robótica
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Fernando J. T. E. Ferreira Departamento de Engenharia Eletrotécnica, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) Instituto de Sistemas e Robótica, Universidade de Coimbra (ISR-UC)
Dossier . ACIONAMENTOS ELETROMECÂNICOS
Visão geral sobre os acionamentos eletromecânicos industriais 1. INTRODUÇÃO Os acionamentos elétricos/eletromecânicos industriais (ACEMIs), também denominados de sistemas elétricos de força motriz, convertem potência elétrica em potência mecânica. De uma forma geral, tal como se ilustra nas Figuras 1a e 1b, de uma forma geral, os ACEMIs podem integrar dispositivos elétricos de comando, manobra e proteção (por exemplo, controladores, relés térmicos e disjuntores), sistemas de arranque suave ou gradual (por exemplo, arrancadores estrela-triângulo com contactores, arrancadores suaves e reguladores de tensão), controladores eletrónicos de velocidade e/ou binário (por exemplo, variadores de velocidade e reguladores de tensão), motores elétricos, sistemas de transmissão mecânica (por exemplo, correias, correntes e engrenagens) e a aplicação/carga final (por exemplo, bombas, ventiladores, sopradoras, compressores, correias transportadoras, misturadoras, trituradoras, moinhos, centrifugadoras, prensas, elevadores, serras, máquinas de corte, entre outros), podendo esta última ser considerada ou não como parte integrante do ACEMI. Deve-se ainda ter em conta a qualidade da alimentação, em termos de amplitude, desequilíbrio e distorção harmónica das tensões, dado que poderá ter um impacto muito significativo no rendimento e fiabilidade dos ACEMIs. O rendimento de um ACEMI é dado pela relação entre a potência/energia útil fornecida e a potência/energia elétrica absorvida ou, de outra forma, igual ao produto dos rendimentos individuais dos módulos que o compõem (Figura 2).
Fernando J. T. E. Ferreira é doutorado em Engenharia Eletrotécnica e autor de mais de 100 artigos técnico-científicos publicados em revistas e conferências, nacionais e internacionais, de reconhecido mérito. Já participou em diversos projetos de investigação europeus sobre sistemas elétricos de força motriz. Atualmente, é docente no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra e investigador no Instituto de Sistemas e Robótica, Universidade de Coimbra. fernando@isec.pt
Figura 1a. Exemplos de componentes/módulos que integram os acionamentos eletromecânicos industriais.
Atualmente, a nível mundial, os ACEMIs consomem cerca de 2/5 da energia elétrica, sendo responsáveis por cerca de 1/8 das emissões de CO2eq (Figura 3). No conjunto dos países desenvolvidos, em média, os ACEMIs consomem cerca de 1/2 da energia elétrica. Na União Europeia (UE), bem como em Portugal, em média, os ACEMIs são responsáveis pelo consumo de mais de 2/3 da energia elétrica no setor industrial, sendo a carga elétrica mais relevante. No setor industrial da UE, do total da energia elétrica consumida pelos ACEMIs, em média, 22% diz respeito a bombas (Figura 4, esquerda), 18% a compressores de ar, 16% a ventiladores (Figura 4, direita), 7% a compressores de refrigeração, 2% a equipamentos transportadores (por exemplo, tapetes rolantes) e 35% a outras aplicações. Em Portugal, a repartição do consumo dos ACEMIs por aplicação final é muito semelhante à da UE. Dada a relevância dos ACEMIs em termos de consumo energético, existe um elevado potencial de poupança de energia associado à sua otimização, o que, de uma forma geral, justifica o investimento em tecnologias/equipamentos mais eficientes e melhores métodos de controlo do motor, da aplicação/carga e/ou do processo.
Em média, os motores elétricos industriais têm um tempo de vida útil de 12 a 20 anos e consomem anualmente uma quantidade de energia com um valor 5 a 10 vezes superior ao seu custo inicial. Ao longo do seu tempo de vida útil o custo energético acumulado pode ascender a um valor 60 a 200 vezes superior ao seu custo inicial. Isto demonstra que o consumo energético deste tipo de equipamentos (que depende diretamente do seu rendimento) é, de longe, a parcela mais importante do seu custo de ciclo de vida. As aplicações/cargas com maior potencial de poupança de energia decorrente do controlo de velocidade são as que envolvem movimentação de fluidos (por exemplo, bombas e ventiladores centrífugos), não obstante as associadas ao transporte de matérias ou embalagens também poderem beneficiar de poupanças significativas. Em sistemas de bombagem e ventilação com necessidade de variação de fluxo/ caudal ao longo do ciclo de funcionamento, a substituição do controlo por estrangulamento (utilizando, por exemplo, válvulas ou persianas) por controlo de velocidade pode conduzir, em média, a poupanças na ordem dos 15-25%. Nos compressores, a substituição do controlo ON/OFF por controlo de velocidade