Revista Rasura #1

A T S I V RE A R U S RA #1 Maracanaú (CE), maio/2023. produção colaborativa

conhece os riscos e atalhos da própria quebrada e é mesmo assim que faz tempo que desde moleque se desdobra

MÚLTIPLAS VOZES POR UMA QUESTÃO DE CLASSE

QG DO PENSAMENTO Quartel General do Pensar "Aprendi no hip-hop que o meu rap tem que ter postura e consciência.

Somos um espaço onde pensamos juntos projetos de opinião: o velho e o novo somando ideias.

O passo é nos libertar de erros e focar no quão importante é a cultura urbana do hip-hop".

(JR Metal / Sertão RAP)

PARA OS DAQUI: TOSTÕES PARA OS DE FORA: MILHÕES 2

grafitti do Jucá Genipapeiro (2020)

(reflexão de Siqueira de Lima escritor e acadêmico fundador da Academia Maracanauense de Letras)

REVISTA RASURA #1 - MAIO DE 2023

distribuição gratuita

processo criativo colaborativo | idealização, coordenação editorial, projeto gráfico, diagramação, redação e revisão: RODRIGO TEMBIÚ | colaborações em texto: EDNA MARTINIANO, RAQUEL ROCHA, ELZA SALES, NÍVIA MARQUES, SIQUEIRA DE LIMA, JR METAL, RICARLOS MELO, FABER RODRIGZ, CARLOS ALENCAR e MARIA GALDINO | colaborações em imagens: ANKH, JUCÁ JENIPAPEIRO, IGONE P2K, ALLISON DUARTE, JEFFERSON GONÇALVES, RHUAN PATRICK, ROBERT CRUMB, ALEX HERMES | inspirações epistemológicas: PAULO FREIRE, ANTONIO GRAMSCI, PINK FLOYD.

EDITORIAL - DE ONDE VEIO ESSA REVISTA? E PRA QUE ELA? Esta publicação faz parte da pesquisa de mestrado do educador rodrigo tembiú, que cursa o mestrado em Pedagogia na Universidade Federal do Ceará, com conclusão de curso prevista para dezembro de 2023.

Morador de Maracanaú (CE), ele é artista, produtor cultural e integra o Comitê de Cultura de Maracanaú desde sua criação, em agosto de 2022. Ao longo de sua pesquisa, o educador inventou de compartilhar com o público fragmentos de textos e reflexões críticas que integram o processo desse estudo. Daí então surgiu a Revista Rasura, esta publicação experimental e comprometida com a geração e compartilhamento de saberes que giram entre a cultura, a educação e a participação popular nas movimentações políticas da cidade.

Além de sua própria produção, o educador traz para a revista a participação de outras pessoas na geração de conteúdo: professora(e)s, artistas, produtore(a)s culturais e militantes políticos que fazem dessa publicação um processo colaborativo e diverso.

Mesmo não assinando todos os textos aqui presentes, todo conteúdo gerado nesta publicação

3

é parte da pesquisa de mestrado denominada “Práxis Emancipatória e Organização da Cultura: o que Dizem os Sujeitos que Fazem o Comitê de Cultura de Maracanaú (CE)” e é de responsabilidade do pesquisador.

A linha editorial da revista parte do estudo em curso e trata de assuntos ligados à educação para autonomia e fortalecimento do setor cultural em Maracanaú. A partir da mobilização de trabalhadora(e)s da cultura, a revista traz o foco na rasura como metáfora para uma forma antihegemônica de se falar sobre a cultura em Maracanaú. A escrita, a poética, as múltiplas vozes, a criação e produção de saber como revide histórico e como contragolpe depois de tantos silenciamentos. A partir dessa rasura, afirmamos contrapontos, críticas, proposições e, com tudo isso, caminhos de emancipação.

Está autorizada a reprodução total ou parcial da publicação, desde que citada a fonte e que não haja nenhuma forma de geração de lucro ou movimentação comercial. Para críticas ou sugestões à revista (sempre bem-vindas!), por favor, escreva para tembiu@gmail.com.

ilustração: Igone P2K

paulo beldia em e r a d u me falo vera que a r NÃO É NA RESIGNAÇÃO, a p a poem MAS NA REBELDIA (…)

EM FACE DAS daí a rasura INJUSTIÇAS QUE NOS daí o ruído AFIRMAMOS. daí o grito grave a greve e o grunhido daí o incômodo e um monte de mãos remoldando caminhos a afirmando outros tons daí o levante o risco e o perigo constante. o disco, a dança, a cena, a letra, o traço, o pixo, o coco, o giro, a terra, a ginga, o riso, o riff, o scratch, a esquete, a ciranda, o sagrado, o suor, o veneno…

Para o educador Paulo Freire, a REBELDIA possui sentido positivo, pois é parte de um processo de transição. Trata-se de um estado de consciência que vem antes da atitude conscientemente revolucionária. Na obra de Freire, especialmente em “Pedagogia do Oprimido” (1967), o caminho que nos leva da REBELDIA à REVOLUÇÃO passa pelo processo de conscientização: leva os sujeitos do estado de consciência ingênua até o estado de consciência crítica.

revides rebeldes de afeto e de luta que afirmam rasuras e recontam a história ruma de voz ruma de mão é na rebeldia não na resignação

A FACE CULTURAL DE MARACANAÚ “O patrimônio histórico de Maracanaú não se limita apenas a sítios naturais ou arquitetônicos de grande valor histórico. Folguedos, danças, canções e narrativas populares fazem parte de um patrimônio imaterial que necessita com urgência ser levantado, registrado e difundido para que não se perca para sempre, negando-se assim, às gerações futuras a oportunidade de conhecer e desvendar os segredos transmitidos na narrativa oral das pessoas idosas de Maracanaú”.

O texto acima foi escrito em 1999 e publicado no livro Perfil Cultural de Maracanaú, uma espécie de mapeamento de artistas, grupos e manifestações culturais do município, editado pela Secretaria de Cultura e Desporto de Maracanaú, que teve como objetivo “investigar, conhecer, dinamizar, promover e difundir as manifestações culturais” do município.

24 anos se passaram…

(Edna Martiniano, socióloga e escritora)

4

SÓ A CRÍTICA SALVA Por que pensar nas pessoas se temos indústria?

Parece que pouco importa se aqui temos a CEASA, que alimenta boa parte da região metropolitana e capital e ainda assim existe insegurança alimentar em Maracanaú. Ou pouco importa que haja o São João de Maracanaú enquanto o Teatro Dorian Sampaio viva sem programação artística regular e inúmeros artistas na cidade que precisam sair dela para trabalhar em municípios vizinhos. Talvez seja por isso mesmo que temos uma “bela” malha viária (bela?).

A população que habita a cidade parece ocupar o último lugar na escala de prioridades. Mais importante que a nossa qualidade de vida garantida pelo acesso à educação, saúde, cultura e lazer, estão as indústrias e suas formas de manter o lucro para o Estado.

(Raquel Rocha, pesquisadora, filósofa, dançarina do ventre, professora de filosofia e de dança)

5

O O C CO OM MI IT TÊ Ê D DE E C CU UL LT TU UR RA A D DE E M MA AR RA AC CA AN NA AÚ Ú R RE EA AL LI IZ ZO OU U E EM M D DE EZ ZE EM MB BR RO O // 2 20 02 22 2 U UM MA A S SE EM MA AN NA A D DE E A AR RT TE E C CO OM M M MA AI IS S D DE E 8 80 0 A AR RT TI IS ST TA AS S D DA A C CI ID DA AD DE E N NA A P PR RO OG GR RA AM MA AÇ ÇÃ ÃO O ,, M MA AI IS S U UM M C CO OL LE ET TI IV VO O D DE E 1 10 0 P PR RO OD DU UT TO OR RE ES S T TR RA AB BA AL LH HA AN ND DO O P PO OR R 2 20 0 D DI IA AS S .. P PR RO OJ JE ET TO O C CO OM M U UM M O OR RÇ ÇA AM ME EN NT TO O S SI IM MP PL LI IF FI IC CA AD DO O D DE E 3 35 5 M MI IL L R RE EA AI IS S .. N NE EN NH HU UM M C CE EN NT TA AV VO O D DA A P PR RE EF FE EI IT TU UR RA A ..

N NE EN NH HU UM MA A A AT TE EN NÇ ÇÃ ÃO O .. 3 35 5 M MI IL L R RE EA AI IS S É É 1 10 0% % D DO O C CA AC CH HÊ Ê D DO O L LE EO O S SA AN NT TA AN NA A N NO O S SJ JM M 2 20 02 23 3 ..

O fato do Elmano falar da indústria não foi uma novidade. Afinal, a cidade com segundo maior PIB do Estado por causa das indústrias não tem porque se importar se a população do Acaracuzinho é obrigada a conviver com mau cheiro e problemas respiratórios.

Menos ainda importa se mais ou menos 4h30, 5h da manhã junto com o nascer do sol a gente pode perceber uma fina névoa pairando na cidade… É quase que um clima londrino, ouso dizer, de uma Londres em plena expansão industrial que gerou um nevoeiro de fumaça na cidade nos anos 50, causada pela queima de combustíveis fósseis na indústria e nos transportes.

O O C CO OM MI IT TÊ Ê D DE E C CU UL LT TU UR RA A D DE E M MA AR RA AC CA AN NA AÚ Ú A AP PR RE ES SE EN NT TO OU U E EM M J JA AN NE EI IR RO O // 2 20 02 23 3 U UM M P PR RO OJ JE ET TO O P PR RA A S SE EI IN NF FR RA A E E P PR RA A S SE EM MA AM M P PR RA A F FA AZ ZE ER R P PA AI IN NÉ ÉI IS S C CO OL LA AB BO OR RA AT TI IV VO OS S D DE E G GR RA AF FF FI IT TI I P PO OR R T TO OD DO O O O M MU UR RO O D DO O E ES ST TÁ ÁD DI IO O A AL LM MI IR R D DU UT TR RA A .. 1 14 4 P PR RO OF FI IS SS SI IO ON NA AI IS S E EN NV VO OL LV VI ID DO OS S .. 7 70 0 M MI IL L R RE EA AI IS S A AP PR RO OX XI IM MA AD DA AM ME EN NT TE E ..

1 10 0% % D DO O C CA AC CH HÊ Ê D DO O S SA AF FA AD DÃ ÃO O N NO O S SJ JM M 2 20 02 23 3 .. A A P PR RE EF FE EI IT TU UR RA A S SE EQ QU UE ER R R RE ES SP PO ON ND DE EU U S SO OB BR RE E O O P PR RO OJ JE ET TO O D DE E G GR RA AF FI IT TA AR R O O E ES ST TÁ ÁD DI IO O ..

Outro dia um amigo me enviou um vídeo com uma fala do governador Elmano ressaltando a sua amizade de longa data com o prefeito Roberto Pessoa. Logo no começo da fala, ingenuamente eu pensei: Será que ele vai falar sobre algo que a população de Maracanaú precisa e vai “puxar a orelha” do prefeito? Que engano! Elmano falou sobre aquilo pelo qual a cidade é conhecida e reconhecida…

E não se trata das pessoas ou das belezas que existem escondidas na cidade de onde avistamos montanhas e temos sempre um belo pôr do sol. O governador se referiu a Maracanaú e à sua indústria!

frase retirada do livro “A Guerra da Arte”, pixo s/ papel. Ankh (2023)

O Corre do Ganso, por Jefferson Gonçalves e Rhuan Patrick

6

MARIAS

luchar

(poema escrito por Elza Sales e Nivia Marques, educadoras e integrante do Marias – Coletivo de Mulheres da Educação de Maracanaú)

7

ilustração: Ankh (2021)

Gramsci nos provocou a pensar sobre uma nova ORGANIZAÇÃO DA CULTURA, a partir do enfrentamento ao modelo ideológico da classe dominante. Ele propunha que professores, comunicadores, artistas e outros “intelectuais orgânicos” pudessem se dedicar a produzir junto à classe trabalhadora troca de saberes pra que se pudesse compreender a própria realidade e os mecanismos de exploração da classe dominante. Ele gostava de produzir revistas como forma de difundir uma nova concepção de mundo para a vida do operariado e do povo em geral, na busca da reforma intelectual, moral e, assim, cultural.

Antonio Gramsci (1891-1937) foi um pensador, jornalista e ativista político marxista que marcou a primeira banda do século XX na Itália. Inventou algumas revistas independentes (tipo fanzines) com as quais distribuía mensagens revolucionárias nas portas de fábricas e periferias de Turim e outras cidades da Itália. Participou da criação do Partido Comunista da Itália e deu muita aula provocando na classe trabalhadora o pensamento crítico, a consciência de classe e o enfrentamento ao capitalismo.Ou seja, um cara que deu trabalho! E teve muito trabalho! Tanto que depois de tanta provocação... foi preso pelo regime fascista de Mussolini.

Na prisão, entre 1926 e 1937, Gramsci escreveu tanto que encheu 33 grandes cadernos com anotações sobre política, comunicação, linguística e cultura. Esse material foi organizado depois de sua morte e se tornou uma obra extraordinária para as áreas de educação, sociologia, filosofia, comunicação e estudos culturais.

Como não contemplar a beleza das "Marias"?

O seu corpo é harmônico, fluído, multifacetado.

Suas vestes são plurais.

Seu caminhar nos leva à resistente marcha: Marcha para a liberdade!

Como não contemplar o vigor das "Marias" que na contagem de seu tempo, soma dias, meses, anos, Cinco anos!

Como não querer ser "Marias"?

Quando as mãos entrelaçadas dançam Garajeando num 08 de março ao som das poesias com histórias de mulheres, empreendendo suas artes, em tons, cores, cheiros, vestes, perfumes e performances.

Como não ser "Marias" Ler com Marias, poetizar Marias!

Aprender com Marias, enfrentar com Marias.

Ver com o olhar de Marias Lutar como Marias!

Somos Marias.

Um coletivo de mulheres, reunidas, unidas, por espaço, todos os espaços.

Por vez, Por democracia, pelo fim da misoginia, por vida, Por Marias!!!

em RBOSA PAJÉ BA

) s, 2013 Herme x le A e d 3. foto da, 201 a t n a c n dreira E a da Pe d a m o t da Re Imagem

trechos do livro "A Resistência dos Índios Pitaguary" (1993), de Carlos Alencar e Maria Galdino)

8

O SACRIPANTA

CRÔNICA

(texto de Faber RodrigZ)

M

aracanaú ainda como cidade interiorana, antes de pertencer a tal região metropolitana surge assim: já tínhamos de um tudo até um enviado do chifrudo, um sacripanta cornudo para então nos emancipar.

Se a história desse lugar tiver só a letra dele para narrar, Maracanaú nasce de um grito às margens da lagoa que ele dá.

Ele emancipou, casou, batizou, nomeou, edificou, inaugurou, fundou, deu posse, controlou, mandou, desmandou, escreveu e publicou, por sua boca ele atuou desde o M até o ú quem ejacula a gênese da existência dessa cidade é o sacripanta de Maracanaú?

Se dos bofetes que levar a aos vexames que passara, alguma coisa lhe atingisse, tal canalha com sua rabugice já deve ria ter se mandado, mas por muitos é apoia do e sempre arranja um servil, um outro à su a semelhança, para manter viva a discrepânc ia na cidade já quarentona a imagem do ignóbil.

O sacripanta hoje senil ain da alarda sua fama, fez da cidade sua cama e nela se deitou. Está nos anais do município, mesmo sem ter princípios, ainda vive a se gabar. É uma figura mal quista, indigesto fas cista, é gestão, é oposição, é o germe do cinismo, cancro mole apodrecido no lixo da his tória. Reservaremos tua memória como o sa cripanta babão.

Toda cidade que se prez a tem um, dois ou vários, vis protozoários, useiros e vezeiros na arte de enganar. Passam por importantes, por gente significante desde a emancipação a consolidação de todo e qualquer lugar.

80 anos numa ode à barbárie É perversão pura isso que a @prefmaracanau faz a população passar no aniversário do chefe do executivo! Ao invés de criar uma política decente de combate à desnutrição ou de promoção da saúde alimentar, a gestão municipal cria uma situação vexatória, colocando a população pra disputar selvagemente pedaços de bolo, cada com com seu balde, sua bacia, sua sacola… Uma performance dantesca que expõe a população à irracionalidade. Isso, num cenário com um avião alugado e oferecido para as pessoas entrarem como experiência cultural, e um show comercial com cachê milionário pra cantor de entretenimento…

Enquanto não há política de cultura no município, nem fomento às práticas artísticas da cidade.

9

Um disparate! Vão chegar em que nível de perversão?!?

fragmento do poema

EVOLUA: CONHEÇA O SEU LUGAR de Ricarlos Melo Era uma vez um homem falido Botas sujas de esterco e penugem nas roupas Olhos na galinha dos ovos de ouros e visão de conquistador.

Esta é uma história porca Sem motivos para festas E sem fundamentos para alegria Nós baixamos a guarda E com a nossa voz passiva Ele nos calou.

Nós não somos “Pessoa” E nesta furada canoa Nós embarcamos.

E quem é “Pessoa”?

A palavra “Pessoa” hoje não soa bem E o que nos importa?

Se toda esta história nos impediu de ser feliz Se a porta do hospital foi batida em nosso nariz Para ele não somos gente “I love Maracanaú” é uma ficção A cidade das maracás nunca existiu Nós somos do lugar Dos explorados, dos esquecidos Não somos tratados como cidadãos Somos da cidade do voto útil Dos condenados Dos ofendidos Dos humilhados Nós sabemos bem Não basta só conhecermos o nosso lugar É preciso compreendermos a posição que ocupamos no contexto social Quem trabalha para o progresso de nossa cidade E que diz que ama Maracanaú, somente para nos explorar

práxis emancipatória

ilustração: Robert Crumb (1977)

10

O movimento de reflexão-ação por nós vivido está contribuindo para a formação de sujeitos históricos que se reconhecem como coletivos de cultura? está contribuindo para a ocupação de um lugar social nos espaços de decisão?

reflexão ação reflexão crítica replanejamento ação revivida emancipação mobilização

FAÇA VOCÊ MESMO ou

um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar!

Isso mesmo: ouvir as pessoas de Maracanaú que trabalham anos e anos nessa coisa de fazer cultura.

Isso tem sido meu trabalho, meu estudo, minha dedicação. Ouvir, aprender, refletir e provocar...

Claro que ao passo que eu escuto, eu pergunto, eu me entusiasmo. Ao passo que eu me envolvo, eu me vejo embarcando no mesmo barco.

Nisso de ouvir o povo da cultura da cidade, venho percebendo em muitas falas de artistas, produtore(a)s culturais e professora(e)s de artes de Maracanaú, um fala que se repete… “aqui é muito difícil pra cultura”. Agora, o que mais me chama atenção é que, além dessa fala dura que aparece tanto em tantas conversas, uma outra fala vem como corte que alimenta a esperança: “precisamos fazer alguma coisa! Mudar isso”.

E assim é muito instigante observar e participar de uma cidade que pulsa e planta a transformação de sua própria ORGANIZAÇÃO DA CULTURA. Chico Science, no seu disco “Afrociberdelia”(1996), já deu o toque: “um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar!”. A cidade vem, a cada passo, compondo caminhos de superação de travas e trevas e criando possíveis. E o(a)s trabalhadora(e)s da cultura são peças-chave para esse processo. Os sujeitos reais que transformam essa história.

Isso de “precisamos fazer alguma coisa!” passa pela atitude de reconstruir, passa pelo “faça você mesmo!”, passa pelo empoderamento, por aquela famosa mensagem do samba: “levanta, chacoalha a poeira e dá a volta por cima”. Agora, claro: sem esquecer que o passado foi de travas e trevas. Porque para avançar para um novo tempo, não se deve apagar o que passou.

Senão ele volta… É preciso superar o passado construindo o presente, entendendo a história como escola, como processo coletivo em que aprendemos coisas.

A HISTÓRIA COMO ESCOLA Nesse processo, é preciso compreender os procedimentos que nos ajudaram a superar problemas e também identificar os coletivos e pessoas que fizeram destravar os processos. Como foi que aconteceu? Quem fez o quê? O que foi dito em tal momento? Onde foi mais difícil? Qual solução para tal desafio? Viver, refletir, aprender e refazer: por uma questão de classe!

Assim a gente reconta a história, enfrenta os silenciamentos, valoriza os feitos, aprende com os acertos. E refaz um país!

Por exemplo, o Conselho Municipal de Cultura de Maracanaú está sendo reativado e isso ajudará (e muito!) na composição de políticas de cultura, bem como o monitoramento dos recursos e avaliação do que será feito!

Junto desse processo do Conselho, vem a implementação da Lei Paulo Gustavo, que disparou no país todo uma onda de fortalecimento do setor cultural, estimulando artistas e grupos culturais em cada município a se organizarem pra pensar junto com os governos locais as possibilidades para investir o recurso que chega com a nova Lei. Assim, aqui em Maracanaú, as categorias de Literatura, de Música, de Audiovisual, Artesanato, Artes Cênicas, Povos Originários, Povos de Terreiro... vêm criando seus fóruns e trocando ideias, analisando conjuntura e ensaiando propostas, pensando seus projetos, suas articulações. Sua forma de fazer a cultura da cidade!

11

ilustração "Corpos Assimétricos (versão II)", de Allison Duarte

@comitedeculturademaracanau

realização:

comitê de cultura de maracanaú

apoio: