Produzir Mais, Melhor e Mais Barato
robótica
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Coluna empreender e inovar
bens de baixa e média gama. Desta forma, interessa tomar medidas no sentido de tornar as nossas empresas de manufatura mais competitivas.
Pedro Neto É doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra, sendo atualmente Professor Auxiliar Convidado no Departamento de Engenharia Mecânica desta mesma Universidade. A sua atividade de investigação tem-se focado na interação homem-robot, inteligência artificial e sistemas de manufatura avançados. É autor de várias publicações científicas e técnicas. Tem desenvolvido uma atividade intensa de cooperação entre universidade e empresas.
Na última década tem-se assistido a uma estagnação económica nos países mais desenvolvidos, com taxas de crescimento inferiores aos défices gerados. Portugal não é exceção, com uma economia muito baseada nos serviços e na construção civil, o país não tem sido capaz de gerar riqueza e o subsequente emprego. De facto, no passado não se acautelou que a economia de um país como Portugal não se pode basear simplesmente na prestação de serviços. Ao contrário de muitos, e alguns em cargos de decisão política relevante para esta matéria, sempre tive a opinião de que um país a partir de uma certa dimensão não pode pensar que no médio-longo prazo será viável economicamente tendo grande parte da sua economia assente na prestação de serviços. De há uns anos a esta parte, as sociedades dos países mais desenvolvidos têm compreendido que a riqueza está a ser criada onde existe produção de bens manufaturados. No entanto, a manufatura tem-se deslocado da Europa e Estados Unidos da América para a Ásia, especialmente para a China. As empresas de manufatura chinesas conseguem ser bastante competitivas na produção de
Em Portugal, muito se tem falado na industrialização ou re-industrialização, na produção de bens manufaturados que possam substituir importações e/ou ser exportados. O problema é que este processo não se faz por decreto. É ponto assente que é necessário criar uma cultura industrial, facilitar o financiamento às empresas, reduzir impostos, reduzir burocracias, entre outros. Mas falta aqui referir um aspeto, talvez o mais importante, a falta de know-how tecnológico em grande parte das empresas. Este é um fator que no mundo globalizado e competitivo de hoje tem uma importância decisiva na existência e crescimento de uma empresa. No essencial pode-se afirmar que a tecnologia ajuda as empresas a produzir mais, melhor e mais barato. As universidades têm aqui um papel importante a desempenhar. Infelizmente, na minha opinião, a colaboração universidade-empresa não tem existido na escala desejada. Esta situação acontece por culpa de ambas as entidades. Nas universidades, os investigadores e professores não têm qualquer tipo de estímulo ou vantagem em estabelecer cooperação com empresas, ou pelo menos este tipo de trabalho não é valorizado como deveria. Por outro lado, algumas empresas procuram soluções já existentes no mercado. Neste caso, a universidade não deverá cooperar com a empresa. É também importante referir que nos últimos anos esta situação tem melhorado, especialmente porque algumas novas empresas criadas por ex-investigadores estão mais abertas a este tipo de colaboração. A Comissão Europeia está também atenta a esta situação e pretende que cada vez mais os projetos de investigação e desenvolvimento por si financiados sejam liderados
por empresas e não por universidades ou institutos de investigação. O objetivo passa então por manter as empresas de manufatura atuais e trazer de volta as que se deslocaram há uns anos atrás para geografias com mão-de-obra mais barata. A questão é saber como é que isto se faz. Definitivamente penso que a solução passa por reduzir custos de produção, aumentar a qualidade e produtividade implementando nas empresas sistemas de produção automáticos/robotizados e flexíveis. Mesmo as grandes empresas do setor automóvel como por exemplo a Daimler e a GM estão a investir bastante na flexibilização dos seus sistemas produtivos. O aparecimento de novos robots industriais mais acessíveis às pequenas e médias empresas é também hoje uma realidade, veja-se o exemplo do robot Baxter da Rethink Robotics, a nova gama de robots da SCHUNK ou o novo robot da igus. É também interessante verificar que alguns fabricantes de robots passaram de uma situação em que apenas comercializavam o robot industrial em si para uma nova situação em que comercializam todo o sistema robótico para um determinado tipo de indústria, por exemplo para a indústria do calçado. Começam também a aparecer alguns exemplos de empresas que voltaram a ter a sua produção na Europa. No caso específico de Portugal, genericamente temos um tecido industrial conservador e com equipamentos e processos produtivos bastante antigos. Assim, tem que se ter especial cuidado no atuar da modernização/melhoria dos sistemas produtivos destas empresas, não tentando fazer tudo de uma só vez mas sim por fases. Estou confiante que nos próximos 10 anos a indústria de manufatura na Europa em geral e em Portugal em particular deverá ser capaz de voltar a ser a alavanca da nossa economia.