COLUNA
Portugal e a Robótica Através do gentil convite da revista ROBÓTICA, a Sociedade Portuguesa de Robótica (SPR) disporá este ano de uma coluna nesta revista, de 2 em 2 meses, onde se falará da robótica em Portugal, nas suas mais diversas vertentes. Cabe-me, como recém-eleito Presidente da Direcção da SPR para o biénio 2009/10, abrir esta colaboração, e gostaria de o fazer com uma nota de profundo optimismo relativamente às potencialidades da robótica nacional.
Ao longo dos últimos anos, Portugal desenvolveu capacidades notáveis no domínio da robótica, numa grande diversidade de áreas específicas. Aos poucos emerge actividade empresarial assinalável, frequentemente proveniente de pequenas e médias empresas (PME), e em boa parte apoiada na transferência da tecnologia e do conhecimento gerados no meio académico. As unidades de investigação nacionais (e mesmo algumas empresas em áreas mais específicas, como o espaço) com capacidades nesta área registam um crescente envolvimento em projectos internacionais, frequentemente em parceria com grupos de investigação e empresas que lideram a Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (I&DT) a nível mundial. Este envolvimento é estimulado por um aumento considerável da atenção dada pelas agências de financiamento, como a Comissão Europeia (nos seus 6º e 7º programas quadro) ou a Agência Espacial Europeia (ESA), à robótica como uma área chave das tecnologias da informação e comunicação. Deve ainda sublinhar-se que a robótica deixou de estar confinada ao meio fabril e à automação, para se alargar agora aos serviços – em casa, no escritório ou nos hospitais, e no exterior, apoiando operações de busca e salvamento, de vigilância de fogos ou monitorização ambiental. O conceito de robótica não está também mais restringido ao manipulador programável, ou ao veículo com rodas e alguns sensores, tendo sido alargado a uma miríade de dispositivos com maior ou menor sofisticação, que comunicam entre si para formarem redes de sensores autónomos e distribuídos, com o objectivo de facilitar a vida em casa a idosos ou pessoas incapacitadas, no ambiente industrial a operários em tarefas sofisticadas, ou de monitorizar vastas regiões, como florestas ou oceanos. Os robots humanóides que interagem de uma forma natural com humanos são outra aposta forte da investigação internacional. A quantidade, qualidade e diversidade de trabalho desenvolvido em sistemas robotizados deste tipo, para além da mais tradicional área da automação, é verdadeiramente notável no nosso país, e, arrisco-me a escrevê-lo, ímpar a nível europeu ou mesmo internacional. Tratando-se de uma área de forte componente tecnológica, é surpreendente que, numa país onde, segundo dados de 2007, apenas 5 em cada mil portugueses activos trabalha em investigação, encontremos robots em praticamente todas as grandes universidades nacionais e em muitas empresas, a maioria das quais não têm na robótica a sua área nuclear, com forte envolvimento em grandes projectos europeus, financiados pela Comissão Europeia, a ESA ou a Fusion for Energy, em áreas como os sistemas avançados de produção, os assistentes robóticos, as redes de sensores estáticos e móveis em ambientes urbanos, os satélites autónomos, os robots de transporte remoto para o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), os sistemas de transporte inteligente, os robots aéreos ou os robots oceanográficos, para citar apenas alguns exemplos. A diversidade e a pluridisciplinaridade são ainda mais avassaladoras quando se constata que, em Portugal, através de investimento do estado e privado, se desenvolve robots educativos (uma área de grande impacto negocial internacionalmente), robots industriais (para o calçado ou os têxteis), e uma variedade significativa de robots de serviços: cadeiras de rodas robóticas, robots que recolhem bolas de golfe, robots corta-relva em grandes áreas, robots para hospitais, robots de auxílio a operações de busca
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Pedro U. Lima pal@isr.ist.utl.pt Professor no IST, Investigador no ISR-LA, Presidente da Direcção da SPR Março de 2009