A ferramenta universidade para o empreendedorismo em portugal: estamos preparados para prever juntos

Page 1

UREËWLFD

&ROXQD HPSUHHQGHU H LQRYDU

A Ferramenta Universidade para o Empreendedorismo em Portugal: Estamos Preparados para Prever Juntos o Futuro? das e tentar encontrar soluções melhores. Em suma, é prever o futuro. Vive-se uma vaga de empreendedorismo em Portugal. As empresas apostam cada vez mais em inovação. Por seu turno, as universidades intensificam o seu posicionamento como agentes de empreendedorismo e criação de valor. A relação entre ambas tende a ser simbiótica. Filipe E. Antunes filipe.antunes@ci.uc.pt Nascido em Coimbra, Filipe Antunes aí se licenciou em Química Industrial no ano de 2001 com o prémio de melhor aluno, terminando o doutoramento com distinção em Química de Coloides na Universidade de Coimbra (UC) e Universidade de Lund, na Suécia, cinco anos mais tarde. Tem ainda um Pós-Doutoramento na P&G nos EUA. É um cientista líder em projetos académicos e industriais, tendo sido nos dois últimos anos Investigador Principal na UC em mais de uma dezena de projetos de investigação científica com um financiamento de cerca de 1 milhão de euros desde 2011. Coordena um grupo de investigação COLLING (Colloids and Innovative Nanomaterials Group) na UC, promove redes de colaboração universidade-indústria (como a P&G, Dyrup, Perstorp, Cognis, Mistollin, Greendet, Vangest, Valco, PPG, Groupack, THDA, BASF, Amorim&Irmãos e Sonae). Além de Professor Auxiliar ainda é Conselheiro da Universidade de Coimbra para o Novo Programa Europeu de Apoio à Investigação e Desenvolvimento. No seu Curriculum constam mais 30 publicações científicas e cerca de 70 comunicações orais em universidades e empresas. É considerado um dos investigadores mais ativos da UC em projetos de transferência de conhecimento para a sociedade.

“None of my inventions came by accident. I see a worthwhile need to be met and I make trial after trial until it comes” Thomas Edison

A minha relação com o empreendedorismo só ficou oficializada quando eu tinha 29 anos, após vários anos de resistência às suas várias investidas. É notável como ele nos visita, como ele nos convida. E foi com essa idade que ele me fez um duro duplo-golpe que me derrotou o ceticismo: um curso de empreendedorismo de base tecnológica e um pós-doutoramento no Miami Valley Innovation Center, na Procter & Gamble, EUA. A minha conversão foi efetivada e o assunto encerrado de vez. Sou, por isso, adepto do empreendedorismo. E ter o cachecol deste clube significa observar como as tendências jogam e driblam, estudá-las, cruzar conhecimentos de várias áreas aparentemente não relaciona-

PROCURASE: ALMA MATTER COMO FONTE DE EMPREENDEDORISMO Poderão ser as universidades parceiras ou agentes ativos de empreendedorismo? As universidades são um recurso de excelência para a criação de inovação, são considerados os potenciais centros vitais de desenvolvimento do Século XXI. Formam um requintado recurso para ser explorado por quem se atreve a prever o futuro. Possuem recursos e massa crítica para gerar conhecimento com retorno. Mas existe ainda uma grande discussão entre a missão das universidades: investigação pura e fundamental ou investigação empreendedora, aplicada, com a possibilidade de comercializar os avanços científicos. Será que a ciência fundamental pode ser banalizada por prioridades comerciais? Ou será a ciência fundamental dispersa e cega perante as necessidades reais de inovação do país? Poderão os professores ensinar corretamente se estão preocupados com empresas de start-up e empreendedorismo? Ou deverão os professores apresentar uma doutrina académica mais real com exemplos práticos provenientes da sua experiência enquanto cientistas-empreendedores? O paradigma de um cientista ter uma ideia, fazer uma experiência e divulgar os resultados através de publicações está a mudar. Hoje os cientistas são incentivados a focar-se mais na transferência de tecno-

logia, quer através de spin-offs, quer através de serviços especializados prestados a empresas, quer ainda através de colaborações com empresas. Esta metamorfose de identidade requer formação, requer tempo de adaptação. E estamos a vivenciar esse período. Este conceito de cientista empreendedor envolve muito mais do que o licenciamento de patentes. Envolve uma estreita colaboração entre os cientistas e os empresários. Será que isto ameaça os valores universitários fundamentais? Não! A verdade é que o empreendedorismo pode reforçar a missão e os pontos fortes de uma universidade. A instituição puramente académica está sempre em risco de se tornar demasiadamente rígida, dedicada a proteger um conjunto de regras estabelecidas, em vez de investir em novas descobertas que contribuam para o bem público. As vozes que assumem um modo de planeamento da investigação totalmente redesenhado estão já bem projetadas. As redes pluridisciplinares são um dos elementos-chave neste modelo e devem envolver cientistas de várias áreas, bem como equipas financeiras, equipas de inovação, empresários, equipas de marketing, profissionais de negócios. Quando todos se apresentam articulados saber-se-á melhor aferir o potencial e os riscos inerentes a cada projeto, evitando desperdiçarem-se recursos tremendos a investigar algo que não é viável nem necessário para o mercado. Para as universidades, este modelo de investigação tende também a desbloquear as dificuldades orçamentais que estas instituições se deparam. Por exemplo, o caso que me está mais próximo, a Universidade de Coimbra, em 2012 apresenta uma despesa de 104 MEUR. O valor proveniente do orçamento de estado, 67 MEUR, somado com o valor proveniente das propinas, 18 MEUR, resulta numa receita de 85MEUR. Isto significa


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.