Exposição "Montijo: memórias, identidade e futuro"

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Montijo memórias, identidade e futuro

ontijo: memórias, identidade e futuro constitui uma abordagem que se pretende M abrangente, sem pretensão de ser exaustiva, dos momentos marcantes da história e da riqueza das tradições locais do nosso concelho.

Das Origens à Aldeia Galega Primeiros vestígios arqueológicos A presença humana deixou vestígios na área do concelho do Montijo, em locais como o Samouco, na zona norte da actual Base Aérea n.º 6. Ao longo da ribeira de Canha existem, igualmente, vestígios do período Neolítico e mesmo do Calcolítico. Do período romano, na herdade do Escatelar (Canha) existem diversos vestígios arqueológicos, entre cerâmica comum, um fragmento de mosaico decorado com motivos geométricos, atribuído ao século II, uma moeda de 1 denário do século I.

Pico Micoquense em quartzito. Datado do paleolítico inferior Proveniente da Base Aérea n.º 6, Montijo.

As Origens de Aldeia Galega

O

documento mais antigo que se conhece, até agora, sobre o Montijo – a doação feita por D. Sancho I a Sancho Fernandes, mestre da milícia da Ordem de Santiago, em 1186, dos castelos de Alcácer, Palmela, Almada e Arruda, com seus termos —, apenas se refere a uma das suas freguesias, a de Canha, e só indirectamente à área da actual cidade, quando indica como termos dos castelos de Palmela e de Almada, todas as terras desde Canha até ao mar. (FC)

Em 1634, no seu atlas manuscrito La descripción de España y de las costas y puertos de sus reinos, o cosmógrafo português Pedro Teixeira Albernaz assinala Aldeia Galega com moinho e cais. Fragmento de mosaico romano. Herdade do Escatelar. Canha.

Bordo de ânfora. Herdade do Escatelar. Canha.

N

o tombo da antiga Albergaria de Aldeia Galega do Ribatejo, elaborado naquele ano, é mencionado um conjunto de 3 ruas da então vila de Aldeia Galega do Ribatejo: a Rua Direita (hoje, Rua Almirante Cândido dos Reis), assim designada, à semelhança do que acontece com outras localidades do país, por ligar elementos essenciais da estrutura da vila – no caso, a Igreja do Espírito Santo, já referenciada no ano de 1409; a Rua da Torre (hoje, Rua do Hospital), por nela ter existido uma “casa torre”, isto é, uma casa com 2 andares ou sobrados; e a Rua do Poço (hoje, Rua Machado Santos), por se dirigir ao poço da vila, situado no Vale da Estrema (hoje, Pra-

Foral de Alcochete e Aldeia Galega, 1515 (MMA)

(O manuscrito foi recentemente divulgado pela obra El Atlas del Rey Planeta, Editorial Nerea, 2003)

ça 1º de Maio), sensivelmente, onde, actualmente, existe um marco de correio. Encontram-se, ainda, referências, no mesmo tombo, à Azinhaga de Traz (actual Rua da Misericórdia) e ao Curral do Concelho (na zona onde presentemente se encontra o mercado municipal). Noutro documento da época – a demarcação feita, em 1498, por D. Manuel I dos bens da vila de Aldeia Galega do concelho de Santa Maria da Sabonha –, são mencionados, ainda, 2 rossios: o rossio pequeno, junto da Igreja do Espírito Santo; e o rossio grande, depois conhecido por Vale da Extrema, na zona da actual Praça 1º de Maio.

O poço da vila, no rossio grande, depois conhecido por Vale da Extrema, na zona da actual Praça 1º de Maio, Montijo.

Julgamos que a própria criação deste aglomerado populacional, na actual zona do Montijo, ficou a dever-se à deslocação, no século XIV, do cais de ligação fluvial entre Lisboa e o Sul, da foz do chamado rio do Montijo (local mais conhecido por ponta do Montijo) para uma localização mais a montante e próxima da localidade actual. Até aos finais do século XIV, o lugar de Aldeia Galega do Ribatejo pertenceu, juntamente com os da Sabonha, Alcochete e Alhos Vedros, ao chamado concelho do Ribatejo, que por sua vez tinha por vizinhos, na margem sul do Tejo, os concelhos de Palmela, Setúbal, Sesimbra, Coina e Almada. Entre os finais do século XIV e princípios do século XVI, Aldeia Galega do Ribatejo pertenceu à Freguesia e Concelho de Santa Maria da Sabonha. Segundo o Livro da Vereação do referido concelho para os anos de 1421 e 1422 (cf.: José Manuel Vargas – Livro da Vereação de Alcochete e Aldeia Galega, Alcochete, Câmara Municipal, 2005), Aldeia Galega tinha juiz ordinário, meirinho e porteiro; a barca de Aldeia Galega fazia o transbordo de passageiros para Lisboa e o pescador existente pescava, entre outros peixes, o cação. No século XV, durante o reinado de D. Afonso V (1438-1481) sabese, igualmente, que estas terras pertenciam à chamada “coutada velha”, couto este que abrangia, no todo ou em parte, os actuais concelhos de Tomar, Abrantes, Vila Nova da Barquinha, Constância, Chamusca, Ponte de Sor, Alpiarça, Almeirim, Salvaterra de Magos, Coruche, Mora, Montemor-o-novo, Vendas Novas, Montijo, Palmela e Benavente. (FC)

Carranca de pedra medieval. Rua do Hospital, Montijo.

Do Município à República

A

partir dos finais do século XV, o antigo lugar de Aldeia Galega conquistou, progressivamente, autonomia administrativa. No tombo da Albergaria do Espírito Santo de Aldeia Galega do Ribatejo, em 1489, a localidade aparece-nos com o título de vila e um estatuto muito próximo de concelho. Em 1512, por altura da visitação feita pelo próprio D. Jorge, mestre da Ordem de Santiago, já a vila de Aldeia Galega do Ribatejo era concelho, distinto do da Sabonha: as eleições eram autónomas, para cada uma das antigas vilas do concelho (Aldeia Galega e Alcochete); nesta mesma visitação, é referida a demarcação havida entre Aldeia Galega do Ribatejo e Alcochete, pela qual esta última teria ficado com a antiga sede concelhia, a Sabonha, e Aldeia Galega com a Atalaia. As referidas visitações feitas a Aldeia Galega são, mesmo, depositadas “na arca do concelho”. Continua, porém, a Igreja de Nossa Tribunal e Cadeia de Aldeia Galega, inaugurado em 1879. Actual edifício dos Paços do Concelho. Senhora da Sabonha a

ocupar o lugar de “matriz e cabeça das igrejas d’Alcouchete e d’Alldeagallega e do Samouco e da Povoa e de Sarilhos por que todos estes lugares sam sua freguesia” (IAN/TT, Ordem de Santiago, Códice 156, f. 37 v). Viajantes Um dia festivo para a vila de Aldeia Galega aconteceu por ocasião da cerimónia inaugural do Tribunal de Aldeia Galega do Ribatejo, hoje edifício dos Paços do Concelho, no dia 25 de Maio de 1879. A comitiva composta pelo Presidente do Conselho de Ministros, Fontes Pereira de Melo, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Andrade Corvo e pelo Ministro da Justiça, Couto Monteiro, foi recebida no cais dos vapores, por volta das 14 horas, por entre vivas à Família Real, foguetes e os acordes do hino nacional, tocado pela Banda da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro. A posição estratégica de Aldeia Galega, nas comunicações de Lisboa para o sul do país, para além de honrarias e festividades, foi, igualmente, responsável por muitos dissabores. Por aqui entraram, aquando das Invasões Francesas, as forças do General Luís Henrique Loison, o “Maneta”, por alcunha, no dia 25 de Julho de 1808, com ordens do General Junot para combater uma rebelião em Évora. A passagem das forças francesas, transportadas em 7 barcos,

pelo concelho de Aldeia Galega foi responsável pelos saques que se verificaram na ermida da Atalaia. Igualmente, por ocasião das Guerras Liberais, a vila ocupa uma posição estratégica, desta feita, na própria defesa de Lisboa. Em 1834, perante a artilharia da fragata D. Pedro, fundeada junto à vila, desde 1833, o General Azevedo Lemos é obrigado a prosseguir a sua marcha para norte, através de Alcochete e Samora Correia, impossibilitado da execução da missão que lhe tinham incumbido de desembarcar em Lisboa e combater a forças liberais. Durante a sua estadia em Aldeia Galega, assistiram-se a diversas execuções e ao saque dos Paços do Concelho. Mandou, igualmente, trancar o auto de aclamação lavrado pela autarquia, no dia 23 de Julho de 1833, em obediência à Carta Constitucional, à Rainha D. Maria II e ao Príncipe Regente D. Pedro. (FC) D. Maria II, Rainha de Portugal. (Litografia de Ignaz Fertig, 1853. Biblioteca Nacional de Portugal)


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