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MANEJO DA CIGARRINHA DO MILHO E DO COMPLEXO DE ENFEZAMENTOS POR ELA TRANSMITIDO

A cultura do milho tem sido muito afetada por problemas de altas infestações de Dalbulus maidis, também chamada de Cigarrinha do Milho, na maioria dos estados produtores deste cereal no território nacional. Os primeiros relatos de Complexo de Enfezamento no Brasil ocorreram na década de 70, porém estas doenças foram consideradas de importância secundária, sem causar grandes prejuízos à produção do milho no Brasil (COSTA, KITAJIMA; ARRUDA, 1971).

Na safra 1994/1995, tivemos o primeiro surto destas doenças com impacto econômico para a cultura, ocorrido no Sudoeste do Estado de Goiás e Triângulo Mineiro.

Porém, foi em 2015/2016, nos plantios de segunda safra (“safrinha”), que tivemos um novo surto de grande impacto econômico e de ocorrência nas mesmas regiões anteriormente citadas. Deste momento em diante, o problema veio se agravando cada ano mais, pois os insetos infectivos foram se dispersando por outras regiões de grande importância na produção do milho, desde Sul de Minas Gerais, estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul e, no ano de 2020, chegou nos estados do Sul do Brasil (PR, SC e RS).

Neste período todo, outros estados como Bahia, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia, também começaram ser afetados pelo inseto, assim como pela ocorrência das doenças, causando grandes preocupações na Comunidade Científica Agronômica, consultorias técnicas regionais, agricultores, órgãos oficiais do Governo Federal, Estadual e até Municipal, na busca de alternativas no manejo da praga e redução na oportunidade de ocorrência das doenças.

A Cigarrinha do Milho é um inseto da Ordem dos Hemípteras, subordem Homóptera e com muitas particularidades eco biológicas de extrema importância no sentido de alimentação, reprodução e manutenção da espécie, além do seu alto potencial migratório e dispersivo, o que torna mais difícil no cenário atual da cultura no Brasil, um manejo de alta eficiência. A Biologia deste inseto e sua eficiência em se contaminar e transmitir os agentes causais das doenças do Complexo de Enfezamentos, estão extremamente ligadas à condições de temperatura e umidade relativa do ar, sendo a Temperatura, ao meu entender, o principal fator abiótico de maior impacto na praga e no processo de infectividade.

Outros fatores de impacto no Manejo desta praga é a presença de plantas de milho durante “praticamente” o ano inteiro, tanto de forma cultivada, quanto sua presença de forma voluntária (“Tiguera”), contribuindo não somente para manutenção e dispersão da espécie do inseto, mas também dos Agentes Causais das doenças do Complexo de Enfezamento.

Os principais agentes causadores das doenças são compostos por: duas Bactérias pertencentes à Classe dos Mollicutes – o Spiroplasma kunkeli (Enfezamento pálido ou amarelo – CSS), o Phytoplasma “asteris” (Enfezamento Vermelho – MBSP); as viroses sendo: o Vírus do Rayado Fino (MRFV) (Vírus da Risca) – pertencente à Família Rhabdoviridae e do Gênero Nucleorhabdovirus e detectado mais recentemente no Brasil (2022), as viroses da Família Geminiviridae (ssDNA) do Gênero Mastrevírus – o Vírus da Raia do Milho (MSV) e o Vírus do Mosaico Estriado do Milho (MSMV) – sendo estas novas detecções, mais ocorrentes nos estados do Sul do Brasil.

Os agentes causais podem ser transmitidos pela cigarrinha contaminada, podendo ter um ou todos em conjunto num mesmo indivíduo, dependendo da presença destes agentes no indivíduo. O inseto pode inocular estes agentes causais na planta, diretamente nos vasos do Floema, que, com o decorrer do tempo de incubação e latência completo, irão começar a causar o bloqueio - “entupimento” desses vasos, dificultando o transporte de fotossintetizados, especialmente os açúcares, principal componente dos grãos do milho, causando como resultado final, falta de enchimento e perda de peso dos grãos, com consequente redução na produtividade.

As perdas diretas na produtividade podem chegar a 90% quando áreas mal ou não manejadas e híbridos de maior suscetibilidade. Também podemos ter ocorrência de outras moléstias se manifestando em plantas acometidas pelo Complexo de Enfezamento, como podridões e/ou exaustão de colmo, por contaminação de fungos causadores de podridões e/ou desgaste do colmo no particionamento de açúcares para o grão.

Portanto, é de extrema importância a manutenção de foco nas principais estratégias de manejo da praga e por consequência, das doenças do Complexo de Enfezamento.

Vale ressaltar que o manejo das doenças por utilização de Defensivos Agrícolas ainda não temos oportunidades viáveis, ficando por conta do manejo da praga o sucesso do controle.

A Genética é uma das ferramentas viáveis para auxiliar dentro das Boas Práticas de Manejo. A utilização de materiais genéticos mais “tolerantes” é uma alternativa muito importante, especialmente nos períodos de maior risco de Ocorrência da Praga e de populações infectivas, porém é fundamental também ressaltarmos que apenas a genética não assegura isenção de perdas. Materiais genéticos classificados como de Alta Tolerância ao Complexo de Enfezamento, quando em ensaios com inoculação induzida dos agentes causais, simulando ausência de controle da praga, resulta em perdas médias de 30% na produtividade, evidenciando ausência de imunidade e necessidade do manejo correto, independente da classificação do material. É importante usar o princípio de que para insetos vetores de doenças, o Nível de Ação não está diretamente vinculado ao número de indivíduos, mas sim à presença ou ausência dos mesmos, uma vez que não temos muito como saber se estão ou não infectados com os agentes causais.

Portanto, por melhor que façamos um manejo químico para controlar a população da praga, se tivermos em período de altas populações, qualquer percentual que escape do controle, poderá representar, ainda, grande número de indivíduos e a probabilidade de termos plantas infectadas poderá ser muito representativa. Portanto, a genética usada nestes períodos, com escolhas de materiais mais tolerantes, será de grande importância para minimizar possíveis perdas.

O hábito migratório desta praga em grandes distâncias, podendo ultrapassar 20 km em voo natural e mais de 100 km quando em correntes de ventos, permite reinfestações constantes nas lavouras mais novas e dificultando a efetividade dos produtos químicos por longos períodos. Isto representa mais uma das dificuldades para o manejo deste inseto e é fundamental uma conscientização de todos os agricultores de uma região afetada, em se fazer as boas práticas de manejo.

Portanto, o manejo da Cigarrinha do Milho, não está vinculado apenas a um tipo de operação, nem tampouco a um produto, mas está diretamente pautada na utilização de várias estratégias conjuntas de Boas Práticas Agrícolas de Manejo.

Abordaremos alguns pontos de destaque nas estratégias de manejo que deverão ser adotadas:

1. Eliminação do Milho Voluntário – “Tiguera”;

2. Escolha de Materiais Genéticos de Maior Tolerância às Doenças do Complexo Enfezamento, mantendo alta caixa produtiva, especialmente nos períodos de maior risco de ocorrência da praga;

3. Tratamento de sementes com defensivo químico que tenha translocação sistêmica em plântulas;

4. Período crítico para manejo – de VE (emergência) à V8 (estádio fenológico vegetativo de 8 folhas expandidas);

5. Aplicações de Defensivos Agrícolas Químicos e Biológicos, obedecendo instruções de bula em relação ao número máximo de aplicação do produto/ciclo da cultura, dosagem de acordo com a praga alvo, respeitando intervalo mínimo de aplicação e assegurar se está devidamente registrado no MAPA;

6. Observar aplicação de produtos de contato nos períodos com ausência de Ninfas e assegurar utilização dos produtos sistêmicos em momentos que detectarmos sua presença; lembrar que as Ninfas das Cigarrinhas permanecem o período ninfal (15/18 dias) na superfície inferior das folhas do milho, quase sem movimentação e produtos com translocação translaminar serão de fundamental importância para seu manejo;

7. Em áreas com proximidades às lavouras mais velhas de milho é necessário maior cuidado no manejo, sugerindo utilização de aplicações em Bordaduras nos intervalos semanais das aplicações em área total, se assegurando de rotacionar mecanismo de ação nos produtos escolhidos; é também válida esta sugestão para áreas com proximidade às plantas de abrigo de cigarrinhas do milho, quando detectada a sua presença (capins de modo geral, sorgo, milheto, Gramíneas no Geral, feijão, algodão, mata reserva, etc...);

8. Evitar perdas de grãos de milho na colheita, observando uma melhor regulagem da colheitadeira, assim como evitar perdas de grãos no transporte até locais de armazenagem;

9. Quando possível, evitar plantios escalonados, pois a praga tem preferência por plantas jovens e sua migração acontece nesta direção;

10. Promover plantios regionais em períodos mais coincidentes, evitando escalonamento de longo prazo.

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