Etnografia da criação do Projeto de Assentamento Agroextrativista da Ilha do Baixio

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando

os

encontros

e

desencontros

(Schweickardt,

2010)

presentes

na

implementação do PAE da Ilha do Baixio, percebe-se que enquanto território jurídico e administrativo do INCRA, a institucionalização do Assentamento encontra no território préestabelecido e no modo de vida local, novos elementos, que não haviam sido pensados e previstos dentro do campo e do planejamento institucional. Neste caso, há certo distanciamento entre a teoria e prática. Mas ainda assim, mesmo com esse visível distanciamento, que inicialmente deu conta de desajustes quanto à qualidade de alguns elementos provenientes da criação do assentamento, percebe-se a possibilidade de um campo de diálogo, que se inicia com a própria parceria entre o INCRA e os moradores da ilha, diante da possibilidade de implementação do Assentamento. Nesses encontros e desencontros entre as políticas do Estado e os assentados e beneficiários do PAE, podemos perceber o quanto o diálogo entre a teoria e a prática precisa ser aperfeiçoado, os projetos institucionais precisam de campo para serem colocados em prática e precisam ser pensados de forma conjunta, levando em consideração aspectos territoriais locais e regionais, acultura e a identidade dos sujeitos envolvidos, e as variações sazonais de cada ambiente em que os projetos são desenvolvidos. É evidente que a regularização fundiária dos moradores que historicamente residem em áreas de várzea é uma grande conquista, pois reconhece o direito histórico de uso das áreas por famílias que tradicionalmente ocupam esses espaços. No entanto, os benefícios decorrentes desse processo precisam estar em sintonia com as realidades locais, o que passa pelo diálogo que tem sido construído entre os camponeses e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que tem trabalhado junto a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) com esforços voltados ao reconhecimento de territorialidades específicas. Assim, mesmo com o contratempo em relação à segurança das casas do PAE da Ilha do Baixio, a avaliação de muitos moradores sobre o assentamento tem sido positiva:

Foi uma benção, porque pra quem não tem, tudo é bom né? Quebra um galho isso aí... (Sr. Raimundo, 67 anos, agricultor, 26/04/2012).


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Etnografia da criação do Projeto de Assentamento Agroextrativista da Ilha do Baixio by claudioney guimaraes - Issuu