Janeiro de 2012 Ano 46- N°657

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APCD Jornal - Janeiro 2012

Número de vítimas de AVC aumenta no Brasil Especialistas alertam que a prática de hábitos saudáveis e o acompanhamento médico regular ajudam a evitar a ocorrência da doença Por Mariana Pantano No Brasil, o AVC lidera o ranking como primeira causa de morte e incapacidade. De acordo com a Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), a cada cinco minutos uma pessoa é vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral), o que contabiliza cerca de 100 mil mortes ao ano em decorrência da doença no país. Nos últimos anos, a doença tem atingido jovens a partir de 18 anos. Em 2011, com o objetivo de engajar os profissionais de saúde e o público na luta contra a doença, a Organização Mundial de AVC

(World Stroke Organization) escolheu o tema "Um em cada seis" para destacar o fato de que a cada seis segundos, independentemente da idade ou sexo, alguém, em algum lugar do mundo, morre vítima de AVC. Porém, a doença pode ser prevenida e o atendimento rápido e adequado ajuda na recuperação do paciente que sofreu um derrame. De acordo com o Médico Neurologista e vice-presidente do Departamento de Doenças CérebroVasculares da Academia Brasileira de Neurologia, Rubens Gagliardi, o AVC é uma doença neurológica que causa distúrbio da circulação cerebral, provocando alterações vasculares agudas que prejudicam o fluxo de sangue para o cérebro. Segundo o Médico Cardiologista da Unidade Clínica de Emergência do Instituto do Coração (Incor) e do Hospital Israelita Albert Einstein, Carlos Henrique Sartorato Pedrotti, “o AVC pode ser isquêmico (AVCi) ou hemorrágico (AVCh). O AVCi é o tipo mais comum e ocorre devido a uma interrupção abrupta do fluxo

de sangue para o cérebro, levando à isquemia e à morte das células cerebrais. Geralmente, um coágulo é o responsável por esta obstrução, que pode se formar sobre placas de aterosclerose (as ‘famosas’ placas de gordura que se formam nas paredes dos vasos sanguíneos).” Os fatores de risco do AVC isquêmico são a idade, a obesidade, a hipertensão arterial, o tabagismo e os níveis elevados de colesterol, além de fatores genéticos. O coágulo, entretanto, pode se formar em outro local e migrar pela circulação, entupindo um vaso cerebral. Um em cada seis AVCs ocorrem por um coágulo formado inicialmente no coração devido a uma arritmia chamada Fibrilação Atrial (FA), uma das mais comuns na população. Carlos Henrique Pedrotti explica que o AVC hemorrágico é bem menos comum, porém muito mais grave, pois ocorre uma hemorragia aguda intracerebral. “É causado primariamente pela ruptura de pequenas dilatações nos vasos intracerebrais, o que leva a um prejuízo

local da circulação e morte de células cerebrais. Seu principal fator de risco é a hipertensão arterial elevada por longos períodos, associada a fatores genéticos.” O Neurologista Rubens Gagliardi afirma que tanto os sintomas do AVC hemorrágico quanto isquêmico são os mesmos, e ressalta que a doença provoca um quadro agudo e rapidamente evolutivo. Pedrotti destaca que os sintomas mais característicos do AVC são a perda de força e/ou sensibilidade em todo um lado do corpo, podendo ser acompanhado também de desvio da rima labial (boca torta) e alterações da fala. É interessante saber que o quadro pode variar muito, podendo haver apenas alterações de sensibilidade (formigamentos), apenas alterações faciais, somente a dificuldade em se expressar ou mesmo haver predominantemente alterações de equilíbrio ou coordenação motora. O fato comum entre o dois tipos de AVC é a apresentação súbita e, na grande maioria das vezes, unilateral, presente em praticamente todas as situações.

Fatores que contribuem para o aumento da doença

Para Rubens Gagliardi, existem alguns fatores que contribuem para o aumento do número de casos da doença como, por exemplo, o local e a região que se vive, estilo de vida estressante, excesso de comida industrializada, gordurosa e com muito sal. O Cardiologista destaca que as pessoas estão vivendo por mais tempo e morrendo menos de infecções nas fases mais jovens. O tratamento das doenças cardíacas e do infarto do miocárdio, antes mais precoces e muito mais letais, também está avançando muito. O aumento das taxas de tabagismo, obesidade, hipertensão arterial, diabetes e as pessoas, que antes morriam em casa de ‘velhice’, hoje estão tendo o diagnóstico de AVC realizado em hospitais, e esses fatores têm contribuído para aumentar as taxas oficiais. “Há, também, como fatores de risco o aumento do estresse da vida urbana, sedentarismo e aumento da obesidade entre jovens e crianças, o que acarreta em alterações metabólicas”, esclarece Carlos Pedrotti.

Prevenção do Acidente Vascular Cerebral

Para evitar o AVC, Pedrotti alerta que por ter características muito

similares às do infarto do miocárdio e angina, “devemos praticar atividades físicas regulares, ter uma alimentação equilibrada, cessar o tabagismo, controlar o peso, a pressão arterial, o diabetes e o colesterol. Cada um desses fatores, em especial a hipertensão arterial, tem sua participação na progressão das placas de aterosclerose que diminuem o fluxo cerebral e aumentam o risco de AVCi. Agora, uma vez instalado o sintoma, o melhor é não pestanejar e procurar o pronto-socorro o mais rápido possível. Cada minuto conta, pois a possibilidade de sequelas aumenta quanto maior for a demora na instituição do tratamento. Mesmo quando há a reversão completa e espontânea do quadro, situação que chamamos de Acidente Isquêmico Transitório (AIT), há um grande risco envolvido e é preciso, sim, procurar atendimento médico imediato”. É importante destacar que a prevenção do AVC pode ser realizada por qualquer Médico. “Os meios de prevenção são comuns àqueles usados para o infarto do miocárdio e angina. Incluem, basicamente, os hábitos de vida saudáveis, cessação do tabagismo, controle da pressão arterial, colesterol e diabetes. Em casos selecionados do AVC, pode ser indicado o uso de antiagregantes plaquetários, como a aspirina, ou mesmo de anticoagulantes mais potentes. Nesta última situação, é indicado o acompanhamento de um especialista, como o Neurologista ou Cardiologista”, ressalta Carlos Pedrotti. Já o tratamento agudo do AVC deve ser acompanhado por um Neurologista, que acompanhará diretamente a internação, fará a investigação do estado da circulação cerebral e possíveis origens de coágulos, além da avaliação, tratamento e prevenção das sequelas neurológicas no curto e longo prazo. “Como o coração, muitas vezes, é fonte de coágulos, frequentemente o Cardiologista participa deste processo”, conta o Médico do Incor.

Consequências do AVC

Carlos Pedrotti explica que devido ao fato da regeneração dos neurônios ser muito limitada, dificilmente as células prejudicadas voltam a funcionar, levando a um déficit permanente. “Pode haver paralisação ou fraqueza permanente de um lado do corpo, alterações da fala ou equilíbrio e distúrbios psíquicos. A magnitude das sequelas


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