Reformas Estruturais?
J. Norberto Pires
robótica
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DA MESA DO DIRETOR
Prof. da Universidade de Coimbra
O investimento, nomeadamente vindo de fora do país, é fundamental para tirar Portugal do buraco em que se meteu, e praticamente a única forma de realizar a mudança de mentalidades que é necessária, urgente e inadiável. Portugal desperdiçou a oportunidade de utilizar os fundos comunitários, que teve à sua disposição desde 1989, para reforçar a sua competitividade e atratividade para o investimento. As reformas estruturais precisam de ter um objetivo em mente, de médio e longo prazo; quando são realizadas por razões circunstanciais nunca constituem reformas sérias. Reagir nunca foi uma boa forma de gerir porque exclui o planeamento e a reflexão. A boa gestão exige ideias, planos, objetivos nacionais e uma estratégia transversal aos ciclos governativos. Em quase 40 anos de democracia não fomos ainda capazes de perceber que nada de significativo se consegue em ciclos curtos, e sem refletir em conjunto e com o devido tempo. A preocupação primeira de Portugal, na área económica, deve ser a de preparar o país para ser competitivo para quem já exerce atividade em Portugal, mas também para aqueles, nacionais ou estrangeiros, que procuram locais para investir. Portugal tem de mostrar que está preparado e que se preocupou com os detalhes. É isso que marca a diferença. Há muitos locais no mundo que podem alojar investimentos produtivos e que criam emprego. Por que razões devem
esses investimentos vir para Portugal? É essa pergunta que todos temos de saber responder, nomeadamente o Governo, mas também as regiões e os municípios. Tem Portugal consciência do que precisa de fazer? Você, caro leitor, se fosse empresário estrangeiro ou nacional investia em Portugal?
Portugal forma os profissionais necessários e sabe, em cada momento, onde eles estão e a fazer o quê? Por exemplo, se uma empresa precisar de pessoas numa determinada área, Portugal sabe responder onde estão, quantas são e o que estão a fazer? E se for necessário, tem mecanismos para resolver?
Portugal simplificou os seus processos administrativos? Está organizado de forma eficiente, tendo em mente resolver problemas? Discutiu essas questões com a população? É um país desburocratizado? E com níveis de corrupção desprezáveis?
Portugal considera a Educação uma despesa ou investimento? E a Cultura?
Portugal pensou em mecanismos para financiar o investimento direto estrangeiro? Portugal tem uma fiscalidade racional, isto é, que não demoniza o lucro, incentiva quem arrisca, quem cria emprego e quem cresce (no mercado interno e externo)? O território em Portugal está organizado? A sua gestão é descentralizada, focada na exploração das potencialidades de cada região? Percebe-se que Portugal acredita nas suas localidades e incentiva a que se desenvolvam, que criem sinergias para que o seu somatório seja maior do que a simples soma de partes? O Estado é racional, eficiente e tem a dimensão necessária ao país?
A investigação científica e tecnológica tem componentes que estão ao serviço da economia? Portugal sabe dizer, de imediato, o que é que tem disponível, organizado e pronto a responder, nas várias áreas científicas e técnicas, caso elas sejam necessárias? E o financiamento do sistema científico e tecnológico nacional teve isso em conta, como objetivo? Ou seja, Portugal, visto de fora (e de dentro) mostra-se um país organizado, que pensou nos detalhes e se preparou? Os investidores procuram estas respostas, e só depois se deixam convencer pelo sol, pelo mar, pela qualidade e beleza do território, pela afabilidade das pessoas, pela gastronomia e pela cultura e costumes dos portugueses. Se isso não for evidente, se o país não parecer preparado e motivado, o Álvaro pode até reduzir o IRC para 0%, a quem investir pelo menos 1 euro em Portugal, que a coisa continuará residual. (artigo também publicado no re-visto.com)