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“Minha infância jamais perdeu sua magia, jamais perdeu seu mistério e jamais perdeu seu drama. Toda a minha obra nos últimos cinquenta anos, todos os meus temas, foram inspirados em minha infância.” Casal, 2001 Quarto vermelho (criança), 1994

Destruição do pai, 1974

sexuais. Sem entender o que realmente faziam, a futura artista assistia a tudo

cada de 90, Quartos Vermelhos, em 1994, e suas

de perto. Seu pai e sua professora. Estariam eles brigando? Ou se divertindo? Se

conhecidas Aranhas, como a que está no Museu de

matando? Essas questões, essas visões, imagens do bárbaro, são o reflexo de

Arte Moderna de São Paulo, cujo tema traz um du-

uma experiência traumática, símbolo de todo o seu processo criativo.

plo significado: o primeiro, a aranha enquanto guardiã, defensora; o segundo, a representação da mãe.

Enquanto estudava matemática na Sorbonne e artes na École du Louvre e na École des Beaux-Arts, dentre tantas outras, Louise preparava-se para se tornar

Louise Bourgeois deixou um legado incrível, e

uma artista. Costumava dizer que todos os dias tentava abandonar o seu passado.

suas memórias, registradas em suas obras, man-

Ou aceitá-lo. Como não conseguia conviver com ele, o passo seguinte foi se tornar

têm viva a figura de uma menina que soube,

uma escultora. Foi na maturidade que enfim sentiu-se livre. Livre porque transpor-

depois de grande, materializar seus traumas em

tava o sentimento de raiva com o qual convivia para a escultura que criava.

objetos de imenso valor.

E criou as obras Punhal de Criança, de 1947, e Destruição do Pai, em 1974. Escul-

Izabel Rocha é historiadora de arte, professora e produtora

turas de casais acompanhariam toda a sua carreira; e ainda a série Celas, na dé-

cultural. a g o s t o 2 0 1 0 | 6 0 -6 1

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