A Nova Robótica Industrial
robótica
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COLUNA SOCIEDADE PORTUGUESA DE ROBÓTICA
nova aposta do investigador e professor do MIT Rodney Brooks, fundador da atual maior empresa de robótica de serviços do mundo, a iRobot.
Pedro U. Lima pal@isr.ist.utl.pt (Professor do IST, Vice-Presidente da Direção da SPR)
A Robótica Industrial, no sentido mais lato do desenvolvimento de robots pela indústria, para ambientes fabris mas também para uso doméstico, em hospitais e escritórios, e espaços públicos, está a registar um desenvolvimento assinalável nos últimos tempos. O último relatório da International Federation of Robotics, comparando dados de 2011 com 2010, regista uma subida de 38% na venda de robots industriais, e de 9% na de robots profissionais de serviços. Nestes últimos, destaca-se uma subida de 15% do número de vendas dos robots para uso doméstico e pessoal, correspondente a uma subida de 19% do respetivo valor vendido. A reação positiva da robótica profissional à crise internacional está alicerçada na inovação constantemente introduzida nos produtos disponibilizados. Temos vindo a assistir a uma explosão de soluções (quase) comerciais que há poucos anos estavam no domínio da ficção científica. Bons exemplos disto são o carro autónomo da Google ou o robot de manufatura Baxter da nova empresa Rethink Robotics. Estes e outros casos de sucesso resultam frequentemente de colaborações sólidas e transferência de tecnologia entre as empresas e as universidades. A Google recrutou Sebastian Thrun, então um distinto jovem professor da Universidade de Stanford, após este ter vencido a DARPA Grand Challenge em 2005 com um Volkswagen modificado capaz de navegação autónoma em pistas no deserto. A Rethink Robotics é a
Mas não é só de colaboração que se trata. É também de Visão e de vontade de investir em apostas com futuro menos seguro mas que, a resultar, pode trazer resultados que elevam as empresas a patamares internacionais nunca antes sonhados. A Google, por exemplo, convenceu os legisladores do estado norte-americano do Nevada a permitirem a introdução de veículos autónomos em algumas das suas estradas - e já está a conseguir alargar esta autorização ao estado da Califórnia. O robot Baxter distingue-se pela sua facilidade de programação e preço relativamente baixo (US$22.000,00). Na Europa, e em Portugal em particular, a vontade e a capacidade de levar adiante estes desafios é historicamente limitada e piorou com a crise económica e financeira. Mesmo assim, há sinais positivos. A Comissão Europeia e instituições industriais e académicas acordaram levar por diante uma Parceria Público-Privada (PPP - designação tabu no Portugal dos nossos dias) em 2013, visando aumentar a influência das empresas europeias no mercado internacional da robótica, que já representa um valor anual de 15.500 milhões de euros. Um memorando de entendimento foi assinado em Bruxelas no passado dia 18 de setembro e algumas instituições portuguesas fazem parte dos fundadores. A empresa alemã KUKA, provavelmente a maior do mundo nesta área, tem disponibilizado, a um preço razoável, que ronda os 20.000,00 euros, um manipulador móvel, assente numa plataforma omnidirecional, designado como youBot, que poderá revolucionar a abordagem à robótica industrial. O youBot está também a ser utilizado em competições de robots (RoboCup@Work) patrocinadas pela KUKA, que atraem para a robótica estudantes universitários em fase de aquisição de qualificações técnicas elevadas, e potenciais futuros
agentes de mudança. Em Portugal assiste-se ao nascimento, a um ritmo muito interessante, de novas PMEs que utilizam conceitos de robótica para desenvolver sistemas autónomos espaciais, aéreos, terrestres e marinhos, aplicados às mais diversas áreas. A adesão de Portugal à Agência Espacial Europeia (ESA) foi fulcral neste recrudescer de novas empresas, projetos e produtos, e espanta saber-se que há hesitações governamentais em manter a contribuição nacional para as atividades da Agência Espacial Europeia. Todos sabemos que o nosso país atravessa um momento muito complicado da sua História. Mas também todos sabemos que só sairemos destes problemas qualificando os portugueses e criando tecnologias inovadoras que sejam exportáveis pela sua competitividade internacional. Infelizmente, ao mais alto nível, há quem pense que há uma alternativa melhor, consistindo em baixar salários e mandar os nossos jovens mais qualificados e empreendedores para o estrangeiro. Esta atitude corrente do nosso setor público, potenciando um retrocesso civilizacional, cria uma oportunidade, há muito adiada, para o setor privado assumir a liderança, abandonando a dependência do financiamento do Estado e investindo no emprego qualificado, na transferência de tecnologia, na inovação e no risco de apostar em projetos visionários e a longo prazo. A robótica, pela sua multidisciplinaridade, é uma aposta por excelência desse tipo. Não só os produtos “robóticos” aumentam a sua parcela de mercado, como referi no início deste texto, como o conhecimento técnico exigido aos profissionais da área permite desenvolver uma miríade de produtos que podem ter pouco a ver com robots no sentido vulgar do termo. As universidades, os institutos de investigação e algumas pequenas e médias empresas já estão a seguir este caminho. Aguarda-se agora pelas grandes empresas. São elas o motor do desenvolvimento nacional e é delas também a responsabilidade pelo futuro do país.