Clínica Veterinária n. 126

Page 1



http://www.vetnil.com.br


artigos científicos 6

40

Genética

A

Aneuploidy of sex chromosomes in tortoiseshell cat – case report Aneuploidía de cromosomas sexuales en un gato de pelaje tortoiseshell – reporte de un caso

46

Clínica Intoxicação por Cannabis sativa em paciente canino – relato de caso

Cannabis sativa intoxication in canine patient – a case report Intoxicación con Cannabis sativa en un canino – relato del caso

Oncologia

52

Estudo retrospectivo de melanomas cutâneos em cães A retrospective study of cutaneous melanomas in dogs Estudio retrospectivo de los melanomas cutáneos en perros

Oncologia

62

Tumor estromal gastrintestinal em uma cadela – relato de caso Gastrointestinal stromal tumor in a dog – a case report Tumor del estroma gastrointestinal en perro – relato de caso

Clínica

72

Fibrossarcoma em onça-pintada (Panthera onca): uso da termografia associada à citologia aspirativa como auxílio diagnóstico Fibrosarcoma in a jaguar (Panthera onca): thermography associated with aspiration cytology as diagnostic tools Fibrosarcoma en jaguar (Panthera onca): la termografía y la citología aspirativa como herramientas en el diagnóstico clínico

4

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

Maria Teresa Pereira Costa

Aneuplodia de cromossomos sexuais em gato de pelagem tortoiseshell – relato de caso



14

14

Ensino

• Modelos espontâneos de cardiopatias em animais de companhia • África do Sul sedia evento internacional em prol da educação humanitária: InVeST 2017 Conference • CFMV lança acreditação dos programas de residência e aprimoramento profissional em medicina veterinária

22

Reportagem • Uso do canabidiol em animais

26

Especialidades • • • • •

SBDV com sede própria CIABEV 2017 Recorde de participantes no XII CBAV Oncologia veterinária: alternativas e limitações ABRV: educação continuada e avaliação de displasias

26

22

31

Saúde pública • Acidentes por mordeduras de cães e o papel do médico veterinário

Medicina veterinária do coletivo

38

• Desastres, resgates e veterinários

Medicina veterinária legal

80

31

• Similaridades no diagnóstico de maus-tratos nas crianças e nos animais

84

Pet food

38

• Supersaturação relativa da urina: sua relação com os cálculos urinários

Gestão, marketing & estratégia

86

• Aposentadoria especial – Privilégio da classe veterinária • Passando a régua em 2016 • Crescimento do mercado farmacêutico para pets em 2017

90

Livros • Neurologia canina e felina • Medicina felina essencial

91

Inovação • Gel promove hemostasia em segundos

Vet Agenda • www.vetagenda.com.br 6

94

90

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

91



C

om a missão de estabelecer e executar políticas públicas destinadas à saúde, à proteção, à defesa e ao bem-estar animal, foi criada em Porto Alegre, RS, a Secretaria Especial dos Direitos Animais (SEDA) pela Lei Municipal n. 11.101, de 25 de julho de 2011, regulamentada pelo Decreto n. 17.190, de 8 de agosto de 2011. Os objetivos estratégicos da SEDA estão pautados em ações que visam reduzir os maus-tratos aos animais, controlar o crescimento populacional de cães e gatos, reduzir significativamente a população animal abandonada e consolidar nos cidadãos de Porto Alegre a incorporação de

valores relacionados à guarda responsável de animais. A SEDA, desde sua criação, em função dos diversos benefícios que vem promovendo à comunidade, também passou a ser referência em medicina veterinária do coletivo, especialidade essencial para a evolução da saúde única. Hoje, ela é um exemplo para muitas capitais. Porém, o novo prefeito parece não visualizar todos esses benefícios. Vamos ajudá-lo a enxergar! Subscreva o abaixo-assinado compartilhado a seguir. “Só engrandecemos o nosso direito à vida cumprindo o nosso dever de cidadãos do mundo” (Mahatma Gandhi).

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-MG 10.684

#ficaseda

assine

http://goo.gl/NvkO5n

http://goo.gl/NvkO5n

Carta Aberta ao Prefeito Nelson Marchezan Júnior Nós, protetores e ativistas da causa animal de Porto Alegre, manifestamos nosso repúdio à anunciada decisão de Nelson Marchezan Júnior de extinguir a SEDA - Secretaria Especial dos Direitos Animais de Porto Alegre, considerando que: - qualquer mudança numa ação política deveria visar um avanço ou refinamento do status quo. Ao contrário, o prefeito eleito objetiva incorporar a SEDA à Secretaria Municipal de Sustentabilidade, fusão esta que não representa “Um novo tempo” para a cidade, mas um retrocesso nas políticas públicas conquistadas nos últimos cinco anos, e a exclusão dos animais, relegando-os à categoria de subalternos numa pasta, mudando seu status. Destaca-se que: • os 23 órgãos municipais mantidos pelo futuro prefeito são destinados à gestão da cidade para os animais humanos, e nenhum deles salvaguarda os direitos dos animais não-humanos, sendo que a SEDA tem assegurada sua autonomia por meio de verba própria, já aprovada pela Câmara Municipal para o orçamento de 2017, não representando sua extinção um ato de economia; • a SEDA garante atendimento veterinário para os animais, cujos tutores, de baixa renda, comprovem seu cadastro em programas sociais. Este atendimento precisa ser mantido e ampliado; - a secretaria realiza, anualmente, por meio de edital público, o cadastramento dos protetores e entidades protetoras de animais atuantes no município de Porto Alegre, para dispor de duas modalidades de serviços: atendimento médico-veterinário e participação no evento Brechocão; • as 25 ONGs, grupos e protetores de animais que participam do Brechocão, evento realizado no segundo domingo do mês na Redenção, dependem desta alternativa de renda para auxiliar nas despesas com alimentação, albergagem, consultas, castrações e outras decorrentes do resgate de animais em situação de vulnerabilidade; • os 48 protetores e entidades selecionadas para atendimento semanal na Unidade de Medicina Veterinária (UMV) precisam da manutenção do serviço de consultas, vacinação, vermifugação, esterilizações, entre outros procedimentos, para os animais resgatados em situação de maus-tratos ou cujos tutores não possuem condições financeiras para tratá-los; • a Unidade de Saúde Animal Victória (USAV), recentemente inaugurada pelo município, deve entrar em funcionamento imediatamente, para qualificar e ampliar os serviços prestados aos animais. Incluindo cinco blocos cirúrgicos, quatro consultórios, UTI, setores de quimioterapia, fisioterapia, banco de sangue, farmácia, laboratório ambulatório, além de sala de recuperação para 150 cães e gatos e espaço de triagem para outros 120, a USAV deve absorver, paulatinamente, os serviços prestados na UMV; • os 16 médicos veterinários – selecionados em concurso público,

8

devem ser contratados para atuar na USAV, em vista da criação dos cargos ter sido aprovada pela Câmara Municipal; - devem ser mantidos os atendimentos clínico-veterinários (esterilização, vacinação, vermifugação e microchipagem) nas comunidades em situação de vulnerabilidade social e para animais comunitários, por meio das duas unidades móveis (Amigo Bicho); • Porto Alegre precisa que a SEDA mantenha a fiscalização das denúncias de maus-tratos, protocoladas via 156, além de ampliar o atendimento de animais em situação de risco e a fiscalização da comercialização dos animais em pets e agros (Lei 694/2012); • os eventos de adoção, como a Feira Me Adota? (mensal), e outros realizados na UMV não podem sofrer descontinuidade, em função do grande número de animais que precisam de um lar, além da SEDA oferecer atendimento veterinário e vacinações vitalícias aos animais adotados por meio da pasta; • Esta Escola é o Bicho, atividade promovida na rede municipal de ensino, bem como o incentivo à adoção de cães comunitários por escolas e parques, são programas que precisam ser mantidos pela Seda; • é essencial a manutenção do blog da SEDA, com as seções Feira de Adoção Virtual (com os animais residentes na UMV), Achados e Perdidos (onde os munícipes podem divulgar animais achados e perdidos na cidade) e Faça aqui sua divulgação (espaço para os cidadãos divulgarem animais para adoção); Além da manutenção, nós, protetores e ativistas da causa animal de Porto Alegre, reivindicamos a ampliação dos serviços prestados aos animais, tais como: - ampliação das metas para o controle populacional de cães e gatos, com esterilização e microchipagem; - disponibilização de mais veículos para fiscalização de maus tratos e outras ocorrências emergenciais nas quais a vida dos animais esteja em risco; - incremento das ações de educação e sensibilização acerca dos Direitos Animais, proteção e guarda responsável aos alunos da rede municipal de ensino; - efetivação de programa anual de capacitação teórica e prática aos professores da rede municipal de ensino sobre direitos animais, proteção e guarda responsável; implantação efetiva do FMDA - Fundo Municipal dos Direitos Animais (Lei Complementar Nº 696/2012); - criação do Conselho Municipal de Direitos Animais, composto por ONGs e protetores independentes. Nós, abaixo-assinados, nos mobilizamos e estamos vigilantes para garantir a manutenção dos direitos e serviços para os animais de Porto Alegre, as maiores vítimas de uma visão antropocêntrica de gestão pública, denotando o descompasso do futuro prefeito com a sensibilidade e conhecimento da sociedade sobre a consciência dos animais, à luz da ciência do século XXI, especialmente da Declaração de Cambridge (2012).

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017



Consultores científicos

EDITORES / PUBLISHERS

Adriano B. Carregaro

Ana Claudia Balda

Benedicto W. De Martin

FZEA/USP-Pirassununga

FMU, Hovet Pompéia

FMVZ/USP; IVI

CRMV-MG 10.684 - www.crmvmg.org.br

Álan Gomes Pöppl

Ananda Müller Pereira

Berenice A. Rodrigues

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

FV/UFRGS

Universidad Austral de Chile

Médica veterinária autônoma

Alberto Omar Fiordelisi

Ana P. F. L. Bracarense

Camila I. Vannucchi

FCV/UBA

DCV/CCA/UEL

FMVZ/USP-São Paulo

Alceu Gaspar Raiser

André Luis Selmi

Carla Batista Lorigados

DCPA/CCR/UFSM

Anhembi/Morumbi e Unifran

FMU

Alejandro Paludi

Angela Bacic de A. e Silva

Carla Holms

FCV/UBA

FMU

Anclivepa-SP

Alessandra M. Vargas

Antonio M. Guimarães

Carlos Alexandre Pessoa

Endocrinovet

DMV/UFLA

www.animalexotico.com.br

Alexandre Krause

Aparecido A. Camacho

Carlos E. Ambrosio

FMV/UFSM

FCAV/Unesp-Jaboticabal

FZEA/USP-Pirassununga

Alexandre G. T. Daniel

A. Nancy B. Mariana

Carlos E. S. Goulart

Universidade Metodista

FMVZ/USP-São Paulo

EMATER-DF

Alexandre L. Andrade

Arlei Marcili

Carlos Roberto Daleck

CMV/Unesp-Aracatuba

FMVZ/USP-São Paulo

FCAV/Unesp-Jaboticabal

Alexander W. Biondo

Aulus C. Carciofi

Carlos Mucha

UFPR, UI/EUA

FCAV/Unesp-Jaboticabal

IVAC-Argentina

Aline Machado Zoppa

Aury Nunes de Moraes

Cassio R. A. Ferrigno

FMU/Cruzeiro do Sul

UESC

FMVZ/USP-São Paulo

Aline Souza

Ayne Murata Hayashi

Ceres Faraco

UFF

FMVZ/USP-São Paulo

FACCAT/RS

Aloysio M. F. Cerqueira

Beatriz Martiarena

César A. D. Pereira

UFF

FCV/UBA

UAM, UNG, UNISA

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER:

Gato fotografado por ILYA AKINSHIN (Shutterstock) Clínica Veterinária é uma revista técnicocientífica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

10

Facebook

Twitter

http://fb.com/ClinicaVet

http://twitter.com/ClinicaVet

Web

Pet Vet TV

http://revistaclinivaterinaria.com.br

http://youtube.com/PetVetTV

Google Play

Apple Store

http://goo.gl/nEyv4Y

http://goo.gl/LiOuit

http://www.vetagenda.com.br

Contato Editora Guará Ltda. Dr. José Elias 222 - Alto da Lapa 05083-030 São Paulo - SP, Brasil Central de assinaturas: 0800 887.1668 | Whats App: (11) 98250-0016 Telefone/fax: (11) 3835-4555 / 3641-6845 cvassinaturas@editoraguara.com.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


Christina Joselevitch FMVZ/USP-São Paulo

Cibele F. Carvalho UNICSUL

Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo

Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP

Cleber Oliveira Soares EMBRAPA

Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial

Daisy Pontes Netto FMV/UEL

Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS

Daniel G. Ferro ODONTOVET

Daniel Macieira FMV/UFF

Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo

Dominguita L. Graça FMV/UFSM

Edgar L. Sommer PROVET

Edison L. P. Farias UFPR

Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE

Elba Lemos FioCruz-RJ

Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo

Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu

Franz Naoki Yoshitoshi

Juliana Werner

Mary Marcondes

Provet

Lab. Werner e Werner

CMV/Unesp-Araçatuba

Gabriela Pidal

Julio C. C. Veado

Masao Iwasaki

FCV/UBA

FMVZ/UFMG

FMVZ/USP-São Paulo

Gabrielle Coelho Freitas

Julio Cesar de Freitas

Mauro J. Lahm Cardoso

UFFS-Realeza

UEL

FALM/UENP

Geovanni D. Cassali

Karin Werther

Mauro Lantzman

ICB/UFMG

FCAV/Unesp-Jaboticabal

Psicologia PUC-SP

Geraldo M. da Costa

Leonardo Pinto Brandão

Michele A.F.A. Venturini

DMV/UFLA

Ceva Saúde Animal

ODONTOVET

Gerson Barreto Mourão

Leucio Alves

Michiko Sakate

ESALQ/USP

FMV/UFRPE

FMVZ/Unesp-Botucatu

Hannelore Fuchs

Luciana Torres

Miriam Siliane Batista

Instituto PetSmile

FMVZ/USP-São Paulo

FMV/UEL

Hector Daniel Herrera

Lucy M. R. de Muniz

Moacir S. de Lacerda

FCV/UBA

FMVZ/Unesp-Botucatu

UNIUBE

Hector Mario Gomez

Luiz Carlos Vulcano

Monica Vicky Bahr Arias

EMV/FERN/UAB

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMV/UEL

Hélio Autran de Moraes

Luiz Henrique Machado

Nadia Almosny

Dep. Clin. Sci./Oregon S. U.

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMV/UFF

Hélio Langoni

Marcello Otake Sato

Nayro X. Alencar

FMVZ/UNESP-Botucatu

FM/UFTO

FMV/UFF

Heloisa J. M. de Souza

Marcelo A.B.V. Guimarães Nei Moreira

FMV/UFRRJ

FMVZ/USP-São Paulo

CMV/UFPR

Herbert Lima Corrêa

Marcelo Bahia Labruna

Nelida Gomez

ODONTOVET

FMVZ/USP-São Paulo

FCV/UBA

Iara Levino dos Santos

Marcelo de C. Pereira

Nilson R. Benites

Koala H. A. e Inst. Dog Bakery

FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

Iaskara Saldanha

Marcelo Faustino

Nobuko Kasai

Lab. Badiglian

FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

Idael C. A. Santa Rosa

Marcelo S. Gomes

Noeme Sousa Rocha

UFLA

Zoo SBC,SP

FMV/Unesp-Botucatu

Ismar Moraes

Marcia Kahvegian

Norma V. Labarthe

FMV/UFF

FMVZ/USP-São Paulo

FMV/UFFe FioCruz

Jairo Barreras

Márcia Marques Jericó

Patricia C. B. B. Braga

FioCruz

UAM e UNISA

FMVZ/USP-Leste

James N. B. M. Andrade Marcia M. Kogika

Patrícia Mendes Pereira

FMV/UTP

FMVZ/USP-São Paulo

DCV/CCA/UEL

Jane Megid

Marcio B. Castro

Paulo Anselmo

FMVZ/Unesp-Botucatu

UNB

Zoo de Campinas

Janis R. M. Gonzalez

Marcio Brunetto

Paulo César Maiorka

FMV/UEL

FMVZ/USP-Pirassununga

FMVZ/USP-São Paulo

Jean Carlos R. Silva

Marcio Dentello Lustoza

Paulo Iamaguti

UFRPE, IBMC-Triade

Biogénesis-Bagó Saúde Animal

FMVZ/Unesp-Botucatu

João G. Padilha Filho

Márcio Garcia Ribeiro

Paulo S. Salzo

FCAV/Unesp-Jaboticabal

FMVZ/Unesp-Botucatu

UNIMES, UNIBAN

João Luiz H. Faccini

Marco Antonio Gioso

Paulo Sérgio M. Barros

UFRRJ

FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

João Pedro A. Neto

Marconi R. de Farias

Pedro Germano

UAM

PUC-PR

FSP/USP

Jonathan Ferreira

Maria Cecilia R. Luvizotto Pedro Luiz Camargo

Odontovet

CMV/Unesp-Aracatuba

Jorge Guerrero

M. Cristina F. N. S. Hage Rafael Almeida Fighera

FMVZ/USP-São Paulo

Universidade da Pennsylvania

FMV/UFV

FMV/UFSM

Filipe Dantas-Torres

José de Alvarenga

Maria Cristina Nobre

Rafael Costa Jorge

CPAM

FMVZ/USP

FMV/UFF

Hovet Pompéia

Flávia R. R. Mazzo

Jose Fernando Ibañez

M. de Lourdes E. Faria

Regina H.R. Ramadinha

Provet

FALM/UENP

VCA/SEPAH

FMV/UFRRJ

Flavia Toledo

José Luiz Laus

Maria Isabel M. Martins

Renata A. Sermarini

Univ. Estácio de Sá

FCAV/Unesp-Jaboticabal

DCV/CCA/UEL

ESALQ/USP

Flavio Massone

José Ricardo Pachaly

M. Jaqueline Mamprim

Renata Afonso Sobral

FMVZ/Unesp-Botucatu

UNIPAR

FMVZ/Unesp-Botucatu

Onco Cane Veterinária

Francisco E. S. Vilardo

José Roberto Kfoury Jr.

Maria Lúcia Z. Dagli

Renata Navarro Cassu

Criadouro Ilha dos Porcos

FMVZ/USP

FMVZ/USP-São Paulo

Unoeste-Pres. Prudente

Francisco J. Teixeira N.

Juan Carlos Troiano

Marion B. de Koivisto

Renée Laufer Amorim

FMVZ/Unesp-Botucatu

FCV/UBA

CMV/Unesp-Araçatuba

FMVZ/Unesp-Botucatu

F. Marlon C. Feijo

Juliana Brondani

Marta Brito

Ricardo Duarte

UFERSA

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP-São Paulo

All Care Vet / FMU

Estela Molina FCV/UBA

Fabian Minovich UJAM-Mendoza

Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR

Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE

Fabio Otero Ascol IB/UFF

Fabricio Lorenzini FAMi

Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS

Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL

Fernando Ferreira

DCV/CCA/UEL

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR

Ricardo S. Vasconcellos CAV/UDESC

Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR

Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ

Rita Leal Paixão FMV/UFF

Robson F. Giglio Hosp. Cães e Gatos; Unicsul

Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi

Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu

Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba

Ronaldo C. da Costa CVM/Ohio State University

Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio

Rosângela de O. Alves EV/UFG

Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas

Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu

Silvia E. Crusco UNIP/SP

Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap

Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo

Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo

Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP-São Paulo

Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM

Simone Gonçalves Hemovet/Unisa

Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu

Tiago A. de Oliveira UEPB

Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR

Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare

Vamilton Santarém Unoeste

Vania M. de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu

Victor Castillo FCV/UBA

Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG

Viviani de Marco UNISA e NAYA Especialidades

Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI

Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

11


INSTRUÇÕES AOS AUTORES

A

Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente

mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Para a primeira avaliação, os autores devem enviar pela internet (cvredacao@editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na largura de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitalizadas, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de redação cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e email). Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus títulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser relacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 10, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências.

No caso de todo o material ser remetido pelo correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-rom. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,3,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar informações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utilizado, cada capítulo deverá ser considerado uma referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www.xxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabaho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado.

Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo - SP cvredacao@editoraguara.com.br

12

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017



ENSINO

Modelos espontâneos de cardiopatias em animais de companhia A cardiologia translacional tem grande importância na substituição da experimentação animal por modelos espontâneos de cardiopatias em animais de companhia

A

teoria darwiniana de evolução das espécies e o reconhecimento de que a humanidade compartilha características biológicas e sociais semelhantes com todos os seres vivos, seja por questões religiosas ou meramente antropocêntricas, ainda gera polêmica e desconforto. De fato, peculiaridades como a complexidade de nossas organizações sociais e capacidades específicas parecem criar um abismo entre o homem e os outros animais. A espantosa compatibilidade de 98,6% do genoma humano com o dos chipanzés deixou claro que, para a ciência, essa distância sempre foi ainda menor. Essa consciência de que há mais semelhanças do que diferenças entre os seres vivos que habitam este planeta tem sido a base de todo o conceito de medicina e pesquisa translacional, já discutido em edições anteriores 1. O envolvimento do uso de animais na medicina é notório. A liberação de qualquer medicamento para o mercado

passa inevitavelmente por testes de eficácia e toxicidade em animais de laboratório. Mas e se a contribuição dos animais para a medicina fosse além da experimentação? É bastante claro que nossos animais de estimação adoecem espontaneamente, inclusive de enfermidades crônicas, e são acompanhados com zelo excepcional pelos mais atenciosos tutores. Mas até que ponto essas doenças são tão semelhantes às que nós, seres humanos, apresentamos, a ponto de podermos enxergá-las como uma mesma enfermidade acometendo ambas as espécies? Se os animais de companhia dividem o mesmo ambiente que seus tutores, quanto da observação deles não reflete melhor a complexa interação hospedeiro/agente/ambiente, em comparação com as cobaias de laboratórios? Quanta informação já documentada não poderia ser aproveitada se os médicos, ao se depararem com uma doença, se perguntassem “será que os animais têm isso?”.

Com o constante crescimento e aperfeiçoamento da cardiologia veterinária, associado à disponibilidade cada vez maior de equipamentos de referência para diagnóstico, como tomografia e ressonância magnética, os animais doentes têm recebido atenção médica quase equivalente à de seus tutores. Foto: Samira Chami Neves (Comunicação Social, UFPR) 14

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


http://www.hovetpompeia.com.br


ENSINO

Um só coração. O benefício do uso de animais para a cardiologia humana é inquestionável, mas a contribuição da medicina translacional vai além da experimentação, inclusive muitas vezes substituindo-a. Desenho de Fernando Gonsales (médico veterinário e cartunista)

A medicina translacional é a ponte que permite que informações obtidas em modelos animais de doenças de ocorrência natural contribuam com as várias especialidades médicas, de maneira não experimental e eticamente indiscutível. Atualmente, muitos centros veterinários dispõem de tecnologia e informação suficientes para atender às exigências de pesquisas biomédicas. Com o constante crescimento e aperfeiçoamento das especialidades, associado à disponibilidade cada vez maior de equipamentos de referência para diagnóstico, como tomografia e ressonância magnética, animais doentes têm recebido atenção médica quase equivalente à de seus tutores. E o estudo cada vez mais aprofundado das enfermidades, chegado ao nível molecular, tem aproximado as descobertas de pesquisas veterinárias e médicas de maneira surpreendente. Em edições anteriores, discorreu-se sobre as importantes contribuições da aplicação da medicina translacional na especialidade da “oftalmologia única”. Neste texto, foram expostas as principais cardiopatias adquiridas nos animais de companhia e suas similaridades com o que tem sido descrito na medicina (Tabela 1).

Modelos animais espontâneos na cardiologia comparada Degeneração mitral A degeneração mixomatosa da válvula mitral (DMVM) é a causa mais comum de insuficiência mitral em cães e representa a cardiopatia adquirida de maior ocorrência nessa espécie 2. Embora muitas causas sejam discutidas, é normalmente uma condição primária, sendo mais frequente em raças de pequeno a médio porte. Essa doença se caracteriza por uma protrusão das válvulas atrioventriculares para dentro do átrio, resultante da deposição anormal de glicosaminoglicanos nas cúspides e cordoalhas tendíneas 3. Pouco se sabe sobre os mecanismos moleculares envolvidos na fisiopatologia da doença, mas estudos indicam que, assim como em doenças valvulares de seres humanos, níveis aumentados de sinalização da serotonina (5HT) possam estar envolvidos. A partir de estudos anatomopatológicos, há evidências de que muitos cães desenvolvem a DMVM com o passar da idade, sendo essa cardiopatia muito similar micro e macroscopicamente à doença mitral em seres humanos 4. De forma semelhante, o prolapso da valva mitral em seres humanos é normalmente uma condição primária, resultante da degeneração mixomatosa dos folhetos e das cordoalhas tendíneas. Assim como na DMVM em cães, a regurgitação mitral crônica tende a desencadear remodelamento cardíaco excêntrico, apresentando na maioria dos casos um comportamento benigno, mas também podendo evoluir para quadros de insuficiência cardíaca congestiva e morte súbita 4. O diagnóstico é normalmente feito na adolescência, mas as complicações tendem a aparecer em indivíduos de meia-idade e idosos 5. Por esse motivo, a existência de um modelo animal no qual a doença se desenvolvesse espontaneamente e o curso fosse mais rápido permitiria um acompanhamento mais criterioso da progressão dos sinais clínicos e da resposta ao tratamento. O reconhecimento do cão com DMVM como um modelo espontâneo da doença permite a transposição de informações entre as duas áreas médicas, sendo benéfico para ambas as espécies.

Tabela 1 – Cardiopatias primárias e secundárias a alterações sistêmicas, de ocorrência espontânea em animais domésticos, e seu correspondente em seres humanos Cardiopatia Degeneração mixomatosa da valva mitral Cardiomiopatia hipertrófica Cardiomiopatia dilatada Cardiomiopatia arritmogênica Cardiomiopatia tireotóxica Cardiomiopatia hipertensiva Cardiomiopatia diabética (?) Fibrilação atrial Distrofia muscular de Duchenne

16

Espécie acometida cão (pequeno porte) gato cão (grande porte) cão (boxer) gato cão e gato cão cão (grande porte) cão (golden retriever)

Correspondente em seres humanos prolapso mitral cardiomiopatia hipertrófica cardiomiopatia dilatada cardiomiopatia arritmogênica cardiomiopatia tireotóxica cardiomiopatia hipertensiva cardiomiopatia diabética fibrilação atrial distrofia muscular de Duchenne

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


A cardiomiopatia hipertrófica e a cardiomiopatia tireotóxica são exemplos de doenças cardíacas que acometem tanto os gatos como as pessoas. Assim, a abordagem clínica da medicina translacional aos gatos pode fornecer subsídios para o conhecimento da doença humana. Foto: Samira Chami Neves (Comunicação Social, UFPR)

Cardiomiopatia hipertrófica (CMH) A CMH é a cardiopatia mais comum em gatos domésticos, sendo considerada importante causa de insuficiência cardíaca congestiva e tromboembolismo nessa espécie. Em medicina, é a razão mais comum de morte súbita em indivíduos jovens, sendo também importante causa de ICC e fibrilação atrial em pacientes de mais idade 6. Apesar de algumas divergências relacionadas ao curso da doença, existem evidências suficientes para se acreditar que a CMH em seres humanos e em felinos domésticos seja essencialmente a mesma doença. Similaridades fenotípicas como hipertrofia

assimétrica do ventrículo esquerdo sem causa aparente e enchimento diastólico comprometido são achados comuns às duas espécies. Histologicamente, a desorganização do arranjo de cardiomiócitos, lesões microvasculares (espessamento da camada média das artérias coronárias intramurais) e fibrose intersticial difusa também são alterações compartilhadas 7. Do ponto de vista genético, há evidências de um componente hereditário em ambas as espécies e a prevalência em determinadas raças, como o maine coon, sugere uma condição familial de transmissão autossômica dominante 8. A partir de muitas perspectivas, a CMH felina se assemelha à humana, tornando o gato um modelo espontâneo de uma doença de grande importância para o ser humano. O reconhecimento dessas similaridades e sua exploração na pesquisa científica tendem a resultar em maior entendimento dos mecanismos patofisiológicos que levam à ICC nessa cardiopatia. Cardiomiopatia dilatada A cardiomiopatia dilatada é a terceira cardiopatia hereditária mais comum em seres humanos e a segunda mais frequente em cães 9. É caracterizada por dilatação das câmaras cardíacas e disfunção sistólica, podendo levar a quadros de ICC e à morte súbita. Tanto no cão quando em pessoas, a progressão da doença ocorre de modo semelhante, apresentando normalmente uma fase assintomática, uma segunda fase de alterações elétricas sem evidências clínicas e por fim uma fase avançada com sinais de ICC, incluindo tosse, dispneia, perda de peso e síncopes 10. Nessa fase, o paciente, seja humano ou canino, requer tratamento sintomático, e o prognóstico é ruim. Assim como as semelhanças fenotípicas e de progressão, o tratamento dessa cardiopatia também é muito

http://rkdiagnostico.com.br http://fb.com/rkdiagnostico

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

17


ENSINO

parecido nas duas espécies. Salvo a alternativa do transplante em casos avançados da doença, sendo a CMD hoje o principal motivo para a utilização desse recurso entre as cardiopatias não isquêmicas em seres humanos, o tratamento sintomático dos indivíduos acometidos tem semelhanças marcantes com o que é preconizado nos cães, normalmente envolvendo inibidores da ECA, diuréticos e inotrópicos 9. Diferenças histopatológicas referentes ao tipo de infiltrados nos cardiomiócitos foram encontradas na CMD de cães de raças distintas. Além disso, fatores como a idade de acometimento e a velocidade de progressão também variam entre as raças predispostas, como doberman, terranova, dogue-alemão e cão-d’água português, o que sustenta a hipótese de que existem diferentes tipos de CMD canina 11. Da mesma forma, a CMD em seres humanos também demonstra ter apresentações distintas, com diferentes idades de acometimento, progressão e prognóstico 12. Quanto aos padrões de herança genética, também existem variações. A CMD em seres humanos é normalmente resultante de uma herança autossômica dominante, mas casos de heranças mitocondriais e autossômicas recessivas ligadas ao cromossomo X também já foram relatadas. Em cães, existem evidências de herança autossômica dominante de penetrância variável, mas também há relatos de herança autossômica recessiva e de herança ligada ao cromossomo X 9. Apesar de todas as evidências de que a cardiomiopatia dilatada é uma única entidade clínica que acomete seres humanos e cachorros, estudos alusivos às bases genéticas da CMD em cães ainda estão distantes do que há descrito em nossa espécie. O mapeamento genético das diferentes raças de cães acometidos trará benefícios não só para amedicina veterinária, por meio da identificação precoce de animais predispostos, como para as pesquisas médicas, a partir da identificação de mutações em genes específicos, que podem também estar envolvidos na CMD em seres humanos. Considerações finais As vantagens da aplicação da medicina translacional na cardiologia são inúmeras, e a cada dia parecem ser mais frequentes. A contribuição da medicina veterinária para a medicina humana e vice-versa tem sido mais evidente a cada nova semelhança descoberta entre as enfermidades comuns nas duas práticas médicas. Quanto mais as pesquisas se aprofundam, principalmente no tocante ao entendimento subcelular dos processos patológicos, mais similaridades são encontradas, permitindo um estreitamento cada vez maior da lacuna que separa essas duas importantes áreas da saúde. A existência de modelos animais espontâneos para as principais cardiopatias que acometem seres humanos e o reconhecimento das enfermidades como únicas permite que as duas áreas médicas trabalhem em conjunto, somando as descobertas e subtraindo as incertezas, trazendo benefícios mútuos para o coração dos seres humanos e de nossos animais de companhia. 18

Referências sugeridas 01-MONTIANI-FERREIRA, F. ; FORNAZARI, G. ; SATO, M. T. ; PACHALY, J. ; BIONDO, A. W. É possível fazer ciência sem experimentação em animais. Clínica Veterinária, ano XXI, n. 122, p. 26-30, 2016. ISSN: 1413571-X. 02-ATKINS, C. ; BONAGURA, J. ; ETTINGER, S. ; FOX, P. ; GORDON, S. ; HAGGSTROM, J. ; HAMLIN, R. ; KEENE, B. ; LUIS-FUENTES, V. ; STEPIEN, R. Guidelines for the diagnosis and treatment of canine chronic valvular heart disease. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 23, n. 6, p. 1142-1150, 2009. doi: 10.1111/j.1939-1676.2009.0392.x. 03-FREED, L. A. ; BENJAMIN, E. J. ; LEVY, D. ; LARSON, M. G. ; EVANS, J. C. ; FULLER, D. L. ; LEHMAN, B. ; LEVINE, R. A. Mitral valve prolapse in the general population: the benign nature of echocardiographic features in the Framingham Heart Study. Journal of the American College of Cardiology, v. 40, n. 7, p. 1298-1304, 2002. doi: 10.1016/S0735-1097(02)02161-7. 04-PERDERSEN, H. D. ; HÄGGSTRÖM, J. Mitral valve prolapse in the dog: a model of mitral valve prolapse in man. Cardiovascular Research, v. 47, n. 2, p. 234-243, 2000. doi: 10.1016/S0008-6363(00)00113-9. 05-FONTANA, M. E. ; SPARKS, E. A. ; BOUDOULAS, H. ; WOOLEY, C. F. Mitral valve prolapse and the mitral valve prolapse syndrome. Current Problems in Cardiology, v. 16, n. 5, p. 313-375, 1991. doi: 10.1016/01462806(91)90022-3. 06-MARON, B. J. ; FOX, P. R. Hypertrophic cardiomyopathy in man and cats. Journal of Veterinary Cardiology, v. 17, n. 1, p. S6-S9, 2015. doi: 10.1016/j.jvc.2015.03.007. 07-FOX, P. R. ; LIU, S. K. ; MARON, B. J. Echocardiographic assessment of spontaneously occurring feline hypertrophic cardiomyopathy. An animal model of human disease. Circulation, v. 92, n. 2, p. 2645-2651, 1995. doi: 10.1161/01.CIR.92.9.2645. 08-GODIKSEN, M. T. N. ; GRANSTRØM, S. ; KOCH, J. ; CHRISTIANSEN, M. Hypertrophic cardiomyopathy in young Maine Coon cats caused by the p.A31P cMyBP-C mutation – the clinical significance of having the mutation. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 53, n. 7, 2011. doi: 10.1186/1751-0147-53-7. 09-SIMPSON, S. ; EDWARDS, J. ; FERGUSON-MIGNAN, T. F. N. ; COBB, M. ; MONGAN, N. P. ; RUTLAND, C. S. Genetics of human and canine dilated cardiomyopathy. International Journal of Genomics, v. 2015, p. 1-13, 2015. doi: 10.1155/2015/204823. 10-MAUSBERG, T. B. ; WESS, G. ; SIMAK, J. ; KELLER, L. ; DRÖGEMÜLLER, M. ; DRÖGEMÜLLER, C. ; WEBSTER, M. T. ; STEPHENSON, H. ; McEWAN, J. D. ; LEEB, T. A locus on chromosome 5 is associated with dilated cardiomyopathy in Doberman pinschers. PLoS ONE, v. 6, n. 5, p. 1-6, 2011. doi: 10.1371/journal.pone.0020042. 11-TIDHOLM, A. ; JÖNSSON, L. Histologic characterization of canine dilated cardiomyopathy. Veterinary Pathology, v. 42, n. 1, p. 1-8, 2005. 12-MESTRONI, L. ; ROCCO, C. ; GREGORI, D. ; SINAGRA, G. ; DI LENARDA, A. ; MIOCIC, S. ; VATTA, M. ; PINAMONTI, B. ; MUNTONI, F. ; CAFORIO, A. L. ; McKENNA, W. J. ; FALASCHI, A. ; GIACCA, M. ; CAMERINI, F. Familial dilated cardiomyopathy: evidence for genetic and phenotypic heterogeneity. Heart Muscle Disease Study Group. Journal of the American College of Cardiology, v. 34, n. 1, p. 181-190, 1999. doi: 10.1016/S0735-1097(99)00172-2.

Bruna Cristina Brüler - MV. Aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) bbruler@gmail.com Marlos Gonçalves Sousa - MV, MSc, PhD. Prof. de cardiologia veterinária do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) marlos98@ufpr.br Alexander Welker Biondo - MV, MSc, PhD Professor de Zoonoses e Medicina Veterinária do Coletivo do Departamento de Medicina Veterinária, UFPR – Universidade Federal do Paraná. abiondo@ufpr.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017



ENSINO

África do Sul sedia evento internacional em prol da educação humanitária: InVeST 2017 Conference

A

5ª InVeST 2017 (International Veterinary Simulation in Teaching Conference) será realizada em Pretória, África do Sul, de 10 a 12 de abril de 2017. O objetivo da conferência é compartilhar inovações e melhores práticas que incentivem o rápido desenvolvimento de simuladores que substituam o uso de animais no ensino. A conferência seguirá o padrão das anteriores: Colorado State University, Estados Unidos da América; Calgary University, Canadá; Ross University, Dominica e Leibnitz Universität Hanover, Alemanha. O evento acontecerá no Intundla Conference Venue, no coração de Dinokeng. Significando "um lugar de rios", Dinokeng é uma região no norte de Gauteng, rica em patrimônios naturais, culturais e históricos. Inclui a Reserva de Vida Selvagem Dinokeng (Dinokeng Game Reserve), onde o elefante, o búfalo, o rinoceronte, o leopardo e o leão

ainda circulam livremente. A conferência proporcionará uma excelente oportunidade de os participantes se envolverem com uma extensa rede de especialistas, formarem novas parcerias e compartilharem conhecimentos inovadores, ao mesmo tempo em que experimentem o empolgante estilo de vida africano. Confira edições anteriores da revista Clínica Veterinária que abordaram o tema da substituição do uso de animais no ensino: “Concea e os métodos alternativos ao uso de animais no ensino” (http://goo.gl/YXPlsQ); “Simpósio reúne e amplia conhecimento de métodos alternativos ao uso de animais” (http://goo.gl/UI4410); “Uso de animais em ensino e pesquisa” (http://goo.gl/RMtGsi).

Rota entre o local de realização do InVeST 2017 e a Dinokeng Game Reserve http://goo.gl/maps/sGqyNRy8ULm Intundla Conference Venue, sede do InVeST 2017 https://goo.gl/maps/oc4auRpSgB32

Entenda o comportamento dos elefantes: http://goo.gl/CUnKMe 20

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


CFMV lança acreditação dos programas de residência e aprimoramento profissional em medicina veterinária

O

Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) lançou, em 22 de novembro de 2016, o Selo de Acreditação dos programas de residência e aprimoramento profissional em medicina veterinária. A iniciativa foi apresentada a estudantes, residentes, profissionais e representantes de Instituições de Ensino Superior (IES) na abertura do V Seminário Nacional de Residência em Medicina Veterinária, na sede do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP). A Resolução CFMV nº 1.094/2015 (http://goo.gl/NZN2Xk) cria o Sistema de Acreditação dos Programas de Residência e Aprimoramento Profissional em Medicina Veterinária. Durante os cursos de residência e aprimoramento, o profissional da medicina veterinária tem a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante a graduação e de se preparar para atuar com segurança na sua área de sua escolha. De caráter opcional, essa formação tem grande importância para o profissional que deseja se destacar no mercado de trabalho: o Brasil é hoje o país com o maior número de médicos veterinários do mundo, com mais de 110 mil profissionais em atuação. A acreditação tem como objetivo reconhecer a qualidade e a competência dos melhores programas de treinamento em serviço do país. Ao conceder o selo de acreditação, o CFMV também

pretende contribuir para a inclusão da medicina veterinária nas ações de saúde pública, especialmente nas de promoção da saúde. A acreditação O selo de qualidade pode ser concedido a programas de residência e aprimoramento profissional nas seguintes áreas de atuação: clínica; produção e reprodução animal; patologia veterinária; inspeção de produtos de origem animal; e medicina veterinária preventiva e saúde pública. O processo de acreditação será feito com base em avaliações realizadas in loco por representantes qualificados do CFMV. Os programas inscritos para a acreditação serão avaliados pelo CFMV de acordo com os padrões de ensino, infraestrutura, preceptoria e casuística estipulados em resolução. O processo é voluntário, e será realizado de acordo com as solicitações enviadas pelas próprias instituições de ensino superior. Podem se candidatar ao selo os programas de residência e também os de aprimoramento profissional – um tipo de treinamento em serviço com diretrizes diferenciadas para alguns critérios, como a carga horária e a bolsa de estudos mensal. Fonte: Ascom/CFMV

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

21


REPORTAGEM

Uso do canabidiol em animais

Q

uando se fala em canabinoides muitas vezes nos deparamos com preconceito e desinformação. O canabinoide mais conhecido é o tetrahidrocanabinol (THC). Ele está presente na Cannabis sativa e é responsável por casos de intoxicação em cães. Porém, a Cannabis sativa contém mais de 80 canabinoides diferentes. Na prática é importante conhecer dois: o THC e o CBD (canabidiol). O THC destaca-se pelo seu efeito psicoativo. Já o CBD, destaca-se por efeitos benéficos e sem efeitos psicoativos. O CBD é um canabinoide largamente usado na medicina humana e que também ganha mercado da medicina veterinária de pequenos animais. Intoxicação por Cannabis sativa Na página 46 dessa edição há um relato de caso de intoxicação de cão por Cannabis sativa. No atendimento desses casos, é muito importante estimular o tutor a compartilhar a causa da intoxicação, pois facilita a conduta terapêutica. Porém, quando o tutor opta por omitir informações, é importante estar preparado para reconhecer os sinais clínicos. A ASPCA (American Society for the Prevention of Cruelty to Animals) enumera os principais sinais clínicos de intoxicação por Cannabis sativa (http://goo.gl/K6OuOs): depressão prolongada, vômito, incoordenação, sonolência ou excitação, hipersalivação, pupilas dilatadas, pressão arterial baixa, baixa temperatura corporal, convulsões, coma e morte (raro). No YouTube, no canal Inside Edition é possível ver vídeo com cenas de cães intoxicados (Figura 1). Ao publicar esse relato de caso de intoxicação por Cannabis sativa, surgiu também a importância de mostrar outro lado que envolve a Cannabis sativa, o lado medicinal.

Figura 1 – Sinais clínicos de intoxicação por Cannabis sativa: http://youtu.be/hvRfAnNtULw 22

Por Arthur Paes Barretto CRMV-MG 10.684

Canabidiol (CDB) O canabidiol (CDB) é o canabinoide que está presente nos produtos para pets que são encontrados nas buscas na internet. Algumas buscas também retornarão com o termo maconha medicinal. Na prática, esse termo associa ao canabidiol uma coisa que ele tem não tem, que é o efeito psicoativo. O canabinoide responsável pelo efeito psicoativo é o THC, que não está presente em nenhum dos produtos disponíveis no mercado pet internacional. É importante que isso fique claro aos tutores. No Brasil, a medicina humana já prescreve o canabidiol. A importação é controlada pela ANVISA, que possui uma página na internet onde compartilha o passo a passo para os que recebem essa prescrição: http://portal.anvisa.gov.br/importacao-de-canabidiol . Como o mercado pet cresce de forma muito constante, é natural que, em breve, haja um caminho para que esse recurso terapêutico esteja disponível no território brasileiro e em toda a América Latina. Talvez, em primeiro lugar, no Uruguai, em função da regulamentação histórica assinada pelo presidente Jose Mujica, no final de 2014. No documento está especificada a permissão da maconha medicinal ou maconha não psicoativa (cânhamo). Para isso, restringe-se a permissão para plantas que não contenham mais de 1% de tetrahidrocanabinol (THC), o componente psicoativo da maconha e cujas sementes não ultrapassem 0,5% de THC. O THC fica restringido, mas libera-se o CBD, de grande importância para a medicina humana e a medicina veterinária. Hoje, nos Estados Unidos há empresas elaborando e fornecendo produtos para cães e gatos a base do canabidiol que são distribuídos em todo os EUA e exportados para mais de 40 países. Um mercado que fechou o ano de 2014 faturando quase 3 bilhões de dólares e que projeta o valor de 10 bilhões de dólares para 2018. No Brasil, a lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad (http://goo.gl/BT0FWd). O Parágrafo Único do Art. 2 proporciona abertura para o desenvolvimento de uso medicinal: “Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a

Entre os produtos com canabidiol é possível encontrar certificados de pureza, de produto orgânico e livre de transgênicos

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas”. O mercado que envolve o canabidiol é bastante amplo e estruturado. Envolve produtores de sementes altamente selecionadas, fazendas de cultivo, indústrias que manipulam o canabidiol tanto para uso humano quanto veterinário, e profissionais de saúde que prescrevem o canabidiol. Há também estudos específicos em cães, disponíveis no PubMed, como por exemplo, o artigo Pharmacokinetics of cannabidiol in dogs: http://goo.gl/VuqmWs. Porém, ainda faltam resultados de estudos clínicos para cada indicação do canabidiol, para justificar, por exemplo, a sua inclusão nas recomendações específicas A Dinafem é um banco de sementes internacional da Associação Mundial de Clínicos Veteque comercializa semenrinários de Pequenos Animais (World tes de forma legal: Small Animal Veterinary Association – http://www.dinafem.org WSAVA).

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

23


REPORTAGEM

6

Canabidiol (CBD) para pets Há uma forte expansão de produtos para pets à base de canabidiol. Durante essa fase é muito importante desestigmatizá-lo e compartilhar informações com os tutores sobre as características do seu uso medicinal. Principalmente, a ausência de THC. Em tese, isso seria o espe1 rado, pois qualquer preconceito a respeito do canabidiol equivaleria a termos preconceito a respeito do cloridrato de tramadol (opiáceo), produto largamente usado na medicina humana e na medicina veterinária. De forma geral, os produtos para pets trazem a indicação para casos de dores articulares, ansiedade de separação e falta de apetite. Na Universidade do Estado do Colorado, 2 EUA, foi desenvolvido estudo em cães e gatos que foi publicado no Journal of the American Holistic Veterinary Medical Association, Spring 2016, Volume 42: Percepções dos consumidores de cânhamo para animais (Consumer's perceptions of hemp products for animals): http://goo.gl/aJEAsr . Confira a seguir alguns dos produtos com canabidiol:

1 http://www.cbdunlimited.com/cbd-soft-chews-for-dogs

4

5

3

2 http://www.barkworthies.com/treats-barkworthies-pumpkin-cannabidiol-treats 3 http://canna-pet.com 4 http://hempwell.com 5 http://www.untamedcbd.com/cbds-for-your-pets.html 6 http://therabis.com 7 http://www.canibits.com

24

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

7



ESPECIALIDADES

SBDV com sede própria

D

epois de 16 anos e 7 meses da fundação da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV), a entidade inaugurou sua sede própria em um conjunto comercial, na Rua Pereira Estéfano, 114, na Saúde, a poucos metros do metrô que serve a capital paulista. Essa aquisição compôs um dos itens da plataforma de metas da gestão 20152018 e concretiza um sonho e os esforços das cinco gestões anteriores, presididas por Carlos E. Larsson e Ronaldo Lucas e compostas por dezenas de membros da diretoria executiva e dos conselhos consultivos, que honorária e, é claro, graciosamente conduziram os destinos da SBDV, hoje com mais de 500 associados distribuídos por seis países. Confira as atividades da SBDV na Vet Agenda (p. 94).

26

CIABEV 2017

A

Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária (ABEV) encerrou as atividades de 2016 com palestras do prof. Ronaldo Lucas e da profa. Simone Gonçalves, no auditório da FMVZ/USP. Na ocasião, compartilhouse a data do Congresso Internacional de Endocrinologia Veterinária de 2017 (Ciabev 2017): de 13 a 15 de novembro, no Confira o álbum de fotos: Guarujá, SP. http://goo.gl/C0zKj6

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


http://portalvet.royalcanin.com.br


ESPECIALIDADES

Recorde de participantes no XII CBAV QR Code para download dos anais do congresso

http://goo.gl/emyz0s

A

bertura do XII Congresso Brasileiro de Anestesiologia Veterinária, realizado de 12 a 15 de novembro de 2016, no Salão de Atos do Parque Barigui, Curitiba, PR

Anais do XII Congresso Brasileiro de Anestesiologia Veterinária http://goo.gl/emyz0s

Mais uma vez o Congresso Brasileiro de Anestesiologia Veterinária (CBAV) atingiu recorde de participantes. Isso mostra o crescimento contínuo da especialidade e o envolvimento, tanto dos profissionais com a educação continuada quanto das empresas que desenvolvem produtos inovadores para o setor. Os protocolos envolvendo o manejo da dor em várias espécies foram destaque na programação de palestras e entre os trabalhos premiados. Confira os anais do congresso. Quem não pôde participar terá otima oportunidade de ouvir especialistas de renome, como Pablo Otero, da Argentina, durante o 38º Congresso Brasileiro da Anclivepa. Confira a programação: http://goo.gl/mxe6BU.

•Apresentação de oral•

TRABALHOS PREMIADOS

1º) Avaliação ventilatória em ovelhas submetidas a dois protocolos de manutenção anestésica 2º) Efeitos do pneumoperitônio e de uma manobra de recrutamento alveolar seguida por pressão positiva no final da expiração na função pulmonar em ovinos anestesiados com isoflurano-fentanil 3º) Efeito antinociceptivo da morfina e butorfanol em teiús

•Apresentação de pôster• 1º) Comparação da infusão de morfina e cetamina associada ou não a lidocaína em gatas submetidas à ovariohisterectomia 2º) Efeitos sedativo e antinociceptivo da morfina e do butorfanol em iguanas-verdes (Iguana iguana) jovens 3º) Efeitos sedativos e antinociceptivos da dexmededomidina, midazolam e da combinação dexmedetomidina-midazolam em teiús

28

Protótipo de ventilador veterinário desenvolvido pela Vent-Logos. Novidade foi demonstrada durante o Congresso Brasileiro de Anestesiologia Veterinária. A Vent-Logos tem como atividade principal projetar e fabricar ventiladores artificiais pneumáticos, indicados para o tratamento de emergências e transportes intra e extra-hospitalares. http://www.ventlogos.com.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


Oncologia veterinária: alternativas e limitações

O

ano de 2016 foi importante para a oncologia veterinária brasileira. No mês de junho, tivemos a honra de sediar, em Foz do Iguaçu, PR, o Congresso Mundial de Câncer Veterinário (World Veterinary Cancer Congress – WVCC). Entre as inovações que surgiram em oncologia veterinária e que vêm sendo muito bem trabalhadas estão as opções para inibição da Cox2 no controle da dor em cães. Além disso, outra solução para problemas oncológicos que ganha cada vez mais adeptos e que se fez presente no WVCC é a eletroquimioterapia. O prof. Carlos Brunner é um dos palestrantes que vêm divulgando o tema da eletroquimioterapia. Inclusive, em dezembro de 2016, durante o I Simpósio de Oncologia de Pequenos Animais, realizado em Ribeirão Preto, SP, o prof. Brunner esteve junto com outros convidados participando de mesa redonda durante o I Workshop sobre Eletroquimioterapia, juntamente com Enrico Spugnini (Istituto Regina Elena per lo Studio e la Cura dei Tumori, Roma, Itália), Lúcia M. G. Silveira (Unip, São Paulo, SP) e Denner S. dos Anjos (Universidade de Franca, Franca, SP). Juntamente com esse evento, no dia seguinte ocorreu o I Simpósio Internacional de Oncologia de Pequenos Animais, com a participação de Michael Childress (University of Purdue, EUA), Hugo Orsini Beserra (Universidade Anhembi-Morumbi, São Paulo, SP), Juan F. Borrego (Aúna Especialidades Veterinarias, Valência,

Espanha), César Ribeirto (UTIvet, Ribeirão Preto, SP) e Regina Takahira (Unesp, Botucatu, SP). Para 2017, já está agendada a data do IX Oncovet, de 28 de abril a 1º de maio, pela Associação Brasileira de Oncologia Veterinária – http://www.abrovet.org.br . Além disso, os cursos de pós-graduação também são uma excelente opção para aprofundar-se na especialidade. O Instituto Bioethicus oferece curso pioneiro com aulas teóricas e práticas, que abrangem a abordagem ao paciente, o comportamento e a classificação das neoplasias, o diagnóstico e as diferentes modalidades de tratamento clínico e cirúrgico, além de práticas de cirurgia. O próximo, o VIII Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Oncologia Veterinária, terá início no dia 18 de março – http://www.bioethicus.com.br .

Eletroquimioterapia: uma nova promessa para o tratamento de cânceres em animais, publicado na Clínica Veterinária n. 75, julho/agosto – Ano XIII, 2008. Artigo disponível na íntegra para assinantes do acervo digital: http://revistaclinicaveterinaria.com.br

29


ESPECIALIDADES

ABRV: educação continuada e avaliação de displasias

E

Além do investimento em educam novembro de 2016 a ção continuada a ABRV também Associação Brasileira de Rapromove atividades do Colégio diologia Veterinária (ABRV) Brasileiro de Radiologia Veterinária realizou o VI Simpósio Internacio(CBRV). Entre elas estão as avalianal de Diagnóstico por Imagem Veções de displasias. Destaca-se que terinário (VI Sindiv), que contou nenhum médico veterinário em todo com a presença de palestrantes o território nacional está autorizado internacionais e nacionais formana avaliar a displasia coxofemoral e do tanto a grade principal de palesde cotovelos pelo CBRV, nem tamtras como a dos minicursos. O objeSindiv 2016 – Álbum de fotos: pouco pela Associação Brasileira de tivo do Sindiv é congregar veterináhttp://goo.gl/hvFmbS Radiologia Veterinária. Apenas a rios das diversas áreas do diagnóstico por imagem veterinário, promovendo o avanço dessa comissão avaliadora do CBRV está apta a emitir laudo especialidade, além de estimular o desenvolvimento cul- oficial de displasia coxofemoral e de cotovelos no tural e o convívio social entre os profissionais das mais Brasil. No site da ABRV (http://abrv.com.br) é possível variadas regiões do país e do mundo. O VI Sindiv foi o primeiro simpósio realizado pela encontrar as normas do CBRV para avaliação das displanova gestão da ABRV (2016-2019), que tem como presi- sias, bem como os termos de responsabilidade para criadores, proprietários e médicos veterinários. dente Paulo José Riccio Frazão.

30

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


SAÚDE PÚBLICA

Acidentes por mordeduras de cães e o papel do médico veterinário

O

s cães foram os primeiros animais a serem domesticados pelo homem, e embora não haja consenso a respeito da data ou da localização, sabe-se que a interação do homem com os animais é antiga 1. Se por um lado essa interação tem demostrado efeitos benéficos para ambas as partes, por outro lado tem trazido problemas de grande importância para a saúde pública, como por exemplo, os agravos causados por mordeduras 2. As mordeduras de cães vêm sendo relatadas desde a Antiguidade, quando já eram temidas em razão da transmissão de doenças como a raiva, primeira enfermidade registrada na história 3. O filósofo Hipócrates descreveu a sintomatologia da raiva em seu livro Ares, água e lugares destacando a influência do ambiente na ocorrência da doença 3. Na Idade Média, episódios de mordeduras eram frequentemente relatados nas cidades medievais, principalmente pela invasão de cães ou lobos raivosos nos povoados, causando surtos de raiva em toda a Europa 4. A partir do Renascimento, a base científica permitiu o encaminhamento de estudos sobre a raiva, e no século XIX, a elucidação do seu ciclo de transmissão foi conduzida por Pasteur 3,4. Para permitir um melhor entendimento da importância que as mordeduras de animais têm para a saúde pública, descrevemos neste artigo a ocorrência de atendimentos antirrábicos em Curitiba, causados em sua maior parte por mordeduras de animais, e as ações de prevenção que envolvem a participação fundamental do veterinário clínico de pequenos animais. Atualmente, os agravos associados às mordeduras de cães têm causado grandes preocupações em relação à saúde pública no mundo, principalmente devido ao risco potencial de transmissão da raiva, que tem letalidade de

Ilustração: Fernando Gonsales, médico veterinário e cartunista, criador do personagem Níquel Náusea – http://goo.gl/aI5aqg

Figura 1 – Na rotina do SUS, sabe-se que a maioria dos cães que mordem são conhecidos, muitas vezes da própria casa ou de um vizinho ou parente. No entanto, esse dado não consta na ficha do Sinan

quase 100% 5. No Brasil, no período de 2011 a 2016, foram notificados 16 casos de raiva humana, sendo os cães responsáveis pela transmissão em 44% dos casos 6. Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem arcado com custos elevados relacionados à conduta em casos de possível exposição ao vírus da raiva (soro e vacinas), ao tratamento da ferida consequente da mordedura e das infecções bacterianas secundárias, e ao comprometimento físico e psicológico associado ao episódio traumático, afetando assim o direcionamento de recursos que poderiam ser aplicados de forma mais eficiente na prevenção 7-9.

http://nayaespecialidades.com http://nayaespecialidades.com

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

31


SAÚDE PÚBLICA

Compreender a epidemiologia dos acidentes por mordeduras tem sido imprescindível para estabelecer medidas efetivas de prevenção. Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em diversos municípios brasileiros o atendimento antirrábico, decorrente na sua maioria de mordeduras de cães, é o agravo de notificação mais frequente. Em Curitiba, foram registrados 54.337 atendimentos antirrábicos na população residente entre os anos de 2010 e 2015, com uma média de 10.867 atendimentos por ano, com seus respectivos impactos no setor da saúde. Sabe-se que, mesmo sendo o agravo de maior notificação, esse dado está subnotificado, pois muitos casos de acidentes por mordeduras não chegam aos serviços de saúde. Neste estudo, a espécie agressora predominante foi o cão, com 51.146 casos (94,13%), seguido do gato, com 2.809 (5,17%), e do morcego, com 177 casos notificados (0,33%). Na rotina do SUS, sabe-se que a maioria dos cães que mordem são conhecidos, muitas vezes da própria casa ou de um vizinho ou parente, porém esse dado não consta da

Figura 2 – Renda média por bairros de Curitiba, com base no salário mínimo de 2010 32

ficha do Sinan (Figura 1). Tal informação, se fosse registrada, poderia gerar uma economia de recursos, uma vez que os 10 dias de observação preconizados poderiam ser seguidos, e o uso do soro e da vacina poderia ser utilizado de forma mais apropriada em grande parte dos casos. Observa-se nos mapas epidemiológicos de Curitiba a distribuição de residentes por bairros, renda média e atendimentos antirrábicos entre os anos de 2010 e 2015 (Figuras 2-4). Os bairros de menor renda (Figura 2) e os de maior concentração populacional (Figura 3) foram os de maior ocorrência do número de atendimentos antirrábicos (Figura 4). Nos bairros de menor condição socioeconômica, é comum ser maior o número de cães semidomiciliados e comunitários, o que pode ter causado um maior número de mordeduras. A ocorrência de mordeduras de cães em carteiros em Curitiba foi correlacionada com a renda e a densidade populacional, sendo observada maior ocorrência de casos em bairros com maior densidade populacional, e, inversamente, menos mordeduras com o aumento da renda mediana mensal do chefe de família 10.

Figura 3 – Número da população residente por bairros de Curitiba, 2010

Figura 4 – Número de atendimentos antirrábicos por bairros de Curitiba, 2010 a 2015

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


Clínica Veterinária Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Instale o aplicativo (Android e iOs)


SAÚDE PÚBLICA

O médico veterinário clínico de pequenos animais tem um papel fundamental no incentivo à vacinação antirrábica e na orientação das condições de observação do animal agressor. Embora ele não seja o responsável pelo tratamento de pessoas acometidas por mordeduras, deve ter conhecimento dos protocolos de atendimento médico, incluindo o antirrábico, para que possa prestar orientação aos proprietários nesses casos. Orientações básicas, como a lavagem imediata com água e sabão de ferimentos causados por mordeduras e a necessidade de buscar atendimento específico junto aos serviço de saúde 10, são simples e podem ajudar a diminuir ainda mais o risco de ocorrência de problemas decorrentes das mordeduras 11. As mordeduras chegam a representar 1% dos atendimentos de emergência nos hospitais 12. As crianças correm alto risco de serem atacadas por cães, sendo a faixa etária mais acometida a de 5 a 10 anos. Tais resultados podem estar relacionados à maior liberdade e movimentação das crianças de maior faixa etária, que utilizam como área de lazer e convívio os quintais das casas, as ruas e as praças 13. De forma geral, os tutores de cães não têm conhecimento do comportamento dos animais e cas práticas de segurança relativas à interação entre os cães e os filhos 14. Os episódios de mordeduras estão inseridos em um contexto em que a resposta do animal ocorre de forma agressiva perante uma situação particular 12, destacandose alguns fatores desencadeadores, como o sentimento de posse ou de proteção em relação à residência, ao proprietário, aos filhotes ou ao alimento, dominância, alteração hormonal, reação de medo associada à presença de outras pessoas, cães ou ruídos de fogos de artifício e trovões, maus-tratos, postura de dor, dentre outras linguagens corporais que podem indicar uma situação de desequilíbrio do animal, além do livre acesso dos cães às vias públicas 2. Raça Pit bull Rottweiler Pastor-alemão Husky siberiano Malamute Chow-chow São-bernardo Doberman Akita

Fatal %1 18,8 10,9 8,2 6,8 5,5 3,8 3,4 2,4 2,0

AKC2 0,23 2,3 4,9 1,3 0,2 0,2 0,5 1,2 0,4

p 0,000 0.000 0,009 0,000 0,000 0,000 0,000 0,070 0,000

1) um cão envolvido. 2) AKC registro, 2002. 3) bull+stafforshire bull terriers

Figura 5 – Algumas raças mordem relativamente mais do que o esperado da média dos cães. Estudo feito com o Kennel Clube dos EUA em 2002 e apresentado pelo dr. Alan Beck em sua visita ao Brasil em 2011 *. *Alan M. Beck and Larry T. Glickman, 2007

34

Raça Sem raça definida Golden retriever Labrador retriever Bulldogue

Fatal %1 13,0 1.0 0,7 0,3

AKC2 49,03 5.9 4,4 1,6

p 0,000 0.000 0,002 0,080

1) um cão envolvido. 2) AKC registro, 2002. 3) APPMA 2002

Figura 6 – Algumas raças mordem relativamente mais do que o esperado da média dos cães. Estudo feito com o Kennel Clube dos EUA em 2002 e apresentado pelo dr. Alan Beck em sua visita ao Brasil em 2011 *. *Alan M. Beck ; Larry T. Glickman, 2007

É importante lembrar que, em alguns casos, o comportamento agressivo, assim como qualquer outra forma de conduta animal, pode ser ensinado ou causado propositalmente, e que a agressividade resulta da interação de diversos fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais, e em especial dos vínculos com as pessoas 14. Algumas raças têm sido apontadas como as que oferecem maior ou menor risco de morder pessoas (Figuras 5, 6 e 7), e a Lei Municipal de Curitiba para Cães Ferozes (Lei Municipal n. 9.394/1999) considera cães violentos – independentemente do porte e que somente podem ser conduzidos em parques, praças e vias públicas usando coleira, guia e focinheira, para garantir a segurança das pessoas – os integrantes das raças mastim-napolitano, bull terrier, american staffordshire, pastor-alemão, rottweiler, fila-brasileiro, doberman e pitbull. Assim, outra função importante do médico veterinário clínico de pequenos animais é auxiliar a entender o comportamento do animal, uma vez que ele é o profissional mais habilitado para esse fim. Conhecendo as situações em que ocorrem as agressões e compreendendo suas Raça 1079-84 1985-90 Pit bull 17 29 Rottweiler 1 5 Pastor-alemão 8 7 Husky siberiano 5 4 Malamute do Alasca 5 3 Doberman pinscher 1 6 Chow-chow 1 2 Dogue alemão 5 3 São-bernardo 4 0 Akita 0 1

1991-96 14 23 4 5 4 1 5 4 0 3

Total 60 29 19 14 12 8 8 12 4 4

Figura 7 – Embora seja difícil obter dados epidemiológicos de mortes causadas por cães, estudos das décadas de 1980 e 1990 mostraram que há predisposição de algumas raças. Estudo apresentado pelo dr. Alan Beck em sua visita ao Brasil em 2011 * *Alan M. Beck and Larry T. Glickman, 2007

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


causas, consegue auxiliar os tutores de cães a se prevenir, contribuindo para que tenham uma relação saudável com esses animais. Pensando em um programa de prevenção às mordeduras, as medidas mais eficazes para a redução de ocorrência envolvem ações continuadas de educação em guarda responsável associada ao registro, à identificação de animais e à legislação aplicável, além da orientação da população quanto às medidas preventivas com base no comportamento natural dos cães 15. A prevenção dos agravos deve ser realizada de forma abrangente e envolvendo diversos campos de atuação, com o desenvolvimento de um trabalho educativo com as crianças, seus responsáveis e a população em geral. Deveriam ser abordados temas de conscientização dos riscos e da gravidade do acidente por mordedura, destacando-se que a prevenção pode ser feita e tem sido plausível a obtenção de bons resultados 8. Em conclusão, apesar da subnotificação observada nos acidentes por mordeduras, o SINAN tem sido a principal fonte de investigação desse agravo. Entretanto, a ficha

epidemiológica deveria ser complementada de forma a promover uma abrangência maior de dados relevantes que especifiquem a situação de domicílio do animal agressor, a sua relação com a vítima e a forma como a agressão ocorreu, sendo essas informações fundamentais para delinear o perfil do animal agressor e da vítima, e consequentemente subsidiar estratégias para os programas de prevenção desses acidentes e de educação em saúde como um todo 17. Referências sugeridas 01-SILVA, D. P. Canis familiaris: aspectos da domesticação (origem, conceitos, hitóteses). 2011. 46 f. Monografia (Bacharelado em Medicina Veterinária) - Universidade de Brasília, Brasília, 2011. 02-MUNDIM, A. P. M. ; SCATENA, J. H. G. ; FERNANDES, C. G. N. Agressividade canina a seres humanos: reação normal ou alteração comportamental motivada pela raiva? Clínica Veterinária, v. 67, n. 1, p. 84-88, 2007. 03-BABBONI, S. D. ; MODOLO, J. R. Raiva: origem, importância e aspectos históricos. UNOPAR Cinetífica Ciências Biológicas e da Saúde, v. 13, p. 349-356, 2011. doi: 10.17921/24478938.2011v0n0p%25p.

http://ibasa.com.br/pomada-cicatrizante

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

35


SAÚDE PÚBLICA

04-SCHNEIDER, M. C. ; BURGOA, C. S. Tratamiento contra la rabia humana: un poco de su historia. Revista de Saúde Pública, v. 28, n. 6, p. 454-463, 1994. doi: 10.1590/S0034-89101994000600010. 05-BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 812 p. 06-BRASIL, Ministério da Saúde. Vigilância em saúde: zoonoses. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 100 p. 07-CHANG, Y. F. ; McMAHON, J. E. ; HENNON, D. L. ; LaPORTE, R. E. ; COBEN, J. H. Dog bite incidence in the city of Pittsburgh: a capture-recapture approach. American Journal of Public Health, v. 87, n. 10, p. 1703-1705, 1997. doi: 10.2105/AJPH.87.10.1703. 08-DEL CIAMPO, L. A. ; RICCO, C. G. ; ALMEIDA, C. A. N. ; BONILHA, L. R. C. M. ; SANTOS, T. C. C. Acidentes de mordeduras de cães na infância. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 4, p. 411-412, 2000. doi: 10.1590/S0034-89102000000400016. 09-WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Centro de Prensa Nota descriptiva nº 99 - Rabia. 2015. Disponível em: http:// www.who.int/mediacentre/factsheets/fs099/es/. Acesso em 27 agosto 2016. 10-OLIVEIRA, E. A. ; MANOSSO, R. M. ; BRAUNE, G. ; MARCENOVICZ, P. C. ; KURITZA, L. N. ; VENTURA, H. L. B. ; PAPLOSKI, I. A. D. ; BIONDO, A. W. Neighborhood and postal worker characteristics associated with dog bites in postal workers of the Brazilian National Postal Service in Curitiba. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 18, n. 5, p.1367-1374, 2013. doi: 10.1590/S1413-81232013000500022. 11-DEL CARLO, R. J. ; CONCEIÇÃO, L. G. Mordidas: implicações, tratamentos e orientações. Revista CFMV, ano XXII, n. 68, p. 4549, 2016. 12-RUSKIN, J. D. ; LANEY, T. J. ; WENDT, S. V. ; MARKIN, R. S. Treatment of mammalian bite wounds of the maxillofacial region. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 51, n. 2, p. 174176, 1993. doi: 10.1016/S0278-2391(10)80017-5. 13-SERPELL, J. ; JAGOE, J. A. Early experience and the development of behaviour. In: SERPELL, J. The domestic dog: its evolution, behaviour and interactions with people. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 79-102. ISBN: 9780521425377. 14-REISNER, I. R. ; SHOFER, F. S. Effects of gender and parental status on knowledge and attitudes of dog owners regarding dog aggression toward children. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 233, n. 9, p. 1412-1419, 2008. doi: 10.2460/javma.233.9.1412. 15-BEAVER, B. V. Comportamento canino: um guia para veterinários. 1. Ed. São Paulo: Roca, 2001. p. 189-249. ISBN: 978-

8572413169. 16-CURITIBA. Câmara Municipal de Curitiba. Lei N. 9.394, de 15 de abril de 1.999. Determina que os proprietários de cães de raças notoriamente violentas e perigosas coloquem o equipamento de segurança chamado focinheira nos animais quando transitarem em parques, praças e vias públicas de Curitiba. Curitiba, 1999. 17-FORTES, F. S. ; WOUK, A. F. P. F. ; BIONDO, A. W. ; BARROS, C. C. Acidentes por mordeduras de cães e gatos no município de Pinhais, Brasil, de 2002 a 2005. Archives of Veterinary Science, v. 12, n. 2, p. 16-24, 2007. doi: 10.5380/avs.v12i2.9904.

Marcia Oliveira Lopes - MV, MSc. Disciplina de Saneamento Ambiental do Departamento de Saúde Comunitária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) marciaoliveira.ufpr@gmail.com

Vivien Midori Morikawa - MV, MSc, PhD. Disciplina de Saúde Pública do Departamento de Saúde Comunitária (UFPR). Coordenadora da Unidade de Vigilância de Zoonoses, Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba. vmorikawa@sms.curitiba.pr.gov.br

Igor Adolfo Dexheimer Paploski - DVM, MSc. Doutorando no Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia (UFBA) igorufprmv@gmail.com

Evelyn Cristine da Silva Graduanda do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) evelyn.cristine@ufpr.br

Alexander Welker Biondo - MV, MSc, PhD Professor de Zoonoses e Medicina Veterinária do Coletivo do Departamento de Medicina Veterinária, UFPR – Universidade Federal do Paraná. abiondo@ufpr.br

http://www.nutricao.vet.br 36

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017



MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Desastres, resgates e veterinários

F

Por Arthur Paes Barretto CRMV-MG 10.684

relembra a importância da medicina azendo uma retrospectiva veterinária de desastres”. dos últimos 10 anos, os desastres, sejam naturais AVMA e desastres ou provocados por ação humaA American Veterinary Medical na, causaram grande impacto Association (AVMA) tem matetanto nos seres humanos quanto riais disponíveis na internet com o nos animais. Nos últimos, o salobjetivo de preparar as pessoas vamento de animais sempre foi para os casos de desastres e ensináprejudicado pela falta de peslas a proceder da melhor forma soas e de instituições preparapossível nos casos emergenciais e das para lidar com a situação de resgate – http://goo.gl/hRw6zp: emergencial. • AVMA Emergency Preparedness Em novembro de 2008, em Em 2008, em Itajaí, SC, morreram mais de and Response Guide (Guia de resSanta Catarina, mas de 2 mil 2 mil bovinos com as enchentes: Clínica posta e preparação emergencial); bovinos morreram em enchen- Veterinária, n. 78, jan/fev, p. 18, 2009 – http://goo.gl/nmRAfF • Saving the Whole Family tes. Alguns detalhes estão regis(Salvando a família toda); trados em um artigo publicado • Saving the Whole Family – na revista Clínica Veterinária, Spanish (Salvando a família toda – n. 78, janeiro/fevereiro de Espanhol); 2009: “Atuação de médicos ve• Disaster Preparedness for terinários em desastres” Veterinary Practices (Preparação de Em 2011, a região serrana do práticas veterinárias para desastres). estado do Rio de Janeiro sofreu um grande deslizamento, geranWADEM 2017 do uma enorme tragédia que De 25 a 28 de abril, acontece em tirou a vida de muitas pessoas e Toronto, no Canadá, o WADEM animais. Dados oficiais aponCongress on Disaster and tam um número próximo de mil Emergency Medicine 2017, evento pessoas mortas. Porém, segunfocado no manejo de situações de do o Centro de Defesa dos Didesastre e emergência que envolreitos Humanos (CDDH) de Petrópolis e associações das víti- Novembro de 2015: a rotina de salvamento vem equipes multiprofissionais. A de animais atolados na região acometida mas, entre outras entidades de pelo rompimento da barragem em Mariana, profa. dra. Rita de Cássia Maria Teresópolis, Nova Friburgo e MG: Clínica Veterinária n. 120, jan/fev, p. Garcia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pioneira no Petrópolis, cerca de 10 mil pes- 24-30, 2016 – http://goo.gl/duZG7M Brasil no ensino de medicina vetesoas podem ter morrido ou desaparecido nas chuvas que atingiram a região naquele rinária do coletivo, representará a medicina veterinária ano. Os números se referem apenas aos seres humanos! brasileira, com apresentação oral no WADEM 2017. No entanto, o comprometimento da vida animal também Conferência Internacional de Medicina Veterinária do foi muito grande. De pequenos a grandes animais. Mais recentemente, o grande desastre de Mariana, MG, Coletivo Nos dias 19 e 20 de maio ocorrerá a VIII Conferência Inenvolvendo a mineradora Samarco também causou enorme quantidade de vítimas, humanas e animais. Felizmente, ternacional de Medicina Veterinária do Coletivo. Ela será dessa vez houve a participação de equipe médico-veteri- realizada em Porto Alegre, RS, na UniRitter. O evento é nária mantida pela Samarco. Inclusive com a participação uma realização em conjunto do Instituto Técnico de Educada médica veterinária Carla Sassi, que já tinha experiência ção e Controle Animal (Itec), do CRMV-RS e da UniRitter. acumulada em operações de resgate na região serrana do Manejo de animais em desastres, controle populacional Estado do Rio de Janeiro. Alguns detalhes estão registrados de cães e gatos, cães comunitários, epidemiologia do em artigo publicado na revista Clínica Veterinária n. 120, abandono de animais, maus-tratos a animais, saúde única janeiro/fevereiro de 2016: “A tragédia de Mariana, MG, e zoonoses são alguns dos temas a serem abordados. 38

Clínica Veterinária, Ano XXI, n. 124, setembro/outubro, 2016


http://www.bioethicus.com.br

79


Genética CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Aneuplodia de cromossomos sexuais em gato de pelagem tortoiseshell – relato de caso Aneuploidy of sex chromosomes in a tortoiseshell cat – case report Aneuploidía de cromosomas sexuales en un gato de pelaje tortoiseshell – reporte de un caso Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, p. 40-44, 2017

Maria Teresa Pereira Costa Médica veterinária Clínica Mania de Bicho mtcosta2003@hotmail.com

Richard Roberto Lobo aluno de graduação em zootecnia FE/Unesp-Ilha Solteira richardrobertolobo@hotmail.com

Valquiria Santiloni Bióloga, assist. de suporte acadêmico II Depto. de Genética, IB/Unesp-Botucatu val@ibb.unesp.br

Lígia Souza Lima Silveira da Mota Zootecnista, dra., profa. ass. Depto. de Genética, IB/Unesp-Botucatu lmota@ibb.unesp.br

Resumo: A análise citogenética é uma importante etapa no diagnóstico de animais com histórico de esterilidade ou infertilidade. Durante anos, os estudos cromossômicos foram indicados para as espécies de produção. Atualmente, a procura por tais análises em animais de companhia tem aumentado. Em gatos, a coloração da pelagem tortoiseshell apresenta predominância de pêlos pretos mesclados com pêlos brancos e laranja pelo corpo todo, e, na coloração denominada calico, essas três cores se apresentam como manchas independentes, com predominância da cor branca. Porém, todos esses padrões são restritos a fêmeas. É raro observar gatos machos tortoiseshell ou calico, fruto da ocorrência de aberrações cromossômicas. Relata-se, neste caso, a análise cromossômica de um gato tortoiseshell com conjunto cromossômico diploide de 2n = 39,XXY, ou seja, um cromossomo X extra, semelhante ao que ocorre na síndrome de Klinefelter, em humanos. Unitermos: coloração da pelagem, cariótipo, síndrome de Klinefelter Abstract: Cytogenetic analysis is an important step in the diagnosis of animals with a history of infertility or sterility. While chromosomal studies have been indicated for livestock species for years, the demand for such analyzes in companion animals has recently increased. The coat color in cats known as tortoiseshell presents predominance of black hair mixed with white and orange hair all over the body and, in the color pattern known as calico, these three colors are presented as independent spots with predominance of white hair. However, all of these patterns are limited to females due to sex-linked inheritance. Male tortoiseshell or calico cats occur rarely, due to the occurrence of chromosomal aberrations. This article reports the chromosomal analysis of a male cat with tortoiseshell pelage that presented an extra X chromosome (diploid chromosome set of 2n = 39,XXY), a condition which is similar to Klinefelter syndrome in humans. Keywords: coat color, karyotype, Klinefelter syndrome Resumen: El examen citogenético representa una importante etapa en el diagnostico de animales con antecedentes de esterilidad o infertilidad. Durante muchos años, los estudios cromosómicos sólo eran indicados para las especies utilizadas en producción animal. Actualmente, la búsqueda de dichos análisis en perros y gatos se ha incrementado. En los gatos, la coloración del pelaje tortoiseshell puede tener una predominancia de pelos negros mezclados con pelos blancos y anaranjados distribuidos en todo el cuerpo, o bien presentarse una coloración denominada calicó, en la que esos tres colores se muestran como manchas independientes, con predominancia del color blanco. Este tipo de pelaje ocurre en hembras, y en raras ocasiones puede ser observado en gatos machos, debido a la presencia de aberraciones cromosómicas. En este trabajo se relata un caso donde se realizó el análisis cromosómico de un gato tortoiseshell, que tenía un conjunto cromosómico diploide de 2n = 39,XXY, es decir un cromosoma X de más, similar a lo que ocurre en el síndrome de Klinefelter en seres humanos. Palabras clave: coloración de pelaje, cariotipo, síndrome de Klinefelter

40

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


www.revistaclinicaveterinaria.com.br CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Introdução O conjunto cromossômico diploide normal dos gatos domésticos (Felis catus) é composto por 18 pares de cromossomos autossômicos e um par de cromossomos sexuais (X e Y) 1, sendo estes responsáveis pela transmissão de todas as informações genéticas para a composição de seu fenótipo. A característica coloração da pelagem em gatos é expressa por 2 genes, um localizado em cromossomo autossômico e outro no cromossomo sexual X. O gene autossômico corresponde à coloração branca e os genes para as colorações preta e laranja estão localizados no cromossomo sexual X. A coloração calica ou tortoiseshell (presença das cores preta, laranja e branca) de fêmeas de gatos domésticos é dada por um fenômeno genético característico, chamado inativação do cromossomo X. No início do desenvolvimento das fêmeas de mamíferos, um dos cromossomos X (materno ou paterno) é inativado aleatoriamente. Como cada célula é cópia da anterior, temos no organismo um mosaico de células, ou seja, uma linhagem com o X paterno inativado e outra com o X materno inativado 2. Nos machos, essa coloração é rara, uma vez que as colorações preta e laranja são

http://www.provet.com.br

condicionadas por genes no cromossomo X. Assim, o macho pode apresentar apenas um dos cinco fenótipos em relação às cores: branco, preto, laranja, branco x preto ou branco x laranja. A única maneira de o macho apresentar a coloração calica ou tortoiseshell é quando há uma anomalia cromossômica, como a que ocorre na síndrome de Klinefelter, em humanos. A síndrome de Klinefelter foi descrita pelo doutor Harry Klinefelter em 1942 e é caracterizada pela presença de um cromossomo X extranumerário. O cariótipo humano mais comum nesse caso apresenta-se como 2n = 47,XXY, mas é possível encontrar variantes como 48,XXXY; 48,XXYY; 49,XXXXY, que são cariótipos de frequência mais rara 3. Nessa síndrome, o indivíduo adulto caracteriza-se por estatura geralmente elevada, envergadura maior que a altura, esterilidade, hipogonadismo com distribuição corpórea feminina de pêlos e gordura, e testículos pequenos, com azoospermia. Entre os animais que apresentam essa anomalia, já foram relatados casos em gatos, bovinos, cães, cavalos, porcos e ovelhas, que em geral são estéreis e normalmente não reconhecíveis sem a realização do exame cariotípico, com exceção dos gatos machos com coloração calica ou tortoiseshell.

http://www.fb.com/provetdiag

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

41


Clínica CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Intoxicação por Cannabis sativa em um cão – relato de caso Cannabis sativa intoxication in a dog – a case report Intoxicación con Cannabis sativa en un perro – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, p. 46-50, 2017

Juliana Barroso Félix Médica veterinária autônoma julinhabf@hotmail.com

Lúcia de Fátima L. dos Santos Médica veterinária, dra., profa. Depto. Toxicologia – FAVET/UECE lucia.santos@uece.br

Paula Priscila Correia Costa Médica veterinária, mestre, profa. Depto. Clin. Méd. Peq. An. – FAVET/UECE paula.priscila@uece.br

Bruna Pinto Coutinho Médica veterinária UHV – FAVET/UECE brunacoutinhovet@gmail.com

Daniela Brízida Borga Médica veterinária autônoma IEMEV-Rio de Janeiro borga_dani@hotmail.com

Resumo: A maconha consiste na mistura feita a partir de folhas e flores secas da planta Cannabis sativa. Normalmente, os animais se intoxicam por meio de ingestão acidental. Os efeitos da planta são associados aos canabinoides, que não são encontrados em outras espécies vegetais. Em alguns estados dos Estados Unidos, vem sendo observado um aumento de casos de intoxicação em cães. No Brasil, os relatos são escassos. O objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico em canino intoxicado por maconha. O cão deu entrada no hospital apresentando incoordenação motora, depressão, midríase, diminuição de reflexo pupilar, nistagmo horizontal, opistótono, bradicardia e estado de obnubilação. O paciente foi internado e submetido a um tratamento de suporte, uma vez que não há antídoto para essa intoxicação. A recuperação se deu em torno de 36 horas. Unitermos: canino, planta, toxicologia, maconha, tratamento Abstract: Marijuana consists of a mixture of dried leaves and flowers of the plant Cannabis sativa. Animals are usually poisoned by accidental ingestion. The effects of the plant are associated with cannabinoids, which are not found in other plant species. An increase in poisoning cases in dogs was observed in some states of the USA. In Brazil, reports are scarce. The objective of this study is to report a case of a dog intoxicated by marijuana. The animal was admitted to the hospital with incoordination, depression, mydriasis, decreased pupillary reflex, horizontal nystagmus, opisthotonos, bradycardia, and obnubilation. The patient was hospitalized and subjected to supportive treatment, since there is no antidote for this kind of poisoning. Patient recovery took approximately 36 hours. Keywords: canine, plant, toxicology, marijuana, treatment Resumen: La marihuana es una mezcla que se hace a partir de hojas y flores secas de la planta Cannabis sativa. Normalmente los animales se intoxican por ingestión accidental del producto. Los efectos de la planta están relacionados a los cannabinoides, que no se encuentran en otras especies vegetales. En algunos estados de los Estados Unidos de Norteamérica se ha observado un aumento de los casos de intoxicación en perros. En Brasil son pocos los casos registrados. El objetivo del presente trabajo es relatar el caso de un canino intoxicado con marihuana. El paciente se presentó en el hospital con incoordinación motora, depresión, midriasis, disminución del reflejo pupilar, nistagmo horizontal, opistótonos, bradicardia y obnubilación. El paciente fue internado y sometido a un tratamiento de soporte, ya que no existe antídoto para este tipo de intoxicación. La recuperación del paciente se produjo aproximadamente 36 horas después. Palabras clave: canino, planta, toxicología, marihuana, tratamiento

46

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


www.revistaclinicaveterinaria.com.br CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Introdução A maconha resulta da mistura feita a partir de folhas e flores secas da planta Cannabis sativa, e é a droga de uso recreativo mais usada no mundo. Normalmente, os animais se intoxicam por meio da sua ingestão acidental 1. De acordo com o relatório anual de 2015 do United Nations Office on Drugs and Crime (Unodc), a maconha é a droga ilícita mais cultivada, traficada e consumida mundialmente. No Brasil, é ilegal; dados estatísticos da Polícia Federal dos últimos anos apontam que é a droga com maior número de apreensões em todas as regiões do país, sendo a principal região o Centro-Oeste, seguido pelo Sul, Sudeste, Norte e Nordeste 2,3. Nos Estados Unidos, em um levantamento realizado no período de janeiro de 2005 até outubro de 2010, os casos de intoxicações aumentaram em torno de 400% 4. A Cannabis sativa, também conhecida pelo nome de cânhamo-da-índia ou, mais popularmente, maconha, é uma das mais antigas plantas cultivadas pelo homem. Esse arbusto da família Moraceae cresce em diversos locais do mundo, principalmente em regiões de clima tropical e temperado. As folhas da maconha são, sem dúvi-

da, o maior referencial da sua morfologia 5. Trata-se de uma planta complexa, que contém aproximadamente 480 substâncias químicas diferentes, distribuídas em 18 classes químicas. Sua atividade farmacológica está associada à classe terpenofenólica, composta por mais de 60 canabinoides, que não são encontrados em outras espécies vegetais. Eles são classificados em dois grupos: os canabinoides psicoativos – Δ8THC e Δ9-THC – e os não psicoativos – canabidiol e canabinol 6. A via de intoxicação mais comum em animais é a oral. Essa via tem uma taxa de disponibilidade elevada (90 a 95%), mas a absorção é lenta, e os efeitos demoram uma hora ou mais para se manifestar, permanecendo por mais de cinco horas. A latência é parcialmente determinada pela concentração de THC na preparação. Apesar de concentrações elevadas chegarem ao intestino delgado, a biodisponibilidade acaba sendo baixa, por causa da extensa biotransformação hepática decorrente da primeira passagem pelo fígado e pela degradação do ∆9-THC no estômago, devido ao meio ácido e aos microrganismos normalmente presentes no trato gastrintestinal 1,7,8.

http://mundoanimal.vet.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

47


Oncologia CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Estudo retrospectivo de melanomas cutâneos em cães A retrospective study of cutaneous melanomas in dogs Estudio retrospectivo de los melanomas cutáneos en perros Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, p. 52-60, 2017

Cristine Cioato da Silva MV, aluna de mestrado PPGV/UFPel criscioato@hotmail.com

Thomas Normanton Guim MV, dr. Hospital de Clínicas Veterinária – UFPel thomasguim@hotmail.com

Cristina Gevehr Fernandes MV, dra., profa. adj. Depto. Patologia Animal – UFPel crisgevf@yahoo.com.br

Daniele Vitor Barboza aluna de graduação – FV/UFPel danielevitorbarboza@gmail.com

Marlete Brum Cleff MV, dra., profa. adj. Depto. Clínicas Veterinárias – UFPel marletecleff@gmail.com

Resumo: Realizou-se um estudo retrospectivo dos pacientes diagnosticados com melanoma cutâneo no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Pelotas entre os anos de 2011 e 2015, abordando aspectos epidemiológicos, diagnósticos e prognósticos. Todos os dados foram resgatados dos prontuários dos pacientes. Foram tratados cirurgicamente dezessete cães diagnosticados com melanoma cutâneo, com predomínio de fêmeas sem raça definida e idade média de 10,5 anos. O estadiamento foi realizado em onze animais, e observou-se que os pacientes em estágios mais avançados tiveram pior prognóstico. A excisão cirúrgica foi eficaz em controlar a doença. Os cães portadores de tumores pequenos e que não apresentavam metástases no momento do diagnóstico tiveram sobrevida maior e, portanto, melhor prognóstico. Unitermos: caninos, tumores cutâneos, cirurgia, fatores prognósticos, sobrevida Abstract: We performed a retrospective study of patients diagnosed with cutaneous melanoma in the Veterinary Clinical Hospital of the Federal University of Pelotas between 2011 and 2015, which covered epidemiological, diagnostic and prognostic aspects. All data were retrieved from patient charts. Seventeen dogs were diagnosed with cutaneous melanoma and treated surgically in this period. Most of them were female mongrels with a mean age of 10.5 years. Staging was performed in 11 animals; patients in more advanced stages had worse prognoses. Surgical excision was effective in controlling the disease. The dogs that presented small tumors and no metastases at diagnosis had a higher survival rate, and therefore a better prognosis. Keywords: canine, skin tumors, surgery, prognostic factors, survival Resumen: Se realizó un estudio retrospectivo de pacientes con diagnóstico de melanoma cutáneo en el Hospital Clínico Veterinario de la Universidad Federal de Pelotas, entre los años 2011 y 2015, en relación a aspectos epidemiológicos, diagnósticos y de pronóstico. Todos los datos se obtuvieron de las fichas clínicas de los pacientes. Se trataron con cirugía diecisiete perros con diagnóstico de melanoma cutáneo, en los que predominaron las hembras mestizas y con una edad promedio de 10,5 años. El estadiamiento se pudo realizar en once animales, en los que se observó un peor pronóstico en aquellos con estadios más avanzados. La extirpación quirúrgica fue eficiente en el control de la enfermedad. Los perros con tumores pequeños y sin metástasis en el momento del diagnóstico tuvieron una sobrevida mayor y, por lo tanto, un mejor pronóstico. Palabras clave: caninos, tumores cutáneos, cirugía, factores pronósticos, sobrevida

52

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


www.revistaclinicaveterinaria.com.br CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Introdução Melanomas são neoplasmas formados a partir de células produtoras de melanina – os melanócitos e os melanoblastos 1. São relativamente comuns em cães, principalmente naqueles que apresentam níveis de pigmentação cutânea elevados 2. Em seres humanos, o desenvolvimento desse neoplasma geralmente está associado à exposição solar, sendo pouco provável que essa situação ocorra em animais; no entanto, os fatores de risco para o desenvolvimento do melanoma canino não são bem estabelecidos 2,3. O melanoma tem grande importância na oncologia veterinária, por se tratar de um tumor invasivo e altamente metastático, principalmente quando se localiza nos dígitos e na cavidade oral 4,5. A pele hirsuta é o local mais comum de melanomas malignos em cães, porém eles podem ocorrer de forma primária na cavidade oral, no leito subungueal, nas junções mucocutâneas, no globo ocular e no trato gastrintestinal 5. O potencial de malignidade desse neoplasma é bastante variável, e o prognóstico depende da sua localização anatômica primária, do tamanho, da presença de metástases e de suas características histopatológicas 6-8. Esses fatores também são importantes para a determinação do estadiamento clínico da doença neoplásica e do tratamento 9,10. A ressecção cirúrgica com margens amplas é recomendada e pode ser a única modalidade terapêutica adotada em animais portadores de massas pequenas, pouco invasivas, não aderidas e sem metástases 2. A quimioterapia e a radioterapia adjuvantes podem ser aplicadas nos pacientes em que foram detectadas metástases e/ou nos quais a ressecção completa não foi possível 6. Mais recentemente, a imunoterapia tem sido utilizada

como adjuvante em cães portadores de melanoma oral em estágios II e III 11. Trata-se de uma vacina de DNA que atua promovendo resposta imune especificamente contra a tirosinase tumoral, que consiste em uma glicoproteína presente nos melanócitos 11,12. Apesar de essa vacina ser segura e ter efeitos colaterais mínimos, sua eficácia ainda é controversa na literatura, principalmente no que diz respeito ao aumento da sobrevida dos pacientes 6,11,12. Até o momento, ela foi aprovada para uso somente nos Estados Unidos, não estando disponível no Brasil 13,14. Além das modalidades terapêuticas já mencionadas, ainda podemos citar a eletroquimioterapia, que consiste na injeção intratumoral de quimioterápico, seguida pela aplicação de uma corrente elétrica que permite a abertura de poros na membrana das células neoplásicas, garantindo que o fármaco penetre por eles e as destrua 15. O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo retrospectivo dos pacientes diagnosticados com melanoma cutâneo no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Pelotas, entre os anos de 2011 e 2015, abordando aspectos epidemiológicos, clínicos, diagnósticos e prognósticos. Metodologia Os dados foram obtidos dos prontuários clínicos de cães que apresentaram diagnóstico de melanoma, confirmados por meio do exame histopatológico e atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Pelotas no período de setembro de 2011 a dezembro de 2015. Foram coletados dados epidemiológicos como espécie, idade, sexo e raça dos animais; e clínicos, como localização e tamanho dos tumores, status

http://www.xrad.com.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

53


Oncologia CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Tumor estromal gastrintestinal em uma cadela – relato de caso Gastrointestinal stromal tumor in a dog – a case report Tumor del estroma gastrointestinal en perro – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, p. 62-70, 2017

Laís Limeira Rodrigues Médica veterinária autônoma lalimeira@gmail.com

Luis Felipe Parra Machado Médico veterinário autônomo luismachadovet@gmail.com

Rafael Limeira Rodrigues Médico veterinário autônomo rafamvet@hotmail.com

Andrea D. B. Rangel de Oliveira Médica veterinária autônoma andrea.laboratorioveterinario@gmail.com

Eliane Ferraz Raats Médica veterinária autônoma elianeraats@hotmail.com

Leonardo Pereira Mesquita MV, aluno de doutorado FMVZ/USP leopmesquita@gmail.com

Resumo: Os tumores estromais gastrintestinais, ou GISTs, são neoplasias raramente descritas na espécie canina. Este trabalho teve por objetivo descrever um caso de GIST em uma cadela de dez anos de idade, da raça beagle, que apresentou hiporexia, hipodipsia e hematoquezia. Clinicamente, uma massa localizada no lúmen de uma alça intestinal foi detectada por meio de exame ultrassonográfico. Foi realizada a ressecção cirúrgica de nódulo intraluminal no jejuno. Microscopicamente, esse nódulo era composto por células mesenquimais fusiformes organizadas em feixes. Na imuno-histoquímica, as células neoplásicas foram positivas para o marcador KIT, s-100 e vimentina, sendo negativas para os marcadores de tumores originados da musculatura lisa, a desmina e a actina muscular. Com base na histologia, e principalmente na imunomarcação para KIT, realizou-se o diagnóstico de GIST no animal do presente estudo Unitermos: canino, GIST, neoplasia intestinal, KIT Abstract: Gastrointestinal stromal tumors (GISTs) are rare in the canine species. The aim of this study was to describe a case of GIST in a ten-year-old female Beagle with appetite loss, hypodipsia and hematochezia. Clinically, a mass within the lumen of an intestinal loop was detected through ultrasonography. An intraluminal nodule within the jejunum was surgically resected. Microscopically, this nodule was composed by interlacing bundles of spindle-shaped neoplastic cells of mesenchymal origin. Neoplastic cells were immunopositive for KIT, s-100 and vimentin and were negative for desmin and muscle actin, which are markers for tumors arising from smooth muscle. Histological findings and especially the immunolabeling for KIT helped establish the diagnosis of GIST Keywords: canine, GIST, intestinal neoplasia, KIT Resumen: Los tumores del estroma gastrointestinal, o GISTs, son neoplasias poco relatadas en caninos. Este trabajo tuvo como objetivo describir un caso de GIST en una perra Beagle de diez años que presentaba hiporexia, hipodipsia y hematoquecia. Mediante un examen ecográfico pudo detectarse una masa localizada en la luz intestinal. Se realizó la resección quirúrgica del nódulo intraluminal que fue localizado en el yeyuno. Microscópicamente, este nódulo estaba formado por células mesenquimales fusiformes, organizadas en forma de haces. En el examen inmunohistoquímico, las células neoplásicas fueron positivas para el marcador KIT, s-100 y para vimentina, siendo negativas para los marcadores de tumores de músculo liso – desmina y actina muscular. En base a la histopatología y, principalmente, a la inmunomarcación para KIT, el diagnóstico final de esta paciente fue de un GIST. Palabras clave: canino, GIST, neoplasia intestinal, KIT

Introdução As neoplasias gastrintestinais são pouco frequentes nos cães, correspondendo a aproximadamente 3% da totalidade dos tumores que ocorrem nessa espécie 1. As neoplasias primárias mais comuns nesse sistema são os adenocarcinomas e linfomas, sendo que as neoplasias de origem mesenquimal são raras 1. O tumor estromal gastrintestinal (GIST) é uma neopla62

sia mesenquimal presumivelmente originada das células intersticiais de Cajal, as quais são responsáveis por atuarem na regulação da motilidade intestinal 2. O GIST pode acometer diversas espécies, entre elas os seres humanos, cães, equídeos e primatas. Nos seres humanos, o GIST é comumente relatado, ao contrário dos cães, nos quais sua ocorrência é rara 1. Nos cães, o GIST acomete mais frequentemente o

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


www.revistaclinicaveterinaria.com.br CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

intestino grosso, principalmente o ceco, seguido pelo intestino delgado 3-5, ao passo que em seres humanos essa neoplasia ocorre com maior frequência no estômago, seguido pelo intestino delgado 5,6. Tumores oriundos das células intersticiais de Cajal também podem ocorrer em outros locais, além do trato gastrintestinal, tais como no útero, sendo então denominados tumores estromais extragastrintestinais 7. Os sinais clínicos apresentados por cães acometidos por neoplasias intestinais variam de acordo com o local de acometimento 8. Os sinais mais comuns são inespecíficos, tais como anorexia, letargia, êmese, hematoquezia, melena, perda de peso e dor abdominal 8,9. Pode ocorrer perfuração intestinal, principalmente quando a massa está localizada no ceco, onde a parede é mais delgada 3. A alta ocorrência de perfuração intestinal em cães acometidos pelo GIST se deve a sua localização típica no ceco 5. Quando ocorre a perfuração intestinal, os animais tipicamente apresentam sinais de peritonite séptica tais como febre, letargia e anorexia 2. Além disso, é frequente a ocorrência de anemia, principalmente se houver ulceração

tumoral e hemorragia 3. Os cães também podem apresentar hipoproteinemia e aumento no nível das enzimas hepáticas, especialmente a fosfatase alcalina 8. A ultrassonografia pode ser útil para avaliar as neoplasias intestinais quanto a sua localização, bem como avaliar possíveis locais de metástases, além de melhorar o estadiamento e auxiliar em manobras de citologia por agulha fina 8. Entre os principais achados ultrassonográficos em cães acometidos por neoplasias intestinais está o aumento da espessura da parede muscular, bem como a perda da estrutura das camadas do intestino 8. À imagem ultrassonográfica, o GIST apresenta ecogenicidade heterogênea, podendo apresentar também áreas anecóicas ou hipoecóicas, indicando presença de necrose e degeneração 5,8,10. O tamanho, as margens e a ecogenicidade da neoplasia devem ser investigados, uma vez que podem fornecer dados importantes para futura excisão cirúrgica 11. Macroscopicamente, os GISTs podem se estender por toda a parede do intestino, formando massas exofíticas multinodulares na serosa intestinal 12. Microscopicamente, os GISTs são tumores não encapsulados, compostos por

http://www.focusdiagnostico.com

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

63


Clínica CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Fibrossarcoma em onça-pintada (Panthera onca): uso da termografia associada à citologia aspirativa como auxílio diagnóstico Fibrosarcoma in a jaguar (Panthera onca): thermography associated with aspiration cytology as diagnostic tools Fibrosarcoma en jaguar (Panthera onca): la termografía y la citología aspirativa como herramientas en el diagnóstico clínico Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, p. 72-78, 2017 Rodrigo Hidalgo Friciello Teixeira MV, mestre, aluno de doutorado PPGAS/FMVZ/Unesp-Botucatu rhftzoo@hotmail.com

André Luiz Mota da Costa MV, aluno de mestrado UFSCAR PZM Quinzinho de Barros, Sorocaba almotacosta@yahoo.com.br

Nathália Diez Murollo MV, residente FMVZ/Unesp-Botucatu nathy_murollo@hotmail.com

Paolla Nicole Franco MV, residente FMVZ/Unesp-Botucatu paollanicole@yahoo.com.br

Daniel Angelo Felippi MV, residente FMVZ/Unesp-Botucatu daniel.felippi@hotmail.com

Caio Henrique Paganini Burini MV, mestre, dr., perito patologista forense burinic@hotmail.com

Resumo: A termografia infravermelha é um método seguro e não invasivo de pesquisa, sendo empregada no auxílio do diagnóstico de processos inflamatórios, doenças infecciosas, lesões musculares e controle reprodutivo. As imagens captadas pela termografia convertem a radiação infravermelha emanada pelos corpos em gradiente de temperatura, representado por um padrão de cores visíveis. A citologia aspirativa é um meio de investigação de fácil aplicação, e excelentes resultados preliminares, que direcionam o caso clínico para um diagnóstico. Uma onça-pintada (Panthera onca) do sexo masculino apresentando uma neoformação na região abdominal foi examinada com auxílio de um termógrafo e posteriormente com a técnica da citologia aspirativa com agulha fina. Com essa associação de técnicas, chegou-se ao diagnóstico de neoplasia mesenquimal maligna, posteriormente confirmado pelo exame histopatológico como fibrossarcoma. A termografia associada à citologia aspirativa por agulha fina forneceu excelente resultado, mostrando eficiência, rapidez e praticidade no auxílio do diagnóstico Unitermos: animais selvagens, felídeo, zoológico, sarcoma fusiforme Abstract: Infrared thermography is a safe and non-invasive method of research used to aid the diagnosis of inflammation, infectious diseases and muscle damage, as well as in reproductive control. The images captured by thermography convert infrared radiation emanating from the body in a temperature gradient, represented by a pattern of visible colors. Aspiration cytology, on the other hand, is an easily applicable research tool that offers excellent preliminary results and directs the clinical case towards a diagnosis. A male jaguar (Panthera onca) presenting a tumor in the abdominal region was examined with the aid of a thermal imager and later a fine needle aspiration cytology was performed. These methods disclosed a mesenchymal malignant neoplasm; later histopathological analysis confirmed the diagnosis of fibrosarcoma. The combination of thermography with fine needle aspiration cytology provided excellent results, showing efficiency, speed and convenience as a diagnostic aid. Keywords: wild animals, felid, zoological, sarcoma fusiform Resumen: La termografía infrarroja es un método seguro y no invasivo de investigación que puede ser utilizado como herramienta diagnóstica de procesos inflamatorios, enfermedades infecciosas, lesiones musculares y también como control reproductivo. Las imágenes captadas a través de la termografía convierten la radiación infrarroja emanada por los cuerpos en un gradiente de temperatura representado por una escala de colores. La citología aspirativa es un método de investigación de fácil aplicación y excelentes resultados, que permite orientar el diagnóstico clínico. Un jaguar (Panthera onca) macho que presentaba una neoformación en la región abdominal fue examinado mediante un termógrafo y posteriormente se tomaron muestras de la misma, a través de una citología aspirativa con aguja fina. Mediante ambas técnicas se pudo llegar al diagnóstico de una neoplasia mesenquimal maligna, que posteriormente fue confirmada, a través de histopatología, como un fibrosarcoma. La termografía y la citología aspirativa con aguja fina ofrecieron excelentes resultados, demostrando su eficiencia, rapidez y practicidad como complemento en el diagnóstico del paciente. Palabras clave: animales salvajes, felinos, zoológico, sarcoma fusiforme

72

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


www.revistaclinicaveterinaria.com.br CLIQUE PARA ASSINAR E TER ACESSO AO ARTIGO COMPLETO e a todo o acervo digital desde 2006

Introdução Os conceitos da termografia datam da Antiguidade, com os ensaios de Hipócrates, que utilizava recursos naturais para calcular as alterações da temperatura na superfície do corpo. Mais recentemente, na década de 1960, surgiu a teletermografia, ou simplesmente termografia, um novo método diagnóstico não invasivo, sem contraste e totalmente indolor 1. No final da década de 1990, surgiram os atuais sensores infravermelhos de alta sensibilidade, e a termografia infravermelha (TI) vem sendo recentemente aplicada na medicina veterinária 2-4. A técnica é baseada no princípio de que todos os corpos formados de matéria emitem radiação infravermelha proporcional à sua temperatura. A câmera termográfica tem como função primordial identificar a energia térmica emitida pela superfície desse objeto, transformando-a em uma imagem visível ao olho humano por meio de um padrão de cores. A energia emitida pelo objeto é captada pelo sistema óptico do termógrafo e convertida em sinal elétrico no detector, composto por unidades chamadas pixels – que por sua vez são formados por um complexo conjunto de algoritmos, designados por cores específicas que correspondem exatamente a um valor de temperatura indicado nas coordenadas x e y 1. A análise quantitativa e a interpretação das imagens tornaram a termografia um método seguro de pesquisa científica nas mais diversas especialidades – e, portanto, bastante promissor para o ramo de animais selvagens, no que tange à relação direta de achados clínicos precoces com o sucesso do tratamento 2-4. Na medicina veterinária, os equipamentos de termografia podem ser utilizados remotamente e à distância. Assim sendo, o paciente analisa-

do não é submetido a contenção física e/ou química, o que reduz significativamente o estresse, e as possíveis complicações, pois não causa alteração em seu comportamento, proporcionando, ao mesmo tempo, segurança ao médico veterinário, ao evitar acidentes ou agressões dos animais selvagens 5. É muito importante evitar o estresse e, consequentemente, aumentar a qualidade do bem-estar de animais selvagens mantidos sob os cuidados humanos 6-8. A utilização da técnica de termografia na medicina veterinária começou em animais de produção – bovinos, caprinos, suínos e aves – e na medicina esportiva – em equinos –, principalmente no diagnóstico de injúrias de membros locomotores 9,11. As imagens captadas pela termografia convertem a radiação infravermelha emanada pela superfície dos corpos em gradiente de temperatura, representado por um padrão de cores visíveis, aferindo a temperatura corporal dos tecidos externos e internos, e auxiliando na interpretação de processos fisiológicos naturais ou processos patológicos 12. As neoplasias costumam alterar o fluxo sanguíneo na região, resultando em diferentes gradientes de temperatura nos tecidos e órgãos. Esses processos são captados facilmente pelos aparelhos de termografia 13. A citologia aspirativa por agulha fina (Caaf) é uma ferramenta de fácil aplicação, e alto benefício econômico. Pouco invasiva, causa pequena lesão no local e tem excelentes resultados preliminares, que direcionam o caso clínico para um diagnóstico 14,15. A utilização de corantes hematológicos acelera o processamento da amostra, possibilitando a coloração do material em minutos e garantindo boa qualidade na observação das lâminas com auxílio do microscópio 16. Até pouco tempo atrás, as neoplasias não constituíam

http://probem.info

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

73


MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

Similaridades no diagnóstico de maus-tratos nas crianças e nos animais Agressor do animal 5 Sexo masculino

Agressor da criança 7 Maus-tratos sofridos na infância Usuário de álcool e drogas Baixa escolaridade

Usuário de drogas Pertencente a segmentos sociais menos favorecidos Portador de Síndrome Portador de Síndrome de Münchausen by proxy de Münchausen by proxy Figura 1 – Fatores identificados em agressores de crianças e animais de companhia

dos padrões característicos dos traumas não acidentais nas crianças e nos animais domésticos pode auxiliar no diagnóstico de tal trauma, bem como auxiliar na identificação de famílias violentas em que animais e crianças estão em risco. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria “os maustratos são a fonte de todas as formas de violência, pois, a depender da idade, da intensidade e do tempo de duração, podem desestruturar a formação da personalidade da criança, levando a danos ao seu desenvolvimento físico, moral, intelectual ou psicossocial e determinando falhas na

shutterstock / gornostay

Pesquisas das ciências humanas e sociais evidenciam a existência de uma forte relação entre a ocorrência de violência humana e os maus-tratos aos animais. A Teoria do Elo, conhecida internacionalmente sob o nome "The Link", propõe que em uma família em que um indivíduo é agredido, os outros membros estão em risco, incluindo os animais de estimação 1,2. A suspeita de abuso infantil pode ser reforçada se o animal da família também apresenta sinais indicadores de maus-tratos 3. Os sinais de maus-tratos apresentados por crianças e animais podem ser semelhantes: as lesões apresentam o mesmo padrão; os relatos dos pais da criança ou responsáveis pelos animais não condizem com as lesões apresentadas; e nos dois casos, a presença de lesões múltiplas e em graus diferentes de cicatrização é comum 3-8. Os animais, assim como as crianças, são suscetíveis por serem mais fracos e indefesos, considerados propriedades e necessitarem de disciplina. Os guias de identificação de maus-tratos às crianças serviram de base para o diagnóstico de traumas não acidentais em animais de companhia, e os sintomas da Síndrome da Criança Espancada orientaram a medicina veterinária para a mesma designação nos animais, Síndrome do Animal Espancado, uma vez que os mesmos sinais eram observados 2. O estudo comparativo

Identificar fatos que levam a detectar violência doméstica com abuso infantil e animal é uma uma função social do médico veterinário de extrema relevância 80

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


formação ou a destruição dos valores morais mínimos para a convivência consigo mesma e com o outro” 10. Existem quatro categorias de violência, que podem coexistir: o abuso físico, o psíquico, o sexual e a negligência. Os sinais gerais de maus-tratos às crianças, que surgem em qualquer idade, incluem mudanças de comportamento (tristeza constante, desinteresse pelas atividades próprias da idade), distúrbios do sono, apatia, irritabilidade e atraso no desenvolvimento psicomotor 10,11. O Fundo das Nações Unidas para Indicadores de abuso infantil e animal 3-9 Relatos discrepantes sobre o trauma Narrativa incompatível com a gravidade Recorrência de acidentes Traumas múltiplos Lesões com estágios evolutivos distintos Sinais comportamentais não usuais Atraso entre a ocorrência da lesão e a procura por atendimento

a Infância (Unicef) relaciona a violência sofrida na infância ao maior risco de comportamentos nocivos no futuro, como transtornos depressivos, comportamento agressivo/ violento e suicídio 12. Maus-tratos aos animais de companhia refere-se a "causar dor fisiológica ou psicológica desnecessária, sofrimento, estresse, privação e/o a morte de um animal, de forma intencional, maliciosa ou irresponsável (não intencional ou por ignorância)". Podem ser classificados

Fatores de risco infantil 9 Crianças não planejadas Recém-nascidos prematuros Sexo diferente do desejado Deficiência física Deficiência mental Portador de anomalias congênitas

Fatores de risco animal 5,8 Filhotes com menos de 2 anos Idosos Machos caninos Pit Bull Rottweiler Bull Terrier

Figura 2 – Similaridade entre a violência contra crianças e os maus-tratos aos animais de companhia em relação aos indicadores e fatores de risco CATEGORIAS Características do responsável pelo animal e sua família

INDICADORES • Relatos discrepantes sobre o trauma 5 • Os envolvidos não querem ou não conseguem explicar o que ocorreu 5 • Explicações são vagas 5 • Narrativa não é compatível com a gravidade da apresentação clínica 5 • Não há demonstração de preocupação com o animal – naturalização do trauma 5 • Recorrência de acidentes com animais no ambiente familiar 5 • São acionados distintos serviços de saúde e profissionais para dificultar a detecção das causas reais 5 • Episódios ou mortes violentas entre os membros humanos da família 5

Características dos animais envolvidos

• • • • • •

Cães das raças: pit bull, rottweiler e bull terrier 5 Sexo: machos (caninos) 5,8 Idade: cães e gatos menores de 2 anos de idade e idosos 5 Sinais comportamentais não usuais do animal 5 Agressividade (medo/ dor) 4 Animal mais confortável longe do dono 3

Características do agressor humano

• • • •

Sexo masculino 5 Usuários de drogas 5 Pertencentes a segmentos sociais menos favorecidos 5 Portadores de Síndrome de Münchausen 5

Tipos de lesões

• Lesões superficiais: queimadura, ferida incisional, facada, hemorragia conjuntival 3 • Lesões profundas: epistaxe, hematomas, ruptura de músculo abdominal, hemorragia de retina 3 • Lesões toracoabdominais internas: colapso pulmonar, ruptura de fígado, ruptura intestinal 3 • Diferentes estágios de cicatrização 8 • Fraturas múltiplas 8 • Fraturas em mais de uma região do corpo 8 • Fraturas transversas 8 • Fraturas com avançada cicatrização 8 • Fratura de costela 4 • Formação de calo ósseo 8 Figura 3 – Indicadores para suspeitar de maus-tratos aos animais de companhia, segundo características do responsável pelo animal e sua família, dos animais envolvidos, do agressor humano e do tipo de lesões Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

81


MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

como: abuso físico, sexual, psicológico e negligência 13. Pouco se conhece a respeito dos efeitos da violência nos animais. Porém, sabe-se que cães vítimas de maus-tratos têm taxas significativamente maiores de medo e agressividade dirigida a pessoas e animais desconhecidos, excitabilidade, hiperatividade, hiperapego e busca de atenção, latido persistente e comportamentos estranhos ou repetitivos, demonstrando que, assim como nas crianças, nos animais existem sequelas psicológicas do abuso 14. Os fatores de risco para identificar um adulto agressor incluem: consumo de álcool e drogas, maus-tratos sofridos na infância, baixa escolaridade e sofrer da Síndrome de Münchausen by proxy. A Figura 1 traz as características mais comuns dos agressores de animais e crianças 5,7. Casos confirmados e suspeitos de agressão contra crianças são de notificação obrigatória por parte dos profissionais 7. No Brasil, no Código de Ética do Médico Veterinário, dentro de seus princípios fundamentais, encontra-se "denunciar às autoridades competentes qualquer forma de agressão aos animais e ao seu ambiente" 15. Porém, a lei não obriga o médico veterinário a denunciar casos de maus-tratos aos animais. O diagnóstico de maus-tratos pode ser feito a partir de anamnese, exame físico e exames complementares, tanto para as crianças como para os animais 4,7. No caso das crianças, o médico pode solicitar a avaliação por outro profissional, de preferência um perito do Instituto Médico Legal. A avaliação começa pela observação da atitude da criança: medo, apatia e tristeza são sinais de alerta. Tatiane Moreira Ivanieviz Graduanda de medicina veterinária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) tati_ivanieviz@yahoo.com.br

Fernanda da Rocha Graduanda de medicina veterinária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) fernandar22@yahoo.com.br

http://www.vetgame.com.br

82

A associação desses sinais com desnutrição, atraso no desenvolvimento, lesões no crânio e na face, arranhões e queimaduras reforçam a suspeita 7. No caso dos animais é possível observar comportamento de medo na presença do proprietário, sendo que o comportamento do animal muda na ausência do mesmo 4. Os sinais gerais de maus-tratos às crianças e aos animais são lesões incompatíveis com o relato; lesões em várias partes do corpo ou bilaterais; lesões em diferentes estágios de cicatrização; lesões múltiplas; atraso entre a lesão e a procura por atendimento médico 4,7. A Figura 2 traz as similaridades entre a violência contra crianças e animais em relação aos indicadores e fatores de risco 3-9. Os indicadores para suspeitar de maus-tratos aos animais podem ser categorizados em indicadores que envolvem a família; as características dos animais, do agressor humano e os tipos de lesões (Figura 3) 3-8. A análise desses indicadores auxilia no diagnóstico de traumas não acidentais. É mportante que os médicos veterinários comecem a suspeitar quando as lesões, e o próprio animal por meio do seu comportamento, “contam” uma história diferente a que o proprietário ou responsável está trazendo, quando há discrepância entre o que se vê e o que se fala. Levantar a suspeita de que algo está errado na relação entre a família e o animal é um importante primeiro passo que a medicina veterinária pode começar a dar nesse polêmico assunto, no qual o veterinário tem uma função social indispensável, podendo identificar fatos que levam a detectar violência doméstica com abuso infantil e animal 1,2,16. Stefany Monsalve Barrero MV, Mestranda – Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Rita de Cassia Maria Garcia Universidade Federal do Paraná (UFPR); Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC), Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal (ABMVL) e Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal (AMVEBBEA)

http://www.vetgame.com.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


http://www.sacavet.com.br


PET FOOD

Supersaturação relativa da urina: sua relação com os cálculos urinários

D

entre as causas mais comuns de afecções do trato urinário inferior está a urolitíase, que é definida como a formação de sedimento, consistindo de um ou mais cristalóides pouco solúveis no trato urinário1. Estes sedimentos sólidos, chamados de urólitos ou cálculos, são formados a partir de falhas na excreção de metabólitos corporais pela urina, havendo acúmulo de precipitados, dentre eles, os cristais2. Figura 1 – Metodologia de estimativa da Supersaturação Relativa da urina (RSS) A supersaturação da urina é a força motriz para a formação de cristais no trato urinário cálcio e estruvita, utilizando dados do pH urinário, e a inferior e pode ser estimada levando em consideração o concentração urinária de 10 solutos (cálcio, magnésio, volume urinário, concentração de alguns sais e pH urinário. sódio, potássio, ácido de amônio, fosfato, citrato, sulfato, A metodologia de pesquisa é denominada “Super Saturação oxalato, ácido úrico)3, 6. Relativa” (RSS) e avalia os riscos de formação de cristais Na figura 1 é possível visualizar um resumo esquemátiurinários com base no nível de saturação de sais pouco solú- co de como é feita a análise completa e o cálculo do Índiveis, tais como estruvita ou oxalato. Este método foi intro- ce de RSS. duzido pela primeira vez na medicina humana em 1960 pelo O RSS é único para cada tipo de cristal e pode ser utilidr. WG Robertson, sendo amplamente utilizado em seres zado para definir três zonas diferentes de saturação de urina: humanos, e foi validado para a urina do cão e do gato3, 4. Zona de SUPERSATURAÇÃO INSTÁVEL; Zona de A literatura considera que o cálculo de RSS, a partir da SUPERSATURAÇÃO METAESTÁVEL; Zona de SUBSAurina de cães alimentados com uma dieta específica, é o TURAÇÃO. Cada uma destas zonas tem diferentes implimais adequado determinante da cristalização e é o método cações para o risco de formação de urólitos (figuras 2 e 3). de referência para estudar o efeito da dieta sobre o potenUm RSS abaixo do produto de solubilidade significa que cial de cristalização da urina3, 5, 6, 7, 8, 9. a urina é subsaturada e que os cristais não se formarão (eviPara estimar o RSS, são necessários cálculos numerosos tando, assim, a recorrência), e os cálculos de estruvita irão e complexos. Para tanto, desenvolveu-se um software se dissolver, como mostrado, em estudos in vitro e in vivo (Supersat®) que permite calcular o RSS para oxalato de com cães e gatos5, 10, 11, 12. A dissolução ocorre progressivamente de acordo com o "nível" de subsaturação (quanto menor o RSS, mais rápida será a dissolução)10, 11. Em meios complexos, tais como a urina, é possível ter um RSS acima do produto de solubilidade sem precipitação espontânea de cristais. Este nível de supersaturação é qualificado como supersaturação metaestável. Neste nível de saturação, os cristais não irão formar-se espontaneamente, mas podem ocorrer na presença de um núcleo. Na zona de supersaturação metaestável, cristais e, consequentemente urólitos, não se dissolvem. Figura 2 – Avaliação do risco de formação de urólitos de estruvita e oxalato de cálcio 84

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


Se a dieta favorece um índice RSS para estruvita:

Se a dieta favorece um índice RSS para oxalato de cálcio:

A saturação da urina produzida pelo animal que ingeriu este alimento será:

Maior que 2,5

Maior que 12

SUPERSATURADA

Entre 1 e 2,5

Entre 1 e 12

METAESTÁVEL

Menor que 1

Menor que 1

SUBSATURADA

.

O RISCO DE FORMAÇÃO DE ESTRUVITA E OXALATO DE CÁLCIO: • Pode ocorrer formação de novos urólitos de estruvita e oxalato • Urólitos de estruvita já existentes podem crescer • Urólitos de oxalato já existentes podem crescer • Não há formação de novos urólitos de estruvita e oxalato • Não há dissolução de urólitos de estruvita já existentes e os mesmos podem crescer • Urólitos de oxalato já existentes podem crescer • Não há formação de novos urólitos de estruvita e oxalato • Dissolução de urólitos de estruvita já existentes • Urólitos de oxalato já existentes não podem crescer

Figura 3 – Avaliação do risco de formação de cálculos urinários. Adaptado 3

Em níveis mais elevados de minerais na urina, cristais vão se formar espontaneamente dentro de minutos a horas. Esta é a zona de supersaturação lábil ou instável. O limite entre a supersaturação metaestável e instável é chamado de “formação do produto”. Estudos de precipitação cinética 8 na urina têm mostrado que o RSS para o produto de formação para estruvita é de 2,5 e para o oxalato de cálcio é de 12. Um alimento especificamente formulado para cães de pequeno porte, os quais apresentam alta predisposição para formação de cálculos urinários, deve conter matérias-primas com baixos teores de minerais e de compostos precursores de cristais, além de controlar o pH urinário e aumentar o volume urinário produzido, atuando assim na dissolução e/ou na diminuição da recidiva da urolitíase de forma mais completa. Considerando também a influência da nutrição como coadjuvante no auxílio do manejo de outras particularidades deste porte (como os cálculos dentais e o apetite caprichoso), abordá-las de forma intencional na formulação do alimento trará benefícios adicionais aos cães pequenos acometidos por urolitíases. Referências sugeridas 01-STEVENSON, A. ; RUTGERS, C. Nutritional management of canine urolithiasis. In: PIBOT, P. ; BIOURGE, V. ; ELLIOT, D. A. Encyclopedia of canine clinical nutrition. Aimargues: Royal Canin, 2006. p. 284-315. 02-MONFERDINI, R. P. ; OLIVEIRA, J. Manejo nutricional para cães e gatos com urolitíase - revisão bibliográfica. Acta Veterinaria Brasilica, v. 3, n. 1, p. 1-4, 2009. doi: 10.21708/avb.2009.3.1.1104. 03-ROBERTSON, W. G. ; JONES, J. S. ; HEATON, M. A. ; STEVENSON, A. E. ; MARKWELL, P. J. Predicting the crystallization potential of urine from cats and dogs with respect to calcium oxalate and magnesium ammonium phosphate (struvite). The Journal of Nutrition, v. 132, n. 6, p. 1637S-1641S, 2002. 04-MARKWELL, P. J. ; STEVENSON, A. E. Tratamiento dietético de la urolitiasis canina. Waltham Focus, v. 10, n. 1, p. 10-13, 2000. 05-STEVENSON, A. E. ; WRIGGLESWORTH, D. J. ; MARKWELL, P. J. Urine pH and urinary relative supersaturation in healthy adults cats.

In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON UROLITHIASIS, 9., 2000, Cape Town. Proceedings… Cape Town: University of Cape Town, 2000. 06-VAN HOEK, I. ; MALANDAIN, E. ; TOURNIER, C. RSS is a better predictor for struvite dissolution than urine pH. Veterinary Focus, v. 19, n. 2, p. 47-48, 2009. 07-STEVENSON, A. E. ; SMITH, B. H. E. Nutritional aspects of canine struvite urolithiasis. Focus on the Urinary Tract, p. 59-62, 1998. 08-BIOURGE, V. C. Urine saturation: a key factor in the management of FLUTD. In: AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE FORUM, 2006, Louisville. Proceedings… Louisville: ACVIMF, 2006. p. 17-19. 09-STEVENSON, A. E. ; ROBERTSON, W. G. ; MARKWELL, P. Risk factor analysis and relative supersaturation as tools for identifying calcium oxalate stone-forming dogs. The Journal of Small Animal Practice, v. 44, n. 11, p. 491-496, 2003. doi: 10.1111/j.17485827.2003.tb00109.x. 10-HOUSTON, D. M. ; WEESE, H. E. ; EVASON, M. D. ; BIOURGE, V. ; VAN HOEK, I. A diet with a struvite relative supersaturation less than 1 is effective in dissolving struvite stones in vivo. The British Journal of Nutrition, v. 106, n. 1, p. S90-92, 2011. doi: 10.1017/S0007114511000894. 111-TOURNIER, C. ; MALANDAIN, E. ; ABOUHAFS, S. ; ALADENISE, S. ; VENET, C. ; ECOCHARD, C. ; SERGHERAERT, R. ; BIOURGE, V. The dissolution kinetic of feline struvite stones in urine in vitro depends on the urine struvite relative supersaturation. In: RESEARCH ABSTRACT PROGRAM, 26., 2008, San Antonio. Proceedings… San Antonio: ACVIM Forum, 2008. Forum. Journal of Veterinary Internal Medicine. 12-SMITH, B. H. E. ; STEVENSON, A. E. ; MARKWELL, P. J. Urinary relative supersaturations of calcium oxalate and struvite in cats are influenced by diet. The Journal of Nutrition, v. 128, n. 12, p. 2763S-2764S, 1998.

M. V. Carolina Padovani Gerente de Comunicação Científica Royal Canin Brasil

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

85


GESTÃO, MARKETING & ESTRATÉGIA

Aposentadoria especial – Privilégio da classe veterinária

A

Shutterstock/Andrey Popov

reforma da Previdência Social é são do benefício. tema da atualidade, a depenIsto porque até a edição da Lei der da aprovação das novas 9.032/95, o reconhecimento da normas no Congresso Nacional. natureza especial da atividade No entanto, na grade curricuveterinária se dava por meio lar dos cursos de Medicina do enquadramento pela Veterinária não há muitos categoria profissional do conteúdos relacionados à trabalhador, com presungestão de clínicas para ção legal de exposição profissionais autônomos aos agentes nocivos. ou a aspectos legais e Assim, ao profissional econômicos da probastava comprovar o fissão. exercício de sua ativiO pagamento da dade com a inscrição contribuição previna Previdência Social denciária é obrigatóna atividade considerio a toda pessoa que rada insalubre. exerce atividade remuApós o ano de nerada no Brasil, 1995, o profissional é inclusive o médico obrigado a comprovar veterinário autônomo. a efetiva exposição a Se o profissional inagentes nocivos químigressa no mercado de tracos, físicos, biológicos balho e não contribui para ou a associação de agentes a Previdência Social, além prejudiciais à saúde ou à de perder o direito a inúmeros integridade física e em caráter benefícios, abre mão de um permanente, não ocasional nem Obtenha o reconhecimento importante recurso a ser utilizado intermitente. de atividade especial para em idade avançada e desperdiça a Presentes os requisitos para o fins previdenciários oportunidade de conquistar a aposentarecebimento da aposentadoria especial e doria com 25 anos de contribuição (aposentaformalizada a recusa da Previdência Social, o doria especial) à qual a classe tem direito. médico veterinário poderá contatar um profissional Regra geral, na aposentadoria por tempo de contribui- da área jurídica, já que os tribunais têm reconhecido este ção, o benefício é devido ao cidadão que comprova o direito, conforme as recentes decisões judiciais, a seguir: tempo total de 35 anos de contribuição, se homem, ou 30 “No que diz respeito à atividade de autônomo, não há anos de contribuição, se mulher. Todavia, quando o profis- óbice à concessão de aposentadoria especial, desde que sional exerce suas atividades em condições insalubres ou reste comprovado o exercício de atividade que exponha o que prejudicam a integridade física, tem prazo de contri- trabalhador de forma habitual e permanente, não eventual buição reduzido para 25 anos. nem intermitente, aos agentes nocivos, conforme se veriÉ o caso do médico veterinário, que no seu exercício fica do § 3º do art. 57 da Lei 8.213/91, na redação dada profissional está exposto ao contato com animais doentes, pela Lei 9.032/95. (...) - A categoria profissional de materiais infecto-contagiantes, trabalhos em laboratórios médico veterinário está prevista no Decreto 83.080/79, com animais destinados ao preparo de soro ou vacinas, conforme código 2.1.3 "Medicina - Odontologia contato com produtos de animais infectados, como vísce- Farmácia e Bioquímica - Enfermagem - Veterinária", ras, sangue e ossos. ou seja, o legislador presumia que tais trabalhadores Para obtenção deste direito não é necessário idade míni- estavam expostos a agentes biológicos nocivos. (...)- In ma, mas é indispensável comprovar efetiva exposição aos casu, os documentos constantes dos autos são suficienagentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou a asso- tes para comprovar que a autora exerceu a atividade ciação de agentes prejudiciais pelo período de 25 anos. de veterinária autônoma de forma contínua, habitual Porém, mesmo após a contribuição por este tempo, e permanente, devendo ser mantidos os termos da muitas vezes há recusa da Previdência Social na conces- decisão (...)”. (APELAÇÃO CÍVEL – 2069146 TRF3) 86

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


“O autor pretende ver reconhecida a natureza especial do período laborado para a EMATER - Alagoas, de 14/08/1978 a 05/05/2011, na função de Médico Veterinário. 3. Com efeito, o autor faz jus ao reconhecimento do tempo de serviço prestado no período pretendido (14/08/1978 a 05/05/2011), visto que a atividade de "médico veterinário" pode ser devidamente enquadrada no item 1.3.2, do Anexo I, do Decreto nº 53.831/64, bem como pela existência do contrato lavrado na CTPS, do PPP e do Laudo Técnico acostado aos autos, que demonstram a exposição a agentes nocivos biológicos (vírus, bactérias, protozoários e fungos - contato permanente com doenças infecto-contagiosas), no referido lapso temporal. 4. Assim, considerando o lapso mínimo exigido por lei (25 anos) e procedendo à contagem do tempo de serviço especial, vê-se que o mesmo tem direito à aposentadoria especial desde a data do requerimento administrativo, na medida em que já somava mais de 25 anos de efetivo labor naquela ocasião.” (APELREEX 00079046820114058000 TRF5). A propósito, foi publicada a Súmula 62 pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais que prevê: “O segurado contribuinte individual pode obter reconhecimento de atividade especial para fins previdenciários, desde que consiga comprovar exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física”. Importante mencionar que a legislação vigente não permite que os profissionais que recebam o benefício da aposentadoria especial retornem ao mercado de trabalho na atividade considerada insalubre que exerciam anterior-

mente. A aposentadoria especial é irreversível e irrenunciável, depois que o profissional receber o primeiro pagamento, não poderá desistir do benefício. A Previdência Social funciona como um seguro para o profissional que contribuiu com o órgão e que, em determinado momento da vida, não pode mais exercer suas funções seja por idade, doença ou invalidez.

Para requerer a aposentadoria especial: http://www.previdencia.gov.br/servicos-ao-cidadao/todos-os-servicos/aposentadoria-especial/ Giorgia Bach

Advogada da área da saúde. Especialista em processo civil. Procuradora do CRMV-PR advocacia@praticaclinica.com.br

http://www.mellovet.com.br/

O tema do próximo Simpósio – RECONHECENDO E MELHORANDO O TRATAMENTO DA SEPSE NAS ESPECIALIDADES DA CLÍNICA MÉDICA DE ANIMAIS DE COMPANHIA – põe o dedo na ferida. A sepse precisa passer a ser reconhecida como uma urgência em medicina veterinária para só então ter a sua altíssima mortalidade reduzida. Apesar da mortalidade em nosso país seguir inaceitavelmente alta (medicina de humana), reduções de mortalidade pontuais, em alguns centros do país, parecem nos dizer que é possível mudar essa realidade, mas ainda não chegamos lá. A programação procura trazer os temas mais instigantes, as controvérsias, o estado atual da pesquisa, ao mesmo tempo reforçando os conceitos e intervenções que são fundamentais para a conduta diante do paciente com sepse.

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

87


GESTÃO, MARKETING & ESTRATÉGIA

Passando a régua em 2016

P

ara muitas pessoas, 2016 foi um ano digno de ser riscado do calendário. Do ponto de vista político, foi uma bagunça, e do ponto de vista econômico, uma tragédia. O mercado veterinário sofreu bastante, mas dados preliminares sugerem que nosso desempenho ainda foi melhor que o de outros setores da economia. Mais do que nunca, os proprietários de clínicas tiveram que sair de sua zona de conforto para se manter “saudáveis” (por saudável entende-se que a empresa fica com as contas no azul no final do mês). Mesmo estando em um ambiente cada vez mais competitivo num país com séria instabilidade econômica, o mercado pet sempre se manteve ascendente. Como muitas pessoas perderam o emprego nos últimos tempos, inúmeras foram forçadas a ingressar no mundo do empreendedorismo, e várias delas escolheram o mercado pet para isso. Em 2016, esse mercado transbordou de ideias novas e diferentes – desde cerveja e vinho para cachorros até video games e canal de TV para os pets. Esse crescimento exponencial se dá por causa da mudança drástica e veloz do comportamento dos tutores de animais. O brasileiro está tendo menos filhos, está se casando mais tarde, passa mais tempo fora de casa e vem adotando mais pets, ao mesmo tempo que se preocupa com

seu bem-estar, educação, alimentação e saúde. E é essa a situação que o veterinário deve aproveitar. Já escrevi inúmeras vezes que “o pulo do gato” para o veterinário não é ter uma quantidade enorme de clientes, mas fidelizar aqueles que já tem. O tíquete médio por paciente será mais alto e frequente. E cliente satisfeito fala bem do veterinário que o atende! As perspectivas econômicas para 2017 são um pouco mais animadoras. Se tudo der certo, a economia tenderá a se estabilizar, mas ainda vai demorar para conseguirmos tomar algum fôlego. No final das contas, 2016 foi um ano que nos fez pensar em novas possibilidades dentro de nossa profissão e do mercado veterinário. Sair da nossa zona de conforto nos faz inventar alternativas (afinal, a necessidade é a mãe da criatividade), nos faz prestar mais atenção aos detalhes que costumam passar despercebidos e nos ajuda a trabalhar melhor, pois temos que ser mais eficientes e organizados. Não desanime, pois melhores dias virão! Renato Brescia Miracca renato.miracca@pontualsoftware.com

Médico veterinário, bacharel em direito, MBA Pontual Software Solutions www.pontual.pt

Crescimento do mercado farmacêutico para pets em 2017 Dados da COMAC revelam crescimento menor em 2016 e maior expectativa para 2017

O

mercado de animais de companhia tem demonstrado crescimento exponencial nos últimos anos, em todos os seus segmentos. Na área da saúde não tem sido diferente, já que esse setor apresentou um crescimento de 10% nos 12 meses compreendidos entre setembro de 2015 e setembro de 2016. Por outro lado, o ano de 2016 foi particularmente difícil para grande parte dos mercados, e apesar de novas tendências e oportunidades, o mercado pet também sofreu com a forte recessão da economia brasileira. No acumulado do ano de janeiro a setembro, o crescimento do setor de saúde animal de animais de companhia foi de 6%, se comparado com o mesmo período de 2015. “A economia do país influenciou também o nosso mercado, mas mesmo assim estamos com saldo positivo e com grandes oportunidades para os próximos anos. O segmento dá grande vazão para novos negócios, e é isso que esperamos em 2017”, comenta Leonardo Brandão, diretor da Unidade de Negócios Pet da Ceva Saúde Animal e coordenador do Infopet da Comissão de Animais de Companhia (Comac). 88

Existe ainda um grande campo a ser percorrido na valorização dos cuidados com os pets. O estudo “Árvore de valor” da COMAC identificou que nem todos os tutores têm o hábito de levar o animal ao médico veterinário com a frequência necessária. A média entre cães e gatos, por exemplo, é de duas visitas ao ano. Se essa análise for estendida para a quantidade de animais medicados anualmente, esse número ainda é menor. A relação entre as pessoas e seus pets tem se fortalecido dia após dia, e é por isso que esse mercado ainda tem muito espaço para crescer. Soluções que facilitem o cuidado diário dos animais, fortalecendo ainda mais essa relação e priorizando a saúde e o bem-estar dos pets, são o motor do mercado de saúde animal – um mercado voltado não apenas para produtos inovadores, mas também que tragam conveniência, facilitando a vida daqueles que amam os animais. A expectativa para 2017 é de alta, com a esperança de que a partir do ano que vem a crise seja gradativamente deixada para trás, abrindo espaço para o aquecimento do mercado.

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017



LIVROS

Neurologia canina e felina

A

Editora Guará firmou contrato com a John Wiley & Sons para traduzir para o português a 3ª edição da obra Practical Guide to Canine and Feline Neurology. A obra tem lançamento previsto para abril. Fique atento e aproveite as condições especiais que serão oferecidas. Sobre o livro Neurologia canina e felina – guia prático é uma obra amplamente atualizada, com foco no manejo de casos neurológicos de cães e gatos. A nova edição inclui capítulos sobre

diagnóstico diferencial, distúrbios do movimento e ressonância magnética. Acompanha também acervo de vídeos de distúrbios neurológicos específicos em um novo website, sendo um dos vídeos um guia sobre como realizar exames neurológicos. Essa edição revisada continua a tradição de prover informação neurológica detalhada em um formato lógico, organizado e acessível, ideal ao veterinário estudante, profissional ou especialista. A apresentação de todo o conteúdo conta também com a inclusão de tabelas e gráficos, incentivando e valorizando os recursos visuais. Novos desenhos de procedimentos foram adicionados aos capítulos, bem como houve adição/substituição de fotos de alta qualidade. É uma obra essencial para a biblioteca de todos os interessados em estudar o diagnóstico e o tratamento de cães e gatos com distúrbios neurológicos. Livraria ProBem: http://probem.info

Medicina felina essencial

O

s editores Giovana Adorni Mazzotti e Marcello Rodrigues da Roza organizaram a obra Medicina felina essencial – guia prático, que contou com diversos colaboradores de renome. Segundo a profa. dra. Heloisa Justen, pioneira em medicina felina brasileira, “O livro Medicina felina essencial – guia prático foi idealizado de forma impecável para ajudar o médico veterinário no atendimento dos gatos domésticos em suas dúvidas mais comuns. Oferece informações essenciais por meio de uma consulta rápida e objetiva pelas diferentes áreas da medicina felina. Escrito por profissionais renomados e especializados, que transmitem seus conhecimentos com clareza e abrangência, apresenta um encadeamento de temas julgados pertinentes na rotina clínica e cirúrgica dos gatos, em uma sequência – desde o entendimento da importância da contenção física e química em felinos às principais afecções neurológicas, genitouriná90

Temas abordados na obra: Anestesiologia Neurologia Oncologia Sistema genitourinário Emergência Ortopedia Sistema respiratório Procedimentos no ambiente hospitalar Dermatologia Odontologia Endocrinologia

Cirurgia Doenças infectocontagiosas Intoxicações Métodos diagnósticos Oftalmologia Sistema digestório Cardiologia Sistema hepatobiliar e pancreático Miscelânea Apêndices

rias e doenças infectocontagiosas, dentre outras, até os procedimentos específicos para gatos no ambiente hospitalar – informações tão importantes para os médicos veterinários e para as associações de medicina felina. Seu maior mérito está em abordar temas atuais escolhidos pelos seus editores e autores, que viram a necessidade de fazer uma medicina felina de excelência e não mediram esforços para que os temas abordados entretenham a todos. Almejo, que esse livro venha atender à demanda por informações acerca dos principais tópicos da medicina felina em nosso país”. Equalis: http://goo.gl/fLddYm

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


INOVAÇÃO

Gel promove hemostasia em segundos

O

jovem Joseph Alexander Landolina inventou a versão inicial do gel hemostático em laboratório experimental enquanto estudante na Universidade de Nova York. Posteriormente, Landolina transformou o protótipo em um produto comercial para o segmento veterinário, que recebeu o nome de VetigelTM. Seu parceiro de projeto, Isaac Miller, tornou-se seu co-fundador da Cresilon, empresa criada para produzir e distribuir o VetigelTM – http://cresilon.com . O lançamento inicial ocorreu nos Estados Unidos e, posteriormente, o VetigelTM foi lançado também na Europa e Ásia. A Cresilon também aguarda aprovação do FDA para que o uso humano seja liberado. Uma vez permitido, seu uso inicial será no serviço militar e nos atendimentos de emergência. Mecanismo de ação Quando aplicado diretamente à fonte de sangramento, o Vetigel adere rapidamente ao local da ferida e interrompe o fluxo de sangramento criando uma barreira mecânica. Isso permite a formação de um coágulo forte e natural, sem a necessidade de pressão aplicada. O uso do VetigelTM é indicado para animais de companhia em situações em que seja necessário controlar a hemorragia, como, por exemplo: biopsias de tecido mole, extrações dentárias, traumas, castrações, enucleações, remoções de massas, cirurgias ortopédicas e lacerações.

Confira o vídeo que demonstra como funciona o VetigelTM: http://youtu.be/4YJ21jUNBFU

http://www.complet.vet.br Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

91


LANÇAMENTOS

TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

N

o início de dezembro de 2016 a Virbac realizou o primeiro evento de lançamento do Milteforan, nome comercial da miltefosina, droga usada para tratar a leishmaniose visceral canina na Europa desde 2007. Em 2013, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) autorizou protocolo de estudo apresentado pelo laboratório Virbac. Um canil experimental foi construído segundo as normas de segurança estabelecidas pelo órgão e o estudo terminou em 2014. O relatório foi apresentado para aprovação em 2015 e, em setembro de 2016, foi publicada nota técnica interministerial que liberou o Milteforan para o tratamento canino no Brasil: http://goo.gl/e4Mw8a. O processo de aprovação contou com o apoio e influência de membros do Brasileish (Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal), que há oito anos lutam junto com a Virbac pela aprovação da comercialização do Milteforan no Brasil, tendo em vista que este é o principal medicamento para tratamento da doença em outros países, principalmente na Europa. “Essa vitória é extremamente importante, pois se trata de um assunto de saúde pública, já que os cães infectados, quando tratados corretamente, deixam de ser reservatórios para o mosquito que transmite a doença para o homem”, afirma

Confira o folheto técnico do Milteforan: http://goo.gl/Lf35VJ

Valdir Avino, gerente de assuntos regulatórios da Virbac. Os animais tratados com Milteforan requerem monitoramento periódico. A cada quatro meses, todos os animais devem ser reavaliados por seus médicos veterinários para que um novo ciclo de tratamento de 28 dias seja instituído. Por conta disso, para facilitar o acompanhamento criterioso de todos os casos em tratamento, foi criado o Virbac Clube Pet APP. O sistema serve como suporte ao planejamento e rotina de visitas e retornos dos pacientes em tratamento. Inclui ferramenta de envio de SMS para os veterinários e para os tutores.

ALIMENTO PARA MANEJO DE CÁLCULOS URINÁRIOS EM CÃES

A

Urinary Small Dog está disponível na versão seca, em embalagens de 2 kg e 7,5 kg 92

s doenças do trato urinário inferior em cães, em especial a ocorrência de urolitíases, estão dentre as mais importantes causas de busca de auxílio veterinário. Pensando na população de cães de pequeno porte, a Royal Canin, traz ao mercado brasileiro mais uma inovação: Urinary Small Dog. O produto atende as necessidades específicas para manejo de cálculos urinários em cães de pequeno porte (até 10 kg quando adultos), que são mais predispostos a apresentar o problema. Sua fórmula contém matérias-primas com baixos teores de minerais e tecnologia RSS (Supersaturação Relativa da Urina), que garante alta eficácia na dissolução de cálculos de estruvita e, ao mesmo tempo, evita a formação de cálculos de oxalato de cálcio. Além disso, o alimento possui um teor adequado de sódio (dentro dos limites recomendados), que estimula a ingestão de água,

promovendo o aumento do volume urinário com consequente diluição da urina. Cães pequenos também apresentam maior predisposição ao desenvolvimento de doença periodontal, pois o acúmulo de cálculo dental é bastante rápido e intenso. A ação mecânica proporcionada pelo croquete de Urinary Small Dog, com formato e textura ideal, associada à ação química do tripolifosfato de sódio, que sequestra o cálcio da saliva, limitam a formação do cálculo dental. Outro diferencial do alimento é sua palatabilidade reforçada. Cães pequenos apresentam menos células olfatórias quando comparados a cães de médio e grande porte, por isso, o apetite destes animais tende a ser mais caprichoso. Por ser uma alimentação coadjuvante ao tratamento convencional, a recomendação nutricional deve ser realizada pelo médico veterinário.

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


SNACKS SUPER PREMIUM PARA CÃES um meio de conservação de alimentos em que a água é retirada por sublimação, conservando todas as propriedades do alimento. De sabor insuperável e autêntico, os snacks são livres de corantes (0%) e feitos com carne e ingredientes de alta qualidade.

O

s snacks Super Premium Equilíbrio Freeze Dried Nutrition, destinado a minicães e cães de pequeno porte, estão com nova embalagem e nova comunicação. Os snacks são produzidos de acordo com tecnologia avançada de freeze drying, conhecida como liofilização –

OS SNACKS Freeze Dried Nutrition Calm é composto com proteína de alta digestibilidade, extrato de chá verde, que tem ação antioxidante, e triptofano, que atua como elemento antiestresse para os cães. É indicado para animais agitados e ansiosos ou para amenizar o estresse, inclusive daqueles cujos lares que não dispõem de muito espaço. Freeze Dried Nutrition Dermato contém ingredientes especiais que contribuem para a defesa natural do pet, como ômega 3 e ômega 6, que promovem a saúde da pele. O snack também apresenta selênio orgânico, muito importante para o crescimento saudável da pelagem. Freeze Dried Nutrition Vitality contém suporte energético de 4.060 kcal/kg, ingredientes naturais, proteínas de alta digestibilidade e excelente palatabilidade. É recomendado em casos específicos de animais que necessitam de alta energia, como nos pós-cirúrgicos, durante e após a amamentação e em casos de estresse ou convalescência.

MORDEDORES RECHEÁVEIS E PORTA-ALIMENTOS

Matrioska e Monstrinho: brinquedos ocupacionais que proporcionam bem-estar físico e mental aos cães

A

Pet Games desenvolveu dois modelos de mordedores recheáveis e porta-alimentos: a Matrioska e o Monstrinho. Eles foram desenvolvidos em borracha termoplástica de alta resistência mecânica, que garante segurança e durabilidade. O principal atrativo é seu compartimento oco para alimentos. Para incentivar o uso, é necessário introduzir nos mordedores ração umedecida e/ou petiscos umedecidos. O pet encontrará diferentes maneiras de retirar o alimento de dentro do brinquedo, diminuindo sua ociosidade e

baixando o nível de estresse. A rotina dos animais em um ambiente humano pouco enriquecido pode gerar problemas físicos e mentais nos cães. Isso acontece porque a expressão de seus comportamentos naturais fica limitida. Para identificar se o animal está passando por situações de estresse crônico, basta observar sua rotina. Atitudes como agressividade, destruição de objetos, latidos excessivos e automutilação são sintomas claros de que o animal não goza de pleno bem-estar físico e mental. Esses sinais comprovam como uma convivência sem estímulos adequados resulta em cães obesos, estressados e sedentários. OS MODELOS Matrioska: disponível nas cores rosa e lilás peroladas, faz referência às tradicionais bonequinhas russas, amuleto de sorte que surgiu no século XIX e representa a fertilidade, a maternidade, a família unida, próspera e feliz. Monstrinho: disponível nas cores azul e verde peroladas, nos tamanhos P/M/G, tem proteção antimicrobiana e conceito toy art de esculturas colecionáveis.

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

93


ACUPUNTURA

CIRURGIA

6 e 7 de maio de 2017 Botucatu - SP III Simpósio Internacional de Acupuntura Veterinária http://www.bioethicus.com.br

21 a 23 de abril de 2017 Jaboticabal - SP IV Curso e II Simpósio Internacional de Cirurgia Reconstrutiva em Cães e Gatos http://www.funep.org.br

ANESTESIOLOGIA Março (início) São Paulo - SP Pós-graduação em anestesia regional em medicina veterinária 18 meses - Famesp (11) 99824-5140

21 e 22 de julho São Paulo - SP Miscelâneas cirúrgicas tóracoabdominais (11) 3819-0594

1º de março (início) Curitiba - PR Residência em medicina veterinária - anestesiologia veterinária (41) 3331-7964

4 de setembro a 30 de outubro São Paulo - SP Curso de patologia clínica – interpretação e diagnóstico http://www.ivi.vet.br

ANIMAIS SELVAGENS 2 a 4 de fevereiro São Cristóvão - SE III SIMGEAS – Simpósio do Grupo de Estudos em Animais Silvestres, UFS http://www.fb.com/geas.ufs

BEM-ESTAR ANIMAL 18 a 20 de abril Porto Alegre - RS IV Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal http://cfmv.gov.br

CARDIOLOGIA 5 a 7 de março Viçosa - MG Curso de cardiologia em pequenos animais (31) 3956-6339 6 a 27 de março São Bernardo do Campo - SP 2º Curso básico de eletrocardiograma em pequenos animais http://www.rkdiagnostico.com.br 14 a 16 de julho São Paulo - SP Curso de eletrocardiograma http://www.ivi.vet.br

CLÍNICA

COMPORTAMENTO 18 e 19 de março Botucatu - SP Abordagem dos transtornos de comportamento http://www.bioethicus.com.br 25 a 26 de março de 2017 Bragança Paulista - SP II Seminário Em Busca do Day Care Ideal http://dogsolution.com.br/seminario2.pdf (31) 99726-7461

DERMATOLOGIA Março (data a confirmar) São Paulo - SP Esporotricose...uma panzootia? Painel epidemiológico http://sbdv.com.br Maio (data a confirmar) São Paulo - SP Imersão em dermatoses autoimunes http://sbdv.com.br Junho (data a confirmar) São Paulo - SP Infecções tegumentares não usuais http://sbdv.com.br

Agosto (data a confirmar) São Paulo - SP Avanços na compreensão das dermatopatias alérgicas http://sbdv.com.br Outubro (data a confirmar) São Paulo - SP Microbioma no paciente humano com dermatite atópica http://sbdv.com.br

FISIOTERAPIA 20 e 21 de maio (início) Botucatu - SP X Curso de pós-graduação lato sensu em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veterinária http://www.bioethicus.com.br

GESTÃO 29 de março a 1º de abril São Paulo - SP Curso de gestão e marketing http://gioso.com.br

HOMEOPATIA 11 de março de 2017 (início) São Paulo - SP Curso de formação em homeopatia veterinária http://www.spmv.org.br

IMAGENOLOGIA 23 e 24 de janeiro Rio de Janeiro - RJ Curso de tomografia computadorizada abdominal http://goo.gl/JTesBL 4 de fevereiro São Paulo - SP Palestras e mesa redonda: • Ultrassonografia abdominal: estreitando laços com a medicina interna. • Ultrassonografia no paciente ictérico e nas doenças pancreáticas. http://famesp.com.br/palestra-emesa-redonda-ultrassonografiaveterinaria/ (11) 99824-5140

10 e 11 de fevereiro São Paulo - SP Ultrassonografia em emergências - fast (tórax e abdômen): teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 6 a 10 de março São Paulo - SP Ultrassonografia doppler: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 7 de março a 23 de abril São Bernardo do Campo - SP 4º Curso teórico-prático de ultrassonografia em pequenos animais (11) 4122-3733 http://www.rkdiagnostico.com.br 22 a 24 de março São Paulo - SP Ultrassonografia ocular: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 3 a 5 de abril São Paulo - SP Ultrassonografia ortopédico: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 30 de abril São Paulo - SP NAUS International Meeting (Núcleo de Aperfeiçoamento em Ultrassonografia Veterinária) http://naus.vet.br/calendario 28 de abril (início) São Paulo - SP Curso de especialização em radiologia http://www.ivi.vet.br 6 de maio a 8 de outubro São Paulo - SP Curso de radiologia: silvestres http://www.ivi.vet.br 16 de maio a 29 de junho São Paulo - SP Curso de aprimoramento em radiologia http://www.ivi.vet.br

http://www.cipo.vet.br

94

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


31 de julho a 1º de setembro São Paulo - SP Curso de ultrassonografia abdominal http://www.ivi.vet.br

4 a 7 de outubro São Paulo - SP Ultrassonografia transcraniana: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

20 de maio Campinas - SP V Simpósio de SEPSE http://www.mellovet.com.br

3 a 5 de agosto São Paulo - SP Ultrassonografia de pescoço: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

6 a 14 de novembro São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal básico: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

31 de março a 1º de abril Rio de Janeiro - RJ Cat In Rio http://www.catinrio.com.br

16 a 19 de agosto São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal avançado: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

6 a 9 de dezembro São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal avançado: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

11 e 12 de fevereiro (início) Botucatu - SP Neurologia veterinária http://www.bioethicus.com.br

4 de julho a 14 de dezembro São Paulo - SP Especialização em radiologia http://www.ivi.vet.br

1º de setembro (início) São Paulo - SP Curso de ultrassonografia abdominal http://www.ivi.vet.br

15 a 17 de novembro Salvador - BA VII SINDIV http://abrv.org.br

10 e 11 de maio Campinas - SP XVI Congresso CBNA PET http://www.cbna.com.br

INTENSIVISMO

ODONTOLOGIA

15 e 16 de julho São Paulo - SP Ultrassonografia intervencionista: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

11 a 15 de setembro São Paulo - SP Ultrassonografia doppler: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

Fevereiro (início) Campinas - SP II Curso de plantonista veterinário http://www.mellovet.com.br (19) 99773-4568

10 a 13 de abril São Paulo - SP Odontologia: curso teórico-prático http://sacavet.com.br/home/odontologia/

IMAGENOLOGIA 17 a 20 de maio São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal avançado: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 5 a 9 de junho São Paulo - SP Ultrassonografia doppler: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario 22 a 24 de junho São Paulo - SP Ultrassonografia gestacional: teórico e prático http://naus.vet.br/calendario

MEDICINA FELINA

NEUROLOGIA

NUTRIÇÃO

http://www.qualittas.com.br

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

95


OFTALMOLOGIA 11 e 12 de março São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais http://www.vetmasters.com.br

ONCOLOGIA 18 e 19 de março (início) Botucatu - SP Curso de pós-graduação lato sensu em oncologia veterinária http://bioethicus.com.br/oncologia 28 de abril a 1º de maio São Paulo - SP IX ONCOVET http://www.abrovet.org.br

16 e 17 de fevereiro São Paulo- SP Curso Intensivo Prático de Ortopedia (CIPO) - módulo básico http://www.cipo.vet.br 6 a 8 de abril São Paulo- SP Curso Intensivo Prático de Ortopedia (CIPO) - módulo avançado (11) 3819-0594 18 a 20 de maio São Paulo- SP Curso de cirurgia de coluna http://www.cipo.vet.br

PATOLOGIA

20 e 21 de janeiro São Paulo- SP Curso de TTA e TPLO (11) 3819-0594

18 e 19 de fevereiro (módulo I) 18 e 19 de março (módulo II) Botucatu - SP II Curso prático de citopatologia veterinária http://www.bioethicus.com.br

11 de fevereiro (início) Jaboticabal - SP Curso de aprimoramento em ortopedia de cães e gatos (180 horas) http://www.funep.org.br

4 de setembro a 30 de outubro São Paulo - SP Curso de patologia clínica – interpretação e diagnóstico http://www.ivi.vet.br

ORTOPEDIA

SAÚDE PÚBLICA Abril (data a confirmar) Curitiba - PR Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) cursos@itec.com.br 19 e 20 de maio Porto Alegre - RS VIII Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo cursos@itec.com.br

SEMANAS ACADÊMICAS 8 a 13 de abril São Paulo - SP XXVII SACAVET – Semana Acadêmica de Veterinária da FMVZ/USP http://sacavet.com.br

FEIRAS & CONGRESSOS 20 a 22 de maio Novo Hamburgo - RS Feipet – 5ª Feira de Negócios para Animais de estimação http://www.feitpet.com.br

3 a 5 de maio Recife - PE 38º Congresso Brasileiro da Anclivepa http://www.anclivepa2017.com.br 1º a 3 de julho São Paulo - SP Congresso Paulista das Especialidades e Congresso Internacional de Medicina de Felinos http://spmv.org.br spmv@spmv.org.br 17 a 19 de outubro São Paulo - SP 15º CONPAVEPA, Vet Expo e Pet Shop Expo http://vetexpo.com.br 13 a 15 de novembro Guarujá - SP 3º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária (ABEV) http://abev.org.br 15 a 17 de novembro Salvador - BA VII SINDIV http://abrv.org.br

http://www.itecbr.org

http://revistaclinicaveterinaria.com.br

96

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017


http://www.anclivepa2017.com.br


AGENDAInternacional 4 a 8 de fevereiro Orlando, Flórida - EUA NAVC 2017 (North American Veterinary Conference) http://navc.com 11 e 12 de fevereiro Orlando, Flórida - EUA NAVC 2017 (North American Veterinary Conference) http://navc.com 10 a 12 de março Berlim - Alemanha 5th International Berlin Bat Meeting: Are bats special? http://www.batlab.de/5th-ibbm 11 a 18 de março Snowbird, Utah - EUA VOS 2017 Conference – Veterinary Orthopedic Society http://www.vosdvm.org 17 a 19 de março Punta del Este - Uruguai X Congreso Latinoamericano de Emergencias y Cuidados Intensivos - LAVECCS 2017 http://laveccs2017.com 4 a 7 de abril Lima - Peru Latin American Veterinary Conference (LAVC) http://tlavc-peru.org 6 a 9 de abril Lahaina, Havaí - EUA VECCS 2017 Spring Symposium http://www.veccs.org

10 a 12 de abril Pretória - África do Sul InVeST 2017 Conference (International Veterinary Simulation in Teaching) http://investconf2017.com

28 de junho a 2 de julho Brighton - Inglaterra ISFM World Feline Congress 2017 (International Society of Feline Medicine) http://icatcare.org/isfm-congress

13 a 17 de setembro Nashville, Tennessee - EUA IVECCS 2017 (International Veterinary Emergency & Critical Care Symposium) http://www.veccs.org

11 de abril Washington - EUA Veterinary Vaccine Conference http://go.evvnt.com/59912-0

30 de julho a 4 de agosto Estoril - Portugal Behaviour 2017: 35th International Ethological Conference http://icatcare.org/isfm-congress

25 a 28 de setembro Copenhaguen - Dinamarca World Small Animal Veterinary Association Congress and FECAVA Eurocongress http://wsava2017.com

19 a 21 de abril Haia - Holanda European Veterinary Conference Voorjaarsdagen http://www.voorjaarsdagen.eu 25 a 28 de abril Toronto - Canadá WADEM Congress on disaster an emergency medicine 2017 http://wadem.org/congress/toronto-2017 26 a 29 de abril Lake Buena Vista, Flórida - EUA North American Veterinary Dermatology Forum http://www.navdf.org 11 a 13 de maio Santiago - Chile IV Congresso Internacional VECME http://www.udla.cl/11-de-mayo-1 contacto@vecme.cl 16 a 20 de maio Toledo - Espanha 6th WorldLeish -World Congress on Leishmaniasis http://www.worldleish2017.org

7 a 10 de agosto Aarhus, Dinamarca ISAE 2017: undestanding animal behaviour http://isae2017.com 27 a 31 de agosto Incheon - Coreia do Sul 33th World Veterinary Congress http://www.worldvet.org Setembro (data a confirmar) León - México Congreso Veterinario de León http://cvdl.com.mx 4 a 8 de setembro Kuala Lumpur, Malásia WAAVP 2017 (World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology) http://www.waavp2017kl.org 7 a 9 de setembro Lausanne - Suíça ESVD-ECVD Annual Congress (European Society of Veterinary Dermatology - European College of Veterinary Dermatology) http://esvd-ecvdcongress.com

28 de setembro a 1 de outubro Berlim - Alemanha 11th International conference on behaviour, physiology and genetics of wildlife http://goo.gl/QqXW9Y 2 a 4 de outubro Vancouver, Canadá 8th Animal Health & Veterinary Medicine Congress http://animalhealth.conferenceseries.com 26 a 28 de outubro Portland, Oregon - EUA Veterinary Cancer Society Conference http://www.vetcancersociety.org 9 a 11 de novembro Barcelona - Espanha SEVC 2017 (Southern European Veterinary Conference) Congreso Nacional AVEPA (Asociación de Veterinarios Españoles Especialistas en Pequeños Animales) http://sevc.info 23 a 25 de novembro Montevideo - Uruguai XIV Congresso Iberoamericano FIAVAC (Federação Iberoamericana de Associações Veterinárias de Animais de Companhia) XI Congresso Nacional SUVEPA (Sociedad Uruguaya de Veterinarios Especialistas en Pequeños Animales) http://www.suvepa.org.uy http://fb.com/SuvepaFiavac2017

2018 Singapura - Malásia World Small Animal Veterinary Association Congress (WSAVA 2018) http://www.wsava.org

África do Sul. Vários congressos mundiais já foram realizados na África do Sul. Um que está programado para abril de 2017 é o InVeST 2017 Conference (International Veterinary Simulation in Teaching). O Parque Kruger é um dos destinos mais procurados para estar próximo da vida selvagem africana. http://rhinoafrica.com/pt/africa-do-sul/parque-nacional-kruger

98

Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 126, janeiro/fevereiro, 2017

Rio de Janeiro - Brasil XV Congresso Iberoamericano FIAVAC http://fiavac.org




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.