Revista Ser Familia 24 edição

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Por volta dos três anos, é muito comum que nossos filhos nos deem motivos para pensarmos “ele era tão obediente e bonzinho e agora é de uma teimosia incansável!” A educação está baseada em tendências naturais de desenvolvimento. É natural, por exemplo, que a criança aprenda a falar por imitações, a partir de uma certa idade, que aprenda a andar com outra idade etc... Todo desenvolvimento, quer seja emocional, racional, ou físico, tem um momento e uma forma ideal para acontecer. Na idade em questão, eles começam a protestar quando são exigidos, querem impor sua vontade aos irmãos e amigos. Passam a distinguir entre o “meu” e o “teu”, e os conflitos e brigas tendem a aparecer, principalmente, quando alguém quer pegar seu brinquedo. E em algumas ocasiões se isolam dos demais, brincam sozinhos e falam sozinhos. Este novo comportamento, que denota rebeldia, recebe o nome de obstinação (teimosia), e nas meninas se inicia antes do que nos meninos. A obstinação pode se unir à violência: a criança mantém sua própria opinião e seu próprio desejo, ao qual se fixa com violência contra a oposição e desejos alheios. Como aquela mãe que nega 24

um sorvete para o filho, por motivos que julga importante, e ele reage com chutes, tapas, mordidas, gritos etc. Como se explica a aparição da fase de obstinação, violência e desobediência? Que forças e funções psíquicas atuam por trás deste modo de conduta, próprio desta idade? Precisamos saber a respeito desta fase para não atrapalhar o desenvolvimento e

até os três anos, a criança se considera um prolongamento da mãe e os outros são apenas ‘coisas’ crescimento da criança para a independência e autonomia, além do crescimento e conhecimento de sua identidade, uma vez que, até então, ela não reconhecia um “eu” e um “tu”. Até os três anos, a criança se considera um prolongamento da mãe e os outros são apenas ‘coisas’. Você já deve ter percebido como as crianças, antes dos três anos, empurram as outras como se fossem algo material. Mas nesta idade, ela começa a reconhecer e diferenciar as pessoas, pais, irmãos e amigos como “outros”. Assim se inicia a primeira crise de identidade, na qual a criança terá de se identificar como um “eu”, único e irrepetível.

Entretanto, os conflitos fazem parte deste processo de identidade. Por isso, devemos encarar as brigas entre amigos e irmãos como algo natural. Muitas vezes interferir numa briga pode atrapalhar este processo de amadurecimento e independência. Levando em conta o bom senso, é importante deixar que resolvam seus conflitos por conta. É muito comum presenciarmos em parquinhos infantis discussões entre mães porque o Joãozinho tirou o brinquedo do Pedrinho e este bateu no outro. Se as mães encarassem como um processo normal de desenvolvimento infantil, com certeza abrandariam, e muito, os seus ânimos. O próprio fato de uma criança tirar um brinquedo da outra faz com que ela vá percebendo que existe um outro que também tem desejos e opiniões que devem ser respeitados. E a intervenção da mãe pode querer dizer: “filho, você e seus desejos são únicos e não podem ser contrariados”, com o agravante de que a criança já tem esta convicção em mente, de que todos têm opiniões e desejos iguais aos seus. Ensinar a generosidade para os filhos nesta fase talvez não seja a melhor “estratégia”. O momento propício para isso chegará em breve, mas o mais importante agora é saber identificar as outras crianças e saber que têm desejos, opiniões e brinquedos próprios que devem ser


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