25 de abril

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SÊ COMUM, PENSA DIFERENTE

“Há 50 anos, a revolução também se fazia através da comunicação social. É inegável o papel fundamental que teve.”

25 DE ABRIL 2024

de abril

50 Anos

DIA DA LIBERDADE.

AS PÁGINAS QUE FALTAM ESCREVER

Nos últimos meses, a sociedade segue com os olhos postos na crise do jornalismo. O caso da Global Media veio despoletar a reivindicação de todos os anos de precariedade que se acumulavam Passamos a ver todos os dias novos relatos do estado da profissão, de um problema que não é de hoje e de uma classe cada vez menos atrativa aos jovens que saem das universidades.

Enquanto estudante de Ciências da Comunicação, acredito num jornalismo com um propósito maior do que cada um de nós Vejoo como a possibilidade de chegar a todos, de ouvir e contar histórias E resulta da fusão entre profissionalismo, sensibilidade e paixão.

Como em tudo na vida, o gosto não chega nem a paixão paga contas Ninguém – independentemente da profissão e do quanto gosta dela – merece ir todos os dias trabalhar na incerteza se vai ver esse trabalho reconhecido Sabemos a importância de um jornalismo de qualidade, mas falta apoiá-lo, permitir que ele resista. Há 50 anos, a revolução também se fazia através da comunicação social É inegável o papel fundamental que teve Hoje assistimos a tudo isso ser posto em causa Enquanto aspirante a jornalista, preocupa-me não só o presente da profissão, mas também – e muito – o futuro. Assusta-me pensar que se quero seguir o meu sonho tenho de me mentalizar de que ‘estabilidade’ será uma realidade longínqua E mesmo com a consciência de que nada se consegue de mão beijada, não me parece justo ter de escolher entre estabilidade financeira e pessoal ou os meus objetivos profissionais Acredito no potencial da minha geração Vejo-o todos os dias na sala de aula. Preocupa-me que não saia de lá.

25 de abril de 2024 Editorial

Ângela e a Daniela Ligeiro

A IMPARCIALIDADE JORNALÍSTICA EM TEMPO DE REVOLUÇÃO: O PAPEL DOS JORNAIS NO 25 DE ABRIL

AS MANCHETES DE 25 DE ABRIL DEMONSTRAM AS POSIÇÕES DOS JORNAIS FACE À QUEDA DO REGIME E OS JORNALISTAS COMO AGENTES DE MUDANÇA

No cerne da Revolução dos Cravos, encontra-se não apenas a ação dos protagonistas políticos e dos cidadãos nas ruas, mas também o papel desempenhado pelos meios de comunicação, em especial, os jornais O regime afetou drasticamente o trabalho dos jornalistas, nomeadamente devido à censura e ao controlo que o “Estado Novo” exercia sob a liberdade de expressão e a repressão de comentários de oposição ao governo Neste contexto de opressão política e censura, os jornalistas enfrentaram o desafio de equilibrar a imparcialidade jornalística com a necessidade de apoiar e catalisar o movimento revolucionário

Ao longo dos anos do Estado Novo, a censura era uma ferramenta omnipresente usada pelo regime para controlar a narrativa pública e suprimir qualquer forma de dissidência Os meios de comunicação foram muito utilizados, durante estas décadas, como uma forma de exibir propaganda do Estado Novo Os jornais serviam o propósito de promover os ideais e enaltecer o regime. Muitas vezes, os meios de comunicação eram obrigados a publicar artigos a elogiar o governo Os próprios proprietários das imprensas eram convocados para reuniões, onde recebiam orientações que beneficiavam a ditadura

Sob este regime, os jornalistas

não podiam investigar livremente ou expressar opiniões contrárias àquelas do governo. Os jornalistas que desafiavam abertamente o Estado Novo e a censura enfrentavam consequências severas, como prisão, tortura e “desaparecimentos”. Estes castigos podiam, até mesmo, estender-se às suas famílias, o que criava um ambiente de medo e tornava mais fácil o controlo da população. Alguns jornalistas opositores fugiam para outros países ou trabalhavam clandestinamente em Portugal, numa forma de poder exercer a profissão sem medo e criar uma resistência ao estado ditatorial A imparcialidade jornalística é um princípio fundamental que visa garantir que as notícias sejam relatadas de forma objetiva, sem viés partidário ou ideológico. Em tempos de revolução, como o 25 de Abril, manter essa imparcialidade pode ser particularmente desafiador, pois os jornalistas encontram-se diante de eventos e mudanças políticas profundas que podem suscitar emoções intensas e opiniões divergentes Aliás, é exatamente esta fraqueza em conter as emoções derivadas do final do Estado Novo que transparecem

25 de abril de 2024
Sociedade

nas publicações lançadas nos dias 24, 25 e 26 de abril.

O Diário de Lisboa publicou uma notícia com o título “FINALMENTE: A “PIDE” foi ocupada esta manhã pelas Forças Armadas” e outra denominada “Todos queriam assistir ao fim do fascismo”, na edição lançada dia 26 de abril de 1974.

Por sua vez, o República, um jornal que emergiu nos dias anteriores à Revolução dos Cravos como um centro de apoio civil às operações militares, especialmente devido à ação de Álvaro Guerra, compartilhou na edição de 24 de abril uma discreta nota, destacando o programa de rádio "Limite", que transmitiria a senha "Grândola, Vila Morena" No dia 25, após o seu diretor recusar-se verbalmente a enviar provas ao Exame Prévio, o República estampou uma tarja em destaque na primeira página, declarando: "Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura" A manchete "As Forças Armadas tomaram o poder" não era, na hora da publicação, uma realidade factual, mas refletia o desejo e a necessidade de mobilizar o apoio popular. Afinal, a rendição no Quartel do Carmo só ocorreria horas mais tarde

Por outro lado, não se pode negar a existência de publicações simpatizantes da ditadura. O Diário Popular, surgido nos anos de maior poder do Estado Novo, sempre demonstrou uma lealdade inabalável ao regime Através de um discurso

ambíguo e confuso, procurava persuadir o leitor de que nada estava definitivamente decidido. O jornal relatava a movimentação de tropas de vários quartéis para Lisboa ou com destino desconhecido, enquanto se referia ao Movimento das Forças Armadas (MFA) de maneiras diversas, como "forças militares" ou "movimento militar".

Este jornal era apenas um dos veículos de comunicação que apoiavam explicitamente Salazar e o Estado Novo em Portugal. As suas páginas frequentemente refletiam a propaganda oficial do regime e minimizavam ou ignoravam as críticas à sua liderança e políticas

Sociedade 25 de abril de 2024

André Igreja

JOVENS VS. VELHOS POLÍTICOS: “O 25 DE ABRIL EMPURROU OS JOVENS PARA A POLÍTICA, PARA DEFENDER OS SEUS DIREITOS”

AS MANCHETES DE 25 DE ABRIL DEMONSTRAM AS POSIÇÕES DOS JORNAIS FACE À QUEDA DO REGIME E OS JORNALISTAS COMO AGENTES DE MUDANÇA.

“ Os jovens não se interessam pela política” “Os jovens não querem saber do futuro do país”. “A política está a ficar envelhecida”. Já todos ouvimos estas três frases – ou pelo menos algo parecido. Mas será que estas correspondem a mitos ou têm o seu fundo de verdade?

Palmira Maciel representa o distrito de Braga na Assembleia da República (AR) desde 2015. Antes da chegada ao Parlamento, a socialista foi vereadora do Município de Braga, onde ainda integra a Assembleia Municipal, e presidente da Junta de Freguesia de Lamaçães. O ComUM falou com a deputada, que assume: “é inegável que existe uma crescente desconfiança em relação ao sistema político e aos seus representantes, e é precisamente aqui que os jovens têm um papel crucial a desempenhar”.

“Os 50 anos do 25 de abril são uma oportunidade que não podemos desperdiçar para refletirmos sobre a importância da participação ativa dos jovens na política, especialmente em tempos em que a confiança no sistema político parece tão abalada”, destacou Palmira Maciel. A deputada do PS alertou que “a democracia não é algo estanque” nem que “possa ser dado como um facto consumado”. “É preciso que os jovens saibam disto”, uma vez que, “enquanto agentes da mudança e representantes do futuro da nação”, estes “podem e devem ter um papel importantíssimo na defesa dos valores democráticos, do pluralismo e da integridade”

Para a deputada de 63 anos, “o facto de os jovens trazerem consigo uma mentalidade inovadora, fresca e descomprometida” pode ser “bastante positivo”

Para além da “energia”, do “entusiasmo” e da “visão pragmática”, Palmira Maciel reconhece à mais nova geração a “determinação e sensibilidade para abordarem questões urgentes, como as alterações climáticas, a igualdade de género e a justiça social” que “pode inspirar uma ação mais enérgica por parte dos políticos mais experientes”.

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25 de abril de 2024 Sociedade

Imagem: observador

Por outro lado, os jovens podem igualmente aprender com a “experiência acumulada” dos mais velhos na política, “que têm um conhecimento profundo do funcionamento das instituições” que lhes permite “lidar com os desafios políticos e sociais”, afirmou a deputada. Palmira Maciel defende que quem tem estas responsabilidades há mais tempo deve transmitir os “valores fundamentais da democracia”, a “importância do compromisso político” e o respeito pelas instituições “A história política do nosso país está repleta de exemplos inspiradores de políticos que souberam unir gerações em prol de um objetivo comum, corroborou.

A deputada, eleita em março para um quarto mandato na AR, deixou um repto final: “aliar a experiência dos mais velhos à irreverência da juventude é sem dúvida a melhor receita para um caminho de progresso e de inovação”

Palmira Maciel confessou ao ComUM que o 25 de abril “empurrou os jovens da altura para a política, para a defesa dos seus direitos e passados 50 anos não podemos deixar morrer essas ideais”.

O ComUM também falou com Clara de Sousa Alves, do PSD – uma das mais jovens deputadas desta legislatura. Em “estreia” no Parlamento, a advogada de 27 anos de idade entrou para a AR por Bragança em substituição de Hernâni Dias, que foi escolhido para Secretário de Estado da Administração Local. A seu ver, o quinquagésimo aniversário da Revolução dos Cravos representa um

momento crucial para refletir sobre o estado atual da nossa democracia

“ Nesse contexto, o envolvimento dos jovens na política assume-se essencial para a recuperação” da confiança no regime, devendo aproveitar a “renovada visão e proatividade” da juventude para a “defesa dos valores democráticos, do pluralismo, da integridade e, sobretudo, para o processo político”, explicou.

Os testemunhos de Clara Alves e Palmira Maciel quanto ao que podem ensinar os jovens na política são bastante semelhantes. A deputada eleita por Bragança destaca a sua geração como a grande impulsionadora da mudança, desde logo por estar preparada para a “era digital em que vivemos”. Para além disso, o seu “sangue na guelra” e “sensibilidade” para lidar com preocupações que abalam a nossa sociedade, como as alterações climáticas e a desigualdade social, merece que se reconheça esse valor, “fomentando o diálogo intergeracional” e tornando o ambiente político “mais dinâmico e inclusivo”

Sociedade 25 de abril de 2024
Imagem: gqportugal

A social-democrata afirma igualmente que os jovens também “têm muito a aprender com os mais velhos na política”, desde logo pela “enorme bagagem de experiência” e a capacidade de fazer uma “comparação histórica sobre quase todos os acontecimentos”. Destacou a importância da “partilha de conhecimento”, que só será possível “com o reconhecimento mútuo do valor que cada geração traz para a mesa”, deixando um apelo: “Os mais velhos têm de se sentir valorizados e ouvidos, ao mesmo tempo que os mais jovens têm de ter oportunidades para contribuir com as suas perspetivas” Para compreender melhor este debate do ponto de vista das juventudes partidárias, o ComUM falou com Manuel Pinto e Simão Costa Manuel tem 18 anos, é natural de Vila Real, está no primeiro ano da licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, presidiu a Associação de Estudantes do Liceu Camilo Castelo Branco, porta-voz do seu distrito no Parlamento dos Jovens, secretário nacional da Juventude Socialista e atualmente é coordenadoradjunto dos Estudantes Socialistas.

Entrei na política ligado muito

diretamente com o meio associativo estudantil. Já tinha valores e ideais antes, sabia que era de esquerda, mas foi a educação e autonomia dos estudantes que me despertou para agir concretamente e lutar por aquilo que já acreditava

são o seu “guilty pleasure” e cativaram a sua atenção para as politics (atividades da política, em inglês, que fez questão de distinguir da policy, as propostas) A política local cativou o seu interesse em 2017 e afirma: “ser um cidadão ativo na minha freguesia é mais produtivo do que sê-lo a nível nacional”

Manuel e Simão concordam que as juventudes partidárias tendem a ser mal vistas. Atualmente, esta opinião é fruto das “pessoas malintencionadas que nelas ingressam”, de acordo com o socialista, ou por “passarem a imagem de que são apenas uma plataforma de crescimento político pessoal”, para o famalicense.

Com 19 anos, Simão Costa é militante da “base” do PSD e da JSD de Vila Nova de Famalicão Natural de Fradelos, frequenta o segundo ano da licenciatura em Direito da NOVA School of Law, em Lisboa

Acompanhou atentamente campanhas nacionais e internacionais, que ainda

25 de abril de 2024 Sociedade

Ambos foram desafiados a explicar a importância da chamada das novas gerações para a política para defender a democracia, o pluralismo e a integridade em tempos de desconfiança para com o regime e quem nos governa. Manuel Pinto defendeu que “os jovens são historicamente a franja da sociedade capaz de a transformar radicalmente e de conquistar direitos e avanços sociais”, mas alertou que “quanto mais se afastarem” das suas reivindicações, não as vão ver correspondidas. Sim usou o reforço d jovens às urnas n legislativas como e que “ainda não des democracia” e sinal “troca de ideias”, be “participação polít da juventude, realidade e está fundamentalmente sociais” que p jovens aprender c está nestas lides tempo (e vice-versa

“Em democracia, só avançamos se aprendermos uns com os outros. Infelizmente, muitas vezes, assistimos a um conflito de interesses entre gerações”, afirmou Manuel, que numa frase resumiu: “os jovens colocam a política em movimento constante, de forma crítica, com ideias renovadas e, principalmente, energia” Mas os mais velhos têm algo que é “difícil de compensar”: experiência de vida. O coordenador-adjunto dos Estudantes Socialistas e Simão Costa concordam que isso permite-lhes tomar decisões “esclarecidas”, lidar com os “desenvolvimentos políticos” e “situações de forma mais calma e menos emocional”.

Em duas coisas, duas gerações diferentes na política estão de acordo: é preciso fazer mais para combater a insatisfação com o regime e o quanto podem aprender com as perspetivas de que conhece outros tempos. Para esta legislatura, foram eleitos 10 deputados com idades abaixo dos 30 anos para o parlamento, que agora mais jovem, vai tornar o diálogo entre gerações e a luta por objetivos comuns ainda mais fulcral.

gqportugal Sociedade 25 de abril de 2024
Imagens:

Margarida Carvalho

DIREITO AO VOTO: A REALIDADE PORTUGUESA 50 ANOS APÓS A CONQUISTA DA DEMOCRACIA

O DIA DA REVOLUÇÃO DE ABRIL CELEBRA O DIREITO AO VOTO E A ESCOLHA DOS

REPRESENTANTES NA “CASA DA DEMOCRACIA”

Nos 50 anos da Revolução dos Cravos o exercício do voto é um direito de todos os cidadãos portugueses na maioridade, algo que nem sempre foi assim. Na ditadura militar, que assolou Portugal durante 48 anos, as práticas eleitorais eram fortemente reguladas pelo Estado e controladas pelas forças políticas Hoje, 50 anos após a conquista da democracia, como se relacionam as pessoas com o direito ao voto?

Em conversa com o ComUM, Mafalda Pinto, vicepresidente do Núcleo de Alunos de Ciência Política da Universidade do Minho (NACPUM), explica que o voto nem sempre foi algo garantido ao longo dos anos, especialmente para as mulheres, reforçando “um grande caminho” percorrido.

Mafalda Pinto expressa ser “essencial ter este direito”, dada a possibilidade de escolha dos representantes na Europa e em Portugal e a representação na assembleia, que considera uma “casa da democracia”

Nas últimas eleições verificouse uma corrente contrária aos resultados dos últimos anos, onde a abstenção apresentava altos valores. A 10 de março a afluência às urnas foi grande, o que, de acordo com Mafalda Pinto, culminou na ascensão da direita radical em Portugal. A responsável pelo NACPUM explica que a diminuição dos níveis de abstenção e a ascensão do CHEGA estão inerentemente ligados. Acrescenta que a direita radical “dá uma falsa sensibilidade de que tem potencial para governar e tornar o país mais próspero e melhor”, o que resultou na eleição de “50 deputados radicais nos 50 anos da celebração de abril” Mafalda Pinto afirma que é necessária a abertura das instituições para ouvir, sobretudo, as necessidades dos jovens. Destaca um envolvimento juvenil mais forte no fórum político, que engloba tanto o voto como a participação em manifestações e afiliação a juventudes partidárias. Os jovens precisam de “ser ouvidos”, reforça Mafalda

No exercício livre do voto, a estudante expressa que os fatores que precisam de estar reunidos são a representatividade das diversas ideologias políticas e sociais, a transparência dos partidos e das instituições governamentais e a opinião pública onde os media têm um papel fundamental. A acrescentar, afirma que ler os programas eleitorais e livros de ciência política é importante para exercer um voto mais consciente. A vice-presidente do Núcleo de Alunos de Ciência Política da UMinho conclui que o voto de cada um é importante na construção da democracia.

“Não podemos perder os valores de abril. Muitas pessoas morreram e sofreram para que possamos votar livremente e, por isso, devemos participar politicamente seja de que forma for.”

Sociedade 25 de abril de 2024

Desporto

CARTÃO VERMELHO À LIBERDADE?

OS AVANÇOS E RECUOS DA NOSSA SOCIEDADE FORA DAS QUATRO LINHAS.

O dia 25 de abril de 1974 marcou gerações, e com ele surgiu a liberdade, conceito inédito e desconhecido para muitas pessoas, que só conheciam a "cara" da ditadura A liberdade, no seu núcleo baseia-se na livre expressão de pensamentos e ideias, sem punição por isso.

As multidões voltaram a poder ter voz e manifestarse de forma livre. Mas será essa uma liberdade no seu máximo esplendor? Ou uma liberdade controlada?

Esta questão poderá ser, e por vezes é mesmo feita, por entre ruas e ruelas da nossa sociedade, mas de vez em quando, a mesma sobressai e invade praça pública. Cada vez mais, no nosso quotidiano, os problemas envolventes do livre-arbítrio são discutidos, e postos em cima da mesa nas várias áreas da nossa sociedade, mas de uma forma bastante visível no desporto As quezílias e "olhares de canto" coabitam no ecossistema desportivo, de maneira mais vincada, entre instituições organizadas e não organizadas de adeptos, e os órgãos reguladores de desporto

No seguimento de ideologias divergentes entre ambas as partes foi criada, em 2003, a Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA). Esta entidade tem um comprometimento com os adeptos, no modo em que os representa, tentando promover os interesses e propostas dos mesmos, com o intuito de uni-los, e de fazer com que a sua voz chegue aos ouvidos de quem, por muitas vezes, os faz moucos. De tal modo, a própria APDA criou a "Carta de Direitos e Deveres do Adepto", documento aprovado na Assembleia da República O mesmo visa representar os adeptos, sendo este um passo para a dignificação dos próprios, e um contributo para a sua proteção e preservar os seus direitos.

Segundo declarações do ex-presidente desta instituição, Costa Pereira, ao jornal Público, "sem adeptos não há espetáculo, não há emoção e os próprios atletas precisam de sentir a presença de apoiantes" Deste modo, podemos perceber de forma sucinta, a importância que esta instituição dá aos adeptos que estão nas bancadas, considerando-os“ a alma do desporto”.

Apesar dos avanços e das tentativas de proteger quem apoia os clubes, os recuos, por vezes acabam por ser ainda maiores, com várias sanções, multas e proibições promulgadas pelas entidades superiores.

Exemplos de elementos taxativos e de tentativas de anti emancipação dos adeptos são as multas avultadas, que acabam por ser direcionadas aos clubes. As mesmas referem-se, por exemplo, a pirotecnia, que atualmente é ilegal nos estádios em Portugal, e que é parte da essência das claques.

É possível referir também que não podem ser utilizadas tarjas, faixas e bandeiras, que não sejam anteriormente autorizadas pelo promotor do espetáculo desportivo, e que possuam dimensões superiores a um metro de comprimento e um metro de largura. Os megafones e outros instrumentos produtores de ruído, sejam estes de percussão mecânica e/ou de sopro, também não são autorizados a penetrar nos recintos desportivos.

25 de abril de 2024

Estas medidas são postas em prática segundo o artigo 22º da lei 113/2019, presente no Diário da República

Um instrumento que enfatizava este controle sobre os adeptos foi intitulado de Cartão de Adepto. Esta medida visava a alteração do regime jurídico, no que diz respeito ao combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância no espetáculo desportivo O próprio procurava, essencialmente, aumentar as coimas e a possibilidade de interdição parcial dos estádios, no que envolvia as questões referidas, englobando também outras implicações no acesso aos campos de futebol

O que é certo é que o Cartão de Adepto foi um verdadeiro fracasso, tendo em conta a pouca adesão, sendo que, praticamente apenas os Super Dragões, claque do FC Porto, associou-se em massa a este projeto Este insucesso deveu-se também, aos combates de um povo que se fez ouvir bem alto, através de cânticos, nos estádios da liga portuguesa de futebol

No seguimento do que parecia ser a absolvição desta ideia, continuam ativas até hoje, as Zonas com Condições Especiais de Acesso e Permanência de Adeptos (ZCEAP). Estas consistem em manter a obrigatoriedade da venda de bilhetes, para essas zonas, sob a condição de o comprador ser maior de 16 anos, ou de ser acompanhado por um adulto, tendo este também que apresentar um documento de identificação com fotografia e bilhete com nome do seu titular

Todas estas condicionantes acabam por retirar os adeptos dos estádios e recintos desportivos, ou seja, no cômputo geral, medidas como a proibição de faixas, bandeiras e a criação do Cartão de Adepto, acabam por ser um retrocesso numa sociedade que luta por direitos como a liberdade, e as suas variadas vertentes.

Na sua generalidade, os elementos taxativos são métodos de repulsão da alma e de uma paixão que une todo e aquele indivíduo que no desporto encontra uma casa, em que pode se ele próprio. É crucial vincar, que estes modos comportamentais, têm de decorrer, também eles, em conformidade com deveres cívicos, como o de respeitar do próximo, o de dizer "não ao racismo", o de repúdio de ideais xenófobas, entre outros.

Em suma, deve ser preservado o espírito e a partilha de um amor pelo clube, que cada um bem entender, dentro do dito "normal", prevalecendo o fairplay e o bom-senso Para isso, devemos zelar por uma solenidade, dentro e fora das quatro linhas, que dê, acima de tudo, primazia ao espetáculo e ao desporto

Desporto 25 de abril de 2024
Imagem: Sapo

JORNAIS DESPORTIVOS APÓS O 25 DE ABRIL

A CONEXÃO ENTRE O DESPORTO E A POLÍTICA NAS NARRATIVAS GRÁFICAS PÓS-REVOLUÇÃO.

Desde a Revolução dos Cravos em Portugal, que marcou o fim da ditadura do Estado Novo em 25 de abril de 1974, os jornais têm sido um reflexo vibrante das mudanças políticas e sociais que varreram o país. Entre os muitos temas abordados pelos jornalistas e artistas gráficos, a interseção entre o desporto e a política emergiu como uma fonte de inspiração particularmente rica. Os desenhos que apareceram nos jornais após o 25 de abril, muitas vezes capturaram a essência dessa conexão única, fundindo a paixão pelo desporto com as aspirações e os desafios enfrentados pela sociedade portuguesa durante a transição para a democracia.

As bandas desenhadas que misturaram desporto e política após o 25 de abril muitas vezes usaram o desporto como uma poderosa metáfora para transmitir mensagens políticas e sociais. Essas imagens, não apenas capturam a euforia do momento pós revolucionário, mas também transmitiu a ideia de que o caminho para a democracia seria difícil, mas não impossível de superar.

Os cartoons que misturaram desporto e política nos jornais após o 25 de abril permanecem como testemunhos vívidos de um período tumultuado na história de Portugal Eles lembram-nos não apenas as batalhas e conquistas daqueles que lutaram pela liberdade e democracia, mas também da capacidade do desporto e da arte de transcender as fronteiras políticas e sociais À medida que Portugal continua a avançar no século XXI, essas imagens permanecem como um lembrete poderoso do papel único que o desporto e a arte desempenham na construção de uma sociedade mais justa e democrática

Imagem: Record

Além de servir como metáfora, os cartoons que misturaram desporto e política, também foram uma forma eficaz de criticar o regime ditatorial do Estado Novo. Antes do 25 de abril, o desporto era muitas vezes usado como uma ferramenta de propaganda pelo governo, com eventos desportivos a ser usados para promover a imagem do regime tanto dentro quanto fora do país. No entanto, após a revolução, os desenhos nos jornais muitas vezes subverteram essa narrativa, expondo as contradições e injustiças do regime através do mundo do desporto.

No entanto, a mistura de desporto e política nas BD´s jornalísticas após o 25 de abril também apresentaram desafios únicos Por um lado, os artistas enfrentaram a difícil tarefa de equilibrar a representação precisa dos eventos desportivos com a mensagem política que desejavam transmitir. Por outro lado, a crescente liberdade de expressão proporcionada pela democracia recémestabelecida abriu novas oportunidades para os artistas explorarem temas antes considerados “tabu” durante o regime ditatorial.

25 de abril de 2024 Desporto

AVANÇOS NO DESPORTO FEMININO

PORTUGUÊS DESDE O 25 DE ABRIL

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS MARCOU O CRESCIMENTO DO DESPORTO FEMININO EM PORTUGAL.

A Revolução do 25 de abril de 1974 foi um momento marcante e muito importante para todas as mulheres em Portugal. Antes do 25 de abril, as oportunidades no desporto para as mulheres eram muito limitadas, onde enfrentavam muitas barreiras para participarem em competições ou atividades desportivas.

Desde a Revolução dos Cravos, o país teve mudanças em diversas esferas da sociedade, incluindo no mundo do desporto, mais concretamente, no papel das mulheres neste meio, que tem passado por uma mudança notável, ou seja, teve uma grande evolução após o dia da Revolução Uma das mudanças mais notável é a maior quantidade de mulheres que entram no mundo das competições desportivas. Algumas modalidades onde anteriormente, predominava o sexo masculino, agora veem uma participação bastante crescente de mulheres Desde o futebol ao basquetebol, ao atletismo, ao voleibol, entre outras atividades desportivas.

Este avanço deve-se à conscientização pública sobre a importância da igualdade de género no desporto. Para além do aumento na participação, há também uma grande valorização do desporto feminino em Portugal Há uma maior visibilidade e reconhecimento das transmissões televisivas de competições femininas, o que para as atletas é uma forma de serem reconhecidas pelo que fazem Também aumentou o financiamento de programas desportivos destinados às mulheres, e as atletas de destaque estão a ser valorizadas e reconhecidas como modelos a seguir A disparidade de género em termos de financiamento, recursos e oportunidades de patrocínio ainda é uma realidade. No entanto, o progresso que foi alcançado desde o 25 de Abril é muito, e é um testemunho do compromisso contínuo com a igualdade de género e a promoção do desporto feminino em Portugal.

Desporto 25 de abril de 2024
Filipa Dias Ribeiro Imagem: Observador

REVOLUÇÃOEMCARTAS:‘ASTRÊSMARIAS’EO25

DEABRILNALITERATURADERESISTÊNCIA

Não é novidade a censura imposta pelo Estado Novo ao nível das Artes Contudo, em 1971, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, conhecidas como as "Três Marias", publicaram Novas Cartas Portuguesas, redefinindo os padrões da literatura portuguesa. Mas quem pensaria que três mulheres fariam história no mundo da literatura nacional e internacional?

Através de uma narrativa inovadora, unindo poesia, romance, conto e carta, são abordados temas como a Guerra Colonial, a censura do regime e a opressão das mulheres. Derivado disso, as "Três Marias" enfrentaram o julgamento da sociedade conservadora As autoras chegaram a ir a julgamento, em outubro de 1973, pois o regime considerava o conteúdo “pornográfico e atentatório da moral pública”, e só não foram condenadas devido aos acontecimentos decorrentes da Revolução de 25 de Abril de 1974

Novas Cartas Portuguesas, inspirado na obra francesa do séc.XVII, Lettres Portugaises, acompanha a vida de Mariana, uma freira à força, que vive uma paixão secreta com um cavaleiro francês, Chamilly Além desta história, recheada de “pecados”, encontros e abandonos, são nos apresentadas outras mulheres, primas e irmãs, através do qual é demonstrado a realidade crua vivida em Portugal nos 48 anos de ditadura, estendendo-se além das fronteiras nacionais.

A obra tornou-se um marco na luta feminista e pela liberdade de expressão, continuando a inspirar e a lembrar às mulheres o desejo de igualdade e da justiça social. Pode-se afirmar que Novas Cartas Portuguesas não é apenas um livro comum. É uma recordação da coragem e da resistência constante das mulheres que ousaram ir contra a injustiça e a opressão sem temerem as consequências, apenas com o objetivo de dar voz àquelas que se encontravam silenciadas e oprimidas.

Maria Horta lamenta que, mesmo a obra já sendo reconhecida internacionalmente, permanece desvalorizada no seu próprio país. Em homenagem ao 50° aniversário da Revolução dos Cravos, é essencial recordar que, infelizmente, ainda enfrentamos este tipo de questões

Novas Cartas Portuguesas é uma leitura essencial e interessante, tanto para mulheres como para homens. Assim, enquanto comemoramos os 50 anos do 25 de abril de 1974, devemos refletir igualmente sobre o poder impactante da literatura nas mais diversas áreas e recordar-nos, com orgulho, do longo legado das "Três Marias".

Com esta carta sei apenas conseguir reacender raivas, orgulhos e sentidos de posse sobre mim. Bem me podeis executar, quem me defende? A lei? A que dá aos pais todos os direitos de mordaça, aos machos primazia e à mulher somente o infinitamente menos nada, com dádivas de tudo?” (excerto da obra)

25 de abril de 2024
Crítica

Sofia de Paulo

GRÂNDOLA, VILA MORENA: A MÚSICA QUE MAIS ORDENA

Acanção cantada por José Afonso foi escolhida pelo Movimento das Forças Armadas como o segundo sinal para colocar a resistência em marcha Iniciou, assim, a Revolução de 25 de abril de 1974 como um grande símbolo da liberdade desta data. Apesar de inicialmente não ter sido composta como uma canção de protesto, as mudanças realizadas durante a sua gravação garantiram a mensagem de cunho mais político, no contexto da ditadura do Estado Novo Português.

A música de intervenção é um poema com uma estrutura típica da poesia popular medieval portuguesa, em redondilha maior. O seu ritmo regular é acompanhado de uma linguagem simples, que cria uma maior identificação com o povo. O coro que constitui a canção após a sua primeira estrofe garante um ar de maior força e potência à letra que, com a voz masculina mais profunda, provoca o seu caráter mais militar.

“Grândola, Vila Morena” tornouse o hino da Revolução de 25 de abril devido à sua mensagem de união, força e resistência Mais que isso, expressa na forma de arte as ideologias opostas à ditadura do Estado Novo ao assumir o papel de um grande símbolo da liberdade

Imagem: A MUSE ARTE

Crítica 25 de abril de 2024

25 de abril de 2024

Manuel Patela

ISABEL DO CARMO: A VEIA FEMININA DO 25 DE ABRIL

Perfil

Nascida em pleno regime fascista, a setembro de 1940, Isabel do Carmo é médica e ativista portuguesa Natural do concelho de Setúbal, da cidade do Barreiro, tomou consciência do mundo em que vivia e das lutas que previa enfrentar, ainda em tenra idade. Antes da Revolução dos Cravos, Isabel do Carmo foi “Iva”, foi “Elisa” e viveu clandestina. Protagonizou diversos atentados ao Estado Novo, passou a fronteira com uma bomba escondida na bagageira do carro e, entre uma vida cheia de histórias, sempre lutou pela democracia, “num país pobre atrasado do século XX” Em entrevista ao Jornal 2, salienta a alegria e desafogo do início da liberdade, para todos aqueles que se encontravam na clandestinidade.

Em casa, o pai, militante do Partido Comunista Português (PCP), influenciou-lhe as escolhas O seu temperamento aguerrido, como a própria descreve, fez o resto Começou por estudar no liceu de Setúbal, mas aos 15 anos frequentava o liceu Maria Amália, em Lisboa. Sendo o Barreiro uma terra de longa tradição antifascista, Isabel do Carmo conhecia pessoas que militavam, gente que tinha sido presa, que tinha partido para a guerra de Espanha, e alguns que tinham sido deportados para o Tarrafal Hoje, considera que era difícil escapar a esse ambiente e que se não se tivesse entregado à luta ter-se-ia sentido uma traidora. Foi presa e interrogada pela PIDE diversas vezes e mostra-se orgulhosa por ter tido um papel no fim da ditadura Recorda o papel das mulheres nas conquistas alcançadas ainda que, passados 50 anos, não sejam “muito lembradas”.

Isabel do Carmo é licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e, enquanto dirigente da Comissão Pro-Associação, participou nas revoltas estudantis de 1962 Foi a primeira mulher a pedir a palavra em assembleias essencialmente masculinas. E foi também dirigente da Ordem dos Médicos, até ao seu encerramento pelo Estado Novo, em 1972.

Frutos de duas, de entre as três relações que teve ao longo da vida, nasceu Isabel Lindim e Sérgio André do Carmo Antunes. Em conjunto com o pai de um dos filhos, Carlos Antunes, fundou o grupo Brigadas Revolucionárias (BR), em 1970, marcado, essencialmente, pelas ideologias de extremaesquerda. Em 1973, criou o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP). A 25 de Novembro verificou que o projeto revolucionário em que acreditara tinha sido derrotado Considera que teria havido uma grande reviravolta na Europa se em Portugal tivesse triunfado um poder revolucionário novo. A partir daí ficou à espera de ser presa, o que acabou por acontecer em 1978, acusada de "autoria de ações armadas".

Após o 25 de Abril, dirigiu o jornal Revolução Porta-Voz do PRP – Brigadas Revolucionárias e foi uma das figuras mais destacadas do Processo Revolucionário em Curso (PREC) A 25 de abril de 2004, por ocasião do 30º aniversário da Revolução dos Cravos, foi feita comentadora da Ordem da Liberdade, pelo então Presidente da República Jorge Sampaio. Atualmente, com 83 anos, mantémse como uma voz ativa na defesa dos direitos humanos, do feminismo e da liberdade.

Crítica
Imagem: Executiva

Cultura

Bárbara Carvas, Margarida da Silva Carvalho e Micaela Vieira

O GRITO DA CULTURA

A voz da cultura nas diferentes manifestações da Revolução de abril

Não só de lutas nas ruas e embates políticos foi marcado o abril de 1974 Foram vários os pensadores liberais que exteriorizaram os sentimentos de inquietação, angústia e opressão para obra física. Músicos, poetas, pintores, cineastas, atores e outros artistas deram uso à sua arte para, de forma discreta, mudar o paradigma social da altura Desta forma, a cultura fez parte da mobilização da população, da contestação ao regime e da construção de um novo imaginário social

A música foi um dos principais motores desta revolução e ainda hoje são cantadas e relembradas as várias canções da altura que marcaram um país “E Depois do Adeus” foi o sinal escolhido para desencadear toda a operação da madrugada de 25 de abril Até hoje, é um dos principais símbolos da revolução Seguiu-se “Grândola, Vila Morena”, música assumidamente sobre mudança, que se tornou mais tarde um hino de liberdade e esperança. “O povo é quem mais ordena” e “ em cada rosto igualdade” são algumas das frases que anteciparam um novo pensamento político e social Sem esquecer artistas como Simone de Oliveira, manifestando a sua liberdade n ´” A Desfolhada”, Fernando Tordo com “Tourada” e Sérgio Godinho com o álbum “À queima-roupa”, que acabaram por se destacar entre muitos outros, na luta contra a ditadura

Na literatura, pensadores como José Saramago, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andresen inspiraram a resistência ao regime e a busca por um futuro melhor, com as suas obras que exploravam temas como a liberdade, opressão e identidade nacional Sophia de Mello Breyner escreveu “Esta é a madrugada que eu esperava (…) Onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo”.

Também o cinema e o teatro foram utilizados como ferramentas fundamentais na crítica social e política Filmes como “Os Passos Subterrâneos”, de António Reis, e peças como “A Vida Como É”, de Berlot Brecht, apresentavam realidades censuradas na altura do regime, abrindo espaço para o debate e ainda, para a reflexão crítica

Por fim, já no âmbito das artes plásticas, personalidades como Paula Rego e Júlio pomar deram o seu contributo para a Revolução dos Cravos ao criar obras cujo principal objetivo foi denunciar a opressão e a repressão, utilizando técnicas e estilos variados como forma de expressar as suas críticas

Este setor não apenas refletiu as tensões e os desejos da sociedade portuguesa durante a ditadura, mas também desempenhou um papel ativo na construção de um novo futuro. Através da arte, do cinema, da literatura, do teatro e de outras vias culturais, o povo português foi capaz de imaginar um país mais livre, democrático e justo

25 de abril de 2024

As entrelinhas da cultura

A cultura mostrava ser uma força de reação contra o governo de forma discreta para passar pela censura, que era uma das suas principais antagonistas Quem o diz é a professora de História do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade do Minho e investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Isabel dos Guimarães Sá, que em entrevista ao ComUM recorda a censura literária e aos jornalistas da época. Isso acabava por "enriquecer a criatividade porque eles não diziam as coisas efetivamente, mas diziam nas entrelinhas”. Segundo a professora, essa resistência também se estendia a “coisas aparentemente tão inócuas como o Festival da Canção. Havia muitas músicas que passavam recados, para quem os queria descodificar”.

Por outro lado, durante a Revolução dos Cravos, manifestava-se sobretudo uma grande dose de abertura e de muito pouca autocensura, porque “as pessoas estavam a viver um momento excecional, em que tudo era permitido”. Isabel Sá conta que “as pessoas cantavam nos comícios músicas revolucionárias e aproveitaram para extravasar emoções e exprimirem ideias que nunca tinham tido a possibilidade de exprimir antes”. A investigadora diz que o 25 de abril foi um momento muito bonito, que deu a Portugal uma bela revolução “porque foi uma revolução praticamente sem sangue e quem passou pelo 25 de abril não esquece”.

No pós-revolução assistiu-se a um debate ideológico partidário muito intenso, explica a docente, mas a cultura mantém-se até hoje como uma “liberdade de expressão maravilhosa” Isabel Sá sublinha que como marcas dessa época temos em primeiro lugar os testemunhos orais, perpetuados pelas pessoas que viveram a revolução, mas também um conjunto de bens culturais que prolongam essas memórias, como as canções e os filmes da época

A professora destaca artistas como Zeca Afonso, a quem atribui o título de “príncipe”, mas também o músico Adriano Correia de Oliveira, o poeta Ary dos Santos e o cantor Carlos do Carmo como algumas das “ vozes da resistência”, entre tantos outros Como última mensagem, Isabel Sá afirma que as

democracias têm problemas, têm dificuldades, mas são incomparavelmente o melhor sistema político entre os que existem
Cultura 25 de abril de 2024

Memórias de abril

O antigo coronel, Carlos, era um entusiasta do teatro e conta que, na altura em que vigorava o regime ditatorial, acossados pelo lápis azul, todas as ideias eram transmitidas em código. “Eu frequentava muito o teatro, mas antes do 25 de abril era tudo camuflado Em qualquer palavrinha nós ficávamos sempre: alto lá, o que é que isto quererá dizer?”

Carlos recorda também que a liberdade não se viveu imediatamente após a Revolução Pelo contrário, Portugal ainda viveu uma época conturbada até 25 de novembro, em que a cautela era presente no dia a dia dos portugueses Marcada pelas tensões crescentes entre esquerda e direita a população continuava cautelosa a falar com os demais e com os meios de comunicação “Vivíamos o verão quente e as pessoas ainda tinham muito medo de falar”.

Também o ex-combatente António Machado deu a sua perspetiva ao ComUM, que relembra o medo, o receio e uma vida pautada por não sentir segurança nas palavras. Vivia com medo de falar e com medo das consequências. “Na tasca estávamos a falar, mas nunca sabíamos com quem. No dia a seguir vinhamnos dizer que fulano tinha sido apanhado”.

Também a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) fazia crescer este medo perseguindo qualquer sistema cultural que se atravessava no caminho do Estado Novo. “Tudo o que fazia a população virar-se contra o Estado era riscado. Vivíamos uma época dúplice e qualquer palavrinha podia castigar um cidadão” Não só na cultura, mas também no sistema hoteleiro, onde “se tinha que registar o nome e a identificação fiscal de todas as pessoas que entravam no hotel para ser entregue à PIDE”, esclarece António Machado.

Tudo o que fazia a população virar-se contra o Estado era riscado. Vivíamos uma época dúplice e qualquer palavrinha podia castigar um cidadão

Cultura 25 de abril de 2024

CARTAZ DE ABRIL:

A CULTURA PINTA-SE DE VERMELHO

Braga

Por todo o Minho, celebra-se o Dia da Liberdade com programação cultural que lembra 1974 O cartaz faz-se de diferentes tipos de música, teatro, poesia, ilustração, entre outras formas de arte

Em Braga, o tema da Revolução dos Cravos tem vindo a ser celebrado e mencionado durante todo o ano Destaca-se, no dia 24 de abril o concerto “Canções De Abril” pela Orquestra Filarmónica De Braga, na Avenida Central e ainda o espetáculo “Calma, É Só Amanhã!” no Theatro Circo, que reflete sobre as liberdades que foram alcançadas com o 25 de Abril

Das 21h do dia 24 de abril às 22h do dia 25 de abril as ruas da cidade contarão com uma instalação de luzes Segundo a organização, “em cada um dos espaços estará a decorrer, em diferentes horários, pequenos momentos culturais que refletem a efeméride a comemorar, desde um flashmob, dramatização, ilustração, música, poesia, entre muitos outros”.

Para o dia 25, na Avenida Central, há vários eventos agendados, desde concertos, intervenções até encenações. O município lançou também um desafio de ilustração, com o tema “Revolução de Abril” destinado à população juvenil, a aceitar envios até junho.

Guimarães

A programação na cidade berço inclui a participação de diversas instituições locais. No dia 25 irá decorrer o "Concerto Comemorativo do 25 de Abril" da Banda Musical das Taipas, de manhã, e o concerto "50 Anos de Abril", durante a tarde

O destaque do Município é para o concerto “Sons de Abril”, com o pianista Pedro Emanuel Pereira, comentado por António Vitorino D’Almeida e Miguel Leite, e o tradicional concerto "Sons da Liberdade", protagonizado pela Banda Musical de Pevidém e pelo “Coro da Liberdade”, sob a orientação e imagens do Cineclube de Guimarães. O concerto não é uma estreia e tem vindo a ser um sucesso nas edições passadas.

Viana do Castelo

Viana do Castelo conta com diversas exposições alusivas ao 25 de abril, de fotografia e pintura. Além disso, dia 24 conta com cinco apresentações musicais: “Vozes da Tribo”, “Cantares de Abril”, Tuna de Veteranos, Venham mais Cinco e Xornas, a partir das 21h30, na Praça da República.

No dia 25 a programação começa às 15h30 com Cantadeiras do Vale do Neiva. Continua com o Grupo Folclórico de Viana do Castelo, Ronda Típica de Carreço, Grupo Folclórico de Castelo do Neiva, Dixie e Combos de Rock. Cultura

Estão ainda a ser disponibilizadas visitas guiadas e consultas aos documentos do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta referentes ao 25 de abril

25 de abril de 2024

FOTOGALERIA: OS TONS DA LIBERDADE

Como uma homenagem aos 50 anos do 25 de abril, a fotogaleria realizada em grupo pelos redatores da secção de Multimédia visa representar a liberdade nos dias de hoje. Nos vários espaços públicos, do centro da cidade de Braga, é possível observar trabalhadores, funcionários e outros cidadãos com o cravo que simboliza a resistência desde 1974

A edição das fotografias tem o objetivo principal de garantir o contraste entre o fundo, preto e branco, e o cravo, destacado a vermelho. Assim, pretende ilustrar a conquista da liberdade do povo português durante a Revolução do 25 de Abril, que perdura em todos os aspetos da vida e quotidiano da sociedade atual

Fotos por: João Carvalho, Eduarda Silva Edição por: Elisa Siquara, Jéssica Galvão e Sofia de Paulo

Multimédia
25 de abril de 2024

SALGUEIRO MAIA

Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!

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