Jornal novembro

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Manaus, Novembro 2013 - Ano V - Ed.38 - ISSN 2175-0866

www.inpa.gov.br

Divulga Ciência Jornal do Inpa

59anos

Pesquidadores desenvolvem pomadas e cremes para tratamento de leishmaniose A doença é causada por protozoários e transmitida por um inseto conhecido como flebótomo Pág.05

Foto: Acervo pesquisador

Foto: Daniel Jordano

Foto: Bruno Kelly/FAS

Foto:Daniel Jordano

Vetores

Acordo

FIAM

Seminários Avançados de doenças tropicais debatem o uso de mosquitos transgênicos para reduzir transmissão doenças

Convênio da FAS com o Inpa prevê a implantação de duas Unidades Demonstrativas e programas de capacitação para 200 ribeirinhos

Empresas incubadas do Inpa demonstram como é possível aliar empreendedorismo ao uso racional dos recursos naturais

Pág.02

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Boa Leitura

“Inpa realiza lançamento de publicações com destaque para divulgação científica” Pág.02

Pág.08

Inpa debate desafios e avanços da entomologia na Amazônia Pág.02

Centro de Dados compartilhados vai melhorar serviços de computação em nuvem Pág.04

O Inpa homenageia pesquisadores pela contribuição deles à Ciência Pág.06

“Na Amazônia não há espaço para copiar e colar”, afirma diretor do Inpa no FMC Pág.07


Expediente TomeExpediente Ciëncia Assessor de Comunicação: Daniel Jordano (SRTE - 518/AM) - Editora Chefe: Cimone Barros - Repórteres: Cimone Barros, Daniel Jordano e Raiza Lucena -Editoração Eletrônica: Denys Serrão - Revisão: Cimone Barros e Daniel Jordano- Fotos: Daniel Jordano, Eduardo Gomes, Bruno Kelly/FAS, André Felipe e acervo pesquisadores Tiragem: 1000 - Edição 38 - Novembro - ISSN 2175-0866. Produção: Assessoria de Comunicação do Inpa/MCTI.

Novembro 2013 - Página 02 Fale com a Redação +55 92 3643-3100 / 3104 digital.inpa@gmail.com ascom_inpa Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/MCTI

TomeCiëncia Ciência Tome Foto: Eduardo Gomes

Foto: Eduardo Gomes

Foto: Daniel Jordano

Inpa e RNP lançam projeto de infraestrutura para sistema de computação em nuvem no AM

Entomologia para todos: Inpa debate desafios dos estudos sobre insetos na Amazônia

Celdo Braga e Eduardo Braga discutem o saber tradicional e o papel da ciência na região

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) lançaram o projeto piloto Centro de Dados Compartilhados (CDC), em novembro (5). Até março de 2014 o sistema deverá entrar em operação. O projeto possui recursos dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), além do apoio da empresa chinesa Huawei.   O CDC é um serviço de computação em nuvem para a comunidade acadêmica, mais flexível e seguro, que visa melhorar o sistema de computação na Amazônia. A infraestrutura será instalada no campus I do Inpa e contará com dois containers de sofisticados sistemas, como refrigeração, rede, monitoramento e armazenamento.

De 4 a 6 de novembro, a Entomologia (estudo dos insetos) foi a pauta principal da 5ª edição do Puxirum Entomológico, no Inpa. O objetivo é aproximar mais os estudantes da graduação com os da pós-graduação, mostrar os trabalhos desenvolvidos dentro do Instituto na área da Entomologia, como médica e forense, além de discutir os desafios e avanços nesta área do conhecimento.   Um dos momentos mais marcantes do evento foi a homenagem aos pesquisadores do Inpa, o colombiano naturalizado brasileiro Dr. Eloy Guilhermo Bermúdez, que se aposenta em 2014, e a brasileira Msc. Catarina da Silva Motta (in memoriam). Outro ponto que despertou emoção foi o reencontro de parte da turma da pós-graduação de 1990.

O Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/ Inpa) realizou rodada dupla, em novembro, com a presença do poeta e músico Celdo Braga, no dia 6, e do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), dia 29. Celdo discutiu Poesia e Música na Amazônia, a partir da relação do saber tradicional com o científico, base para alguns de seus trabalhos, como o DVD “O Poeta e o Passarinho”.   Já Eduardo Braga ressaltou o papel da ciência e propôs a formação de um parque tecnológico em Manaus. A ideia dele é pegar os recursos da pesquisa e desenvolvimento na Lei de Informática e criar um marco regulatório que obrigue as empresas a investirem em centros tecnológicos de universidades, especialmente públicas, e não mais em institutos de empresas.

Foto: Eduardo Gomes

Boa Leitura Tome Ciëncia A Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI) lançou, no dia 22 de novembro, oito obras que visam fomentar e socializar o conhecimento científico produzido nas bancadas de laboratórios, expedições a campo e a partir das análises das informações coletadas pelos pesquisadores. O evento também marcou o início de uma parceria entre o Instituto e o Portal Amazônia, que vai disponibilizar as matérias produzidas pela revista de divulgação científica Ciência para Todos. Além da revista, a editora colocou à disposição do público três cartilhas (Introdução a criação de abelhas nativas sem ferrão – em português e sateré mawé, Bicho de casco do Estado do Amazonas e Vamos conhecer os insetos aquáticos?) e quarto livros (Fruteiras da Amazônia - potencial nutricional, Aves do Pantanal e os Cadernos de Debates do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos tomos V e VI).


Inpa e Institutos internacionais desenvolvem novas pomadas para o tratamento de leishmaniose cutânea Amazonas é o 5º Estado do país com mais notificações de casos da leishmaniose tegumentar americana Foto: Acervo pesquisador

A doença em humanos tem cura e o tratamento é longo | Raíza Lucena e Cimone Barros Da equipe do Divulga Ciência

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI) trabalha, em parceria com outros institutos internacionais, no desenvolvimento de formulações tópicas (cremes e pomadas) para o tratamento da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), mais especificamente a cutânea. Esta doença negligenciada pode provocar desde lesões cutâneas simples até formas de mucosas desfigurantes.   Segundo dados de 2012 do Ministério da Saúde, o Amazonas respondeu por 2,2 mil dos 23,5 mil casos de LTA (9,5%) do país, sendo o 5º Estado com mais notificações e o segundo no Norte. O Pará teve 4.076 casos (17,3%).   A leishmaniose é transmitida pela fêmea do inseto Psicodideo, conhecido como flebótomo, mosquito-palha, birigui, cangalhina, que pica um animal contaminado (preguiças e mucuras, por exemplo) infectadas com o protozoário da Leishmania.   De modo geral, a doença é classificada como Leishmaniose Tegumentar Americana (cutânea ou mucosa) e é a mais comum na região Norte do Brasil. A LTA ataca pele e mucosas, enquanto a Visceral (Calazar) atinge

órgãos internos e é a mais perigosa.   De acordo com a pesquisadora do Inpa e responsável pelo Laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas, Antônia Franco, o novo tratamento é um nanohíbrido à base de antimônio que pode reduzir significativamente os efeitos colaterais de medicamentos utilizados atualmente,

“A eficiência do medicamento é 30 vezes mais elevada e confirma uma elevada mortalidade de parasitas” Iryna Grafova

como o Glucantime, entre eles, a dor das aplicações das injeções. “Além disso, o glucantime tem contra-indicação e não deve ser administrado em gestantes e portadores de tuberculose pulmonar e malária”, disse.   Conforme Franco, os antimoniais pentavalentes são indicados para o tratamento de todas as formas de leishmaniose tegumentar, embora as formas mucosa e mucocutânea exijam maior cuidado, por apresentarem

respostas mais lentas e a maior possibilidade de reincidência. A proposta é o tratamento de uso tópico com cremes e pomadas, com aplicações diárias e direto na pele, aumentando a penetração do composto ativo.   “A eficiência do medicamento é 30 vezes mais elevada e confirma uma elevada mortalidade de parasitas em relação ao medicamento ao tratamento feito com o Glucantime (pesquisa feita em experimentos in vivo)”, disse a pesquisadora Iryna Grafova, da Universidade de Helsinki (Finlândia), parceira nos estudos, assim como o Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, em palestra no Inpa sobre o uso das nanopartículas no tratamento das doenças tropicais, no XIII Seminários Avançados em Doenças Tropicais e Controle de Vetores.   Franco e seus colaboradores (Andriy Grafov, Iryna Grafova e Markku Leskela) entraram este ano com pedido de patente, aceito no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, das substâncias estudadas para a formulação de cremes e pomadas. “Este foi um processo de preparação de material nanohíbrido, objetivando a obtenção de uma composição farmacêutica contendo nanopartículas”.

Pesquisa

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Entrega de diplomas a novos pós-graduados e homenagens marcam Warwick Kerr Mais alta homenagem do Inpa é dedicada a três pesquisadores Foto: Eduardo Gomes

A cerimônia é feita uma vez por ano no Inpa | Daniel Jordano Da equipe do Divulga Ciência

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) entregou 127 diplomas a alunos dos cursos de pós-graduação, no dia 14 de novembro, e prestou uma homenagem a três cientistas: Charles Clement, Maria Lúcia Absy e Manoel Pereira Filho (in memoriam), pelas relevantes contribuições à ciência na Amazônia. A cerimônia de premiação da Menção Honrosa Warwick Estevam Kerr fez parte das comemorações dos 40 anos de pósgraduação do Instituto.   O diretor do Inpa, Adalberto Val, destacou a importância da formação de novos mestres e doutores na região. “A consolidação da República Federativa do Brasil precisa de informação dos nossos ambientes, da nossa interação com eles e as formas de conservar e melhorar a inclusão social e geração de renda. Mas para gerar essas informações precisamos de gente qualificada, e o Inpa dá uma contribuição significativa nesse sentido”, disse. Homenageados  A Menção Honrosa Warwick Estevam Kerr é a mais alta homenagem conferida pelo Inpa, por meio da Coordenação de Capacitação (COCP) do Instituto a brasileiros e estrangeiros que tenham

contribuído para o desenvolvimento e avanço da docência, da pesquisa científica e tecnológica e da inovação no âmbito de seus programas de Pós-Graduação.   Ao receber a medalha, Maria Lúcia Absy dedicou a premiação a todos da equipe com quem trabalha. “É importante o Inpa reconhecer em seus pesquisadores o trabalhos que eles desenvolveram na instituição”, contou.   Já Clement destacou o avanço da pós-graduação do Inpa. “Fico especialmente orgulhoso, pois foi o Dr. Kerr que me chamou para trabalhar aqui há 37 anos. Então, eu acompanho todas essas turmas e é bom ver que a força da pósgraduação do Inpa está aumentando cada vez mais”, ressaltou.   Manoel Pereira Filho também foi homenageado e a medalha entregue à viúva Maria Inês de Oliveira.   A coordenadora de pós-graduação do Inpa, Beatriz Ronchi Teles, destacou o mestrado profissional em áreas protegidas, que teve a primeira turma de alunos formados, e ressaltou o papel da pós-graduação na formação de políticas públicas. “Nessa turma de áreas protegidas, por exemplo, há pesquisas que já colaboram para a formação de políticas públicas”, revelou.

“Na Amazônia não há espaço para copiar e colar” A declaração é do diretor do Inpa, Adalberto Val, durante o FMC | Cimone Barros Da equipe do Divulga Ciência

“Na Amazônia não há espaço para copiar e colar”. A afirmação é do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), o pesquisador Adalberto Val, que participou do 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC), no Rio de Janeiro. Pela primeira vez o evento aconteceu fora da Europa e durante quatro dias (de 24 a 27 de novembro) reuniu mais de 700 pesquisadores e representantes de 120 países para discutir a temática “Ciência para o Desenvolvimento Global”.  Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Val coordenou o debate da sessão “Amazônia, biodiversidade e desenvolvimento sustentável”, que teve ainda na mesa o coordenador científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU), Wolfgang Junk, e os pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, Jhan Carlo Espinoza e Marlúcia Martins. A mensagem deixada pelos painelistas é que é importante preservar a biodiversidade não só da Amazônia, que detém 20% da biodiversidade do mundo, mas de outras áreas do planeta.   “Temos a necessidade de desenvolver produtos e processos robustos que permitam a geração de renda com a manutenção da floresta em pé. E a educação é fundamental para termos um novo paradigma”, disse Adalberto Val.   Na declaração do FMC, o documento faz recomendações, como a cooperação científica internacional e ações nacionais coordenadas para o desenvolvimento sustentável global. O texto classifica a educação básica como elemento fundamental da cultura moderna e componente vital da capacidade de um país para competir em economia global. Outro ponto destacado no documento é a necessidade de se priorizar a educação de qualidade em ciência, tecnologia e engenharia.


Cientistas discutem o uso de mosquitos transgênicos para reduzir casos de malária e dengue na Amazônia Seminários no Inpa debatem técnicas aplicadas para reduzir doenças transmitidas por mosquitos vetores Foto: André Felipe

O evento reuniu pesquisadores de vários institutos e serviu de interação entre cientistas e estudantes | Cimone Barros Da equipe do Divulga Ciência

Usar a engenharia genética para modificar os mosquitos vetores (mosquitos transgênicos) e reduzir a transmissão de doenças como dengue e malária. Essa é uma das técnicas apresentadas no “XIII Seminários Avançados em Doenças Tropicais e Controle de Vetores”, de 25 a 29 de novembro, promovido pelo Laboratório de Malária e Dengue do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI).   O objetivo é divulgar e discutir novas técnicas aplicadas para doenças e controle biológico, principalmente malária e dengue, e apresentar tópicos que envolvem biologia molecular e interação parasita. De acordo com o mapa da dengue apresentado pelo Ministério da Saúde, em novembro último, em 2013, foram registrados 573 óbitos por dengue no país. No Amazonas, foram notificados cerca de 23 mil casos de dengue, sendo que nove pessoas morreram pela dengue.   “Buscamos no Seminário colocar pesquisadores e estudantes junto com o pessoal do serviço de saúde para tentar fazer a interação e para que a maior parte dos dados possíveis da pesquisa seja transferida para o serviço e de forma correta”, disse um

dos coordenadores do Seminário, o pesquisador do Inpa Wanderli Tadei. Engenharia genética   Para o pesquisador associado da Universidade da Califórnia (EUA), o brasileiro Osvaldo Marinotti, apesar de a ciência ter vários mecanismos para controlar os mosquitos vetores,

“Buscamos no seminário colocar pesquisadores e estudantes junto com o pessoal do serviço de saúde para fazer a interação” Wanderli Tadei

ainda não conseguiu eliminar a transmissão de malária, dengue, filariose (elefantíase) ou a leishmaniose. Alternativas são estudadas com esse fim, como o desenvolvimento de vacinas, novos inseticidas químicos, inseticidas biológicos, manejo de ambiente de criadouros e a engenharia genética de mosquitos vetores.   Atualmente, duas técnicas principais na engenharia genética de vetores são estudadas no mundo. “Uma

é modificar os mosquitos para que eles não consigam transmitir doenças. A outra é usar mosquitos que têm gene letal funcionando como sistema de redução de população” (cria estéril), disse Marinotti.   Hoje se tem mosquitos em laboratório que são incapazes de transmitir malária e outros que são incapazes de transmitir dengue. E as perguntas que os pesquisadores se fazem são: como podemos usar os mosquitos que temos no laboratório para repor os mosquitos que estão na natureza ou como poderemos fazer para que o gene do mosquito que está no laboratório vá para os mosquitos da natureza?   Para responder essas questões, a Universidade da Califórnia está desenvolvendo um sistema chamado de transposon sintético, na intenção de responder parte disso.   “Os dados são preliminares, mas bastante interessantes, e indicam que se nós colocarmos um gene de resistência no mosquito e nós liberarmos esse mosquito na natureza, ele cruzando com outros mosquitos vai conseguir fazer com que esse gene se estabeleça nessa população”, explicou Marinotti.

Pesquisa

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Rondônia tem a maior riqueza de espécies de abelhas sem ferrão do planeta e algumas estão desaparecendo Estudo descobriu 98 espécies de abelhas sem ferrão no Estado, porém 12 espécies não foram localizadas

Foto: Marcio Oliveira

As abelhas são consideradas um dos organismos mais importantes da natureza | Raiza Lucena Da equipe do Divulga Ciência

Importantes agentes polinizadoras e responsáveis pela produção da maior parte dos frutos da natureza, as abelhas têm papel fundamental no ambiente e o seu desaparecimento pode acarretar consequências desastrosas para a humanidade. Pela relevância dessas polinizadoras para a manutenção da biodiversidade, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Marcio Oliveira, em parceria com o pesquisador J. Christopher Brown, da Universidade do Kansas (EUA), realizaram uma pesquisa que relaciona a colonização agrária e o desmatamento com o desaparecimento das abelhas, no estado de Rondônia.   O estudo foi publicado em outubro, na revista francesa Apidologie, uma das mais importantes do mundo sobre abelhas. Durante um ano, os pesquisadores visitaram 187 locais de Rondônia. Através de monitoramento por imagens de satélites, eles identificaram as áreas mais desmatadas e depois relacionaram com o desaparecimento das espécies nessas áreas.   De acordo com Oliveira, com o incentivo da ocupação das terras de Rondônia, nos anos 80, o crescimento foi acelerado e as popula-

ções começaram a desmatar para exercerem atividades agrícolas. “Nas primeiras áreas ocupadas, nota-se um número menor de espécies de abelhas do que nas áreas ocupadas por último. Já nas áreas de colonização próximas de reservas indígenas e unidades de conservação, é onde se encontra um número maior de espé-

“A melhor estratégia seria conhecer os polinizadores e protegê-los. Sem eles, o custo para a humanidade seria altíssimo” Marcio Oliveira

cies”, explicou.   Ainda no estado, foi descoberta a maior riqueza de espécies de abelhas sem ferrão do planeta: são 98 espécies, sendo 10 delas classificadas como novas espécies e 16 vistas pela primeira vez em Rondônia. Porém, 12 espécies citadas não foram localizadas, o que preocupa o pesquisador.   Essa preocupação com o desaparecimento das abelhas surgiu inicialmente com o órgão da

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em um alerta sobre as consequências que o sumiço poderia causar. Segundo Oliveira, as abelhas sempre foram consideradas um dos organismos mais importantes da natureza. “Estima-se que as abelhas sejam responsáveis, via polinização, pela produção de frutos em cerca de 800 alimentos consumidos pelo homem. O desaparecimento ou a diminuição delas poderá afetar a produção de algodão, café, laranja e muitos outros frutos e grãos”, disse.   As variadas causas do desmatamento na Amazônia, com destaque para a expansão dos centros urbanos, lavouras, pastagens além da abertura de estradas e a implementação de hidroelétricas e mineradoras, são importantes fatores que contribuem com seu desaparecimento ou diminuição das populações.   “A melhor estratégia seria conhecer os polinizadores, o que eles polinizam (há casos de plantas que só se reproduzem por causa de um polinizador específico), protegê-los. Sem eles, o custo para a humanidade seria altíssimo”, alerta Oliveira.

Pesquisa

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FAS e Inpa assinam acordo técnico para desenvolver tecnologias sociais em unidades de conservação Convênio prevê a implantação de duas Unidades Demonstrativas e programas de capacitação

Foto: Bruno Kelly/FAS

| Por Felipe Costa e Daniel Jordano Da equipe da FAS e do Divulga Ciência

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) firmaram, dia 20 de novembro, um acordo de cooperação técnica que atenderá cerca de 200 ribeirinhos. O acordo, assinado pelo superintendente geral da FAS, Virgílio Viana, e o diretor do Inpa, Adalberto Val, no Centro de Formação Maromba, Zona Centro-Sul de Manaus, é voltado à promoção de tecnologias sociais em unidades de conservação (UCs) atendidas pelo Programa Bolsa Floresta (PBF).   A cerimônia contou com a presença do conselho administrativo da FAS, presidido pelo ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. FAS e Inpa produzirão um projeto na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em tecnologias sociais adaptadas à realidade das comunidades.   O convênio prevê a implementação de um programa para a capacitação de 200 ribeirinhos em tecnologias voltadas para a geração de trabalho e renda. Serão ensinadas técnicas de defumação caseira de pirarucu, de produção de briquetes a partir de resíduos florestais, do uso de buriti para a fabricação de objetos de alta resistência e do reaproveitamento de pedaços de madeira em ferramentas.   “É um projeto que busca aproximar das comunidades o desenvolvimento científico que temos em torno da Amazônia. Nós fizemos um amplo trabalho com os pesquisadores do Inpa para sabermos quais as tecnologias mais apropriadas para serem transferidas aos ribeirinhos”, Virgílio disse Viana.   Serão implantadas duas Unidades Demonstrativas nas reservas, contemplando 12 unidades para desinfecção de água, além de duas unidades para a criação de peixes em canal de igarapé.   O diretor do Inpa destacou a importância da parceria. “A assinatuda deste acordo nada mais é que a socialização da informação, a transferência do que aprendemos nos laboratórios durante os anos em que

Acordo transfere tecnologias para os ribeirinhos trabalhamos na Amazônia em benefício da população ribeirinha”, disse.   Para a atriz Christiane Torloni, integrante do conselho de administração da FAS e que participou da cerimônia, as pessoas têm de se apropriar da Amazônia. “Não com derrubadas, mas sim com parcerias. A única forma de tomar conta dela é perceber que ela é o coração da Brasil”. Incubadora de negócios   Em outro acordo, FAS e Inpa inauguraram a Incubadora de Inova-

ção Tecnológica para Empreendimentos Sustentáveis no Amazonas, que atenderá 1,5 mil ribeirinhos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro.   O objetivo da incubadora é apoiar os novos empreendimentos comunitários e fortalecer os já existentes. Também fazem parte da parceria, o Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Divulga Ciência

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Empresas incubadas do Inpa apresentam na FIAM produtos e processos frutos de pesquisas científicas Estande “Espaço Inovação” mostrou resultados práticos de transferência de tecnologia de pesquisa

Foto: Daniel Jordano

Sete empresas são incubadas pelo Inpa atualmente | Daniel Jordano Da equipe do Divulga Ciência

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) manteve durante a Vll Feira Internacional da Amazônia (FIAM)um espaço para a população conher iniciativas de desenvolvimento baseada em pesquisa científica. A farinha de pupunha, cosméticos e medicamentos gerados a partir de plantas da Amazônia, além de projetos ambientais foram em expostos no estande Inovação do Inpa.   As empresas incubadas no Instituto, - Nectar, CiaFlor, Amazônia Socioambietal, Biozer, Delicatessem e Aodhdon Serviços Ambientais - participaram, de 28 a 30 de novembro, da FIAM e mostraram como é possível aliar empreendedorismo ao uso racional dos recursos naturais.   Uma das empresas, a Amazônia Socioambiental, participou durante a feira do lll Fórum de Investidores na Amazônia, que reuniu outras três empresas em uma rodada de negócios com investidores internacionais.   Para o diretor executivo da Amazônia Socioambiental, Diego Brandão, que é ex-aluno de pós-graduação do Inpa, a atividade ressalta o papel da ciência no desenvolvimento regional. “A empresa gerencia projetos socioambientais com iniciativas participa-

tivas com cooperativas, por exemplo. Nós auxiliamos na captação de recursos para essas cooperativas e prestamos apoio no gerenciamento. Nosso plano de negócios foi avaliado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-

“Hoje, o Brasil é o 13° no ranking de produção científica, mas o 47° em patente” Estevão Monteiro de Paula

cial) e pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e foi considerado inovador. Todo esse projeto é forte, pois temos o Inpa que dá o respaldo”, disse.   Para o pesquisador do Inpa e proprietário da empresa Biozer, Carlos Cleomir, a ciência tem muito a colaborar para desenvolvimento da Amazônia e já há resultados. “São mais de 15 anos de trabalho e nós conseguimos fazer a gestão de conhecimen-

to. Na pesquisa incorporamos os marcadores químicos em alimentos, cosméticos e medicamentos para ter uma aplicação em várias doenças, como câncer, úlcera e também conseguimos desenvolver cicatrizantes”, explicou Cleomir.   Na Feira, o Inpa também realizou o seminário Inovar com Tecnologia que contou com 180 participantes, no qual o diretor substituto do Instituto, Estevão Monteiro de Paula, ressaltou a necessidade de investimentos na educação básica do País para poder gerar a tão desejada inovação. “O governo precisa investir em um ensino de qualidade e estimular as empresas. Hoje, o Brasil é o 13° no ranking de produção científica, mas o 47° em patente”, destacou. Resultados   De acordo com informações da Suframa, organizadora da FIAM, o evento recebeu aproximadamente 55 mil visitantes, cerca de 1,2 mil pessoas participaram da Jornada de Seminários e R$ 120 mil foram gerados em comercialização de produtos regionais e artesanato, atendendo mais de 100 artesãos e micro e pequenos empreendedores regionais.

Educação e Sociedade

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