Cartas de Amor - Sheylli Caleffi

PROJETO PARA EL RANCHITO PROYECTO DE INVESTIGACIÓN Y CREACIÓN PROMOVIDO POR MATADERO MADRID

CARTAS DE AMOR

"ESTOU COM SAUDADE, PENSANDO EM VOCÊ, QUERIA QUE ESTIVÉSSEMOS JUNTOS AGORA"

VOCÊ TEM UM AMOR? Você tem um amor? Quem teve ou tem um amor sabe que beleza é ver sua namorada de manhã despenteada com um moletom velho, largo demais, cara de sono, sorrindo porque você a acordou puxando o cobertor.

O amor produz muitas imagens e elas substituem o que já foram palavras de amor.

A carta de amor atual é uma foto! Estou em um lugar bacana, lembro de quem amo, faço uma “selfie” com o lugar ao fundo e pronto: “enviar”!

Com a tecnologia acessível a uma grande parte da população mundial, a foto começa a substituir a mensagem sms de amor, que substituiu os emails de amor que substituíram as cartas de amor.

Eu acredito que as fotos que os casais trocam entre si são reveladoras (qualquer casal: homo ou heteroafetivo). E acredito também que revelam sensos estéticos distintos. Existe a foto minha que eu escolho para enviar a pessoa que amo e existe a foto que a pessoa que eu amo mais gosta de mim - geralmente elas não coincidem, inclusive eu não consigo entender muitas vezes, como ele gosta daquela foto. Além destas duas tenho também uma foto minha de minha preferência, onde me acho bonita.

O projeto CARTAS DE AMOR propõe uma investigação sobre a beleza e o afeto com o objetivo de desmascarar a beleza vendida pelas propagandas - sejam elas televisivas ou impressas.

O objetivo desta residência será investigar como as imagens que produzimos de nós mesmos, ou que escolhemos de nós mesmos são “selecionadas” de acordo com o que a mídia e os meios de comunicação ditam. O que eles intitulam como belo passa a ser nosso objetivo. Quando na verdade o que o nosso companheiro admira, aprecia e deseja é outro estilo de imagem. E nós também enquanto companheiros, não exigimos estes esteriótipos de quem nos acompanha.

Geralmente a foto que eu escolho pra mandar pro meu amor se parece mais com uma foto publicitaria do que a que ele escolhe como sua preferida. Existe uma exigência de beleza consigo mesmo que não é transferida para o parceiro. Eu busco em uma foto para meu companheiro, parecer sempre magra, linda, mas não me incomodo com estes aspectos na foto que ele me manda.

Somos manipulados pela midia. Esta preocupação passa a ser uma questão sociológica, porque este comportamento se repete em todos os seres humanos. Falta de auto estima coletiva e generalizada?

Minha ideia neste projeto é pesquisar meios de demonstrar que estas imagens estão falidas. Que na verdade são imagens pré-fabricadas.

Quero com esta pesquisa, descobrir que a “beleza”, ou ao menos a "beleza do amor” esta numa direção oposta a beleza da propaganda e acredito que posso encontrar algumas respostas ou talvez mudar as perguntas nessa investigação. Os pontos visuais que causam amor estão provavelmente mais relacionados a sensação que se tem vendo a foto: muitos parceiros preferem a foto do companheiro sorrindo, descontraído, pego de surpresa. Enquanto as fotos de auto referencia mais são “posadas”, geralmente tiradas de uma seqüência de várias, onde a luz, a cor, a posição, foram aperfeiçoadas a cada click. É quase um produto do que eu considero que o outro quer ver em mim e na verdade não é isso que mais interessa a ele.

As pessoas não estão sendo enganadas pela mídia, elas sabem o que é belo e este modelo velho de aperfeiçoamento das imagens de pessoas com maquiagem e photoshop já está ultrapassado e precisa mudar. Eu quero incentivar isso. Uma reflexão séria sobre o que importa - relações humanas. Parindo de relações de afeto. Por que relações de afeto?

Porque isso comove as pessoas profundamente. Muitas pessoas desejam um amor e sentem-se incompletas se não têm uma relação amorosa. A maioria das pessoas já teve uma relação assim e pode recordar os bons momentos, é uma forma de tocar o coração para o assunto.

O que O produto deste experimento pode ser uma exposição de fotos, pode ser um documentário porque pretendo conversar com casais, mas pode também ser um aplicativo sobre amor com imagem. Algo como “eu amo você” onde as pessoas compartilham fotos da pessoa amada e mostram porque a forma com que nos produzimos no dia da “balada" onde pretendemos encontrar alguém não vai funcionar. Que a foto no site de relacionamentos, no Tinder, pode estar bem errada para as nossas intenções. Podemos ter sugestão de lugares pra passear e encontrar pessoas, não sei, acredito que posso mobilizar uma grande rede em torno disso, já tenho amigos interessados de diferentes áreas artísticas.

"Eu amo você” também é um título possível pra este trabalho. Quando apaixonadas as pessoas lutam e hoje o valor de comprometer-se com o outro, especialmente com um parceiro romântico, é cada vez menos valorizado. O que significa comprometer-se?

O que podemos construir em cima deste pilar? O que os casais entrevistados conquistaram? O que eles emanam? Consigo ver isso?

Consigo registrar?

-CLIPE DA BANDA, MÚSICA EM ESPANHOL OU PORTUGUÊS

Como?

Para fazer esta investigação terei muita ajuda tecnológica começando por criar uma campanha online onde pessoas de vários países, a principio de meu circulo pessoal (para garantir a honestidade do julgamento das fotos), enviam as fotos solicitadas.

Enquanto compilo as fotos, entrevisto casais em Madri sobre relacionamento e beleza, solicitado e visitando imagens em suas casas. É um trabalho interessante porque eu não preciso ter as duas pessoas do casal e também pode referir-se a relacionamentos que já acabaram porque eu preciso de três fotos de uma mesma pessoa. É uma auto reflexão individual gerada pelo encontro com o outro, pela relação. Qualquer pessoa que acessar essa ideia pode fazer a reflexão sozinha em qualquer lugar da terra.

Como a felicidade ou o amor são difíceis de clicar, eu gostaria de realizar um experimento em estúdio, sugerindo aos interessados que estejam vivendo uma situação de romance, que participem de um exercício e depois dele desenhem nas paredes a sensação que o relacionamento lhes causa. Algo abstrato, de formas e cores que estarão disponíveis.

Paralelamente pretendo pesquisar dois gêneros musicais muito potentes entre a classe média baixa no Brasil - que é a maioria da população: o forró e o rap, buscando referências a beleza em músicas sobre relação amorosa e amor.

Um dos rappers é o brasileiro Rael que tem uma música sobre amor e relaciomento chamada Coração: "Vem meu coração. Me dá atenção, um toque de mão, olha a sedução, não vai embora não que eu faço um café, vou comprar um pão". Esta música tem 3:48 e é falada o tempo todo sem uma referência a imagem/beleza/aspecto físico dos amantes.

Músicas sobre amor que as pessoas gostam, que elas tem em seus celulares, de quem elas compram ingresso e imagens sobre amor produzidas por elas: fotos (do consciente) e desenhos (insconsciente estimulado por exercícios). Esses são os elementos desta pesquisa que busca compreender o amor e a beleza hoje.

Outras como “Te faço um cafuné” do sanfoneiro Dominguinhos refere-se inclusive ao ato sexual através de metáfora e nada de beleza ou aparência: “te faço um cafuné pra você dormir, te dou um café quando se levantar. Dou comida na boca mato a sua sede, armo a minha rede e vou te balançar”.

Já estou pesquisando referencias atuais na musica espanhola como Ventrusta Morla.

Perseguir o amor real no relacionamento diário dos casais diferenciando-o do que a novela, o comercial, o filme, o drama e o enredo vendem como verdade, padrão ou exemplo. Talvez eu não encontre concordâncias ou padrões, apenas pluralidade. Talvez eu entre nas histórias de vida das pessoas pra entender sua forma de ver o amor.

Falar pessoalmente e por Skype com o mundo, suspeitando que é algo comum e mundial que as fotos levem os recados pelos quais as cartas de amor já foram responsáveis um dia: "estou com saudade, pensando em você, queria que estivéssemos juntos agora" Eu quero mudar a forma com que as pessoas veem a si mesmas e interagem. Quero pessoas mais confiantes e tranquilas para serem elas mesmas sem maquiagem, sem salto, sem caras e bocas e poses sensuais. E também quero que o amor invada tudo, que a alegria e disposição que nascem de um encontro amoroso inundem o planeta.

Imagino este estúdio com paredes que ficarão repletas de desenhos amadores que eu vou juntar depois num trabalho de desenho de paredes que já desenvolvo ha alguns anos, o chão tem um tapete confortável para que as pessoas possam tirar os sapatos e realizar alguns exercícios. Estaremos ouvindo músicas sobre amor (a principio brasileiras mas isso pode crescer bastante) Terei meu note ali onde falo com o mundo e organizo imagens. Ele fica aberto a visitas durante algumas horas do dia e recebe qualquer contribuição sobre amor que as pessoas queiram dividir - inclusive suas expectativas e definições.

Pessoas interessadas participam dos exercícios e desenham seu amor.

Outra parte do dia é dedicada as caminhadas e visitas a casais para entrevistas e pesquisa de imagens nos locais. E um terceiro momento utilizo pra trabalhar nos desenhos das paredes.

COMO Através do amor. Abordar as fotos de relacionamentos afetivos é uma estratégia para tornar o trabalho acessível e popular, lidando com a experiência e esperança comuns de viver momentos de intimidade e beleza em companhia.

Através da arte e expressão artística: fotografia (objetivo) desenho (subjetivo) e música (sensorial)

RESULTADO A principal característica deste projeto é Abordar a paixão e o amor como elementos não ter um resultado Pré estabelecido. de transgressão social baseados no Ele surgirá no processo e gosto de pensar comprometimento com alguém ou que será um aplicativo para celular ou/e uma causa e que a desvalorização um clipe de uma banda. Mas pode ser deste comprometimento colabora para uma exposição de fotos com música e a apatia e dominação das populações. performance, podemos destacar trechos Estimular a superficialidade é estratégia de musicas como legendas para as fotos de manipulação porque requer que as enviadas pelos colaboradores, são muitas pessoas valorizem menos ao autro e a possibilidades desenhadas coletivamente si mesmas. Quando eu me pareço com neste mês de trabalho. "tudo" eu não tenho minha identidade: Deve ser popular e acessível para que a maquiagem, salto, cabelo, Photoshop estão reflexão chegue a todos. ai pra ajudar na despersonalização

Resgatar a importância do amor. Grandes mudanças e lutas pessoais são inspiradas pelo amor

IMATERIAIS Pessoas e internet música, entrevistas...

OBJETIVO Transformar a forma com que as pessoas enxergam sua própria beleza.

Questionar padrões de beleza enraizados e ditados pelos meios convencionais de comunicação Fazer com que as pessoas amem mais a ai mesmas partindo do conceito que o amor é sempre por ai mesmo e demonstrando isso MATERIAIS através da produção visual que as pessoas Fotos trocadas por casais, músicas sobre fazem de ai mesmas amor, paredes e giz (talvez um tapete)

O QUE Residencia Artística em Madrid

POR QUE? A humanidade merece Pessoas de todas as formações e classes sociais são afetadas pela superficialidade e falta de auto estima. No Brasil há uma uniformização de tudo em relação a imagem: do que é belo, feio, aceitável, ridículo, e todos os conceitos vem de fora. Nunca foi incentivado o hábito de "olhar para si", poucas culturas incentivam essa prática. Acredito que através de uma análise e reflexão sobre algo extremamente comum e aceitável podemos tocar o centro de criatividade das pessoas onde elas ebaboram sua criatividade e expressam-se no mundo.

Estudar sobre como o fato de imagens tronarem-se públicas fazem com que elas fiquem mais padronizadas. Mesmo mandando pra uma pessoa eu penso que outros verão e a encaixo em um padrão "aceitável"

Por que Madrid?

Gosto da cidade, tenho colegas artistas que moram aí, com quem realizo muitos trabalhos.

Me viro muito bem com a língua, compreendo e falo o suficiente apesar de não ser boa na escrita. Um mês é um bom tempo para permanecer imersa e completamente focada neste projeto.

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