi ressaltou que o mais marcante no trabalho de Robson Oriole é a semelhança entre a proposta que o inspirou e o resultado das peças, além da qualidade do produto final. — O fato do tema do concurso ser focado na moda italiana foi excelente, tanto para quem julgou quanto para os jovens estilistas, pois a cultura da Itália é muito rica e a moda do país é uma referência internacional — conclui.


Settimana Bianca

ItalianStyle

Settimana Bianca é o termo utilizado para designar aquela semana de férias transcorrida nas montanhas, quando os italianos visitam pontos turísticos invernais e atrações ligadas à prática de esportes como esqui e snowboard. Confira abaixo dicas para não perder o estilo na neve.

Gola em pele

Cheap and Chic

Gola em pele de murmasky vermelha da Versace com forro e detalhe em seda estampada. Perfeita para um look glamuroso diurno ou noturno. Preço: € 980 www.versace.com

A linha de botas da Moschino Cheap and Chic traz este modelo de plástico em estampa tigresa com detalhe em pele ecológica e sola de borracha. Preço: € 175 www.moschinoboutique.com

EA7

Fotos: Divulgação

Uma das principais dicas dos fashionistas para as montanhas é o uso de roupas muito coloridas. A EA7, grife de roupas esportivas do Grupo Armani, oferece diversas opções de jaquetas impermeáveis coloridas em tecidos específicos para a neve. O modelo masculino possui capuz removível, pulsos com zíper e quatro bolsos. Já o modelo feminino é revestido internamente com plumas de ganso e possui gola fechada. Preço: € 495 (modelo masculino) e € 225 (modelo feminino) www.armani.com

Máscara de esqui

Máscara para esquiar da Gucci em três modelos diversos. Feita de poliuretano com lente dupla espelhada e antineblina, conta com proteção total UVA/UVB. Preço: € 140 www.gucci.com

Coccinelle

A tradicional fabricante de luvas Coccinelle apresenta este modelo para o inverno 2012-2013, em couro preto, forradas internamente e com detalhes externos em vermelho. Preço: € 95 www.coccinelle.com comunit àit aliana | dez embr o 2012

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Arqueologia

Homens do gelo Exposições sobre a pré-história inspiram uma visita ao Museu Arqueológico do Alto Ádige, onde está guardado o corpo de Ötzi, conhecido como a Múmia de Similaun sua última refeição, e também os tecidos e o patrimônio genético. Fizemos ainda exames radiológicos e endoscópicos. O seu corpo reúne 52 tatuagens. Não são de caráter ornamental e sim de tipo médico, terapêutico. Talvez, por causa da posição em que estão no corpo, fossem sinais de acupuntura. Faltam, porém, provas científicas para poder afirmá-lo com certeza.

Cintia Salomão Castro

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partir de janeiro, o público que estiver no norte da Itália terá a oportunidade de ver um grande apanhado de objetos de uso prático e votivo dos povos que ocuparam a península séculos antes do surgimento de Roma e que participaram da transição da Idade da Pedra para a era dos metais. Com megalíticos, vídeos e animações, a mostra L’età del Rame, la Pianura Padana e le Alpi ai tempi di Ötzi abre no dia 26 de janeiro no Museu Diocesano de Brescia, onde fica até 15 de maio de 2013. Já a exposição MysteriX reúne as peças mais enigmáticas da Idade do Bronze, do Ferro e da época romana, cuja existência a ciência arqueológica até hoje não conseguiu explicar. A mostra será inaugurada no dia 22 de janeiro no Museu Arqueológico do Alto Ádige, em Bolzano, lugar que já merece uma visita por um único fato: hospeda Ötzi, conhecido como o Homem do Gelo, descoberto em 1991 por um casal de alpinistas perto do monte de Similaun, na fronteira entre Áustria e Itália. Um dos principais achados arqueológicos dos últimos tempos, o corpo do caçador ente 45 e 47 anos que viveu por volta de 3.300 a.C.,

O monte de Similaun na região dos Alpes italianos, onde a múmia foi encontrada por alpinistas em 1991 46

conservado quase que inteiramente pelo gelo com capa, casaco e sapatos de couro, pode ser visto através de uma janela junto ao frigorífico onde é mantido. Em entrevista à Comunità, o cientista responsável pela conservação e pelo estudo da Múmia de Similaun, o anatomopatólogo Edoardo Egarter Vigl, conta que uma das últimas análises da múmia levanta a hipótese da prática de acupuntura: 52 marcas tatuadas não eram de uso ornamental e estão situadas em pontos relacionados à prática terapêutica hoje atribuída aos chineses. ComunitàItaliana: Como podemos medir a importância do achado da múmia de Similaun para a arqueologia? Edoardo Egarter Vigl: As informações sobre a vida humana nos Alpes no período pré-histórico são escassas. Por causa da geografia e das condições climáticas e ambientais adversas e apesar das intensas pesquisas, poucos restos de civilização humana e de povoamentos se conservaram. Até mesmo tumbas e sepulcros são raríssimos. A descoberta de Ötzi, por estes motivos, foi um caso único e aconteceu por acaso. Assim, as informações que a múmia nos fornece são muito preciosas. CI: O que a múmia permitiu saber-se sobre a vida naquele período? EEV: Analisamos o contexto gástrico, ou seja, o que comeu e quanto tempo antes de morrer consumiu a

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A janela no Museu de Bolzano através da qual os visitantes podem ver o corpo de Ötzi

CI: Em que região entre a Áustria e a Itália Ötzi vivia? EEV: Não é possível estabelecer. A fronteira entre os dois países foi criada somente em 1918 ao final da primeira guerra mundial. Provavelmente, ele vivia nas regiões alpinas e, entre o verão e o inverno, mudava zona e altitude, caminhando desde o alto norte até o alto sul do arco alpino, quem sabe deixando os vales para chegar à planície. Mas são especulações. O Alto Ádige é uma pequena província do norte da Itália. De acordo com a lei que protege a autonomia política e cultural da região, a múmia é conservada em sua capital, Bolzano. CI: É confirmado que ele foi assassinado? EEV: Encontramos, através de pesquisas radiológicas, uma ponta de flecha. Dali, pôde-se estabelecer que a causa da morte foi uma hemorragia na artéria do braço esquerdo, consequência da ferida da flechada recebida. CI: Como era a sua dieta e o seu biotipo? EEV: Era mista, com prevalência de cereais e carne de caça. O componente de gordura animal era elevado. Apresentava estatura atlética, de tipo musculoso, com altura de 1,60 e peso em torno de 52 kg. Possuía cabelos longos castanhos escuros e olhos escuros. Tais características são relativamente frequentes na população nativa do Tirol e de todo o arco alpino.


Turismo

A montanha no lago Os encantos da pacata Monte Isola, no meio do Lago d’Iseo, atraem turistas que querem fugir da poluição sonora das cidades um sorvete caminhando nas alamedas às margens do lago, admirar o pôr-do-sol, visitar os vilarejos, o castelo e tantas igrejas medievais, ricas em obras de arte. Quem preferir pode fazer trekking pelos caminhos nos bosques, percorrer todo o perímetro da ilha e subir até o cume do monte, onde está o antigo Santuário da Madonna della Ceriola, rico em magia e arte. O visitante pode descansar em seus bancos e agradecer aos céus por existir lugares, paisagens e panoramas tão bonitos. Não encontrará jet-ski para alugar, mas

Ezio Maranesi

Especial para Comunità

E

ntre os belíssimos lagos lombardos, o Lago d’Iseo é aquele menos badalado. Possui um encanto que o distingue dos outros mais populares. Manteve no tempo seu ar tranquilo e caseiro, muito apreciado por quem ama o silêncio e detesta o barulho das discotecas. No meio do lago, há a maior ilha lacustre da Europa. Sobre ela, um monte, de 600 metros de altura, cujos lados descem docemente até tocarem as águas do lago. Campos, filas de videiras e bosques de oliveiras, carvalhos e castanheiros vestem Monte Isola de verde. A ilha é belíssima e nela reina a quietude. As oliveiras mediterrâneas, milagre em pleno inverno lombardo, testemunham o suave clima. Monte Isola possui uma superfície de aproximadamente 13 quilômetros quadrados e uma população de 1.800 residentes. Eles vivem em alguns vilarejos: a prefeitura está em Siviano. Peschiera, Sensole e Carzano estão no lago e são os mais populosos. Outros pequenos centros, como Senzano, Cure, Masse, Olzano e Novale, estão nas costas do monte. Duas balsas unem a ilha à terra firme: pode-se chegar a Peschiera vindo de Sulzano, ou em Carzano vindo de Sale Marasino. Chega-se em poucos minutos, desde a alvorada até tarde da noite; é permitido levar uma bicicleta. Na ilha, só podem transitar de automóvel o médico, o padre e os policias, e somente os habitantes da ilha podem circular com suas lambretas. Os vilarejos são ligados entre eles por um eficiente serviço de micro-ônibus. A paisagem, extraordinária, poderia atrair milhares de turistas. A administração da ilha pode parecer pouco atenta na valorização turística, mas não é assim. Ela escolheu ter um turismo seleto com pouca gente, que ama a vida tranquila, as coisas bonitas, as paisagens de encantos, a simplicidade, a natureza e os antigos vilarejos cheios de mistério e de silêncio. Nem está à procura de um turismo rico: não existe luxo em

Monte Isola. Existem sete pequenos e agradáveis hotéis e bed and breakfast. O mais famoso é o La Foresta: nas suítes, você não encontra nem telefone nem televisor. A ilha possui oito restaurantes, simples, que oferecem uma culinária agradável e ligada ao território. Os preços, em geral, são modestos. Não existem casas noturnas, nem estruturas turísticas feitas com o propósito de induzir ao gasto. Aquilo que se pode fazer na ilha custa pouco ou nada: passear a pé ou em bicicleta, tomar

O hotel mais famoso da pacata e silenciosa Monte Isola, situada na Lombardia, não possui telefone nem televisão

poderá visitar as duas esplêndidas ilhotas de Loreto e San Paolo com um barco a remo. Não encontrará caça-níqueis nos bares, porém, poderá divertir-se com as danças dos cisnes e dos patos nas águas do lago. Alguns podem pensar que se trata de um “programa de índio”. Mas, quem vai à Monte Isola, procura aquela pausa de que todos nós, de vez em quando, precisamos tanto. Escapa-se da mundanidade, do barulho, da pressa e dos lugares comuns. O auge da vida mundana é dar a volta na ilha em um barco-restaurante, ou então jantar no La Foresta, sem música e sem televisão. É uma Itália rara, da qual nem todos gostam — porém belíssima. Serviço Prefeitura de Monte Isola Tel (39) 030 9825926 segreteria@comune.monteisola.bs.it Setor Turístico de Peschiera Tel (39) 030 9825088 turistico.monteisola@tiscali.it Navegação no Lago d´Iseo Tel (39) 035971483

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Fotografia

Conexão Milão-São Paulo Exposição do artista Rinaldo Donati mostra o mosaico de cores captado pelo fotógrafo milanês sobre a irmandade entre a capital lombarda e São Paulo Guilherme Aquino De Milão

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ilão era a capital do Império Romano do Oriente quando São Paulo ainda nem sonhava com a sua própria existência. Rinaldo Donati era um menino milanês que, durante as aulas de geografia, ouvia falar de um país distante e exótico chamado Brasil e de uma irmandade que ligava a capital paulista à sua cidade natal. O aluno cresceu e se transformou em músico e fotógrafo. Meio século depois do acordo pioneiro de parceria comercial e cultural entre as duas locomotivas econômicas de seus respectivos países, ele decidiu tecer com imagens a rede de interesses que liga as cidades irmãs, Milão e São Paulo. Armado de tripé, lentes e um olhar aguçado, Donati mergulhou durante dez dias na realidade da megalópole brasileira e saiu de lá quase sem fôlego para contar, através de fotografias intensas e fortes, uma história sem fim. O resultado é a mostra Paulistas, um mosaico de imagens que retrata os contrastes sociais, arquitetônicos e econômicos dos paulistanos. A exposição foi montada no Palazzo Morando, um aristocrático espaço cultural público de Milão, em pleno quadrilátero da moda, dentro do projeto Agenda Brasil. Fica em cartaz até 6 de janeiro de 2013. Máquina em punho e lá foi ele atrás das cenas. Ou melhor, como simples observador, deixava que o cartão de memória da sua Canon digital registrasse a infinidade de eventos por segundo que desfilavam diante de si, entre as visões vertiginosas das alturas dos

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arranha-céus, os espaços infinitos da Avenida Paulista, o submundo das drogas e a alegria contagiante dos botequins. Rinaldo Donati carregou na saturação e jogou com os recursos técnicos da câmera em tempo real, ou seja, aboliu o uso do photoshop para criar efeitos especiais. Deixou a emoção ditar as regras para realçar as impressões que dariam corpo e alma à exposição. O resultado são efeitos visuais colhidos no instante do clique. — Eu ia ajustando a câmera a cada momento diante das cenas que aconteciam, dando a minha interpretação. É incrível como tantas coisas ocorrem ao mesmo tempo ali — revelou ele, que também registrou em vídeo as “eternas saideiras” de fim de tarde e começo de noite em um bar “pé sujo”. O fotógrafo retrata as artérias pavimentadas com o asfalto negro nas quais escorre o sangue italiano imigrante que fez desta selva de pedra a maior cidade italiana fora da Itália. — Alguma coisa de profundo liga as duas cidades: na cultura, na arte e no papel de primeiro plano que cobrem os dois países. Conheço bem São Paulo, realizei projetos nas favelas da cidade e recentemente visitei a casa de Lina Bo Bardi. Espero que a

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O fotógrafo milanês Rinaldo Donati retrata na mostra Paulistas os arranha-céus, a Avenida Paulista, e os contrastes sociais, arquitetônicos e econômicos da cidade

Agenda Brasil revitalize e preencha de conteúdos a irmandade entre Milão e São Paulo — afirma o secretário da Cultura de Milão, o arquiteto Stefano Boeri, também autor do projeto São Paulo Calling, lembrado junto à mesa-redonda sobre a arquitetura das duas cidades promovida dentro do programa Agenda Brasil. Presente na mostra, a responsável pelo setor cultural do Consulado do Brasil na Itália, Teresinha Campos, falou da conexão entre as duas cidades: — Percebemos que uma grande energia flui nas duas cidades e esta energia vital é o que as une — resume. Os instantes imortalizados em São Paulo revelam a eterna vocação da metrópole para ser um farol de desenvolvimento para as cidades, com as suas fortes consequências positivas e negativas. Difícil comparar a capital paulista de 20 milhões de habitantes com a irmã italiana de apenas dois milhões, se tanto. Mas é a energia que flui nas ruas, nas calçadas e nos prédios que une Milão e São Paulo. Ela é a matéria-prima, etérea, por assim dizer, que move o destino de seus habitantes e visitantes, prisioneiros diários de um caleidoscópio urbano, um carrossel que gira sem pausa, atraídos ou iludidos como ímãs pelo intenso magnetismo da esperança de uma vida digna. Quem visita a mostra sai convencido que as duas cidades constituem nós fundamentais de uma relação Brasil e Itália construída no tempo: são como cabeças de uma ponte invisível, porém com intenso fluxo de ideias, concretas e abstratas.


Meio ambiente

Criação e qualidade de vida Bienal de Cultura e Ambiente reuniu em Florença propostas para melhorar a qualidade de vida e promoveu eventos em vários pontos turísticos da cidade Guilherme Aquino

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De Firenze

Bienal da Cultura e do Ambiente aponta os caminhos para uma melhor qualidade de vida. Em Florença, em novembro, cerca de 350 convidados dos quatros cantos do planeta participaram de aulas inaugurais, conferências, debates abertos ao público, eventos e instalações urbanas. Durante nove dias, os locais de maior prestígio da cidade — como o Palazzo Vecchio, as praças de Santa Croce e San Giovanni e a Catedral — foram cenários de um caldeirão cultural e deram a receita para um futuro mais sustentável. Cultura, qualidade da vida é o título da segunda edição da Bienal que transformou a cidade de Dante Alighieri em um epicentro de reflexões e propostas sobre a cultura e a paisagem como motores fundamentais para a retomada do crescimento do país e o fortalecimento da coesão social. Bens culturais e ambientais tomam conta da cidade banhada pelo rio Arno como um sinal de alerta contra o degrado e a favor de mais atenção e valorização. O confronto de ideias e o desejo de ver e tocar com as mãos uma monumental plataforma de novos horizontes levaram 240 mil pessoas a participarem dos diferentes programas espalhados por toda a cidade. Um dos eventos de maior impacto visual foi a presença de 70 oliveiras colocadas na praça San Giovanni. O projeto das árvores é simbólico já que representa a resistência ao passar do tempo. Pino Brugellis e Sergio Risaliti, criadores da instalação natural, quiseram transmitir o conceito de produção de alimentos, além da preservação da própria cultura e da paisagem. O jardim das oliveiras evoca a necessidade de um desenvolvimento sustentável que proteja o solo e favoreça o

crescimento econômico. Apenas assim, o homem poderá evitar os desastres ambientais, como as inundações provocadas pelas mudanças climáticas do planeta. O frágil equilíbrio da estabilidade hidrogeológica representa um risco para todos e, ao final, a conta chega, igualmente, para a sociedade. Outra grande atração foi a exposição de crucifixos de madeira de Donatello, Brunelleschi e Michelangelo. As peças sacras vieram, respectivamente, das basílicas de Santa Croce, Santa Maria Novella e Santo Spirito. Pela primeira vez, podem ser admiradas lado a lado, representando a evolução das esculturas religiosas. Os visitantes podem fazer uma leitura da transição artística da alvorada do Renascimento à última fase do

Arte e religião se mesclaram na Bienal da Cultura e do Ambiente que teve como cenários a Piazza del Duomo e a Praça de Santa Croce

século XV, ou seja, dos primeiros passos das leis da prospectiva e da ética clássica às influências da filosofia de Platão nas transformações dos temas teológicos. Uma cruz de 50 metros de altura com pedras de Carrara A cruzada em defesa da cultura e da paisagem contou ainda com a espetacular instalação de uma cruz realizada com blocos de mármore na praça de Santa Croce. O desenho é de Mimmo Paladin e mede 80 metros de extensão por 50 de largura. As pedras foram extraídas em Carrara e são de tamanhos e pesos diferentes: vão de dois até quatro metros de altura e podem pesar até mais de 38 toneladas. Os 50 blocos ocupam o chão da praça e “dialogam” com a igreja construída ali mesmo, no século XIX. Cada um deles traz inscrições que podem ser cartas, números, rostos, sinais arcaicos. O peso da fé esmaga a falta de esperança e desperta a consciência dos fiéis com os reflexos da luz do dia e da noite. Arte e religião se fundem no espaço híbrido, público de um lado e sagrado de outro. A quantidade de instituições que fizeram parte do evento comprova o grande interesse em potencializar a riqueza cultural e

ambiental. No total, 56 entidades, 30 associações, 63 centros de pesquisa e formação, 16 museus, 19 teatros e 49 empresas aderiram ao projeto financiado por 66 patrocinadores. Ao final, o presidente do banco CR Firenze, Giuseppe Morbidelli, parceiro da Florens Foundation, promotora da Bienal, lançou uma série de 15 propostas que serão levadas ao governo. Entre elas, estão medidas como a concepção de um ministério para uma política orgânica para a cultura, o desenvolvimento de mecanismos para promover investimentos através do imposto de renda, a aplicação de novas tecnologias às economias de bens culturais e ambientais e a promoção de uma rede de operadores e da cultura como fator primordial de coesão social.

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Cinema

Homenagem a Giannini Oitava edição do Festival Pirelli do Cinema Italiano realiza mostra dedicada à obra do ator Giancarlo Giannini, que esteve no Brasil especialmente para o evento Janaína Pereira ator Giancarlo Giannini foi uma das grandes estrelas da oitava edição do Festival Pirelli do Cinema Italiano, que agitou São Paulo de 26 de novembro a 13 de dezembro. O ator que participou de mais de cem filmes e é conhecido da nova geração por filmes hollywoodianos como Caminhando nas Nuvens (1995), Hannibal (2001) e Chamas da Vingança (2004), ganhou uma retrospectiva especial na mostra e conversou com a imprensa e o público no primeiro dia do evento, no Museu da Imagem e do Som. A história de Giannini vai além de sucessos como o personagem Rene Mathis em dois filmes da franquia 007, Cassino Royale (2006) e Quantum of Solace (2008): de Visconti a Ettore Scola, passando por Mario Monicelli e Lina Wertmuller, ele foi dirigido por alguns dos nomes mais significativos do cinema italiano. Sua trajetória inclui uma indicação ao Oscar por Pasqualino Settebellezze (1976). — Tive a sorte de trabalhar com diretores e atores fantásticos, que me formaram na comédia italiana. Foi realmente uma sorte encontrar grandes roteiros e grandes personagens. Os cineastas italianos são muito fantasiosos, talvez os mais fantasiosos do mundo. Meu encontro com eles foi uma grande experiência humana, que me deu a capacidade de pensar. Entre seus trabalhos marcantes, Giancarlo cita Amor e Anarquia (1973), dirigido por Lina Wertmüller, em que viveu o anarquista Tunin. — Era um personagem muito bem construído, que tinha olhos muito vivos, um sorriso de gato e encarava a aventura com muita naturalidade — comenta. O papel de Pasqualino Settebellezze, um de seus maiores sucessos, um homem desertor do exército italiano que faz de tudo para sobreviver em um campo de concentração, é apontado por ele como um trabalho difícil. — Foi muito difícil gravar em um campo de concentração, mas é um personagem muito forte, real, que encontra forças para viver. 50

Cinema italiano segue outras direções Sobre a atual produção cinematográfica italiana, Giannini acredita que o cinema mudou e que isso afetou filmes produzidos em qualquer lugar do mundo. — Os italianos sempre foram bons para fantasiar. Tínhamos ótimos roteiristas e diretores, mas o cinema mudou e segue outra direção. A imagem foi muito contaminada. Fellini já dizia: ‘Vamos ao cinema como se fôssemos a um museu’. Antigamente, dependíamos da luz natural para criar efeitos especiais. Agora, com

Renato Pinheiro

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alguns botões, fazemos tudo. Ainda existem muitas histórias boas, mas em outras direções — avalia o vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Cannes de 1973 com Mimi - O Metalúrgico. O trabalho mais recente do ator nascido em La Spezia, na Ligúria, é Ti Ho Cercato in Tutti i Necrologi, rodado em inglês e italiano e recém-lançado na Itália, apresentado pela primeira vez no Brasil dentro da mostra contemporânea do Festival Pirelli, que também promoveu

De São Paulo

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O ator Giancarlo Giannini, que atuou em mais de cem filmes, conversou com a imprensa e o público em São Paulo

workshops. A edição de 2012 trouxe somente produções italianas recentes e inéditas no Brasil, como Eu e Você, de Bernardo Bertolucci, exibido em Cannes este ano; 10 Regole per far Innamorare, de Cristiano Bortone; e César deve morrer, dos irmãos Taviani, Urso de Ouro no último Festival de Berlim. A realização é da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura de São Paulo, com o patrocínio da Pirelli e o apoio das leis Rouanet e ProAc. Para o presidente da Pirelli Pneus, Paolo Dal Pino, um dos pontos altos do festival desse ano foi a presença de Giancarlo Giannini. — Foi muito gratificante promover a interação entre o público brasileiro e um já consagrado ator italiano — comentou. O evento a cada ano está mais forte, acredita Dal Pino. — Estamos orgulhosos dos resultados alcançados pelo Festival Pirelli de Cinema Italiano. Unimos a arte, a cultura e a paixão pelo cinema, e isso contribui com o nosso objetivo de fortalecer ainda mais o intercâmbio cultural Brasil-Itália — finaliza.


Gastronomia padrões, uma comitiva sai da Itália até a pizzaria para uma avaliação. Quando tudo estiver comprovado dentro das normas estabelecidas, é realizada a cerimônia oficial de certificação. No mundo todo, 400 casas são certificadas, e todas contribuem anualmente com a entidade.

A original

O presidente da Associazione Verace Pizza Napoletana visita pela primeira vez a América Latina para promover a receita original da pizza mais famosa do mundo Janaína Pereira

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De São Paulo

uando o assunto é gastronomia italiana, São Paulo é referência nacional. Com mais de cinco mil pizzarias e um consumo diário de 1,5 milhão de redondas, a capital paulista foi a primeira cidade da América Latina a receber a visita do presidente da Associazione Verace Pizza Napoletana, Antonio Pace, em novembro. Criada em 1984 em Nápoles pelo próprio Pace, a Associazione Verace Pizza Napoletana defende e promove a cultura da verdadeira pizza napolitana pelo mundo. O produto típico italiano deve ser feito de acordo com as características descritas no regulamento internacional para a obtenção da marca Vera Pizza Napoletana, em vigor desde 1984 e gravada com as siglas AVPN. A associação também está envolvida na promoção e proteção de pizzarias e produtos, além de oferecer cursos profissionalizantes para pizzaiolos. No Brasil, as redondas chegaram pelas mãos dos imigrantes no início do século XX. As primeiras cantinas ficavam no bairro do Brás, em São Paulo. Apenas duas pizzarias da capital paulista possuem o selo AVPN: a Speranza, fundada há

54 anos pela Família Tarallo, que veio de Nápoles e trouxe a receita da pizza margherita, e a Bráz. Em entrevista à ComunitàItaliana, Antonio Pace afirma que o rigor é necessário. — O processo para conseguir o selo é longo e lento, pois nosso esforço tem que valer a pena. Para se candidatar ao prestigioso selo, o estabelecimento deve preencher uma ficha, apresentar a documentação comercial, um breve histórico, filmar e fotografar todo o processo de confecção da pizza. Esse conjunto de informações deve ser enviado à associação pela internet. Em seguida, são realizadas entrevistas com os proprietários e pizzaiolos responsáveis. O tempo da avaliação leva cerca de quatro meses. Se perceberem que tudo se encaixa nos

Antonio Pace ressalta que a pizza autêntica deve seguir a receita original napolitana, que proporciona uma massa fácil de digerir e dobrar

Procedimentos seguidos à risca e treinamento intensivo Em São Paulo, a comitiva da AVPN participou de um evento na Speranza, visitou diversas pizzarias e demonstrou expectativa em relação ao produto feito no país. — Espero mostrar às pessoas da América do Sul os sabores tradicionais do Mediterrâneo e garantir que a pizza produzida aqui seja fina, macia, fácil de digerir e que você pode dobrar, como a napolitana deve ser — ressalta Pace. Para ele, os brasileiros são apaixonados por pizza, mas essa paixão vai aumentar com a disseminação da vera receita napolitana. — Espero que, ao optar por fazer a verdadeira pizza, os estabelecimentos brasileiros possam oferecer algo mais digerível, que pode ser servido até mesmo no almoço. A napolitana de verdade tem como caracterísitca uma boa digestibilidade, então foge da ideia de ser calórica. Por isso, é um prato de excelência na dieta mediterrânea — defende o especialista. Os pizzaiolos interessados nos cursos da Associazione Verace Pizza Napoletana, explicou Pace, passam 10 dias em treinamento intensivo. Os procedimentos para seguir a receita padrão incluem uma série de detalhes técnicos, como o pH da massa e a temperatura de fermentação, seguidos à risca. Os ingredientes devem ser de alta qualidade, o tomate precisa ser italiano e a farinha, a mais fina possível. A massa é feita apenas com farinha de trigo, fermento natural ou levedura de cerveja, água e sal. Deve ser trabalhada com as mãos e, depois de descansar, é aberta também só com o uso das mãos. O forno utilizado é a lenha com temperatura de 485ºC. Deve ser obrigatoriamente redonda e jamais pode ultrapassar os 35 centímetros de diâmetro nem os cinco milímetros de espessura. Para as pizzarias brasileiras que desejam ter o reconhecimento da AVPN, Pace deixa um recado: — Respeitem as regras tradicionais e não tentem reinventar a pizza porque, embora a receita pareça simples demais, a verdadeira pizza napoletana não precisa ser mudada, e nem pode ser melhorada.

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Arquitetura

Madame Parking

nas pessoas. Por isso, desde o seu primeiro projeto de estacionamento, investiu nas “emoções”: criou uma garagem subterrânea espetacular, que se tornou ao longo um dos lugares mais cool de Madri, recebendo mostras de arte e até festas de celebridades, como da cantora Madonna. — Trabalho com espaço para movimentar emoções — costuma afirmar Teresa, formada pelo Instituto Politécnico de Turim. Ela esteve no Brasil pela primeira vez em novembro de 2012 para participar de um congresso dedicado ao setor de estacionamentos.

A italiana que reinventou os estacionamentos defende a arquitetura emocional, na qual trabalha com espaço para movimentar emoções Aline Buaes

Especial para Comunità

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fama internacional de excelência da arquitetura italiana se renova a cada dia com novos nomes que despontam no mundo. Natural do Piemonte, Teresa Sapey, mesmo radicada há mais de 20 anos na Espanha, contribui para isso. Autora de diversos projetos premiados em todo o mundo, considerada uma das dez designers mais importantes da Europa, ela esteve em São Paulo no final de novembro para participar do 2º Congresso Brasileiro de Estacionamentos. Ganhou fama ao reinventar o modo como se concebem os estacionamentos, tanto que ganhou do amigo e também arquiteto Norman Forster o apelido de “Madame Parking”. 52

Ganhadora do Prêmio Mulher do Ano de 2011, concedido pela organização internacional Women Together a mulheres que conjugam sucesso profissional com empenho social, entregue na sede da ONU, em Nova York, a italiana defende projetos criados sob o conceito de arquitetura emocional com o objetivo de provocar emoções e reações

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A garagem do Hotel Puerta de América rendeu à italiana Teresa Sapey o Prêmio Oficial de Arquitetura de Madri em 2005

A garagem que virou o lugar mais cool da capital espanhola Entre os seus projetos de estacionamento, o principal destaque é o primogênito: a aclamada garagem do Hotel Puerta de América, em Madri, do Grupo Silken. Envolveu 19 grandes estrelas da arquitetura mundial, como Norman Forster, Jean Nuovel e Zaha Hadid. Obra prima da arquitetura mundial, o hotel, construído em 2004, foi dividido entre o grupo seleto de arquitetos. A cada um coube uma parte do hotel. A italiana ficou responsável pelo estacionamento. Sua primeira e bem sucedida, incursão no mundo das garagens lhe valeu o Prêmio Oficial de Arquitetura de Madri em 2005. A partir daquele desafio inusitado, ela criou não apenas um estacionamento


inovador, mas um dos espaços mais interessantes e cultuados da capital espanhola, frequentemente alugado para eventos externos de calibre internacional como a feira anual de arte contemporânea. Recentemente, até a cantora Madonna alugou o espaço para promover uma festa. No projeto, Teresa Sapey realizou um jogo de cores e grafismo, mas manteve a funcionalidade como base da garagem subterrânea. Nos grafismos, o poema usado como inspiração para o projeto “Liberdade”, de Paul Éluard, se mistura aos símbolos que conduzem os hóspedes pela garagem do hotel. Um dedo indicador mostra o caminho para a saída, mostrando como Teresa une humor, cor, harmonia e funcionalidade em seus estacionamentos. Madame Parking possui um grande estúdio de arquitetura especializado em design de vanguarda para clientes de luxo, como lojas, restaurantes, hotéis e — especialmente — estacionamentos. Seus projetos são marcados pela presença de muitas cores, bom humor, criatividade e funcionalidade. No meio termo entre arte e design, rigor tecnológico e criatividade, Teresa, que estudou em Paris nas conceituadas Parson´s School of Design e Universidade “La Villete”, já atuou em projetos de diversas realidades, tanto públicas quanto privadas, sempre utilizando luzes, cores, materiais e objetos inovadores para criar espaços convidativos à convivência. E assim aconteceu com os estacionamentos. Para ela, são os lugares ideais para reinventar o espaço e jogar com luzes e cores a fim de criar uma atmosfera diferente dos estacionamentos sórdidos e cinzas comumente encontrados. Confira a entrevista exclusiva concedida à ComunitàItaliana poucos dias antes de embarcar para o Brasil, em novembro. ComunitàItaliana - Como você começou a se interessar em projetar estacionamentos? Teresa Sapey - Quando me convidaram para participar do projeto do Hotel Puerta de América, não havia mais nenhum espaço disponível. Então, propus a realização de um projeto inovador para o andar subterrâneo. Assim nasceu a minha paixão pelos estacionamentos... A partir de uma casualidade totalmente imprevista da vida!

CI - Como o seu trabalho de arquitetura emocional se traduz em um projeto de estacionamento? TS - Através do uso da luz, das cores, do som, da audição. Esta é a arquitetura sensorial. CI - Qual era o seu objetivo com o estacionamento do Hotel Puerta America? TS - O objetivo deste projeto era realizar bem o meu trabalho enquanto arquiteta e dar o meu melhor. O resultado foi que se tornou um lugar cool, da moda. Assim, aconteceu que Madonna quis utilizá-lo como locação para o lan-

Seu primeiro projeto de estacionamento fez de uma garagem subterrânea um dos lugares mais interessantes de Madri, que abrigou mostras de arte e até uma festa da cantora Madonna

Teresa procura reinventar o espaço e jogar com as luzes e cores a fim de criar uma atmosfera diferente nos estacionamentos cinzentos, como fez na garagem Plaza Cánovas, em Valência

níveis. É um projeto que se inspira no grande Dante, em especial ao canto do inferno dedicado a Paolo e Francesca, representantes e responsáveis de um grande amor.

çamento da sua marca de vinhos. Como ela, muitas outras marcas escolheram este lugar e há ainda uma feira de arte que ocorre ali todos os anos. É a comprovação de que um estacionamento pode ser muito mais.

CI - O seu projeto do Canovas, em Valência, foi considerado o primeiro estacionamento ecológico do mundo. Como essa preocupação ecológica se traduziu no projeto? TS - Todos precisamos do automóvel. Não temos alternativas. Podemos mudar o tipo de carro, ecológico, híbrido ou elétrico, mas sempre haverá necessidade de um local para estacioná-lo e deixá-lo, para depois seguir com a bicicleta ou a pé. A partir daí, a necessidade de pontos de recarga elétrica e de criar um local ecológico para deixar os veículos e continuar com as próprias pernas.

CI - Qual a relação do projeto Estacionamento Chueca an Dante com o escritor Dante Alighieri? TS - O estacionamento Chueca an Dante tem como objetivo celebrar o amor universal. O amor como energia da nossa vida em todos os

CI - Qual sua opinião sobre o Brasil? TS - Nunca estive no Brasil antes e estou muito emocionada (de visitá-lo pela primeira vez). É um grande país, que transmite energia e cor. Possui um grande passado e certamente um futuro magnético.

O Inferno de Dante no estacionamento

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arquiteta italiana defensora da arquitetura emocional não poderia deixar de lado o grande poeta do amor nos seus estacionamentos. Por isso, quando a prefeitura de Madri a escolheu para projetar o estacionamento subterrâneo da Plaza Vázquez de Mella, Teresa não teve dúvidas. Criou

a Chueca an Dante, uma obra-prima dos estacionamentos, decorada nas cores preto e vermelho, inspirada livremente no Canto dos Infernos da Divina Comédia, de Dante Alighieri. Mais especificamente no canto dedicado a Paolo e Francesca, “representantes e responsáveis de um grande amor”.

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Gastronomia

Cenone na capital paulista Restaurantes italianos de São Paulo oferecem ceias de Natal e Ano Novo para serem degustadas no local ou em casa Janaína Pereira

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De São Paulo

s festas de fim de ano são sempre cercadas de reuniões familiares com presentes e boa comida. A cada ano aumenta o número de estabelecimentos que oferecem grandes ceias de fim de ano – conhecidas como cenone na Itália — para serem degustadas no próprio local ou em casa. Em São Paulo, os restaurantes italianos têm boas opções que unem a tradição brasileira a alguns dos melhores pratos da gastronomia italiana. O chef Sergio Arno, do La Pasta Gialla, aposta nas massas. Ele preparou receitas especiais para comemorar o Natal e o Ano Novo, com as tradicionais massas italianas, feitas artesanalmente, e com ingredientes tipicamente natalinos. Entre as sugestões, estão o ravióli de pernil e pistache ao molho de espumante com mascarpone e damascos e o ravióli de funghi porcini com camarões e aspargos flambados ao limoncello. As massas podem ser compradas nas rostisserias nas unidades do La Pasta Gialla para que o cliente possa dar seu toque pessoal em sua casa. O

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ravióli de pernil e pistache custa R$ 56 o quilo. Já o de funghi porcini pode ser comprado por R$ 68 o quilo. Os pratos estarão disponíveis até o dia 31 de dezembro em todas as unidades do restaurante. A outra casa do chef, o Alimentaria di Sergio Arno, também tem opções para a ceia. São entradas, guarnições, massas, pratos principais e sobremesas. Destaque para o pernil de vitela ao molho de vinho branco (R$125 o quilo), o tender ao molho de laranja e abacaxi (R$120 o quilo), a lasanha de bacalhau (R$ 82 o quilo), o lombo ao molho limão siciliano e ervas finas (R$ 95 o quilo) e o pudim de amêndoas (R$ 85 o quilo). Inspirada na culinária da Toscana, o Empório Ravioli, do chef

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O Empório Ravióli preparou uma ceia inspirada na Toscana, onde sobressaem os assados com tempero italiano, a exemplo da porchetta alla romana

Roberto Ravioli, sugere assados com tempero italiano e massas artesanais recheadas para serem degustada em casa. Sobressai-se a porchetta a la romana (R$ 140 o quilo), um dos pratos mais famosos do chef. Ravioli diz que a procura pelos assados e massas é grande porque são ideais para a época festiva. — Os clientes não têm o trabalho de ir para a cozinha e dedicam esse tempo para receber melhor seus convidados — comenta. O Empório EAT também vai oferecer diversos pratos que podem ser encomendados pelos clientes. Entre as opções, há pernil de vitela, terrine de brandade de bacalhau com tapenade de azeitonas, salada de bacalhau, caponata de frutos do mar com limão siciliano confit, paleta de leitoa, lombo assado ao molho de laranja, farofa de castanhas e purê de castanha. Esses e outros itens estão disponíveis para quem deseja montar a ceia em casa. Ceia ítalo-brasileira com a família em casa Para a publicitária Ana Paula Dias, que trabalha até tarde às vésperas do Natal, comprar a ceia já pronta é um grande presente de Natal.


Passagem de ano do terraço com a família Em um dos mais tradicionais restaurantes italianos de São Paulo, o Terraço Itália, os menus especiais de final de ano do chef Pasquale Mancini possuem diversas variações. Para

Gladstone Campos / Real Photos

a ceia de Natal, na sala São Paulo e no piano bar o buffet natalino será montado com pratos tradicionais e especialidades italianas, a exemplo do peru recheado com farofa crocante, ravióli de pera e nozes ao molho roquefort, e bacalhau com amêndoas e uvas brancas. Entre as sobremesas, há as tradicionais rabanadas com compota de uva, crostata de frutas secas e o gelato de caramelo com figos flambados. O buffet do Terraço Itália oferece todas as opções de bebidas — como espumantes, vinhos brancos, vinhos tintos, uísque, cerveja, água, sucos, refrigerantes e café – incluídas durante toda a noite. Para o buffet na sala São Paulo, o valor cobrado é de R$ 450 por pessoa. No piano bar, o peço sobe para R$ 520. Ambos são servidos a partir das 21 horas do dia 24 de dezembro. Crianças até cinco anos não pagam e de seis a 11 anos terão desconto de 50%. A casa ainda oferece um menu degustação nas salas Nobre e Pano-

Gladstone Campos / Real Photos

— Lembro da minha mãe passando o dia na cozinha para preparar a ceia. Era muito legal, mas não terei esse tempo. É meu primeiro ano de casada e já pedi ao meu marido a ceia de presente de Natal! Como ele é italiano, pesquisamos alguns restaurantes que oferecem o serviço e vamos montar um cardápio que agrade a todos. Nossas famílias gostaram tanto da ideia que decidiram passar o Natal na minha casa. Será uma grande ceia ítalo-brasileira — conta. Para aqueles que preferem aproveitar o Natal ou a passagem de ano fora de casa, os estabelecimentos italianos oferecem menus especiais, com preços fechados que incluem itens tradicionais da ceia brasileira, mas sempre com opções de pratos típicos do Belpaese. No La Tambouille, há menus para a noite de 24 de dezembro e para comemorar a passagem do ano, que incluem entrada, prato intermediário, prato principal, sobremesa e café Nespresso com petit four — tudo a R$ 398 por pessoa. O peito de peru natalino com frutas vermelhas laqueado ao mel e servido com farofa de castanha do pará é uma das opções para o Natal, enquanto o lombo de bacalhau confitado no azeite e tomilho servido com brócolis e batata esmeralda figura entre as sugestões para a noite do Ano Novo. O La Grassa preparou um cardápio exclusivo para as comemorações da noite de Natal. A casa funcionará normalmente no almoço dos dias 24 e 25, com o menu à la carte padrão. Já para a noite de ceia, o chef Junior Belém criou um cardápio especial que inclui desde o couvert às sobremesas e escolhas para cada tipo de prato. No Zena Caffé, o prato especial, já tradicional dos finais de ano da casa é o rotolo di tacchino con crema di castagne (peito de peru recheado acompanhado de purê de castanhas) a R$ 49,50. O chef Carlos Bertolazzi explica que queria trabalhar com um prato de peru para a ocasião. — Desde o primeiro Natal do Zena, em 2008, este prato está no menu e faz sucesso desde então — comemora.

O La Pasta Gialla aposta nas massas, como o ravióli ao funghi porcini com camarões. enquanto a Alimentaria di Sergio Arno oferece um amplo cardápio com lombo e tender

rama, com especialidades natalinas como o peito de peru ao seu próprio molho, servido com arroz de passas. Para quem quer fugir do tradicional, há opções como o medalhão de lagosta com lascas de trufas e cassé de tomates e risoto de lagostim. Para a ceia de Natal na sala Nobre, o valor é de R$ 420 por pessoa a partir das 19 horas. Na sala Panorama, fica em R$ 480, servida a partir das 21 horas de 24 de dezembro. Crianças até cinco anos não pagam e de seis a 11 anos terão desconto de 50%. No dia 25, o Terraço Itália propõe um brunch natalino, com pães, frios e queijos, carpaccio de filé com molho de alcaparras, risoto de lagosta, magret de pato com batata sauté, frutas tropicais e doces da confeitaria da casa. O brunch estará à disposição a partir do meio-dia, com preço de R$ 180 por pessoa. Crianças até cinco anos não pagam e de seis a 11 anos terão desconto de 50%. Durante a ceia e o brunch, estará à disposição dos pais uma equipe de recreação infantil para entreter

os pequenos. A socióloga Renata Chaves já se prepara para levar o marido e os três filhos para passar o Natal no Terraço Itália. — Uma amiga comemorou o Natal lá no ano passado e comentou o quanto era bom. Eles dão várias opções de cardápio. Então, cada família pode escolher o que mais agrada ao paladar e ao bolso! É uma chance única de passar a data em um dos lugares mais emblemáticos de São Paulo. Estou muito animada — comenta. Para quem ainda não pensou no que vai fazer para a ceia, ainda dá tempo de consultar as casas que oferecem encomendas e reservas. Depois é só entrar no clima festivo de final de ano e buon appetito!

Serviço: Alimentaria di Sergio Arno: Rua Pedroso Alvarenga, 545 - Itaim Bibi. Tel.: (11) 3167- 5667 EAT: Rua Cardoso de Melo, 1191 - Vila Olímpia. Tel.: (11) 5643-5353 Empório Ravioli: Rua Fidêncio Ramos, 18 - Vila Olimpia. Tel.: (11) 3846-2908 La Grassa: Av. Juriti, 32 - Moema. Tel. (11) 3053-9303 La Tambouille: Av. 9 de Julho, 5925 – Itaim Bibi. Tel.: (11) 3079-6277 La Pasta Gialla: Rua Pedroso Alvarenga, 528 - Itaim Bibi. Tel.: (11) 3079-3557 Rosticceria: Rua Pedroso Alvarenga, 500 - Itaim Bibi Tel.: (11): 3167 – 3609 Terraço Itália Restaurante: Avenida Ipiranga, 344. Tel.: (11) 2189-2929 Zena Caffé: Rua Peixoto Gomide, 1901. Tel.: (11) 3081-2158 * Todos os restaurantes devem ser consultados sobre reservas para festas de final de ano e encomendas de ceia, condições de pagamento e o horário de funcionamento no período.

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IlLettoreRacconta

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omo minha mãe era professora de piano, fui criado ouvindo clássicos de grandes compositores, dentre eles o genial e notável italiano Antonio Vivaldi. A música que ficou nos arquivos da minha mente foi As Quatro Estações, um verdadeiro poema que caminha paralelamente com as etapas da vida de Narcizo Campagnaro, filho de imigrantes italianos provenientes do Vêneto. Conforme o título da música, Narcizo, na primavera da vida, teve como genitor Victor Campagnaro, cujos conselhos e lições serviram de forja para o seu caráter. Seu avô chamava-se Luigi Campagnaro, proveniente de Vicenza, distrito de Rosà, região do Vêneto, tendo chegado ao Porto de Santa Cruz, no estado do Espírito Santo, em 24 de outubro de 1877. Na igreja do local, existe um quadro que tem um significado histórico muito especial: adorna a parede de sua nave o primeiro quadro a óleo pintado no Brasil. No verão da vida, Narcizo desfrutou dos floridos campos em Demétrio Ribeiro, com uma vida livre de poluição em uma casa com muitas árvores, um pomar primorosamente cultivado e jardim com flores ornamentais, lugar onde imperava a ajuda mútua. Solidariedade e fraternidade andavam de mãos dadas e, acima de tudo, um ambiente familiar de equilíbrio e trabalho. Nessa estação, aprendeu que nada na vida é gratuito e que temos que lutar pelo que almejamos. Essa lição Narciso carregou pelo resto da vida: foi a bússola norteadora de seus atos, pilar de sustentação que levaria por toda a sua existência como bandeira. Ele era um grande apreciador da natureza da cidade, embora sua grande diversão tenha sido a caça. Certo dia, ao contemplar o céu azul diáfano com a revoada das andorinhas, Narcizo me confidenciou:

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— Cacei muito, mas não vejo nenhum mérito nisto. Sinto-me envergonhado de ter abatido várias aves, pois elas matizam o céu com suas cores diversificadas, harmonizam a natureza, preenchem o vazio das nossas almas com seus maviosos cantos... É a própria voz do céu manifestando-se na terra. Concordei prontamente, mediante o sábio comentário. No outono da vida, Narcizo começou a trabalhar na prefeitura de João Neiva e, logo após, casou-se com Maria Marcelino Campagnaro. Deste enlace, nasceu uma prole numerosa: Isaías, Maria José, Jeremias, Bernadete e Júlio César Campagnaro. Neste emprego, foi considerado servidor público exemplar pelos diversos prefeitos com quem conviveu. Foi nessa época que adquiriu extraordinário conhecimento em mecânica, que seria de grande valia posteriormente. Quando se aposentou, começou um novo capítulo dentro desta estação, pois verificou que poderia projetar uma mini-fábrica de beneficiamento do milho. O fubá é um produto muito apreciado na culinária das comunidades italianas dessa região. Pratos como a polenta ainda são feitos em grandes quantidades nos dias atuais. Narcizo tinha noção de que o processo industrializado diminuía a qualidade final do produto, pois os grãos passavam em uma grande velocidade na moagem, aquecendo muito a matéria-prima. No método antigo, a moagem era feita com água. A correnteza do rio era desviada para o moinho de pedra, dando rotação equilibrada para se obter um produto de excelente qualidade, sem perder o sabor do milho. Com seus conhecimentos de mecânica, ele pensou em criar uma máquina de moagem que conservasse os nutrientes do milho. E, assim, adquiriu um Chevette e um motor elétrico. Também conseguiu Narcizo Campagnaro teve vários momentos a pedra que faz a moagem, uma importantes na colônia italiana de João Neiva, correia apropriada e iniciou a sua no Espírito Santo, porém o mais marcante foi o casamento com Maria Marcelino invenção. Após vários ajustes, calcados na sua experiência de vida, obteve resultado de qualidade superior ao esperado. Hoje, aos 87 anos de idade, Narcizo está no inverno da vida, a fase mais sábia de sua existência. Esta estação não é nada mais do que o somatório da primavera, verão e outono que este ancião soube absorver sabiamente. Nesse momento, floresce a sabedoria para discernir o que é correto e sensato, a paciência se faz presente em todas as suas ações. Ele continua operoso, tocando a sua pequena e artesanal fábrica, exemplo vivo a ser seguido para quem chegou e para quem virá. Jane Montechiari Niterói - RJ Vêneto Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br


saporid’italia

JanainaPereira

A bela napolitana ão Paulo – Desde 2000 uma referência em São Paulo, cidade onde comer uma boa pizza parece algo redundante, a Veridiana foi considerada pela revista norte-americana Condé Nast Traveler, em 2003, como o “salão de pizzaria mais transado do mundo”, além de ter seus pratos elogiados. O casarão onde está instalada foi tombado como patrimônio histórico e é um conjunto de casas reformadas, datadas de 1903. Uma delas era ocupada pelo João Sebastião Bar, reduto da boemia dos anos 1960 que revelou astros da bossa nova. Nos três andares, há um bar de entrada, música de piano de cauda e subsolo com mesas em espaços mais recolhidos. Por trás do sucesso está Roberto Loscalzo, filho de italianos nascido no Brás, reduto da colônia italiana. Desde pequeno, viu sua vida e as pizzas caminharem juntas. — Meu pai era dono de pizzaria. Quando eu era criança só existiam dois tipos de pizza, mussarela e aliche. Até hoje elas são as minhas preferidas — conta ele, que foi dono da pizzaria Via Blue, cujo cardápio a Veridiana incorporou. Mas a casa surgiu em sua vida por mero acaso, recorda. — Estava à frente da Via Blue e uma cliente da pizzaria me procurou para mostrar casas de sua propriedade na Rua Dona Veridiana. Ela me fez uma proposta, eu analisei e resolvi investir em uma pizzaria ali. Fizemos a restauração das casas, que se uniram e viraram um casarão. Digo que foi a Veridiana que veio a mim, e não eu até ela — comenta Loscalzo, que tem como sócio José Ricardo Namura. As pizzas de massa crocante têm recheios vão do tradicional ao exclusivo. As redondas podem ser normais ou integrais, finas ou médias, individuais ou grandes. Brilham no menu a Della Nonna , com fatias de linguiça artesanal e mussarela, e a Sapore di Parma, com mussarela coberta por fatias de presunto Parma. Algumas das criações de Loscalzo são inusitadas, mas os clientes ainda preferem a tradicional marguerita. Entre as especiais, está a La Campioníssima, com ricota fresca, parmesão e tomate-cereja de Nápoles, cujo sucesso foi tanto que foi elogiada até na Itália. O cardápio inclui saladas e entradas e a carta de bebidas propõe drinques tradicionais e exclusivos, a exemplo da caipirinha de limão siciliano com manjericão. Em 2005, a casa abriu filial nos Jardins, em um espaço com espelho d’água e lareira para os dias mais frios. Serviço: Veridiana Pizzaria Rua Dona Veridiana, 661 - Higienópolis – São Paulo Tel: (11) 3120-5050 / 3151-5533 (delivery) www.veridiana.com.br De domingo a quinta, das 18h à 00h30. Sextas e sábados, das 18h a 1h30. Delivery de domingo a domingo, das 18h à meia-noite.

Tadeu Brunelli

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Considerado o “salão de pizzaria mais transado do mundo” por revista americana, Veridiana fica em Higienópolis e foi inaugurada por filho de italianos do Brás

La Campioníssima Massa de pizza: 1 kg de farinha de trigo; 1 e ½ colher (chá) de fermento biológico; ¼ de xícara (chá) de azeite; ¾ xícara (chá) de água filtrada; 1 colher (sopa) de sal; 1 colher (sopa) de açúcar. Junte o fermento com o sal e o açúcar, dissolva a mistura com a água e reserve. Em outra tigela, coloque uma parte de farinha, o azeite e a mistura que ficou reservada. Mexa com as mãos e coloque a farinha aos poucos até dar o ponto da massa, quando ela soltar dos dedos. Deixe descansar por 1 hora. Depois, faça 4 bolas, e deixe crescer por mais meia hora. Polvilhe uma plataforma de mármore com farinha e abra a massa com um rolo. Rende 4 massas de pizza com 35 cm de diâmetro. Molho de tomate: 1,5 kg de tomates maduros; 1 dente de alho picado; 1 pitada de orégano; Sal a gosto. Corte os tomates e retire as sementes. Passe-os por um moedor manual de carne e deposite em uma vasilha. Junte o alho ao tomate, acrescente o orégano e mexa. Não use liquidificador para manter a textura da fruta. Cobertura: Ricota fresca; Queijo parmesão ralado na hora; 8 tomates italianos (pomodorini) especiais; cortados ao meio. Monte a pizza com o molho de tomate. Esfarele a ricota fresca e espalhe sobre a pizza. Em seguida, coloque o queijo parmesão ralado. Distribua os tomates em toda a pizza e asse no forno a 250ºC. Retire quando a massa estiver dourada.

comunit àit aliana | dez embr o 2012

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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro

Curso de cozinha Pepe Verde

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ma das escolas de cozinha de Roma é a Pepe Verde. Fica na rua Santa Caterina da Siena, perto do Panteão, no centro histórico. Oferece cursos para profissionais e amadores. Existem diversos tipos de cursos, sempre sob algum tema: peixes, massas, fritos, polpette, polenta, pães, doces, tortas, geleias. Para quem quiser aprender para valer, tem até um curso completo de cozinha. E para impressionar os hóspedes nas grandes festas, existem cursos perfeitos: um ensina todo o menu do Natal, outro o menu do Ano Novo. Boa sorte e bom apetite!

Lugar de mulher é na cozinha

Q

uantas vezes as mulheres têm que escutar essa frase! Mesmo nos tempos modernos, com a divisão de papéis entre homem e mulher, nos embatemos com isso. Na Itália, país mais tradicional que o Brasil, na vida da maior parte dos casais, é a mulher que geralmente cozinha (exceto quando se trata da alta gastronomia, onde a maioria dos chefs é homem). O lugar da mulher é na cozinha, mas também tem que cuidar dos filhos, da casa e trabalhar. Nunca fui uma cozinheira de mão cheia. Longe disso. Digamos que não tenho o dom. Gosto sim é de experimentar novidades. Por esta razão, de vez em quando, acabo me aventurando na cozinha. Faço um prato por curiosidade e sigo as instruções da receita à risca. Geralmente, por puro milagre, dá certo. Mas é claro, são coisas simples, como strogonoff, omelete, uma massinha com um certo molho, berinjela à parmegiana. Outras vezes, me aventuro nos doces e faço um cheesecake, ou a torta francesa tarte tatin, uma mousse. Porém, continuo sendo uma cozinheira bem ralé e isso desde os tempos de juventude. Certa vez, quando morava nos Estados Unidos, quis preparar uns quitutes brasileiros para o meu namorado: bife acompanhando de mandioca frita. Fui ao mercado e acabei comprando gengibre, achando que era mandioquinha. Ora, para mim, o formato era igual, e aqueles nódulos irregulares, que lembram troncos de árvores, também eram. Percebi só quando cortei e saiu aquele cheiro inconfundível de gengibre. Acabei fazendo uma carne com molho de gengibre, a qual, no final das contas, até teve um modesto sucesso. Por sorte, nunca tive namorado exigente quanto à culinária. Sempre saborearam meus piores pratos sem dar um pio, ora impassíveis, ora fazendo certos elogios quando eu caprichava. Na Itália, minhas habilidades melhoraram muito. Italiano gosta de cozinhar. Quase toda a população sabe fazer o básico. Então, olhando o que eles faziam, alguma coisa aprendi. Empolgada, certa vez, até fiz um curso de inhoques, que ensinava a preparar o prato de três cores com três molhos diferentes. Foi um curso de quatro horas. Bom mesmo foi comer os três tipos de inhoque junto com os outros alunos, acompanhado de uma boa garrafa de vinho tinto. No entanto, a maior parte das receitas aprendi com amigos: graças a eles, posso sobreviver com uma dúzia de pratos. A última receita que me deram foi penne alla vodka. Pela receita, tudo parecia muito fácil: molho de tomate, bacon, pasta e vodka. Fichinha, pensei, já fiz coisa mais complicada que isso. Bom, estava escrito na receita o momento exato de colocar a vodka e estava escrito para fazê-lo com fogo alto. Mas assim que coloquei a vodka já vi a panela circundada por uma bola de fogo tão grande que prometia uma ligação para os bombeiros dali a poucos segundos. Peguei a panela e coloquei embaixo da água da torneira (mesmo se depois me explicaram que não se deve fazer isso). E o fogo se apagou. Depois, fiz uns trambiques, adicionei molho de tomate e acabei servindo a pasta daquele jeito mesmo. Quem experimentou disse que estava boa, mas, que de vodka, nem o mínimo traço. Quanto ao fogaréu na cozinha, ninguém ficou sabendo, quanto menos meu companheiro, que conhece bem minhas limitações no mundo do fogão e gosta de tirar um sarro.

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