Empreendedorismo e inovação em Portugal

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COLUNA

Empreendedorismo e inovação em Portugal A situação económica actual mudou completamente o paradigma da empregabilidade. O “emprego para a vida” do século XX deu origem ao emprego temporário ou mesmo ao trabalho por conta própria do século XXI, este último ainda mais dependente das competências, do conhecimento, da iniciativa e da criatividade de cada um. Esta década exibe já uma significativa percentagem de novos empregos baseados em muitas empresas de dimensão muito pequena (2 a 3 elementos) ou no trabalho por conta própria. Esta propensão é especialmente clara nos Estados Unidos, mas verifica-se também por toda a Europa. A profunda crise actual e o consequente substancial aumento do desemprego concorrem seguramente para intensificar esta tendência. A capacidade de empreender, ou seja, de encarar a realidade envolvente como um conjunto de novas oportunidades e de ter a iniciativa e a força de vontade para produzir, é uma atitude fundamental. Claramente o empreendedorismo tornou-se assim, hoje em dia, o motor de uma economia.

processo formativo o questionar, o analisar e o perceber que um problema real, seja ele de que área for, tem sempre várias soluções e que dessas soluções há que decidir a melhor para satisfazer a particularidade específica desse problema; mas reconhecer que, de facto, essa não é a única solução possível. Ora aqui reside já uma total contradição com os métodos tradicionais de avaliação no processo educativo em que a resposta certa, é geralmente, uma muito bem definida. E que se não é essa, então está errado. É um exemplo claro o actual constante e popular recurso aos testes de escolha múltipla, que apenas são uma ferramenta útil quando as suas questões tiverem sido testadas em grandes amostras e realizadas por aqueles que se tenham debruçado significativamente sobre a teoria que lhes está subjacente. Sim, porque também esta técnica tem o seu saber como aliás qualquer outra. Os procedimentos de avaliação enquanto procedimentos definidos, aceites e aplicados não podem ser apenas, e neste caso específico, fruto da criatividade de cada um, em cada momento.

Como preconizava Jeffrey Timmons, professor no Babson College, USA,”o empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será mais importante para o século XXI do que a revolução industrial foi para os séculos XIX e XX.” Virá o empreendedorismo mesmo a ser o seu suporte? E está o nosso ensino adaptado à preparação do jovem, de modo a conferir-lhe as competências, o conhecimento e a criatividade necessários?

O Engenho Luso*, de que fala Carlos Fiolhais, refere casos vários de empreendedorismo português ao longo dos séculos. Um dos seus exemplos assenta na versão de internet referida num artigo do New York Times, de 29 de Julho de 2007: “...uma versão da Internet inventada em Portugal há 500 anos por uma mão-cheia de marinheiros como Pedro, Vasco e Bartolomeu. A tecnologia era grosseira. As ligações instáveis. O tempo de resposta era muito longo...”. No ar também fomos empreendedores. Especialmente quando recuamos ao Padre Bartolomeu de Gusmão que no ano de 1709 demonstrou a ascensão de um aeróstato perante a corte de D. João V. A criatividade também nos distinguiu. O primeiro telefone apareceu em 1860, realizado pelo luso-alemão Johann Philipp Reis, dezasseis anos antes da patente de Bell. Curiosamente em 1878, Adriano Paiva propôs um sistema de televisão primitivo, mas nunca o realizou.

Nesta perspectiva acredito pessoalmente que temos, em Portugal, um longo esforço a realizar. Desde muito cedo é necessário exercitar um processo de ensino/aprendizagem que não produza seres “formatados” e teoricamente superdotados, capazes apenas de responder à pergunta certa, na hora certa. Jovens treinados, em geral, para um saber compartimentado, sem uma visão integrada, multi e interdisciplinar, como se a matemática, o português, a física, a filosofia, a história, etc, nada tivessem de comum – o conhecimento.

Maria Teresa Restivo Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

constante actividade de liberdade criativa e de uma outra não menos importante característica - uma tenacidade fora de série. É interessante meditar nesta sua afirmação: “Sempre achei que as crianças nas escolas devem ter indicadores do número de vezes que falham. Aquela que tenta coisas estranhas e que experimenta um grande número de falhanços até conseguir atingir um objectivo é, provavelmente, mais criativa”. E neste sentido é importante fazer compreender aos jovens de hoje, que exigem da tecnologia respostas rápidas, cada vez mais rápidas, que da Ciência, que tem por base uma actividade criativa, se deve esperar um progresso lento e um caminho árduo. Na sua prática é fundamental uma atitude persistente e tenaz. Nesta era da velocidade, assim denominada por Paul Virilio, a criatividade essencial à inovação necessita geralmente de uma digestão lenta do conhecimento. Quando se fala em inovação em geral fala-se em inovação tecnológica (inovação do processo e do produto) e é este o tipo de inovação que mais intimamente está ligado com o empreendedorismo. E aqui me surgem, também, muitas dificuldades de entendimento. Nos dias de hoje, quando se pensa em inovação, pensa-se em centros de I&D. Esses estão intimamente ligados com muitos fundos que provêm dos chamados projectos de investigação científica, os tais que deveriam incentivar e desenvolver as capacidades criativas das suas equipas. Mas, para que estes existam devem ser apresentadas submissões de uma forma tão bem definida, não só em termos de um inequívoco objectivo da proposta, mas também do respectivo plano de trabalho, dos equipamentos e até dos seus custos, dos resultados (os tão famosos indicadores previstos), etc, que eu me pergunto insistentemente como irão estas tarefas, se assim cumpridas, produzir resultados repletos de criatividade!

>>>> É também fundamental dar liberdade no processo de preparação do jovem, de lhe permitir o erro mas de lhe exigir, também, que o reconheça e o diagnostique. Esta é uma atitude de relevante importância a desenvolver no âmbito de qualquer formação. É absolutamente essencial num

No entanto fica a estranha sensação de que parece termos sempre falhado na tenacidade para atingir a meta final.

James Dyson, detentor actualmente de uma enorme fortuna que teve por base uma vida de empreendedorismo é, ele mesmo, um exemplo vivo deste procedimento. É interessante observar a sua biografia e concluir que é exemplar na

“O Engenho Luso e Outras Crónicas”, de Carlos Fiolhais, Gradiva, 2008.

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robótica


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