Aldeia de Inovação

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robótica

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Coluna empreender e inovar

Aldeia da Inovação

Frederico Lucas É o empreendedor responsável pelo projeto Novos Povoadores, que presta apoio a empresários que pretendam migrar com as suas famílias para território rural. Nascido em Lisboa em 1972 é o autor dos conceitos territoriais de software territorial e economia DNS. É Territorial Developer em projetos de dinamização territorial em www.infoex.pt e é considerado como um visionário de um futuro com grandes mudanças e criação de novos paradigmas.

«Eu sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura.» Fernando Pessoa

Não conheço nada mais entediante do que um país em crescimento económico à custa de subsídios. É a negação da competitividade e da inovação. Não existindo uma causa-efeito entre o reconhecimento e a competência, o país fica entregue aos amigos. Aos amigos dos amigos. E aos amigos do alheio. Só a crise nos pode salvar do lodo social. Uma crise que nos conduza à reflexão coletiva sobre aquilo que pretendemos para Portugal. E que promova novas ligações em detrimento das velhas, isto é, novas combinações sociais e empresariais. Para criar algo que seja novo. Porque foi o «velho» que nos trouxe até aqui. Este manifesto não é inconsequente. Portugal é uma referência na criação de novos produtos. A indústria de moldes da Marinha Grande é um marco. O sistema integrado de pagamentos bancários é outro marco. As máquinas e equipamentos, o calçado, a gastronomia... Sim. Somos um país de criação de novos produtos. Ao invés dos países asiáticos que replicam em escala os produtos já consagrados pelos mercados. E isso não acontece por acaso.

Temos 4 caraterísticas intrínsecas que nos trouxeram a esta vocação: a) Networking - a capacidade de relacionamento com todos os povos, herdada dos Celtas. Os portugueses são um denominador comum a todas as culturas. Não temos barreiras ideológicas para compreender aqueles que pensam de forma diferente. Podemos exportar novos conceitos para todos os países.; b) Desenrascanço (lusitanus crisis management) - influência herdada dos mouros pelos países mediterrânicos. Com esta influência somos capazes de resolver novos problemas. (E de criar outros, como a dívida externa!); c) Inovação - somos um povo apaixonado por ela, fruto da influência dos romanos. Gostamos de testar novos produtos. Temos o contexto social perfeito para beta-testers; d) Mercado reduzido - o nosso mercado interno é pequeno. Ideal para a implementação de novas soluções com risco controlado. Esta reduzida dimensão resulta dos problemas familiares de D. Afonso Henriques. Com estes quatro condimentos, Portugal tem a oportunidade de ser um player global na prototipagem de novos produtos e serviços. A aldeia da inovação a nível global. Isto significa que podemos estar num setor de elevado valor acrescentado, capaz de remunerar bem a sua mão-de-obra. Para isso precisamos de unir esforços entre três tipos de instituições: a) Governos (nacional e locais) - representação democrática do povo. Principais responsáveis pelas decisões estratégicas de um país; b) Universidades e centros de saber - capazes de desenvolver investigação aplicada para as empresas; c) Empresas conversores de conhecimento em valor. Principais criadores de emprego nas sociedades globais. Julgo que este é o caminho para uma nova economia em Portugal. Em 2005 migrei para o interior rural. Deixei Lisboa com 33 anos de idade. Na Beira

Interior, o cluster é agrícola. É essa a vocação do território. Mas a atividade agrícola é pouco recompensada pelo mercado. O produto em 1.ª gama (tal como são recolhidos no terreno), raras vezes ultrapassa o valor de 1€ ao quilo. Mas se esse produto tiver uma cobertura de chocolate, tal como ocorre com o bombom Mon Chéri, o seu valor atinge os 40€ por quilo. Esse é o desafio: acrescentar valor aos produtos endógenos. Seja neste caso com a fruta da região, seja na indústria de moldes da Região Litoral Centro com novos equipamentos. A Casa da Prisca é uma referência da região beirã. Famosa pelo fumeiro no mercado interno e nos mercados de saudade, tem desenvolvido esforços para penetrar em mercados menos voláteis. Nesta estratégia, criou em 2009 uma linha de produtos gourmet. Este setor de produtos de 2.ª gama (conservas) tem valorizado os pairings: combinados agri-doce. Neste sentido, a Casa da Prisca está a alcançar o reconhecimento em mercados nórdicos com novos produtos, em especial com condimentos à base de frutas típicas do nosso país como as uvas, os figos e as cerejas. Estes combinados atingem o valor ao cliente de 25€ por quilo, não sendo no entanto marginais os custos com packaging, bastante exigente neste segmento. Acredito que é este o caminho que temos de consolidar. Existem milhares de projetos como este, que devem receber a atenção dos players da nossa sociedade: Governos, Universidades, Empresas. A prototipagem implica riscos. O falhanço no lançamento de novos produtos é bastante frequente. Temos de ser resilientes. E surdos para as vozes daqueles que nada fazem para além de criticar. Porque só falha quem tenta!


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