Setembro foi o mês do Bem-te-vi, infor-
a parceria com o Coletivo Feminista Rita
mativo mensal do Sistema Saúde Escola,
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Lobato, é um movimento necessário. “São
discutir o tema Saúde Mental e uma pre-
estratégias grupais de cuidado e fortaleci-
ocupação recorrente nos corredores, ban-
mento que, dentro de um enquadre ético,
cos e salas de aulas: a saúde mental de
empoderam as estudantes para transfor-
universitários. E mais que nunca é preciso
mar o sofrimento em um ato emancipa-
falar do assunto, afinal, está comum ouvir
tório e que rompe o ciclo da violência,
comentários sobre o quão pressionados
principalmente se demanda denúncias e
sentem-se os estudantes quanto ao ritmo
outros encaminhamentos no campo do
acelerado e produtivista da academia e
direito”, ressalta.
como casos de tentativa de suicídio têm se
Ela complementa que, no caso de violência
tornado cada dia mais comuns.
sexual, os parceiros têm o objetivo de orga-
Com o objetivo de acolher os pedidos de
nizar o fluxo de cuidados de forma mais dire-
ajuda dos estudantes da Faculdade de
ta e eficiente para dar mais visibilidade aos
Ciências da Saúde (FS/UnB), a psicóloga
caminhos ativos e possíveis de serem bus-
Cláudia Pedrosa, professora do Depar-
cados nas emergências. “Essa parece uma
tamento de Saúde Coletiva (DSC), criou
realidade muito distante de nós, mas quando
o email acolhefs@gmail.com a partir do
abrimos a escuta, os casos chegam numa
qual gerenciará as demandas dos alunos
incidência muito impactante”, afirma.
que estão passando por algum tipo de
De acordo com a professora, o sofrimento
sofrimento emocional ou não estão bem
advindo do racismo também é muito pre-
nas atividades acadêmicas, demonstran-
sente e ainda silenciado na universidade.
do apatia, tristeza em sala e dificuldades
Segundo ela, quadros de baixa autoesti-
no desempenho.
ma e depressão associados às experiên-
A iniciativa surgiu no DSC com o desenvol-
cias de discriminação e violência racial são
vimento de uma rede informal de cuidados,
frequentes entre a população negra e, no
entre docentes e a coordenação do curso.
ambiente acadêmico, causa ansiedade por
Formada em Psicologia, a professora aco-
um bom desempenho. “Nem sempre as
lhe os estudantes e, quando necessário –
pessoas têm consciência que as queixas
como em casos mais sérios que precisam de uma avaliação para receitar remédios – faz encaminhamentos para terapia ou psi-
e-mail para que estudantes pudessem ter
ajudará a ampliar o cuidado na FS e a ter-
lia (HUB). Além disso, a professora conta
conseguirem nos acessar pessoalmente,
nizarmos nossa rede de cuidados e conec-
quiatria no Hospital Universitário de BrasíFS PROMOTORA DE SAÚDE
são diretamente relacionadas ao racismo,
com o apoio da docente Silvia Ribeiro de
Souza, do Departamento de Farmácia, na orientação quanto ao uso de florais.
Conforme Cláudia, a ideia é organizar uma
rede ativa de cuidados aos estudantes, mapeando docentes e projetos da Faculdade que realizam essa promoção de saú-
de no campo da saúde mental e do cuida-
do integral. “Dessa forma, resolvi criar o
um canal mais direto e, no caso de não
poderem entrar em contato para marcarmos um encontro”.
O projeto faz parte do programa institucional FS Promotora de Saúde e possui ca-
ráter sigiloso e ético com as necessidades
dos alunos. Nenhum caso será exposto ou discutido em qualquer outra instância,
a menos que isso seja uma demanda do
discente. “Essa ferramenta também nos
mos uma ideia da real demanda para orga-
tar com outros grupos existentes na UnB”, contextualiza a professora.
Além do sofrimento relacionado às cobranças e ao desempenho na vida acadêmica, a professora atualmente recebe demandas
ligadas à violência contra mulheres, como assédio e outras especificidades que as fa-
zem sofrer pela desigualdade de gênero.
Para essas situações, a docente diz que
por isso é importante essa conversa mais “especializada” para evidenciar as influências da discriminação”.
Cláudia organiza o cuidado oferecido aos
estudantes baseada na experiência que viveu no campus da Universidade Fede-
ral de São Carlos (UFSCAR), onde atuou
e ofereceu apoio psicológico a estudantes
de Medicina. Ela destaca que pensar na organização desse cuidado favorecerá o planejamento de um espaço interno de cuidado aos estudantes conectando as redes do Campus e do Distrito Federal.
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