AS MULHERES NA POLÍTICA E A POLÍTICA NA VIDA DAS MULHERES:OLHARES SOBRE A ATER MULHER NO SERTÃO/PE

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[...] o feminismo era um protesto contra a exclusão política da mulher: seu objetivo era eliminar as “diferenças sexuais” na política, mas a reivindicação tinha de ser feita em nome das “mulheres” (um produto do próprio discurso da diferença). Na medida quem que o feminismo defendia as “mulheres”, acabava por alimentar a “diferença sexual” que procurava eliminar. Esse paradoxo- a necessidade de, a um só tempo, aceitar e recusar a “diferença sexual” - permeou o feminismo como movimento político por toda a sua longa história (SCOTT, 2002, p. 27).

É a partir das questões identificadas nesse capítulo, que orientamos nosso arcabouço teórico nesse trabalho, que nos ajuda a entender a complexidade da ATER Mulher, e identificar os desafios e capacidades apontadas nessa experiência para superação da ordem patriarcal de gênero na família e no Estado. Como analisa Saffioti:

onde há dominação-exploração, há resistência de grau mais forte ou menos forte. Em grande parte dos casos a ordem masculina acaba por vencer. [..] há porem, grandes contingentes de mulheres, cuja reação insiste no caminho da transgressão da ordem masculina, respondendo pelas mudanças operadas na relação homem-mulher. Onde há relações de dominação, exploração, há resistência, há luta, há conflitos, que se expressam [...] (SAFFIOTI, 2009, p. 26).

No próximo capítulo vamos analisar o processo de construção da política de ATER no Brasil, especificamente ATER Mulher, os marcos importantes na relação entre o governo federal, e o extinto Ministério de Desenvolvimento Agrário-MDA, a criação da Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais e Quilombolas-DPMRQ, sua relação com o Estado e com os movimentos sociais de mulheres rurais e feministas. Assim, nos propomos a perguntar: Quais as estratégias, dificuldades, capacidades e potencialidades acumuladas no período da gestão dessa Diretoria em favor de uma política específica de ATER para as mulheres? Para tal, entrevistamos duas ex gestoras da DPMRQ, que a partir de suas narrativas, nos mostram algumas questões que foram sendo enfrentadas, tanto para “dentro” do Estado, quanto em relação ao diálogo com a sociedade civil. Para tal, analisaremos o papel do Comitê Gestor de Organização Produtiva, instância de diálogo com os movimentos de mulheres dessa Diretoria.

3 CAPÍTULO 3 - POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL PARA MULHERES: DA FORMULAÇÃO À MATERIALIZAÇÃO 3.1 AS MULHERES RURAIS E A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL: O PATRIARCADO NO ESTADO E NA FAMÍLIA


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