A questão da natureza e especificidade da filosofia está, pelo menos desde Platão, inextricavelmente ligada à questão da distância/proximidade, efectiva ou desejada, entre discurso filosófico e discurso literário. Se não perguntamos já se é preciso expulsar os poetas da cidade, certo é que, em virtude dos vários casos de miscigenação a que assistimos sobretudo a partir do século XX, tal questão arde-nos hoje nas mãos com uma força renovada.
É, pois, neste contexto que nos propomos reflectir sobre o sentido e a medida da relação possível entre filosofia e literatura em e a partir de dois pensadores de referência da contemporaneidade, Maurice Blanchot e Paul Ricoeur. Na tensão entre as pulsões que os movem – uma a que chamaremos retrospectiva e outra prospectiva – pensamos encontrar um espaço fértil e abrangente para (re)pensar a geometria da relação indigitada.