A resistência da palha

A resistência da palha O trançado de palha como instrumento de resistência na cultura de Saubara-BA.

Claudemir B. Galvão

Sobre o livro

A

resistência da palha propõe uma visão a respeito do trançado de palha como instrumento de resistência e da identidade local de Saubara-BA. Com imagens de Claudemir Galvão, o fotolivro mostra o município através de sua religiosidade, de suas paisagens, de sua cultura e do protagonismo de quem participa de todos os processos que envolvem o artesanato.

Salve São Domingos de Gusmão da Saubara Salve São Domingos desta terra alegria salve santo pregador do Rosário e da Virgem Maria. Ó São Domingos de Deus amado sede dos pescadores sublime advogado.

Nós vos pedimos rogai a Jesus que nos dê seus dons sua graça e luz.

Sua graça e luz e glória também, de Deus alcançai-nos para sempre. Amém!

O

município de Saubara está localizado no Recôncavo da Bahia, a 100 km da capital e possui uma população multirracial de cerca de 12 mil habitantes.

Beleza, encantos e mistérios fazem parte de sua história.

Pedra dos milagres, ponto de peregrinação e religiosidade.

As cartas redigidas pelo Padre Manoel José Pereira que correspondiam ao Conselho Interino de Governo (1822), comprovam a existência de canhões próximos à praia que protegiam a costa, sendo essa região conhecida como a muralha defensiva do Recôncavo. No contexto histórico, o que se destaca é a incansável trajetória de luta do seu povo. Sejam os homens e mulheres que participaram do enfrentamento aos portugueses e holandeses no período das guerras, até os que presentemente enfrentam adversidades na obtenção do seu sustento.

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icuri, nicuri e ouricuri são alguns dos nomes mais conhecidos da palmeira Syagrus Coronata (nome científico). A palmeira pode atingir até 10 metros de altura, suas folhas entre 2 e 3 metros de comprimento, também possui flores amareladas e cachos de um fruto que possui cerca de 2 cm de diâmetro. A planta é nativa do semi-árido brasileiro, suas folhas tornam-se matéria-prima para confecção de diversos utensílios, como: bolsas, chapéus, esteiras e outras peças de artesanato. Em parte do Nordeste, os indígenas Tupinambás que habitavam a região deixaram como legado a utilização desta palmeira e Saubara manteve a tradição do trançado até os dias atuais.

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s tranças de quatro, cinco, sete ou mais palhas configuram tiras que suportam o artesanato. No acabamento das peças é utilizada uma agulha específica e uma linha com o próprio material da palha.

“M

eu sonho é que nunca acabe a matéria-prima do que a gente faz! E, que tenha alguma menina que um dia se importe em fazer isso, pra não deixar acabar. Eu já tenho 53! Já pensou? Uma coisa importante eu não queria que acabasse”.

Claudete Nery Santana dos Santos

“

[...] a gente tá fazendo aqui, ali, o juízo fica trabalhando, fica lembrando de quase tudo passado. Não tem como não pensar, de quando começou, eu casei com 19 anos, tive 14 filhos e foi nessa lida aí: criando porco, galinha e valendo a miúdo, trabalhando em roça... Mas, graças a Deus! Ninguém nunca dormiu sem tomar café. Agora, não estudei porque meu pai e minha mãe não pôde botar, mas me despedaçava quase a noite toda chamando por Deus pra minhas filhas não ficar como eu...”

Valdelice Santana Barros

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u tinha 8 anos de idade. Esse trabalho aqui é passado de geração pra geração. Já foi de minha vó, eu acho que já foi de minha bisavó, minha vó depois passou pra minha mãe e de minha mãe passou pra mim e eu já ensinei as minhas filhas. E aí, vai passando de uma geração pra geração”.

Raimunda Alexandria das Virgens

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s tranças de quatro, cinco, sete e onze tiras da palha são utilizadas na confecção de alças, de bolsas e de cortinas. As tiras com quinze, dezenove e vinte e três tiras são utilizadas na produção de mocós, de esteiras, de bolsas. O trançado de palito é utilizado na fabricação de porta-pratos.

As peças podem ser adquiridas nas casas das trançadeiras ou na associação Casa das Rendeiras, que reúne a diversidade do artesanato local.

Créditos Fotos e textos Claudemir B. Galvão Projeto Gráfico e diagramação Claudemir B. Galvão Curadoria e revisão Profª Drª Alene da Silva Lins Agradecimentos especiais Claudete Nery Santana dos Santos Gizélia Josenildo Moreira dos Santos Raimunda Alexandria das Virgens Valdelice Santana Barros Vânia