


Docente: Rodrigo Bus Back
Curso: Arquitetura e Urbanismo
Disciplina: Arquitetura no Brasil II

“Eu acho que arquitetura é uma coisa plural Gente nunca é singular Gente é sempre plural ” Gustavo Penna

Docente: Rodrigo Bus Back
Curso: Arquitetura e Urbanismo
Disciplina: Arquitetura no Brasil II
“Eu acho que arquitetura é uma coisa plural Gente nunca é singular Gente é sempre plural ” Gustavo Penna
Gustavo Penna, nascido em 17-04-1950, é um dos mais renomados arquitetos brasileiros. Sua relação com a arquitetura inicia-se ainda na infância, ao viver em uma residência projetada pelo italiano Rafaello Berti e após uma viagem à Brasília com 12 anos. Formou-se em 1973 pela UFMG e fundou o escritório Gustavo Penna Arquitetos & Associados, onde atua até hoje. Lecionou na UFMG entre 1977 e 2009. Suas principais referências são Oscar Niemyer e Álvaro Siza. Seu reconhecimento como profissional surge em 1979 na revista Pampulha. Depois, em 1982, venceu o concurso para a Sede da Casa do Jornalista de Belo Horizonte. Seus projetos foram expostos em diversos países e ele integra o Conselho Curador da Fundação Oscar Niemeyer e da Fundação Dom Cabral. Também é sócio-fundador da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa (AEAULP). Atualmente é considerado um dos principais nomes da arquitetura contemporânea brasileira. Entre suas obras icônicas estão o Memorial da Liberdade, o Museu da Estrada Real e o Expominas, projetos que reforçam sua identidade arquitetônica inovadora e conectada à cultura mineira e nacional.
O legado de Gustavo Penna transcende o estado de Minas Gerais e se expande para o Brasil e para o mundo. É possível observar uma variedade de edifícios com as mais múltiplas características e funções. O próprio Gustavo define seu escritório com um “caráter de ateliê”. Não há um direcionamento ou nicho do tipo de obra a qual o escritório se dedica. A ideia do escritório é não ser especialista em tipologias específicas de projeto. Gustavo se considera um “clínico geral”. Ainda que, exista grande variedade de projetos, alguns merecem devido destaque, como a Casa Roca, que se inspira nas curvas das montanhas mineiras; a Sede Carmo Coffes, que possui um elemento que relembra um grão de café torrado; e o recentemente inaugurado Memorial de Brumadinho, que mantém viva a memória das vítimas da tragédia ocorrida em 2019, feito com ultra sensibilidade e respeito.
As obras de Penna destacam-se por sua variedade de materiais de construção empregados. Contudo, de forma singela, alguns padrões são observados. Por conta de sua formação, nota-se uma forte herança modernista que reverbera em sua contemporaneidade. Suas obras exploram fortemente o uso do metal, vidro e do concreto aparente, demonstrando suas raízes modernas. Porém, a materialidade de suas obra remonta à uma brasilidade contemporânea inegável, como o uso da madeira como elemento quente e de aconchego associada às paredes tratadas com reboco rústico, revestido com simples caiação, trazendo consigo a tradição mineira das antigas edificações do período colonial.
Como citado anteriormente, Gustavo Penna possui grande influência modernista, o que, por consequência, reflete em sua forma de projetar. Simples no quesito variedade de materiais, mas complexo nas diversas combinações e usos. Assim, verifica-se em o uso do concreto armado, como principal elemento estrutural, associado ao aço. Ambos protagonistas nas estruturas reforçando-as devidamente e também atuando na composição do design como um todo. Outra forte influência de caráter modernista são as amplas plantas livres, que permitem os conceitos de integração tão presentes na arquitetura contemporânea de Penna, assim como possibilita a mobilidade do espaço ao desejo do usuário.
Com relação as características de suas obras, observa-se fortemente a relação entre entorno, contexto e função. A harmonia criada pela valorização da paisagem ao redor, dialoga fortemente com integração do edifício com a mesma.
A plasticidade de suas obras é variada, transitando entre formas geométricas ortogonais e simples à curvas marcantes e jogos de luz e sombra cativantes.. Porém, é constantemente demarcada uso da luz natural, que possibilitam espaços agradáveis, acolhedores e que transcendem os limites físicos impostos pela estrutura. O externo penetra o interno. Tal característica só é possível por conta do constante uso de vidro nas esquadrias e paredes. Além disso, há o uso frequente de materiais regionais como a madeira, pedra natural e a própria cal. Traço este que intensifica a identidade local e o caráter sustentável dos projetos.
A funcionalidade surge na experiência do usuário, construindo espaços fluídos e otimizados. Chamado muitas vezes de “poeta da arquitetura”, Gustavo propõe em seus traços significados reais, repletos de sentimento e emoção, respeitando a cultura e história. Verdadeiros marcos arquitetônicos que se tornam singulares figuras de seu tempo.
A Casa Lincoln, construída em 2009 no Condomínio Serra dos Manacás, na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais, foi projetada por Gustavo Penna e seu escritório. Esta residência foi edificada em terreno alto, montanhoso e com vista privilegiada de toda a natureza e do entorno da região. À primeira vista, já é manifestado ao observador toda a filosofia de Penna ao projetar. Um edifício simples e direto à primeira vista, porém repleto de significado e intenções bem definidas. É constituído de uma planta regular, de formato quadrado e com ambientes integrados, com um grande cubo de vidro central, elevado acima do nível do telhado. Perifericamente, sacadas se projetam e permitem ao usuário participar da paisagem. As esquadrias de vidro permitem a translucidez da natureza com interior do edifício. É uma casa onde a solidão não foi convidada.
O edifício encontra-se num terreno em declive, em direção a um grande vale montanhoso. Conectado à calçada, há um grande estrado de madeira, que aqui atua como um grande tapete amadeirado de boas vindas ao transeunte. O mesmo percorre a passarela e transpassa um grande espelho d’água num gesto poético, lavando-se para adentrar o lar. Do lado esquerdo, há o acesso para a garagem. Discreta. O carro aqui não é o foco a ser celebrado. A forma geométrica consiste num grande cubo branco, com alguns vazios, encimado por um cubo de vidro, volume este que é o protagonista do edifício.
Com relação à estrutura, a Casa Lincoln possui um sistema convencional de concreto armado, com pilares, vigas e lajes. Sua diagramação é simples, similar à uma grelha, contudo com amplos vãos, organizando-se em nove quadrantes: seis quadrados e três retangulares. O formato dos pilares é majoritariamente retangular e ocultos nas paredes de vedação, porém, pequenos exemplares de seção transversal são observáveis na varanda e no centro da sala, onde quatro destes sustentam a laje que cobre o cubo de vidro.
Vale-se destacar que, para este estudo, não encontrados documentos que demonstram exatamente a locação dos elementos estruturais. Os diagramas abaixo apenas sugerem um esboço de como estes elementos podem estar efetivamente dispostos.
Após transpormos o espelho d’água, deparamo-nos com o hall de entrada, que distribui os fluxos seja para o lado íntimo ou social. Podemos acessar os dormitórios à direita, a sala de jantar seguida do escritório à esquerda ou chegar à sala de estar por meio das portas laterais de acesso. A sala é o coração da casa e possui um visão privilegiada do horizonte montanhês a se perder de vista. O cubo que encima-a permite ao morador uma vista do seu entorno. Pode-se ver a chuva chegando, indo embora... um pássaro voando... a lua passando... a casa faz companhia. Abaixo, encontram-se a garagem e uma ampla lavanderia. Os ambientes demarcados em preto do pavimento inferior não puderam ser identificados.
Social Íntimo
Serviço
Circulação
Ambiente indefinido
As circulações da Casa Lincoln são muito ínfimas e pouco expressivas.
Todo o projeto dispõe de uma grande centralidade proporcionada pela sala de estar que integra todos os ambientes à ela própria. Assim há uma espécie de equidistância entre os ambientes da casa. O local de circulação de maior destaque é o próprio hall de entrada, que, como citado anteriormente, distribui os fluxos para toda a casa. Entretanto, no pavimento térreo há corredor de acesso às suítes, que por sua vez, também conduz a escada lateral direita, que desce ao pavimento inferior. Este, possui como elemento de circulação central um outro longo corredor, que conecta todos os ambientes do pavimento inferior.
As aberturas são um grande destaque. Esquadrias amplas, do teto ao chão e que trazem um sentimento de liberdade e de pertencimento do todo. O indivíduo abraça as montanhas e se torna parte delas. Porém, com cuidado e aconchego. Afinal, não se deseja que o sentimento seja de vulnerabilidade e insegurança em meio à imensidão. Outro ponto importante é justamente o controle da ventilação. Regiões de montanha tendem a ventar mais e serem mais frias. Portanto, as esquadrias, ainda que sejam amplas, são contidas e dosam a circulação de ar interior, evitando excessos.
Legenda esquadrias
Janelas
Portas
A cobertura não possui grandes refinamentos ou detalhes. Muito pelo contrário. Condiz perfeitamente com a simplicidade geométrica do edifício, consistindo em uma simples laje maciça de concreto armado. Esta, é recortada no centro para dar lugar ao grande vão do cubo de vidro central, também coberto por uma laje própria.
ARCHDAILY. Memorial Brumadinho de Gustavo Penna transforma local da tragédia em espaço de memória. 2024. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/1026378/memorial-brumadinho-de-gustavopenna-transforma-local-da-tragedia-em-espaco-de-memoria. Acesso em: 18 fev. 2025.
DÊGELO, Marilena Arquiteto mineiro Gustavo Penna analisa trajetória de mais de 50 anos. Revista Casa e Jardim. 2023. Disponível em: https://revistacasaejardim.globo.com/entrevistas/noticia/2023/06/arquitetomineiro-gustavo-penna-analisa-trajetoria-de-mais-de-50-anos.ghtml. Acesso em: 18 fev. 2025.
GUSTAVO PENNA ARQUITETOS E ASSOCIADOS Casa Lincoln Disponível em: https://www.gustavopenna.com.br/casalincoln. Acesso em: 21 fev. 2025.
MOREIRA, Susana. Casa Roca / Gustavo Penna Arquiteto e Associados. Archdaily. 2022. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/983551/casa-rocagustavo-penna-arquiteto-e-associados. Acesso em: 22 fev. 2025.
MOREIRA, Susana. Sede Carmo Coffees / Gustavo Penna Arquiteto e Associados. Archdaily 2021 Disponível em: https://www archdaily com br/br/977333/sedecarmo-coffees-gustavo-penna-arquiteto-e-associados. Acesso em: 20 fev. 2025.
PEREIRA, Mateus. Casa Lincoln / Gustavo Penna Arquiteto e Associados. Archdaily. 2019. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/917156/casa-lincolngustavo-penna-arquiteto-e-associados. Acesso em: 19 fev. 2025.
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