Em busca de nós mesmos - Degustação

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Parte 1 | A realidade

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pela medicina a partir dos dados subjetivos derivados do relato dos pacientes. Graças a isso, sou capaz de enxergar, afinal, uso óculos desde os três anos de idade. Antes dessa idade, eu não sabia me comunicar muito bem. Vivia tropeçando, caindo e batendo a cara na parede. Minha mãe achava que eu era meio idiota. Hoje já é possível saber o grau necessário para os olhos da pessoa sem ter de lhe fazer perguntas. Isso permite criar óculos até para bebês. Na minha época não havia essa tecnologia. Apesar disso, muitos médicos ainda preferem adotar o método tradicional (perguntando e ajustando) com pacientes em idade suficiente para se comunicar bem. As pesquisas científicas sobre fenômenos subjetivos, tais como felicidade, satisfação, prazer, etc., são baseadas em princípios semelhantes. Afinal, ainda que meu cérebro seja diferente do seu, ambos são bastante parecidos. Do contrário, as ciências do cérebro — as neurociências — seriam impossíveis. Aliás, se a realidade de cada um fosse completamente diferente, viveríamos em um caos. Veja as emoções, por exemplo. O medo é universal. Existe em todo ser humano que tem um cérebro saudável, em todo lugar do mundo. No entanto, qual é a causa do medo? Qual será a intensidade? Qual será o comportamento dele resultante? Isso tenderá a variar entre os indivíduos, terá influências culturais, etc. Mas serão variações fisiológicas, psicológicas e comportamentais de um mesmo fenômeno que chamamos coletivamente de medo. Temos cérebros bastante parecidos, afinal.


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