Jornal UEG | Edição 10 | maio-junho | 2014

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jornal UEG Ano 2 - Nº 10 | maio-junho / 2014

Jornal da Universidade Estadual de Goiás

impresso especial ias dênc O spon e /G r r R o C 09 D 2948 9912 G E U S

REIO

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devolução garantida

Espaço urbano: para quem?

Professor Anderson Ferreira, do curso de Arquitetura e Urbanismo no câmpus Henrique Santillo, em Anápolis, toma a Capital goiana como exemplo e se pergunta: como as pessoas vêm ocupando a cidade? No ir e vir de carros, na dificuldade para se chegar aos parques e para se andar nas calçadas, o pedestre está em último plano (p. 8)

Estudantes, os professores daqueles que sonham

No câmpus Itumbiara, discentes da UEG lecionam em um cursinho pré-vestibular para comunidade de baixa renda. O curso gratuito já atendeu 700 pessoas das escolas públicas da região, que fica às margens do Paranaíba, e possibilitou trilhas rumo ao Ensino Superior (p. 5)

Gestão – Concepção humanista de currículo é analisada na Universidade

Proposta de matrizes curriculares, em debate na UEG, prioriza a formação interdisciplinar e inter-cursos, além de discussões sobre direitos humanos e diversidade etnicorracial (p. 3)

UEG em Contexto – Mais do que terra, condições para o cultivo da semente

A repórter Stephani Echalar, em conversa com camponês, professor e agente social da Comissão Pastoral da Terra, traz um panorama sobre a situação dos trabalhadores do campo em Goiás

Universidade em Mosaico – Biodiversidade e Agronegócio

IV Semana Acadêmica Agrobio, no câmpus Palmeiras de Goiás, conecta produtividade agrícola à conscientização ambiental. Evento endossa a integração entre os câmpus da UEG, com participação de estudantes de Design de Moda (p. 10)


Editorial

jornal UEG

Nem aquém nem além, a comunidade está aqui, na UEG

Anápolis, maio-junho de 2014

Luana Borges

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Que vocês tenham uma boa leitura!

REITOR Haroldo Reimer VICE-REITORA Valcemia Gonçalves de Sousa Novaes CHEFE DE GABINETE Juliana Oliveira Almada PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO Maria Olinda Barreto PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Ivano Alessandro Devilla

EXPEDIENTE

O Jornal UEG desta décima edição chega aos leitores com um novo formato gráfico. Desde janeiro deste ano, o Núcleo de Jornalismo da Universidade Estadual de Goiás vem pensando uma linha editorial que traga, à página escrita, os anseios da comunidade acadêmica. Queremos mostrar, nas linhas que temos aqui, aquilo que estudantes e professores vêm desenvolvendo nos processos de ensino, pesquisa e extensão. Pensamos em um jornal que contemple discussões acerca de temas da atualidade, com o debate de nosso corpo docente e discente. Somos uma Universidade multicâmpus e contemplamos diversas realidades regionais. Tal fato nos permite trazer, ao Jornal UEG, a pluralidade de debates e temas, a complexidade de filiações discursivas vindas dos sujeitos que compõem a Universidade. Desta feita, fez-se necessário aumentar o número de páginas para que conseguíssemos, com isso, um acréscimo expressivo do espaço com o intuito de tornar comum – comunicar – aquilo que nossos professores executam no Estado. Nossas atuais 12 páginas trazem impresso o mosaico de ideias e saberes que dá vida à UEG: ações e movimentos nos câmpus de Itumbiara, Quirinópolis, Palmeiras de Goiás e Mineiros estão nessa edição. Na reportagem de capa, vemos a importância da UEG à comunidade de Itumbiara e cidades vizinhas. Às margens do Rio Paranaíba, na divisa entre Minas e Goiás, estão estudantes de Ciências Econômicas, Enfermagem e Farmácia. Eles se dedicam ao preparo de aulas que serão destinadas a secundaristas vindos de escolas públicas da região. O intuito é fornecer, a adolescentes e adultos, meios para que eles adentrem ao Curso Superior. O cursinho pré-vestibular – projeto de extensão do câmpus Itumbiara – é a ferramenta modificadora da realidade educacional de muitas pessoas que, sem ele, não teriam condições de preparo para os processos seletivos das universidades brasileiras. Na reportagem de Alisson Caetano, ressoa a voz de personagens como Jéssica Rosa, estudante do 6° período de Farmácia no câmpus Itumbiara. Ela vê, nas aulas que ministra à comunidade, a possibilidade revolucionária de transformação social. Ainda com relação à extensão, é em Quirinópolis que a docente Neida Terezinha Rodrigues recebe adultos para orientá-los no processo de escrita. A docente vê a produção textual como empoderamento no mundo. E é assim que, ao dar aulas de redação à comunidade externa e ao dizer do encanto de perceber os estudantes “brilharem em texto”, ela se reoxigena enquanto pesquisadora da UEG. Também no tocante às políticas extensionistas da Universidade, a seção UEG em Foco traz o exemplo dos laboratórios de informática do câmpus Mineiros. Orientados pelo professor Rodrigo Borges, estudantes levam tecnologia a idosos, conectando-os às formas de expressividade e de comunicação da contemporaneidade. Em diálogo constante com as demandas sociais, também nos colocamos, no Jornal UEG, à frente de discussões caras à atualidade sociopolítica vivida no Brasil. Para tanto, nesta décima edição, o professor Marcello Siqueira faz uma análise sobre os linchamentos ocorridos no país, trazendo uma discussão sobre direitos humanos. O docente é doutorando no Programa de Pós-Graduação em “Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento”, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e professor do câmpus Iporá. Sabemos que é papel da Universidade se atrelar ao estudo sobre as demandas de seu povo. Nesta perspectiva, zelando pela articulação da UEG às temáticas cotidianas, também trazemos duas reportagens conectadas às temáticas sociais. Por um lado, a situação dos camponeses em terra goiana e, por outro, uma análise da vida de metropolitanos em urbes despovoadas (e repletas de máquinas): esses são os dois temas da seção UEG Em contexto. Por fim, a repórter Bárbara Zaiden visitou a UEG câmpus Palmeiras de Goiás e percebeu, na IV Semana Acadêmica Agrobio, uma pluralidade de cores e vozes. Do agronegócio à consciência ecológica, de estudantes de agronomia a futuros profissionais de design de moda: tudo isso foi presença marcante na Semana, que priorizou o diálogo intercursos e intercâmpus. Ainda aliado à temática ambiental, o leitor pode encontrar, nas próximas páginas, texto de Stephani Echalar sobre a participação da comunidade uegeana no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, ocorrido entre os dias 27 de maio e 1º de junho na Cidade de Goiás. O foco – nessas páginas impressas com material reciclado – é a pluralidade de vozes, a variedade de ações e a isonomia de localidades da UEG. Percebemo-nos, aqui, como Universidade-casa da comunidade. Resta que nos voltemos, no trabalho de reportagem, aos problemas cotidianos e à conscientização social crescente. Afinal, este é o intuito de uma Universidade que, cada vez mais, se consolida.

Anápolis - Goiás, maio-junho de 2014 Ano 2, Nº 10

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS ESTUDANTIS Marcos Antônio Cunha Torres PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO, GESTÃO E FINANÇAS José Antonio Moiana Jornal UEG COORDENADOR GERAL DE COMUNICAÇÃO Marcelo Costa EDITORA Luana Borges REDAÇÃO Bárbara Zaiden Fernando Matos Stephani Echalar Alisson Caetano REVISÃO Alisson Caetano Luana Borges FOTOGRAFIA José Afonso Viana DIAGRAMAÇÃO E ARTE Graziano Magalhães João Daniell Gulherme Mercês COLABORADOR Eduardo de Oliveira Silva Publicação da Coordenação Geral de Comunicação Universidade Estadual de Goiás CGCOM - Reitoria da UEG Rod. BR – 153, Quadra Área, Km 99 CEP: 75.132-903 / Anápolis – GO Tel. Geral: (62) 3328-1404 www.ueg.br Impressão: Elite Gráfica Tiragem: 15.000 exemplares Universidade Estadual de Goiás


Gestão

jornal UEG Anápolis, maio-junho de 2014

Pavimento de novos caminhos rumo à formação O Grupo de Trabalho de Desenvolvimento Curricular articula as discussões que pretendem instalar, na UEG, uma concepção humanista de currículo por Alisson Caetano A palavra currículo, em sua definição etimológica, significa “percurso de corrida”. A organização curricular de uma Universidade, por sua vez, sinaliza os caminhos a serem percorridos pelo estudante tendo, como ponto de chegada, sua formação. “A realidade do dia a dia de uma Universidade é muito dinâmica e o currículo não pode ser uma peça burocrática, engessada. Ele é uma ferramenta pedagógica, que garante ao docente, e ao discente, saber para onde o curso caminha e o que se pretende com a formação”, revela o coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de Desenvolvimento Curricular na Universidade Estadual de Goiás (UEG), professor Renato Dias de Souza.

Proposta de estrutura curricular

O GT vem trabalhando, desde junho de 2013, para elaborar uma proposta de diretrizes que tenha como objeto central o sujeito e seus contextos. Composto por 18 professores de diversas áreas e de diferentes câmpus da UEG, o grupo tem caráter propositivo e, não, deliberativo. “Cabe às instâncias deliberativas da Universidade decidir se a proposta de diretrizes elaborada pelo GT entrará em vigor. Quem define a aprovação, ou não, de um projeto pedagógico curricular são a Câmara de Graduação, o Conselho Acadêmico e o Conselho Universitário”, explica Renato. A proposta de estrutura curricular elaborada teve como referência a legislação e a política educacional brasileira e o que tem sido produzido pelo Ministério da Educação (MEC) em relação ao ensino superior. Mas, mesmo partindo de parâmetros amplos, o GT procurou despertar estímulos que colocassem as matrizes curriculares da UEG a serviço da realidade local da instituição, primando por um ensino que resulte em uma identidade institucional.

Função social Sobre a questão da identidade institucional, o GT propõe que a estrutura curricular da UEG se adeque para que 10% da carga horária dos cursos contemplem matérias comuns a todas as graduações. Esse núcleo comum seria composto por uma disciplina de Introdução à Educação Superior, por uma disciplina de Educação Ambiental, por uma disciplina de Educação em Direitos Humanos e Diversidade e, por fim, por uma disciplina de Educação das Relações Etnicorraciais. “Todos os estudantes da UEG teriam, portanto, contato com as discussões de direitos humanos e com outras questões do mundo contemporâneo. Um sujeito graduando em Matemática ou em Moda tem de saber discutir o que diz respeito ao humano”, elabora o professor Renato Dias. Outros 10% da carga horária dos cursos da UEG seriam destinados a matérias de Núcleo Livre, por meio das quais os estudantes pudessem montar seu percurso curricular com disciplinas de outras áreas e de outros câmpus, ampliando, assim, a formação do discente dentro de seus interesses extracurso. A interdisciplinaridade e a flexibilidade são eixos orientadores da proposta. Pensando nisso, o GT defende os benefícios de se adotar a ferramenta da semestralidade, uma vez que o sistema da educação superior brasileira é, em sua maioria, organizado pelo princípio das disciplinas semestrais. “Se a

UEG adotar uma matriz curricular semestral, facilitase a relação com as demais Instituições de Ensino Superior, principalmente no que diz respeito à mobilidade discente”, explica o coordenador do GT.

Estrada de mão-dupla A Pró-Reitoria de Graduação organizou, na UEG câmpus Pirenópolis, o I Simpósio de Desenvolvimento Curricular da Graduação nos dias 23 e 24 de abril, para que diretores da UEG de todos os câmpus, coordenadores pedagógicos e coordenadores de cursos tivessem um primeiro contato com a proposta de diretrizes curriculares elaborada pelo GT. Desde então, várias críticas têm surgido em relação aos rumos tomados pelo Grupo de Trabalho, sugerindo um caminho inverso ao proposto pelo mesmo. O GT recebeu críticas de professores que alegam que a matriz proposta pode gerar um futuro enfraquecimento das licenciaturas, ao retirar dos primeiros anos de curso – em benefício das matérias comuns – algumas particularidades atinentes à docência. Outro ponto de discordância, segundo os docentes que se opõem ao modelo, é que eles interpretam que as mudanças propostas seriam causadoras de desemprego dos professores temporários e dos que estão, atualmente, realizando o concurso público que prevê 250 novas vagas na UEG. De acordo com eles, as novas disciplinas propostas não contemplariam as áreas de atuação dos ingressantes. Para o professor Renato Dias, essas interpretações se apresentam como errôneas, uma vez que, se aprovada, a atual proposta irá coexistir com as matrizes curriculares hoje vigentes porque seriam necessários, no mínimo, quatro anos para que todos os cursos adotassem as propostas elaboradas pelo GT.

Vozes e sujeito Para ampliar a discussão e poder ouvir o que dizem as vozes de dentro dos câmpus, o GT desenvolveu encontros regionais que uniram todos os cursos e todos os câmpus da UEG, por meio de seus diretores; coordenadores pedagógicos; coordenadores de curso; um professor ou uma professora do Núcleo Docente Estruturante; além de um docente, que não integre esse Núcleo, e um discente que represente cada câmpus. O Núcleo Docente Estruturante, instância consultiva da UEG, é uma organização existente para cada curso, com professores que possam legitimar o trabalho desenvolvido em função das demandas de cada graduação. Segundo o professor, esse modelo de representatividade foi a forma encontrada pelo GT de se construir um debate no qual todos os agentes que devem fazer parte da discussão sejam representados. Professor Renato explica ainda que muitas das críticas feitas também se baseiam em supostos impactos administrativos que uma reorientação curricular deste porte possa causar, com complicadores referentes ao processo de matrícula, por exemplo. Entretanto, ele ressalta: “não temos por base a racionalidade econômica ou a dinâmica administrativa da Universidade. Nossa preocupação é com as condições pedagógicas necessárias para oferecer os melhores cursos possíveis”, defende Renato Dias. Depois dos encontros regionais serão realizados fóruns de modalidade e de curso, que irão trabalhar a configuração do documento final. “Na Universidade, alguns ainda estão limitados à grade curricular, ou seja, ao currículo como algo que aprisiona o sujeito. O que queremos é uma matriz, algo que é gerador, algo que direcione os melhores caminhos da formação não só acadêmica, mas humana”, finaliza o coordenador do GT.

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Entrevista

A articulação entre Academia e realidade discente Professora Yara Fonseca, da UEG câmpus Aparecida de Goiânia, fala da importância da Universidade para conduzir a uma formação completa, humana e profissional por Fernando Matos

A agora doutora, Yara Fonseca de Oliveira e Silva, professora de Metodologia Científica, na UEG câmpus Aparecida de Goiânia, recebeu-me para uma entrevista no fim de tarde do dia 21 de maio. O bate-papo foi sobre a posição ocupada pelo Ensino Superior no País. Segundo a professora, o momento pede um currículo que traga condições teórico-científicas que garantam o efetivo desenvolvimento socioeconômico da região na qual a Universidade está inserida. Discente do Programa de Pós-Graduação “Doutorado Interinstitucional entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de Goiás (UEG)”, com foco em “Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento”, ela defendeu sua tese de doutorado no dia 26 de maio. Com o título “Universidade e Desenvolvimento Local: o caso da Universidade Estadual de Goiás”, sob orientação da professora Lia Hasenclever, a pesquisa discute as relações que a UEG empreende com os atores do desenvolvimento local nas cidades em que se encontra. “A questão é provocar uma formação articulada com o mundo do trabalho. Isso não quer dizer que se tenha de perder de vista a formação maior, que são os posicionamentos humanos e críticos de seres autônomos e emancipados. Em meio a isso, também é necessária a formação de seres capazes de transformar suas condições de trabalho na região em que estão inseridos”, observa a recém doutora da UEG.

Foto: José Afonso

Jornal UEG - Qual a importância do ensino superior no cenário atual?

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O ensino superior, em nosso contexto atual, é importante por articular teoria e prática, transformar conhecimento tácito em explícito, e vice-versa, em diversos campos de conhecimento. Ele é uma das estratégias que possibilita o alcance de um pensar, um raciocínio que avança e empodera os sujeitos de um local. O conhecimento é um importante recurso para o desenvolvimento. Penso que, ao conseguir ampliar o conhecimento teórico-científico do sujeito, é possível melhorar as suas condições e, consequentemente, as condições socioeconômicas locais. . Jornal UEG - Formação para mercado e formação mais ampla são sempre debates colocados? O papel da Universidade é conduzir a uma formação completa, humana e profissional. É claro que – e por isso se define o conjunto de conteúdos dentro de uma profissão – essa formação tem sido, cada dia mais, pensada para atender às demandas do campo econômico de uma região. Isso possibilita melhorias, também, do campo social. Portanto, a condição das atividades da Universidade (ensino, pesquisa e extensão) depende da visão que se adota a partir, por exemplo, da proposta da matriz curricular e das condições de infraestrutura científica e tecnológica. Importa dizer que, atualmente, há vários tipos de formação acadêmica e uma forte tendência de formação apenas com base no ensino, muito mais específica para o mercado. Assim, esquece-se a formação atrelada à pesquisa e à extensão. Jornal UEG - Articular conhecimento científico

com a realidade do aluno é uma via para essa formação mais completa? A proposta é fazer essa leitura do conhecimento e desenvolver a produção e a difusão dentro das atividades de ensino, pesquisa e extensão, com a propriedade do conhecimento teórico, mas adaptado à realidade, à vivência do local e aos alunos. É fundamental que tenhamos um currículo que seja mais formativo e de melhor qualidade. Para isso, podemos começar fazendo o convite ao estudante, instigando -o ao conhecimento. É preciso, dentre outras questões, pensar um currículo consistente e articulado. Um currículo que possa fazer essas ligações entre a Academia e a realidade discente. Jornal UEG - A permanência é uma questão que se coloca, hoje, como urgente? A permanência é uma questão complicada em muitas universidades. É preciso mecanismos de incentivos, bolsas de estudo, para estimular uma formação de qualidade que garanta condições de estudo aos alunos de baixa renda. É preciso aprimorar cada vez mais as condições de permanência. A UEG, por ser uma universidade multicâmpus e capilarizada, tem dado um importante passo nesta direção, ao garantir condições de o aluno se manter no seu local de origem e ao oferecer bolsas de estudo. Isso favorece a retroalimentação do conhecimento no local, pois o estudante, dependendo do curso de interesse, já não precisa mais se deslocar aos grandes centros em busca de formação. Jornal UEG - Como a senhora avalia essa questão da capilaridade? Eu penso que a instalação e a consolidação de um

câmpus da UEG no interior favorecem a formação dos sujeitos. Isso é, de fato, uma enorme contribuição para a sociedade goiana. Além disso, ter um câmpus no interior é uma condição simbólica que modifica o status quo da região. Assim, já está estabelecida essa importância da UEG no local em que ela se encontra, pois a UEG já faz parte daquele município e daquela comunidade. Assim, nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão trazem, da melhor forma possível, essa leitura da realidade do discente. Quer dizer, o aluno é daquela localidade, faz parte daquela condição social, política e econômica, tendo o conhecimento daquele local. Trazer esse conhecimento tácito e empírico – que condiga com a visão do estudante – para dentro da UEG, articulando-o ao conhecimento explícito, pode ser a maior relevância na atuação da Universidade. Jornal UEG - Qual a importância da UEG para o desenvolvimento do Estado? A nossa Universidade consegue se estabelecer dentro de uma comunidade, de um município e de uma região. Ela consegue atender não só a esse local, mas, também, à região vizinha. Ela traz o conhecimento do aluno, que vive aquela realidade, para dentro da Universidade. Essa é a força da UEG. A força do conhecimento do aluno, atrelada ao conhecimento do professor, contribui, de forma expressiva, para o desenvolvimento regional. Quando os câmpus fortalecem essa cultura nos locais, eles alcançam a respeitabilidade. Em síntese, a UEG, nas suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, pode ser considerada uma instituição que favorece o crescimento da região. Para a UEG ampliar, ainda mais, sua contribuição na sociedade do conhecimento – e no contexto de inovação – é preciso que ela invista em sua infraestrutura física, tecnológica e de recursos humanos.


Extensão

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Condução para melhores futuros Os câmpus da UEG em Itumbiara e Quirinópolis auxiliam adultos, além de alunos de escola pública, na conquista de conhecimento e na sinalização de melhores rumos para suas vidas por Alisson Caetano

O Cursinho Pré-Vestibular “Preparando Jovens e Adultos para a Universidade”, projeto de extensão da Universidade Estadual de Goiás (UEG) câmpus Itumbiara, foi criado em 2005 com o objetivo de direcionar alunos de escola pública, e demais interessados, ao conhecimento necessário para a aprovação em vestibulares de instituições de ensino superior. Hoje, com uma turma de 58 alunos, o curso contabiliza mais de 700 pessoas que já passaram pelos bancos de suas salas de aula. Itumbiara se encontra do lado goiano do Rio Paranaíba, divisa natural entre Goiás e Minas Gerais. Por ser gratuito, o curso atrai não só alunos de Itumbiara, mas também de cidades vizinhas, tanto do nosso Estado quanto dos municípios mineiros, no lado de lá do rio. “De Minas, vêm alunos de Arapurã, Centralina e Tapaciguara para nossas aulas. E dos municípios de Goiás, o curso conta com estudantes de Buriti Alegre, Panamá, Bom Jesus e Cachoeira Dourada”, explica o coordenador do projeto de extensão, professor Edinando Batista. Esses alunos chegam à UEG câmpus Itumbiara nos mesmos ônibus escolares utilizados como transporte intermunicipal pelos discentes da UEG. Esse meio de locomoção, no entanto, não é o único espaço partilhado por eles, pois também se encontram em classe. São os acadêmicos do câmpus que ministram as aulas que acontecem aos sábados. “O curso é dado em diferentes módulos pelos estudantes das Ciências Econômicas, Enfermagem e Farmácia, da UEG, e por professores e professoras voluntários da rede pública”, comenta Edinando, afirmando, também, que as aulas de Física e Química do curso são ministradas por alunos voluntários do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFG).

Ferramenta transformadora

A aluna do 6º período de Farmácia, da UEG câmpus Itumbiara, Jéssica Christina Rosa, é natural de Goiatuba e foi residir em Itumbiara para sua graduação. Por meio da secretaria do Câmpus, Jéssica ficou sabendo do projeto e logo se interessou em se inscrever. A discente, que começou a ministrar aulas de Biologia no curso pré-vestibular esse semestre, vê o trabalho desenvolvido pelo projeto como uma ferramenta transformadora da realidade de ensino vivida por esses alunos. “É muito bom saber que estamos contribuindo para o crescimento daqueles que carregam consigo a deficiência de um ensino que, muitas vezes, não é o suficiente para a aprovação em um vestibular”, revela Jéssica. A aluna saiu direto do ensino médio para sua graduação, mas sabe que a realidade

de muitos não permite que isso aconteça. O coordenador do projeto afirma que a demanda é alta o bastante para se formarem uma segunda e uma terceira turmas, mesmo com os vários cursinhos pré-vestibulares particulares espalhados pelos quase 2.500 km² do território itumbiarense. “Não só pelo fato de ser gratuito, mas o boca a boca atrai bastante aluno. Quem sai do projeto espalha pela cidade a qualidade de nossas aulas”, comenta Edinando. Mas, ao ser questionado sobre o porquê de o projeto ainda não ter aberto outras turmas, o coordenador revela que o principal motivo é a dinâmica do transporte público da cidade. Quem mora em Itumbiara e tem interesse em estudar no cursinho encontra um entrave para sair de sua casa e chegar à UEG quando não tem

condução própria. Chegar até lá por meio de transporte público não é uma tarefa fácil. O câmpus está localizado no Distrito Agroindustrial do município, a uma distância de 8 km do centro da cidade. Há escassez de linhas que contemplem o trajeto e de pontos de ônibus próximos à Universidade. “Mas esse problema está prestes a ser resolvido”, revela Edinando Batista. A Prefeitura de Itumbiara já estuda colocar um novo sistema de transporte em teste nos próximos dois meses. Esse sistema levará, com facilidade, alunos até a UEG, que estará de portas abertas para recebê-los e ajudá-los a ingressar em uma Universidade. “No segundo semestre, já poderemos ter mais turmas”, comenta o professor.

Em sala, direcionando vidas Há 12 anos, a UEG câmpus Quirinópolis também recebe alunos de escolas públicas e adultos com o projeto “Curso de Redação para Vestibulares e Concursos”. Hoje, o curso atende um total de 41 alunos, divididos em duas turmas: uma com aulas às segundas e às quartas-feiras e, a outra, aos sábados. A coordenadora e autora do projeto, professora Neida Terezinha Rodrigues, é quem ministra as aulas de redação. Ela afirma que seu trabalho ali é fonte de renovação para que ela atue como professora, principalmente por lidar com alunos que não teriam condições de pagar cursos de redação de instituições particulares, podendo direcioná-los rumo à superação da deficiência do ensino básico em termos de produção textual.

O texto como superação “Toda vez que entro em sala me sinto vitoriosa. Ver os alunos brilhando em texto é algo que realmente mexe comigo. Depois das aulas, eles voltam e me agradecem pelo direcionamento. É uma experiência muito rica”, celebra a coordenadora do projeto, que recebe estudantes tanto de Quirinópolis quanto de cidades circunvizinhas. A professora Neida é daquele tipo que olha nos olhos, que pega na mão e que se dedica por completo até ter a certeza que transmitiu tudo o que precisava transmitir. Maria das Graças Alves, discente do projeto, confirma isso. “A professora é muito atualizada em seus textos e ensinamentos. Ensina com paciência e nos lembra que estar ali é muito mais do que precisar ser aprovado em um teste. É uma questão de crescimento pessoal”, revela Maria, que já está trilhando seu caminho de entrada na terceira graduação. Formada em Pedagogia e em Educação Física, Maria quer tentar estudar Direito aos 53 anos. O curso é integrado ao Centro de Idiomas do câmpus Quirinópolis, que conta, também, com aulas de Língua Inglesa, nos módulos Básico I e Kids and Teens; curso de Libras; de Língua espanhola; e, por fim, de Metodologia de Pesquisa Científica. Maria das Graças já conhecia a qualidade dos cursos oferecidos ali. Estudou Inglês e Espanhol no Centro de Idiomas do câmpus. “Quando estou lá no curso, penso em quantas pessoas precisam de uma oportunidade como essa: estudar com qualidade e de forma gratuita”, comenta a aluna. O conhecimento é um caminho sem volta. Uma vez trilhado, não se pode perder aquilo que se conquista. Dessa forma, a UEG, por meio de seus projetos de extensão, alcança a comunidade naquilo que ela precisa. As pessoas se envolvem e constroem uma Universidade ativa.

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Estudante Arquitetura e Urbanismo na tela grande Festival Universitário de Seleção de Cinema de Arquitetura leva estudantes à sala de projeção Por Stephani Echalar

Foto: Marcos Laffyte

Universidades são, com frequência, palcos para o surgimento de boas ideias. Em 2007, brotava na Universidade Estadual de Goiás (UEG) mais uma delas: o Festival Universitário de Seleção de Cinema de Arquitetura (Fusca UEG), que surgiu com o objetivo de incentivar a produção e discussão de projetos audiovisuais do cenário arquitetônico e urbanístico. O interesse era trazer à tona produções realizadas por estudantes universitários da área. Criado pelos professores Eliézer Ribeiro, hoje coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG, Rodrigo Santana e José Renato, o evento teve quatro edições e entrou em hiato em 2009. No último dia 23 de maio, o Fusca passou de lembrança à ação, com a retomada do projeto pelo escritório modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo, o Prisma. A quinta edição do Festival Universitário de Seleção de Cinema de Arquitetura ocupou a sala de projeção do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, em Goiânia, durante todo o dia. Foram exibidas três sessões com os vídeos selecionados, a última delas seguida de mesa redonda com a discussão das produções e com a premiação dos curtas selecionados. Além dos vídeos participantes, a programação trouxe à telona o último filme do ator José Wilker, o curta Estocolmo, dirigido por Ricardo Rama. O filmes vencedores foram elegidos por uma comissão de três jurados: o professor Eliézer Ribeiro, Arnaldo Salustiano – vencedor do festival de cinema de Anápolis – e o professor Ademir Luiz, historiador que, na UEG, atua na área de arquitetura e cinema. O trio escolheu, dentre os inscritos, o curta Atenção, isto pode ser um poema, produzido por Áureo Rosa e Sthefano Vieira, como o vencedor do primeiro lugar. Edifício de memória sob intervenções contemporâneas, produzido por Jéssica Motta e Muriell Pereira, foi o segundo colocado. Como é vista a cidade pela perspectiva do ciclista?, produzido por Luiz Antonio Martins Costa, ficou com a terceira colocação. O Festival reuniu cerca de 200 pessoas no cinema do Centro Cultural, vindas, principalmente, de Goiânia e Anápolis. Neste ano, o público veio de mais de cinco Universidades. Além de estudantes de Arquitetura e Urbanismo, ele era composto por universitários de cursos afins, como Design de Interiores e Audiovisual.

Espectadores do Fusca no Centro Cultural Goiânia Ouro

O Festival pródigo à Universidade retorna Após quatro anos de recesso, o Fusca foi retomado por iniciativa dos próprios estudantes, que contam com o apoio dos professores para levar o projeto adiante. “Eu fazia uma matéria de Fotografia e Vídeo com o professor Eliézer e ele comentou sobre o Fusca”, relata a estudante do sétimo período, Mayumi Yoshida, que é acompanhada por Pedro Henrique Gomes na organização do Fusca 2014. “Logo eu entrei para o Prisma e começamos a conversar sobre alguns eventos possíveis. Nós tocamos no assunto do Fusca e o Prisma gostou, então resolvemos fazer o festival”, continua. E por que um festival de cine-

ma no curso de arquitetura? O cinema e a fotografia têm uma importante relação estética com essa área, porque representa a arquitetura e as cidades. Essa relação ganha cada vez mais atenção dentro e fora das faculdades, inclusive no curso da UEG. “O cinema é muito presente na sala de aula... Muitos professores passam e indicam filmes para a gente ver”, diz Mayumi. A presença do cinema e audiovisual nos cursos de arquitetura ajuda os estudantes a conhecerem outros estilos. “A gente não pode estar presente em várias cidades, a gente está aqui, no Brasil, tentando ficar perto da arquitetura do mundo inteiro. Pelo vídeo, a gente consegue se aproximar”, complementa Pedro.

Opinião

O linchamento em questão no Brasil Marcello Rodrigues Siqueira*

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A questão dos linchamentos tem ocupado cada vez mais espaço na mídia e na sociedade, suscitando uma série de opiniões e debates. Há aqueles que o apoiam em virtude de seu caráter de “exemplaridade”. Há outros que o condenam por violarem princípios básicos dos direitos humanos. Mas, ao contrário do que aponta o senso comum, os linchamentos não podem ser explicados de forma simplista e dicotômica. Não podem ser tratados sem levar em conta nossa história. Segundo o Banco de Dados do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP – CEPID) foram registrados no Brasil, entre 1980 e 2006, aproximadamente 1179 casos de linchamento. Nesta pesquisa, São Paulo lidera o ranking dos linchamentos com 568 casos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 204, e pelo Estado da Bahia, com 180 registros. Os Estados de Tocantins e Sergipe registraram o menor número, apenas 1. Em Goiás foram registrados 9 casos ao longo de todo período. Ainda conforme a referida pesquisa, é possível afirmar que houve decréscimo em relação aos linchamentos no período compreendido entre 1991 e 2006, passando de 148 para apenas 9 casos nesse intervalo de tempo. Mas, se no tocante à quantidade pode ter ocorrido sensível avanço (vez que houve decréscimo), o mesmo não se pode dizer quanto à forma como o tema é abordado.

Atualmente, os linchamentos têm sido frequentemente filmados e exibidos na imprensa e na internet. Em algumas situações as pessoas se sentem satisfeitas como, por exemplo, no caso do suspeito de estupro que foi espancado até a morte em Nova Crixás - Goiás. Em outras situações, elas se sentem chocadas. Foi o que aconteceu no caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, em Guarujá – São Paulo. As cenas das agressões sofridas deixaram a sociedade revoltada. A diferença, no caso da Fabiane, é que as pessoas se comoveram ao saber que uma pessoa inocente foi morta. Se ela, de fato, tivesse sequestrado uma criança, a reação seria diferente. E não deveria ser, porque não se resolve o problema da criminalidade e da violência com mais criminalidade e mais violência. Mas, considerando que o uso da violência tem sido constantemente empregado como solução para os conflitos em nosso país, a questão dos linchamentos é reveladora e pode ser tomada como indicador importante da precariedade dos sistemas de contenção da criminalidade. A opção por fazer justiça com as próprias mãos é favorecida pela baixa condição socioeconômica, pelos indesejáveis índices de escolaridade, pela tolerância cultural aos desvios sociais, pelas deficiências e pelo descrédito da população em nossas instituições de controle social: polícia ineficiente, legislação criminal defasada (que gera impunidade), estrutura e processos judiciários obsoletos, sistema prisional caótico. A interação en-

tre essas deficiências institucionais enfraquece o poder do Estado e de suas instituições. Cabe, apenas às instituições do Estado, fazer justiça. Todavia, se essas instituições não estiverem fazendo isso a contento, o que a sociedade tem a fazer é aperfeiçoá-las. Daí a importância de se investir em projetos educacionais e sociais que tenham o intuito de diminuir a desigualdade social e oferecer novas oportunidades, além dos caminhos criminosos que fomentam a violência, à população de baixa renda (principalmente aos jovens). Investir em Centros de Estudo e Pesquisa de Segurança Pública para desenvolver novos modelos de organização, gestão e processos; criar uma Inteligência Criminal, promovendo a Tecnologia de Informação, vez que essas áreas estão praticamente inertes na maioria das polícias; aperfeiçoar o atual Sistema de Informação de Justiça e Segurança Pública (Infoseg) para se receber dados atualizados, e de qualidade, dos Estados quanto a condenados procurados, quanto a cadastro de armas , de veículos e de pessoas desaparecidas, Em síntese, a questão dos linchamentos não é um problema pontual. Deve ser entendida como uma questão social, porque exige total participação da sociedade e empenho singular dos órgãos administrativos. *Professor da UEG câmpus Iporá. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


UEG em contexto

O chão que lhe pertence

jornal UEG

Com décadas de história, a luta camponesa segue ativa e com demandas não ouvidas Por Stephani Echalar

Os posseiros se juntaram como para um mutirão unidos como um só homem para defender seu chão. (ABC do Formoso, pelo Trovador Pau Brasil) “Pra mim, desde que começou a história do Brasil já começa essa luta camponesa, sempre existiu essa luta do campo e da cidade”, com essa afirmação Simone Oliveira, agente educadora popular na Comissão Pastoral da Terra-Goiás desde 2003, aponta que a questão agrária no país não é uma luta que surgiu na atualidade. A educadora popular não é a única a encontrar origens históricas para os movimentos sociais do campo. O professor José Santana da Silva, do departamento de História da Universidade Estadual de Goiás, também traça um longo caminho para a origem dos conflitos por terra. Para ele, o avanço dos colonizadores sobre o território indígena já era um conflito a esse molde. Daí para frente, o problema apenas seria agravado. “No século 20, um imenso contingente de posseiros e pequenos proprietários perdeu suas terras para grandes fazendeiros, especuladores e empresas, inclusive estrangeiras, por meio da “grilagem” ou da venda forçada a preços irrisórios”, aponta o professor, para quem a consequência desse processo foi o surgimento de milhões de trabalhadores rurais sem acesso à terra. De lá pra cá os contextos mudaram. Outrora, as manifestações dos trabalhadores da terra estamparam capas de jornais e foram destaques na TV. Hoje não estão mais nas manchetes principais, mas as reivindicações ainda existem, e são muitas.

Caminhar e continuar caminhando Formados por diversas realidades distintas, os movimentos sociais camponeses englobam trabalhadores sem terra, pequenos produtores rurais,

indígenas e comunidades tradicionais. Organizados, eles se cristalizam em grupos, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) ou o Movimento Camponês Popular (MCP), com pautas específicas e outras divididas por todos. Alguns buscam o acesso à terra, outros querem o reconhecimento do seu direito à posse dos terrenos onde vivem, ou, ainda, buscam autonomia para manter o seu modo de vida e condições para assegurar o seu bem-estar. Uma das principais reivindicações continua sendo a reforma agrária. No entanto, diante das conquistas de terra de grupos assentados, ficou claro que só fornecer a propriedade não era suficiente. Era necessário, também, o apoio do Estado e o fornecimento de infraestrutura para que os pequenos produtores pudessem alcançar a autonomia. Com o passar do tempo, foi detectada, também, a falta de representação política para os interesses dessas minorias. Como aponta o professor da UEG, “diante da constante ameaça de eliminação da pequena produção pelas empresas agropecuárias e capital financeiro, os pequenos produtores ou agricultores familiares necessitam que o Estado assegure algumas condições para que possam permanecer na terra produzindo”. A afirmação de José Santana é constatada pela experiência de Simone, visitando propriedades com a Comissão Pastoral da Terra. “A infraestrutura continua muito precária. Existem lugares com difícil acesso até para chegar de carro. Não tem estrada, não tem escola, não tem acesso à educação, nem à saúde. Tudo com muita dificuldade”, comenta ela. A própria reforma agrária é vista com reservas. Para Simone, ela continua sendo uma das grandes reivindicações dos movimentos sociais do campo, até mesmo por não ter sido desenvolvida satisfatoriamente. “A reforma agrária não é massiva. Ela é uma reforma excludente, porque, quando acontece, o trabalhador chega numa terra que não oferece condições de sobrevivência. Ele não tem ajuda do Governo no acesso aos créditos. Muitos desistem. Quando chegam à terra, não é mais o sonho que eles tinham, porque as dificuldades são imensas”.

Anápolis, maio-junho de 2014

Isso aponta a urgência da criação de políticas públicas eficazes que deem suporte ao pequeno produtor: juros reduzidos para financiamentos, acesso à tecnologia de produção, condições para comercialização de produtos. São necessárias, também, políticas para itens básicos, como: energia elétrica, estradas e educação. Por tantas reivindicações, a luta camponesa segue ativa, buscando a segurança de seus direitos. Com o objetivo de garantir esses direitos, Realino Lopes Pereira, 31, ingressou no MCP há seis anos. Crescido no campo, ele é, hoje, um pequeno produtor nas terras do pai. O agricultor conta que entrou para o Movimento Camponês Popular, antigo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), prestando assistência técnica aos camponeses, mas logo quis passar à ação política. “Percebia que os problemas dos agricultores não eram sanados mesmo com a técnica, e isso desestimulava, porque não estavam conseguindo sobreviver”, lembra. Foi quando ele entendeu que a autonomia dos trabalhadores não dependia apenas dos conhecimentos técnicos, mas também de organização.

Políticas públicas A agricultura familiar e os pequenos produtores rurais são o público-alvo de programas que visam fortalecer os segmentos, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O primeiro favorece a aquisição direta de alimentos produzidos por agricultores familiares ou de suas organizações, para a formação de estoques e para distribuição à população em situação de vulnerabilidade social. Já o segundo programa financia projetos que geram renda aos assentados da reforma agrária. Embora sejam importantes e tragam resultados, participar dos programas não é tarefa fácil. Os produtores relatam barreiras burocráticas para ter acesso aos benefícios. Para dar conta dos documentos é importante o acompanhamento de uma associação ou coorperativa, mas a implantação dessas organizações é complicada. “Eu acho que é muito importante [ter o programa] porque temos um mercado para confiar, mas a burocracia impede muita gente de acessar”, concorda Realino. Para ele, os programas são uma grande iniciativa, mas a execução é confusa. Realino Lopes participou por três anos do PAA e pretende integrar em breve o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Na opinião do camponês os programas ainda devem se desenvolver, já que apenas cerca de 30% das escolas aderiu à compra de alimentos vindos da agricultura familiar. Na esfera estadual ainda não existe uma política estabelecida. Entretanto, uma proposta de Lei Estadual da Agricultura Familiar e um projeto de destinação de 0.5% da arrecadação para investimento no setor podem estar em andamento. Embora tímidas, essas iniciativas preenchem uma lacuna. Segundo Realino, o segmento passou os últimos anos sem propostas para atender às suas demandas. “O Estado tem que participar da agricultura familiar”, aponta, destacando a importância dessa produção para o abastecimento das cidades. “O Estado só faz alguma concessão aos camponeses e aos trabalhadores, em geral, após muita pressão. Mas essas concessões são sempre parciais, nunca atendendo à totalidade das reivindicações”, esclarece o professor José Santana.

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UEG em contexto

Foto: José Afonso

jornalUEG UEG jornal

A solidão da cidade de carros Professor da UEG debate a mobilidade urbana a partir do exemplo de Goiânia, a congestionada capital do Estado Por Fernando Matos

Em uma manhã ensolarada de domingo, uma senhorinha caminha tranquilamente pelas calçadas do bairro com seu cachorro – um poodle. O que seria um tranquilo passeio transforma-se em pesadelo. O motivo? O desnível das calçadas da quadra, aliado aos mais diversos tipos de pisos utilizados, alguns dos quais funcionando como convite para quedas. Segunda-feira, 17 horas. Aquele filme só irá passar em determinada sala que fica localizada a 20 km de onde eu me encontro. A essa hora, em alguns locais, já há “nós” no trânsito. Tudo lento. A sessão começa às 17h45min. Esperar outra sessão, que começa mais à noite, ou marcar esse programa para outro dia? Resolvo ir a um parque no Centro onde, provavelmente, a ocupação é basicamente de moradores do entorno. Ninguém vem de longe. O que essas cenas cotidianas têm em comum? Elas dizem sobre umas das grandes problemáticas atuais: a mobilidade urbana. Em linhas gerais, o conceito de mobilidade se relaciona aos deslocamentos de pessoas e bens nas cidades. No país há, inclusive, a lei número 12587, de 2012, a lei da Mobilidade Urbana. Ela elenca instrumentos para garantir a eficiência nos trânsitos.

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Vias alternativas Segundo informações da Rede Metropolitana de Transportes Públicos (RMTC), a rede atende a uma área de 6576 km², que engloba Goiânia e mais 17 municípios em seu entorno. São 268 linhas que percorrem 19 terminais urbanos. O preço da passagem é R$ 2,80 nas linhas convencionais e R$ 1,40 ao longo do eixo. Por dia, são atendidas uma média de 750 mil pessoas. À primeira vista, são números que enchem os olhos. Afinal, eles revelariam um sistema integrado que daria vazão aos deslocamentos pela cidade. Mas, nos primeiros momentos da manhã, já vestido com a roupa que escolhi na noite anterior, para não

“A ciclovia precisa prever a retirada de carros das ruas e não tomar o espaço do pedestre. Ele precisa ser uma faixa na avenida e não na calçada” Anderson Ferreira, professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG

O que fica explícito na Lei é a democratização do espaço urbano. Por ela, o interesse coletivo se sobrepuja à individualidade. Mas “Narciso acha feio o que não é espelho”, como diz a música intitulada Sampa, composição do baiano Caetano Veloso sobre a chegada à megalópole São Paulo. A cultura do individualismo se torna um grande entrave para quem rasga a cidade na dependência dos meios públicos: afinal, só gostamos de nossos próprios carros-espelhos, nossos próprios “eus”. “O carro demarca status”, diz-me Anderson Ferreira, professor de Planejamento Urbano no curso de Arquitetura e Urbanismo, do câmpus Henrique Santillo, da Universidade Estadual de Goiás (UEG). O veículo individual não é apenas transporte. É, também, símbolo de demarcação de fronteiras. Utilizar transporte público acarreta, de acordo com essa óptica, perdas. “As pessoas têm vergonha de usar ônibus em Goiânia. Falo isso por percepções, coisas que ouvi”, analisa. Há, ainda, a apropriação do espaço público para benefícios próprios. A problemática se inicia nas calçadas, que são ocupadas por veículos ou por mesas de bares

perder tempo com essa questão, lembro-me que devo correr para a parada de ônibus. Comer? No máximo, tomar um copo d’água. Um trajeto feito, em média, em 10 minutos, faz-me acordar com 40 minutos de antecedência. Tenho 3 opções de linha até o terminal mais próximo à minha casa. A mobilidade urbana, que deveria propiciar condições eficientes para a ocupação da cidade por quem nela mora, torna-se um verdadeiro tormento nos seus atuais marcos. Professor Anderson vê nas vias alternativas a solução para esse gargalo. Entretanto, o estudioso aponta para a falta de um planejamento na implantação desses sistemas.

Pedestre, carta fora do baralho “A avenida 10 é um bom exemplo de tentativa de implantação de uma via alternativa. A ciclovia é muito interessante. Entretanto, nos moldes em que foi pensada, acaba por prejudicar a figura que já é a mais prejudicada no sistema de mobilidade: o pedestre”, explica o professor. “A ciclovia precisa

prever a retirada de carros das ruas e não tomar o espaço do pedestre. Ele precisa ser uma faixa na avenida e não na calçada”, aponta. O aumento das faixas exclusivas de ônibus e mais corredores como o Eixo-Anhanguera (Eixão) também são possibilidades que precisam ser mais exploradas. “O Eixão é uma cicatriz. Ele é marginalizado. Ele leva pessoas da região Noroeste. Imagina! O que eram essas pessoas até a década de 1990? São pessoas que servem à cidade. Isso gerou um estigma. O Eixo é uma cicatriz. A elite pensa ‘eu não quero esse transporte de gente estranha aqui’, ainda que use o trabalho dessa ‘gente estranha’”, denuncia o docente. Meios existem, mas, enquanto não começarmos a enxergar o espaço público como um local democrático no qual cabem e no qual sejam todos bem vindos, a situação continuará problemática. A mobilidade se encontra afetada em todas as suas faces. Das calçadas às avenidas, as pessoas se vêm cada vez mais tolhidas no seu direito de ir e vir.

Enredos metropolitanos Na conversa com o professor, percebese que a violência não vem daqueles que se colocam nas ruas e reivindicam direitos que serão, posteriormente, conquistas compartilhadas por todos. A violência vem, de acordo com o professor, de quem lucra com o sucateamento do transporte público. Os violentados são os cidadãos – revoltosos ou não, militantes ou alheios às manifestações – que se espremem nos ônibus e que, dessa forma, aproveitam cada vez menos o que a cidade oferece. O docente do câmpus de Ciências SócioEconômicas e Humanas deixa claro: a problemática da mobilidade se encontra na falta de planejamento, mas, com certeza, é também alimentada por mal resolvidas questões de classe e por preconceitos abissais. Neste sistema, os carros funcionariam como pequenos feudos, porque são espaços da nãointeração que assolam as cidades e “emparedam” indivíduos. Eles deixam a cidade despovoada de sujeitos. Repleta de máquinas. Repleta da solidão urbana de quem não comunica, de quem não compartilha espaços, de quem se enreda na trama – cada vez mais lenta e estressante – de um ir e vir solitário.


Cultura

jornal UEG Anápolis, maio-junho de 2014

Fotos: Flávio Isaac

UEG marca presença no FICA 2014 Representantes da UEG são premiados no Festival

Por Stephani Echalar

De 27 maio a 1º de junho, a Cidade de Goiás voltou a receber o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – o Fica – e, com ele, cineastas e cinéfilos, ambientalistas e estudantes, além dos boêmios que lotam a cidade. Na programação, que reúne discussões sobre audiovisual, sustentabilidade e educação, houve a presença de diversos representantes da comunidade da Universidade Estadual de Goiás. Na sala de projeção, a UEG foi representada na Mostra Competitiva com os filmes Dergo (de Ricardo Alvez - estudante de Cinema e Audiovisual) e A vida de cada um (de Vasconcelos Neto - técnico -administrativo). Na Mostra da Associação Brasileira de Documentaristas Seção Goiás (ABD), a Universidade foi representada por Sem Você (de Lidiana Reis - egressa de Cinema e Audiovisual) e por Cartão de Natal de 1957 (de Alyne Fratari - professora de Cinema e Audiovisual). Além das produções, membros da UEG também estiveram presentes na equipe técnica de diversos filmes, como o curta Prazeres, de Erasmo Alcantara. Fora das salas escuras, professores da Instituição participaram das programações paralelas. O professor Sandro de Oliveira, que ministra a disciplina de História do Cinema, no curso de Cinema e Audiovisual, foi mediador dos debates junto aos realizadores do evento. No Fórum Ambiental, outros destaques da programação: os professores Uelinton Barbosa e Pedro Alves participaram da mesa-redonda O Cerrado Brasileiro no contexto da expansão do agronegócio. No espaço SEMARH, a Universidade esteve presente no seminário O Cinema e a Produção Audiovisual como Componentes da Educação Ambiental, com a participação dos professores Rosivaldo Pereira de Almeida e Eusébio Fernandes de Carvalho.

Na sala de cinema Embora na mostra competitiva os filmes Dergo e A vida de cada um não tenham sido premiados, a seleção e exibição das produções na mostra principal do Fica já demonstra a qualidade das obras. “A produção e a participação desses filmes [da UEG] têm aumentado número. O que mostra que o curso está no caminho certo”, aponta o professor Sandro. Já os saldos da 12ª Mostra ABD foram bastante promissores. Os dois filmes com direção assinada por pessoas ligadas ao curso de Cinema e Audiovisual foram premiados: O Cartão de Natal de 1957, da docente Alyne Fratari, levou o prêmio de Melhor Ator ( para Duca Rodrigues); e Sem você, de Lidiana Reis, venceu nas categorias de Melhor Ro-

teiro, Melhor Atriz (para a iniciante Verissa Noleto) e Melhor Ficção - Prêmio Beto Leão. Lidiana Reis agradeceu à ABD pela dedicação à mostra e elogiou o cenário audiovisual goiano. “Não é fácil fazer cinema em Goiás, mas está cada dia melhor”, declarou. Lidiana é da primeira turma de Audiovisual da UEG, concluída em 2009. Junto a outros colegas, montou uma produtora de cinema e, desde então, participa da Mostra ABD no Fica. Com suas produções já ganhou os prêmios de Melhor Montagem, Melhor Atriz, Melhor Ficção, Melhor Roteiro e Melhor Direção. Mas como diretora, a estreia foi em Sem você. Prazeres, do diretor Erasmo Alcantara, conquistou o troféu de Melhor Som. A agraciada por este prêmio foi a professora do curso de Cinema e Audiovisual, Thaís Oliveira, responsável pelo som da produção. Ao recebê-lo junto ao diretor, a professora se emocionou: “É uma honra estar aqui, num lugar de cinema e ver que o cinema goiano está melhorando tanto”, diz.

Educação por vários caminhos Neste ano, a XVI edição do Fica contou com uma cobertura especial. O projeto de extensão Webrádio UEGente, da UEG, acompanhou a programação do festival, gerando conteúdo para seu segundo programa. O projeto foi criado no ano passado, em grande parte por iniciativa dos estudantes do curso de Cinema e Audiovisual da UEG. “A gente fez uma visita a uma rádio e depois dessa visita surgiu o interesse. A gente conversou com a Geórgia [professora] e ela topou na hora”, conta Daniela de Oliveira, uma das 11 participantes da cobertura da Webrádio no FICA. Criado sob a coordenação da professora Geórgia Cynara, a UEGente é, hoje, coordenada pela professora Thaís Oliveira. Segundo ela, o projeto visa colaborar com a prática de rádio, que ocupa uma pequena parte do currículo. “No curso de cinema os alunos veem rádio só no primeiro ano. Então, esse projeto de extensão serve como uma espécie de laboratório, para que eles possam desenvolver atividades ligadas às disciplinas de som”, explica. A Webrádio deve servir, também, como um veículo de comunicação entre a comunidade e o curso, apresentando à população a profissão e as áreas em que se pode atuar. Embora já tenha um programa pronto, a UEGente aguarda o encerramento da licitação para estrear. Isso deve ocorrer até o início do próximo semestre. O lançamento do veículo, para a professora Thaís, vem com boas expectativas: “o que a gente

busca nesse projeto é fazer com que os alunos se apaixonem pelo som, por fazer som, trabalhar com rádio e com a mídia sonora”. Para os extensionistas, a experiência de participar do projeto e a vivência durante o Festival são elementos-chave para o desenvolvimento acadêmico e profissional, como aponta Layse Portil: “quando você participa de algum projeto da faculdade, você está bem mais integrado”.

Com as mãos na massa Além de serem os autores da ideia que gerou o projeto, os graduandos participam de cada etapa da construção da Webrádio, desde o planejamento até a estruturação do veículo. “A gente decidiu por um veículo que é para a Universidade, da Universidade, para conversar sobre Audiovisual. Acho que a gente está começando um projeto que será bem bacana para as pessoas que estão entrando agora. Um bom projeto para ser lavado adiante”, aponta Daniela. Os extensionistas realizam as atividades de todo o processo: produzem, gravam, editam. Essa prática foi elevada a outro nível com a cobertura do Fica. “É tudo muito novo para a gente, porque estudamos aquilo, mas o fazer [prático] é completamente diferente”, diz Bianca Araújo, uma das estudantes que cobriu o festival. O projeto de extensão realiza um edital de seleção anual, destinado a estudantes do curso de Cinema e Audiovisual, sem restrição de ano.

Premiados na Mostra Principal O Menino e o Mundo (Brasil, 2008), de Alê Abreu, premiado nas categorias Melhor Filme Popular, Troféu Imprensa, e Melhor Longa-Metragem - Carmo Bernardes. Materia Oscura (Itália, 2013), de Massimo d’Anolfi e Martina Parenti, premiado como Melhor Longa-Metragem - Carmo Bernardes. Metamorphosen (Alemanha, 2013), de Sebastian Mez, foi a grande obra vencedora, levando o prêmio Cora Coralina de Melhor Obra do Festival. The Carbon Crooks (Dinamarca, 2013), de Tom Heinemann, ficou com o prêmio de Melhor Média-Metragem. Wind (Alemanha, 2013), de Robert Löbel, foi premiado como Melhor Curta. Viagem na Chuva, de Wesley Rodrigues, e Ainda que se movam os trens, de Marcela Borela, Henrique Rocha e Vinícius Berger, foram premiados na categoria Melhor Filme Goiano.

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jornal UEG

Universidade em mosaico

Anápolis, maio-junho de 2014

Do agronegócio à consciência ambiental Na UEG câmpus Palmeiras de Goiás, debates sobre o desenvolvimento sustentável e sobre a integração entre os câmpus da UEG foram o mote de Semana Acadêmica Por Bárbara Zaiden

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O mundo do agronegócio no Brasil tem exigido, dos profissionais da área, consciência da necessidade de aliar biodiversidade e produção agrícola. A professora Lívia Baccarin levanta o assunto ao explicar os motivos que levaram a coordenação da “IV Semana Acadêmica Agrobio”, da UEG Câmpus Palmeiras de Goiás, a optar pela temática do evento neste ano: Conhecimento compartilhado - conectando a biodiversidade e a produção agrícola. Além de participar da organização do evento, Lívia é a atual coordenadora do curso de Agronomia do câmpus. Ela explica que a importância de estabelecer o diálogo entre os cursos de Ciências Biológicas e Agronomia é permitir que os profissionais entendam que a produção agrícola deve estar aliada à responsabilidade ambiental. “Para o agrônomo, é importante estar a par das últimas tecnologias na área. Já para o biólogo, a biodiversidade é um tema essencial. Por isso nós englobamos, durante a Semana, assuntos que são do interesse das duas áreas: queremos mostrar o quão é importante a atuação de cada um deles no mercado de trabalho com ética e consciência”, explica a professora. “A semana acadêmica, para mim, é uma oportunidade de abrirmos a mente sobre o mercado de trabalho. Às vezes, desconhecemos determinadas áreas que julgamos menos interessantes, mas quando temos contato com um profissional atuante, enxergamos novas possibilidades”, explica João Marcos Ferreira. O jovem de 21 anos é estudante do quarto ano do curso de Ciências Biológicas. Ele defende a importância do contato com profissionais atuantes no mercado de trabalho e conta que essa é uma das principais motivações que o levou a participar, pela segunda vez consecutiva, da organização da Semana Agrobio.

Diálogo entre os câmpus Outra preocupação da organização do evento foi buscar profissionais da própria UEG para participar das palestras e dos minicursos oferecidos. “Com esta integração, os estudantes tem a percepção de que os docentes da UEG também estão ligados ao mercado de trabalho e nele desempenham importantes funções”, afirma Lívia. A professora comenta ainda que a integração entre os diferentes câmpus da instituição tem o intuito de mostrar a força que possui a Universidade à qual os estudantes pertencem. O professor André José, do câmpus Henrique Santillo, na Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas da UEG, em Anápolis, foi um dos palestrantes convidados para a Semana Agro-

bio. André apontou a importância da integração entre os câmpus da UEG. Segundo ele, a dimensão da instituição é essencial para os professores conhecerem o interior do Estado. Somente assim os docentes podem ter contato com as diferentes realidades dos 42 câmpus UEG, tendo conhecimento do trabalho produzido pela comunidade acadêmica e das especificidades de cada um deles. O diretor do câmpus Palmeiras de Goiás, professor Eduardo Antônio de Souza, defende que essa integração multicampi é facilitada pelo fornecimento do transporte, que recebeu investimentos, só no ano passado, na ordem de R$ 935 mil. De janeiro a abril deste ano, em um total de 50 viagens, 1368 estudantes e docentes foram beneficiados com viagens financiadas pela UEG. “Seria inviável a presença de mais da metade dos palestrantes sem a frota disponível. Se não fosse por isso, haveria desfalque no evento”, explica o professor.

Conscientização ambiental A temática abordada pelo professor André José foi Qualidade pós-colheita de frutas e hortaliças. Em sua fala, ele apontou as diferentes formas de armazenamento de frutas e hortaliças, tanto para o transporte quanto para a comercialização. “A união entre processos adequados durante as etapas de pré-colheita, colheita e pós-colheita confere maior qualidade à matéria-prima”, explica o professor. Para alcançar essa qualidade, ele afirma que os produtores devem estar atentos aos métodos adequados de colheita e pós-colheita, pois assim os processos de produção e comércio têm a possibilidade de serem mais viáveis economicamente. Durante os quatro dias de evento, os estudantes da UEG Câmpus Palmeiras de Goiás tiveram contato com doze palestrantes. Quem finalizou o último dia da Semana Agrobio foi o biólogo Denison Sampaio, com o tema A importância do levantamento da fauna em estudos de impacto ambiental. Segundo ele, o profissional tem como meta realizar um levantamento do impacto ambiental que determinada intervenção pode causar em uma área. Para isso, deve ser observada a viabilidade da ação, seja uma plantação agrícola, seja a construção de barragens hidrelétricas. “Os animais podem ser bioindicadores da qualidade de determinados recortes ambientais. Algumas espécies recebem, muitas vezes, impactos que podem ser positivos. O biólogo deve estar muito atento à presença destes animais indicadores, pois eles podem mudar o rumo do trabalho, de forma que o relatório possa impedir, ou não, a concretização da

interferência. A construção de um reservatório de hidrelétrica, por exemplo, depende desses relatórios”, enfatiza Denison. O jovem biólogo mostrou também aos estudantes, em sua palestra, as possibilidades de ingresso no mercado de trabalho: na empresa em que Denilson trabalha, três funcionários são egressos de cursos da Universidade Estadual de Goiás e entraram por meio do estágio, tendo sido posteriormente efetivados.

Cores em contraste Para que a Semana Agrobio cumpra o intuito de ser plural, o diretor do Câmpus Palmeiras de Goiás destaca que o olhar distanciado contribui para que os dois cursos sejam igualmente contemplados. Eduardo possui formação em uma área muito distante dos mundos do agronegócio e do meio ambiente. Graduado em Odontologia, tendo atuado como cirurgião dentista, ele busca em si um termômetro para as palestras e afirma: “Se eu, que não tenho formação na área em questão, consigo compreender o tema abordado, os estudantes dos cursos, com certeza, terão entendido muito melhor a fala do convidado”, explica. Termômetro que parece ter surtido efeito, segundo relato do estudante Caio Cardoso Pereira. Ele cursa o quinto período do curso de Agronomia e participou de todas as Semanas Acadêmicas desde que ingressou na Universidade. “No início do curso, a Semana Acadêmica causa estranhamento pela linguagem técnica, mas, com os anos de estudo e a diversidade de temáticas, cresce a interação com o evento”, afirma o jovem de 22 anos. Para a cerimônia de encerramento da IV Agrobio, que ocorreu no dia 16 de maio, endossouse mais uma vez a integração entre os câmpus da UEG. Ao final do evento, estudantes do curso superior de Tecnologia em Design de Moda, da UEG Câmpus Trindade, realizaram um desfile para a comunidade acadêmica de Palmeiras de Goiás. O professor Eduardo destaca a importância deste intercâmbio, que permite aos estudantes o contato com outros que vivenciam realidades diferentes. Fato comprovado quando, durante a tarde, as alunas do curso de Design de Modas chegaram ao câmpus: era notável a presença dos cabelos coloridos – rosas e verdes – em contraste com o marrom e com o preto das botas comuns aos estudantes do curso de Agronomia.


Info

jornal UEG

Aos 15 anos, melhorias e investimentos renovam a UEG

Anápolis, maio-junho de 2014

Por Barbara Zaiden

No último mês de abril, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) comemorou 15 anos de sua criação. É tempo de se comemorar os avanços, mas também para se elaborar estratégias para que a UEG continue caminhando rumo à consolidação. Dessa forma, a instituição visa prestar contas das demandas da comunidade, vindas tanto por parte dos discentes e dos docentes da instituição, quanto por parte da sociedade. O processo de arrecadação da UEG funciona por meio do repasse de 2% da Receita Líquida

arrecadada pelo Estado de Goiás. Em 2013, pela primeira vez desde sua criação, a UEG executou 100% desse repasse, que lhe é garantido por lei. O montante repassado à Universidade, referente aos anos de 2011 e 2012, não foi executado totalmente. O saldo não utilizado nesse período totaliza R$ 61 milhões. Para que a UEG pudesse remanejar esse montante, foi firmado o Termo de Ajuste de Gestão (TAG), um acordo entre a UEG, a Secretaria da Fazenda (Sefaz), a Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan) e o Tribunal de Contas

do Estado (TCE). O TAG garantiu o repasse desses 61 milhões de reais para UEG, para serem aplicados em investimentos no atual triênio: 2014, 2015 e 2016. Nesta editoria do Jornal UEG, a instituição apresenta, à comunidade, os números referentes às melhorias e aos investimentos, prezando pela transparência das ações realizadas. Confira, a seguir, a primeira série de infográficos da sessão INFO, que destacam os frutos da utilização de parte do TAG.

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jornal UEG Anápolis, maio-junho de 2014

UEG em foco UEG leva inclusão digital aos cidadãos de Mineiros

Ciências da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar.

Linhas de pesquisa O PPGAS possui duas linhas de pesquisa: “Análise da biodiversidade em paisagens naturais e antropogênicas”; e “Dinâmica socioeconômica nos ambientes urbano e rural”. O resultado será publicado no dia 16 de julho. Acesse o edital da seleção por meio do site: www.ppgas.ueg.br.

UEG sem fronteiras Professor Rodrigo Borges com a primeira turma certificada pelo projeto É dentro dos laboratórios de informática da UEG Câmpus Mineiros que cidadãos têm seu primeiro contato direcionado ao universo digital. O projeto de extensão “Inclusão digital com ênfase em plataforma Windows” leva um cronograma de aulas em módulos bimestrais, com aulas ministradas pelo coordenador do projeto, professor Rodrigo Alves Borges, e monitoradas pelos alunos do câmpus. Hoje com 13 alunos, o projeto atende, em sua maioria, pessoas da terceira idade. O estudante do 3º período do Curso Superior de Tecnologia em Produção Sucroalcooleira, Renato B. Amorim, é um dos monitores e ministra suas aulas às terças-feiras. Ele vem acompanhando os alunos desde o início desse semestre e percebe neles a vontade de dialogar com o mundo tecnológico. “Muitos dos alunos de terceira idade possuem filhos que estudam fora de Mineiros. Nas aulas, eles aprendem a utilizar as ferramentas para conversar com quem está à distância”, comenta Renato.

Academia e população: UEG participa de congresso nacional de extensão universitária

A Coordenação Geral de Relações Institucionais e Internacionais da UEG (CGRI -UEG) apresenta à comunidade acadêmica novas possibilidades de experiências mundo afora. Estão abertas bolsas de estudo no Japão, com vagas que contemplam graduações em diferentes áreas, como: Engenharias Civil e Elétrica; Arquitetura; Moda; Educação Infantil; e outras. As inscrições poderão ser feitas até dia 30 de junho, por meio do site da Embaixada do Japão em Brasília: www. br.emb-japan.go.jp.

TOEFL gratuito A UEG aderiu ao programa Inglês Sem Fronteiras e essa parceria resultou em mais de 100 testes TOEFL gratuitos para a comunidade acadêmica da UEG. O TOEFL ITP é um teste de proficiência em língua inglesa exigido pelas universidades estrangeiras em programas de graduação e pós-graduação. As inscrições poderão ser realizadas ao longo do mês de junho e as provas serão aplicadas no mês de setembro nos Câmpus Henrique Santillo e no Câmpus de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas, ambos em Anápolis. Também haverá aplicação de exames na UEG Câmpus Caldas Novas. Mais informações no site www.cgri. ueg.br.

O 6º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária foi realizado na Universidade Federal do Pará, entre os dias 19 e 22 de maio, com o intuito de debater os desafios da extensão universitária no Brasil. A Universidade Estadual de Goiás participou do evento com 21 acadêmicos e 5 professores. Representantes da UEG do Câmpus de Ciências Socioeconômicas e Humanas, em Anápolis, do Câmpus Henrique Santillo, também em Anápolis, e dos câmpus Eseffego-Goiânia, São Luís de Montes Belos, Ceres, Jataí, Formosa e Pires do Rio foram responsáveis por apresentar o que vem sendo desenvolvido em termos de extensão na Universidade.

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No caso da UEG câmpus Ceres, a professora Vânia Ribeiro Borges, do curso de Sistema da Informação, e coordenadora do projeto de extensão “1,2, Feijão com arroz, 3,4, Crescendo saudável”, foi acompanhada de 4 discentes do curso de Enfermagem para a apresentação de três trabalhos. O projeto propõe ações de conscientização para uma alimentação saudável , por meio da pesagem e do acompanhamento da nutrição de crianças de uma escola municipal de Ceres. Segundo a estudante do 5º período de Enfermagem, Divina da Silva, os trabalhos apresentados tinham como foco o perfil nutricional dessas crianças, o perfil da obesidade e a desnutrição infantil, com dados levantados entre agosto e dezembro de 2013. “Participar de um congresso de abrangência nacional mostra o quão efetivo é o poder da extensão. É muito bom ver que estamos interferindo na vida de cidadãos de forma tão positiva”, comenta a discente.

Ambiente e Sociedade: Vagas abertas para PósGraduação na UEG Câmpus Morrinhos A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PrP) da UEG abriu 14 vagas para curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ambiente e Sociedade. O mestrado é gratuito e será oferecido no câmpus Morrinhos. As inscrições poderão ser feitas até dia 25 de junho na secretaria do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ambiente e Sociedade (PPGAS), em Morrinhos, ou pelos Correios, via SEDEX. Poderão se candidatar pessoas graduadas em Ciências Biológicas,

Carinna Sousa, estudante da UEG, realiza intercâmbio na Bélgica

Outros lugares a explorar, novas formas de ver o mundo A CGRI-UEG informa aos discentes da UEG que novas vagas para intercâmbio por meio do programa Ciências Sem Fronteiras serão abertas em breve, possibilitando oportunidades de intercâmbio para universidades fora do País. O aluno contemplado com uma bolsa do Ciência Sem Fronteiras poderá fazer intercâmbio de graduação. Como benefícios, ele contará com mensalidade na moeda local, auxílio instalação, seguro saúde, auxílio deslocamento para aquisição de passagens aéreas e auxílio material didático. A divulgação dos editais será feita, também, no site da CGRI-UEG. A aluna de Arquitetura e Urbanismo da UEG, Carinna Sousa, passou um ano de sua graduação na Vrije Universiteit Brussel, em Bruxelas, na Bélgica. Por meio do Ciências Sem Fronteiras, a aluna experimentou novas formas de aplicar o conhecimento adquirido ao longo de sua formação. “A oportunidade de estudar um ano em Bruxelas contribuiu para que eu pudesse ter contato com cursos, teorias e tecnologias que ainda não são aplicadas de maneira abrangente no Brasil”, comenta Carinna. A vida urbana europeia despertou-lhe o interesse pela temática dos rios urbanos. “Estou realizando meu TCC a fim de descobrir se é possível vivermos esse novo cenário urbano onde água e cidade convivam em harmonia”, finaliza ela.


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