País económico edição de outubro 2017

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PARÁ É A OBRA PRIMA DA AMAZÓNIA E QUER AUMENTAR RELAÇÕES COM PORTUGAL

Nº 180 › Mensal › Outubro 2017 › 2.20# (IVA incluído)

Mohammad Salman bin bin Salman Abdulaziz Abdulaziz Al-Saud Rei da Arábia Al-Saud Príncipe Herdeiro e Vice-Primeiro Ministro

Adel Al Jubeir Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino da Arábia Saudita

Saudita e Guardião das Duas Mesquitas Sagradas

Adel Abdel Bashsh Embaixador do Reino da Arábia Saudita em Portugal

Simão Jatene Governador do Estado do Pará (Brasil)

MACIÇA é alta qualidade na madeira Ivo Monteiro, Administrador da Maciça, empresa localizada em Carregal do Sal, distrito de Viseu, é especializada na produção de portas e janelas em madeira de alta qualidade, estando já presente em muitas obras emblemáticas na área da reabilitação em Lisboa. Crescer nas exportações é uma grande prioridade. Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 1


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Ficha Técnica Propriedade

Editorial

Economipress – Edição de Publicações e Marketing, Lda.

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Contribuinte 506 047 415

Director › Jorge Gonçalves Alegria

Conselho Editorial: › Bracinha Vieira › Frederico Nascimento › Joanaz de Melo › João Bárbara › João Fermisson › Lemos Ferreira › Mónica Martins › Olímpio Lourenço › Rui Pestana › Vitória Soares

Praticar uma relação descomplexada com Angola

Redacção › Manuel Gonçalves › Valdemar Bonacho › Jorge Alegria

Fotografia › Rui Rocha Reis

Grafismo & Paginação › António Afonso

Departamento Comercial › Valdemar Bonacho (Director)

Direccção Administrativa e Financeira › Ana Leal Alegria (Directora)

Serviços Externos › António Emanuel

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discurso de posse do novo presidente de Angola, João Lourenço, causou um grande frisson em Portugal, essencialmente por não ter colocado expressamente Portugal como um dos países estratégicos nas relações do estado angolano – quando até a vizinha Espanha foi mencionada – embora muitos lessem na expressão «além de outros desde que respeitem» Angola, no que foi lido como um recado direto a Portugal, sobretudo tendo em vista os processos judiciais que correm em Lisboa contra personalidades angolanas. Em primeiro lugar, por uma questão de princípio, tal como nenhum cidadão português está acima da lei, seja em Portugal, seja no estrangeiro (no quadro legal de cada país), também nenhum cidadão estrangeiro está acima da lei em Portugal. Por isso, se existem fundados indícios de atos menos conformes com a lei portuguesa, praticados em Portugal, por qualquer cidadão estrangeiro, tem de ser investigado e julgado, caso as autoridades judiciais portuguesas cheguem a essa conclusão. Seja quem for, de que país for! Na relação entre Portugal e Angola, bem como entre Portugal e qualquer outro país, mesmo aqueles com quem mantemos especiais laços históricos, importa sobretudo encarar o relacionamento na ótica institucional e económica. Na cena internacional, os estados defendem essencialmente os seus interesses fundamentais. A garantia da sua soberania territorial e estratégica, bem como dos seus interesses económicos essenciais. Portanto, as relações entre Portugal e Angola também devem ser vistas fundamentalmente por esse prisma. Existem interesses fortes em desenvolver um quadro de relacionamento institucional, político e estratégico de elevada concertação? Certamente que sim, mas considero de maior relevância encarar o relacionamento económico com um fator primordial. A economia e as empresas portuguesas têm um papel importante a desempenhar na economia angolana e na própria realidade económica global de África. Temos conhecimento e know how, não há que ter medo de proclamar essas vantagens, porque as empresas portuguesas o demonstram todos os dias no continente, como aliás nesta edição relatamos os casos da Mota-Engil e da Transinsular. Mas existem muitas outras empresas com posições destacadas em Angola e noutros países africanos. E terão de ser as empresas, não tenhamos dúvidas, a tecer as principais armas por Portugal para afirmar a nossa posição e importância no continente. Caso contrário, outros o farão. JORGE GONÇALVES ALEGRIA

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Índice Grande Entrevista Rodrigo Ryder é o Administrador da Fearless Mountain, uma consultora especializada em investimento e internacionalização e que chegou a Portugal em finais do ano passado. De forma discreta, mas muito eficiente, está a ajudar várias empresas portuguesas a se internacionalizarem ou outras e reforçarem os seus canais de exportação. Apostando nos mercados europeus, africanos, sul-americanos e do Médio Oriente, a Fearless Mountain oferece um acompanhamento e um serviço muito próximo e personalizado aos seus clientes. «Estamos apostados em ser uma mais-valia para as empresas portuguesas no plano internacional», sublinha o gestor da consultora.

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Ainda nesta edição…

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Grande Plano

Governo aprovou apoios a vários projetos industriais Comércio entre Portugal e Arábia Saudita em crescimento Vila Galé investe em Manteigas Pestana investe em Alvor Sonae Sierra reforça aposta no estrangeiro Comércio luso-brasileiro também acelera crescimento Mota-Engil ganha novos contratos em África

Especial Pará Nesta edição de outubro damos especial relevância ao estado brasileiro do Pará, um território onde vive uma forte comunidade de origem portuguesa e que desde junho de 2014 mais se aproximou do lado de cá do Atlântico devido aos voos diretos então iniciados entre Belém do Pará e Lisboa. O Estado do Pará é uma grande potencia económica em termos de recursos minerais, agrícolas, pecuários, piscatórios e florestais. Mas precisa de ganhar muito maior capacidade de transformação desse grande potencial para gerar maior riqueza e renda, além de emprego para os próprios paraenses. São muitos desses desafios que surgem neste Especial Pará que publicamos nesta edição.

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O Centro de Portugal continua a mover-se, mesmo que em Lisboa e no Porto não se olhe com atenção para essa região do país, uma região que acolhe cada vez mais empresas, pois possui espaço, acessibilidades privilegiadas para chegar ao restante território português ou rapidamente ao espaço europeu. Mas, falta-lhe mão-de-obra, sobretudo a mais qualificada. Nesta edição fomos conhecer duas empresas em Carregal do Sal, no distrito de Viseu, onde todas essas realidades estão bem presentes.

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› GRANDE PLANO Ivo Monteiro, Administrador da MACIÇA

«Estamos a crescer» Com sede em Carregal do Sal, a Maciça – Indústria de Janelas e Portas de Madeira, Lda é uma empresa altamente especializada em Caixilharia de Madeira e é considerada no seu género uma referência nacional. Com uma unidade fabril moderna e bem equipada, a Maciça procura constantemente melhorar e inovar o seu processo de fabrico, utilizando para o efeito matérias-primas seleccionadas e controladas e acessórios e materiais da melhor qualidade e eficiência. Com uma posição sólida no mercado nacional, a Maciça pretende agora crescer mais no mercado externo, exportando já para Angola e França. Em entrevista que concedeu à PAÍS €CONÓMICO, Ivo Monteiro, administrador da empresa, descreveu as intenções presentes e futuras da Maciça, sublinhado que perante o crescimento que a empresa está a ter em Portugal, «chegou a hora de aproveitarmos oportunidades (parcerias) que permitam à Maciça crescer muito mais no mercado externo».

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TEXTO › VALDEMAR BONACHO

Maciça – Indústria de Janelas e Portas de Madeira, Lda. foi fundada em Maio de 1995 por António Monteiro, avô de Ivo Monteiro, atual Administrador desta empresa com sede no Parque Industrial de Carregal do Sal, e que hoje é considerada uma referência na área da caixilharia de madeira. «A criação da Maciça teve muito a ver com o facto de nessa altura não existirem muitas fábricas de caixilharia de madeira. Como estávamos associados a uma empresa que era fornecedora de madeiras e sabíamos da necessidade de existir na região uma indústria do género, o meu avô achou por bem avançar com este projeto que, na altura, já significou um investimento avultado», referiu Ivo Monteiro, lembrando que o seu pai Rui Monteiro, começou a dar o seu concurso como gestor da Maciça em 1998/1999. Segundo o jovem administrador da Maciça «somos profissionais no fabrico de janelas e portas de madeira», esclareceu, para se referir logo de seguida ao percurso de 22 anos desta empresa de Carregal do Sal. «Tem sido um percurso com altos e baixos. A empresa em 2007 acumulou uma grande dívida (cerca de 1 milhão de euros), mas através de capital injectado pe-

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| FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS E CEDIDAS PELA MACIÇA

los sócios a empresa conseguiu superar por ela própria essa dificuldade. Soube erguer-se de novo e hoje a empresa está a viver uma situação de crescimento sustentado, o que nos transmite ânimo e vontade de irmos muito mais além», justificou Ivo Monteiro. Lisboa é um mercado importante O volume de negócios da Maciça em 2016 atingiu os 1,2 milhões de euros, mais 400 mil euros que em 2015, e em 2017 está a prever atingir os 1,5 milhões de euros, significando um crescimento de 20 por cento em relação ao ano anterior. «Cerca de 98% da nossa faturação tem origem no mercado nacional e os restantes 2/3% são provenientes do mercado externo: Angola e França. «Em Portugal, cerca de 80% das obras que integram o nosso portefólio foram executadas ou estão em execução no concelho de Lisboa. Temos praticamente quatro equipas permanentes a execuarem trabalhos não só para entidades particulares como também para entidades oficiais. No nosso portefólio constam inúmeras obras de referência, entre elas o Miradouro de Santa Catarina, e estamos a dar continuidade a uma intervenção significativa em

toda a Praça do Comércio, designadamente na sua ala esquerda, que abrange o Ministério da Marinha, mas igualmente no Ministério dos Negócios Estrangeiros, no Palácio das Necessidades», resumiu Ivo Monteiro, salientando que a reabilitação urbana é uma área com um peso considerável na Maciça. O grande peso da reabilitação «Eu arrisco a dizer que mais de 50 por cento das nossas intervenções dizem respeito a reabilitações, e arrisco afirmar também que as nossas janelas são das mais caras do país, mas de enorme qualidade. Isso faz com que as reabilitações no Centro Histórico de Lisboa, mais concretamente, mas também no Porto e agora no Algarve, sejam reabilitações de elevadíssima qualidade, muito caras e que (felizmente) utilizam muita madeira…», resumiu Ivo Monteiro, que aproveitaria para definir o tipo de cliente que mais trabalha com a Maciça. «Os nossos clientes são os hotéis, consumidores finais também temos muitos, mas mais especificamentes são os arquitetos, que aconselham o nosso produto. Grande parte das obras que temos provêm do aconselhamento feito pelos arquitetos junto dos nossos clientes, e têm

muito a ver com a excelente qualidade do nosso produto. Estes arquitetos conhecem bem o nosso produto porque já trabalham connosco há 20 anos, e esse aconselhamento junto dos nossos clientes acaba por ser determinante. Os gabinete de Arquitetura são igualmente elementos importantíssimos no nosso negócio», sublinhou Ivo Monteiro, que a este propósito acrescentaria ainda: «A nossa janela tipo é apresentada pela nossa equipa de comerciais ao cliente final, que passa a conhecer o perfil e qualidade do produto. Não podemos inovar

muito no fabrico da janela, porque estamos muito dependentes daquilo que é a inovação na ferragem. Mas é uma janela inovadora que convence e cativa o cliente mais exigente», enfatizou o administrador da Maciça. A unidade fabril da Maciça foi construída de raíz na altura do arranque do projeto em 1995 e já nessa data significou um investimento avultado, cerca de 250 mil contos (1 milhão e 250 mil euros). «Para aquela data – há 22 anos atrás – traduziu um esforço financeiro muito significativo, já que o meu avô apetrechou esta

fábrica com equipamentos tecnologicamente avançados e que ainda estão apropriados às exigência atuais. Não existindo muito inovação no mercado da madeira, direi que todas as máquinas que dispomos estão atualizadas e que correspondem às nossas necessidades. Mais preocupante é a parte da lixagem, porque este é um produto que envolve 60 por cento de mão-de-obra e, como tal, a lixagem tem de ser feito no caixilho, e este procedimento só o conseguímos fazer manualmente. Nós não conseguímos fabricar mais unidades porque todo esse

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› GRANDE PLANO

processo de lixagem é manual», esclareceu Ivo Monteiro. Falta de mão-de-obra trava capacidade produtiva Entre portas e janelas a Maciça produz anualmente à volta de 1000 unidades. Inquirido sobre a possibilidade do aumento da capacidade de produção desta empresa, Ivo Monteiro não poderia ter sido mais claro. «Temos de ter em consideração que a capacidade produtiva está sempre associada à mão-de obra qualificada que conseguímos recrutar. O aumento da produção está muito dependente desse pormenor. Dai estamos a recorrer a anúncios em jornais e outros meios, tentando arranjar mais mão-de-obra qualificada para aumentarmos a nossa capacidade produtiva e, desse modo, conseguírmos entrar em mais mercado externos. Esse é o nosso objetivo…», frisou Ivo Monteiro, que deseja ardentemente ver a Maciça presente em outros mercados internacionais.

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«Penso que dentro de dois anos estaremos a publicitar o nosso produto e estaremos já a participar em feiras nos mercados francês e angolano. Neste momento já estamos a preparar a equipa necessária para darmos mais esse passo

importante no processo de crescimento da Maciça, que neste momento conta com 28 trabalhadores nos seus quadros», referiu Ivo Monteiro, acrescentando que o ideal seria arranjar mais 6 ou 7 desses profissionais.

Aumentar as exportações Segundo o administrador da Maciça, sendo o custo da mão-de-obra portuguesa mais baixo que o praticado noutros países, «isso significa que temos preço e qualidade para entrármos nesses mercados internacionais», disse Ivo Monteiro, para referir que os produtos da Maciça entraram em Angola e França através de clientes seus presentes nesses mercados. A entrevista a Ivo Monteiro estava praticamente no fim, mas ainda com tempo para registarmos do administrador da Maciça as suas pretensões em relação à consolidação do futuro da empresa. «Queremos continuadamente valorizar a nossa unidade fabril, ter uma equipa capaz de absorver mais obras, elevar cada vez mais a boa qualidade o nosso produto, e tentarmos entrar decididamente no mercado externo. Temos preço e produto para vencermos também nesse mercado, e estamos a trabalhar com afinco para conseguirmos esse importante objetivo». ‹

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› GRANDE PLANO Remo Ventura, Diretor-Geral da SFPC – Sociedade Franco Portuguesa de Capacetes, SA

«Somos a pérola do Grupo SHARK»

Ligada ao Grupo SHARK, a SFPC – Sociedade Franco Portuguesa de Capacetes, SA está sedeada no Parque Industrial Sampaio, em Carregal do Sal e a sua atividade consiste na fabricação de equipamentos de prevenção e segurança, entre eles os prestigiados capacetes “Shark”. Em entrevista que concedeu à PAÍS €CONÓMICO, Remo Ventura, Diretor-Geral desta empresa diz-se satisfeito com o facto da SHARK ter escolhido Portugal para instalar uma das suas fábricas. «Tínhamos algumas hipóteses de escolha, mas a opção por Portugal para instalar esta unidade fabril teve muito a ver com o facto de aqui a indústria dos plásticos e a indústria dos moldes estarem muito avançadas. E porquê Carregal do Sal? Porque tivémos da parte da autarquia local um apoio incondicional para instármos esta fábrica, a primeira a construir-se neste parque industrial», esclareceu Remo Ventura que em jeito de balanço não tem dúvidas em considerar extremamente positivo o trabalho até agora desenvolvido por esta fábrica de

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Carregal do Sal. «Somos a pérola do Grupo Shark», classificou o Diretor-Geral da SFPC. TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

SFPC pertence ao grupo Shark, organização empresarial francesa fundada em 1986 em Marselha (França) e que se dedica à produção de motociclos Helmet, empregando cerca de 600 pessoas nas suas fábricas de França, Tailândia e Portugal. O lançamento da primeira pedra para a construção desta unidade da SFPC no Parque Industrial Sampaio, em Carregal do Sal, deu-se a 7 de Junho de 2001, e a 14 de Janeiro de 2012 a fábrica iniciava a sua atividade no fabrico de equipamentos de prevenção e segurança, com destaque para os capacetes Shark. «Em seis meses conseguímos arrancar do zero», sublinhou Remo Ventura, para se referir logo de seguida às razões que levaram o grupo Shark a optar por Portugal para instalar esta nova fábrica. «Em 1994 foi criada uma filial na Tailândia para fabricar capacetes em carbono e fibra. Sendo que na altura a Europa era o nosso principal mercado, e visto que nessa data 90 por cento das exportações ficavam na Europa, o grupo Shark decidiu

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construir uma nova fábrica na Europa e não utilizar a Tailândia para o efeito. Porquê Portugal? Na altura a Itália era o país preferido para se fabricarem capacetes, mas o grupo não queria ir para Itália porque o custo da mão-de-obra era muito elevado. Foi então decidido encontrar na Europa um país que tivesse a nossa mentalidade, uma mentalidade latina, que não encontraríamos no Leste Europeu. E como Portugal era um país onde a indústria dos plásticos e a indústria dos moldes estavam muito desenvolvidas, a decisão do grupo foi escolher Portugal para instalar esta nova fábrica», esclareceu Remo Ventura. Quanto à preferência por Carregal do Sal para arrancar com este projeto, o diretor-geral da SFPC lembra que na altura a autarquia local estava a lançar um projeto para a construção do Parque Industrial Sampaio e que as condições oferecidas eram muito competivivas e condizentes com os objetivos do grupo. «A localização do concelho de Carregal do Sal é particularmente boa para nós. Esta-

mos a 90 minutos do Porto e do Porto de Leixões, estamos a duas horas de Lisboa e do aeroporto e muito próximos de Espanha, com boas acessibilidades. Tudo isto pesou bastante na nossa decisão. A reforçar esta posição, temos muito próximos o Politécnico de Viseu e a Universidade de Aveiro, dois parceiros muito importante quando estamos a falar de formação de quadros profissionais qualificados, que são uma peça importantíssima em todo este processo», lembrou o diretor-geral da SFPC. Remo Ventura lembrou que em Itália tem um fornecedor de plásticos e em Portugal seis fornecedores. «Direi que cerca de 80 por cento dos materiais para o fabrico de capacetes são provenientes de fornecedores portugueses», lembrou este gestor que não tem dúvidas de que a opção do grupo Shark por Portugal, foi uma aposta ganha. Vencer a crise e seguir em frente «À excessão dos anos 2010, 2011 e 2012 que foram anos de crise para todos nós,

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› GRANDE PLANO

o resto do nosso percurso em Portugal tem-se traduzido por um crescimento sustentado. Na altura de crise empregávamos 122 pessoas, mas devido a essa mesma crise, em 2012 fomos forçados a despedir 55 pessoas, e passámos a ser um grupo de 67 pessoas. Entretanto, voltámos a admitir trabalhadores e neste momento o nosso staff é constituído por 192 pessoas, revelou Remo Ventura. A falta de mão-de-obra qualificada foi uma das dificuldades apontadas pelo nosso entrevistado.

› NOTÍCIAS

«Por norma, as pessoas que saem das universidades sabem muito de teoria, mas têm muito pouca prática. Aqui na SFPC vivemos essa realidade e, de certo modo, esse pormenor tem-nos dificultado um pouco. A solução para este problema foi o fomento de estágios.Todas as pessoas que frequentaram os nossos estágios acabaram por ingressar nos quadros da SFPC», realçou o diretor-geral da SFPC. Remo Ventura reconhece que gostaria de ter licenciados em maior número, embora a SFPC disponha neste momento entre 15 a 20 licenciados. «No desenvolvimento da SFPC estamos interessados em criar know-how, e a verdade é que os capacetes que eram desenvolvidos em França já a partir deste ano começaram a ser desenvolvidos por nós. A ideia era receber de França as indicações necessárias para podermos desenvolver aqui esse modelo de capacete na sua totalidade e com engenharia toda nossa. Esta ideia já está em marcha e bem apoiada pelo nosso departamento de engenharia», reconhece Remo Ventura, cidadão italiano nascido em Grosseto, na região de Florença , que já se habituou a amar Portugal, vivendo entre nós com a família. Produzir 300 mil capacetes é objetivo Remo Ventura aproveitaria para enaltecer o seu grupo de trabalho. «É gente muito

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trabalhadora e empenhada, que todos os dias veste a camisola da SFPC», disse, para explicar as razões que levaram em 2012, passar de 67 trabalhadores para 192. «A admissâo destas pessoas coincidiu com um grande aumento da produção e com um aumento grande da competitividade dos capacetes. Estamos a produzir muitos mais capacetes, e a partir de 1 de Outubro, que é quando começa o nosso próximo ano fiscal, o objetivo é prozudírmos 300 mil capacetes. Neste ano fiscal que terminou produzímos 265 mil capacetes, mas como somos uma fábrica mais flexível e mais competitiva que as outras existentes no grupo Shark, rapidamente vamos recuperar os nossos índices de produção e chegar aos 300 miil capacetes. É evidente que se não posso competir em termos de salário, devo competir, sim, em termos de qualidade, flexibilidade e serviço», considerou o diretor-geral da SPCP. Grupo fatura 100 milhões mas quer duplicar Para além da marca Shark, de capacetes, a SFPC também trabalha as marcas “Bering” e “Segura” (vestuário usado pelo motociclista) e a marca “Bagster” (selas, malas e protectores de tanques). Em 2011 estas 4 marcas aproximaram-se para criar um conjunto coerente de equipamentos para motociclistas. Remo Ventura referiu que o objetivo da SFPC é aumentar o volume de oferta, aproveitando também para dizer que o grupo Shark na sua globalidade fatura anualmente cerca de 100 milhões de euros. «Mas o objetivo é chegar aos 200 milhões de euros de faturação dentro de cinco anos», projetou, para informar que neste contexto a faturação da SFPC representou este ano fiscal 19 milhões de euros, ou seja, cerca de 20 por cento do que fatura o grupo» A fechar esta entrevista Remo Ventura deixou uma mensagem aos fornecedores da SFPC. «Confiamos muito neles e no seu sucesso, porque assim temos também garantido o nosso sucesso». ‹

Governo assinou 12 contratos de investimento em Portugal

Maioria a norte do Mondego O governo assinou em setembro 12 novos contratos de investimento empresarial em Portugal, que totalizam 160 milhões de euros, que terão benefícios fiscais do estado português. Os postos de trabalho a criar ascenderão a 358. Saliência para o fato de na sua maioria se situar a norte do rio Mondego, com particular incidência na região centro do país. No centro do país, destaques para os investimentos da Efapel, da Sakthi, da Fundifás, da Epalfer, da Schmidt Light Metal e dois da DMM. A Efapel, empresa localizada em Serpins, Coimbra, investe 13,7 milhões de euros e cria 27 postos de trabalho em investimentos para a industrialização de soluções que irão permitir diferenciar a sua oferta. A Sakthi Portugal, em Águeda, com um projeto de investimento de 36,7 milhões de euros, e a criação de 135 postos de trabalho, visando a criação de uma nova unidade industrial autónoma para a produção de componentes de segurança crítica em ferro nodular para automóveis.

Destaque para os dois investimentos da DDM – Desenvolvimento, Maquinagem e Montagem, localizada em Oliveira de Azeméis, um de 5,2 milhões de euros, e um segundo de 5,1 milhões de euros, e que criarão no seu conjunto mais 24 postos de trabalho. No norte do país, foram aprovados os projetos da Tec Pellet, na Póvoa do Varzim, com um investimento de 30,7 milhões de euros e a criação de 23 postos de trabalho, enquanto em Braga foi aprovado o projeto da Painel 2000, com um investimento de

7,5 milhões de euros e a criação de 21 postos de trabalho. A sul do território português, destaque para o investimento aprovado na OGMA, em Alverca, no montante de 9,9 milhões de euros e a criação de 28 postos de trabalho, bem como para o investimento da Bohus Botech Portugal na localidade alentejana de Sousel, no valor de 5,6 milhões de euros e a criação de 12 postos de trabalho. O investimento incidirá na criação de uma unidade produtiva de dispositivos médicos. ‹

DST Solar expande A DST Solar, empresa do grupo DST, com sede em Braga, e que opera no setor do solar fotovoltaico, prevê atingir uma faturação de um volume de negócios superior a sete milhões de euros em 2017. Para sustentar esse crescimento, a empresa estabeleceu recentemente uma parceria com a empresa suíça Leclanché, uma das empresas líderes mundiais no fornecimento de soluções de armazenamento de energia para casas, escritórios, indústrias e redes de eletricidade. Com este acordo, a DST Solar passou a deter a exclusividade na distribuição e instalação de equipamento Leclanché no mercado português, o que lhe permitirá reforçar a sua posição no mercado industrial e apresentar soluções inovadoras para o mercado residencial. Segundo José Teixeira, presidente do Grupo DST, «é um passo decisivo na consolidação da nossa posição no mercado nacional, uma vez que reforçamos a nossa capacidade de apresentar soluções integradas aos nossos clientes». A empresa tem instalado

soluções em unidades industriais de empresas como a Polopique, Endutex, Intermolde, Carvitin, Urcaplás, Feliz e Bramp. ‹

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› INTERNACIONALIZAÇÃO Dia Nacional da Arábia Saudita comemorado pela Embaixada em Lisboa

Consolidar e fortalecer relações entre os dois países No passado dia 21 de setembro, a Embaixada da Arábia Saudita em Portugal convidou muitas personalidades portuguesas e do meio diplomático acreditado na capital portuguesa, para comemorar o Dia Nacional da Arábia Saudita, reino unificado em 1932 pelo Rei Abdul Aziz bin Rahman Al-Saud, e que hoje tem na sua liderança o Rei Salman bin Abdulaziz Al-Saud, e como Príncipe Herdeiro, Sua Alteza Real Mohammad bin Salman Abdulaziz Al-Saud que é, ao mesmo tempo, Vice-Primeiro Ministro e Ministro da Defesa. No seu discurso numa unidade hoteleira de Lisboa, o Embaixador Adel Abdel Rahman Bakhsh, destacou a importância da Visão Saudita 2030, um documento baseado em três eixos principais: a profundidade árabe e islâmica, o poder de investimento – A Arábia Saudita tem grandes capacidades de investimento e a Visão 2030 procura ser um motor econômico e um recurso adicional. O terceiro eixo consiste na importância da localização geográfica estratégica que permitirá ao país ser um eixo de ligação dos três continentes, anunciando assim uma nova fase de trabalho de desenvolvimento baseado em objetivos específicos que abrangem os mais diversos campos e visando o reforço do progresso e do bem-estar. O Embaixador saudita em Lisboa reiterou, igualmente, o desejo da Arábia Saudita em reforçar as relações com «a República Portuguesa amiga» para patamares mais elevados e conforme a vontade dos responsáveis de ambos os países. Quanto ao comércio entre os dois países, ele desceu no ano passado, mas os primeiros sete meses deste ano mostram uma recuperação segura nas trocas comerciais entre os dois países. TEXTO › JORGE ALEGRIA | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

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Arábia Saudita constitui a maior economia do Médio Oriente, e colocou o país entre as vinte maiores economias do mundo o que leva o reino saudita a participar no designado G20, a única economia da região a aceder ao fórum das maiores economias mundiais. Aproveitando a comemoração do Dia Nacional da Arábia Saudita, a embaixada deste país em Portugal levou a cabo a já tradicional festa que congrega anualmente a comunidade diplomática acreditada em Lisboa, mas igualmente muitos convidados portugueses, com destaque para políticos, diplomatas, docentes universitários, membros da comunidade islâmica em Portugal, empresários, profissionais liberais e pessoas com relacionamento pessoal e familiar com a comunidade saudita. Depois de escutados os hinos dos dois países, o embaixador da Arábia Saudita em Portugal, Adel Abdel Rahman Bakhsh, proferiu um discurso de boas-vindas, mas igualmente para marcar os traços essenciais da política do governo da Arábia Saudita, tanto no plano interno, assim como no plano externo. O embaixador lembrou que a Arábia Saudita é o país guardião das duas mesquitas sagradas do islão, a primeira em Meca, a segunda em Medina, não sendo por acaso que o rei da Arábia Saudita é designado como o “Guardião das Duas Mesquitas Sagradas”. O responsável da missão diplomática saudita em Portugal destacou em seguida a importância do documento conhecido por Visão Saudita 2030. O documento baseia-se em três pontos estratégicos fundamentais: A profundidade árabe e islâmica, o poder do investimento, onde a Arábia Saudita, pela sua notória e reconhecida capacidade financeira possui grandes capacidades de investimento, pelo que o Visão Saudita procura constituir um motor económico e um recurso adicional; em terceiro lugar, pela importância da localização geográfica estratégica, permitindo ao país ser um eixo de ligação fundamental entre três continentes. Essa visão do governo saudita é a visão estabelecida pelo Rei Sal-

man bin Abdulaziz Al-Saud, e pelo Príncipe Herdeiro, Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al-Saud. Adel Abdel Rahman Bakhsh lembrou também que essas potencialidades de investimento do reino saudita levaram o país a criar a base para a constituição do maior fundo soberano do mundo, instrumento fundamental para realizar investimentos que permitam diversificar e sustentar a economia do país. Mais, «na Arábia Saudita há abundantes fontes de energia renovável e riquezas em ouro, fosfato, urânio e outros recursos», embora, como sublinhou o diplomata acreditado em Lisboa, «o primeiro recurso é a sábia liderança e o ambicioso povo da geração de jovens, que representam 70 % da população saudita. Por outras palavras, o objetivo desta Visão 2030 é tornar a Arábia Saudita um país forte e próspero, em que há espaço para todos. Sua constituição é o Islão e sua doutrina é a moderação e a aceitação do outro», ou por outras palavras, «como anunciou Sua Alteza Real o Príncipe Mohammad bin Salman, Príncipe Herdeiro, Vice-Primeiro Ministro e Ministro da Defesa, a Arábia Saudita acolhe favoravelmente as competências vindas de qualquer parte do mundo, e toda a pessoa

que venha participar na construção e no sucesso da Arábia Saudita terá todo o respeito». Passando às relações bilaterais entre a Arábia Saudita e a «República Portuguesa amiga», como enfatizou o embaixador do Reino em Lisboa, «têm assistido a um contínuo desenvolvimento e a uma maior coordenação nos diversos campos com base na forte vontade dos responsáveis dos dois países amigos de estreitarem estes laços elevando-os ao patamar que as altas chefias em ambos os países desejam nas áreas políticas, económicas e culturais. Há uma cada vez maior convergência na visão e na posição dos dois países relativamente às questões e assuntos internacionais da atualidade. O Reino da Arábia Saudita valoriza imensamente a posição de Portugal no seu apoio às causas árabes justas». O Embaixador Adel Bakhsh recordou também que a última reunião da Comissão Mista Portugal-Arábia Saudita se reunião já por três vezes, a última das quais em outubro do ano passado em Riade, capital saudita. Muito provavelmente, a próxima reunião da Comissão Mista ainda decorrerá este ano, desta vez em Portugal. O diplomata recordou os vários acordos assinados entre os dois países, sendo de destacar o Acordo Geral de Cooperação, a Convenção para Evitar a Dupla Tributação e Prevenção da Evasão Fiscal, bem como a Convenção sobre a Promoção e Proteção Mútua do Investimento. Por outro lado, existe também «um conjunto de outros acordos ainda em negociação, abrangendo as áreas de serviços aéreos, portos marítimos, alimentos e medicamentos, produtos marinhos, especificações, padrões e qualidade, área científica, ensino superior, juventude e desporto e segurança interna», adiantou Adel Bakhsh, que aproveitou as suas palavras finais para salientar que no último ano se assistiu a «um notável crescimento do número de cidadãos sauditas que visitaram Portugal por turismo ou por negócios. A mesma coisa diz-se dos cidadãos portugueses que se dirigem à Arábia Saudita», finalizou o diplomata.

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› INTERNACIONALIZAÇÃO

Portugal-Arábia Saudita em números Aliás, os números oficiais referentes às receitas turísticas portuguesas provenientes dos cidadãos sauditas em visita a Portugal apontam um crescimento de 49,5% em

16 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

2016 face ao ano anterior, com a geração de receitas por cidadãos vindos da Arábia Saudita de 6,6 milhões de euros, quando em 2015 os gastos dos sauditas em Portugal se tinham ficado pelos 4,4 milhões de euros.

No que respeita aos dados gerais do comércio entre Portugal e a Arábia Saudita, é de referir que o ano de 2016 correspondeu a um dos mais fracos da presente década se nos reportarmos ao segmento de bens, com Portugal a exportar em 2016

para o mercado saudita um total de 121,9 milhões de euros, contra os 128,4 milhões atingidos em 2015. Já no que respeita às compras portuguesas à Arábia Saudita, também o ano de 2016 ficou marcado por uma retração bastante significativa, tendo

Portugal comprado apenas 463,6 milhões de euros, uma diminuição importante face aos 722,4 milhões obtidos em 2015. No entanto, se juntarmos os dados dos serviços, o cenário económico bilateral no ano passado não é tão negativo, pois

Portugal exportou globalmente (bens e serviços) para a Arábia Saudita um total de 170,2 milhões de euros uma subida de 5,4% face ao ano anterior. Já a Arábia Saudita exportou para Portugal em 2016 em bens e serviços um total de 529.6, milhões de euros. Mas, os dados dos primeiros sete meses do presente ano, apontam já para uma recuperação do comércio de bens entre os dois países. Nos primeiros sete meses de 2017, Portugal exportou um total de 89 milhões de euros, uma subida de 30,6% face a igual período do ano passado, enquanto da Arábia Saudita vieram bens no valor de 378,2 milhões de euros, uma subida de 94,1% face ao período homólogo. É de referir, por último, que no que respeita ao comércio internacional português de bens, a Arábia Saudita é o 38º principal cliente de Portugal nestes primeiros sete meses de 2017 (ganhou quatro posições), enquanto o Reino saudita é o 16º fornecedor de Portugal (subiu três posições). No que respeita ao mercado saudita, Portugal é apenas o seu 56º fornecedor mais importante, tendo as empresas portuguesas ganho duas posições no presente ano. ‹

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› NOTICIÁRIO

› A ABRIR

Vila Galé investe em nova unidade em manteigas e volta a ser premiada

Melhor Cadeia Hoteleira A Vila Galé conquistou o prémio de Melhor Cadeia Hoteleira dos Publituris Portugal Travel Awards 2017, por muitos considerados os Óscares do Turismo em Portugal. Numa cerimónia que decorreu em Óbidos, o grupo Vila Galé esteve representado por Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do segundo maior grupo hoteleiro português, que recebeu o prémio pela sexta vez, a terceira das quais consecutiva. Segundo Gonçalo Rebelo de Almeida, «estamos muito contentes por receber este prémio, que nos motiva para continuar a trabalhar cada vez mais e melhor com as nossas equipas e parceiros para satisfazer os nossos clientes. Entretanto, o grupo anunciou que está praticamente concluído o processo de licenciamento do projeto do hotel Vila Galé Serra da Estrela, em Manteigas, estimando-se que o arranque das obras de

ANTÓNIO MOTA O Presidente da Mota-Engil está a ganhar a sua aposta em África, onde muitas vezes é preciso ser resiliente para vencer num mercado difícil. Agora obteve mais três importantes contratos, respetivamente, em Moçambique, Angola e Costa do Marfim. Também do outro lado do Atlântico, nomeadamente em países como o México, Peru e Brasil, a construtora de matriz portuguesa, mas que hoje já é uma multinacional, continua a trilhar passos firmes de crescimento e consolidação. ‹

construção ocorrerá no início do próximo ano, e que durem até quase ao final de 2018. A futura unidade será construída junto ao viveiro das trutas no vale glaciar de Manteigas, terá 81 quartos e um investimento global na ordem dos seis milhões de euros. ‹

Sonae Sierra anuncia novos investimentos, incluindo a expansão do NorteShopping e do Colombo em Portugal

Grupo Pestana investe no Algarve O grupo Pestana anunciou a intenção de investir 50 milhões de euros na construção de um novo hotel na Quinta da Amoreira, no Alvor, concelho de Portimão. O projeto, segundo anunciou o grupo liderado por Dionísio Pestana, terá uma “forte vocação sustentável” e o seu serviço será no regime “All Inclusive”. Este projeto criará 300 postos de trabalho diretos na região algarvia, e junta-se a outros já anunciados pelo grupo para desenvolver em Portugal, onde constam uma segunda Pousada de Portugal em Óbidos, e um novo hotel no Douro. ‹

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Investimentos chegam a 750 milhões de euros

Dom Pedro Laguna distinguido O 24º Prémio World Travel Awards 2017, foi conquistado pelo Dom Pedro Laguna Beach Resort & Golf nas categorias South America Leading Beach Resort (Melhor Resort de Praia da América do Sul), pela terceira vez consecutiva, e Brazil Leading Resort (Melhor Resort Brasileiro), pela segunda vez. Este ano, a unidade hoteleira do grupo português Dom Pedro, localizado no Ceará, já tinha vencido o prémio de “Melhor Resort de Praia do Brasil”. Projetado de forma a preservar e realçar a natureza que o envolve, aproveitando a ondulação das dunas e criando lagoas navegáveis entre as vilas, o resort proporciona aos hóspedes passeios de barco ou carro elétrico, transformando uma simples ida à piscina em um momento de relaxamento em sintonia com a natureza. A unidade conta com 102 unidades de alojamento. De salientar que no Dom Pedro Laguna até o room servisse chega por barco às Water Villas, onde o hóspede pode desfrutar as suas refeições no terraço privado, de frente para a lagoa. ‹

A Sonae Sierra, braço do Grupo Sonae para a área dos centros comerciais, anunciou que possui atualmente 14 novos projetos em desenvolvimento, dos quais seis para clientes externos. Globalmente, esses projetos implicam um investimento de 750 milhões de euros, dos quais 300 milhões serão investidos diretamente pela Sonae Sierra e que incluirão também as expansões previstas dos shoppings NorteShopping (60 milhões de euros) e Colombo, que vai ter um terceiro centro de escritórios. Para além de Portugal, os principais investimentos da Sonae Sierra incidirão em Espanha, Alemanha, Marrocos e Colômbia. Parte do investimento já está a ser aplicado, nomeadamente na Colômbia. O projeto mais atrasado será o de Marrocos, cuja conclusão está aprazado para 2021. Entretanto, a Sonae Sierra divulgou os seus resultados, e no que concerne ao primeiro semestre deste ano, a empresa apresentou lucros de 64,2 milhões de euros, um aumento de 9% face ao período homólogo de 2016. A Sonae Sierra detém ou co-detém 48 centros comerciais (23 em Portugal) com valor de mercado que ronda os sete mil milhões de euros, tendo ainda responsabilidade de gestão e/ou comercialização em 77 outros projetos de retalho. No total são 9.100 lojistas e 427 milhões de visitantes. A Sonae Sierra emprega diretamente mais de mil pessoas e tem escritórios em 12 países, destacando-se além de Portugal, a Espanha, Itália, Alemanha, Roménia, Grécia e Brasil. ‹

LUÍS FIGUEIREDO O Administrador do Grupo ETE continua a imprimir uma estratégia de forte crescimento conjugada com uma sustentada solidez financeira de um grupo empresarial ligado ao mar que orgulha Portugal e todos os que nele trabalham. Agora, através da Transinsular, reforça as ligações marítimo-portuárias com Cabo Verde e dá mais um sinal de interesse na sua internacionalização, onde já está também na América Latina. ‹

ADENAUER GÓES O Secretário de Estado do Turismo do Pará é o grande obreiro do crescimento turístico que acontece naquele estado do Norte do Brasil, mas é igualmente um grande entusiasta do reforço das ligações do Pará a Portugal, onde o papel da TAP com três ligações semanais entre Belém e Lisboa surge como um elemento preponderante para aumentar os fluxos turísticos, económicos e sociais entre os dois lados do Atlântico. ‹

Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 19


› GRANDE ENTREVISTA

Bruxelas

A Fearless Mountain estabeleceu-se em Portugal no final do ano passado, e entre várias atribuições, pretende ser uma consultora em “investimentos nacionais e internacionais para negócios e

Rodrigo Ryder, Administrador da Fearless Mountain Portugal

Estamos a ajudar a empresas portuguesas a terem sucesso na internacionalização Ainda se move de forma discreta, mas já está a ajudar várias empresas portuguesas em processos de internacionalização ou de apoio à exportação. A Fearless Mountain Portugal, dirigida no nosso país por Rodrigo Ryder, conta com o expertise obtido em regiões como o Médio Oriente (onde já possui um escritório no Dubai), Ásia, África e na América do Sul, além da própria Europa, onde ainda até ao final do ano abrirá um escritório na cidade holandesa de Roterdão, para levar com sucesso empresas portuguesas a caminharem de forma segura e com sucesso empresarial pelo mundo. TEXTO › JORGE ALEGRIA | FOTOGRAFIA › CEDIDAS PELA FEARLESS MOUNTAIN 20 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

gestão”. Porque é que a empresa decidiu entrar no mercado português e qual a mais-valia que poderá trazer às empresas em Portugal?

O group FM é um forte grupo na área da consultoria e investimento na região do Médio Oriente e procurou em Portugal uma plataforma de entrada no mercado europeu e simultaneamente nos mercados de expressão portuguesa com os quais existem sinergias muito interessantes capazes de conjugar interesses árabes e sul americanos ou africanos. Portugal está a funcionar como um hub que liga os PALOP/Europa e os mercados da Ásia Central que por sua vez reexportam produtos e serviços para outros mercados. O posicionamento geoestratégico de Portugal é considerado crucial para investidores estrangeiros que fazem ou pretendem fazer negócios em áreas tão diversas como as matérias-primas, oil & gás, produtos alimentares e agrícolas.

Não podemos esquecer do grande produtor mundial que é o Brasil em várias áreas, bem como da exploração de minérios e refinação de produtos energéticos em África ou da indústria de alta tecnologia serrada da Europa. Todos estes factores contribuem para uma estratégia de aposta em Portugal, esperando obter as parcerias já existentes entre empresas portuguesas e destes países, potenciando a capacidade e diversidade na produção e exportação de bens e serviços. Portugal é um país aberto ao mundo,

covo e Roterdão conseguimos alavancar negócios para os mercados ditos mais evoluídos e por vezes mais interessantes para um determinado tipo de produto ou serviço. As formas concretas de apoio serão essencialmente pelo acompanhamento directo nos contactos efectuados, pela consultoria específica fruto das parcerias desenvolvidas por exemplo com a DELLOITE e outras entidades que garantem o sucesso da operação na internacionalização das empresas portuguesas.

mas o número de empresas portuguesas

lo da internacionalização, o que é que a

Facilitamos a entrada das empresas portuguesas em várias regiões do mundo

Fearless Mountain poderá ajudar as em-

Quais as regiões do mundo onde a em-

presas portuguesas pelo mundo afora?

presa possui maior capacidade e know

A Fearless Mountain pretende funcionar como o anzol certo para o peixe que se quer apanhar. Ou seja, na Fearless Mountain existe know how em vários mercados que serão muito apetecíveis para empresas portuguesas, por vezes em mercados aparentemente discretos como o Senegal, Emirados Árabes Unidos ou o Paquistão. Mas, fruto das ligações em Londres, Amesterdão, Mos-

how para ajudar na internacionalização

com processos de internacionalização, ainda não é muito expressivo. No capítu-

das empresas portuguesas?

Os mercados da Ásia Central e Médio Oriente, Brasil, Europa e África são sem dúvida os mercados onde operamos com maior rapidez. Mas fruto das parcerias já referidas trabalhamos em qualquer mercado. Um factor de distinção será sempre o da triangulação entre mercados. Ou seja, uma deter-

Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 21


› GRANDE ENTREVISTA

Porto

nacional do país. Que expertise possui a

Dubai

minada tecnologia criada em Portugal pode ser concretizada e produzida em um outro país e comercializada em um terceiro mercado. Ligar sinergias e assessorar na concretização de negócios efectivos é a maior mais-valia da Fearless Mountain. No entanto, captar novos negócios e investimentos para Portugal, também está nos objectivos estratégicos da Fearless Mountain. Como vê a evolução económica portuguesa e que sectores considera mais interessantes para o investimento estrangeiro em Portugal? A economia portuguesa ainda está bastante frágil. Existem uma série de questões por resolver subsistindo sérias dúvidas se o crescimento actual será sustentado

a médio prazo, mas existem vários bons exemplos, a saber, uma segurança ainda pode ser dada ao investidor em Portugal, o mercado do turismo ainda vale a pena apostar porque há muito por fazer e se conseguem retornos bastante interessantes. Para se ter uma ideia, Portugal foi dos países que menos cresceu em número de turistas: isto parece mentira para quem vê Portugal bater todos os recordes, mas não nos podemos esquecer que Espanha, França, Itália e outros países mais pequenos, souberam aproveitar e dinamizar ainda mais o turismo. Mas, isto não quer dizer que em Portugal não existam bons negócios. Outro exem-

plo é o já o esperado aumento do preço do crude, que vai aliviar tensões em mercados como o Brasil, África e até Médio Oriente. Para além disso, existem boas oportunidades já identificadas e processos a decorrer, mas que não me posso pronunciar, onde temos boas perspectivas nos sectores da indústria e do imobiliário em Portugal. No entanto, nunca esqueçamos a triangulação de investimento entre Portugal, África e Brasil. Existem perspectivas a curto prazo para que a empresa traga potenciais investidores ou novos negócios para Portugal?

Sim, com bastante frequência nos têm visitado alguns investidores que depois de lhes ter sido apresentado um relatório elaborado pela Fearless Mountain, vem conhecer a nossa realidade e por vezes, se for o caso, contactar directamente o investimento que está a ser estudado. O essencial é virem conhecer o mercado, e é nesse apoio que somos especialistas. Forte expertise ao serviço dos clientes Por outro lado, a Fearless Mountain também aposta em servir como um interlo-

Lisboa

22 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

cutor capaz de apoiar o comércio inter-

empresa em termos internacionais para

nossos clientes. No fundo, acompanhamos o cliente até ao sucesso!

ajudar a fazer crescer o comércio de e

A empresa pretende também actuar no

com Portugal, e concomitantemente, a

mercado português na actividade de re-

apoiar o reforço das exportações portu-

lações públicas, comunicação e estudos

guesas?

de mercado. Qual é a estratégia para de-

Efectivamente, nos nossos quadros possuímos pessoas com larga experiência na área comercial em variadíssimos mercados, sejam europeus, do Médio Oriente, África e América do Sul, e que hoje transportam esse conhecimento para a consultoria e assessoria aos nossos clientes. Actuamos de forma muito pragmática e por objectivos, somos consultores/parceiros que gostamos de andar na estrada e de avião. Não ficamos no escritório, vamos sempre atrás das soluções. Mais em detalhe, posso referir que fazemos desde os estudos de mercado sectoriais, de uma forma muito gráfica e concisa para que seja bastante perceptível à empresa portuguesa reter quase imediatamente os denominados: “dos” e os “don’ts”, passando pela visita e acompanhamento ao mercado com um técnico nosso, até à ajuda na conclusão do negócio. Isto pode incluir ainda, ou até, serviços com traduções, apoio jurídico legal, comercial e por aí fora. Temos ainda parcerias muito fortes com algumas empresas de renome mundial que colaboramos para obter sinergias aos

senvolver acções concretas nestas áreas em Portugal?

Essa é uma área que iremos sempre focalizar no nosso cliente. As acções que temos levado a cabo com instituições, associações empresariais regionais e nacionais, ou clientes empresa ou particular, são sempre o de apontar oportunidades reais nos mercados. A Fearless Mountain nunca vai ser uma empresa que estará em grandes anúncios públicos, nós gostamos mais de trabalhar na sombra dos nossos clientes para depois caminharmos juntos tranquilamente. Depois do Dubai, vamos abrir escritório em Roterdão Quais vão ser a acções mais importante da Fearless Mountain nos próximos meses?

Na área da internacionalização qualquer viagem com um cliente a qualquer mercado é muito importante para nós e vamos ter algumas, mas até ao final do ano, vamos estar em dois eventos no Médio Oriente, além de patrocinarmos um evento em Bruxelas e um outro em Estocolmo.

Estes eventos são muito importantes pois são eventos fechados e muito focalizados, mas estarão presentes cerca de 85 países e onde por vezes se discutem concretizações importantes em vários mercados do mundo. Será seguramente uma boa forma de colocar Portugal no mapa dos grandes fundos de investimento e ao mesmo tempo, encontrar boas oportunidades para as empresas portuguesas. Por fim, depois de abrirmos o escritório no Dubai, iremos até ao fim do ano abrir escritório em Roterdão, na Holanda. O processo já está todo concluído, bastando os designers terminarem os últimos retoques na decoração. Como perspectiva a evolução da empresa no mercado português nos próximos dois ou três anos?

Calculámos um crescimento sustentado nos 5 primeiros anos, pois queremos crescer com o sucesso dos nossos clientes e isso demora tempo, criamos raízes muito profundas e sólidas.Depois esperamos um crescimento muito acentuado, pois trabalhamos mercados de futuro e identificamos, aos nossos clientes, como operar nos mercados e colocamos as empresas em frente de interlocutores reais e pelo qual passaram por uma Due Diligence bastante apertada. Onde estaremos no futuro passa muito pela nossa capacidade de Hoje construirmos sucessos futuros, com os conhecimentos do passado. ‹

Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 23


› LUSOFONIA › Brasil

› ESPECIAL PARÁ

Comércio entre Portugal e Brasil já superou 2016 O comércio bilateral entre Portugal e o Brasil, nos primeiros oito meses do presente ano, já superou o registo total alcançado em 2016, ano em que as transações comerciais transatlânticas teve o pior desempenho numa década. Entre janeiro e agosto deste ano, as trocas comerciais entre Portugal e o Brasil atingiram os 1,38 biliões de dólares, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil. Recorde-se que o comércio entre os dois países em 2016 atingiu apenas a cifra de 1,29 biliões de dólares. No presente ano, a melhoria ocorreu sobretudo nas exportações brasileiras para Portugal, tendo passado para 900 milhões de dólares, uma subida de quase 90%. Nas vendas brasileiras a Portugal, o petróleo valeu quase 27%, seguidos pelos laminados de ferro e aço, com uma quota superior a 15%, e depois os minérios de ferro

com 12%. A soja, que pesa 9% nas exportações brasileiras para Portugal, é igualmente um produto importante. No que respeita às exportações portuguesas para o Brasil, que nos primeiros oito meses de 2017 atingiram um volume de 478 milhões de dólares, um aumento de 23% em termos homólogos, mantiveram a liderança do azeite com uma quota de 25%, seguido do gasóleo com 12% e do bacalhau com 8%. Mais abaixo, estiveram as exportações de vinho (6%), pêras (quase 5%) e peças para aviões e helicópteros, com um valor superior a 4%. ‹

TAP amplia voos para Recife

Portugueses lideram turistas internacionais no Ceará Num momento em que a Air France anuncia a introdução a partir de maio do próximo ano voos diretos do Aeroporto Pintos Martins, em Fortaleza, capital do Ceará, com destino a Paris e Amesterdão, ainda continuam a ser os portugueses que ocupam a liderança em 2017 no que respeita a turistas internacionais que visitaram o estado brasileiro do Ceará. Até julho do presente ano, segundo dados da Secretaria Estadual de Turismo do Ceará, o número de desembarques internacionais diretos no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, cresceu 8%, embora esse crescimento tenha chegado a 26% só no mês de julho. Entre janeiro e julho, os principais mercados internacionais emissores de turistas para o Ceará foram Portugal (18,7%), seguido da Itália (14,7%), França (13,2%), Argentina (11,8%) e Alemanha (8%). Segundo Arialdo Pinho, secretário de Estado do Turismo do Ceará, «esse crescimento é uma resposta ao nosso investimento em divulgação do Ceará nos principais mercados emissores, como Portugal, Itália, Alemanha e Argentina». Ainda segundo os inquéritos realizados com os turistas, 56,7% indicam que as suas expectativas foram superadas na visita ao Ceará. ‹

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A TAP confirmou a ampliação de cinco para oito voos semanais, partindo de Recife com destino a Lisboa, operação que decorrerá entre novembro a março, reforçando ainda para dez voos no curto período das festas natalícias e de fim do ano. O aumento, segundo Felipe Carreiras, secretário de Estado do Turismo de Pernambuco, «sinaliza o crescimento de Pernambuco no cenário do turismo nacional, ao mesmo tempo que reflete uma progressiva retomada de investimento no mercado brasileiro por parte da empresa portuguesa». Ainda segundo o responsável do turismo pernambucano, o aeroporto de Recife cresceu 19% no número de passageiros totais, mas o número de estrangeiros aumentou em 75,28%. A TAP é a companhia aérea estrangeira que voa há mais tempo para a cidade de Recife, tendo o voo Lisboa-Recife já assinalado os 50 anos de atividade ininterrupta. ‹

Pará a Obra Prima da Amazônia

O estado do Pará possui grandes riquezas e oportunidades, mas precisa de agregar valor à sua produção. Com maior capacidade de transformação, o Pará tem tudo para ser um grande ator económico no mundo. Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 25


› HEAD

› ESPECIAL PARÁ

Editorial Transformar a economia do Estado

O

Estado do Pará ocupa uma área territorial superior ao conjunto dos territórios da Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal juntos, mas a sua economia, e a própria sociedade, ainda carecem de profundas transformações e melhorias. Transformação julgo ser mesmo a palavra chave para a exigência de futuro para a sociedade e a economia paraense. O Pará possui das maiores riquezas não apenas do Brasil, mas de todo o planeta. Nos seus mais de 1,2 milhões de quilómetros quadrados, podemos encontrar imensa água, imensas florestas, imensos minérios, imensas pastagens e respetivas cabeças de gado, e sobretudo gente capaz e disponível para ajudar a transformar esta zona do Norte do Brasil. Transformar essas riquezas intrínsecas que brotam do mais fundo das terras e da alma paraenses, constitui o maior desafio não apenas dos gestores públicos no território do Pará, mas sobretudo do conjunto da comunidade paraense, no fundo, dos próprios cidadãos. No fundo, o que importa é passar de um estado até agora fundamentalmente extrativista para uma sociedade que incorporou a transformação das suas riquezas e as tornou em produtos melhores e capazes de competirem na economia nacional e internacional. Existem já vários exemplos importantes dessa capacidade transformadora no Pará, particularmente ao nível da componente mineral e agora começam a surgir exemplos também na área do agroindustrial. De realçar o papel das universidades paraenses na ajuda dessa transformação. A agregação de valor à produção no Pará, caberá, em primeiro lugar, aos próprios paraenses. Mas não está excluída a participação

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nacional e internacional. No conjunto do território brasileiro existe nesta altura uma confiança quase ilimitada sobre o potencial da China em transformar as realidades e as debilidades infraestruturais da economia brasileira. Essa convicção também existe no Pará. Talvez não seja irrealista, mas certamente que os responsáveis políticos brasileiros e paraenses, no caso, não deverão ter a tentação de “colocar todos os ovos no mesmo cesto”. É que depender quase exclusivamente de um único ator para assegurar o seu desenvolvimento é arriscado e potencialmente frustrante, se os resultados não forem os esperados. Com o início dos voos diretos entre Belém e Lisboa, em junho de 2014, transformou-se a relação entre o Pará e Portugal. Ao nível das relações sociais, do turismo, e ainda de forma incipiente no relacionamento institucional, comercial e empresarial. É preciso aprofundar esse relacionamento, aproveitando também o fato dos portos do Pará serem os mais próximos da Europa e da América do Norte. O porto de Barcarena, no Pará, poderá alinhar estratégias com portos portugueses olhando já para o todo do continente europeu, ou até para a própria África. Acreditamos nas potencialidades da economia e das empresas portuguesas para ajudarem a transformar a economia paraense. Mesmo nos setores industriais e da agroindústria. Agora, será preciso que em ambos os lados do Atlântico, exista uma forte consciência dessa realidade, e depois exista um plano estratégico que conduzam a passos determinantes, consistentes e duradouros, que fortaleçam e consubstanciem essa visão fundamental. JORGE GONÇALVES ALEGRIA

Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 27


› ESPECIAL PARÁ

Pará 2030 quer transformar a economia do Pará

Mais desenvolvimento económico para servir os paraenses

O

projeto “Pará 2030”, apresentado no ano passado no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia, em Belém, pretende constituir nas palavras do discurso do Governador do Pará, Simão Jatene, «não um projeto de governo, mas um projeto de Estado». Nele foi incluída a visão para a evolução do desenvolvimento global do estado do Pará até 2030, que no fundo representa um novo modelo de desenvolvimento para este estado no Norte do Brasil. Após ouvir os representantes de organizações públicas e privadas, bem como a sociedade paraense em geral, o governo encomendou à consultora McKinsey um plano de ação com um horizonte de 15 anos, titulado Pará 2030. Foram elencados dez setores considerados prioritários, designadamente, agronegócio, agricultura familiar, mineração, energia (biomassa e gás natural), logística, pesca e aquicultura, turismo e gastronomia, serviços ambientais, biodiversidade e indústria florestal. Segundo dados publicados a população paraense corresponde a 4% do total de habitantes do Brasil e 30% da Amazónia. O território tem 62% da sua extensão coberto por água doce, detendo 40% do estoque nacional e 3,2% de todo o planeta. O Pará oferece

28 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

ainda 20 mil quilómetros de vias navegáveis e 25% de todo o potencial hidroelétrico brasileiro, dos quais 85% ainda não foram aproveitados. Em termos territoriais, são 87,5 milhões de hectares, sendo 70% só de florestas. Com este grande potencial ambiental, mas igualmente com comprovadas riquezas minerais e agrícolas num território que é superior ao conjunto da Alemanha, França, Espanha e Portugal, o Pará, nas palavras do Governador Simão Jatene, «não aceita ser mais um produtor de recursos naturais, grande produtor de matérias-primas e, lamentavelmente, ter indicadores sociais precários. É isso que queremos, que as riquezas do Pará sirvam ao Brasil, mas sirvam também a nossa gente, o nosso povo. Só tem uma forma para o Pará contribuir para o desenvolvimento brasileiro: é através do seu próprio desenvolvimento». Agregar valor à produção do Pará Ainda nas palavras do governador paraense, «o Pará 2030 é um plano estratégico de desenvolvimento económico de longo prazo, capaz de promover, com sustentabilidade, a dinamização da economia e a melhoria dos indicadores socioeconómicos do Estado». O projeto, agora já em curso, visa desenvolver e transformar o

Estado em um espaço atrativo para novos investimentos, principalmente os oriundos da iniciativa privada, «garantindo maior agregação de valor à produção, e também estimular processos que garantam incremento do turismo e da consolidação da marca “Amazônia”», destacou o governador, que aproveitou para sublinhar que o Pará pretende que as suas riquezas naturais sejam utilizadas para atrair investimentos e que a «sua localização privilegiada, que encurta as distâncias com os mercados europeu, norte-americano e asiático», seja um fator decisivo para consolidar o Estado como a porta de entrada para a Amazónia. Apenas até 2020, o estado do Pará espera receber investimentos na ordem dos 200 mil milhões de reais (cerca de 55 mil milhões de euros), sobretudo nas áreas das infraestruturas ferroviárias e fluviais, mas também nas estratégicas áreas minerais e energética, bem como no agronegócio, que tanto a nível nacional como no próprio Pará, constitui uma “verdadeira locomotiva” que puxa pelo desenvolvimento económico e pela geração de riqueza e de renda para as empresas e sociedade paraense no seu conjunto. Para atrair investimentos de que o Pará precisa, o governo do Estado desenvolveu uma política de incentivos fiscais que tem em conta o impacto socioeconómico dos novos empreendimentos.

Adnan Demachki, secretário do Desenvolvimento Económico, Mineração e Energia referiu que os benefícios poderão atingir os 95% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, que são concedidos de forma progressiva. Várias empresas já aproveitaram esses benefícios, assim como os que integram o FNO – Fundo Constitucional Norte, gerido pelo Banco da Amazónia, para investir e realizar grandes e médios projetos no Pará, pois como sublinha Adnan Demachki, «o Pará é uma terra de oportunidades, mas só agora a sociedade brasileira está se apercebendo disso». Para consolidar o novo processo de desenvolvimento do Pará, no qual a transformação das riquezas naturais do estado assume papel prioritário, é preciso acelerar o desenvolvimento das infraestruturas, pois caso contrário, o escoamento da produção paraense, a vários níveis, continuará a sofrer fortes constrangimentos. Projetos ao nível do desenvolvimento da ferrovia, tanto com investimentos federais (ferrovia Norte-Sul), como do próprio Estado do Pará (Fepasa), assim como investimentos na hidrovia, na rodovia e nos portos paraenses, com destaque para o de Vila do Conde, no município de Barcarena, assumirão papéis essenciais para o desenvolvimento presente e futuro do Pará. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Adnan Demachki, Secretário do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia

O Pará 2030 quer transformar a economia do estado No final de 2015, o Governador Simão Jatene apresentou à sociedade paraense o Pará 2030, que constituiu um autêntico «Plano de Estado», como sublinhou o governador em outubro passado à País Económico. Agora, em entrevista à revista, Adnan Demachki, Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, destaca a mudança do paradigma de um estado rico em recursos naturais, mas que não os valorizava do ponto de vista industrial e da marca, e que empreende um vasto conjunto de ações para tornar o Pará numa economia moderna e aberta ao mundo por via nas novas vias de comunicação e dos portos paraenses. O voo da TAP é também, na opinião do secretário, um poderoso instrumento de valorização da relação cultural e turística entre o Pará e Portugal, mas igualmente uma ferramenta para aumentar o comércio e os negócios entre os dois lados do Atlântico.

No final de 2015 anunciou-se o projeto Pará 2030, que pretende constituir um instrumento estratégico onde assentará o desenvolvimento do estado num horizonte de 15 anos. Quais são os principais eixos estratégicos por onde deverá passar o desenvolvimento do estado do Pará?

O Pará 2030 foi criado para fortalecer um novo padrão de desenvolvimento e um ambiente mais apropriado para quem quer empreender no Pará. Precisamos avançar. E, somente com planejamento; diretrizes bem definidas; metas com prazos; podemos ter um crescimento real da economia, e consequentemente, melhorar os nossos índices sociais. O Pará 2030 é um programa de Estado que visa fortalecer a economia paraense em bases sustentáveis, e para isso tem como premissas o crescimento dos níveis de produção e a verticalização de parte da produção. Todo e qualquer crescimento econômico com mais educação, mais segurança, melhores instituições públicas a serviço do cidadão comum. Com foco na vocação natural do Estado, o Pará 2030 elegeu 14 oportunidades econômicas prioritárias, são elas: agricultura familiar sustentável, grãos, biodiversidade, florestas plantadas, logística, aquicultura e verticalização do pescado, turismo e gastronomia, produção e verticalização do açaí, pecuária sustentável, cacau e óleo de palma, internalização de compras e a verticalização mineral. Entre as principais iniciativas, destacamos: Incentivos Fiscais para Atração de Investimentos; Capacitação e Formação Profissional; Regularização Fundiária; Licenciamento Ambiental; e Criação da Marca Parámazônia. Estas são nosso foco para o desenvolvimento de um ambiente de negócios mais interessante e que divulguem

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a sustentabilidade dos produtos gerados no Pará, a obra prima da Amazônia. O Programa tem mais de 1.000 marcos de implementação específicos envolvendo as secretarias e órgãos estaduais, percebidos como decisivos para sua implementação, cuja meta principal é o crescimento econômico em torno de 5% ao ano, nos próximos 15 anos. Numa entrevista que concedeu à País Económico em setembro de 2016, o Governador Simão Jatene referiu a necessidade do Pará passar de uma economia essencialmente extrativista para uma economia capaz de agregar valor às suas riquezas naturais intrínsecas. Em que medida as ações do governo do estado, bem como dos demais agentes públicos e da iniciativa privada, já começaram a direcionar o desenvolvimento do Pará para esse novo patamar superior?

O Estado trabalha em parceria com o setor produtivo e as entidades de classe para modernizar nossa economia. A política de incentivos fiscais foi alterada para garantir maiores incentivos às indústrias de transformação que agregam valor à produção e estão estabelecidas nos municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Paralelamente, o Estado possui um Fundo de Financiamento próprio, chamado Crédito do Produtor, que visa estimular pequenas indústrias que atuem na verticalização das cadeias econômicas do Pará 2030. As pequenas indústrias de açaí são as primeiras a serem beneficiadas. O Executivo estadual tem adotado medidas a curto e médio prazos, para facilitar a vida de quem quer empreender no território paraense, aprimorando a rotina interna de órgãos estaduais, como

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› ESPECIAL PARÁ

a redução no tempo de abertura de empresas, hoje menor que 48 horas, a partir da criação do Integrador Pará (http://www.jucepa. pa.gov.br/integrador) e, na área de meio ambiente, adotou o Simples Ambiental, por meio do qual os empreendimentos de baixo impacto ambiental podem emitir sua licença automaticamente no Sistema da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (http://sistemas.semas.pa.gov.br/portalSegurança/#/). O Governo também objetiva assegurar energia mais barata e limpa para as indústrias e à população. Para tornar mais atrativa a energia solar, o Estado aderiu à Ata do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e isentou de ICMS Sistemas de Gestão de Energia Solar de até 1MW, viabilizando a instalação de pequenas de grandes iniciativas, como a da Cooperativa de Energia de Paragominas – COOBER, primeira do Brasil no ramo, que já trouxe ótimos resultados aos seus cooperados. O Estado investe ainda na implantação de sistema fotovoltaico no estacionamento do Hangar – Centro de Convenções da Amazônia, que garantirá 70% da energia consumida. Além disso, o Pará também vai dispor de oferta de gás natural por meio de acordo firmado entre o Governo do Estado e a empresa de mineração Norsk Hydro, para viabilizar a implantação do primeiro terminal no município de Barcarena, no norte paraense, para baratear o custo de energia a indústrias e também beneficiar o cidadão que quer utilizar veículos movidos a gás, cujo abastecimento é mais barato e rende mais que a gasolina e o etanol. Há novas indústrias a se instalarem no Pará Nos últimos três anos, que correspondem ao desempenho do atual governo, quais foram as principais indústrias que se instalaram no Pará e que aproveitaram as fortes potencialidades e oportunidades existentes no estado?

Nessa concepção, podemos citar algumas empresas em processo de instalação no Pará. A primeira é a OCRA Cacau que fará

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a sua inauguração ainda neste semestre de 2017 para processar as amêndoas do cacau paraense. Outra, é a Argus Alimentos que vai produzir derivados da polpa do açaí. Um terceiro exemplo é a Frooty que também produzirá derivados da polpa das frutas locais. Além disso, mesmo com o quadro econômico nacional adverso, a Sedeme e a Codec prospetaram e firmaram 41 protocolos de intenções, para a implantação de empresas no Estado, fundamentados nas novas políticas públicas previstas no Pará 2030. Destes, 11 empresas já estão em processo de implantação e as demais em fase de licenciamento ambiental e elaboração de projetos. Entretanto, o devido aproveitamento desse potencial econômico e ambiental do Pará, está igualmente ligado à necessidade do seu desenvolvimento infraestrutural, nomeadamente ao nível da ferrovia, da hidrovia, da rodovia e dos portos. O que tem sido feito, ou o que está em concretização, visando modernizar a infraestrutura de mobilidade econômica e social do Pará?

Nestes primeiros 12 meses do Programa, foi constituído um conjunto de medidas que, a médio e longo prazos, aumentarão os níveis de investimento público e privado, e vão gerar mais emprego e renda, melhorando a qualidade de vida em todo o Estado, sobretudo nas regiões mais afastadas da capital. O Pará é o segundo maior Estado do País em extensão territorial, com mais de 1,2 milhões de quilômetros quadrados, maior que alguns países, e precisa avançar em logística para escoar a sua produção e oferecer alternativas a investidores. A necessidade é investir em iniciativas multimodais, integrando o transporte rodoviário, hidroviário e ferroviário. Além da Ferrovia Paraense, entre os projetos em andamento no Pará 2030 destacam-se: • HIDROVIA DO CAPIM – A Região de Integração do Capim é a que mais produz soja no Pará. Após firmar compromisso com o Estado, a Transportes Bertolini já está licenciando seu porto flutuante na confluência do Rio Capim com a

PA-256, para escoar a soja dos municípios de Paragominas, Ulianópolis, Dom Eliseu e Rondon do Pará, durante os seis meses do ano em que a colheita coincide com a cheia do rio. No retorno, as balsas levarão calcário e fertilizantes, reduzindo os custos para os produtores e aumentando a competitividade dos nossos produtos. O Estado viabilizou a operação e isentou o frete de ICMS para tornar o modal atrativo. • HIDROVIA DO TAPAJÓS – O Estado adotou a política pública de que, devemos contribuir sim com o Mato Grosso e outros Estados no escoamento de sua soja pelo território paraense, em especial pela Hidrovia do Tapajós. Mas, além das condicionantes ambientais, o Estado criou condicionantes socieconômicas e as primeiras empresas a licenciarem seus projetos com este entendimento já assumiram o compromisso de verticalizar na região parte da soja que transportam. No caso das Trading, a primeira foi a Louis Dreyfus. Já entre as Transportadoras, a empresa Gorki, foi a primeira que assumiu compromissos para implantar novas indústrias na região, a exemplo de uma fábrica de ração e um laticínio. Estas foram as primeiras empresas, cujo compromisso de verticalizar e industrializar, criou uma referência para as demais empresas no curso de licenciamento de seus projetos. Ferrovia Paraense e Ferrovia Norte-Sul são compatíveis O projeto da ferrovia Paraense, será talvez o mais ambicioso e arrojado projeto infraestrutural da iniciativa do Governo do Estado do Pará. Em que situação se encontra esse projeto e quando prevê a sua concretização no futuro?

Considerando os 1.312 km de extensão, com um capex da ordem dos 14 biliões de reais, o empreendimento da Ferrovia Paraense

não só pelas dimensões físicas, como também financeiras, realmente é o mais ambicioso projeto do Governo do Estado do Pará, tanto em infraestrutura como em abrangência integradora regional. Capex, é a sigla inglesa comumente adotada em questões empresariais: “CAPitalEXpenditure”, que em português indica a quantidade de dinheiro gasto na compra de bens de capital de uma determinada empresa. O projeto já teve seus Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), concluídos e aprovados, seu licenciamento ambiental encontra-se em fase final de aprovação pela Secretaria de estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), uma vez que todo o empreendimento será implantado em território exclusivamente do Estado do Pará. Essa ação do Governo do Estado, garantirá ao concessionário a segurança de receber o projeto já licenciado ambientalmente pelo governo, será a desapropriação da faixa de servidão da ferrovia, ação esta que agilizará o processo de implantação e assegura ainda mais segurança aos investidores. As ações promovidas junto ao Governo Federal, para possibilitar a integração das malhas da Ferrovia Paraense com a Ferrovia Norte Sul, é outro grande atrativo, para ambos os sistemas ferroviários, pois possibilita o acesso da ferrovia federal ao complexo portuário de Barcarena, assim como, também, o acesso da ferrovia paraense às malhas ferroviárias do Sul/Sudeste brasileiros. Essa integração já foi aprovada pelo Governo Federal que exclui a implantação do trecho Açailândia – Barcarena do projeto da Ferrovia Norte Sul, deixando que este trecho seja assumido pela Ferrovia Paraense. Atualmente, o Governo do Pará vem promovendo negociações com os empreendimentos já implantados e em fase de implantação no Estado ao longo do traçado da ferrovia, cuja logística mais adequada para escoamento de sua produção seja por meio ferroviário, já tendo sido celebrados diversos acordos de compromisso que asseguram a utilização da ferrovia com essa finalidade.

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› ESPECIAL PARÁ

OCRA está a construir fábrica no Pará O OCRA Cacau da Amazônia, está a instalar uma unidade produtiva em Belém, no que será a primeira indústria paraense para a produção de liquor e manteiga de cacau, principais matérias-primas usadas na produção de chocolate. O investimento está a ser concretizado na sequência de um protocolo assinada pela empresa com o governo paraense através da Sedeme, que nessa altura se comprometeu e apoiar a implementação do projeto, priorizando a apreciação do processo de licenciamento ambiental, bem como a avaliação da concessão de incentivos fiscais e o apoio à agricultura familiar para a produção de cacau. De acordo com a presidência da OCRA, a empresa deverá iniciar ainda este ano a produção, estando previsto em primeiro lugar a produção de liquor de cacau, com a manteiga a ser feita em um segundo estágio de no máximo 36 meses a implantação completa do empreendimento. Segundo Francisco Monteiro Pinho, «a produção de cacau no Pará é enorme e é do nosso interesse ter uma empresa para verticalizar

O Executivo estadual também tem promovido a apresentação do projeto a investidores internacionais, obtendo sinalizações favoráveis de investimentos no empreendimento. O projeto da Ferrovia Paraense virá para assegurar para o setor produtivo, não só do Estado do Pará, mas de todo o Brasil, um sistema logístico adequado e suficiente, com resultados imediatos e de longo prazo, com grande impacto na competitividade dos produtos nacionais, nos mercados externos e interno.

entrada na Amazônia. Hoje, de acordo com os dados estatísticos fornecidos pela Infraero, o Estado do Pará ocupa o primeiro lugar na Região Amazônica no número de passageiros que desembarcam vindos do exterior.

O Pará é muitas vezes considerado a “porta da Amazônia”, não

das relações entre os dois lados do Atlântico?

só numa visão ambiental da região, como sobretudo enquanto

A importância está comprovada pelos números de voo da TAP na operação da rota Belém-Lisboa. A taxa de ocupação dos assentos ofertados é de 82,4%, a maior entre as companhias aéreas que operam no Pará. Veja, um voo desta natureza vai além das questões comerciais, pois fortalece antigas relações, laços, e heranças lusitanas pré-existentes na formação histórica do Pará. E o voo estende o alcance destas relações ao âmbito não só do turismo, mas também do comércio exterior, dos negócios e das iniciativas empresariais, além, é claro, da consolidação e estreitamento das relações institucionais entre o Pará e Portugal. Cabe destacar, que a posição estratégica de Lisboa, como um hub aéreo europeu e internacional, amplia o leque de oportunidades mercadológicos para as demais cidades portuguesas e países da Europa, mas também Ásia e África, em função das dezenas de conexões que o Aeroporto de Lisboa oferece, o que nos confere um campo fértil para a atração de novos investimentos no Pará e de comércio exterior bilateral entre o Pará e Portugal. ‹

zona de elevado potencial turístico. Em que medida o estado do Pará tem sabido aproveitar do ponto de vista nacional e internacional essa posição privilegiada?

Com investimentos em acessibilidade e infraestrutura aérea, rodoviária e marítima fluvial. Na aviação, por exemplo, a política de desoneração do ICMS do combustível e o trabalho de articulação junto às companhias aéreas fortalecerem a malha aérea regional e nacional do Estado. Mais que isso, desde 2014, o Pará ganhou voos internacionais, que movimentam a economia e trazem receita para a população paraense, através do incremento do fluxo de turistas. Hoje o Aeroporto Internacional de Belém possui rotas e voos que ligam o Pará a Miami, nos estados Unidos, e por meio dele toda a América do Norte, com Lisboa e consequentemente toda a Europa, e também com países vizinhos na América do Sul, no chamado Arco Norte, com o Suriname e Guiana Francesa. Essa estratégia tem consolidado nossa posição como principal porta de

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A introdução de um voo direto Belém-Lisboa em junho de 2014 alterou significativamente as relações sociais, culturais, e mais recentemente econômicas entre o Pará e Portugal. Qual é a sua visão da importância presente e futura do desenvolvimento

a produção, apoiando a agricultura familiar e dando oportunidade à mão de obra local». Já para o secretário Adnan Demachki, «transformando o cacau em manteiga de cacau e liquor, teremos insumos necessários para atrairmos indústrias de chocolate e criarmos um grande polo de indústrias de chocolate no Estado». ‹

Pará cria novos Distritos Industriais O Governo do Pará, através do Secretário Adnan Demachki, e do presidente da Codec, Olavo das Neves, assinou protocolos com as prefeituras municipais de Castanhal e de Breves visando a criação de Distritos Industriais nas respetivas cidades. Por parte de Castanhal, assinou o protocolo o Prefeito Pedro da Mota Filho, enquanto pela Prefeitura de Breves rubricou o Vice-Prefeito Vilson Mainard. Segundo Olavo das Neves, presidente da Codec, «Breves e Castanhal são dois importantes polos onde temos tratativas bastante avançadas, contamos com as prefeituras municipais, a sociedade local e o setor produtivo, todos envolvidos no processo junto com o Governo do Pará». O presidente da Codec aproveitou a ocasião para adiantar que os Distritos Industriais de Ananindeua, Icoaraci, Barcarena e Marabá passam por um processo de revitalização, ancorados também no âmbito do projeto Pará 2030. Para o secretário do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, «Castanhal é um lugar extraordinário com inúmeras vantagens, em especial a da mobilidade urbana para empresas de grande porte», enquanto ao referir-se a Breves, salientou que «O Marajó é prioridade para o Estado, não à toa o Executivo estadual investiu recentemente 150 milhões de reais para a energização do Marajó, onde a maioria dos municípios não tinha energia firme». ‹

Pará cria bases para a energia solar O estado do Pará aderiu ao Convénio ICMS do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que isenta de pagamento do tributo estadual (ICMS) a produção de energia através de sistemas de geração distribuída, como a solar fotovoltaica. O esforço realizado pelo governo estadual do Pará, segundo Adnan Demachki, responsável no governo pela pasta da energia, servirá para criar bases sólidas para o crescimento da energia solar no Estado, pois «estamos no local com maior insolação do planeta, praticamente na linha do Equador, precisamos aproveitar economicamente não só as nossas águas, mas também o sol que Deus nos privilegiou». Ainda segundo o secretário da energia no governo paraense, a adesão ao Confaz também garantirá ao pequeno investidor um retorno mais rápido do investimento na implantação de micro e mini sistemas de geração com destaque para os apinéis solar fotovoltaicos. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Depois da sua construção, a estimativa aponta que a Fepasa, só no primeiro ano de funcionamento possa transportar quase 30 milhões de toneladas, especialmente de minérios e grãos, devendo aumentar depois esse volume para cerca de 48 milhões de toneladas. Por exemplo, está previsto a construção de um ramal ferroviário em Rondom, próxima das instalações da Votorantim Metais, um importante projeto que integra a mina de bauxita à refinaria de alumina. Como salientou Adnan Demachki, secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do governo paraense, «temos grande disponibilidade de recursos naturais, água, minérios e uma rica biodiversidade. Uma posição estratégica para atender aos crescentes mercados consumidores do Norte e Nordeste. E somos a saída mais próxima para os Estados Unidos, Europa e Ásia, via Canal do Panamá».

Minério

Pará recebe investimento para transformar a sua riqueza mineral

O

estado do Pará é rico em minérios. É claramente o estado brasileiro com maior riqueza mineral. Não foi por acaso que no final de 2016 o gigante brasileiro Vale, um dos três maiores conglomerados mineiros do mundo, inaugurou no Pará um investimento industrial de grande porte, o maior do mundo no seu género, designado S11D, que produz minério de ferro ao custo de 7,7 dólares por tonelada, menos 41% do que a média no setor. Localizado no município de Canaã do Carajás, este é um dos quatro blocos com um potencial mineral de 10 biliões de toneladas e implica um investimento global na ordem dos 16 biliões de dólares. O Pará tem potencial para permitir a existência e desenvolvimento de projetos com esta dimensão e qualidade, pois neste projeto o teor médio de ferro é de 66,7%, um dos mais altos do planeta, e baixo teor de impurezas. O escoamento é feito através de um ramal que liga a área de produção mineral na Serra Sul de Carajás à chamada Estrada de Ferro Carajás. De referir que a própria Vale, de modo a garantir o escoamento da produção do projeto também investirá três biliões de dólares na expansão do terminal

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Pará rico em minérios O Pará, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) possui uma importante e significativa produção de minérios como ferro, bauxita, manganês, ouro e cobre, e está próximo de se transformar igualmente num grande produtor global de níquel, sobretudo tendo em atenção a implementação no estado de projetos como o Onça-Puma e Níquel Vermelho, da Vale, e Jacaré, da Anglo American, em São Félix do Xingu. A produção estimada do Estado será puxada para o nível das 190 mil toneladas de níquel por ano. Mas, os projetos de produção mineira ou de transformação dessa produção em produtos de valor agregado continuam a acontecer

no Pará, como recentemente anunciou a paulista Mineração Buritirama, que produz anualmente 150 mil toneladas de manganês, e que vai instalar uma unidade industrial de sinterização do minério extraído da sua mina em Vila União, em Marabá. O projeto anunciado prevê a criação de 400 empregos diretos e deverá estar em funcionamento daqui a 16 meses. Entretanto, os responsáveis do Estado do Pará continuam a percorrer o Brasil e o Mundo na procura de novos investidores para explorarem e transformarem as riquezas naturais do Pará, com geração de renda e emprego para os paraenses. Como aconteceu ainda recentemente com a participação da Companhia de Desenvolvimento Económico do Pará (Codec) na 17ª Exposição Internacional de Mineração em Belo Horizonte (Minas Gerais), onde contatou com importantes players nacionais e internacionais, mostrando o elevado potencial do Pará, mas sublinhando o interesse que os investimentos no estado venham a agregar valor e a gerar emprego e riqueza para a sociedade paraense. Como referiu Olavo das Neves, presidente da Codec, «com os grandes projetos em curso, surgem também muitas oportunidades para empresas que têm interesse no Estado. Aqui, estamos fazendo o primeiro contato e agendando visitas com o intuito de que essas empresas estabeleçam negócios e incentivem compras» no Pará. Como foi o caso no ano passado da empresa paulista Alloys, que vai aproveitar a produção de alumínio no Pará para instalar uma unidade de transformação de produto. É assim que se aproveita e se gera valor para a economia estadual e nacional. ‹

portuário de Ponta da Madeira, no vizinho estado nordestino do Maranhão. Mas, os projetos minerais no Pará, com ênfase na região de Carajás, mas que se estende a outras regiões do estado, implicam a criação de condições infraestruturais para levar as matérias-primas, ou os produtos já transformados no Pará decorrentes dessa atividade mineira primária. A já mencionada Estrada de Ferro Carajás acaba por ser uma via direta da própria empresa Vale de escoamento da sua produção paraense em direção ao porto de escoamento no Maranhão. A projetada via ferroviária Norte-Sul, de iniciativa do governo federal brasileiro, aposta sobretudo em trazer a produção de grãos do Centro Oeste do país para poder ser escoada nos portos do Norte do Brasil. Por isso, o governo paraense lançou o projeto da Fepasa, uma via ferroviária de mais de mil e trezentos quilómetros de extensão e que projeta cortar o território paraense de sul até ao norte do estado, precisamente para levar o minério ou os seus derivados até aos portos localizados no nordeste do Pará, e daí serem exportados para vários pontos do mundo.

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› ESPECIAL PARÁ Maurício Gouvea, Diretor Executivo da Alubar Metais e Cabos

Os nossos cabos levam a energia a todo o Brasil Compreendendo que o grande potencial mineral do estado do Pará, nomeadamente de bauxita, matéria-prima para a produção de alumínio, levou a Alubar ao Pará e a constituir uma das mais importantes empresas no estado, verticalizando todo o processo e fornecendo a todo o Brasil os cabos de linhas de transmissão de energia, no fundo, levando a energia a todo o país e fortalecendo a sustentabilidade económica e ambiental do Brasil. Maurício Gouvea, Diretor Executivo da Alubar Metais e Cabos, destaca a orientação estratégica de um importante grupo industrial localizado em Barcarena, no estado do Pará, que está sempre na procura de melhorar o seu processo produtivo, sem deixar de ter fortes preocupações sociais e ambientais. Reforçar a sua presença no Brasil, sem deixar de olhar para o potencial da América Latina, a empresa paraense é um grande destaque no que deve ser o modelo económico a vingar no Norte do Brasil. TEXTO › JORGE ALEGRIA | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS O Grupo Alubar é o maior fabricante de cabos elétricos de alumínio da América Latina, estando localizado na cidade paraense de Barcarena. Por quê a sua localização no Pará?

A nossa localização é estratégica pelo fato de termos a facilidade de obtenção da matéria-prima para produção de nossos cabos, que é o alumínio. Isso porque o Pará é um grande produtor de bauxita, de alumina e, por fim, alumínio. Com a Alubar, essa cadeia é verticalizada, com a entrega de produtos acabados. Além deste ponto, a posição em que a Alubar está instalada facilita também o recebimento e envio de produtos, já que estamos ao lado de um grande porto. O fato do Pará dispor de importantes reservas minerais, bem como elevadas potencialidades para a construção de centrais hidrelétricas, constitui um elemento importante para o desenvolvimento da Alubar no estado do Pará?

Sem dúvida as reservas minerais são fundamentais. O que o Pará tem para oferecer

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quanto a bauxita, que é a base para produção do alumínio, é fundamental para que nós pudéssemos estar instalados aqui. O grande foco da Alubar no Estado do Pará é realmente poder verticalizar a cadeia de produção do alumínio. No que diz respeito ao potencial hidrelétrico do Estado, enxergamos as oportunidades de negócios de vendas junto a consórcios que atuam na construção de linhas de transmissão (LT) no Pará. Temos diversos exemplos, como Belo Monte e as LT’s Tucuruí-Manaus e Tucuruí-Macapá. Ou seja, são empreendimentos construídos a partir do Estado do Pará que nos dão um potencial muito grande para a venda de cabos elétricos. Mas o fundamental é que a Alubar vende para o Brasil inteiro, ou seja, temos produtos espalhados por todo o país, em linhas de transmissão que são oriundas de hidrelétricas de qualquer lugar do território nacional. Quais são as áreas econômicas para as quais a Alubar produz produtos com

base no alumínio?

A Alubar atua basicamente junto ao Setor elétrico, seja na geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica. Nossos cabos de alumínio são de alta e média tensão, onde sempre buscamos novidades e novas tecnologias que possam atender da melhor maneira este mercado. O desenvolvimento da infraestrutura no Brasil é importante para a Alubar Como avalia o atual desenvolvimento infraestrutural e industrial do Brasil, notadamente nos reflexos que isso tem nas vendas de um grupo empresarial com as caraterísticas da Alubar?

Primeiro temos que enxergar que o Brasil tem um déficit de infraestrutura muito grande para um país do tamanho do nosso, para uma economia do tamanho da nossa. E as movimentações para que a economia se adeque às necessidades de crescimento do país, geram um mercado em que a Alubar está inserida.

Outubro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 39


› ESPECIAL PARÁ

E este mercado é diretamente ligado à necessidade de geração de energia, ou seja, de novas geradoras, de novas linhas de transmissão, de expansão de distribuidoras de energia. Como consequência surgem novas indústrias, que também são foco da Alubar para fornecimento de cabos. Então a condição da infraestrutura no Brasil hoje, é um fator importante para o crescimento da Alubar. O desenvolvimento dessa infraestrutura que tem anos de atraso vai, sem dúvida, nos colocar dentro de um mercado que é crescente caso a economia continue sua recuperação. Atingir uma posição tão destacada enquanto maior fabricante de cabos elétricos em alumínio do espaço latino americano pressupõe não apenas uma forte capacidade de produção, mas igualmente de inovação e de qualificação de recursos humanos. Como é que essas áreas estratégicas têm sido encaradas e desenvolvidas no seio da Alubar?

40 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

A Alubar tem uma enorme preocupação em qualificar o seu corpo técnico. Nós entendemos que não conseguimos nos sustentar por tanto tempo no mercado sem enxergar o futuro, sem definir estratégias, produtos, melhorias de processo e equipamento. São fatores fundamentais para que consigamos permanecer como uma empresa que desponta como sendo grande vendedora e produtora de cabo elétrico. Para isso é preciso fazer investimentos e olhar para o futuro, enxergar o que o consumidor vai esperar dos cabos elétricos daqui a 5, 10 anos. E este é um trabalho é feito com antecipação. Onde estamos hoje, por exemplo, começou conosco olhando há 10 anos o que o mercado precisaria, olhando há 5 anos o que o mercado precisaria. Estes planejamentos acontecem ano a ano na Alubar. Neste sentido, nós sempre desenvolvemos novos produtos, oferecemos novas ligas de alumínio, oferecemos novas soluções para linhas de transmissão, para linhas de

compromisso com a preservação do am-

biente, principalmente pelo local onde estamos instalados, que é no meio da região Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Nossa preocupação é garantir que nós cumprimos a legislação ambiental, inclusive extrapolando e levando uma consciência ambiental junto a nossos colaboradores. Esse compromisso também se reflete na nossa escolha de empresas parceiras. Fornecedores para reciclar produtos, ou sobras de processos, que garantam que essa reciclagem não cause impacto no meio ambiente. Ou na contratação de parceiros e compra de produtos junto a empresas de também tenha esse respeito, que estejam dentro da legislação. Então essa preocupação é diária para a Alubar, todas as áreas estão orientadas a agir desta forma. O resultado é que temos uma gestão integrada de qualidade, meio ambiente e saúde e segurança atestada por selos, como a ISO 14001. Mas enxergamos que o compromisso ambiental vai além da floresta em pé. Esse compromisso também é com as pessoas, com o desenvolvimento social da região. Por isso priorizamos a contratação de pessoal que mora no entorno da empresa. Hoje 90% de nosso quadro profissional é composto de colaboradores que vivem nos municípios próximos da Alubar. Garantir essa estabilidade financeira impacta diretamente na preservação ambiental, na qualidade de vida da região. Nossos projetos sociais também seguem esta linha. Temos o Japiim, que é uma iniciativa que promove a geração de renda para mulheres, através do ofício de corte e costura. Elas produzem os uniformes dos colaboradores da Alubar, que por sua vez os compra. Temos também o projeto Catavento, que incentiva a leitura junto a crianças que estudam em escola ribeirinhas, algo fundamental na formação de cidadão.

biente. Como é que essa preservação

O Grupo Alubar já está internacionaliza-

ximos anos?

ambiental é levada em conta no dia a dia

do, tendo escritórios nos países vizinhos

das atividades do grupo no Brasil?

do Uruguai e da Argentina. Qual é o peso

A Alubar tem uma preocupação muito grande com a preservação do meio am-

dos mercados internacionais nas vendas

A Alubar já tem contratos firmados para até os próximos 5 anos com o fornecimento de cabos para linhas de transmissão. Nos próximos 12 meses devem ocorrer

distribuição e com isso conseguimos manter o nosso produto sempre na ponta do que é o melhor da tecnologia. Tudo com profissionais treinados, profissionais que participam de feiras, eventos e congressos mundo afora. Temos colaboradores que contratamos com experiência renomada e que repassam esse conhecimento para toda a equipe. Então há todo um projeto de sucessão e desenvolvimento para que a gente possa ter a visão do que o mundo está aplicando ou vai aplicar no futuro. Compromisso com a preservação ambiental e a sustentabilidade social Atuando numa área tão sensível, a Alubar ostenta também um assinalável

do grupo? Estão previstos novos passos

para a expansão da presença internacional do grupo, nomeadamente em algum outro continente que não o americano?

A Alubar está sempre pronta para fazer um crescimento, para fazer novo investimento e criar uma nova unidade. Isso depende muito dos mercados. Estamos sempre olhando as possibilidades fora do país, sempre buscando algum investimento que seja sólido e seguro e que nos dê tranquilidade de dar um passo fora do continente americano, nós não temos nenhuma dificuldade quanto a isso. Então, sim, pensamos em uma expansão dentro da América Latina. Mas nós não temos nenhuma previsão para essa entrada em operação fora da América. Hoje o mercado internacional é muito pequeno em relação ao que são as vendas do Grupo Alubar dentro do Brasil. Quais os projetos mais significativos para garantir o desenvolvimento e sustentabilidade do Grupo Alubar nos pró-

leilões em que vão ser negociados cabos para fornecimento daqui a 6 anos. É um cenário onde esperamos estar posicionados com nosso Market Share de 60% de linhas de transmissão nestes leilões. Mas como falei anteriormente, sem pensar em cabo, nós sempre procuramos enxergar qual vai ser a necessidade futura para esse mercado. Por exemplo, uma necessidade futura serão a repotencialização de linhas existentes que já possuem 40, 50, 60 anos e que não conseguem mais transportar toda a energia demandada. Então nós temos engenheiros que trabalham desenvolvendo produtos que vão ser aplicados nestas linhas, desenvolvendo cabos que vão poder ser utilizados em substituição desses existentes, aproveitando a infraestrutura de torres de fundação já colocada. Nós entendemos que o Brasil quando ele chegar daqui a 6, 7 anos, em uma situação estável de transmissão de energia, ele vai ter que começar a recuperar o que existe. Então nós estamos trabalhando para estar pronto daqui a 2, 3 anos para começar a fornecer esse produto e não esperar estes 7 anos. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Lucélia Guedes, Diretora de Atração de Investimentos da CODEC – Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará

O Pará é um gigante em recursos naturais O estado do Pará é o segundo maior em extensão territorial do Brasil, e alberga no seu subsolo e solo, algumas das maiores riquezas não apenas do país, mas do próprio Globo. Lucélia Guedes, Diretora de Atração de Investimentos da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (CODEC), sublinha esse potencial endógeno, mas acrescenta para o interesse do Pará em que se gerem mais valias produtivas no próprio estado, ou seja, haja uma importante componente de transformação, incluindo de natureza industrial.

do Pará como único dentre os 26 estados da federação brasileira que obteve nota ´A`. Nestes termos, avaliamos que o ambiente econômico positivo favorece substancialmente a implantação dos negócios na região. Quando um investidor, por exemplo estrangeiro, pretende investir no Pará, que tipo de apoios federais, estaduais e municipais, poderá receber das diversas instituições?

O Governo do Pará possui uma estratégia de atração de investimentos estrangeiros bem definidas e estruturada; através da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará – CODEC, e possui boa articulação com órgãos nas três esferas: Federal, Estadual e Municipal. Este modelo de atuação visa posicionar a CODEC como um facilitador de investimentos estrangeiros no Pará. Dentre os pleitos das empresas que podem ser acompanhados estão: Incentivos Fiscais, financiamentos, busca de áreas, acompanhamento no licenciamento ambiental, qualificação de mão de obra entre outros.

Quais são as áreas econômicas e empresariais que do ponto de

Como avalia o atual estado de desenvolvimento econômico do

vista da Codec possuem maiores oportunidades de investimen-

Pará, bem como o ambiente para fazer negócios que existe no

A CODEC ajuda as empresas a se instalarem no Pará

to no estado do Pará?

Estado?

Por vezes, mais do que apoios financeiros ou de redução de

O Pará é um gigante em recursos naturais e possui vocação em inúmeras cadeias produtivas. Foi criado o Programa “Pará 2030” que mapeou vinte e três cadeias, sendo algumas prioritárias: Grãos, Cacau, Açaí, Floresta Plantada, Biodiversidade, Aquicultura e Pescado, com foco na agregação de valor. O principal setor econômico no Pará é a mineração que contribui positivamente para a balança comercial do país.

Atualmente o Estado do Pará é o que mais tem se destacado em crescimento econômico comparado aos outros estados brasileiros. O desenvolvimento econômico paraense está acima da média sendo o único a apresentar crescimento do Produto Interno Bruto - PIB em 2015. Além disso, a expansão industrial de 5,7% é também a maior do Brasil. Outro ponto que vale ressaltar é o relatório de avaliação do Tesouro nacional que destacou o Estado

impostos, os empresários que querem investir, necessitam de entidades que possam ajudar, no quadro da lei, a facilitar uma instalação empresarial mais célere e eficiente. Que papel é que a Codec está habilitada a fazer no Pará para ajudar na concretização de investimentos empresariais?

Dentro do plano do Governo a CODEC se posiciona como a porta de entrada para os investimentos no Pará. Tem atuação reativa e proativa, recepciona, identifica o investidor; apresenta ou conhece o projeto de investimento, direciona as demandas e acompanha passo a passo o processo de instalação. Um dos principais serviços da CODEC na atração de novos investimentos são: Identificação de área para instalação; articulação junto a instituições nos âmbitos federal, estadual e municipal.

lizadas para a importância de serem céleres na apreciação de

Uma das coisas que os empresários mais reclamam em todo o

processos de financiamento a projetos de apoio empresarial?

mundo é da dificuldade e morosidade de obter os licenciamen-

Sim. As instituições financeiras que atuam no Estado do Pará estão alinhadas com a melhoria do ambiente de negócios e celeridade dos projetos de investimentos. É o caso do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), do Banco da Amazônia, do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) da SUDAM e do Banco do Estado (BANPARÁ) através do programa Banco do Produtor. Estes bancos atuam com o objetivo de atrair projetos que sejam sustentáveis para a região.

tos para a concretização dos projetos, sejam de natureza de construção ou ambiental, por exemplo. Como avalia essas situações no estado do Pará?

O Governo do Pará tem trabalhado na busca da descentralização ambiental que consiste em transferir parte dos licenciamentos que chegavam ao órgão estadual para os municípios, dessa forma, foi criado o programa Simples Ambiental que capacitou técnicos nos 144 municípios do Pará. O Licenciamento Ambiental Simplificado é mais um passo do governo para facilitar as atividades empreendedoras no estado. O processo é feito eletronicamente no site da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS no intuito de agilizar o processamento das licenças, isso permitirá integrar a base de dados ambientais de todas as regiões do Estado, segundo em extensão territorial do Brasil. Isso contribuirá na fiscalização dos empreendimentos e celeridade do processo de licenciamento.

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As instituições financeiras que atuam no Pará estão sensibi-

Pelo conhecimento que possui de Portugal, onde já esteve anteriormente, em que áreas as empresas portuguesas mais poderão contribuir para o desenvolvimento da economia do Pará?

Portugal apresenta características muito semelhantes com o Pará a começar pela colonização e cultura, esta semelhança facilita as empresas se adaptarem e visualizarem bons negócios e dentre os setores que recentemente identificamos com potencial para realizarem investimentos no Pará estão: Turismo; gastronomia, têxtil, alimentação, tecnologia e energia. ‹

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› ESPECIAL PARÁ

Agronegócio é uma das forças da economia do Pará

O

Pará fatura cada vez mais no Agronegócio, sendo o resultado da grandeza territorial e das imensas riquezas intrínsecas do subsolo e do solo de mais de 1,2 milhões de quilómetros quadrados, mas também das suas gentes laboriosas. Mas, como em vários outros setores da economia paraense, o agronegócio no Pará precisa de aumentar exponencialmente o grau de transformação da matéria-prima gerada no Estado. O Pará possui o quinto maior rebanho bovino do Pará, sendo o maior exportador de gado vivo do país, mas muito do couro que sai do Pará, tanto para outras partes do território brasileiro e para o exterior, ainda sai in natura. É verdade que já existe mais de 30 frigoríficos de abate de gado no Pará, bem como de 52 lacticínios, mas o estado precisa de exportar uma maior quantidade de produtos acabados, pois só assim gerará mais valias económicas e sociais para a própria população paraense. Por exemplo, apesar do cacau ser originário da Amazónia, ele se desenvolveu fundamentalmente mais a sul, mais concretamente no estado da Bahia. Mas, o Pará assumiu nos últimos anos um papel ativo de produção de cacau, tendo a produção cacaueira paraense acabado de ultrapassar a produção baiana. No entanto, ainda faltam unidades de aproveitamento industrial do cacau, bem como na sua transformação em marcas de chocolate, embora já existam algumas, como a própria País Económico testemunhou em setembro do ano passado no 4º Festival do Chocolate do Pará, que este ano não se realizou. Mas, são necessárias mais unidades de transformação e mais marcas de chocolate paraenses para ganhar nos mercados nacional e internacional.

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No projeto já referido designado por Pará 2030, no que concerne ao agronegócio foram estabelecidas prioridades de desenvolvimento em oito cadeias produtivas, respetivamente, a Pecuária Verde, a Aquicultura, a Palma de Óleo, o Cacau, a Soja, o Milho, o Açaí e as Florestas Plantadas. A agropecuária, que inclui o setor de produção florestal e de pesca, elevou-se de 7,4% para 13,2%, refletindo com estes números o crescimento significativo acumulado pela produção agrícola empresarial e familiar. Por exemplo, os abates no Pará passaram de 3,28 milhões de cabeças de gado em 2006 para quase 3,62 milhões de cabeças em 2015, um aumento de cerca de 10%. As exportações de animais vivos saíram dos 2,85 milhões de dólares em 2004 para 639,11 milhões de dólares em 2014. As vendas ao exterior da carne bovina paraense, a título de exemplo, passaram no mesmo período de 273,59 mil dólares para 237,16 milhões de dólares. A evolução na produção e exportação de soja e de milho a partir do Pará seguiu um percurso semelhante. A produção de Pimenta do Reino está igualmente em crescimento. Mas, é o Açaí que está presentemente na ordem do dia constituindo a estrela da produção agrícola do Pará. Em 2015, o Brasil produziu 1 milhão de toneladas de açaí, tendo passado em 2016 para uma produção de 1,1 milhões de toneladas, um aumento de 8,3%. Por essa produção nacional o Pará responde por 98,3%, sendo de realçar que existem 20 municípios paraenses que são os maiores do Brasil na produção de açaí, dos quais o maior é o de Igarapé-Miri, com 305,6 toneladas. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Infraestruturas

Pará pode ser a porta de saída da produção brasileira

P

ropositadamente colocámos no título que o Pará “pode” ser a porta de saída da produção brasileira para o exterior do país, mesmo parte substancial da produção agrícola que é produzida no Centro Oeste do Brasil, além daquela que é produzida na própria Amazónia. O condicional das aspas na palavra pode, é que a sociedade paraense, em primeiro lugar, precisa de consensualizar o que realmente quer ver construído no seu território, com particular enfase na estratégica questão da ferrovia. O Estado do Pará tem mais de 1,2 milhões de quilómetros quadrados, é o segundo maior em dimensão territorial do Brasil, só superado pelo vizinho estado do Amazonas. Com uma dimensão superior ao conjunto do território da Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal, o Pará carece fundamentalmente de vias para fazer circular as pessoas e os bens, tanto aqueles que produz, como os que, em virtude da sua privilegiada localização estratégica, provêm do Amazonas ou sobretudo dos chamados celeiros agrícolas brasileiros que são os estados do Centro Oeste. É preciso salientar que a posição geográfica do Estado do Pará confere ao seu território uma situação estratégica bastante privilegiada no cenário da relação do Brasil com o exterior. Os portos do Pará são os mais próximos da Europa, da América do Norte, e da própria Ásia, por via do Canal do Panamá, agora ainda mais facilitado devido ao alargamento já concluído do canal que liga diretamente os oceanos Atlântico e Pacífico. No entanto, o aproveitamento cabal dessa privilegiada localização estratégica depen-

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de do desenvolvimento de um conjunto de infraestruturas logísticas e de transportes, que ainda está neste momento longe de corresponder a esse desígnio estratégico do Pará. Naturalmente que do ponto de vista aeroportuário, o Aeroporto Internacional de Belém ganha cada vez maior relevo, até em virtude das suas crescentes ligações internacionais, seja a Lisboa, e por consequência, ao continente europeu, seja a Miami, e por consequência à América do Norte. De igual forma, os investimentos para tornar os diversos aeroportos regionais paraenses mais modernos, operacionais e competitivos, também correspondem a uma maior disseminação da mobilidade dos cidadãos, dos empresários e de movimento de cargas que podem ser rápida e competitivamente transportadas por via área dentro do território do Pará. O turismo tem sido sobretudo que mais tem beneficiado com os importantes investimentos na modernização do sistema aeroportuário paraense, mas igualmente a economia no seu todo. Mas, um território com a dimensão e as caraterísticas do território do Pará, inserido na região da Amazónia, onde os muitos rios que rasgam o território nos sentido este-oeste e norte-sul, bem como as imensas áreas florestais e agrícolas, impõem a necessidade de se investir de modo muito significativo nos modos ferroviário, hidroviário, rodoviário e naturalmente também no portuário, enquanto centro logístico de exportação ou de importação (do território paraense e/ou brasileiro) da produção do estado e de parte importante da produção brasileira.

É sobretudo na questão ferroviária que o Pará precisa de encontrar um consenso adequado para implementar as soluções necessárias a possuir um sistema logístico de transportes global, eficiente e capaz de responder às exigências das economias regional e nacional. É que neste momento digladiam-se, digamos assim, duas visões sobre as necessidades de investimento na ferrovia no estado do Pará. Uma parte, sobretudo ligada ao atual governo estadual do Pará liderado pelo Governador Simão Jatene, que além de reconhecer a importância da construção (em curso) da ferrovia Norte-Sul, aposta fundamentalmente na construção da designada Ferrovia Paraense (Fepasa), uma ferrovia que rasgará o território paraense de sul para norte, terá um traçado em parte paralelo (em parte) à Ferrovia Norte-Sul, mas tendo num determinado ponto do território paraense, um ponto de ligação entre as duas infraestruturas. A outra parte da visão política paraense, ligada ao atual ministro da Integração Nacional, Hélder Barbalho, tem tecido fortes críticas ao projeto da Fepasa, ao mesmo tempo que defende a importância do projeto da Ferrovia Norte-Sul. Sumariamente, importa salientar os principais projetos, nos diversos módulos infraestruturais que estão hoje em dia previstos a serem desenvolvidos no cenário do território paraense. Ferrovia Norte-Sul (Ferrogrão) Ligando Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará, a Rodovia Ferrogrão (EF170) está projetada para ter uma extensão total de 1.142 quilómetros, dos quais

933,7 quilómetros de extensão numa primeira fase, e depois o percurso restante na segunda fase, num trecho que ligará Itaituba a Rurópolis. O investimento estimado pelo Governo Federal brasileiro aponta para os 12,6 biliões de reais e deverá gerar cerca de 116 mil empregos na sua fase de construção. Esta nova ferrovia deverá transportar em 2030 cerca de 30 milhões de toneladas de grãos vindos do Centro Oeste e que serão depois de chegaram ao seu ponto final no Pará, através de barcaças do sistema hidroviário paraense até aos portos de Santarém e Vila do Conde (Barcarena) de onde seguirão para os seus destinos internacionais. Acreditam os promotores do investimento que no retorno do Pará ao Mato Grosso, as composições ferroviárias poderão transportar fertilizantes e combustíveis, embaratecendo dessa forma o transporte e viabilizando a sua operação. Já este ano, por ocasião do lançamento do projeto, o ministro da Integração Nacional do governo brasileiro, Hélder Barbalho, que é originário do Pará, sublinhou a importância da construção desta via ferroviária até porque na opinião do go-

vernante o «Arco Norte é absolutamente estratégico para a competitividade nacional, e é fundamental que nós consigamos viabilizar os seus componentes, como portos, rodovias e ferrovia». Já o próprio ministro brasileiro dos Transportes, Maurício Quintella, sublinhou que «a ferrovia proporcionará maior capacidade e menores custos de transporte, ampliando a competitividade das commodities brasileiras, com geração de emprego e renda para a região». Fepasa (Ferrovia Paraense) A Ferrovia Paraense (Fepasa) prevê cortar a porção oriental do estado do Pará, de sul a norte, numa extansão de 1.316 quilómetros, devendo conectar com a Ferrovia Norte-Sul (Ferrogrão), permitindo dessa forma que esta chegue até ao Porto de Barcarena, que no Brasil é o mais próximo dos grandes mercados consumidores como sejam a China, Europa e Estados Unidos. A coneção prevista entre as duas ferrovias acontecerá num troço de 58 quilómetros, entre Rondon do Pará e Açailândia, no Maranhão. A Ferrovia Paraense cruzará 23 municípios do estado e terá

capacidade de carga até 170 milhões de toneladas/ano, tendo um custo estimado de 14 biliões de reais. A geração de empregos prevista aponta para 38 mil empregos diretos e indiretos. A Fepasa ligará o sul do Pará, precisamente em Santana do Araguaia, até ao Complexo Portuário de Vila do Conde, em Barcarena, no norte do estado. Segundo o secretário de estado do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, «a Fepasa é muito importante para o Pará, porque ela integra o Estado, une o Norte ao Sul, para a escoação do produto paraense pelo próprio Pará». Várias empresas instaladas no Pará já assinaram compromissos de utilizarem futuramente a ferrovia paraense, sendo em número de 23 as que já estavam comprometidas numa reunião de divulgação do projeto que ocorreu a 27 de março deste ano na sede da Federação das Indústrias do Pará. Mais recentemente, por intermédio da Sedeme, a norueguesa Norsk Hydro, firmou um compromisso com o governo do estado do Pará, estabelecendo as condições referentes à contratação de carga

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› ESPECIAL PARÁ

do grupo num volume de 5 milhões de toneladas/ano. Este compromisso envolve a Mineração Paragominas (MPSA), uma das empresas da Hydro. Aliás, segundo Sílvio

Porto, executivo da Hydro no Pará, «acreditamos nesse projeto e assim que ele entrar em operação todos sairão ganhando. O Pará se tornará competitivo em nível

mundial», enfatizou o gestor da multinacional norueguesa. Garantir o financiamento para a construção da Fepasa foi um dos objetivos fundamen-

tais que levou uma delegação ao mais alto nível do governo do Estado do Pará à China em setembro, onde o Governador Simão Jatene apresentou o projeto para empresas chinesas potencialmente interessadas em participar neste projeto que promete transformar a logística e a economia do Pará. Porto de Vila do Conde (Barcarena) No entanto, se é muito importante transportar a produção brasileira e paraense pelo território do Pará, afigura-se de importância crucial dispor de infraestruturas portuárias capazes de escoarem de forma célere e eficaz toda essa produção

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que chega aos portos do norte, nomeadamente aos portos de Santarém e de Vila do Conde, em Barcarena. O governo paraense já desencadeou os procedimentos junto do governo federal de modo a se avançar com um projeto de expansão do Porto de Vila do Conde, de modo a que os seus terminais possam receber navios do tipo “Capesize”, com capacidade para até 220 mil toneladas de carga. Inclusivamente, a empresa DTA já entregou os estudos para as dragagens dos canais do Quiriri e do Espadarte que dão acesso ao porto. É que, atualmente, a profundidade dos canais de acesso é de apenas 14 metros, o que limita o acesso a navios até 70 mil toneladas.

Segundo o secretário Adnan Demachki, «estamos trabalhando para viabilizar uma PPP da ferrovia paraense que levará até o Porto de Barcarena e futuramente ao de Abaetetuba dezenas de milhões de toneladas de carga ao ano, e por isso precisamos também encontrar a solução portuária, ou seja, a dragagem do canal». Dessa forma, concluiu o governante paraense, «queremos tornar o porto mais competitivo e capaz de atender demandas internacionais, transformando o Pará numa estratégica solução logística além da exclusividade de portos das regiões Sul e Sudeste do País», explicitou Demachki. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Adenauer Góes, Secretário de Estado do Turismo do Pará

Pará é a “Obra Prima da Amazônia” As belezas do Pará são conhecidas e o Secretário de Estado do Turismo do Pará, Adenauer Góes, não tem dúvidas em afirmar que o Pará é a «Obra Prima da Amazônia». O desenvolvimento de um plano estruturado de desenvolvimento turístico no Pará foi reafirmado pelo responsável estadual do turismo, destacando o fato do Pará ser o mais bem infraestruturado estado turístico da Amazónia brasileira. Adenauer Góes destaca também nesta entrevista a importância estratégica do voo direto entre Belém e Lisboa, que tem permitido crescer o turismo internacional para o Pará, além de aproximar a Amazónia dos importantes mercados turísticos europeus. Decorreu em agosto em São Paulo, e

po das cidades criativas na área gastro-

mais recentemente na cidade de Belém,

nômica. O que é que o governo do Pará,

uma nova edição da FITA. De que modo, o

em conjunto com outras entidades, tem

turismo e a gastronomia paraense estão

feito nos planos nacional e internacional

ganhando robustez interna na economia

para afirmar a excelência da gastrono-

paraense, bem como se afirmando nos

mia paraense enquanto valor excecional

principais mercados dos restantes esta-

da Amazônia e do próprio Brasil?

dos brasileiros?

A gastronomia paraense é de uma autenticidade e originalidade singular. Uma culinária de ingredientes da cultura indígena, temperada com influências portuguesa e africana. Então, temos à disposição uma vantagem competitiva, que como um elemento do segmento do turismo cultural, alavanca e fortalece todo o setor envolvido. Na verdade, hoje colhemos os frutos do trabalho que já vem sendo executado há quase duas décadas, desde a Paratur (Companhia Paraense de Turismo, primeiro órgão oficial de turismo do Pará), de valorização, promoção, visibilidade e também de sofisticação da culinária do Estado do Pará. Trouxemos inúmeros chefs de cozinha do Brasil e do exterior para interagir com os chefs paraenses, promovemos e estimulamos a realização de festivais gastronômicos – como mais recente exemplo posso citar a FITA em São Paulo, incentivamos a criação de institutos focados na nobre arte da cozinha, fizemos parcerias com universidades para formação de profissionais graduados, fomentamos a qualificação profissional do setor, enfim, um apanhado de ações que hoje resulta

Eu tenho dito que o nosso desafio é a compreensão pela sociedade paraense do turismo como uma atividade econômica, capaz de gerar emprego e renda, e como consequência disso, a melhoria da qualidade de vida da população. Desde o lançamento do Plano Estratégico de Turismo Ver-o-Pará, em 11 de novembro de 2011, temos avançado passo a passo, gradualmente, nesse processo, a ponto de hoje o Turismo e Gastronomia serem uma das cadeias produtivas de maior valor agregado elencadas pelo Governo do Estado para elaboração e execução do modelo de desenvolvimento econômico do Plano Pará 2030, que estabelece as diretrizes para o crescimento da economia paraense nos próximos anos. No mercado nacional e também no internacional, com um longo e contínuo trabalho de articulação junto ao setor empresarial, o Pará tem se firmado cada vez mais sob a ótica da “Obra-Prima da Amazônia”, consolidando sua posição junto aos principais mercados emissores de turistas. A cidade de Belém integra o restrito gru-

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nesse cenário, em que 99,2% dos turistas estrangeiros em visita ao país em 2016, elegeram a gastronomia paraense como a melhor do Brasil, em pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, divulgada em agosto deste ano. O turismo está a crescer no Pará Como avalia o estado atual do turismo no Pará?

Essa avaliação pressupõe uma análise do passado. Com uma perspectiva de projeção para o futuro. Então, eu diria que o Estado do Pará tem um rumo bem definido. Dá para olhar para trás e ver muita coisa feita. Diria que temos um Pará em construção, com necessidades de infraestrutura, que cabe ao Estado construir ainda é significativa. Porém, sob este aspecto eu diria que a infraestrutura existente hoje dá para cumprir etapas mais à frente com um fluxo ainda mais consistente de turistas do que nós já conseguimos atingir. Do ponto de vista de capacitação e qualificação muitas ações têm sido feitas. Para se ter uma ideia, atingimos a marca de mais de 16 mil pessoas qualificadas. Educandos capacitados de alguma forma para a atividade turística nos últimos 4 anos. O que é uma marca significativa para a nossa realidade. Mas, insisto, muita coisa ainda precisa ser feita nesse setor de capacitação e qualificação, até porque a economia é

globalizada, e principalmente, a economia do turismo é globalizada, e o mercado é extremamente competitivo. Então, precisamos permanentemente evoluir nesse sentido. Quanto ao marketing e promoção também precisamos evoluir muito, no que pese atualmente estarmos sob uma nova ótica de divulgação, a das mídias sociais, o que torna a inteligência criativa um requisito fundamental. E temos tentando avançar mais nessa direção. Mas, temos absoluta certeza que o planejamento traçado está correto e é uma questão de insistir na implementação deste planejamento para que possamos ter um estado efetivamente usufruindo das condições que a natureza e a cultura lhe proporcionam de ser o Pará, A Obra-Prima da Amazônia. Recentemente, no âmbito do Programa de Regionalização do Turismo (MTur), foram 129 municípios paraenses a integrarem o sistema, quando no ano passado eram apenas 65. A que se deve esse aumento do interesse e participação dos municípios do Pará pelo turismo?

Se deve sobretudo a este trabalho que fazemos de articulação, de estreitamento de relacionamento e de engajamento com todos os atores que possuem interface com a atividade turística no Pará, e não há dúvida, que os municípios, os gestores e

as secretarias municipais de Turismo tem papel importante nesse processo de organização. Para alcançar este resultado, em que praticamente dobramos o número de municípios paraenses no Mapa do Turismo Brasileiro, a Setur promoveu vários seminários regionais e oficinas de mobilização nos seis polos de turismo do Estado: Amazônia Atlântica, Araguaia Tocantins, Belém, Marajó, Tapajós e Xingu. Nestes quatro últimos, inclusive, alcançamos uma taxa de 100% de adesão dos municípios ao Mapa do Mtur. Quais têm sido as ações desenvolvidas pela Setur para levar o turismo ao interior do estado?

Como temos um plano, nosso rumo é sempre muito claro. As ações desenvolvidas estão sempre pautadas no planejamento, que vão desde a qualificação profissional até os investimentos em infraestrutura, passando pela formatação de produtos turísticos, estruturação dos destinos, a acessibilidade nos modais terrestres, aéreos e flúvio marítimos, a promoção, o marketing, organização de uma ampla rede de prestação de serviços, captação de recursos junto ao governo federal e organismos internacionais como o BID, dentre outras. Posso citar, a título de exemplo, no interior do estado a construção dos centros de

convenções de Marabá (já em fase final de acabamento) e de Santarém (com projeto executivo concluído), o programa Voe Pará que facilitou os acessos e fortaleceu a malha aérea regional para outros municípios através da desoneração do combustível de aviação em território paraense, nova lancha executiva e moderno ferry boat operando a Ilha do Marajó, press trips com veículos do Brasil e do exterior, a campanha publicitária em parceria com o MTur denominada “Descubra a Amazônia”, participação em feiras de turismo nacionais e internacionais, o lançamento de aplicativos de moderna interação com o turistas, projeto executivo dos terminais Turístico-Fluvial de Soure e Salvaterra, municípios do Marajó, com recursos captados junto ao governo federal e, especialmente, uma estratégia de constituição de rotas turísticas, que alcança todos os polos turísticos. Atualmente, no Pará, estamos implementando 6 delas: Rota Belém-Bragança, Rota do Queijo do Marajó, Rota do Cacau e Chocolate, Rota da Comida Ribeirinha, Rota do Tapajós do Peixe da Esquina e Rota do Vale do Xingu. Ou seja, um conjunto efetivo de iniciativas que abarca todo o Estado do Pará. E agora, a Feira Internacional de Turismo da Amazônia (FITA) traz os polos turísticos através dos

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› ESPECIAL PARÁ municípios e das rotas para apresentação de todo esse processo de estruturação que vem sendo desenvolvido pela Setur. Infraestrutura turística está a crescer no estado A prossecução da atividade turística tem de estar baseada numa boa infraestru-

Inclusive, recebi a informação que nos próximos dias será iniciada a reforma da pista secundária, o que reitera o que disse quanto ao trabalho feito pela instituição. A estrutura e condições da pista do Aeroporto Internacional de Belém é algo que monitoramos periodicamente e que merece toda nossa atenção.

tura. Como avalia o estado das infraestruturas que servem o turismo no Pará?

O Pará é o estado que detém a melhor infraestrutura de acessibilidade e locomoção, seja aérea, rodoviária ou marítimo fluvial, na região amazônica. Logicamente, somos um estado em construção e ainda existe a necessidade de investir muito nesta direção. Porém, a infraestrutura existente hoje nos permite projetar uma economia do turismo mais a frente daquela que já conseguimos alcançar. Do ponto de vista, da qualificação e da promoção do turismo, temos feitos significativos avanço nos utilizando, principalmente, da tecnologia da informação para podermos avançar com mais celeridade. Temos a compreensão efetiva de se estar permanentemente investindo em ações que nos aproximem dos mercados consumidores, e que também nos coloque em sintonia com um mercado organizado, qualificado e planejado no turismo receptivo. Por vezes têm surgido notícias sobre a necessidade de reforço da pista do aeroporto Internacional de Belém para receber aeronaves de maior porte. Existe algum projeto de reforço dessa importante infraestrutura para o turismo paraenses?

Existe uma relação de parceria com a Infraero local (Superintendência da Região Norte), que nos levaram para reuniões em Brasília, na capital federal, para discutir estas questões com a Infraero nacional e com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), visando o repasse de recursos para melhoramentos das pistas do aeroporto, o que aliás já aconteceram em termos de licitação. Então, a Infraero tem sido uma parceira que está atenta às necessidades, cuidados e zelo que a pista do aeroporto precisa receber, além de ouvir e atender também as nossas solicitações.

54 › PAÍS €CONÓMICO | Outubro 2017

O voo Belém-Lisboa é estratégico Como estão neste momento as ligações aéreas internacionais do Pará? Qual tem sido a evolução dos números do turismo provenientes do restante território brasileiro, bem como da área internacional?

Desde o primeiro ano de operação dos voos internacionais, em 2014, quando tiveram início a linha Belém-Miami, com a Latam, e a Belém-Lisboa, com a TAP, os números de passageiros procedentes do exterior tem crescido ano após anos, de maneira regular e consistente. Um bom balizador deste dado estatístico são os números fornecidos pela Infraero que colocam o Estado do Pará de forma destacada e em primeiro lugar na Região Amazônica no desembarque de passageiros vindos do estrangeiro. Em 2013, recebemos 89 mil turistas internacionais. Este número subiu para 101 mil turistas no ano seguinte. Em 2015, fomos a 107 mil turistas estrangeiros. E no ano passado, chegamos a quase 115 mil visitantes internacionais. Um acréscimo de quase 30% no turismo internacional em 3 anos. Isto mostra o quanto a política estratégica de atração de voos internacionais do Governo do Estado foi acertada. Além destes dois voos já citados, ainda temos as ligações Belém-Paramaribo feita pela GOL e Belém-Caiena operada pela Azul, que também já confirmou a operação da rota Belém-Fort Lauderdale, na Flórida, a partir de dezembro deste ano. E outras estratégias estão no radar da Setur e com negociações em andamento com as companhias aéreas. Em que medida o voo direto Belém-Lisboa tem tido influência no crescimento do turismo paraense? Que novas ações poderão ser desenvolvidas para reforçar os fluxos turísticos para o Pará, sobretu-

do os provenientes de Portugal e da Europa, onde a Amazônia constitui um forte cartão postal a conhecer e a usufruir?

Como vimos nos números que lhe forneci, uma influência extremamente positiva e benéfica para o turismo paraense. Segundo números da Infraero, o voo da TAP apresenta uma taxa de 82,4% de ocupação dos assentos ofertados. É a melhor taxa de aproveitamento de passageiros transportados entre as companhias aéreas que voam ao Pará. Eu sempre digo que a rota Belém-Lisboa construiu uma verdadeira ponte sobre o Oceano Atlântico, permitindo unir e fortalecer relações afetivas e comerciais entre o Pará e Portugal, que por si só, já possuem profundos laços e heranças históricos e culturais. E sobre essa ponte podemos construir diversas ramificações, estendendo o nosso alcance para as demais cidades portuguesas e diversos países europeus até de outros continentes graças às dezenas de ligações que o Aeroporto de Lisboa e a TAP possuem. É algo no qual já estamos trabalhando e estudando a viabilidade dos mercados emissores com maior potencial de atração e interesse no Pará. Quais são os objetivos em termos do próximo ano para assegurar o crescimento, talvez mesmo até acelerá-lo, do turismo no estado do Pará, com o consequente aumento da importância na economia e na sociedade paraense?

O principal é cumprir o planejamento elaborado para alcançar as metas propostas. Esse é o rumo, o norte, a bússola orientadora da missão da Setur. O trabalho é contínuo de articulação junto a classe empresarial e aos gestores públicos municipais, bem como investimento em qualificação e capacitação profissional do setor, ampliação das vias de acessibilidade em seus diferentes níveis de mercado e modais de transporte, de criação e implementação de rotas turísticas, de formatação e consolidação de produtos, promoção, marketing, pesquisas estatísticas, infraestrutura básica, etc. O objetivo maior é o incremento do fluxo e da receita proveniente do turismo como fator de desenvolvimento econômico e social. ‹

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› ESPECIAL PARÁ

MB Group prepara investimento no resort turístico de Santa Bárbara

Será um dos maiores projetos turísticos da Amazónia

N

uma área com cerca de 400 hectares, vai nascer no Município de Santa Bárbara, localizado na Área Metropolitana de Fortaleza, um novo resort turístico, um investimento do MB Group, uma das principais referências de todo o Norte do Brasil na área do real estate, mas que ultimamente tem apostado de forma significativa na área da hotelaria, sendo já o grupo com o maior número de leitos na cidade de Belém, capital do Pará. Num cenário de grande beleza paisagística e ambiental, mesmo em frente da famosa Ilha do Mosqueiro, o resort de Santa Bárbara implicará um investimento global na ordem dos 600 milhões de reais (cerca de 180 milhões de euros), e terá uma grande área imobiliária e turística, mas com grande preocupação e sustentabilidade ambiental. Segundo os promotores, o VGV (Valor Global de Vendas) estimado para o empreendimento apenas no tocante ao desenvolvimento imobiliário, isto é, não considerando as receitas geradas pelo hotel, restaurantes, clube, marina e serviços em geral, alcançará cerca de dois biliões de reais para o desenvolvimento total em prazo estimado entre 10 a 20 anos, com o seu início previsto já para 2018, com o lançamento da primeira fase. Desenvolvido numa parceria entre o arquiteto Fábio Mello e a IMAGIC Brasil, o empreendimento ficará situado junto à principal via rodoviária que liga a cidade de Belém e a Ilha do Mosqueiro. O projeto contempla uma unidade hoteleira de cinco estrelas, vários condomínios residenciais e turísticos bem enquadrados no ambiente paisagístico que os rodeia, assim como vários equipamentos onde se destacarão um parque temático, marina, pista de pouso, equipamentos de desporto, hotel, unidades imobiliárias unifamiliares e multifamiliares, além de uma vasta oferta de serviços e lazer, estando também assegurada as questões vitais da segurança e infraestrutura a condizer com as exigências da vida moderna. Segundo a País Económico conseguiu saber, o licenciamento ambiental está em fase final para a emissão de Licença Prévia, tendo sido já cumpridas diversas etapas que a legislação ambiental e turística obriga no Brasil, tanto a nível municipal, estadual e federal. ‹

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› ESPECIAL PARÁ

FITA movimentou 30 mil pessoas no Hangar

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TEXTO › ISRAEL PEGADO

| FOTOGRAFIA › ISRAEL PEGADO

om o objetivo de reunir os principais segmentos, produtos e serviços de empresas de turismo e gastronomia, e todas as seis regiões turísticas do Pará, a Feira Internacional de Turismo da Amazônia (FITA) chegou ao fim dos quatro dias do evento, com um balanço de saldo positivo. Ao todo, cerca de 30 mil pessoas visitaram a oitava edição da feira realizada no Hangar, que movimentou negócios na ordem dos 5 milhões de reais, de acordo com números da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará (Faciapa), responsável pela realização da feira promovida pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado do Turismo (Setur). A programação da FITA incluiu a Oca do Conhecimento com seminários, palestras, oficinas e casos de sucesso, a Vitrine Cultural com produtos do arranjo produtivo local do programa Alimentação Fora do Lar, a produção das rotas turísticas implementadas pela Setur (Belém-Bragança, do Queijo do Marajó, do Cacau e Chocolate, do Vale do Xingu, da Comida Ribeirinha e Peixe da Esquina), espaço destinado ao Passaporte Pará para comercialização de destinos, rotas, roteiros e produtos turísticos do Estado, homenagens a São Benedito e Nossa Senhora de Nazaré, além de apresentações culturais de artistas e a gastronomia dos seis polos de turismo paraense: Belém, Amazônia Atlântica, Araguaia Tocantins, Marajó, Tapajós e Xingu. Segundo Fábio Lúcio, presidente da Faciapa, «a gente pensava em 25 mil pessoas nos quatro dias, mas deverão ter chegado aos 30 mil. Foram 120 estandes, com 150 expositores, 35 palestras, workshops e outras reuniões que aconteceram setorizadas, como as agências de viagens que se reuniram e não estavam dentro da programação. Os negócios fechados estiveram na ordem dos 5 milhões de reais, na feira e pós-feira. Tem negócio fechado na feira, mas que vai depois dar continuidade. Hotéis e pousadas do interior dos Guarás, que venderam muitos pacotes para o período após a feira». Ainda segundo o responsável da Faciapa, «nós precisamos de vender o Pará não só para o mundo e para o Brasil, mas vender o

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Pará para o próprio paraense. Quando a Setur chamou a Faciapa, o objetivo era unir a força do poder público com a força da iniciativa privada. E quem faz esses negócios? É a iniciativa privada. A união de forças fez com que a gente entendesse melhor esse sistema, unindo o empresário ao que o governo oferece, para que possamos vender as riquezas, culinária e a cultura do Pará. Muitos paraenses ainda não conhecem o Pará, que é um estado continental», salientou Fábio Lúcio. Por sua vez, o secretário de Estado do Turismo do Pará, Adenauer Góes, definiu a importância da FITA como elemento agregador para o fortalecimento de um pacto em prol do turismo. «A FITA tem como objetivo energizar o setor e consolidar produtos do destino turístico Pará. Essa é uma proposta de integração em torno de uma atividade econômica, que é o turismo, e de uma região que é a Amazônia. Um pacto entre a gestão pública, empresariado e sociedade. A Amazônia representa 60% do território brasileiro. Mas o Brasil ainda desconhece essa região em vários aspectos. A FITA nasceu com essa proposta de congregar os países da Pan Amazônia, tendo o turismo como vetor capaz de diminuir essas distâncias». Um exemplo das potencialidades da Amazônia se mostrar cada vez mais ao mundo foi bem exemplificado pelo sócio-proprietário do Hotel Fazenda Vitória, Robson Gonzaga Martins, que sublinhou que a feira foi uma vitrine importante. «Já somos um pouco conhecidos na nossa região, mas aqui tem gente de todo o canto do Brasil. Pessoas que ainda não nos conhecem têm a oportunidade de conhecer a gente mais de perto e tirar as dúvidas do nosso pacote, que é muito diferenciado da normalidade dos hotéis. Foi muito bom para o nosso negócio. Assim que tiver outra feira igual a essa vou estar presente. Além de fazer novos contatos, estou tendo contato direto agora com Portugal. Provavelmente, vamos fechar grupo direto de Portugal para o hotel», informou Robson Martins. ‹

Seminário destaca fatores de integração da PanAmazônia Os palestrantes do Seminário de Cooperação da PanAmazônia para o Desenvolvimento do Turismo e Gastronomia, manifestaram posição a favor de que os segmentos produtivos do turismo, gastronomia e aéreo são importantes ferramentas para integrar os países que formam a chamada região da PanAmazônia, demarcada por territórios que ocupam o bioma amazônico. O evento, que foi moderado pelo secretário de Estado de Turismo do Pará, Adenauer Góes, teve a apresentação do por-

tófio de ações, projetos, compromissos e realizações da Associação PanAmazônia, entidade criada há dez anos, com sede em Manaus, e representada na FITA pelo diretor-executivo, Belisário Arce. Segundo Seixas Lourenço, ex-reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), «a Amazônia tem uma marca, tem um simbolismo muito forte, então imagine se a gente consegue os meios de infraestrutura, que aqui foram colocados neste seminário, de acessibilidade aérea, que permita, por exemplo receber o contin-

gente de chineses que fazem turismo no mundo hoje, estimado em duzentos milhões de pessoas circulando pelo mundo. Nós temos a chance de fazer do turismo uma meta», sublinhou o professor universitário. Decorrente desta edição da FITA, existe uma forte possibilidade da empresa aérea Avor Airlines, da Venezuela, de passar no futuro a operar em Belém, e integrar a PanAmazônia, fazendo ligações da capital paraense com a Venezuela, Colômbia, Peru e outras capitais da região. ‹

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› ESPECIAL PARÁ Eduardo Souza, empresário que vai lançar projeto “Amazônia Novos Portugais”

Portugal vai conhecer o melhor da gastronomia paraense A gastronomia da Amazônia possui reconhecimento singular e é considerada a mais original de todo o Brasil. O desafio lançado pelo empresário paraense Eduardo Souza, é apresentar o melhor da gastronomia paraense ao público português, apresentando um cardápio variado e de alta qualidade confecionado pelo afamado Chef paraense Ofir Oliveira. O primeiro resultado será um Jantar Paraense no dia 15 de novembro, que se realizará no Hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa. Depois outros eventos se seguirão para apresentar o melhor da gastronomia paraense ao público português e europeu, pois o projeto passa também por trazer e comercializar os mais típicos produtos alimentares paraenses em Portugal e na Europa. No próximo dia 15 de novembro vai promover, em parceria com a Vila Galé, o primeiro Jantar Paraense, que pretende mostrar o melhor da gastronomia paraense no quadro de um projeto para trazer mais produtos da Amazónia para Portugal e a Europa. Que projeto é esse?

“Amazônia Novos Portugais” é um festival promocional de turismo, gastronomia e negócios entre o Pará e Portugal, que acontece no Hotel Vila Galé Ópera em Lisboa, entre os dias 13 e 16 de novembro de 2017.

A primeira ação do evento é um workshop de gastronomia amazónica para 20 chefs portugueses. O renomado Chef Ofir Oliveira apresenta os sabores e ensina alguns segredos da culinária amazónica de raiz, a fim de difundir estes ingredientes, conhecimentos e práticas na Europa. O evento segue com um jantar para 150 convidados, um encontro entre as cidades homônimas paraenses e portuguesas com o intuito de desenvolver projetos entre si e uma rodada de negócios entre empresários dos dois países. “Amazônia Novos Portugais” apresenta o potencial cultural e comercial do Pará, ampliando as possibilidades de negócio e turismo e gastronomia, e atraindo a atenção da Europa para elementos do património cultural amazônico que apontam para o futuro como a gastronomia, o turismo de base, produtos orgânicos e comunidades tradicionais. O Instituto Cultural Amazônia Brasil, o Instituto Sabor Selvagem e a Rede de Hotéis Vila Galé se uniram com o objetivo comum de promover o intercâmbio entre os dois países e assim dar início a um projeto de longo prazo que visa o fomento do turismo cultural, gastronómico e comunitário da Amazônia, a abertura do espaço para a gastronomia paraense na Europa e a criação de laços comerciais entre o Pará e Portugal. O que vai ser o Jantar do dia 15 de novembro? Quem confecionará os pratos e iguarias que vão

Tapiocacá

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ser apresentados?

Será um jantar promocional da gastronomia paraense onde o público português terá a oportunidade de conhecer produtos, receitas e técnicas culinárias milenares a partir de uma vasta degustação de ingredientes exóticos e sabores extremamente requintados da floresta, e que são considerados pelos maiores chefs da atualidade como o berço da culinária do futuro. O jantar será confecionado pelo renomado Chef Ofir Oliveira, que há mais de 40 anos coordena o projeto Sabor Selvagem, que utiliza a gastronomia para desenvolver ações culturais, sociais e económicas que gerem retorno para a Amazônia e para as comunidades tradicionais que vivem da floresta. Quem serão as pessoas, entidades e empresas, que estarão no

mútuo entre as cidades homônimas paraenses e portuguesas em desenvolver projetos entre si, e para tanto serão convidados os prefeitos de 25 cidades paraenses e 25 cidades portuguesas para participarem no jantar no dia 15 de novembro em Lisboa, com o objetivo de estimular essas parcerias e gerar ações concretas e positivas para ambos os lugares em diferentes campos da economia, como o turismo, hotelaria, gastronomia, entretenimento, produtos, entre outros. Que produtos do Pará considera com mais potencial para vingar no mercado português e europeu?

A Amazônia oferece uma infinidade de especiarias que sem dúvida ganharão o mercado português, europeu e mundial. Mas para

referido jantar em Lisboa?

Será um jantar para 150 convidados entre empresários, jornalistas, distribuidores, importadores, chefes de cozinha, críticos gastronómicos e formadores de opinião do ramo da restauração, turismo e entretenimento, no intuito de despertar o interesse de instituições portuguesas na Amazônia e na inserção de itens culinários amazónicos no mercado consumidor português. Jantar Paraense é instrumento para intercâmbio cultural e comercial Sabemos que no dia seguinte decorrerá um encontro de empresários paraenses e portugueses para tentar que haja mais comércio entre os dois lados do Atlântico, sobretudo no setor alimentar. Qual o objetivo deste encontro?

O objetivo do encontro é estimular o intercâmbio cultural e comercial a partir de parcerias formadas entre entidades governamentais e empresariais no intuito de fomentar o turismo e os negócios entre os dois países. Uma das motivações é gerar interesse

Peixe com Arubé

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› ESPECIAL PARÁ permitem aumentar substancialmente as relações comerciais entre o Pará e Portugal?

Sem dúvida. Hoje temos três voos semanais de sete horas saindo direto de Belém para Lisboa, além da rota marítima para transportes de grandes quantidades, portanto a logística necessária para a realização de projetos de grande porte como os festivais culturais e gastronómicos que nos propomos realizar, além da criação de uma nova rota de especiarias entre o Pará e Portugal a partir dos produtos apresentados nos eventos. Pretendemos abrir mercado para produtos amazónicos em Portugal e produtos portugueses no Brasil. Dentro dessa perspetiva o projeto que se está desenhando para o início de 2018 é um roadshow que percorrerá 8 hotéis Vila Galé em Portugal (Lisboa, Cascais, Coimbra, Porto, Douro, Évora, Tavira e Albufeira) levando o que há de melhor de culinária, música e arte amazónica para Portugal, culminando em setembro de 2018 com o I Encontro Luso-Amazônico de Cidades Homônimas Portuguesas no Pará.

Eduardo Souza

o início deste processo acreditamos muito mais em 5 desses produtos, que é o tucupi - sumo de mandioca que serve como molho, mostarda e caldo; a farinha que se apresenta em diversos tipos: d’água, de tapioca, de coco; o café de Vigia, local onde foram plantados os primeiros pés de café do Brasil trazidos da Guiana Francesa em 1717; o mel de uruçu extraído da abelha indígena que se alimenta de árvores de docéis altos, como castanheira, açaizeiro, caneleira, abacateiro, flor de laranjeira; e o chocolate artesanal feito de cacau selvagem da várzea e da floresta amazónica. São produtos diferenciados, de alto valor histórico, cultural e económico, e com sabores extremamente sofisticados e capazes de arrebatar paladares em qualquer canto do mundo. Há condições para colocar os produtos da Amazônia na Europa A atual logística – transportes aéreos e ligações marítimas –

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Hospital da Beneficente Portuguesa inaugurou primeira fase da expansão

Comunidade portuguesa melhora saúde em Belém Com a presença do ministro brasileiro Hélder Barbalho, e do embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, foi inaugurado primeiro dos quatro blocos previstos da nova expansão do Hospital Dom Luiz I, pertencente à Beneficente Portuguesa em Belém, capital do estado do Pará. Esta primeira fase da obra custou 9 milhões de reais, sendo que a sua globalidade está prevista para ascender aos 140 milhões reais, tendo assegurado o apoio do FNO, através do Banco da Amazônia. Segundo o presidente do hospital, Francisco França, «nós começámos a obra sem saber se teríamos o financiamento, mas hoje, com a certeza de que teremos o restante dos recursos, já podemos estabelecer o prazo de cinco anos para a conclusão do nosso projeto». O ministro Hélder Barbalho manifestou o testemunho de «este hospital, que por sinal é o local onde eu nasci, está sendo ampliado para prestar serviços ainda melhores para a população

do Pará, e mais feliz ainda pelo alcance que o FNO está tendo para o desenvolvimento do Pará e da Amazônia». A finalizar, o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, referiu que o hospital é o orgulho da vasta comunidade portuguesa no Pará e que «continua a crescer no Pará,

contribuindo com a saúde e com o estado, que sempre acolheu muito bem a comunidade portuguesa». A nova ala da UTI recebeu o nome de Antonio Duarte Oliveira, que é um dos beneméritos da Beneficente Portuguesa no Pará. ‹

UFPA vai ter Cátedra do Instituto Camões

Esse projeto empresarial que pretende implementar para trazer produtos do Pará para Portugal será para implementar quando? E que objetivos concretos pretenderá alcançar?

Estamos vivendo um período de ascensão da culinária amazónica no mundo, onde a cidade de Belém se destaca como uma das Cidades Criativas da Gastronomia no mundo, elegida recentemente pela Unesco, como sendo um potencial destino para o turismo cultural e gastronómico na Amazônia Brasileira. Acreditamos que este evento tem especial importância neste processo, não apenas pelo seu caráter cultura e de entretenimento, mas por representar um marco na relação entre os dois países a partir de uma nova rota das especiais e intercâmbio que se está construindo entre eles. Nossa ideia é que estes laços comerciais se concretizem a partir de 2018, e que gerem retorno para toda a cadeia produtiva, desde as comunidades tradicionais do interior da Amazônia até às vitrines, lojas, cardápios e hotéis de Portugal. ‹

Círio de Nazaré em Belém é a maior procissão católica do Mundo O Círio de Nazaré, em devoção a Nossa Senhora de Nazaré, é a maior manifestação católica do Brasil e a maior romaria do catolicismo no mundo. Reunindo anualmente mais de dois milhões de pessoas, com o ponto alto no segundo domingo de outubro, o Círio foi instituído em 1773 em Belém do Pará, embora o culto da devoção à Nossa Senhora da Nazaré, no Pará, se tenha iniciado na povoação de Vigia, em 1700. Desde 1882 que a procissão do Círio sai da Catedral da Sé de Belém, percorre as principais avenidas da cidade fundada em 1616 pelos portugueses e acaba junto à Igreja de Nazaré, no bairro com o mesmo nome. No próximo domingo será o ponto alto do Círio deste ano, movimentando novamente mais de dois milhões de pessoas em Belém. ‹

O embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, assinou no dia 29 de setembro, em Belém, o protocolo que cria a Cátedra Instituo Camões João Lúcio de Azevedo na UFPA – Universidade Federal do Pará. O acordo foi assinado em conjunto com o reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, tendo o representante da diplomacia portuguesa sublinhado que «a criação da cátedra é passo decisivo na afirmação do interesse comum na investigação e pesquisa nas áreas da cultura, história e literatura de Portugal e da Amazônia». ‹

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› ESPECIAL PARÁ Reginaldo Ferreira, Presidente da Câmara Portuguesa de Comércio Brasil/Pará

Queremos criar a Casa de Portugal em Belém O início das ligações aéreas diretas entre Belém e Lisboa, o que ocorreu a partir de junho de 2014, mudou bastante o relacionamento entre o Pará e Portugal. Reginaldo Ferreira, Presidente da Câmara Portuguesa de Comércio Brasil/Pará, entidade que já conta com 101 anos de história em prol do desenvolvimento das relações luso-paraenses, defende que existe ainda muito espaço para crescer nas trocas comerciais e de investimento entre o Pará e Portugal, e anuncia o projeto de criar em Belém, a capital do estado do Pará, a Casa de Portugal, que será um espaço para dinamizar a relação cultural dos lusoparaenses com Portugal, mas igualmente para estimular os empresários de ambos os lados a fazerem mais negócios e parcerias económicas. Existem sinais de dinamização das relações comerciais entre o Pará e Portugal. Qual é a avaliação da Câmara Portuguesa do Pará sobre a evolução dessas relações entre o Pará e Portugal?

Entendemos que os negócios ainda são tímidos. Pouco tem se conseguido em termos de negócios objetivos, apesar dos esforços despendidos pelos setores empresariais e governamentais. Penso que, com o início de uma fase mais equilibrada da nossa política, e consequentemente da economia, poderemos voltar ao radar dos empresários portugueses, para investimentos e negócios comerciais.

pos empresariais com competência e expertise para criar as necessárias infraestruturas, assim potencializando maior intercambio comercial com o mundo. Quais são os setores da economia paraense que poderão ser mais interessantes para investimentos externos, nomeadamente portugueses?

para o crescimento dessas relações económicas entre os dois

Somos ricos em recursos naturais. Além dos minérios, que podem ser transformados aqui em produtos acabados, temos madeiras, couro bovino (quarto maior rebanho bovino brasileiro, com couro da melhor qualidade), frutas, nomeadamente o açaí, o cacau e as melhores frutas amazónicas como o cupuaçú, o bacuri, o uxi, em suma, alta qualidade e pouco ou nada conhecida pelo mercado português, sem concorrência.

lados do Atlântico? É possível aproveitar ainda mais esses voos

O que tem sido feito, tanto pelo governo do estado, como por

entre Belém e Lisboa para crescer no comércio entre ambos os

outras entidades, como a Câmara Portuguesa do Pará, para

lados?

atrair mais investimentos e negócios portugueses e/ou euro-

Pensamos que sim. Os voos possibilitam a vinda de potenciais clientes e investidores, que normalmente não teriam a oportunidade confortável de vir aqui. O Pará, apesar de fascinante e pleno de oportunidades, é desconhecido da maioria dos portugueses. Um voo direto – no momento, três por semana – possibilita sem dúvida maior aproximação. Temos registro de inúmeros paraenses que passaram a ir a Lisboa, investindo em Portugal principalmente em imóveis mas também em outros negócios.

peus para o Pará?

Em que medida o começo dos voos diretos em junho de 2014 entre Belém e Lisboa, tem servido como elemento importante

O Pará dispõe dos portos brasileiros mais próximos da Europa, da América do Norte, e da Ásia Oriental, por via do Canal do Panamá. Todavia, a infraestrutura de acesso a esses portos paraenses, ainda não é a ideal. O que falta para os portos do Pará

Temos promovido alguns encontros de empresário e governos em Belém do Pará e em Portugal. Nomeadamente promovemos em junho de 2016 o VIII Encontro de Negócios na Língua Portuguesa, com uma boa participação de empresários, aqui. Algumas missões paraenses a Portugal, tentando atrair a atenção de nossos clientes em potencial, apresentando nossas oportunidades. Da parte do Governo do Estado, algumas iniciativas têm sido tomadas pela Secretaria do Turismo e pela Companhia de Desenvolvimento do Estado/CODEC, sempre com o total apoio da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil/Pará. Sabemos que leva tempo, mas estamos correndo.

serem as grandes portas de saída, ou de entrada, dos bens comerciais na relação do Brasil com o Mundo?

Políticas públicas bem definidas e aplicadas. Com a anunciada privatização dos portos, acreditamos que poderemos atrair gru-

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Criar Casa de Portugal em Belém Estão previstas a breve prazo novas ações que possam beneficiar a presença de empresas ou profissionais portugueses no Pará?

Sim. Estamos criando a Casa de Portugal em Belém, onde pretendemos oferecer oportunidades de negócios a empresários portugueses em parceria com empresários locais, de todos os portes. Nomeadamente nas áreas de restaurantes, docerias, garrafeiras, produtos enchidos, azulejaria. Importantes também são as possibilidades para as pequenas e inovadoras empresas portuguesas, strart ups, com parceiros brasileiros prontos a apoiá-las. Fala-se que a comunidade luso-paraense é grande e economicamente forte. Como avalia a importância dessa comunidade na economia e na sociedade do Pará?

Na economia podemos garantir que uma enorme parte da nossa sustentação é oriunda do trabalho, da competência e da persistência dos portugueses que trabalharam duro desde que aqui chegaram para construir as suas vidas. Na parte social, alguns

dos nossos melhores clubes foram fundados e/ou são tocados por portugueses, como é o caso do Grêmio Literário e Recreativo Português, com um público frequentador de cerca de 10.000 pessoas. Não podemos deixar de destacar a Tuna Luso Brasileira, com intensa atividade desportiva e a sua fundamental escolinha para atletas do futuro. Como vê o futuro do relacionamento entre o Pará e Portugal?

Com muito otimismo. Como sempre falo, nossos mercados são complementares e possuem dimensões compatíveis. Os paraenses, em geral, amam Portugal. Todos crescemos ouvindo maravilhas de Portugal, o que, fatalmente, cria uma expetativa que precisa ser confirmada com repetidas visitas, que geram cada vez mais paixão. Por outro lado, oferecemos aos portugueses experiências novas e fascinantes, a baixo custo. Creio que se trata de uma sinergia óbvia, um verdadeiro ganha/ganha. ‹

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› A FECHAR Câmara de Comércio e Indústria Luso Brasileira distingue personalidades dos dois países

Sinal do reforço das relações luso-brasileiras A Câmara de Comércio e Indústria Luso Brasileira (CCILB), presidida por Francisco Murteira Nabo, vai entregar no próximo dia 25 de outubro, os prémios “Personalidade do Ano” e “Dário Castro Alves”, distinções para personalidades portuguesas e brasileiras que neste ano se distinguiram empresarialmente no reforço e desenvolvimento das relações entre Portugal e o Brasil. Será no espaço do Espelho de Água, em Lisboa, que Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo Vila Galé, enquanto personalidade portuguesa distinguida, e Benjamin Steinbruch, presidente da Lusosider e CEO da Companhia Nacional Siderúrgica (Brasil), enquanto personalidade brasileira, vão ser distinguidos com o prémio “Personalidade do Ano”. O prémio Dário Castro Alves, será empresa ao empresário luso-brasileiro André Jordan, um nome incontornável no desenvolvimento do turismo em Portugal e que muito tem contribuído para o desenvolvimento das relações entre os dois países. Antes da cerimónia da entrega de prémios acontecerá uma conferência do Ministro da Integração Nacional do Brasil, Hélder Barbalho, que abordará as importantes oportunidades que existem para investimentos e negócios de empresas portuguesas no Brasil, bem como para a evolução e aprofundamento das relações socioeconómicas entre o Brasil e Portugal. ‹

Transinsular Mari Alkatiri quer reforçar reforça ligações parceria com Portugal O novo Primeiro-Ministro de Timor-Leste, Mari Alkatiri, sublinhou no seu discurso a Cabo Verde de posse em Díli, que pretende «reforçar a expansão da parceria histórica de TimorA Transinsular, detida pelo Grupo ETE, e atualmente o maior armador português de marinha de comércio, reforçou o seu serviço “África Expresso”, tendo entrado já em funcionamento uma nova e mais competitiva solução de transporte de carga entre Portugal e Cabo Verde. Atualmente, o serviço “África Expresso” é o único direto (sem transbordo) com frequência a cada 10 dias desde Portugal (Leixões e Lisboa) para o Mindelo, Praia, Sal e Boavista. Segundo Miguel Gomes, CEO da Transinsular, «com esta aposta, a Transinsular otimiza as soluções de transporte de mercadorias para os mercados de Cabo Verde, e também para a Guiné-Bissau, Mauritânia e Canárias, consolidando a sua posição como parceiro preferencial no transporte de exportação de peixe para a Europa, e ainda garante a ligação entre estes e os mercados do Norte da Europa, Báltico, Mediterrâneo e Ásia, entre outros». ‹

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-Leste com Portugal, sobretudo na educação de qualidade, mas também nos setores de transporte marítimo, construção e manutenção naval e em investimento direto». Por isso, acrescentou o novo líder do governo timorense, «a cooperação bilateral com Portugal deve ser revista e redimensionada». Mari Alkatiri também defendeu o aprofundamento do relacionamento com os países da CPLP e da União Europeia, além naturalmente dos países vizinhos, como sejam a Austrália e a Indonésia. ‹

Mota-Engil ganha obras em Angola e Moçambique A Mota-Engil anunciou em final de setembro, ter obtido novas obras no continente africano, com relevo para Angola, Moçambique e Costa do Marfim. O maior dos contratos foi adjudicado à Mota-Engil África em Moçambique, no valor de 374 milhões de euros, num projeto adjudicado pela Vale e que inclui a execução de serviços mineiros que englobam a perfuração, fornecimento de explosivos, carga e transporte de estéril e carvão, e no projeto mineiro de carvão de Moatize. Já em Angola, num contrato de 64 milhões de euros, adjudicado pelo governo da província de Luanda, corresponde à terceira fase do projeto para a renovação das ruas de Luanda. Finalmente, a Mota-Engil anunciou também ter obtido um contrato de 320 milhões de euros na Costa do Marfim, para um projeto na área dos resíduos. ‹

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